Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 6

CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 9)

9

APÓS A DESPEDIDA DE «QUSACK» EM SUA BUSCA PELA CHAVE DE ÁGATA, Asuna e eu trocamos um olhar silencioso por uns bons cinco segundos.

— A razão para «Cylon» ter desaparecido... é porque o grupo de Morte o matou? — perguntei.

— Ele disse que aconteceu na noite do primeiro dia. Isso coincide com o ataque de Morte e do usuário da adaga. Mas... será que isso é possível...? Eu assumiria que o nosso «Cylon» está morto, mas o «Cylon» de todos os outros ainda está vivo e bem na mansão — murmurei.

«Kizmel» olhou curiosa.

— Do que vocês estão falando?

— Ah, é uma missão que estávamos fazendo em «Stachion»... Ou, er, quando dizemos missão, é só uma palavra humana, como pedido ou dever — expliquei, antes de entrar em uma breve explicação sobre a Maldição de «Stachion». — Um assassinato que aconteceu há dez anos e um cubo dourado desaparecido. Lorde «Cylon» nos contratou para encontrá-lo e nos fez procurar em uma casa abandonada na cidade vizinha de «Suribus». O próprio lorde apareceu lá e nos paralisou — mas, enquanto estávamos voltando em sua carruagem, «Cylon» foi subitamente, e de forma chocante, assassinado...

No final, as sobrancelhas de «Kizmel» estavam franzidas. Ela murmurou.

— Então vocês passaram por tudo isso antes de chegarem aqui... E os que mataram esse lorde foram os bandidos que atacaram vocês? Você alega que eles tinham os dardos envenenados dos Caídos...

— Isso mesmo.

— Então isso não pode ser ignorado. Asuna — disse ela, virando-se para sua direita em direção à espadachim — estou muito curiosa para saber como você planejou passarmos o meu dia de descanso, mas não deveríamos investigar isso primeiro? Descobrir como usar as duas chaves que vocês adquiriram?

— O quê? — Asuna gaguejou, surpresa. Nós dois estávamos de olhos arregalados com isso.

Eu estava preocupado com a linha de missões da "Maldição de «Stachion»", já que havíamos deixado ela pendente, e eu não estava contra a ideia de aproveitar esse tempo para avançar com ela. Mas, se «Kizmel» fosse se juntar a nós, ela teria que pisar na cidade de «Stachion». Abri e fechei a boca várias vezes antes de conseguir formular o que perguntar à cavaleira.

— Bem... sua presença conosco nos daria a força de mil, mas você tem certeza de que quer entrar em uma cidade humana...?

— Não é como se um elfo deixasse de respirar dentro dos limites da cidade, correto? Nunca estive em uma, mas há mais de algumas histórias de meus companheiros se infiltrando em cidades por curiosidade ou para alguma missão secreta. E antes da Grande Separação, era comum humanos e não-humanos irem e virem nas vilas uns dos outros. Se eu usar um capuz, eles podem nem perceber minhas orelhas longas.

— Isso pode até ser verdade, mas...

Mesmo com as orelhas escondidas, eles verão o cursor de NPC que diz "GUARDIÃ REAL ELFO NEGRO" — pensei, olhando para minha parceira. Por alguma razão, entretanto, Asuna sorriu para «Kizmel».

— Sim, vamos! Na verdade, eu estava planejando te mostrar «Stachion» hoje, «Kizmel».

— O quê?! — eu gritei. — Esse era o seu plano...?

— Tecnicamente, ao portão de teleporte em «Stachion». As árvores espirituais dos elfos só começam no terceiro andar, certo? Então achei que nem «Kizmel» nem os outros elfos negros jamais viram o primeiro ou o segundo andar de Aincrad — disse ela, virando-se para a cavaleira.

— Isso está correto. Alguns elfos exploraram as torres do Pilar dos Céus que conectam os andares verticalmente, mas apenas do terceiro andar para cima. Pelo que sei, nenhum elfo pisou nos dois primeiros andares desde os tempos antigos. Poderei me gabar para meus parentes e companheiros no nono andar que passei por um portão humano até o primeiro andar. Posso até contar para «Tilnel», sempre que estivermos destinadas a nos encontrar novamente...

Sorriso inabalável, Asuna estendeu a mão e tocou suavemente as costas da cavaleira. Eu também fiquei um pouco emocionado com isso, mas não conseguia parar de pensar na logística de tudo.

Havia centenas de NPCs em «Stachion», e os jogadores não iriam inspecionar o nome do cursor de cada NPC que vagava pelas ruas. Mas isso não resolvia todas as minhas preocupações. Será que um NPC sequer podia viajar por um portão de teleporte? De todas as cidades principais que passei no jogo, nunca vi um NPC usar os portões.

E se nós três passássemos pelo portão, mas «Kizmel» não conseguisse viajar e fosse deixada para trás? Bem, então Asuna e eu poderíamos simplesmente voltar. Mas, mais seriamente... e se algum erro no sistema fizesse com que apenas «Kizmel», ou até mesmo nós três, fôssemos enviados para coordenadas aleatórias? No pior dos casos, talvez «Kizmel» pudesse ser completamente apagada do sistema. Eu não podia descartar essa possibilidade.

— Não... espera.

Uma ideia repentina surgiu, e abri minha janela sobre a mesa. Na minha caixa de mensagens, ainda tinha uma mensagem instantânea que recebi fora da caverna na quarta área ontem. Toquei nela e usei o botão RESPONDER para enviar uma nova pergunta.

O QUE ACONTECE SE VOCÊ PASSAR POR UM TELEPORTE COM UM NPC NO GRUPO?

Argo, a informante, levou menos de trinta segundos para responder à minha pergunta nada a ver.

UM NPC DE MISSÃO É REMOVIDO DO GRUPO. NPCS GUARDAS QUE VOCÊ CONTRATA COM DINHEIRO PERMANECEM COM VOCÊ. 100C — E COMO BÔNUS, FR ESTÃO NO MEIO DA TERCEIRA ÁREA.

Minha dívida só aumentava, mas pelo menos consegui a informação que queria. Nas cidades maiores, havia quartéis de guardas e instalações desse tipo, onde você podia contratar NPCs guarda-costas por uma certa quantidade de col por hora. Eu nunca tinha utilizado esse serviço e raramente via grupos com tais NPCs, então simplesmente não sabia o que acontecia com esses guardas quando você passava por um portal de teleporte.  

Asuna e eu, é claro, não estávamos pagando «Kizmel» por sua companhia, mas nossa missão para encontrar a chave oculta no sexto andar já havia terminado. Neste momento, «Kizmel» nos acompanhava por vontade própria, então era difícil dizer qual dos dois resultados de Argo isso se encaixava.

