Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 7

RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 3)

3

ENCONTRAMOS QUASE NENHUM MOB daquele ponto em diante, até terminarmos de atravessar os quase 5 km das «Verdian Plains».

No momento em que chegamos ao topo da última colina, Asuna exclamou: "Ohhh!" e correu alguns passos à frente.

Diante de nós estava uma das — senão a — cidades mais elegantes e belas que já tínhamos visto em Aincrad até então. Era como algo saído diretamente de um mundo de fantasia — bem, na verdade, era um mundo de fantasia, mas mesmo assim.

A cidade se inclinava suavemente para a esquerda, com todas as casas de estuque branco puro dispostas em níveis descendentes. As maiores tinham telhados pintados de um azul profundo e imaculado, brilhando sob a luz dourada do pôr do sol como fogueiras. Era uma visão deslumbrante. No beta, a cidade era feita de pedra cinza, como a cidade principal, então o lugar inteiro havia sido renovado para o lançamento oficial. Além da fileira inferior de casas, havia uma praia de areia branca e água verde-esmeralda.

Era isso que eu queria mostrar para ela — e funcionou. Asuna ficou parada, maravilhada, então suspirou e murmurou.

— É lindo... Igual a Santorini...

— Santorini…? Isso é um lugar real?

Ela olhou para mim, como se tivesse sido despertada de um sonho.

— Sim, é um lugar real. Uma ilha grega no Mar Egeu. Há uma cidade lá chamada Oia que é idêntica a esta.

— Aham…

Fiquei tentado a perguntar se ela já tinha ido lá pessoalmente, mas resolvi deixar para lá. Em vez disso, perguntei.

— Então talvez tenham modelado essa cidade com base naquela. Oia é famosa por ter cassinos?

— Hmm… Ouvi dizer que existem resorts-cassino na Grécia, mas acho que não há nenhum em Santorini.

Mais uma vez, decidi não perguntar como ela sabia disso. Apenas dei de ombros com um sorriso.

— Interessante. Bem... Olhe ali, do outro lado da cidade.

Eu apontei para um edifício especialmente grande, situado no extremo oposto da cidade em camadas. De cada lado de um prédio octogonal com um telhado azul-cobalto, havia torres com topos cônicos. Parecia um palácio. Aquele era o Cassino Grand Volupta, o lugar que trouxe alegria e desespero a tantos jogadores no beta teste.

— Aquele é o lugar? — Asuna perguntou. Eu assenti.

— Sim. Escute, Asuna — aquele cassino vai testar nossa força de vontade de todas as formas possíveis. Não se empolgue demais, mas também não seja tímida. Mantenha a calma, mas seja ousada...

— Tá, tá. Já entendi.

Ela colocou a mão na minha boca para me calar.

— Vamos ganhar trezentas fichas, aproveitar um tempo na praia e depois encontrar a «Kizmel».

— Sim, senhora.

Ela tirou a mão do meu rosto e começou a descer a colina.

«Volupta» ocupava praticamente a mesma área de «Lectio», a cidade principal do andar, mas era pelo menos três vezes mais movimentada.

Assim que passamos pelos portões de estuque branco, fomos recebidos por gritos animados e aromas tentadores vindos dos carrinhos de comida, restaurantes e bares ao longo da rua principal. Eu me lembrei de que já tínhamos comido aquele delicioso arroz com frango e kaphrao em «Lectio», mas isso já fazia seis horas. A caçada improvisada tinha nos desgastado um pouco, e como o entardecer se aproximava, aquela era uma boa oportunidade para um jantar antecipado.

— Ei, Asuna…

— Ei, Kirito — ela respondeu. Levantei a mão, indicando que ela falasse primeiro. Ela piscou e disse.

— Imagino que o cassino fique aberto até tarde. Devemos comer antes?

— Até tarde? Ele fica aberto vinte e quatro horas.

— Oh...

— Mas concordo com você sobre comer. O que vamos pedir?

— O que tem de bom por aqui? — Ela perguntou pela segunda vez naquele dia.

