Volume 6
CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE FINAL)
15
— UFA… FINALMENTE VOLTAMOS…
Asuna se espreguiçou luxuosamente enquanto eu abria minha janela de menu. Mas eu mal conseguia levantar a mão, deixando-a pender ao lado do corpo. Eram 00h40 do dia 5 de janeiro.
Acenei com a mão esquerda para fechar a janela e observei ao redor.
Apesar de ainda ser cedo para os padrões de jogadores noturnos, a praça de teleporte de «Stachion», a cidade principal do sexto andar, estava praticamente deserta. Havia duas razões para isso, em minha opinião: o portão para o sétimo andar havia sido ativado, então os turistas estavam lá em cima, e todos os quebra-cabeças de sudoku que haviam preenchido a praça tinham desaparecido.
Eu não tinha grande afeto pelos quebra-cabeças, mas «Theano», que estava do outro lado de Asuna, olhava para os azulejos vazios com uma expressão reflexiva. Nas costas dela, «Myia» dormia adoravelmente, com a máscara de gás equilibrada no topo da cabeça.
Haviam se passado apenas duas horas desde a derrota do «The Irrational Cube», o boss do sexto andar, e nesse tempo a jornada de volta pelo deserto da quinta área, a travessia do Lago «Talpha» e o atalho pela floresta da primeira área… não levaram tempo algum, na verdade. Em vez disso, subimos as escadas em espiral que desciam do teto da sala do boss para o sétimo andar, caminhamos até a cidade principal, ativamos o teleporte e voltamos para cá.
Isso fez de «Myia» e «Theano», pelo que eu sabia, as primeiras NPCs de missão a usarem um portal de teleporte para viajar entre andares. Na verdade, eu até me preocupei que as duas não conseguissem atravessar e ficassem presas no sétimo andar, mas o sistema de SAO foi mais generoso do que eu imaginava. Embora sempre houvesse a chance, como o bug do minério infinito de Liten, de isso ser corrigido posteriormente.
Quanto a «Theano», ela não demonstrava interesse no portal mágico por onde havia passado. Em vez disso, observava a praça e a cidade ao longe em silêncio. Eventualmente, ela se aproximou de Asuna e de mim, fazendo uma reverência enquanto ainda carregava «Myia» em suas costas.
— Kirito, Asuna, vocês realmente me salvaram… Não apenas protegeram «Myia», mas tenho certeza de que eu não teria conseguido derrotar aquela besta guardiã e destruir o cubo dourado sozinha.
Hum, você sabe que a «Myia» tem um nível maior que o nosso, certo?, eu quis perguntar, mas sabiamente me contive. Em vez disso, balancei a cabeça e disse.
— Por favor… Se você e «Myia» não tivessem resolvido os quebra-cabeças da porta, teríamos ficado presos na sala e morrido ali mesmo.
— Ele está certo — acrescentou Asuna. — Eu até acho que sou boa nesses quebra-cabeças, mas nunca conseguiria resolver um em dez segundos.
«Theano» sorriu fracamente. Ela reajustou a posição da filha adormecida e virou-se para observar o layout em degraus de «Stachion». No final da rua principal, a mansão do Lorde brilhava ao luar. Não havia luz nas janelas, deixando claro que estava desocupada.
— Hum… O que vai acontecer com a mansão… ou melhor, com toda a cidade? — perguntei, sem conseguir me segurar.
Em certo sentido, uma cidade em um RPG era operada pelo sistema do jogo, não pelo prefeito que morava nela, então a ausência de «Cylon» não deveria ter efeito algum na cidade. Mas eu não podia ignorar a tristeza indescritível no rosto de «Theano» enquanto ela olhava para a mansão, o que me levou a perguntar.
Sem se virar para nós, ela sussurrou.
— Acho que… nada mudará, exceto pelo desaparecimento dos quebra-cabeças. Foi o Lorde «Pithagrus» quem construiu «Stachion» e cuidou de sua administração. Ele enfrentou sozinho aquela temível besta guardiã, extraiu o cubo dourado e usou seus poderes de Quebrar — reduzindo toda matéria de pedra e planta a cubos — e Ligar — para unir esses cubos com força inquebrável — para construir este grande assentamento…
— O quê…? Então o Ligar era para colar os cubos? — perguntou Asuna, surpresa.