Pelo menos, parecia que o sistema estava preparado para a possibilidade de NPCs entrarem em portais de teleporte, e não teríamos nenhum acidente sendo teleportados para variáveis aleatórias ou com «Kizmel» se corrompendo e sendo deletada. Olhei para cima e interrompi as mulheres, que agora falavam sobre o nono andar.

— Estou pensando que «Kizmel» pode usar o portal de teleporte também. Então, com isso resolvido, vamos embora. Vai demorar um pouco para chegarmos a «Stachion» daqui…

— De fato. Estou pronta para partir a qualquer momento.  

— Eu também!

Com minhas companheiras a bordo, pulei de pé e enfiei o último pedaço da torrada de Asuna na boca, mastigando enquanto caminhava. Ouvi uma reclamação sobre meus maus modos atrás de mim e encolhi o pescoço. Tanto «Kizmel» quanto as mulheres elfas da mesa ao lado riram.

 

✗✗✗

 

Eu esperava que a viagem de Castle Galey a «Stachion» levasse pelo menos quatro horas, não importa como viajássemos. Mesmo evitando batalhas sempre que possível, a dungeon que separava a primeira e a segunda áreas era um caminho direto sem lugar para se esconder. A floresta densa que cobria o centro da primeira área era uma zona não mapeada, então teríamos que desviar muito para o oeste e viajar por «Suribus».  

Mas, no final, apesar da «Kizmel» levar dez minutos para receber aprovação para pegar a Capa Folha Verde de novo, acabamos reduzindo quase pela metade o tempo de quatro horas que eu esperava.

A principal razão foi que «Kizmel» nos deu as Gotas de Villi novamente, permitindo que caminhássemos sobre o lago até a primeira área, em vez de atravessarmos a dungeon do túnel. A segunda razão foi que, ao nos aproximarmos da floresta da primeira área, «Kizmel» recuperou sua energia com folga, proclamando que iríamos diretamente pela floresta e nos guiou por todo o caminho. Até encontramos uma pequena ruína no meio da floresta, derrotamos seu mini boss e pegamos alguns tesouros — se não fosse por isso, poderia ter levado apenas uma hora e meia, e não duas. E a terceira razão, é claro, foi a tremenda habilidade de luta de «Kizmel» ao nosso lado.  

Quando as árvores começaram a se rarefazer e «Stachion», de um branco brilhante, apareceu à distância, Asuna admirou-se.

— Uau, logo à frente… Como você soube o caminho sem um mapa, «Kizmel»?  

 — Não subestime minha habilidade, Asuna. Nós, elfos, nunca nos perdemos em uma floresta.

— Isso é incrível! — ela disse com alegria. Sozinho, me perguntei, cínico, se ela estava acessando os dados do mapa do jogo. Na hora, uma cena da aventura de ontem se repetiu na minha mente. 

Na dungeon que abrigava a Chave de Ágata na quarta área, enfrentamos um quebra-cabeça deslizante com trinta e cinco peças — e «Kizmel» resolveu tudo com o número mínimo de movimentos, sem nem pensar muito. Isso não era algo que você poderia explicar apenas como — a inteligência de uma IA.

Computadores tradicionais tentando resolver problemas NP-difíceis, como quebra-cabeças de grade N × N, no número mais eficiente de movimentos, exigiam uma enorme quantidade de poder de CPU. Por outro lado, o próprio sistema de SAO gerou esse quebra-cabeça para a porta da dungeon, então o sistema, pelo menos, tinha que saber a solução mais rápida. E se «Kizmel», sem estar consciente disso, acessou a solução armazenada pelo sistema? Da mesma forma que os elfos podiam viajar pela floresta sem se perder porque tinham os dados do mapa à disposição.  

Perdido em pensamentos, segui as duas mulheres para fora da floresta, balançando a cabeça de um lado para o outro. Havia um campo aberto à nossa frente, levemente marrom com o frio do inverno, além do qual ficava «Stachion» com sua estranha disposição em degraus.  

«Kizmel» se espreguiçou sob a luz suave do sol e abaixou o capuz de sua capa azul-marinho — a preciosa Capa Folha Verde há muito tempo guardada em sua bolsa. Então, ela jogou as costas da capa para a frente e amarrou uma corda em torno do emblema dos Pagoda Royal Knights, para que ninguém pudesse dizer que ela era uma elfa negra apenas pela aparência.  

Asuna puxou seu próprio capuz vermelho-escuro, o que me fez querer participar, mas pensei que um grupo de três escondendo seus rostos seria suspeito. O grupo principal estava lutando contra sapos gigantes e insetos aquáticos na distante área pantanosa da terceira área, então era improvável que encontrássemos alguém que conhecêssemos em «Stachion» a essa hora.  

Cruzamos o campo diretamente, eventualmente encontrando o caminho principal, e paramos ao sul dos limites da cidade quando «Kizmel» parou para olhar para a cidade branca.

— É linda… — ela murmurou — mas que lugar estranho…  

Asuna e eu já estávamos acostumados, mas era verdade que «Stachion» e sua construção uniforme de blocos de quinze centímetros era muito estranha.

— Todas as grandes cidades humanas são construídas assim?  

— Não! É só esta cidade que é especialmente estranha — explicou Asuna rapidamente. — Lembra quando te contamos sobre o cubo dourado que desapareceu da mansão do Lorde da cidade? Esta cidade inteira é construída com blocos de madeira e pedra cortados nas dimensões exatas daquele cubo.  

— Ah…  

— Mas não vamos ficar aqui paradas conversando — disse Asuna. — Estou com fome.  

Graças à ajuda de «Kizmel» com os atalhos, ainda não eram nem dez horas, mas eu também estava começando a ficar com fome. Estava pensando que seria legal mostrar a «Kizmel» o que eram os bolos ao estilo humano antes de começarmos a lidar com a missão da maldição de verdade.

Eu estava um pouco nervoso ao passar pelo portão, mas nada mudou em «Kizmel» depois que o sinal de REFÚGIO SEGURO apareceu na minha visão ao cruzarmos a fronteira. Ela parecia não ver o mesmo marcador visual que nós. Lembrei que ela devia ter se infiltrado em «Zumfut» no terceiro andar também.

Havia mais de alguns jogadores na larga rua principal da cidade, mas a maioria eram apenas turistas subindo dos andares inferiores para dar uma olhada. Como eu esperava, ninguém parou para examinar o cursor amarelo de «Kizmel». Aliviado e mais tranquilo, sugeri.

— Que tal pararmos para tomar um chá por aqui? Podemos passar o resto da manhã investigando o desaparecimento do lorde, e depois podemos usar o portal de teleporte depois do meio-dia.  

