Volume 7
RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 4)
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A RECOMENDAÇÃO DE ARGO, A ESTALAGEM AMBERMOON, recebeu a aprovação de Asuna assim que ela entrou.
A DKB e a ALS já estavam aqui em peso, então fiquei preocupado que pudéssemos ter dificuldade em encontrar um quarto. Mas, ou eles estavam adiando a hospedagem para mais tarde, ou pretendiam ficar no hotel de luxo do cassino. De qualquer forma, todos os quartos daqui estavam disponíveis.
Argo também ficaria aqui, então decidimos pegar uma suíte de platina para nós três. O preço era exorbitante, mas dividido entre três, não era inacessível. Naturalmente, havia três quartos na suíte, então não me preocupava com situações que estivessem além das capacidades de um garoto da oitava série — como aconteceu no acampamento dos elfos negros no terceiro andar ou no Castelo Galey no sexto. Esse arranjo deveria ser tranquilo. Deveria.
Não havia elevador, então tivemos que subir as escadas até o quarto andar. Asuna abriu a porta — trancada por uma chave comum, não um enigma — e exclamou assim que entrou.
— É incrível!
Logo entendi o que era tão incrível. As paredes da espaçosa sala comum tinham três grandes janelas, um estilo raro em Aincrad. Elas ofereciam uma vista panorâmica da praia e do mar ao sul da cidade.
O sol já havia se posto, mas tochas estavam acesas em intervalos regulares ao longo da praia, e a luz da lua, entrando pela abertura externa, lançava uma faixa pálida sobre as ondas. A mobília do quarto não chegava ao padrão do castelo dos elfos negros, mas a vista definitivamente estava entre as duas melhores de todos os lugares onde já havíamos ficado.
Asuna correu até a janela para admirar a paisagem noturna. A visão dela, emoldurada por aquele cenário, parecia uma obra de arte. Apenas fiquei ali, contemplando a cena, até sentir que alguém estava me observando.
— Tá rindo de quê?
— Ah, nada.
Argo soltou uma risadinha e tirou sua capa com capuz, então caminhou até o espaço da cozinha no canto da sala de estar. No mundo real, haveria uma geladeira com bebidas geladas dentro, mas Aincrad não tinha condensadores nem magia de gelo. Se acendêssemos o fogão, poderíamos ferver água para chá, mas ainda era uma noite típica de verão, mesmo que não tão quente quanto o dia. Eu não queria nada quente para beber.
— Eu só vou tomar um pouco de água, Argo — disse, indo até lá para me servir, mas Argo me roubou o jarro das mãos.
— Deixa isso com a Aneki.
Ela colocou o jarro e três copos em uma bandeja e levou até os sofás no centro da sala. Não tive escolha a não ser segui-la, então ajudei a colocar os copos na mesa baixa antes de me sentar nas almofadas macias.
— Vem cá, A-chan. Você vai gostar disso — disse Argo.
Asuna finalmente se virou, piscando como se tivesse saído de um transe. Ela se sentou ao meu lado, com um olhar curioso.
— Vou gostar… do quê?
— Só observa.
Argo encheu os três copos com água e então abriu sua janela de inventário. Ela pegou uma noz azul-clara… não, um botão de flor? Era um objeto arredondado, com menos de dois centímetros, pontudo em uma extremidade. Eu não me lembrava de ter visto isso no beta teste.
Argo soltou o botão azul dentro de um dos copos. Primeiro, ele afundou, mas logo começou a subir devagar, emitindo leves estalos e chiados.
Quando o pequeno botão efervescente chegou novamente à superfície, ele se desfez suavemente. Pétalas delicadas e translúcidas se expandiram, e os estalos ficaram mais audíveis.
Cinco segundos depois, a flor estava completamente aberta. Era bela, mas tinha um formato peculiar. Seis pétalas hexagonais apontavam em seis direções, enquanto o centro tinha a forma de um dado de vinte lados, com faces triangulares. Enquanto eu observava, hipnotizado, ela se tornava cada vez mais translúcida. Parecia mais uma fina escultura de gelo do que uma planta.
— É linda… — murmurou Asuna, inclinando-se repentinamente para frente. Ela olhou diretamente para dentro do copo e então sorriu, dizendo — Eu sabia.
— Sabia o quê?
— Olhe por este ângulo.
Segui o exemplo de Asuna e ofeguei. A flor de gelo era idêntica a um cristal de floco de neve quando vista de cima. Olhei para o outro lado da mesa, ainda curvado, e perguntei à negociadora de informações, que sorria satisfeita.
