Volume 7
RAPSÓDIA DO CALOR CARMESIM - SÉTIMO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 2)
2
EM 5 DE JANEIRO DE 2023, ISSO ERA O QUE ASUNA E eu tínhamos em termos de habilidades e equipamentos:
Kirito, espadachim de nível 22, slots de habilidades: 5
Habilidades em uso: «One-Handed Swords», «Martial Arts», «Search», «Stealth», «Meditation»
Equipamento: «Sword of Eventide» +3
«Coat of Midnight» +6
«Fortified Breastplate» +4
«Skintight Shirt» +2
«Trousers of Shadow Thread» +5
«Spiked Short Boots» +3
«Ring of Brawn»
«Sigil of Lyusula»
Asuna, esgrimista de nível 21, slots de habilidades: 5 * (6)
Habilidades em uso: «Rapier», «Light Metal Armor», «Sewing», «Sprint», «two-handed lances» * («Meditation»)
Equipamento: «Chivalric Rapier» +7
«Woven Hooded Cape» +2
«Thinly Made Breastplate» +6
«Fencer’s Tunic» +4
«Pleated Leather Skirt» +4
«Prancing Boots» +3
«Earrings of Ripples»
«Ring of Luminescence»
«Sigil of Lyusula»
* Habilidade entre parênteses vem da Garrafa Cristal de Kales’Oh.
O nível de desafio recomendado, considerando a margem de segurança, geralmente era o número do andar mais sete, então nem Asuna nem eu tínhamos motivos para hesitar ao enfrentar o sétimo andar, isso falando de status. Metade do nosso equipamento era recompensa de quests raras ou itens de bosses, mas isso não era tudo. No meu caso, o peitoral, a camiseta e as botas eram itens comuns comprados na loja, assim como a capa, túnica e a saia da Asuna. Eles estavam melhorados, mas seus números absolutos ainda estavam bem abaixo do loot raro, então a primeira coisa que fazíamos quando chegávamos a um novo andar era verificar as lojas de NPC e ver se podíamos comprar algo que fosse uma melhoria em relação a esses itens (preferencialmente a um preço acessível).
Era uma parte crucial da sobrevivência neste jogo mortal, mas também fazia parte da diversão de jogar um RPG. Mas, após observar as prateleiras da primeira loja de armaduras em que entramos, Asuna murmurou.
— Essa seleção não é lá essas coisas... e é a maior loja da cidade principal — de forma baixa o suficiente para que o vendedor não ouvisse. Eu assenti.
— É... Ao contrário da lanchonete, este lugar não foi atualizado, pelo visto.
— Entendi, quer dizer que não era impressionante na beta também?
— Minha memória está meio vaga, mas é a impressão que eu tenho.
— Você tinha memórias tão vívidas e detalhadas de «Stachion». Por que seu conhecimento de «Lectio» é tão vago? — ela perguntou, apontando meu defeito novamente. Eu apertei os lábios.
Para explicar o motivo, eu precisaria tocar na tragédia que me atingiu — que atingiu quase todos os jogadores beta — neste andar. Eu preferiria manter essa memória trancada bem fundo na minha mente, sem nunca mais falar sobre ela, mas Asuna era afiada demais. Eu não conseguiria esconder isso dela.
Limpei a garganta e disse.
— Para explicar, precisaremos chegar à saída da cidade.
— Tudo bem. Não tem muito o que comprar aqui mesmo.
— Então vamos.
Conduzi uma Asuna cética de volta à praça de teleporte. Ainda havia poucos jogadores à vista, seja por causa do calor ou porque não havia muito o que ver e fazer ali.
Eu queria tirar tanto o meu casaco quanto o peitoral, mas me disse que o calor era apenas virtual, e me concentrei em atravessar a praça, seguindo pela rua principal leste-oeste da cidade para o oeste. Não era uma cidade muito grande, então apenas alguns minutos de caminhada trouxeram à vista o muro que separava a zona segura da cidade dos perigos da selva.
— Hmm? — Asuna murmurou à minha direita. — Por que há dois portões?
Como ela disse, no final da rua principal estavam dois grandes portões com um design quase idêntico. A única diferença entre eles era a escultura de mármore em cima de cada um.
A escultura à direita era de um homem com aparência miserável, com as costas curvadas sobre uma bengala, como se estivesse caminhando contra os elementos em uma tempestade.