— Combinado!  

— Acredito que será aceitável — acrescentou «Kizmel».

Então, eu nos guiei para um restaurante com um menu recheado de doces, não muito longe do portão sul. Viramos para o oeste, saindo da estrada principal e entrando em uma rua menor. Após um tempo, «Kizmel» parou e passou a mão em um dos blocos de madeira marrom-escura usados nos prédios.

— Vocês cortam as árvores nesse tamanho e depois as empilham de novo... Humanos fazem as coisas mais estranhas...

Asuna e eu trocamos olhares. Os elfos — elfos negros, elfos da floresta, até mesmo os elfos caídos — nunca cortariam uma árvore viva. Se eles usassem madeira em suas construções e móveis, seria apenas de árvores que caíram no final de suas vidas.

Nesse sentido, a parte sul de «Stachion» era talvez o maior desperdício de madeira em qualquer grande cidade humana. Talvez não fosse o melhor lugar que eu poderia ter escolhido como destino. Mas, apesar da minha preocupação, «Kizmel» apenas nos olhou e piscou surpresa.

— Ah, não estou reclamando — disse ela, sorrindo. — Os elfos têm seu jeito de viver, assim como os humanos. A antiga eu... na verdade, todos os elfos negros, desde tempos imemoriais, desprezavam as outras raças como tolas e inferiores a nós, mas desde que conheci vocês e os acompanhei em certos momentos, aprendi que a humanidade também possui muitas virtudes. Por exemplo, nós nos conhecemos quando vocês salvaram minha vida do elfo da floresta que estava prestes a me derrotar. Acho que ter minha vida salva por humanos certamente mudou minha opinião...

Asuna e eu trocamos outro olhar e então abaixamos a cabeça, constrangidos. Quando vimos os dois cavaleiros elfos lutando na floresta, a maior razão pela qual escolhi «Kizmel» em vez do Cavaleiro Consagrado Elfo da Floresta foi porque era o que eu fiz no beta. Eu apenas segui o caminho familiar.

Mas por que eu a escolhi no beta? Na época, eu não jogava solo, mas estava em um grupo de quatro pessoas desconhecidas, então não foi uma decisão só minha. No entanto, ninguém protestou, e parece que chegamos a um consenso em questão de segundos.

Talvez fosse porque os outros três também eram rapazes, e «Kizmel» era uma bela mulher mais velha. Mas, muitas vezes, em outros jogos e romances, os elfos negros eram antagonistas. O elfo da floresta parecia um cavaleiro heróico e brilhante, e poderíamos ter nos aliado a ele por essa razão.

Será que senti algo naquele momento, além do fato de «Kizmel» ser uma mulher?

— Hum, «Kizmel» — murmurou Asuna, aproximando-se da cavaleira — a verdade é que, quando nós interferimos para te ajudar no terceiro andar...

Eu entrei em pânico por um breve momento, sem saber o que ela estava prestes a dizer, mas não houve chance de intervir ou ouvir o restante, pois «Kizmel» segurou os ombros de Asuna, puxando-a para mais perto, enquanto olhava por cima do meu ombro e gritava.

— Quem está aí?!

O tom de alarme em sua voz me fez virar rapidamente para olhar.

Não havia ninguém na rua de três metros de largura. Não estávamos na área de compras, então os únicos edifícios ao longo da estrada eram casas com portas bem fechadas. Olhei em volta, mas não vi nenhum indício de cursores verdes, amarelos ou (impossíveis neste lugar) laranjas...

Mas, naquele instante, uma pequena silhueta praticamente se materializou nas sombras de um prédio. Estava vestida com um manto cinza completo, escondendo sua identidade. O cursor sobre sua cabeça era amarelo, indicando que era um NPC.

«Kizmel» prontamente segurou o punho de sua espada, e eu alcancei minha espada às costas. No entanto, a figura balançou a cabeça e, em um volume suficiente para ouvir, disse.

— Não tenho a intenção de causar mal.

A voz pertencia a uma menina muito jovem — e era familiar de alguma forma.

Onde eu a havia ouvido antes, me perguntei... mas não consegui chegar a uma resposta. O nome sob o cursor era «MYIA», mas isso também não me trouxe nenhuma lembrança imediata.

«Kizmel» repetiu sua pergunta.

— Quem é você? Por que estava nos seguindo?

Ela também usava um capuz preto bem baixo, então, em termos de vestimenta, as duas se pareciam bastante, exceto pela questão da altura. «Kizmel» era bem mais alta que eu, mas a mulher de manto cinza à nossa frente parecia mais do tamanho de uma criança.

— Eu só quero falar com aquele espadachim ali — disse a NPC, apontando para mim com uma mão fina.

— Hã...? Eu?

— Senhor espadachim, você tem um desses? — ela disse, abrindo a mão para revelar uma pequena chave pendurada em um cordãozinho. Agora, este item eu reconheci.

— Kirito, essa não é? — Asuna sussurrou, e eu assenti. Abri meu inventário e materializei o mesmo item que eu havia recebido três dias antes. Era a chave de ferro, uma das duas que caiu quando Morte matou «Cylon».

Levantei a chave, também pendurada em um cordãozinho, fechei a janela do jogo e deixei-a balançar, como a menina NPC estava fazendo.

Então, algo muito estranho aconteceu. A chave cinza completamente comum começou a vibrar suavemente, emitindo um som leve. Do outro lado, a chave da NPC estava exibindo a mesma reação.

— Quem é você? E o que essa chave faz? — perguntei. A NPC de manto cinza guardou a chave e se aproximou. «Kizmel» manteve a mão no punho da espada, mas não a desembainhou.

— Enquanto tivermos essas chaves, não estamos seguros, nem mesmo na cidade. Vamos para outro lugar — disse a NPC chamada «Myia». Eu troquei um olhar com Asuna e «Kizmel». Não podíamos descartar a possibilidade de uma armadilha. Mas viemos para esta cidade para investigar o mistério das duas chaves de «Cylon», e aqui estava uma grande pista, então não fazia sentido recuar agora.

— Certo — disse Asuna. — Para onde vamos, então?

A NPC assentiu, olhou em volta e sussurrou.

— Me sigam.

 

✗✗✗

 

Nós seguimos a mulher encapuzada até o extremo oeste da metade sul de «Stachion», onde a construção era mais densa. Ela usou outra chave, uma de bronze, para abrir a porta de uma pequena casa ali, nos fez entrar, e então espiou lá fora para garantir que o caminho estava livre antes de fechar e trancar a porta novamente.