A espadachim assentiu.
— Esse é o uso pretendido. Mas, quando um ser vivo está dentro do seu raio de ação, esse ser também será ligado. Segundo o Lorde «Pithagrus», o cubo dourado era uma ferramenta protótipo de guerra criada pelos magos da Aliança dos Nove, que existiu nas terras perdidas.
…
Olhei para Asuna. «Kizmel» nos contou a história da criação de Aincrad, a Grande Separação, mas presumi que era apenas uma lenda élfica. Quem era esse tal de «Pithagrus», afinal? Me perguntei. Bem, depois de tudo o que aconteceu, não estava com vontade de desenterrar a missão da "Maldição de «Stachion»" agora que a tínhamos terminado. Havia muitas outras coisas para me preocupar.
Por exemplo, o fato de que a elfa caída «Kysarah» havia roubado as quatro chaves sagradas que coletamos. E, pior ainda, o misterioso Buxum, que usou o cubo dourado para nos imobilizar na sala do boss e tentou, no mínimo, matar «Theano» — e talvez o resto do grupo também.
A ALS e a DKB planejavam realizar uma reunião de emergência naquela sala, mas Asuna e eu não queríamos que «Theano» e «Myia» ouvissem sobre nossa situação mortal, então as escoltamos diretamente ao sétimo andar. No entanto, a situação não podia ser ignorada, e eu sabia que logo teria que reunir os membros principais de ambas as guildas e explicar tudo o que sabia sobre o homem de poncho preto e seus aliados. Depois de testemunharem os feitos de Buxum com seus próprios olhos, não seria difícil convencê-los de que havia um grupo de PKers à solta.
— Fazem dez anos desde que o Lorde «Pithagrus» morreu… — disse «Theano», retomando de onde parou. Eu precisei mudar o foco para acompanhar sua história. — Nesses dez anos, o poder misterioso que protegia o cubo foi, pouco a pouco, impregnando a cidade, fazendo com que quebra-cabeças surgissem em todas as portas de «Stachion», assim como no Pilar dos Céus. Não sei como o Lorde «Pithagrus» conseguia conter o poder do cubo, mas eu sempre esperei trabalhar com «Cylon» para descobrir, de modo que pudéssemos remover os quebra-cabeças que atormentavam os moradores. Mas… — Ela hesitou, sua expressão se obscurecendo. Em um tom mais baixo, continuou: — Mas eu não podia perdoar «Cylon» por ter matado o Lorde «Pithagrus» naquele acesso de raiva. Havíamos prometido compartilhar o futuro juntos… Por isso, eu queria que ele admitisse seu pecado, se arrependesse e refletisse sobre o que é necessário para se tornar verdadeiramente o lorde da cidade. Durante dez longos anos, esperei pelo dia em que ele viria me visitar…
Enquanto eu observava «Theano» balançar a cabeça, uma pergunta que eu frequentemente me fazia veio à tona, e, sem realmente pensar, acabei verbalizando-a.
— Hum, «Theano»… o que havia no «Cylon» que fez você…? — Asuna me cutucou na lateral, me fazendo perceber que eu poderia estar sendo rude. Mas «Theano» apenas sorriu nostalgicamente e olhou para algum ponto distante.
— Desde criança, ele era fraco de vontade, desconfiado, porém orgulhoso, e vivia brigando com as outras crianças…
Desde criança? Eles eram amigos de infância? pensei, percebendo que tinha que ser verdade. A maior cidade do sexto andar tinha apenas seiscentos metros de norte a sul e metade dessa largura. Cada criança da mesma geração provavelmente conhecia todas as outras.
