Volume 6
CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 14)
14
ERA ENORME.
O décimo andar da torre do labirinto era quase inteiramente ocupado pela câmara do boss, então isso não era exatamente uma surpresa. Porém, minha primeira impressão ao ver a sala do boss do sexto andar pela primeira vez em quatro meses e meio foi que ela era simplesmente enorme. As paredes, o chão e o teto eram de um tom cinza-azulado, e a iluminação fraca fazia os cantos da sala parecerem negros. Havia uma enorme estrela desenhada no teto, lembrando que a torre, e esta sala em seu topo, tinham um formato pentagonal.
Vista do deserto abaixo, a largura da torre era cerca de metade de sua altura. Se tivesse cem metros de altura, então a diagonal seria de cerca de cinquenta metros, e cada lado…
— Ei, Asuna, qual é a razão entre o lado de um pentágono e sua diagonal, mesmo...? — murmurei. A espadachim me lançou um olhar que dizia "Por que agora?".
— É de um para um mais a raiz de cinco dividido por dois. Dá cerca de um vírgula seiscentos e dezoito.
— Um vírgula seiscentos e dezoito... — repeti. — Então, se a diagonal fosse cinquenta metros, um lado seria... cerca de trinta metros?
— Mais perto de trinta e um, para ser precisa, mas provavelmente não importa tanto assim.
— Entendi...
A única razão para podermos conversar sobre tópicos triviais como esse na câmara do boss era porque estávamos esperando a ALS e a DKB se posicionarem. Parecia que ainda tínhamos cerca de trinta segundos. Asuna se virou para mim desta vez e disse.
— Um para um mais a raiz de cinco dividido por dois é chamado de Proporção Áurea.
— Áurea...?
— Está presente na proporção entre o comprimento e a largura do Partenon, ou nas metades superior e inferior da Vênus de Milo... até mesmo em rostos humanos. A largura do nariz e da boca é considerada bem equilibrada se a proporção for de 1:1,618, aparentemente.
— Ohhh — murmurei, encarando o rosto de Asuna na tentativa de ver se era verdade. Ela prontamente me cutucou na lateral, e Argo teve que nos advertir.
— Ei, estamos na câmara do boss!
«Myia» riu baixinho. Finalmente, Kibaou gritou do outro lado da sala.
— Posições completas! Estamos prontos para começar!
— Entendido! — gritei, lançando um rápido olhar para trás. As portas duplas, que avançavam cerca de dez metros a partir de um dos lados do pentágono, ainda estavam bem abertas. Rezei em silêncio para que continuassem assim e olhei para «Theano», que estava ao lado de sua filha.
— Bem... vá em frente, «Theano».
— Irei — respondeu ela. A guerreira focou-se no cubo dourado em suas mãos. Vi algum tipo de expressão atravessar suas belas feições como ondas em um lago, e então desaparecer.
— Não vá muito para frente, «Myia» — advertiu ela à filha, começando a caminhar em direção ao centro da câmara. Onde ela se dirigia havia um objeto muito estranho.
Sua forma era bastante simples. Era um cubo de aproximadamente meio metro de lado. Negro e opaco como se esculpido diretamente de carvão, e, embora os detalhes fossem difíceis de distinguir na iluminação fraca, havia um buraco quadrado de cerca de vinte centímetros de largura no lado que nos encarava. Era óbvio à primeira vista que o cubo dourado se encaixaria perfeitamente ali.
— Assim que o cubo entrar, ficará tão nivelado que não conseguiremos puxá-lo de volta... — observei casualmente. À minha direita, Argo disse.
— Há um pequeno buraco do outro lado do cubo.
— Oh... então você poderia enfiar um bastão lá e empurrá-lo de volta...?
— Um bastão... ou... — Argo começou a dizer, mas se calou. «Theano» se agachou e encaixou o cubo no espaço oco.
O buraco negro aceitou o cubo como se estivesse lubrificado; não houve raspagem ou resistência. No momento em que as superfícies preta e dourada se tornaram uma só, o chão azul-escuro tremeu brevemente.
De repente, o cubo negro começou a brilhar com uma luz dourada. «Theano» recuou rapidamente, e os membros do grupo se prepararam a uma distância segura. Muitas espadas e lanças refletiam a luz brilhante enquanto o cubo silenciosamente deixava o chão e flutuava no ar.
Ele parou a cerca de três metros do chão e começou a girar de lado. Começou devagar, mas ganhou velocidade perceptível, tornando-se uma só coisa com a penumbra. Apenas a linha do cubo dourado permaneceu visível, criando um anel de luz no ar.
Grrrng!
O ar tremeu novamente. Vários cubos dourados surgiram, praticamente do nada, e começaram a girar também. Mas, na verdade, embora eu não pudesse contá-los diretamente, sabia exatamente quantos cubos havia: vinte e seis. Os cubos dourados cercaram o cubo negro que girava rapidamente e começaram a se fixar nele. A rotação diminuiu gradualmente até parar, revelando um único bloco dourado que era três vezes maior do que antes — agora com quase dois metros de lado.
Os vinte e seis cubos se alinharam em uma formação de três por três, conectando-se, mas sem se fundirem completamente; havia um pequeno espaço entre eles. Em outras palavras, formaram um gigantesco cubo mágico.
— É igual ao beta! Se você atingir as arestas com suas armas, elas vão girar para... — Parei de falar, notando algo diferente.