A escultura à esquerda era de um homem ricamente vestido, com as costas arqueadas, segurando um enorme copo de vinho.
Cada portão estava aberto, oferecendo uma visão clara do terreno do outro lado. Além de cada portão, havia um caminho rodeado por campos verdes.
Não havia nada entre os caminhos do outro lado da parede, então não havia nada impedindo você de sair por um portão e seguir pelo outro caminho. Então, o significado dos dois portões era...
— Para dizer dramaticamente, acho que eles refletem os destinos que aguardam os jogadores além dos portões.
— Destinos…? — Asuna repetiu, claramente achando que isso era exagerado. Ela olhou para os portões novamente. — Então… o caminho pela direita oferece dificuldades, e o caminho pela esquerda é o caminho fácil.
— Isso está quase certo — eu respondi enquanto chegávamos ao espaço aberto bem antes dos portões. Não havia jogadores ali também. Provavelmente, as duas grandes guildas já haviam escolhido um portão e partido.
Quando chegamos lá, o efeito de perspectiva na nossa visibilidade mudou, permitindo ver claramente a área além dos portões. Na distância, através do portão da direita, sob a estátua do homem com a bengala, havia uma floresta densa e uma montanha rochosa e careca. No lado do portão da esquerda, sob o homem com o copo de vinho, o caminho parecia se estender por planícies planas até onde a vista alcançava.
— Então, «Lectio» está na borda leste do sétimo andar, certo? Isso significa que a torre do labirinto está na borda oeste? — Asuna perguntou.
— Sim — confirmei.
— E onde fica o ponto de partida para a missão “Guerra dos Elfos” aqui?
— Deve ser no centro do andar. Está aproximadamente equidistante de qualquer que seja o caminho que tomarmos.
(N/SLAG: Ele quis dizer que não importa qual caminho, a distância é a mesma.)
— Então, provavelmente devemos seguir pelo caminho fácil, certo?
— Acho que sim. Mas apenas se você tiver uma vontade inquebrável, Asuna.
— Tudo bem, o que está acontecendo com você e essas declarações enigmáticas? O que os dois caminhos têm a ver com a sua memória deste andar? — ela perguntou, visivelmente irritada. Eu percebi que a sua irritação estava aumentando, então me preparei para a difícil conversa que estava por vir.
— Bem, uh… O caminho da direita tem muitos mobs e terreno traiçoeiro, o que é difícil, mas é a rota normal do jogo. O caminho da esquerda tem poucos monstros e terreno plano… mas há uma cidade enorme ao longo do caminho. Ela é duas ou três vezes maior que «Lectio».
— Uma cidade enorme…? É uma dungeon?
— Não, é uma cidade humana. Zona segura, pousadas, lojas, tudo o que você esperar. Boa comida também.
— Então, qual é o problema?
— O problema é… que há um enorme cassino nesta cidade.
— Hã…? — A boca de Asuna ficou aberta. Ela olhou para a escultura do homem com o copo de vinho e depois olhou para mim novamente. — Um cassino, como… um cassino-cassino? Como em Las Vegas ou Macau?
— Como em Las Vegas ou Macau. Não que eu tenha ido a nenhum dos dois — eu disse, olhando através do portão da esquerda. Gostando ou não, as amargas memórias do passado estavam inundando minha mente. — Dos mil jogadores no teste beta, eu estimaria que mais de oitenta por cento deles seguiram o caminho da esquerda. E a maioria se viciou no cassino, e a maioria deles foi levada até perder tudo. Os rumores diziam que metade dos jogadores betas desistiu após jogar no sétimo andar.
……
Asuna ficou em silêncio por uns bons cinco segundos, então caminhou ao meu redor e se colocou na minha frente, bloqueando minha visão.
— E o que aconteceu com você?
— Eu perdi tudo — eu disse, fazendo uma careta amarga. — Todo o col que eu havia economizado nas aventuras, todos os meus itens raros, tudo. Só me restou a espada… mas eu não desisti. Levantei-me e fui para o próximo andar. Eu perdi no cassino, mas não perdi no jogo. Não, eu não perdi no j—
— Certo.
— O quê?
— Nós vamos para a direita — Asuna declarou, interrompendo minha saga heroica, e começou a caminhar em direção ao portão sob o homem com a bengala.