— Mas, no fundo, ele era muito gentil. Desde cedo, havia sido decidido que eu serviria na mansão do Lorde «Pithagrus». Eu estava preocupada, mas, para me animar, ele disse: "Não se preocupe, eu vou passar no teste do Lorde «Pithagrus» e me tornar seu aprendiz. Apenas aguente firme." Ele cumpriu sua promessa e sonhava que, um dia, se tornaria o próximo lorde da cidade, se casaria comigo, e viveríamos juntos naquela mansão. Mas… quando soube que não seria escolhido, o choque e a decepção devem ter sido grandes…
— Hã? Mas… — gaguejei, lançando um olhar breve para Asuna. — Achei que «Pithagrus» iria escolher você para ser a próxima mestra da cidade. Então, «Cylon» não deveria ter ficado tão devastado assim…
«Theano» pareceu confusa por um momento, mas balançou a cabeça rapidamente. Sobre seu ombro, «Myia» murmurou em seu sono, e sua mãe a embalou gentilmente até que voltasse a dormir tranquilamente. Então, focou-se em nós novamente e balançou a cabeça mais uma vez.
— Não… O Lorde «Pithagrus» me ensinou, uma serva, tudo sobre quebra-cabeças, mas isso era mais um jogo para ele. Ele não precisava de um herdeiro. O Lorde «Pithagrus» era imortal; ele viveu séculos antes mesmo de a cidade de «Stachion» ser construída.
— O quê?! — exclamei, tapando a boca. Quando tive certeza de que «Myia» não havia acordado, continuei em um tom bem mais baixo: — Ele… ele não podia morrer…?
Comecei a me perguntar se, talvez, «Pithagrus» não tivesse sido assassinado e ainda estivesse vivo em algum lugar, mas «Theano» fez um gesto negativo.
— Não, acho que deveria dizer que ele tinha uma vida eterna. Ele não podia morrer de velhice. Quando cheguei à mansão, ele já era um homem idoso com cabelos brancos, mas o mordomo, que era o mais velho entre os servos, afirmava que «Pithagrus» já tinha essa aparência desde quando ele era criança também.
— Então… quando «Cylon» descobriu a verdade… — murmurou Asuna, e «Theano» assentiu.
— Ele descobriu que o Lorde «Pithagrus» não morreria de velhice, e que a posição não seria transmitida… Foi a raiva, a decepção e talvez até o medo que o levaram a cometer aquele terrível ato. Assim como esta cidade, o Lorde «Pithagrus» era um homem desvinculado da razão humana… — «Theano» parou ali, um olhar lúcido em seus olhos, e eu senti que não precisava insistir mais no assunto sobre «Cylon». Em vez disso, procurei em minha bolsa pelo item que peguei no final da luta contra o boss — uma chave de metal opaco.
— Hum… você deveria ficar com isto, «Theano» — falei, entregando-a. Ela olhou por um momento antes de aceitar. Erguendo a chave, que antes eram duas, à luz da lua, disse: — Então esta chave sempre foi uma só… O Lorde «Pithagrus» deu a «Cylon» e a mim essas chaves nos últimos dias do nosso décimo oitavo ano, mas ele não disse para que serviam. Jamais poderia imaginar que elas formavam a chave para remover o cubo do corpo da besta guardiã… Por que ele nos daria algo assim…? — Nem Asuna nem eu tínhamos resposta para essa pergunta.
No final da missão "A Maldição de «Stachion»" no beta, o fantasma de «Pithagrus» perdoava «Cylon» por tê-lo matado, dizia a ele para trabalhar junto com «Theano» para proteger a cidade e desaparecia. Em outras palavras, o «Pithagrus» do beta nomeava «Cylon» e «Theano» juntos como seus sucessores. Eu me perguntava se, talvez, o mesmo pudesse acontecer com esta versão imortal de «Pithagrus», mas não consegui tocar no assunto. Em vez disso, Asuna se encarregou de dizer.
— Tenho certeza de que ele amava você… e «Cylon».
Sem dizer uma palavra, «Theano» olhou novamente para a distante mansão. Tive a impressão de que um pequeno brilho havia surgido no lado de seu rosto, mas, quando ela voltou-se para nós após um bom tempo, tudo o que vi foi o mesmo leve sorriso.