No beta, os lados eram vermelho, azul, verde, amarelo, branco e preto. Aqui, todos os lados tinham a mesma cor dourada. Agora não havia como alinhá-los... Ou talvez já estivessem alinhados, supus.
Com o rugido de um motor de combustão, os vinte e seis pequenos cubos começaram a girar em todas as direções de forma aleatória. Quando pararam, havia um padrão brilhante nas faces de cada lado com nove quadrados, somando cinquenta e quatro quadrados no total.
Não, aquilo não era um padrão. Era algo mais familiar... algo escrito.
— N...números?! — Asuna exclamou, bem quando uma barra de HP apareceu no ar acima do gigantesco cubo mágico. Abaixo da barra, estava o nome oficial do boss, brilhando em letras grandes em inglês: «THE IRRATIONAL CUBE».
E, como esperado, as portas duplas se fecharam com um estrondo nesse momento.
— Aí vem...! — gritou uma voz, provavelmente Lind.
Em reação a esse chamado, três dos oito cantos do boss emitiram linhas cinzentas e pálidas que avançaram em direção ao grupo de ataque. Reuni todo o ar nos pulmões e berrei.
— Esquiiivem!!
Imediatamente, feixes de laser vermelhos dispararam, seguindo as linhas cinzentas. Eles emitiam sons aterrorizantes e sibilantes enquanto explosões pequenas surgiam em três pontos da sala. Felizmente, ninguém foi atingido diretamente, mas eu vi algumas barras de HP diminuírem ligeiramente devido ao calor local.
A cor e o nome eram diferentes do beta — lá era o «Irritating Cube» —, mas esse ataque, pelo menos, era muito familiar. As linhas de mira difíceis de perceber vinham primeiro, seguidas, um segundo depois, pelos lasers. Um ataque direto retiraria uma grande quantidade de HP de jogadores levemente armados, mas, desde que você permanecesse calmo e atento, não seria tão difícil de desviar... Supondo que não tropeçasse ou congelasse, claro.
Esperando obter uma dica pelo nome em inglês do boss, virei-me rapidamente para minha parceira mais sábia e perguntei.
— O que significa a palavra irrational, Asuna?! No beta, era irritating, e eu procurei o significado depois…
— É algo como ilógico — ou incoerente.
— Ilógico... — repeti. Sem dúvida! Até uma criança poderia alinhar as cores, mas esses números…
Espere, talvez números fossem a mesma coisa...?
— Você está dizendo que temos que preencher cada lado com o mesmo número?! — perguntei, esperançoso de ter encontrado a solução, mas Argo destruiu essa esperança tão rapidamente quanto ela surgiu.
— Mas os números vão até nove!
Ela estava certa. Os números arábicos brilhantes estavam dispostos aleatoriamente de um a nove, o que tornava impossível alinhá-los nas seis faces separadas como em um cubo mágico clássico. Até considerei a opção de quebra-cabeça de virar o nove para parecer um seis, mas isso não seria suficiente, e o design dos números seis e nove era claramente distinto.
Como se fosse necessário um NPC para dar uma dica, «Theano» veio em nossa direção.
— «Theano», o que fazemos com os núm—? — comecei a perguntar, mas a mulher apenas balançou a cabeça, pensativa.
— Não sei também. A lenda ao redor da mansão dizia apenas que, para destruir o cubo dourado, ele deveria ser devolvido ao corpo do guardião da torre…
— Ah, entendi...
Enquanto isso, o boss continuava disparando lasers do centro da sala. Os membros do grupo desviavam e atacavam o objeto flutuante com suas armas. Cada golpe fazia as fileiras ou colunas do cubo girarem noventa graus, mas não havia qualquer mudança no seu HP. Parecia que o cubo numerado era invencível, e precisávamos resolver seu enigma para desmontar os blocos.
Mas não havia nada que pudéssemos fazer sem entender qual era o tipo de enigma. A inquietação e a frustração que preenchiam a sala finalmente culminaram, e um clarão alaranjado surgiu próximo ao boss. Alguém havia usado uma habilidade de espada nele.
— Não...! — gritei por instinto, mas já era tarde, claro. Uma estocada dupla com uma lança gerou faíscas brilhantes no rosto do «Irrational Cube», mas não causou sequer um pixel de dano — e o boss enviou uma linha de mira como se estivesse esperando por isso.
— Esquiva! — berrou Kibaou. Um grupo de jogadores próximo à linha saltou ao mesmo tempo, exceto o lancista, que ainda estava paralisado pela habilidade. O laser vermelho o atingiu em cheio.
— Aaaah! — gritou o jogador, no mesmo instante em que ouvi uma explosão surda. Parecia ser Schinkenspeck, da ALS. Ele foi lançado para longe e caiu no chão. Uma das barras de HP do Time C caiu para a zona amarela, mais da metade para zero. Seus amigos o ajudaram a se mover para junto da parede, mas levaria algum tempo até que ele se recuperasse.
— Talvez devêssemos recuar por enquanto, Kirito… — disse Asuna, com a voz tensa. Assenti com a cabeça, de maneira um tanto desajeitada.
Era claramente a melhor opção. O boss era invencível, e não sabíamos como desfazê-lo. Deixar a batalha se arrastar nesse estado inevitavelmente levaria a resultados desastrosos. Mas…
Virei rapidamente e olhei para as portas, que estavam firmemente fechadas. Asuna arfou; ela ainda não tinha percebido que elas haviam se trancado.