Havia uma sala de estar no final de um curto corredor. Apesar de ainda ser pouco mais de dez horas da manhã, estava bem escuro dentro. As janelas maiores estavam com as persianas fechadas, de modo que a luz do sol só entrava pelas poucas janelas menores ao redor da sala. A NPC acendeu uma lâmpada pendurada na parede, depois se virou para se desculpar.

— Sinto muito por não poder abrir a janela para vocês. Esperem um momento, vou preparar um chá — disse ela, indo para a cozinha, mas Asuna a puxou de volta.

— Não, não há necessidade. Por favor, nos diga o que você tem a dizer.  

— Ah, entendo.  

A NPC fez uma pausa e apontou para o sofá no meio da sala de estar, então nós três nos sentamos nele. Ela se acomodou em uma poltrona em frente a nós e abaixou o capuz.

Asuna ofegou. Eu também fiquei surpreso. Pela altura, presumi que a mulher fosse muito jovem, mas agora, à luz, era apenas uma criança — talvez não mais que dez anos de idade. Só para garantir, olhei para as orelhas sob o cabelo loiro curto e bem cortado, mas ela não era uma elfa.  

— Meu nome é Mee-a — disse ela, e de repente entendi como o nome «Myia» deveria ser pronunciado. Era um nome simples, mas de algum modo misterioso.

— Eu sou «Kizmel», uma cavaleira — disse a elfa, que manteve o capuz. Asuna e eu seguimos o exemplo.  

— Sou Kirito... um espadachim, eu acho.  

— E eu sou Asuna. Sou uma espadachim.  

— «Kizmel», Kirito... e Asuna. Eu acertei? — ela perguntou, utilizando o padrão familiar de NPC para verificar a pronúncia. Ela olhou diretamente para mim com olhos verde-acinzentados. — Kirito, a chave de ferro que você possui veio de Lorde «Cylon» de «Stachion», certo?  

— S... sim — concordei, então percebi que poderia estar criando uma impressão perigosa. — Ah, m-mas eu não a tirei dele à força. Tecnicamente, eu... uh... a encontrei no chão — gaguejei.  

Asuna perguntou calmamente.

— «Myia», você... sabe o que aconteceu com «Cylon»?  

— Sim. — A garota assentiu, seus olhos longos e com cílios abaixados. — Eu ouvi de «Terro», o jardineiro da mansão. «Cylon»... meu pai foi atacado por bandidos fora da cidade três noites atrás e morreu...  

...Jardineiro?  

...Pai?  

Essas duas palavras colidiram na minha mente, e demorou um pouco para que elas se encaixassem corretamente.  

Os únicos que sabiam que «Cylon» estava morto éramos eu, Asuna, «Kizmel», Morte e o usuário da adaga, e o grande homem NPC que servia a «Cylon». Isso significava que o homem grande que partiu na carruagem era o jardineiro chamado «Terro».

Isso estava bem... mas a garota também chamou «Cylon» de pai. Tomando isso literalmente, significava que ela era filha do falecido lorde.

Na manhã após o ataque de Morte, Asuna me perguntou se «Cylon» tinha família, e eu disse que não me lembrava de esposa ou filhos na mansão. Nunca tinha visto a família de «Cylon» no beta ou desta vez, mas isso não era prova de que ele não tinha família.  

— «Myia»... você é filha de «Cylon»? — perguntou Asuna, indo direto ao ponto de tudo que eu estava pensando. «Myia» confirmou com um aceno. Asuna hesitou por um breve momento antes de dizer. — Eu... sinto muito, «Myia». Estávamos presentes quando os bandidos atacaram seu pai. Na verdade, a verdade é que os bandidos estavam atrás de Kirito e de mim. «Cylon» foi apenas uma vítima...  

Eu sentia como se minha cabeça estivesse se partindo em duas. «Myia» era uma NPC, e as conversas com ela tinham que fazer parte da missão "A Maldição de «Stachion»". Mas Morte matou «Cylon», e ele era um jogador — foi um evento espontâneo, não um passo programado da história da missão.

Como foi que, em apenas três dias, isso foi incorporado ao enredo da missão? Eu tinha certeza de que, depois de vermos «Cylon» morrer, outro «Cylon» idêntico apareceria em «Stachion», para que a missão prosseguisse para todos os outros jogadores, independentemente disso...  

— Você não precisa se desculpar por isso — disse «Myia», madura além da sua idade. Levantei minha cabeça. — Eu ouvi tudo de «Terro». Como meu pai deu a vocês veneno, os sequestrou... e iria trancá-los no labirinto sob a mansão, forçando-os a realizar o dever, não, a expiação que ele deveria carregar...

— Expiação — repeti sem perceber. «Myia» virou seus olhos verdes e misteriosos para mim. Reuni minha coragem e perguntei à NPC. — Você sabe... o que seu pai fez...?  

— Sim — disse «Myia», olhando para baixo. — Minha mãe me contou tudo outro dia.  

— M-Mãe...? — repeti. A mãe de «Myia» teria que ser a esposa de «Cylon», presumi, quando Asuna cutucou meu braço com o cotovelo. O choque ajudou minhas sinapses a funcionarem corretamente. Eu já tinha explicado, para a própria Asuna, que «Cylon» teve uma amante dez anos atrás.  

— Um... Isso significa que sua mãe é a antiga serva do lorde... quero dizer, serva? — perguntei, quase dizendo a palavra aprendiz por engano, com base no que sabia do beta. Felizmente, «Myia» não pareceu perceber ou achar suspeito.  

— Sim — ela disse. — O nome da minha mãe é «Theano», e ouvi dizer que ela serviu «Pithagrus», o antigo lorde de «Stachion», até dez anos atrás.  

«Theano».

Eu a conheci quatro meses atrás, durante o teste beta de SAO. Mas ela deixou uma forte impressão, e se eu fechasse os olhos, poderia evocar a imagem de seu belo rosto imediatamente. Se eu me esforçasse, poderia ver alguns desses traços nas feições de «Myia» também.  

Na missão "A Maldição de «Stachion»", na rota correta — bem, a esta altura não havia como saber o que era correto, então vamos chamar de rota beta — fui paralisado por «Cylon» na casa em «Suribus», colocado em um saco e levado de volta a «Stachion», e então salvo nos becos por ninguém menos que «Theano».  

Ela foi uma vez uma serva na mansão do lorde, uma especialista em quebra-cabeças que ganhou a admiração de «Pithagrus», além de ser uma lutadora habilidosa com a espada. Uma noite, há dez anos, ela testemunhou um furioso «Cylon» espancar «Pithagrus» até a morte com um cubo dourado.  