Eu não discuti a escolha dela; não era como se eu quisesse cometer o mesmo erro duas vezes. Principalmente porque, no teste beta, morrer significava apenas voltar à vida no primeiro andar, mas não haveria um recomeço em trajes íntimos desta vez. Se eu perdesse todo o meu dinheiro e equipamentos, teria que esperar na «Town of Beginnings» para que outra pessoa vencesse o jogo por nós.
Mas…
Algo dentro de mim — talvez a alma de jogador — se recusava a ficar como um perdedor. Eu olhei para as costas de Asuna e disse algo que ela não esperava ouvir.
— A praia.
— Hã? — Ela se virou.
Eu disse gravemente.
— Eu não mencionei isso antes? No lado sul do sétimo andar, há uma praia com areia branca e palmeiras. Isso faz parte da cidade do cassino… «Volupta». Claro, não é um mar de verdade, apenas um pouco de um lago que chega até a borda do andar. Mas a água é salgada.
— Uma praia……
Ela repetiu a palavra, muito conflitante. Ela olhou para o fundo do andar acima, que irradiava luz solar e calor, e depois olhou para mim novamente.
— Mas… com esse calor… a praia deve estar lotada de pessoas, certo?
— Na verdade, para ganhar o passe com acesso à praia, você tem que ganhar muitas fichas no cassino. E duvido que a DKB ou a ALS se distraiam com jogos de azar — eu disse, pensando nas expressões sérias de Lind, líder da DKB, e Kibaou, líder da ALS. Asuna deu um passo mais perto de mim, com uma expressão muito semelhante.
— Mas isso significa que não podemos visitar a praia sem apostar no cassino, certo?
— Bem, sim… Mas quando eu estava te contando sobre isso, você se lembra do que disse, Asuna? Que se o sétimo andar fosse eternamente verão, você ia fazer algo na praia…
……
Asuna apenas piscou, surpresa. Então seus olhos se desviaram de forma muito estranha e desconfortável, e ela resmungou.
— Ummm.
— Ummm?
— Uuuuhhh…
— Uhhhh?
Ela me deu um soco na costela. Então, aparentemente, ela não estava falando em alguma língua não humana, afinal.
— Quanto custa esse passe, se você converter para col?
— Uhhh… Se for o mesmo preço do beta, uma ficha de cassino vale cem col, então seria... trinta mil col?
— 30k! — ela exclamou. Não podia culpá-la. Meu valor líquido atual era de cerca de noventa mil col, e imagino que o de Asuna fosse mais ou menos o mesmo. Seria insano gastar quase um terço disso por uma chance de brincar na praia. E, ainda assim...
— Não, não tão rápido. O passe para a praia não é comprado com trezentas fichas. Você o ganha no cassino depois de vencer jogos no valor de trezentas fichas. Então, é meio que, uh, um benefício VIP...
— Ou seja, uma vez que tivermos o passe, poderíamos trocar todas as nossas fichas por col?
— Infelizmente, não dá para converter fichas em col, mas você pode trocá-las por itens de alto valor de revenda, então pode vendê-los e recuperar o dinheiro — eu disse, silenciosamente acrescentando na minha mente, supondo que você consiga realmente ganhar trezentas fichas!
— Hmmm...
Asuna cruzou os braços e ponderou sobre as informações. Depois de tudo isso, se ela ainda decidisse que queria seguir pela direita, eu estava preparado para ir sem fazer objeções.
Dez segundos depois, a espadachim descruzou os braços, olhou para a escultura do homem com o cajado e, em seguida, observou o homem com o copo de vinho.
— Mesmo que eu ganhasse trinta mil fichas, ainda assim não ficaria me exibindo como ele está fazendo.
— Uh-huh.
— Bom, vamos lá — minha parceira disse, andando rapidamente em direção ao portão à esquerda. Eu a segui sem dizer uma palavra.
Dos dois caminhos que se estendiam dos Portões da Escolha em «Lectio», os NPCs chamavam o caminho da direita (norte) de Headwind Road e o da esquerda (sul) de Tailwind Road.
Claro, isso não era uma referência literal à direção do vento, mas figurativa. O caminho à esquerda que escolhemos estava impecavelmente pavimentado com tijolos, com campos floridos de cada lado. A estrada estava ligeiramente inclinada para baixo durante todo o percurso, e praticamente não vimos mobs.