Tive que pensar um pouco; no beta, a maior parte do tempo que passei no sétimo andar foi consumida por essa cidade, mas eu tinha poucas memórias da comida. Isso porque eu estava ocupado ignorando meu próprio conselho de "manter a calma e ser ousado", preferindo ser "desesperado e covarde", e basicamente fazendo tudo errado.

— Ah, bem... Vou deixar seu instinto, conhecimento e sua sorte com comida guiarem o caminho, Asuna.

— Não sei bem o que isso quer dizer... Mas tudo bem, acho — ela murmurou, parecendo cética, mas ao mesmo tempo um pouco satisfeita consigo mesma.

Por causa da inclinação do terreno, o lado norte de «Volupta» era a parte alta da cidade, onde ficavam as residências, enquanto o lado sul era a parte comercial. No entanto, praticamente todos os restaurantes estavam concentrados ao longo da rua principal que cortava a cidade de leste a oeste.

Além disso, a organização da cidade fazia com que, quanto mais se avançasse em direção ao Cassino Grand Volupta, mais sofisticados os restaurantes se tornavam. O restaurante luxuoso bem em frente ao cassino cobrava preços absurdos, completamente fora dos padrões da economia do sétimo andar.

Tarde demais, comecei a entrar em pânico ao pensar na possibilidade de Asuna escolher justamente aquele lugar. Felizmente, suas botas de couro branco pararam com um leve clique cerca de um terço do caminho pela rua.

Com sua entrada ampla e uma combinação de assentos internos e externos, o estabelecimento parecia mais um café do que um restaurante. Do interior iluminado, vinham os sons do tilintar de talheres e copos, além de muitas conversas animadas. Eu não me importava com esse tipo de atmosfera, mas não parecia ser algo do gosto de Asuna.

— Tem certeza de que quer esse lugar...? — perguntei, hesitante.

Um momento depois, ouvimos uma voz especialmente alta gritar.

— Não se segurem, pessoal! Essa é por minha conta! Peçam o que quiserem!

Gritos e assobios responderam ao chamado.

— Você é um cara incrível!

— E com um cabelo todo espetado!

— Mais três canecas grandes de cerveja aqui, moça!

— Faz quatro!

— E duas porções de linguiça!

Asuna e eu trocamos um olhar apreensivo antes de nos aproximarmos da entrada para espiar lá dentro.

O interior não era particularmente grande, com apenas duas mesas no centro. Mas eram mesas espaçosas, lotadas de jogadores usando equipamentos familiares em tons de cinza ferroso e verde musgo. Nem precisávamos ver a tag da guilda em seus cursores. Eles pertenciam a uma das duas grandes guildas de avanço, o «Aincrad Liberation Squad» (ALS). No centro da mesa à esquerda, virando uma enorme caneca, estava o líder deles, Kibaou. Ao redor dele, outros membros principais da guilda, como Okotan, Schinkenspeck e Hokkai Ikura.

— Como eles já estão aqui...? — murmurei.

Asuna suspirou.

— Será que já estavam a caminho antes de nós...?

Como não passaram por nós na Tailwind Road, essa era a única explicação. Isso significava que o ALS passou a noite em uma estalagem em «Lectio» e partiu logo ao amanhecer para «Volupta».

«Lectio» era, de fato, uma cidade sem graça, mas havia várias missões para fazer e algumas boas áreas de caça. Em uma guilda menor e mais ágil, era mais fácil manter todos no mesmo nível, mas em uma guilda grande, os membros tendiam a se distanciar em termos de experiência. Presumivelmente, eles teriam passado um tempo na primeira cidade do andar apenas para fortalecer seus níveis. Então, por que saíram da cidade tão rápido e, mais estranho ainda, por que estavam bebendo e comemorando aqui?

Nem Asuna nem eu tínhamos uma resposta para essa pergunta. Justo então, um outro grupo atrás de nós soltou um brado de comemoração.

……?

Viramos para olhar para o outro lado da rua. Havia um restaurante ali, de tamanho semelhante, mas ligeiramente mais sofisticado. Atravessamos rapidamente e espiamos pela janela, já que as portas estavam fechadas.

— À vitória de hoje! — exclamou uma voz, seguida por um coro entusiasmado de "Saúde!"