— O que é isso, Argo?
— Ah, ainda nem chegamos à surpresa. Beba, A-chan.
— Ah, ok…
No momento em que seus dedos tocaram o copo, Asuna exclamou.
— Está gelado!
As laterais do copo já estavam cobertas por minúsculas gotas de condensação. Dessa vez, ela segurou o copo com firmeza e o ergueu. Reunindo coragem, levou-o à boca. A flor na superfície oscilou e tilintou contra a lateral do copo. Asuna tomou um pequeno gole para testar e, em seguida, continuou bebendo até a metade do copo. Então, olhou para mim e para Argo.
— Está gelado! É incrível! Está muito gelado!
— Uau, sério? Deixa eu tentar… — Estendi a mão, mas Argo me interrompeu.
— Calma aí, Kii-boy, eu já preparei um para você também.
Ela já havia colocado flores de gelo nos outros dois copos. Empurrou um deles para mim, e quando o peguei, me surpreendi com o frio cortante na palma da mão. Era quase frio o suficiente para grudar na pele. Levei o copo à boca e deixei o líquido escorrer pela garganta.
Era pura água gelada. Havia um leve toque de hortelã, que apenas realçava a pureza do sabor. A água fria desceu, e o alívio que trouxe ao meu corpo quente pelo sol era indescritível.
Engoli dois terços do copo de uma vez e soltei um suspiro satisfeito. Eu não bebia água gelada em Aincrad desde o Castelo Yofel, no quarto andar. Naquela época, já estava frio o suficiente para nevar, então não teve o mesmo impacto. Mas aqui, no sétimo andar, onde fazia calor de verão, aquela água gelada era ainda melhor do que uma poção de cura poderosa.
— Argo… como se chama essa flor? — perguntei novamente.
A Rata tomou um gole da água antes de responder.
— O nome do item é Botão da Árvore de Neve. Seu efeito, como você pode ver, é resfriar um único copo de água. Quando você termina, ele concede dois buffs.
— Hã? Sério?
— Acha que eu mentiria sobre isso? Ah, e você precisa beber toda a água antes que a flor de gelo derreta completamente, senão não recebe os buffs.
— Hã? Sério? — repeti, olhando para dentro do copo. A flor com padrão de floco de neve parecia estar menor do que quando desabrochou.
Eu queria saborear a bebida devagar, mas também estava curioso sobre os buffs. Com tensão, inclinei o copo e tomei o restante da água. O frio do líquido descendo pela garganta me paralisou de refrescância. Enquanto bebia, observei minha barra de HP, e um segundo depois, dois pequenos ícones apareceram. Um era o símbolo familiar de regeneração gradual de HP, enquanto o outro era uma combinação de um escudo e uma pequena chama.
— Oh… Isso é um buff de resistência ao fogo?
— Sim.
Argo sorriu. Olhei para os ícones e depois para ela.
— Espera aí. Regeneração é bom, mas resistência ao fogo é um benefício muito raro. Por que você está simplesmente nos dando isso de graça aqui?
— Não se preocupe com isso. Eu tenho um monte.
— Onde você as encontrou?
— Bem, essa informação eu não vou entregar de graça.
Você está me matando! Eu queria gritar. Mas ela era uma negociadora de informações, afinal de contas. Se qualquer coisa, eu deveria estar grato pelo que ela já tinha me contado de graça.
— Uh… quanto? — perguntei, temendo a resposta.
Argo ergueu o copo com as duas mãos; ainda tinha bastante água restante.
— Hummmm — ela considerou. — Bem, eu poderia simplesmente cobrar um preço em col… mas, em vez disso, prefiro pagamento em trabalho.
— Trabalho?
Virei-me para trocar um olhar com minha parceira — exceto que Asuna não estava me olhando; ela estava encarando a flor de gelo em seu copo vazio. Então, voltei a olhar para Argo novamente.
— Que tipo de trabalho você quer…?
— Não se assuste. Eu colocaria você e A-chan em perigo? Só quero um pouco de ajuda com uma missão difícil de concluir sozinha.
— Uma missão…
Era verdade que havia muitas missões em SAO que eram basicamente impossíveis de completar sozinho. Isso tinha sido uma grande frustração para mim no beta. Tudo o que eu precisava fazer era recrutar alguns membros temporários para o grupo, mas se isso fosse tão fácil para mim, eu já teria me alinhado a uma das duas grandes guildas.