— Não sabemos com certeza se elas não vão abrir novamente — falei, mais esperançoso do que qualquer outra coisa, e corri até lá, atravessando os dez metros num piscar de olhos e praticamente esmagando minha mão livre contra a porta. O grosso metal de bronze tremeu um pouco, mas não se mexeu. Estava trancada…
— …?!
De repente, uma série de luzes pálidas piscou diante de minha visão, e eu me virei rapidamente. Segurei a respiração, achando que era um ataque do boss, mas não senti nada. Olhei novamente e fiquei boquiaberto.
Números.
Havia uma grade de luz brilhante na superfície da porta, com algarismos arábicos nas caixas. Eles tinham a mesma fonte dos números no corpo do cubo do boss… mas aqui havia mais quadrados vazios do que preenchidos.
Dei um passo para trás para enxergar melhor, exatamente quando Asuna chegou ao meu lado. Juntos, gritamos.
— Um quebra-cabeça de sudoku?!
Não havia dúvidas. O mesmo tipo exato de quebra-cabeça que havia na praça de teletransporte de «Stachion», mas preenchendo toda a largura das enormes portas.
— Então, se resolvermos isso, as portas vão abrir?! — disse Argo, sobre nossos ombros.
— Eu…acho que sim? — respondi, incerto. — Mas… não tem como…
Não era do meu feitio desistir antes mesmo de tentar algo, mas desta vez não havia outra opção. Esse quebra-cabeça tinha vinte e sete linhas e colunas de sudokus, cada um no formato de nove por nove, totalizando 729. Era um a mais do que na praça de «Stachion», mas o layout era idêntico.
Na minha mente, revi algo que Asuna havia dito quatro dias atrás. "À primeira vista, esses parecem ser de dificuldade máxima, então mesmo um especialista levaria uns vinte minutos para resolver um. Multiplicando isso por 728 dá 14.560 minutos… divididos por sessenta, seriam 242 horas e quarenta minutos…"
Duzentas e quarenta e duas horas. Um pouco mais de dez dias inteiros. Isso seria um dia inteiro se dividido entre dez pessoas. E tentar resolvê-los enquanto evitava os ataques do boss o tempo todo? Impossível.
— Imagino que até mesmo a disposição dos números seja exatamente a mesma da praça de «Stachion»… — sussurrou Asuna, com a voz rouca. — Deveríamos ter resolvido os quebra-cabeças em «Stachion» e vindo para esta sala antes do final do dia. Esse era o requisito mínimo para enfrentar este boss…
— Mas como poderíamos…?
…saber disso? Tentei dizer. Mas me lembrei de ter olhado para essas portas pelo outro lado e visto o padrão em relevo. Era uma grade de nove por nove. Se eu tivesse feito a conexão com sudoku, poderia ter me lembrado da praça de teletransporte em «Stachion».
— Droga!
Estava prestes a bater meu punho cerrado contra o quebra-cabeça frio e brilhante quando ouvi uma voz atrás de mim.
— Precisamos apenas resolver os quebra-cabeças, Kirito?
Minha mão parou no ar. Virei-me e vi «Myia», sem sua máscara de gás, me encarando com grandes olhos.
— Você… consegue resolver isso?
— Consigo! — respondeu ela animadamente, com um tom muito mais adequado à sua idade agora que sua mãe estava por perto novamente. Ela caminhou até a porta e apontou para o quebra-cabeça no canto inferior direito. Seus dedos deslizaram pelos espaços vazios com uma velocidade vertiginosa até parar em um espaço brilhante para tocar. Quando uma janela apareceu com todos os dígitos para escolher, ela selecionou um sete. Os outros espaços desapareceram, substituídos por um único grande sete. Isso levou um total de dez segundos.
— O quê…? Como… como você fez isso tão rápido…? — perguntei, espantado.
«Myia» girou para me encarar e sorriu.
— Bem, desde que eu era pequena, resolvia esses quebra-cabeças na praça da cidade com minha mãe todos os dias.
Essa explicação não justificava a velocidade que ela demonstrava… mas então me lembrei de algo. «Kizmel» não tinha grande conexão com quebra-cabeças, mas ela havia resolvido aquele quebra-cabeça de 15 peças na dungeon da chave secreta em questão de segundos. Se uma IA podia resolver um problema NP-completo tão rápido, esses sudokus deviam ser tão simples quanto equações aritméticas para elas.
— Vou ajudar também, claro — disse «Theano», aproximando-se de «Myia». Olhei nos rostos delas para o quebra-cabeça atrás de mim e de volta.
Com dez segundos por quebra-cabeça, levaria 7.290 segundos para resolver 729 deles. Isso seria um pouco mais de 120 minutos. Com as duas, levaria sessenta minutos — uma hora. Talvez houvesse uma chance…
— Por favor, «Theano» e «Myia», deem o melhor de vocês.
Elas assentiram, posicionaram-se nos cantos direito e esquerdo e começaram a resolver, seus dedos voando. Segurei o ombro da minha parceira ainda atônita e disse.
— Asuna, precisamos distrair aquele boss. Nossa missão é desviar dele por uma hora, de alguma forma.
— O…ok, se você diz.
— E…o que eu devo fazer? — perguntou Argo.
— Quando «Myia» precisar resolver os problemas mais altos na porta, você a levanta! — gritei e comecei a correr com Asuna em direção ao centro da sala — mas parei subitamente.