— Se tivesse um pouco mais fresco, essa talvez seria a viagem mais agradável que já fiz aqui — Asuna comentou.
Eu contive um bocejo e concordei.
— Os campos do segundo andar eram legais, mas só se você ignorar o ocasional touro descontrolado...
— Ah, sim, o andar das vacas. Eu adoraria uma chance de comer aquele enorme bolo de morango de novo.
— O Bolo de Morango Tremor? Hmm, talvez eu devesse ter teleportado de volta para «Urbus», comido o bolo e pego o bônus de sorte, e então tentado o cassino — comentei, com um sorriso amargo.
— Esse buff dura apenas quinze minutos — ela apontou. — Você nunca conseguiria chegar a tempo.
— Você nunca sabe! Se eu corresse o mais rápido que eu pudesse, talvez tivesse tempo de jogar uma partida com ele ativo.
— Você realmente só queria apostar, não é...? — Asuna disse, bem na hora em que um zumbido profundo de asas soou por perto. Nós sacamos as espadas e assumimos uma postura, com as costas voltadas uma para a outra.
Mobs quase nunca apareciam na Tailwind Road, mas isso não significava que os poucos que apareciam eram fáceis. Os status deles eram típicos do sétimo andar, e seus ataques eram complexos, então era preciso ficar alerta.
Asuna vasculhou o lado norte da estrada, enquanto eu olhava para o lado sul. Quando as asas bateram novamente, ouvi ela gritar: — Abaixe-se!
Me agachei o máximo que pude, resistindo à vontade natural de virar e espiar. Algo passou bem acima das minhas costas a uma velocidade feroz. Olhei para cima e vi uma forma verde pairando no ar a cerca de nove metros de distância.
Era um inseto de aproximadamente cinquenta centímetros de comprimento, com asas translúcidas. Sua silhueta era baixa e arredondada, mas havia uma longa e afiada lança que se estendia por quase todo o comprimento de seu corpo, a partir de sua cabeça. O cursor vermelho-claro exibia o nome VERDIAN BESOURO LANCEIRO.
— O que é verdian? — Asuna sussurrou.
— O nome dessas planícies, acho? — murmurei de volta. — Ai, ai, está vindo de novo!
O inseto que pairava levantou seu exoesqueleto esmeralda brilhante. Vmmm! Ele zumbiu o ar e se lançou diretamente em nossa direção.
A lança do besouro lanceiro, que apareceu pela primeira vez neste andar, era forte o suficiente para perfurar uma armadura de placas em alta velocidade. Era quase impossível bloquear com uma arma de uma mão só; a única forma de se defender era com uma habilidade de espada, mas mesmo assim, não era fácil acertar aquela lança afiada quando ela vinha em alta velocidade. Se você falhasse, ela atravessaria seu peito ou cabeça, e um golpe crítico poderia ser fatal instantaneamente.
Asuna e eu nos agachamos para evitar a investida do besouro lanceiro. Levantei-me imediatamente, virando-me e observando o inseto enquanto ele fazia uma curva suave sobre o campo.
— Bem, podemos evitar... mas isso parece interminável para mim — Asuna murmurou.
Encolhi os ombros.
— Não é interminável. À medida que você evita as investidas, o ângulo delas vai ficando cada vez mais baixo. Então, eventualmente, não conseguiremos mais nos abaixar a tempo.
— Então, o que devemos fazer? — ela perguntou. Como beta tester, seria fácil para mim simplesmente dar a resposta, mas, neste ponto, eu queria que ela desenvolvesse as habilidades de observação e os instintos necessários para formular uma estratégia contra um tipo de monstro desconhecido. Eu não estaria lá para ajudá-la para sempre.
— Você consegue identificar o ponto fraco dele?
— Embaixo do corpo? — Asuna respondeu de imediato.
Deveria ter sabido, pensei, impressionado.
— Tecnicamente, é o gânglio bem no meio do local onde as seis patas se encontram. O cérebro também é um ponto fraco, mas geralmente ele é bem blindado, e aquela lança gigante torna difícil acertar nela.
— Mas como vamos atacar por baixo — Asuna começou a dizer, mas o besouro lanceiro levantou as coberturas das asas o mais alto que podia, sinal de que estava prestes a investir novamente.