Ela deveria ter avisado um guarda imediatamente, mas após muito sofrimento, «Theano» decidiu manter o silêncio. Isso porque «Cylon» também era seu amante, e enquanto «Cylon» matou «Pithagrus» por não nomeá-lo como sucessor, na verdade, o plano de «Pithagrus» era nomear a próxima senhora da cidade a pessoa que ele estava treinando secretamente: «Theano». Quando «Cylon» saiu da sala, ela entrou furtivamente e pegou o cubo ensanguentado, depois o trancou na parte mais profunda da Dungeon dos Desafios sob a mansão. Ela então colocou a chave para abrir a dungeon no esconderijo em Suribus e largou seu trabalho como serva.  

Theano esperava que «Cylon» se arrependesse de seu pecado e revelasse tudo o que havia feito para ela. Só então ela planejava contar a «Cylon» onde encontrar a chave. Mas «Cylon» afirmou que o corpo, cujo rosto estava esmagado além do reconhecimento, pertencia a um viajante sem nome e que foi «Pithagrus» quem matou o viajante. O resultado foi uma maldição de enigmas que afligiu «Stachion» — e que estava se expandindo além da cidade até hoje.

No teste beta, «Theano» e eu nos infiltramos na mansão, convencemos «Cylon» a ver o erro de seus caminhos e usamos a chave dourada para entrar na dungeon sob o prédio. Nós três resolvemos muitos enigmas e enfrentamos mobs astrais que não deveriam aparecer ali, até chegarmos ao final da dungeon. Lá, derrotamos o fantasma vingativo de «Pithagrus» em uma batalha de quebra-cabeças, recuperamos o cubo, purificamo-lo com água benta e o oferecemos ao túmulo do viajante (que na verdade era «Pithagrus»). Então o fantasma dele apareceu novamente e perdoou «Cylon», encerrando a história.

Mas desta vez, «Cylon» não pôde expiar seu pecado e desfazer a maldição, porque foi morto por Morte, o PKer. Esse evento, que deveria ter afetado apenas a quest para Asuna e eu, de alguma forma agora se aplicava a todos os jogadores. «Cylon» aparentemente havia desaparecido de Aincrad por completo. 

Não havia mais uma maneira de completar a quest na mesma ordem de eventos que usei no beta. Eu tinha a chave dourada em minha posse, então talvez pudéssemos entrar na dungeon e recuperar o cubo, mas será que isso seria suficiente para desfazer a maldição de «Pithagrus»? E por que não estávamos sendo visitados pela própria «Theano», mas por sua filha, «Myia»?

— «Theano»... Onde sua mãe está agora? — perguntei cautelosamente. Os lábios da garota se apertaram, e ela balançou a cabeça. Ela puxou a chave de ferro de dentro de sua camisa e a encarou.

— Eu não sei. Na manhã seguinte ao saber que meu pai havia sido morto, ela deixou um bilhete e essa chave para trás e desapareceu.

— O que o bilhete dizia?

— Era um pedido de desculpas para mim, a verdade sobre o assassinato do viajante na mansão há dez anos e um lembrete para visitar «Barro», caso ela nunca mais voltasse...

— Quem é «Barro»? — perguntei, pensando que o nome também soava familiar. Para minha surpresa, foi Asuna, e não «Myia», quem respondeu.

— O jardineiro da mansão na época em que «Theano» trabalhava lá. Lembra, conversamos com ele três dias atrás?

— Ah, s-sim — murmurei.

«Myia» assentiu e explicou.

— «Barro» é o pai de «Terro», que cuida dos jardins agora. Dez anos atrás, meu pai matou «Pithagrus», o antigo lorde... embora ele tenha feito parecer que um viajante foi morto, e «Pithagrus» desapareceu. Depois disso, muitos dos empregados deixaram seus trabalhos, incluindo minha mãe e «Barro». Mas «Terro» estava tendo dificuldades para aprender a falar, e disseram que ele não conseguiria se sustentar na cidade, então meu pai, o novo lorde «Cylon», concordou em aceitá-lo.

— Ah, entendi — disse, lembrando-me do silêncio e obediência do homem grande que apareceu no esconderijo secreto. Parecia que talvez «Cylon» não fosse completamente maligno, afinal.

Suspirei. Um silêncio pesado se instalou na cena. Foi quebrado pela voz suave de «Kizmel» .

— «Myia». Você disse que, enquanto tivéssemos a chave, não estaríamos seguros na cidade. Por quê?

Esse era um ponto curioso, é verdade, mas mais interessante e inquietante para mim era que dois NPCs estavam interagindo de uma maneira que não poderia ter sido pré-programada na história. Eu me perguntava se eles realmente teriam uma conversa lógica, quando...

— Na noite em que minha mãe deixou essa chave e o bilhete, um ladrão invadiu a casa onde morávamos há anos, perto da praça da cidade. Eu fui acordada pelo som e fui até a sala de estar, onde um bandido vestido de preto segurava essa chave e sacou sua adaga para me atacar quando me viu... Eu consegui lutar contra ele e recuperar a chave, mas percebi que era perigoso permanecer na casa, então me mudei para cá assim que pude.

— Ah? De quem é essa casa?

— Do meu pai. É aqui que Lorde «Cylon» vivia antes de ir morar na mansão como aprendiz de Lorde «Pithagrus». Meu pai nunca voltou, mas minha mãe me trazia aqui para limpar o lugar de vez em quando.

— Entendo — disse «Kizmel», cruzando os braços. — Então o bandido ainda não sabe sobre esta casa.

Ao lado dela, eu murmurei para mim mesmo. Entendi. Então esta é a casa original de «Cylon». Se olharmos ao redor, talvez possamos encontrar algumas pistas para... não, espere. Antes disso. «Myia» não disse algo estranho?

— Espere só um momento, «Myia». Você disse que um ladrão com uma adaga veio roubar sua chave... Você lutou contra ele sozinha? — Asuna perguntou enquanto eu tentava me lembrar do que ela havia dito.

Mas sim, essa era a parte. «Myia» disse que havia lutado contra ele, mas como uma garota de apenas dez anos conseguiria fazer tal coisa?

Com novos olhos, eu encarei a garota de cabelo chanel. Mesmo com o manto cinza, era claro à primeira vista que ela era incrivelmente magra. Descansando sobre seus joelhos, suas mãos pareciam as de uma boneca. Ela seria capaz de balançar uma faca, quanto mais uma espada?

«Myia» assentiu para Asuna e disse, sem mudar de expressão.

— Sim, desde muito jovem, minha mãe...

Mas não conseguimos ouvir o fim dessa frase. Houve um estrondo alto e forte, e uma pequena janela no fundo da sala de estar se estilhaçou.

— O que foi isso?! — gritei, levantando-me. Saltando pelo chão em nossa direção estava uma esfera preta. Assim que viu o objeto do tamanho de uma bola de beisebol, «Kizmel» gritou.