— O que vamos fazer?!
— Ei, ouça — eu disse — se você selecionar o número certo em um menu suspenso, não podemos simplesmente tentar todos os números, começando do um?
A espadachim me lançou o olhar mais irritado que já recebi em toda a nossa história pessoal e aproximou o rosto tanto do meu que nossos narizes quase se tocaram.
— Se configuraram o enigma dessa forma, é óbvio que ele vai falhar assim que errarmos um número!
— Ah. Certo.
Repreendido, voltei a correr para o boss, dessa vez para valer.
A hora que se seguiu foi a mais longa e difícil de todas as muitas que eu já tinha passado em Aincrad até agora. As batalhas contra bosses do segundo e quinto andares tinham sido duras, mas nelas eu apenas me concentrei em lutar e não percebi o passar do tempo. Essas eram lutas para vencer e seguir em frente. Desta vez era diferente: estávamos desviando de ataques durante uma hora inteira apenas para escapar da sala.
Observar os feixes de mira vindos dos oito cantos do Irrational Cube e desviar. Isso era tudo que precisávamos fazer, mas os feixes eram difíceis de ver, e o timing e a localização de cada um eram projetados de forma maliciosa. Muitas vezes, eles atingiam o lugar para onde você acabava de se mover com um atraso calculado. Tentavam agrupar vários jogadores em um único ponto para forçá-los a colidir entre si e, às vezes, perseguiam incessantemente um único indivíduo. Qualquer que fosse o processo de decisão do boss, não parecia um algoritmo simples.
Quando Asuna e eu nos juntamos à linha de frente da batalha, explicamos a situação para os membros da ALS e da DKB. Isso teve um efeito leve, mas inegável, sobre a moral geral. Até aquele momento, todos assumiam que, se os números fossem girados o suficiente (seja lá como isso deveria funcionar), eventualmente seríamos capazes de causar dano. Mas os números corretos eram um mistério, e qualquer um ficaria desapontado ao saber que precisaríamos desviar de ataques por uma hora inteira só para escapar. Além disso, qualquer falha na concentração reduzia a mobilidade, aumentando o perigo.
Logo, mais de dez dos trinta e seis integrantes do ataque estavam recostados na parede após serem atingidos diretamente pelos lasers. «The Irrational Cube» não tinha se afastado muito do centro da sala, pois era onde a maioria dos jogadores estava. Quanto mais pessoas recuavam para as paredes, mais cedo o boss começava a mirá-las também. E quanto maior fosse o alcance de movimento do boss, maior seria a chance de ele se aproximar das portas de entrada, onde «Myia» e «Theano» estavam resolvendo desesperadamente os quebra-cabeças de sudoku. Essa era a única coisa que precisávamos evitar.
Asuna e eu trocamos um olhar rápido, compartilhando pensamentos, e desferi contra o boss a habilidade de espada de três partes «Sharp Nail». A barra de HP não se mexeu, claro, mas a atenção gerada pelos golpes fez com que as três linhas de mira se voltassem para mim. Nesse momento, no entanto, Asuna já havia me erguido nos braços e corrido comigo enquanto eu ainda estava sob o delay da habilidade. Houve uma explosão atrás de nós, mas não sofremos dano, apenas uma leve sensação de calor nas costas.
Depois, Asuna usou a habilidade de três partes «Triangular» contra o boss, e foi minha vez de movê-la. Isso deveria ser suficiente para manter o inimigo focado em nós dois.
Naturalmente, o algoritmo não era tão simples a ponto de focar apenas nos jogadores com maior índice de aggro, e às vezes desviava para atacar outros. Mas, se conseguíssemos atrair metade dos lasers com nossa alta agilidade, isso daria um alívio considerável às outras seis equipes.
— Kirito, à frente, à esquerda!
Segui a direção indicada por Asuna para evitar um feixe de mira que não consegui ver e corri naquela direção. Sempre que possível, eu retribuía o favor.
Depois de repetirmos isso várias vezes, algo estranho começou a acontecer. De vez em quando, antes mesmo de ouvir a voz de Asuna, eu sentia que sabia para onde ir. Acontecia com ela também. Mais de uma vez, gritei — Direita! — exatamente quando Asuna já estava saltando naquela direção. Era como se nossas mentes estivessem conectadas por algum outro canal, além de voz e ouvidos…
Foi uma luta dolorosa, sabendo que não terminaria em triunfo, mas não pude evitar um certo sentimento de euforia enquanto desviava e me movimentava entre as linhas de mira. Quando tive um momento para verificar a hora em minha janela, nos raros instantes em que o boss se afastava de mim, os minutos pareciam se arrastar interminavelmente. Finalmente, alguns minutos após as dez da noite…
— É o último, Kirito! – veio a voz jovem, mas firme, de «Myia», do fundo da sala. Dei um salto para trás instintivamente e olhei para as portas. Quase todos os quebra-cabeças de sudoku em sua superfície estavam preenchidos com os números corretos, restando apenas o enigma central, que Theano estava prestes a resolver.
Ela tocou a caixa final, selecionou um número no menu suspenso, e ele prontamente se ampliou e começou a brilhar.
Como esperado, ao longo de uma hora, elas haviam resolvido 729 enigmas. Um estrondo percorreu as portas e o restante da sala. Uma linha de luz surgiu no centro das portas fechadas, acompanhada pelo som alto de uma tranca se destravando, indicando que nossa rota de fuga estava finalmente aberta.