Nesse sentido, era um mistério para mim por que Asuna, que tinha pelo menos dez vezes mais habilidades sociais do que eu, passou um mês inteiro jogando sozinha. Mas eu sentia que parte desse motivo era o enorme desequilíbrio entre homens e mulheres no grupo da linha de frente como um todo. Já se passavam dois meses desde o início do jogo mortal, e a DKB e a ALS tinham apenas um punhado de mulheres entre seus membros. Não havia diferença de habilidade, então eu tinha que presumir que a atmosfera excludente do grupo estava afastando as jogadoras. Seria preciso uma líder feminina para mudar isso…
Balancei a cabeça para afastar esse pensamento e me concentrei no rosto de Argo.
— Se há uma missão que você não consegue vencer sozinha nesta cidade, tem que ser no cassino, certo?
— Dedução brilhante… Ok, nem tão brilhante. Quase não existe uma missão em «Volupta» que não envolva o cassino de alguma forma.
— Humm. Bem, eu posso ajudar… mas prefiro não me envolver em outra missão épica e longa como a Maldição de «Stachion» no último andar.
— Não se preocupe; essa é bem rapidinha… Eu suponho.
Isso não parece nada tranquilizador, pensei, lançando outro olhar ao lado. Asuna ainda estava olhando para o fundo do copo.
— Um… Asuna? — perguntei baixinho, chamando, enfim, a atenção da espadachim. Ela olhou para mim, depois para Argo, e perguntou timidamente.
— Argo, eu posso comer essa flor?
— Parece gostosa, né? Vá em frente — respondeu ela, dando permissão. Minha curiosidade também foi despertada.
Peguei a flor de gelo, que tinha derretido até ficar do tamanho de uma mordida no fundo do copo, e a coloquei na boca, mastigando sua estrutura delicada. Ela liberou ainda mais daquele agradável sabor de menta. Coloquei o copo vazio de volta na mesa.
Asuna e eu agradecemos a Argo pelo presente, concordamos em ajudá-la com o pedido e, finalmente, eu estava pronto para explicar o motivo pelo qual havíamos procurado por ela.
— Então… não viemos até você para comer boa comida ou conseguir um desconto em um hotel legal. Foi porque vimos a ALS e a DKB já na cidade, fazendo banquetes concorrentes no meio da tarde, e queríamos saber o porquê.
— O quê—? Sério? Só isso? — Argo disse, afundando mais fundo no sofá de couro.
Estreitei os olhos.
— Bem, não é natural, é? Eu entenderia se os membros da ALS estivessem fazendo isso, mas a DKB é a mais séria das duas. E eles estavam brindando com canecas e tudo.
— Oh, é mesmo? Queria ter visto. Mas se estavam fazendo banquetes aqui, obviamente só há um motivo — disse Argo despreocupadamente. Ela olhou para o teto. — Não vale a pena segurar essa informação, então vou considerar o custo incluído no outro acordo que acabamos de negociar. Eles estavam brindando porque ganharam muito no cassino.
— Hã? — murmurei — assim como Asuna. — Ganharam muito… quer dizer, estavam apostando assim que chegaram a «Volupta»?!
— Eles estavam brindando porque ganharam muito?!
Nós dois ficamos surpresos de maneiras ligeiramente diferentes, mas nenhuma das perguntas pareceu incomodar Argo.
— Isso mesmo. E não estou só imaginando. Eu vi eles comemorando, pessoalmente.
— No que eles ganharam? Não dá para fazer fortuna em cartas, dados ou roleta em meio dia.
— Você parece entender bem disso…………… — Asuna disse, seu olhar perfurando minha bochecha esquerda. Fiz o meu melhor para ignorar e aguardei a resposta de Argo.
Por alguma razão, a agente de informações sorriu e ergueu o dedo indicador.
— Bem, eu não sabia até entrar lá dentro que eles mudaram um monte de coisas desde o beta.
— De que jeito?
— A maior mudança é que o evento principal acontece duas vezes, tanto de dia quanto à noite.
Prendi a respiração, sabendo que Asuna não entenderia do que Argo estava falando.
— Sério…?
Recostei-me no sofá macio, afundando nele. Asuna cutucou meu braço esquerdo.
— O que foi? Que evento principal?
— Uhhh…
Cuidadosamente, evitei olhar em seus olhos enquanto descrevia a atração de apostas que me fez perder tudo, exceto minha espada, no teste beta.
— A Arena de Batalha… É um coliseu de monstros.