Quando o besouro lanceiro investia, apenas sua cabeça, protórax e coberturas das asas eram visíveis. Cada parte era coberta por uma armadura resistente, que provavelmente desviava de qualquer ataque normal. Se você tentasse uma habilidade de espada e falhasse, ele poderia realizar um contra-ataque fatal.
Mas, para dar uma dica, comecei o movimento da habilidade de um golpe «Vertical». Ao meu lado, a ponta da Chivalric Rapier de Asuna oscilou, cheia de indecisão.
Mas então, ficou imóvel antes de assumir a postura da habilidade de investida, «Linear». Nossas espadas começaram a emitir um som agudo e uma leve luminosidade.
No momento certo, o besouro lanceiro iniciou sua terceira investida. Eu resisti à vontade de me agachar, esperando o momento exato. Asuna permaneceu perfeitamente imóvel, mantendo sua habilidade de espada ativa, à espera. Com apenas o menor indício, ela havia descoberto a tática que me levou a duas mortes no beta para entender.
O zumbido profundo de suas asas aumentou imediatamente, um som que invocava um tipo de medo primal. A ponta afiadíssima da lança estava a apenas três metros de distância quando nós dois nos jogamos no chão — mas agora de costas.
A barriga menos blindada do besouro lanceiro passou bem na nossa frente. Um golpe normal faria quase nenhum dano enquanto estivéssemos deitados de costas, mas uma habilidade de espada era diferente. Desde que você mantivesse a distância e o ângulo corretos entre o corpo e a espada, a habilidade seria ativada, mesmo no chão. Infelizmente, você não poderia obter o impulso extra de poder ao se empurrar do chão, mas isso não era necessário para atingir a barriga de um monstro do tipo inseto.
Haaah! Exalamos em uníssono, liberando «Vertical» e «Linear».
Luz azul e prata brilhou, e as duas espadas atingiram com precisão a base das patas do besouro lanceiro, cortando-o profundamente.
Fizeram um grande som de impacto, sinal de um golpe crítico bem-sucedido. O corpo compacto do mob disparou para cima, espalhando efeitos de dano carmesim, e entrou em um espiral. No beta, eram necessários três ou quatro desses ataques para derrotá-lo, mas meu nível e minha espada estavam consideravelmente mais poderosos— e isso duplicado pela presença da minha parceira. Baseado na sensação física do golpe, eu imaginei que mais um golpe resolveria. Me impulsionei com a mão livre e me levantei.
— Isso foi! Agora vamos fazer de novo…
Mas o besouro lanceiro girando caiu no chão, deu um salto, e então ficou imóvel no ar de maneira antinatural. Ele se contraiu brevemente e então se desintegrou em partículas azuis. Incontáveis fragmentos voaram, derreteram no ar e desapareceram para sempre.
— Hã? — Eu fiquei boquiaberto.
Asuna quase parecia desapontada.
— Ah, é só um golpe?
— Bem... tecnicamente, foram dois golpes. Mas mesmo assim... me pergunto se eles nerfaram os pontos de vida dele…
Ou talvez seja alguma habilidade nova que imita a morte, pensei, mas apareceu uma janela mostrando o col, a experiência e os itens que ganhamos. Asuna guardou sua rapiera e começou a examinar suas recompensas.
— Uau, esse andar é interessante. Eles estão nos dando uma tonelada de dinheiro e experiência. Mas os itens são... todos materiais de crafting.
— Ei, não menospreze as partes de inseto. Elas podem fazer armaduras muito melhores do que as que você encontra nas lojas... desde que você não se importe com a aparência… — Admiti, rolando pelos meus itens até o final da janela.
Então, esquecendo que estávamos em meio aos perigos da selva, eu gritei.
— Ooooohhh?!
— O que?! — Asuna gritou, assustada. Eu pressionei o botão ITEM MATERIALIZE, então peguei o objeto que apareceu sobre a janela e me virei para ela.
— Tchaa-raaa!!
Eu coloquei um cristal em forma de prisma de oito lados na frente do rosto dela. Ele tinha uma cor rosa profundo, semelhante ao granada.
Infelizmente, minha parceira temporária não parecia entender o valor do item. Ela apenas olhou para ele, depois para mim, e então para o cristal novamente.
— E o que é isso?
— Bem... é chamado de cristal de cura.