Ocupando os assentos ao redor de duas grandes mesas, estava um grupo de jogadores vestindo trajes metálicos prateados e azul-cobalto. Era claramente a outra grande guilda, a «Dragon Knights Brigade» (DKB).

De pé, sozinho no fundo da sala e erguendo uma caneca de cerveja, estava um homem magro de cabelo comprido preso em um rabo de cavalo. Era o líder da guilda, Lind. Próximos a ele estavam Shivata e Hafner, dois de seus companheiros de guilda.

— A DKB também... Mas por quê...? — Asuna perguntou.

— E por que estão brindando e bebendo a essa hora? — questionei.

— Ele disse algo sobre a vitória de hoje. Será que derrotaram um mini boss de campo ou algo assim?

— Não acho que haja nenhum MBC digno de celebração por aqui em «Volupta» — respondi, ganhando um olhar frio de Asuna pela abreviação preguiçosa.

Ela se afastou da janela.

— Bem, suponho que ambas as guildas vieram pelo cassino, mas não entendo por que escolheram locais opostos, um de frente para o outro. Seria bom descobrir o que está acontecendo antes que acabemos nos envolvendo.

Eu não tinha nenhuma objeção. Já tínhamos sofrido com a disputa entre DKB e ALS pelo controle da bandeira da guilda no quinto andar e com a corrida para derrotar o boss do sexto andar. Se estavam competindo por alguma nova vantagem, eu queria saber o que estava rolando antes que as coisas fugissem do controle.

Isso nos deixava com apenas uma pessoa a consultar, é claro.

— Ela provavelmente está nesta cidade também. Melhor entrarmos em contato — murmurei. O rosto de Asuna se iluminou enquanto assentia.

A resposta ao meu pedido para nos encontrarmos pessoalmente veio dois minutos depois.

ESTOU EM UM LUGAR MOVIMENTADO AGORA. PODE SER EM QUINZE MINUTOS? TE VEJO NO POTS 'N' POTS, NO LADO SUDESTE DA PRAÇA DA FONTE.

Asuna leu a mensagem por cima do meu ombro e se perguntou.

— Lugar movimentado...? Tipo, para ganhar pontos de experiência?

— Duvido que seja isso...

— Então o que é?

— Você vai ter que perguntar para ela mesma — eu disse, fechando a janela.

A praça da fonte em questão ficava onde a rua principal leste-oeste se cruzava com uma grande escada que subia a colina no sentido norte-sul; estava a menos de cem metros de onde estávamos. Se caminhássemos direto, levaria menos de cinco minutos, então fomos com calma, observando os diversos lugares para comer de cada lado da rua, chegando à praça após mais dez minutos.

A praça era, de acordo com minha pesquisa, o terceiro ponto turístico mais visitado de «Volupta», ficando atrás apenas do cassino e da praia. Não era muito grande, mas havia uma estátua da deusa da sorte com cabeça de pássaro na fonte, de onde a água pura jorrava das pedras naturais aos seus pés, formando uma piscina circular ao redor dela.

Quando Asuna se aproximou e olhou através da cerca de metal ao redor da fonte, soltou um suspiro.

— Olha! Todas aquelas moedas de ouro e prata!

Como ela disse, havia muitas moedas cintilando no fundo da água, brilhando à luz dos fogos ao redor. Se minha memória estava certa, parecia haver muito mais moedas do que da última vez que eu tinha visto.

— Não pula na água para pegá-las, ou os guardas vão te expulsar.

— Eu não vou fazer isso! — ela protestou, me cutucando na lateral. —- Mas é lindo... igual à Fonte de Trevi.

— Ah, até eu sei qual é essa. Fica em Roma, né?

— Isso mesmo. Eu vou jogar uma moeda também — disse Asuna, tirando duas moedas de prata de um pequeno bolso na sua bolsa.

— O quê?! Você vai jogar duzentos col?! Não tem nenhum buff nessa fonte.

— Eu não ligo!

Ela me lançou um olhar fulminante e, por algum motivo, virou-se de costas para a fonte e jogou as moedas por cima do ombro. Elas espirraram na água e afundaram, oscilando para baixo até se acomodarem nas pilhas no fundo.

— Não precisava jogar as duas...