— Talvez você tenha razão.
«Theano» colocou a chave dentro da gola de sua armadura e, em seguida, alcançou para acariciar a cabeça de sua filha adormecida.
Ela insistiu que voltássemos para visitá-las algum dia, antes de sair da praça com a menina. Quando suas barras de HP desapareceram, uma mensagem do sistema apareceu no centro da minha visão, informando que uma missão havia sido concluída. Diferente do beta, não recebemos col ou itens, mas os pontos de experiência foram mais do que suficientes para compensar, e tanto Asuna quanto eu recebemos o efeito de aumento de nível ao mesmo tempo. Agora, eu estava no nível 22, e Asuna no nível 21, mas não estava com humor para o meu habitual salto de "Yahoo!". Trocamos um olhar e dissemos — Parabéns — em uníssono, apertando as mãos. Isso pareceu ajudar a compor os sentimentos de Asuna por enquanto, e ela parecia mais consigo mesma quando perguntou.
— Então... o que faremos agora? Voltamos para o sétimo andar?
— Estou acabado.
— Hã?
— Minha energia está completamente esgotada. Em uns três minutos, vou desmaiar e dormir por dez horas seguidas.
Isso me rendeu um dos olhares irritados habituais de Asuna. Ela suspirou.
— Isso é porque você ficou perambulando na noite passada. Ah... também precisamos voltar ao Castelo Galey. Aquele velho precisa de um pedido de desculpas pelas chaves.
— Você tem razão... mas, por enquanto, eu preciso dormir…
— Então vamos ficar em uma hospedaria aqui esta noite. Que tal a Pegasus Hoof?
— Contanto que tenha um cobertor e um travesseiro, não me importo…
Asuna balançou a cabeça de novo, então pegou minha mão esquerda e começou a caminhar. Ela me puxou para uma grande hospedaria ao lado norte da praça aberta, e fomos até o balcão de check-in. Eu estava quase dormindo quando a ouvi pedir a suíte do terceiro andar, depois disso, ela me arrastou escada acima. Quando nos aproximamos da porta no final do longo corredor, Asuna murmurou suavemente. Levantei as pálpebras pesadas e vi que minha parceira estava olhando para um nicho na parede ao lado da porta.
Isso me lembrou que era o quarto onde conversamos com os membros da DKB sobre a bandeira da guilda no dia em que chegamos ao sexto andar. Lind e Shivata lutaram com o quebra-cabeça de metal fundido encaixado no nicho, mas agora ele não estava mais lá.
Asuna estendeu a mão e passou os dedos pela alcova vazia. Então, os retirou e girou a maçaneta. Um pequeno clique soou, e a porta se abriu. Trocamos um olhar, então sorrimos e entramos no quarto.
A suíte da Pegasus Hoof era tão magnífica quanto eu lembrava. Havia uma mesa para quatro pessoas e um conjunto de sofás na sala de estar relativamente profunda, com portas para quartos separados em cada parede lateral. Asuna me perguntou qual quarto eu queria. Eu poderia ter dormido no sofá, mas sabia que ela reclamaria, então respondi.
— O da esquerda…
— Então eu fico com o da direita. Boa noite... e lembre-se de tirar seu equipamento antes de cair na cama.
— Certo... boa-noite…
Cruzei a sala de estar diagonalmente, praticamente no piloto automático, e girei a maçaneta da porta na parede esquerda. Dentro do quarto escuro, abri minha janela e toquei o botão DESFAZER EQUIPAMENTO duas vezes apenas pelo tato. Agora, apenas de roupa de baixo, caí de cara na cama. Enquanto sentia meu peso afundar no edredom macio, me lembrei de que a noite estava fria e que eu precisava me cobrir, mas meu corpo não respondia.