— Ah, é isso que você estava falando? — Ela disse, com o rosto se iluminando finalmente. Ela o pegou das minhas mãos e o levantou para ver melhor na luz do sol. — Ah, então é assim que eles parecem... e ele realmente cura todo o seu HP, tudo de uma vez?
— Sim, realmente cura.
— Como se usa?
— Bem, obviamente, você morde a ponta… — Eu disse, então percebi que provavelmente não era uma boa ideia brincar sobre como usar o item crucial que seria nossa linha de vida para conquistar esse jogo da morte. Eu limpei a garganta e peguei o cristal de volta das mãos de Asuna. — Ok, vou ser sério. Usá-los é muito simples, e funciona da mesma maneira para todos os itens de cristal. Primeiro, você toca na superfície do cristal, então seleciona USAR no menu que aparece. Segundo, você segura com uma mão e toca a outra ponta em você mesmo ou na pessoa com quem você quer usá-lo, e então você diz Hea... Caramba!!
Eu arremessei o cristal de cura. Asuna o pegou no ar, gritando.
— Ei! Por que você jogou isso em mim?!
— Er... Você deve segurá-lo e dizer Heal. Mas quase usei em você, que já estava com HP completo — expliquei, sentindo um suor frio escorrer pela minha testa.
Asuna suspirou profundamente.
— Você usava isso o tempo todo na versão beta! Você deveria saber melhor.
— Não o tempo todo. Mesmo no décimo andar, eles eram itens raros e valiosos... E posso te dizer, não fui o único beta que ficou guardando e acabou morrendo porque não quis desperdiçar — disse, lembrando da frustração de quando a gestão de recursos era crucial.
— Bem, é melhor você não fazer isso agora. Se você ou alguém estiverem em perigo, não hesite, apenas cur—Ugh!! — ela gritou de repente, e jogou o cristal de cura como se fosse um item incandescente. Eu o peguei.
………
………
Nos encaramos em silêncio por um momento. Por fim, Asuna murmurou.
— É melhor guardar isso agora.
— Bom ideia — concordei, abrindo a bolsa no meu lado esquerdo, mas parei por aí. — Não... Você deveria ficar com isso, Asuna.
— O quê? Foi seu item, então é seu, Kirito.
— Na nossa parceria, eu sou a vanguarda, e você é a retaguarda, certo? É uma boa tática ter os cristais com quem está atrás, pois têm uma melhor visão da batalha — expliquei, com seriedade. Estendi o cristal, mas Asuna apenas apertou os lábios.
Eu não estava inventando. Os jogadores da linha de frente tinham que focar tanto nos inimigos próximos que podiam perder o controle do HP. E, geralmente, você usava as duas mãos, então, para usar um cristal durante a batalha, teria que largar a espada ou o escudo.
Nesse ponto, eu já tinha a mão esquerda livre, então poderia segurar o cristal para usá-lo, mas, para minha sorte, Asuna não apontou a falha no meu raciocínio; ela aceitou o cristal.
— Eu não gosto de ser chamada de retaguarda, mas entendi o seu ponto. Nesse caso, vou ficar com isso.
— Você não vai apenas segurar. Como você mesma disse, vai precisar usá-lo sem hesitar, se estiver em perigo.
— Aham.
Ela assentiu, colocando o cristal na bolsa.
Uma ideia repentina surgiu na minha mente: Talvez eu devesse ter ficado com ele. Assim, poderia evitar usá-lo em mim o máximo possível, mantendo-o para o benefício de Asuna. Será que ela concordaria?
Nesse caso, ambos deveríamos ficar com os cristais. Cristais de cura e purificação eram muito raros na versão beta, mas acabamos de pegar um dos primeiros mobs que enfrentamos no sétimo andar. Talvez tivessem alterado as taxas de drop para facilitar encontrá-los.
Asuna olhou ao redor, aparentemente com o mesmo pensamento.
— Ei, esses besouros são os únicos que dropam cristais de cura?
— Nem de longe. Alguns monstros soltam com mais frequência, mas a partir do sexto andar, todo monstro tem uma pequena chance de soltar um.
— Pequena chance? Tipo... quão pequena?
— Bem... Isso é só baseado nas pesquisas feitas na versão beta, mas descobriram que a chance era 0,01% no sexto andar e 0,1% no sétimo andar... Eu acho.