— Recuem para o corredor! Os que estão se recuperando, saiam primeiro! – comandou Lind, brandindo seu cimitarra. Mais de uma dúzia de jogadores, tomando poções junto à parede, se levantaram e correram em direção às portas. Até mesmo «The Irrational Cube», que estava disparando lasers freneticamente segundos antes, parou, como se reconhecesse a abertura das portas.
Pelo menos, não precisaríamos nos preocupar com todo o grupo da linha de frente sendo aniquilado. Era frustrante não conseguirmos tirar nem mesmo um pixel da barra de HP do boss, mas isso se devia à falta de uma informação crucial. Se voltássemos e completássemos todas as missões em «Stachion» ou «Murutsuki», descobriríamos como alinhar os números do boss…
— Kirito — Asuna sussurrou, agarrando meu cotovelo.
Notei que ela estava olhando para as portas, que ainda estavam fechadas. Seu corpo demonstrava que ela estava sentindo algo, mas ainda não conseguia dizer o que era. Eu fixei os olhos nas enormes portas duplas, a vinte metros de distância, sentindo o tempo se alongar gradualmente. 729 quebra-cabeças haviam se transformado em 729 números que brilhavam silenciosamente diante de nós. 729… que era 27 ao quadrado. Vinte e sete linhas e vinte e sete colunas. Uma grade de três por três, composta por blocos de nove por nove números. Inclinei o pescoço, olhando para «The Irrational Cube» flutuante no centro da sala, depois de voltar para a porta. Enchi os pulmões com o máximo de ar que consegui e gritei.
— Parem!!!
O jogador a poucos metros da porta parou de alcançá-la e virou-se na direção da minha voz. Shivata, da DKB, estava mais próximo de mim. Ele parecia chocado.
— O que houve? Não vamos sair daqui?!
— Esperem, acho que… esses números…
Lancei um olhar para Asuna e comecei a correr até me colocar diante da porta com as mãos erguidas, em sinal para que todos se afastassem. Então esperei. Se meu palpite estivesse correto, esse quebra-cabeça não tinha o propósito de criar uma rota de fuga. Resolvi-lo abriria a porta, mas provavelmente era uma armadilha. Se apenas esperássemos, eu tinha certeza, certeza…
A confusão, irritação e pressa da equipe de ataque cresceram a cada segundo. Cinco, seis, sete… Quando quase trinta segundos se passaram desde que «Theano» concluiu o último quebra-cabeça, finalmente aconteceu.
Os 729 números piscaram de repente. Mais da metade dos números desapareceu, como se queimados pela luz. Nos diversos espaços em branco da grade, havia caixas que brilhavam levemente. Por fim, quatro linhas da grade se destacaram, dividindo o padrão inteiro em blocos de nove por nove.
— Ah…! — Asuna exclamou atrás de mim. Às minhas laterais, «Myia» e «Theano» estavam igualmente chocadas. Não era uma sequência aleatória e sem sentido de números organizados em vinte e sete linhas e colunas. Era um conjunto de nove novos quebra-cabeças de sudoku.
Gaoooong… Um som tremendo, entre o de uma máquina e o rugido de uma criatura viva, sacudiu a sala. Girei para trás e vi que «The Irrational Cube» estava se movendo novamente. E não apenas isso… três de suas quatro faces verticais estavam agora crescendo longos braços compostos por dezenas de pequenos cubos. A última face começou a brilhar intensamente.
— Está vindo! — gritou Kibaou do fundo, preparando sua espada. Lind deu uma ordem semelhante aos seus seguidores.
— Retirada cancelada! Continuem se curando se estiverem feridos, voltem e refaçam a formação se estiverem bem!
Eles também perceberam que os ataques do boss estavam prestes a intensificar, mas que isso significava que agora havia uma chance de derrotá-lo.
— «Myia»! «Theano»! O quebra-cabeças! — gritei. Elas entraram em ação nas portas e começaram a deslizar as palmas sobre os quebra-cabeças, que eram muito maiores. Dez segundos depois, pressionaram as caixas de seleção simultaneamente e escolheram suas respostas. Os números cresceram e brilharam mais intensamente.
Mãe e filha completaram os quebra-cabeças na mesma velocidade, «Theano» cuidando dos mais altos e «Myia» dos mais baixos. Quatro, seis, oito foram completados, restando apenas mais um. Haviam explosões ferozes, colisões e gritos atrás delas, mas as duas fizeram o máximo para ignorar tudo e focar no momento. «Theano» colocou a mão no quebra-cabeça central e escolheu um cinco no menu. O número se expandiu para preencher o espaço. No instante em que todos os quebra-cabeças foram concluídos, as portas brilharam com ainda mais intensidade que antes. Dei vários passos para trás e memorizei a ordem dos nove números gigantescos na porta.
— Obrigado… Cuidaremos do resto! — disse a elas, virando-me de costas. Corri em direção ao grupo de ataque e gritei com toda a força que minha garganta permitiu.
— De cima à esquerda, na horizontal, é oito, três, quatro, um, cinco, nove, seis, sete, dois!!
Houve um momento de silêncio.
Então, um rugido abafado surgiu ao redor. Com os números necessários revelados, a moral começou a subir novamente. Nesta situação, o trabalho em equipe e a coordenação das duas grandes guildas estavam no auge. Mesmo sem os membros em processo de cura, eles se organizaram em uma formação que rapidamente cercou o boss.