Duzentos col eram suficientes para cinco pratos extragrandes de frango com arroz do Min, em «Lectio», pensei, frustrado. Mas Asuna suspirou e explicou. 

— Na Fonte de Trevi, tem um ditado que diz que o número de moedas que você joga vai mudar o pedido que ela vai realizar.

— Ah é? Como assim?

— Uma moeda significa que você poderá voltar para Roma. Duas moedas significa que você vai estar lá com uma pessoa especial… — Mas ela parou de repente, tapou a boca e olhou para o lado. — Você vai ter que procurar por conta própria para saber o resto.


(N/SLAG:  EU DIGO? Tá. Vou dizer o ditado: Jogar uma moeda significa que você voltará a Roma. Jogar duas moedas significa que encontrará um grande amor em Roma. Jogar três moedas significa que você se casará ou terá um casamento bem-sucedido. Obs: você deve jogar a moeda com a mão direita sobre o ombro esquerdo para que a sorte funcione. Teria sido interessante se ela tivesse jogado uma terceira.)


— Como vou fazer isso em Aincrad...?

— Quando voltarmos para o mundo real, você pode pesquisar no google ou o que for.

— Vai demorar, então — eu disse, pensando comigo mesmo, — com certeza vou esquecer disso até lá. — Então dei uma olhada no canto direito da minha tela. — Ah não, falta um minuto!

— Ah, é verdade.

Saímos da fonte e corremos para a parte sudoeste da praça. No entanto, havia apenas uma área de guias turísticos ali, e nenhum lugar chamado Pots 'n' Pots.

— Hmm, nada aqui... Será que é em outra esquina?

— Não. Espera um pouco.

Puxei a manga da túnica de Asuna, meu nariz se movendo. Achei que tivesse sentido um leve cheiro tentador na brisa da noite.

— Acho que é por aqui...

Eu nos conduzi para o sul, descendo a grande escadaria pela cidade. Apesar do nome, os degraus tinham cerca de três metros de comprimento e nove metros de largura, com canteiros de flores no meio. Na verdade, era mais uma rua que tinha o formato de escadas. No final, à nossa frente, havia um grande portão, com a praia e o oceano (ou melhor, o lago) logo depois, seguido pela abertura externa do andar e o pôr do sol infinito. Era uma vista impressionante, mas não era hora de admirar.

Eu desci a escada, puxando a manga da túnica de Asuna o tempo todo, e então a levei por um caminho estreito à direita. Direto atrás da área de guias turísticos de antes, havia uma plaquinha. Em uma caligrafia cursiva, parecia dizer Pots ’n’ Pots, mas eu não sabia o que isso significava.

— Ah! É aqui! — exclamou Asuna, justo quando ouvi alguns passos leves. Uma figura pequena correu em alta velocidade do outro lado da rua e parou antes que pudéssemos reagir.

— Desculpa, desculpa. Vinte segundos de atraso! — disse a figura, uma pequena jogadora com uma capa cinza-areia com capuz — a negociadora de informações, Argo, a Rata, se curvando.

Asuna puxou a manga da minha mão e deu um passo à frente.

— Não, tudo bem — disse ela, feliz. — Nós acabamos de chegar também!

— Ah, entendi. Já faz um tempo, A-chan… Ou não? Foi só ontem, né? — Argo disse, dando de ombros.

Eu acenei com a mão e falei.

— Ei. Desculpa te incomodar enquanto estava ocupada.

— Nah, tudo bem. Era o lugar certo para parar mesmo.

— Você ganhou?

— Um pouco. Eu só estou fazendo uma investigação preliminar hoje.

Foi nesse momento que Asuna interrompeu, meio sem jeito.

— Ahhh, quando você disse que estava em um lugar movimentado, queria dizer no cassino? Estava apostando, Argo?

— Agora, se você colocar assim, parece que eu estava fazendo algo criminoso. Só um pouquinho de jogo, mais ou menos.

— Isso é a mesma coisa — ela disse.

Argo sorriu e riu, depois deu um tapinha no cotovelo de Asuna.

— Ah, vai, não seja tão quadrada. Eu tenho que começar a vender a primeira edição do meu guia estratégico do sétimo andar até o final da noite. Faz parte do trabalho de negociadora de informações.