Quando estava jogando sozinho no primeiro andar, não era incomum para mim passar 24 horas seguidas grindando nível, assim que encontrava um bom local de caça. Mas o cansaço de hoje estava muito além disso. Não tinha sido uma sessão monótona de caça, onde memorizar padrões repetitivos de combate me permitia esvaziar a mente por longos períodos. Hoje, eu havia usado o cérebro continuamente para me adaptar a situações e ameaças variadas que surgiram uma após a outra. Mas o mesmo deveria ter acontecido com Asuna. Será que ela estava de melhor humor porque estava acostumada a usar o cérebro mais frequentemente do que eu? Se fosse o caso, talvez eu precisasse aprender a pensar de forma mais inteligente, se quisesse continuar protegendo-a. Como seu parceiro temporário, claro…
Meus pensamentos se expandiram, afundando minha mente consciente nas profundezas da escuridão infinita…
— Consegui! Kirito, consegui!
A porta do meu quarto foi escancarada, e um grito de triunfo absurdamente alto ecoou pelo ambiente. A luz acendeu, e através das pálpebras que mal se abriram, vi Asuna, em sua roupa de dormir, entrar saltitando.
— V-Você conseguiu o quê...?
— O número! E mais do que isso, mas o número! — ela exclamou, batendo as mãos na lateral da cama, bem ao lado de onde eu estava deitado. Eu queria dizer para ela deixar aquilo para amanhã, mas ela estava muito empolgada para esperar. Então, com esforço, rolei de lado e perguntei.
— Que número...?
Asuna se inclinou para mais perto, os olhos castanhos-avelã brilhando de animação.
— A porta da casa secreta de «Pithagrus» em «Suribus»! Lembra do número de seis dígitos no cadeado? Estava me deixando louca por não conseguir descobrir o que ele significava!
Agora que ela mencionava, quando eu disse a combinação para abrir o cadeado, ela realmente comentou algo assim. Que aquele número lhe parecia familiar de alguma forma...
— Era... seis, dois, oito, quatro, nove, seis...? — falei, puxando os números da memória com esforço.
Ela assentiu duas vezes.
— Isso mesmo. Não é apenas uma sequência aleatória de números. São os três primeiros números perfeitos.
— Números perfeitos...?
Parecia algo que eu deveria ter aprendido na escola. A curiosidade espantou o sono o suficiente para que eu apoiasse minha cabeça com o braço esquerdo.
— O que tem de tão perfeito neles?
— Um número perfeito é definido como um número inteiro que é igual à soma de seus divisores próprios. Veja, os fatores de seis são um, dois e três, certo? Se você somá-los, dá seis. E os fatores de vinte e oito são um, dois, quatro, sete e quatorze... que somam vinte e oito. E quatrocentos e noventa e seis é o próximo.
— Oooh... entendi...
Foi uma descoberta interessante, mas não parecia mais do que uma curiosidade. Isso só significava que quem escreveu a história da missão "A Maldição de «Stachion»" escolheu os três primeiros números perfeitos por capricho para aquele cadeado.
Mas Asuna já sabia o que eu estava pensando.
— Não é só isso! Então... quando você fez o beta, viu o cursor do fantasma de «Pithagrus», certo?
— S-Sim, vi.
— Qual era o nome dele? Como o nome dele estava escrito?
— Uh... na verdade, acho que era só um título genérico como Alma Inquieta, sem um nome individual associado a ele...
— Ah. Então eles esconderam isso — respondeu ela seriamente. Então, sem aviso, Asuna pulou na cama. Deitou-se ao meu lado e abriu sua janela para que eu pudesse ver. Sem mostrar nenhum reconhecimento de como eu estava atordoado, ela foi para a aba MENSAGENS e usou um campo vazio como bloco de notas para digitar no alfabeto ocidental.
— Veja, acho que a grafia correta do nome de «Pithagrus» deve ser essa. Nós nunca vimos isso escrito assim, só ouvimos falarem.
— O-O quê...?
Deitei minha cabeça de volta no travesseiro para ver a janela, que continha a seguinte sequência de letras.
«PYTHAGORAS».
— P... Pi... tha... O quê? É assim que o nome dele deveria ser escrito?
— Sim, seguindo a grafia em inglês. Mas talvez isso ainda não te diga nada. Você estaria mais familiarizado com a pronúncia japonesa... ou com o grego correto.
— A pronúncia japonesa...?