— Todos, prendam a respiração!

Enchi meus pulmões com o máximo de ar que consegui e fechei a boca. A bola se partiu em duas e começou a emitir uma fumaça roxa espessa.

Mais gás venenoso, não! — xinguei mentalmente, sacando a «Sword of Eventide» +3 das minhas costas. Eu não sabia que tipo de veneno era, mas nenhum evento dessa natureza terminaria apenas com o gás.

Ao meu lado, Asuna abriu sua janela e materializou um objeto que parecia uma máscara. O item de couro era a máscara de gás que «Cylon» deixou cair quando morreu. Achei que ela ia colocá-la em si mesma, mas em vez disso, ela saltou sobre a mesa e colocou a máscara no rosto de «Myia».

Mais vidro se quebrou. Desta vez, as grandes janelas duplas estilhaçaram, com venezianas e tudo, e duas figuras sombrias pularam para dentro da sala. Eles rolaram suavemente pelo chão e ficaram de pé, sacando lâminas curtas e curvas em uníssono. Os cursores acima de suas cabeças eram amarelos, e o texto dizia LADRÃO DESCONHECIDO. Eles eram NPCs, não jogadores.

Assim que as lâminas apontadas em nossa direção brilharam como navalhas, finalmente me lembrei de que estávamos dentro da cidade. Aquilo era uma batalha de evento de missão (presumi), mas essa casa estava dentro da zona segura do Código Anti-Crime da cidade. Nenhum mob poderia entrar na zona, e os HPs dos jogadores eram protegidos contra danos, sem perder nem um pixel sequer, não importava o que acontecesse. Essa era uma das regras de ferro de SAO, conforme eu entendia.

Mas espere...

Atacar um jogador era um crime, mas seria crime se um NPC, agindo de acordo com a história, atacasse um jogador? Eu nunca havia experimentado isso por mim mesmo. Seria possível que, se uma batalha da história ocorresse dentro da cidade, o código de segurança talvez não nos protegesse?

Eu queria gritar para Asuna e «Myia» recuarem, mas não conseguia fazer isso com a respiração presa. A fumaça roxa, meio translúcida, já estava na altura do rosto, e assim que eu respirasse, iria sofrer algum tipo de debuff. Se o código não funcionasse e eu começasse a sofrer dano contínuo, por exemplo, eu poderia tomar poções para me manter seguro, mas se fosse veneno paralisante de novo, eu não tinha como contrarrestá-lo. Fiz um sinal com a mão, esperando que a mensagem fosse entendida, e levantei minha espada.

À minha direita estava «Kizmel», com o sabre desembainhado. Ela tinha aquele anel ultra-raro de antídoto, mas isso não significava muito no meio de uma nuvem de gás.

Os atacantes vestidos de preto tinham seus rostos completamente cobertos por tecido, além de usarem máscaras de gás diferentes da de «Cylon», escondendo suas feições. Eles levantaram suas lâminas curvas brilhantes — mas não atacaram.

Eles simplesmente não precisavam: ficaríamos sem ar em apenas trinta ou quarenta segundos.

Ou seja, teríamos que eliminar nossos inimigos nesse intervalo de tempo.

«Kizmel» e eu trocamos o mais breve dos olhares antes de avançarmos juntos. Os ladrões mascarados saltaram também, um segundo depois.

No instante em que nossas lâminas se cruzaram, os cursores dos inimigos ficaram de um vermelho brilhante. Mesmo para mim, no nível 20, a cor parecia escura. O poder que exibiam era quase o mesmo do mortal Cavaleiro Inferior Elfo da Floresta no Castelo de Yofel, no quarto andar.

Cerrei os dentes e empurrei com força contra o inimigo, mas meu fôlego já estava acabando. Faíscas voavam do sabre de «Kizmel» enquanto ela também pressionava, mas nem a força do braço da elite era suficiente para derrubar esse oponente. Precisávamos quebrar o impasse de alguma forma, antes que o veneno nos pegasse…

— Kirito, «Kizmel», recuem para o centro! — gritou uma voz corajosa, mas jovem, atrás de nós. Inclinei-me para a direita e vi um brilho vermelho passar pela minha esquerda.

Kra-ka-kam! Uma série de impactos aconteceu, e o bandido de preto foi arremessado para trás, com três linhas de efeito de dano em seu peito. Um momento depois, o oponente de «Kizmel» sofreu o mesmo destino e foi arremessado contra a parede oposta.

Foi Asuna quem ajudou «Kizmel», e minha própria salvadora foi... «Myia». Assim como Asuna, ela usou a habilidade de três golpes de estocada de rapieira, «Triangular».

Surpreso, olhei para a garota mascarada e sua rapieira curta, mas elegante. Mas não por muito tempo — não podíamos deixar essa oportunidade escapar. «Kizmel» e eu saltamos à frente para desferir os golpes finais em nossos inimigos cambaleantes.

Mas os ladrões, cada um levou a mão à cintura, tiraram algo dos cintos e jogaram. Eu mal consegui desviar com a espada, mas eles aproveitaram a oportunidade para se levantar e basicamente saltar para fora da janela quebrada.

Seus passos rapidamente se afastaram. Vocês não vão a lugar nenhum! Pensei, saltando pela janela para o quintal. Com o ar fresco finalmente enchendo meus pulmões, atravessei o portão de madeira e olhei para os lados, mas não havia ninguém no beco nos fundos à luz do meio-dia — e nenhum cursor vermelho.

— Eles fugiram — disse uma voz atrás de mim. Virei-me rapidamente para ver a cavaleira elfa negra com uma expressão séria. Assenti para ela e voltei para o quintal, fechando o portão de madeira.

— Eles eram bem fortes — e rápidos também — eu disse. — Ainda bem que você estava conosco, «Kizmel». Claro, me desculpe — você não se inscreveu para tudo isso.

Mas ela não mudou sua expressão.

— Isso pode não ser inteiramente verdade.

— Hã...?

A Maldição de «Stachion» era um incidente que aconteceu inteiramente entre humanos e não tinha relação alguma com os elfos, eu queria protestar — até que «Kizmel» empurrou um objeto longo e estreito em direção ao meu rosto. Parecia os dardos que os ladrões jogaram ao fugir, mas quando foquei minha visão, minha mandíbula caiu.

Segurado entre seus dedos estava uma agulha venenosa maligna com formato espiralado hexagonal: um Espinho de Shmargor.

A princípio, me perguntei se os atacantes mascarados não eram Morte e seu amigo que usava adagas. Mas isso era impossível, claro. Os cursores deles eram amarelos, como o de «Kizmel», antes de ficarem vermelhos, e se fossem jogadores, seus cursores teriam ficado laranja, em vez de vermelhos.