Sim, uma história bem provável, pensei. Ainda assim, isso me deu uma ideia.

— Espera… Você ainda não está vendendo os guias estratégicos do sétimo andar? Eu tinha certeza que a ALS e a DKB vieram direto para «Volupta» porque já tinham lido o seu trabalho...

Argo deu de ombros.

— Bem, nós não somos os únicos jogadores beta. Eles devem ter aprendido sobre o cassino por lá… Ei, quer entrar? Estou morrendo de fome.

No instante em que ela disse isso, meu estômago virtual roncou. Asuna acenou com a cabeça, sem dizer uma palavra, então seguimos Argo para dentro do misterioso Pots ’n’ Pots.

Dentro, o lugar era ainda menor do que o restaurante de frango com arroz em «Lectio», com apenas quatro cadeiras em um balcão. Três delas foram para Argo, Asuna e eu. Não havia cardápio no balcão. Eu estava olhando ao redor quando ouvi uma voz vinda além de Asuna dizendo.

— O cardápio está na parede à nossa frente, Kii-boy.

— Mwha—?

Olhei para cima e vi, na parede de fundo, um quadro cheio de letras pequenas e alfabéticas. Eu tinha achado que era só uma decoração no começo, mas agora vi que era um cardápio.

— Uhhh… Frango com tomate… frango com feijão… frango com cogumelo…

Desci um pouco e vi que, depois do frango, os itens eram todos "carne de vaca com algo", depois "peixe com algo", depois "carne de cordeiro com algo", até que chegava do lado esquerdo, onde terminava com coelho, cervo e perdiz.

— Eu sei o que são coelho e cervo... mas o que é perdiz? — eu me perguntei. Felizmente, Asuna tinha a resposta.

— É um tipo de pássaro... Em japonês, chamamos de perdiz da montanha, se eu me lembro corretamente.

— Perdiz da montanha...? O que tem de diferente da perdiz normal?

— Não sei. Porque elas vivem nas montanhas?

— Oh. Faz sentido.

Foquei no cardápio novamente. Devia haver uns cem nomes apertados na lista, mas o problema era que eu não fazia ideia de que tipo de prato eles descreviam. Se eu pedisse perdiz com feijão e recebesse uma perdiz assada inteira recheada com feijão, não tinha certeza se meu apetite voraz duraria. Também não podia perguntar ao cozinheiro, porque não havia ninguém atrás do balcão.

E agora?

— Eu vou querer carne com batatas.

— E eu acho que vou de coelho com ervas.

Depois que as garotas pediram, uma voz de algum lugar respondeu.

— Certo!

Dei um pulo, assustado, e me inclinei sobre o balcão. Uma pessoa bem pequena saiu de uma porta à esquerda e colocou algo redondo que segurava com as duas mãos no forno à direita.

Esse NPC tinha que ser o proprietário, presumi. Seu grande chapéu de chef caía sobre os olhos, e o lenço vermelho amarrado ao redor do pescoço subia até as orelhas, então não havia como dizer com certeza se era homem ou mulher, jovem ou velho. A única coisa de que eu tinha certeza era que, se não fizesse meu pedido, não jantaria.

— Umm… uh… então eu vou querer… perdiz com pastinaca! — Soltei por impulso. Se eu não sabia o que era, que escolhesse qualquer coisa do final da lista.

O chef respondeu "Certo!" novamente e sumiu na escuridão da cozinha à esquerda, reaparecendo logo depois com outro objeto redondo misterioso, que também foi colocado no forno.

O prato em si ainda era um total mistério, mas, em menos de um minuto, um cheiro extremamente fragrante e delicioso preencheu a pequena loja, para meu alívio. Certamente não era um cheiro ruim, e, afinal, esse lugar tinha sido escolhido pela Rata, a maior negociadora de informações de Aincrad. Podíamos confiar no gosto dela.

Mais um minuto depois, o chef retirou dois dos objetos redondos do forno, colocou-os em pratos de madeira simples, adicionou uma faca, um garfo e uma colher, e os colocou à frente de Asuna e Argo.

Os objetos eram, na verdade, pães crocantes e arredondados. Pareciam bons… mas onde estava a carne e o coelho?