Agora eu estava confuso de verdade, olhei novamente para a janela. Tentei pronunciar as letras da maneira como os sons estrangeiros eram representados em japonês.
— Pi... sa... goras? Pisa... Espera, não... deveria ser um T? Pitagoras?! Espera, é o famoso—?!
Noventa por cento do meu sono desapareceu, eliminados pela adrenalina.
Eu não era o aluno mais nerd na escola, mas até eu conhecia aquele nome. No segundo semestre do meu segundo ano do ensino médio, pouco antes de ficar preso em SAO, aprendi sobre Pitágoras, o matemático grego antigo cujo nome estava associado ao teorema sobre os lados de um triângulo retângulo. Ele também fundou um tipo de "clube de matemática" que levava seu nome e descobriu várias propriedades e conceitos matemáticos. Então ele teria sido quem nomeou os "números perfeitos".
— Então por que eles não deixaram claro desde o início que ele era Pitágoras...? — resmunguei, recebendo uma risadinha de Asuna.
— Provavelmente quiseram colocar um pouco de distância entre o personagem e a figura histórica, por isso esconderam a grafia alfabética. Afinal, ele teria sido apenas o modelo para o personagem...
— Ah... O verdadeiro Pitágoras era bom em resolver quebra-cabeças também?
— Não, nunca ouvi nada nesse sentido. E ele nunca foi chamado de rei dos quebra-cabeças ou algo do tipo. Mas acho que o foco dele na harmonia e integridade dos números tem alguma conexão com o conceito de quebra-cabeças.
— Uhum...
Virei-me de costas e comecei a refletir, vagamente, sobre os eventos dos últimos quatro dias.
— E o verdadeiro Pitágoras foi morto pelo próprio seguidor — murmurou Asuna.
— Hã... ele foi...?
— Tecnicamente, foi uma pessoa que queria entrar na ordem escolar dele, mas que Pitágoras rejeitou. Então, o homem incitou os habitantes da cidade a atacar a ordem como vingança... Embora eu não me lembre se o nome dele era Cylon ou não…
— Incitou... — repeti, pensando não na missão, mas no homem com o poncho preto e seus amigos. O homem chamado Buxum, que se infiltrou na DKB para roubar o cubo dourado, sabia onde usar a chave de ferro, algo que nem mesmo «Theano» sabia. Além disso, ele também sabia como usar os terríveis poderes de Aprisionamento do cubo.
Como Buxum conseguiu a chave de ferro que «Kysarah», a elfa caída, roubou de «Myia» e de mim? E como Buxum e o homem do poncho preto estabeleceram uma relação com os Caídos?
A missão da maldição havia terminado, e derrotamos o boss do sexto andar sem nenhuma baixa, mas os mistérios e os problemas não resolvidos estavam por toda parte. Se eu quisesse resolver essas questões e garantir que poderia proteger Asuna de qualquer perigo, eu precisava ficar mais forte. Forte o suficiente para lutar contra «Kysarah» sozinho.
— Ah, certo, Kirito.
O som do meu nome fez com que minhas pálpebras meio fechadas se levantassem novamente. Asuna sentou-se e olhou diretamente para mim.
— O-O quê...?
— Deixe-me ver seus olhos.
— H-hã...? — pisquei, sem saber o que minha parceira queria fazer. Para minha surpresa, ela disse.
— Na sala do boss, quando você rompeu o Aprisionamento, eu senti como se seus olhos estivessem brilhando em dourado.
— O quê... sério? Eles estavam? Estão agora?
— Não, estão pretos.
— Ah...
Aliviado, relaxei e deixei meu olhar se prender aos olhos castanho-avelã de Asuna. Instantaneamente, senti algo sair do meu corpo e soube que estava no limite da minha resistência.
O pequeno sorriso de Asuna derreteu-se na escuridão, e através dos meus sentidos enfraquecidos, ouvi seu sussurro distante.
— Boa noite, Kirito.
— Boa noite, Asuna — respondi, embora não tivesse certeza se as palavras realmente deixaram meus lábios.
(Fim)
Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!