E ainda assim, alinhar os números em vez de cores era muito mais difícil do que se poderia imaginar. Os números só precisavam ser organizados na face que estava iluminada, mas cada golpe movia três números ao mesmo tempo. Era necessário estar constantemente ciente de quais números estavam em quais faces e prever vários movimentos à frente da disposição atual.
Três minutos após o combate ser retomado, meus temores se confirmaram. A reorganização dos números não estava avançando rapidamente.
Eles acertaram os primeiros quatro blocos tranquilamente, mas, ao mover um, outros saíam de alinhamento, e a irritação começou a aparecer nas vozes de Lind e Kibaou. Se batêssemos nos blocos no impulso, eventualmente conseguiríamos, mas os longos braços do boss não eram algo para ser ignorado. Além dos lasers, agora também tínhamos que nos preocupar com os golpes e os balanços dos braços, que reduziam constantemente o HP dos membros da linha de frente. Eu não sabia se deveria pular para a linha de frente ou se isso apenas arruinaria o trabalho em equipe das seis equipes.
— Certo, já entendi — disse Asuna de repente, lançando um olhar para mim. — Kirito, vou me concentrar em dar ordens. Consegue lidar com o boss?
— Ah... claro, com certeza.
Nos encaramos e nos movemos ao mesmo tempo. Asuna saltou para a frente do boss e brandiu sua rapieira.
— Derrube o bloco inferior para a direita!
— E-Entendido! — respondeu Hafner, da DKB. Ele ergueu sua grande espada, circulou pelo lado direito do boss e desferiu um golpe lateral. Mais uma vez, não causou dano, mas o bloco inferior girou alto para a direita, como Asuna havia instruído.
— Agora, derrubem os blocos à esquerda!
— Pode deixar! — respondeu Okotan, da ALS, com sua alabarda brilhando. A coluna esquerda de blocos girou para baixo.
Com isso, «The Irrational Cube» pareceu perceber a diferença, pois emitiu um grito metálico dissonante. Ele balançou dois apêndices feitos de cubos, arremessando-os contra Asuna. Imediatamente saltei à frente e ativei a habilidade de espada «Vertical Arc», uma combinação de dois golpes descendentes e ascendentes, que afastou os dois braços. Atrás de mim, Asuna não recuou nem um passo.
Uma vez que se concentrou exclusivamente nos números, as ordens de Asuna eram assustadoramente precisas. A cada rotação dos blocos, era possível sentir que estávamos mais próximos de completar o padrão.
Mas o boss também sentia isso e atacava Asuna com ferocidade, repetidamente, pois ela não o atacava fisicamente. Eu conseguia afastar os braços com as habilidades da espada, mas os lasers eram mais complicados. Sempre que os feixes de mira se aproximavam dela, eu a pegava e pulava para fora do alcance. Mas isso ficava ainda mais difícil quando o boss fazia combinações atrasadas de lasers seguidas de ataques físicos. Os membros do ataque pareciam desesperados, mas, se tentassem atacar o boss para chamar a atenção, a formação do cubo que estávamos construindo com tanto esforço seria destruída. E, se muitos tentassem cercá-la para protegê-la, ela não conseguiria enxergar os números.
Após mais um salto para trás para escapar de um laser, minhas costas bateram em uma superfície dura e plana. De alguma forma, fui empurrado contra a parede sem perceber. Dois braços fizeram movimentos de golpe horizontal pelos meus lados, pontualmente. Eu poderia rebater um deles, mas não os dois…
— Eu cuido desse, Kirito! — disse uma voz. Gritei de volta: — Faça isso! — e me concentrei no braço que vinha pela esquerda. Depois de afastá-lo com a habilidade «Horizontal», virei-me para a direita e vi «Theano» repelindo o outro apêndice com sua espada.
A força de uma centena! Pensei, impressionado, enquanto me preparava para o próximo ataque. Enquanto isso, Asuna continuava dando ordens, que os fortes guerreiros da equipe de ataque executavam fielmente. Ocasionalmente, eles cometiam erros, mas desfazê-los era tão simples quanto reverter o último golpe.
O ataque sem danos ao boss durou mais de vinte movimentos, até que a voz clara de Asuna soou.
— O próximo é o último! Acerte os blocos centrais para baixo!
— Entendido!
— Vamos lá!
Lind e Kibaou não tinham intenção de deixar que o outro levasse a honra do último golpe. Eles avançaram de lados opostos e golpearam a coluna central de blocos com cimitarra e espada longa simultaneamente.
Não force, Lin-Kiba! Pensei, mas sua mira foi precisa. A coluna central estremeceu e girou, revelando uma ordem de três, cinco, sete. Os nove números na face frontal do chefe brilharam tão intensamente que não consegui olhar diretamente para eles.
— Conseguimos! — alguém gritou, quase abafado por um estrondo ensurdecedor, enquanto os vinte e seis cubos e os três braços que formavam a armadura invencível do «The Irrational Cube» desmoronavam.
Incontáveis fragmentos se dissolveram no ar, revelando aquele cubo negro, com meio metro de cada lado. No centro da face que nos encarava, podíamos ver um item menor: o cubo dourado que «Theano» havia colocado. Dessa vez, seis novos braços negros se estenderam do cubo negro. Eles emitiam sons de alta frequência desagradáveis enquanto se contorciam em nossa direção.