Asuna já havia entendido o truque; pegou o pão sem hesitar e arrancou a tampa. Um jato de vapor quente saiu de dentro, e murmurei, impressionado. O pão, de uns quinze centímetros, tinha sido escavado e recheado com um ensopado espesso e marrom.

— Ahhh, então era isso… — murmurei.

Asuna me lançou um olhar divertido e disse, orgulhosa.

— Você devia ter percebido pelo nome.

— Hã? Pots ’n’ Pots…? O que isso quer dizer?

— São assados de panela servidos em pães.

— Ah… é… entendi…

Poderia ter avisado, Rata! Pensei, lançando um olhar irritado para além de Asuna. Mas Argo já estava mordendo a tampa do pão, que mergulhara primeiro no ensopado.

Minha boca quase começou a salivar ao ver isso, então foi uma sorte meu próprio pão dourado ter sido colocado à minha frente naquele instante. Asuna foi gentil o suficiente para esperar meu prato chegar, então agradecemos antes de comer e, em seguida, tiramos a tampa do pão.

Dentro do pão, havia um ensopado branco e cremoso. Copiei Argo, partindo a tampa ao meio e mergulhando-a no ensopado antes de dar uma mordida.

Era delicioso. Tinha gosto do ensopado cremoso que eu costumava comer no mundo real, mas com um aroma mais forte e um leve toque adocicado. Devorei a tampa do pão rapidamente, então peguei minha colher.

A primeira coisa a provar era a "codorniz das montanhas", a perdiz, que tinha um sabor rico, macio e suculento. Depois, peguei um ingrediente branco misterioso. Era um pedaço semicircular de algo que parecia batata ou nabo.

— Então isso é pastinaca…? — murmurei para mim mesmo, analisando-o.

Asuna parecia sentir pena de mim.

— Você pediu isso sem saber o que era?

— Sim.

— É rabo de lagarto.

— O quê?

Imediatamente, afastei a colher o máximo possível. Claro, tudo aqui — a perdiz, o coelho de Asuna e o cervo de Argo — era apenas um monte de dados digitais, e carne de lagarto não seria diferente. Mas isso não importava. Eu tinha meus padrões, e eles eram importantes para mim.

— Que tipo de combinação é codorna com lagarto…? — murmurei para mim mesmo. Asuna e Argo caíram na gargalhada.

— Você é incrível, Kii-boy. Sempre vale a pena te provocar.

— Quê? Sério?

— Sim, sério. No Japão, chamamos isso de cenoura-açucarada ou salsa-americana — explicou Asuna com um ar convencido. Lancei um olhar de soslaio para ela e coloquei o objeto branco na boca. Ele tinha uma crocância parecida com a de uma cenoura, mas com um sabor e dulçor próprios. Era estranho, mas não ruim.

— Hmm. Agora entendo por que chamam de cenoura-açucarada — comentei depois de engolir o pedaço.

— Tecnicamente, no entanto, é um parente do aipo — apontou Asuna.

— Desde que não seja rabo de lagarto, não me importo.

Dito isso, comecei a comer o prato de verdade. Tinha dado apenas duas ou três mordidas quando Argo falou.

— Vocês querem trocar?

Asuna e eu trocamos olhares e assentimos ao mesmo tempo.

Primeiro, minha tigela de pão foi para Argo, depois o prato dela para Asuna, e o de Asuna veio para mim. Se eu me lembrava bem, esse era o de coelho com ervas. A textura era mais firme que a da codorna, mas não deixava um gosto estranho na boca, e a mistura de ervas dava um sabor estimulante e equilibrado.

Depois de comermos mais um terço dos ensopados, fizemos outra troca. O prato de carne com batatas da Argo tinha aquele sabor clássico e reconfortante. A combinação da carne suculenta com as batatas quentes era incrivelmente satisfatória. Quando cheguei ao fundo da tigela de pão, perguntei baixinho para Asuna.

— Nós podemos comer o pão também?

— Por que não? Temos facas.

— Ohhh, então é pra cortar o pão…

Peguei a faca serrilhada e cortei a tigela de pão vazia ao meio, depois em pedaços menores. Coloquei um dos pedaços encharcados de ensopado na boca e mastiguei satisfeito, enquanto Asuna cortava o dela em partes mais fáceis de comer.