— 0,01%...? Ou seja, você pode pegar um a cada dez mil monstros que derrotar?! — Asuna exclamou, levantando as sobrancelhas.
Eu balancei a cabeça.
— Isso foi no sexto andar! Derrotamos um monte de monstros lá e nunca conseguimos um único cristal, certo? Mas no sétimo andar, a chance é de um décimo de um por cento, então...
— Isso ainda é um em mil!
— É... eu sei... mas talvez eles tenham melhorado as chances desde a beta — disse, esperançoso. Só então os puffs de raiva que estavam sobre a cabeça de Asuna diminuíram.
— Bem, conseguimos o drop do primeiro mob. Então... já que não tem mais ninguém por aqui, quer tentar caçar mais besouros?
— Claro…
Olhei para o relógio no canto da minha visão. Era 1h15 da tarde. Mesmo em um ritmo mais relaxado, não levaria duas horas para chegarmos à cidade de jogos de «Volupta», então poderíamos caçar por uma hora ou mais antes de seguir viagem, e ainda não estaria escuro.
— Então, vamos fazer um pouco de farming de monstros e treinar para derrotar os besouros.
— Entendido! — disse Asuna com um sorriso. Ela saiu do caminho e entrou no campo ao norte.
Durante uma hora e meia, derrotamos cerca de quinze Besouros Verdians; uns dez Vespeiros Verdians, uma versão aprimorada das vespas do segundo andar; e uns cinco Lagartos-Gusanos Oleosos, criaturas que surgiam da terra como uma mistura de cobra, minhoca e lagarto.
Um mob a cada três minutos era um ritmo significativo na Tailwind Road, onde os monstros eram escassos e distantes entre si. Asuna rapidamente dominou a tática de usar habilidades com a espada enquanto caía, o truque para derrotar os besouros lanceiros. Com exceção da vez em que caiu no chão usando a nova estratégia — apenas para entrar em pânico ao ver um Lagarto Minhoca Pegajoso se contorcendo para fora da terra bem ao seu lado — nossa caçada transcorreu sem problemas.
Conseguimos bastante dinheiro, pontos de experiência e materiais, mas, infelizmente, nenhum cristal extra. Trinta mobs, é claro, não eram uma amostra grande o suficiente para determinar se as taxas de drop haviam sido ajustadas, mas, pelo menos, não parecia que os cristais estavam dropando aos montes.
— O que devemos fazer? Continuamos tentando por mais um tempo? — perguntou Asuna, segurando sua rapiera.
Pensei na pergunta por um momento antes de responder.
— Não, é melhor encerrarmos por aqui. Se continuarmos, não vamos conseguir chegar a «Volupta» antes de anoitecer.
— Isso é algo particularmente ruim? — ela questionou.
Por um instante, não soube o que dizer. Eu não podia simplesmente admitir que era porque «Volupta» era uma visão encantadora ao pôr do sol. Em vez disso, olhei para cima e respondi de forma hesitante.
— Bem, é a nossa primeira vez nessa estrada, então podemos acabar nos perdendo no escuro, sabe…
Ainda não eram nem três da tarde, mas a luz ao nosso redor já começava a adquirir tons dourados e era possível sentir a queda na temperatura.
— Como poderíamos nos perder? É um caminho reto… Mas tudo bem.
Asuna concordou, embainhando sua espada.
Guardei a minha na bainha presa às costas e começamos a caminhar em direção à estrada de tijolos.
— É estranho… Estamos caçando há uma hora e meia, e nenhum outro jogador apareceu por aqui… Por quê? — perguntei.
Asuna olhou para os dois lados da estrada, percebendo isso pela primeira vez.
— Você tem razão… Será que a DKB, a ALS e o grupo do Agil escolheram a Headwind Road?
— Hã? O único benefício daquela rota é eliminar o risco de falir.
— Isso só faz parecer que estamos correndo risco de falência.
Encolhi os ombros, lamentando ter dito qualquer coisa, e apontei para o sudoeste.
— Bem, vamos apenas seguir em frente. Quando chegarmos a «Volupta», você vai ver que há muito o que fazer além do cassino.
Apesar da expressão cética, Asuna não disse mais nada sobre o assunto, e apressamos o passo pela estrada de tijolos enquanto os primeiros sinais do anoitecer se aproximavam.