— Agora é a batalha de verdade! Sem pressa, vamos entender os padrões! — bradou Kibaou. Tanto a ALS quanto a DKB gritaram em resposta: — Sim!
Foi uma batalha feroz, mas, sem sua armadura impecável, «The Irrational Cube» não tinha defesa suficiente para enfrentar os combatentes de elite do grupo de avanço e, mais importante, a espadachim nível 32, «Theano».
Sua única barra de HP caiu lenta, mas seguramente, passando de 50%, depois 30%... e em apenas sete minutos, estava abaixo de 10%.
Quando todos souberam que o próximo bom golpe seria o último, «The Irrational Cube» soltou um grito horrível que parecia um clamor de morte e balançou seus seis braços selvagemente. Todos os oito cantos enviaram feixes de mira.
Lind deu o comando.
— Está indo à loucura! Fiquem firmes! — Todos se prepararam.
Em um instante, todos os braços foram desviados, e todos os lasers, esquivados. Como se suas baterias tivessem se esgotado, o boss do sexto andar de Aincrad caiu no chão com um estrondo e parou de se mover. Relaxei os ombros, pensando que finalmente havia terminado… mas restava um pixel teimoso na barra de HP.
— O quê...? Ei, o que está acontecendo?! Será que vai se autodestruir?! — Kibaou exclamou desesperado.
Pensei a mesma coisa. Os membros da equipe de ataque mais próximos do ponto de aterrissagem se afastaram e se prepararam para uma explosão… mas nada aconteceu. O boss, com o cubo dourado voltado para minha direção, permanecia em silêncio.
Lembrei-me então do que Argo havia dito: algo sobre o lado oposto do cubo…
Nesse momento, alguém avançou em direção ao cubo. A pessoa deveria ter assumido que não haveria autodestruição e queria garantir o bônus do último golpe. Estava vestido de prata e azul — era da DKB. Lind provavelmente o repreenderia mais tarde, mas isso, enfim, encerraria a longa batalha...
— Hã...? — Asuna arfou ao meu lado, e de repente percebi o que ela estava olhando.
Não era uma arma que o jogador carregava em sua mão. Era um pedaço estreito de metal com apenas alguns centímetros de comprimento. Uma agulha de arremesso… não.
Uma chave.
O tempo congelou enquanto o jogador se abaixava atrás do cubo e enfiava a chave na fechadura, onde eu não podia ver.
Houve um clique fraco, e o cubo dourado deslizou para fora do bloco, caindo no chão.
…!
«Theano» prendeu a respiração e avançou. Corri atrás dela. O membro da DKB se levantou. Ele contornou o bloco e pegou o cubo do chão. Enquanto corria, «Theano» silenciosamente sacou sua espada. O jogador levantou o cubo com ambas as mãos e gritou.
— Bind!!
Houve um som de ar cortando, e um anel de luz dourada irrompeu do cubo, engolindo «Theano» e eu enquanto passava. Meus pés grudaram no chão, e me inclinei em um ângulo extremo antes de voltar à posição ereta. «Theano» estava igualmente presa.
...?!
Atordoado, olhei para baixo e vi cubos translúcidos emergindo do chão, engolfando meus pés. Instintivamente, chequei minha barra de HP. Ao lado da lista de buffs, havia um novo ícone: uma silhueta humana dentro de uma borda quadrada.
Por quê?! Por que faria isso?! — tentei gritar, mas percebi que não tinha voz. Meu corpo inteiro — pernas, braços, até os dedos — estava pesado como chumbo.
Mesmo diante dessa emergência, parte da minha mente se ocupava com outra questão. O nível de «Theano» era alto, mas não o suficiente para obliterar os mobs da torre em um só golpe. Ela devia ter usado o poder do cubo dourado para congelar, ou prender, os inimigos.
De repente, percebi que a sala do boss estava em silêncio. Não havia vozes, nem o som de armaduras raspando. Luz dourada preenchia a câmara, de cinquenta metros, de canto a canto. Todos os membros do ataque deviam estar presos.
Eu não conseguia mover minha mão direita, nem mesmo abrir minha janela. Era o debuff de imobilização suprema, muito além do veneno paralisante.
O jogador misterioso da DKB abaixou lentamente o cubo dourado. Ele usava um elmo sallet que cobria a parte superior da cabeça, deixando apenas a boca visível. O cursor sobre sua cabeça estava laranja, a cor dos criminosos, provavelmente por causa do debuff que acabara de lançar. O nome dele era Buxum. Eu não me lembrava de ter visto esse nome em nenhuma luta antes.
A boca de Buxum se curvou em um sorriso selvagem. Assim que vi, entendi.
Ele fazia parte do grupo de Morte e Joe. Era um dos seguidores do pocho negro. Em algum momento, ele havia se infiltrado na DKB, esperando por esse momento para agir. Se fosse Morte, ele daria sua risada seca e soltaria alguma frase teatral. Mas Buxum apenas sorria, sem dizer nada. Em vez disso, ele transferiu o cubo para uma mão e sacou sua espada longa. Era modesta, mas o brilho úmido na lâmina fina indicava que suas estatísticas não eram brincadeira. Ele caminhou diretamente em direção a «Theano».
Ele vai matá-la, percebi instantaneamente. Se ele pretendia matar todo o grupo, começando com «Theano», ou apenas a NPC, eu não sabia. Mas, mesmo no segundo caso, não podia assistir passivamente.