Ela perguntou.

— Qual foi o seu ensopado favorito, Kirito?

— Uhhh… Bem, todos estavam bons. A codorna da montanha com… cenoura-açucarada foi uma novidade interessante. O de coelho com ervas era intenso e marcante, enquanto o de carne com batatas era seguro e delicioso… Mas se eu tivesse que escolher um vencedor, acho que ficaria com o de coelho.

— Ah, é? Por quê?

— Acho que gostei mais da textura.

— Hmm, interessante…

Não sabia exatamente o que ela achava tão interessante, mas ela assentiu e espetou um dos quadradinhos de pão cortado.

Quando terminamos, saímos do restaurante. «Volupta» já estava em modo noturno. Inspirei a brisa relaxante que vinha da praia e me espreguicei com prazer.

— Ahhh, isso foi bom… Valeu por nos mostrar esse lugar, Argo.

— Bem na saída da praça, ninguém pensaria em procurar aqui, né? Essa eu deixo de graça.

— Ei, valeu — resmunguei. De repente, Asuna arfou.

— Oh!

— O quê?

— Eu sinto que não chamamos a Argo só pra jantar com ela.

A Rata e eu arfamos juntos.

— Oh!

Já tínhamos pagado a conta no Pots ’n’ Pots e saído, então seria embaraçoso voltar. Mas também parecia um desperdício sair procurando um café para sentar. Em vez disso, decidimos nos registrar em uma pousada.

As pousadas de «Volupta» ficavam ao sul da cidade, mais perto da praia, mas o lugar mais luxuoso de todos ficava no andar superior do cassino. No entanto, para ficar lá, precisaríamos de fichas do cassino, e não de col.

Descemos as grandes escadarias, viramos à direita ao chegar ao portão sofisticado na base, onde guardas montavam vigia. Quando se chegava tão perto da praia, ela desaparecia de vista, escondida por altos muros de pedra que bloqueavam o acesso.

— Será que os moradores daqui reclamam do fato de a praia ser exclusiva para os turistas que apostam no cassino? — murmurou Asuna. Eu ia dizer que eles eram apenas NPCs, mas desisti.

«Kizmel», a elfa negra, não era a única NPC que conhecemos com habilidades conversacionais avançadas e inteligência emocional no nível de um ser humano; «Myia», «Theano» e «Bouhroum» eram exemplos recentes do mesmo no sexto andar. Nem todos os NPCs eram assim, mas provavelmente havia alguns em «Volupta» com o mesmo nível de inteligência artificial. 

Prefiro não ver nenhum NPC morrer neste andar, pensei, no exato momento em que Argo respondeu à pergunta de Asuna.

— Hmm, talvez sim. A cidade inteira é mais ou menos governada por aquele enorme cassino.

— Governada? Isso soa meio ameaçador…

— Existem cidades empresariais no mundo real também, certo? A economia de «Volupta» gira em torno dos turistas que vêm pelo cassino, então os moradores não podem realmente reclamar que a praia é fechada para eles.

Asuna lançou um olhar para o muro de pedra à esquerda.

— Quando você coloca dessa forma… Quase me sinto mal com a ideia de relaxar e me divertir na praia…

— Ah-hã? Então vocês dois estão de olho na praia, é? Bem, agora me sinto mal por ter falado isso.

— Não, na verdade, fico feliz que tenha nos contado — admitiu Asuna. Observei-a atentamente e perguntei.

— Então, hum… devemos esquecer a praia?

— Mmm… não — disse ela, para minha surpresa. — No sexto andar, aprendemos que este mundo nem sempre funciona da maneira que sua história de fundo sugere. Decidi que vou tirar minhas próprias conclusões com base no que vejo e ouço por mim mesma. E isso significa ignorar o que você acabou de nos contar, infelizmente.

— Nee-hee-hee, sem problemas. Eu também tenho que estar sempre atenta para não engolir tudo que ouço por aí —  Argo disse, apontando para uma pousada de quatro andares à frente. Ela sorriu e acrescentou. — Mas, é claro, A-chan vai querer dar uma olhada por si mesma antes de decidir ficar lá.



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