Mas então, quem eram eles...?

— Eu reconheci as lâminas crescentes que eles usavam — ela disse suavemente. — Essas são as armas dos assassinos dos Caídos.

— Você quer dizer os elfos caídos? — perguntei, talvez desnecessariamente.

A cavaleira elfa arqueou uma sobrancelha.

— Use sua inteligência, Kirito. Você já ouviu falar de goblins caídos ou orcs caídos em Aincrad?

Na verdade, eu preferiria esses, pensei comigo mesmo.

— Er… claro. Mas… o que os elfos caídos estão fazendo aqui? Os elfos não têm nada a ver com essa miss… esse incidente...

— Sim, de fato. É possível que tenham me seguido quando saí do Castelo Galey, mas nesse caso, eles poderiam ter nos atacado na floresta ou no deserto, em vez de esperar até que entrássemos nessa cidade humana — apontou «Kizmel».

Ela estava absolutamente certa sobre isso. O que significava que o alvo era...

Virei-me rapidamente, no exato momento em que Asuna e «Myia» saíam pela porta dos fundos, à direita das janelas quebradas. Asuna estava em modo de alerta máximo, observando a área com sua rapieira em mãos, enquanto «Myia» ainda usava sua máscara de gás. A rapieira que ela usou para executar um «Triangular» já estava embainhada, pendurada no interior de sua capa cinza.

A garota caminhou até nós, surpreendentemente calma logo após o dramático ataque. Ela parecia ter ouvido a conversa entre «Kizmel» e eu, e quando falou, sua voz estava abafada pela máscara, mas não o suficiente para ser incompreensível.

— Eles estavam vestidos exatamente como os ladrões que invadiram minha casa dois dias atrás. Como da última vez, acho que estavam atrás da chave da minha mãe.

— Eu...entendo...

Ou seja, essa garota de no máximo dez anos enfrentou, sozinha, não ladrões comuns, mas espiões ou assassinos elfos caídos. Depois de testemunhar como suas habilidades com a espada eram tão afiadas quanto as de Asuna… eu ainda tinha dificuldade em acreditar. Ela não podia ser mais de um ou dois anos mais velha que a pobre e doente Agatha, cuja missão eu completei para ganhar a «Anneal Blade» no primeiro andar.

Mas havia algo mais importante agora do que resolver esse mistério. Tirei a chave de ferro da minha bolsa de cintura e a segurei na altura da máscara de couro de «Myia». A chave ao redor do pescoço dela reagiu, as duas ressoando levemente.

Perguntei,

— «Myia», o que são essas chaves? Você sabe onde elas devem ser usadas...?

— Não — ela disse, balançando a cabeça. — Tudo o que a carta da minha mãe dizia era que era uma lembrança do tempo que ela passou com meu pai, então ela queria que eu cuidasse bem dela. Se ela soubesse que pessoas perigosas viriam atrás dela, acho que não a teria deixado aos meus cuidados.

— Entendo...

Isso sugeria que só descobriríamos a verdade quando encontrássemos a desaparecida «Theano». «Kizmel» se abaixou e disse à garota.

— «Myia», como você nos encontrou? Você nos seguiu antes que eu a detectasse no beco, não foi?

— Sim… desculpe por ter feito isso, mas eu queria ter certeza de que vocês não estavam com os ladrões...

— Não estou culpando você — disse «Kizmel» gentilmente. — Faz todo o sentido você fazer isso, considerando as circunstâncias.

A garota com a máscara de gás assentiu e colocou sua pequena mão sobre o peito.

— A chave que minha mãe me deixou e a chave que Kirito segura, pertencente ao meu pai, são atraídas uma pela outra. Mesmo separadas por grandes distâncias, elas sempre vibram levemente, tentando apontar para a outra.

— Hã? Sério...?

Mudei a altura e o ângulo da chave que segurava para apontar diretamente para a chave pendurada no pescoço de «Myia». De fato, a chave vibrava sutilmente na ponta do cordão. «Myia» também estremeceu, sentindo a mesma sensação com sua chave.

Então, as chaves usavam vibrações para indicar a direção e ressonância sonora para indicar a distância entre elas. Uma vez que se sabia disso, não seria difícil nos encontrar, mesmo no interior lotado e complexo de «Stachion». Ainda assim, isso não respondia à pergunta de que fechaduras essas chaves eram destinadas a abrir — e por que os elfos caídos estariam tentando roubá-las.

Enquanto eu examinava os detalhes finos da chave que «Cylon» deixou para trás, Asuna, que ainda mantinha a mão no ombro de «Myia», pareceu perceber algo.

— Diga, Kirito… a chave dourada que encontramos no esconderijo em «Suribus» reage à chave de ferro de alguma forma?

— Hã? Ah, não sei...

Abri minha janela e tirei a chave dourada da aba de ITENS CHAVE, verificando meu registro de missões também, só para garantir, mas a dica mais recente ainda não havia sido atualizada: LORDE «CYLON» DE «STACHION» FOI MORTO POR LADRÕES. VOCÊ DEVE ENCONTRAR O LOCAL CERTO PARA USAR AS CHAVES QUE ELE DEIXOU PARA TRÁS.

Ignorando a questão de quem realmente escreveu aquela sinopse, fechei a janela e pendurei a chave de ferro na minha mão direita. A chave dourada não tinha cordão, então a segurei diretamente com a mão esquerda e apontei-as uma para a outra, movendo-as para mais perto e para mais longe, mas elas não produziam vibrações nem sons.

No entanto, ao inspecionar mais de perto, percebi que eram muito semelhantes, exceto pela cor. As chaves em Aincrad eram todas chaves de fechadura antigas, de acordo com o estilo de fantasia medieval, então, embora todas parecessem um pouco semelhantes, pude ver muitos elementos compartilhados no design da cabeça e nos dentes dessas chaves.

— Isso é? — começou uma voz suave, e eu olhei para cima da minha inspeção. «Myia» havia dado um passo à frente e olhava atentamente para a chave dourada através da máscara. — Essa chave dourada é a mesma que minha mãe levou da mansão dez anos atrás?

— Ah... sim, acho que sim. Encontramos no esconderijo de «Pithagrus» na cidade de «Suribus».

— Então talvez — disse «Myia», com um olhar brevemente sombrio — talvez minha mãe tenha ido procurar essa chave.

— Hã? — murmurei.

Mas Asuna parecia entender.

— Sim, acho que isso é possível. «Terro», o jardineiro, estava seguindo as ordens de «Cylon», mas, embora soubesse que deveria nos paralisar e nos trancar na dungeon sob a mansão, não acho que ele realmente sabia o propósito daquela missão. Então, não acho que ele teria sido capaz de explicar o que aconteceu com a chave dourada para «Theano»...