«Myia» estava atrás de mim.
Não havia como permitir que uma menina de dez anos visse sua mãe, com quem acabara de se reunir, ser assassinada sem defesa. De jeito nenhum…
………!
Tenso, soltei um ar silencioso em vez de um grito. Usei toda a força que pude reunir. Os músculos do meu avatar tremeram, e as juntas rangeram. Mas a concha invisível que me envolvia não cedeu.
Buxum parou diante de «Theano». Ele ergueu sua espada e mirou cuidadosamente em seu coração, preparando-se para terminar tudo em um único golpe.
Mova-se.
Mova-se mova-se mova-se movemovemovemovemova-se!!
Essa era a única palavra em minha mente, os limites entre início e fim se confundindo em um padrão único de sons, perdendo significado. Um som agudo ecoou de dentro de mim, espalhando-se dos dedos aos pés… e então vi.
O ícone do debuff Bind estava piscando. Um novo ícone começou a brilhar ao lado dele. A silhueta de uma pessoa em posição de meditação Zen. Não era o buff de «Meditation». O design era o mesmo, mas agora havia um anel dourado atrás da silhueta.
–––––!!
Achei que ouvi algo quebrar.
Meu pé direito se soltou do chão, me lançando instantaneamente mais de dez metros à frente. Puxado por fios invisíveis, levantei a «Sword of Eventide». Buxum notou minha investida; seus olhos se arregalaram pelas fendas do elmo sallet. Com notável rapidez, ele ergueu sua espada, assumindo posição defensiva.
— Raaaaaahh!! — rugi, cortando em linha reta.
Pkiiiing! O som parecia quase um grito.
A espada longa de Buxum se partiu logo acima do cabo — e também seu braço esquerdo, quase até o cotovelo. Impulsionado pelo momento, passei direto por «Theano» e Buxum. Assim que aterrissei, girei 180 graus. Era rápido o suficiente para que, normalmente, eu tivesse tombado, mas parecia que a inércia já não existia. O sorriso distorcido havia desaparecido do rosto de Buxum, agora que ele havia perdido a espada e o braço. Com o outro braço, ele levantou o cubo novamente.
— Bi…
Antes que a palavra saísse de sua boca, eu ataquei novamente.
Como o braço esquerdo, seu braço direito foi cortado na altura do cotovelo, desaparecendo miseravelmente no ar. Sem o suporte, o cubo dourado caiu no chão com um baque surdo.
Mesmo sendo um inimigo, eu tinha que admirar a rapidez com que Buxum reagiu após perder os dois braços. Ele imediatamente se virou e disparou em alta velocidade para a saída.
— Ah, não vai mesmo! — gritei, mas a força havia sumido das minhas pernas, e eu caí de joelhos no mesmo instante. O ícone que parecia o buff de Meditation piscou e desapareceu.
Consegui me levantar, mas a essa altura Buxum já havia alcançado a porta. Ele a empurrou com o ombro e desapareceu pelo corredor. Não havia como eu alcançá-lo naquela velocidade.
Poucos segundos depois, uma das barras de HP da Equipe F, do lado esquerdo da minha visão, desapareceu completamente. Lutando contra o peso sufocante que parecia ser o custo físico do buff misterioso, examinei a sala do boss. «Theano», Asuna, Argo, «Myia» e todos os outros membros do ataque ainda estavam sob o efeito do feitiço de paralisia. Certamente não era permanente, mas como desfazer o efeito? A resposta para isso era óbvia.
Embainhei minha espada e peguei o cubo do chão, depois caminhei em direção ao bloco negro. Ainda havia aquele único pixel de vida na barra pairando sobre ele.
Ajoelhei-me em frente ao boss e observei o cubo dourado, finalmente em minhas mãos. Esse objeto havia mudado a vida de muitas pessoas: «Cylon», «Theano», «Myia», «Terro», o jardineiro, e provavelmente «Pithagrus» também. Agora era hora de destruí-lo.
Coloquei o cubo contra a abertura no bloco e empurrei. Ele deslizou suavemente para dentro por conta própria. Esperei até que a superfície estivesse lisa para sacar minha espada novamente.
Com o punho, em vez da lâmina desgastada, golpeei o topo do bloco negro. Foi o suficiente. Fissuras se espalharam pelo ponto atingido, e luz azul começou a vazar de dentro. Naquele momento, «The Irrational Cube», boss do sexto andar de Aincrad, ficou sem HP e se desfez em pedaços, incluindo o cubo dourado em seu interior. Apenas a chave de aço escapou desse destino, caindo suavemente no chão.
Sentei-me no chão enquanto a mensagem proclamando o bônus de LAST ATTACK aparecia sobre minha cabeça. Um momento depois, os membros do ataque foram libertados de seus status negativos, e um tumulto imediatamente se formou. Algumas pessoas caíram ao chão, outras se jogaram de costas, e Kibaou se voltou contra Lind.
A sala do boss agora estava clara, como se despertando de um pesadelo, e cheia de sons animados. Levantei os olhos ao ouvir passos se aproximando e vi «Theano» vindo em minha direção. Ela não estava sozinha. Asuna, «Myia» e Argo também corriam em minha direção. Envolvido por um cansaço irresistível, só consegui levantar minha mão direita para acenar para minhas amadas companheiras.
Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!