— Sim, quando «Terro» visitou na noite antes de minha mãe desaparecer, eu também estava lá. Mas ele não mencionou nada sobre uma chave.

— Então... «Theano» foi para o esconderijo em «Suribus»? Mas a dungeon no porão não abriria sem essa chave, então ela saberia que a chave havia sido removida. Depois que «Cylon» foi morto, apenas os bandidos e nosso grupo poderiam ter a chave... então ela está nos procurando há três dias...? — perguntei.

— Não, isso não é provável. Quem estivesse com a chave dourada provavelmente teria uma chave de ferro, e «Theano» sabia que as duas chaves de ferro reagiam, então, se ela quisesse encontrar o portador atual, não deixaria sua própria chave de ferro em casa assim — «Kizmel» disse.

— Ah... é. Bom ponto...

Tentar encontrar o outro portador da chave sem trazer sua própria chave seria como tentar encontrar as sete esferas sem o radar do dragão. Então, onde estava «Theano»...?

— Pense com cuidado, Kirito — disse «Kizmel», como uma irmã mais velha ou professora. Eu fiquei boquiaberto.

— Hã? Sobre o quê?

— Uma chave não faz nada sozinha. Para que uma chave seja roubada, deve haver um lugar onde ela seja usada.

— Ah... Eu... Eu entendi agora — murmurei, olhando para o céu ao norte. Por sobre os telhados das casas de madeira que alinhavam o beco, a mansão branca como giz podia ser vista no extremo norte da cidade.

Depois que ela ouviu a história de «Terro», «Theano» deve ter deduzido que o propósito dos bandidos que atacaram «Cylon» era roubar a chave dourada. Claro, o verdadeiro objetivo de Morte não era a chave, mas nossas vidas; ainda assim, não havia como «Theano» saber disso.

Se ela estava procurando os bandidos que roubaram a chave dourada, ela não precisaria da chave de ferro, e, na baixa probabilidade de que pessoas diferentes tivessem as chaves dourada e de ferro, seria uma perda de tempo.

Mais importante, como «Kizmel» disse, uma escolha muito melhor seria vigiar o lugar onde os bandidos precisariam usar essa chave.

Quando lutamos juntos no beta, «Theano» era uma guerreira astuta e paciente. Era bem possível que ela estivesse escondida perto da entrada da dungeon do porão, esperando que os ladrões chegassem. Infelizmente, essa seria a maior perda de tempo de todas. Eu ainda tinha a chave dourada, e a gangue de Morte parecia não ter interesse em chaves ou cubos.

— Se «Theano» estiver na mansão, deveríamos ir encontrá-la e explicar a situação — sugeri. «Kizmel» e Asuna concordaram, mas «Myia» não disse nada.

Alguns segundos depois, seu rosto mascarado se ergueu, e, tão baixinho quanto ainda era audível, ela disse.

— Kirito, Asuna... Meu pai os enganou, envenenou e sequestrou vocês, e esperava forçar uma tarefa perigosa a vocês. Atos malignos só geram mais maldade... Foi um castigo divino quando ele foi atacado e morto por aqueles bandidos. Se minha mãe está tentando vingar sua morte, vocês não têm obrigação de ajudá-la. Eu só queria avisá-los sobre o perigo ao redor... então por que estão indo tão longe?

— Hã... bem... 

A pergunta dela era perfeitamente razoável, mas eu não tinha resposta. «Theano» havia me salvado — mas apenas no beta. Ela não conhecia meu nome ou rosto nesta versão do mundo, então não tinha razão para ajudar a vingar a morte de «Cylon», que havia paralisado Asuna e eu e nos enfiado em sacos. A missão "A Maldição de «Stachion»" ainda estava em andamento, claro, mas «Myia» não entenderia o que era, e eu estava rapidamente perdendo o interesse na rota "correta" dessa missão.

Eu simplesmente não sabia como explicar tudo isso. Mas, felizmente, Asuna deu a volta pela frente de «Myia» e se abaixou.

— Não se trata de lógica ou razão. Você tentou nos alertar sobre o perigo em que estávamos. Se você também está em apuros, é claro que vamos ajudar. Você está preocupada com sua mãe, não é?

……

«Myia» não disse nada por muitos segundos, até finalmente balançar a cabeça.

— …Sim. Hum... obrigada, Asuna, Kirito e «Kizmel».

— Não há de quê. Eu também tenho minha própria conexão significativa com aqueles que nos atacaram — disse «Kizmel» com um sorriso. Então ela perguntou. — Mas, «Myia», por quanto tempo você vai continuar usando essa máscara? O veneno já foi embora há muito tempo.

— Ah... é... — «Myia» ergueu as mãos para o lado da máscara antes de se virar para Asuna. — Hum, você se importaria se eu continuasse usando essa máscara só mais um pouco?

— Hã...? Tudo bem, claro. Mas não é abafado?

— Estou bem. Me sinto mais segura com ela.

— Ah…

Asuna ainda parecia cética — mas então congelou. Eu entendi o que ela estava pensando. A máscara de gás que «Myia» usava pertencia a «Cylon».

Eles estiveram separados por dez anos — possivelmente ela nunca o havia conhecido de fato — mas agora a jovem garota era capaz de sentir o cheiro de seu pai naquela máscara. Se aquilo a deixava em paz, como poderíamos exigir que ela a tirasse? Mesmo que significasse que a aparência da jovem espadachim parecesse menor.

Minha parceira se levantou novamente e colocou a mão nas costas de «Myia».

— Nesse caso, vamos juntas para a mansão do lorde. Aposto que encontraremos sua mãe lá.

— Ok! — respondeu «Myia» alegremente.

Naquele momento, uma quarta barra de HP apareceu abaixo das três já presentes no canto superior esquerdo da minha visão. Quando vi o número ao lado do nome «MYIA», quase gritei "Whuzmeen?!" — uma abreviação de "O que isso significa?"

Atualmente, eu estava no nível 20, e Asuna no nível 19. Depois de nos separarmos no quinto andar, «Kizmel» nos passou e alcançou o nível 21 — e o nível de «Myia» era 23.

«Kizmel» era uma NPC de classe elite, cujas estatísticas eram mais altas do que as de outros NPCs ou mobs de mesmo nível, então a comparação não era direta, mas, pelo menos, isso significava que «Myia» tinha poder de batalha equivalente ao de «Kizmel».

Ainda bem que ela não suspeitou que eu matei «Cylon», pensei. Na verdade, a esse ritmo, vamos acabar com mais NPCs do que membros de equipe em breve.

Sentindo-me um pouco estranho e consciente de mim mesmo, caminhei pelo portão para o beco.



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