Volume 6
CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 10)
10
INFELIZMENTE, NÃO ENCONTRAMOS «THEANO» NO SUBSOLO da mansão do lorde.
E ela não foi a única que perdemos. Havia outra coisa — não uma pessoa, mas um objeto — que era incrivelmente importante, mas que também havia sumido do prédio.
Como Lorde «Cylon» estava morto — ou desaparecido, como diziam oficialmente por enquanto — a maioria dos servos também se foram, e a mansão nos recebeu em um estado de silêncio desolador. Nosso grupo de quatro pessoas seguiu primeiro para a entrada da dungeon no segundo andar do subsolo, mas «Theano» não estava lá, e a porta de mármore estava firmemente fechada, então fomos para fora procurar «Terro», o jardineiro.
Quando o encontramos em um canto do jardim, «Terro» se recusou a responder qualquer uma de nossas perguntas, alegando que não sabia ou não entendia — e não ficou claro se ele sequer se lembrava de Asuna e de mim. Mas quando «Myia», ainda usando a máscara de gás, exigiu que ele explicasse o que estava escondendo, o homem grandalhão abriu o jogo na hora.
No dia seguinte à morte de «Cylon» — na manhã de 2 de janeiro — «Theano» apareceu do nada e fez «Terro» ajudá-la a abrir a porta secreta nos fundos que levava ao labirinto subterrâneo. Desta vez, não me contive e gritei.
— Th’ellman?! — uma abreviação de "Que diabos, cara?!".
(N/SLAG: Th’ellman é uma abreviação de "What the hell, man?", que significa "Que diabos, cara?")
Uma porta dos fundos. Se isso existisse, então a chave para entrar na dungeon era completamente inútil. «Cylon» poderia simplesmente ter entrado e levado o cubo dourado ele mesmo. Fiquei tão chocado que me sentei, abraçando os joelhos.
Asuna se ajoelhou e sussurrou no meu ouvido.
— Dungeons geralmente não têm algum tipo de passagem ou porta secreta na última sala que você pode usar para sair?
A espadachim não tinha jogado um RPG antes de ficar presa no SAO, então, se até ela estava me provocando com esse conhecimento básico, eu tinha que aceitar. E, refletindo melhor, apenas alguém que já havia passado pela dungeon saberia sobre a porta secreta nos fundos, e dado que ela estava sob a mansão, isso deixaria apenas «Pithagrus» e «Theano»; e o primeiro estava morto. Eu havia passado por ela no beta, mas me lembrava de ser teletransportado de volta para a entrada depois de pegar o cubo dourado.
Pensando bem, havia usos muito frequentes de teletransporte no beta fora dos portões de teletransporte e da ativação do código de prevenção de assédio — mas parecia que quase todos foram removidos na versão oficial. Incluindo, é claro, o teletransporte para o «Black Iron Palace» quando você morria.
Foi com isso em mente que me levantei, me recompus e deixei que «Terro» nos guiasse até a porta dos fundos da dungeon. O homem grande usou sua força considerável para mover toda a base de uma estátua de pedra em um canto do jardim, revelando uma escada abaixo. Nós quatro descemos até a câmara final da dungeon, ignorando todos os enigmas, fantasmas e mobs bosses no processo.
Como eu esperava, não havia sinal de um cubo dourado ensanguentado ou da mãe de «Myia», «Theano». Saímos da mansão sem muito o que mostrar e paramos a cerca de dez metros de seus portões imponentes. O silêncio dominava o grupo.
— Devemos apenas encontrar um lugar tranquilo onde possamos reexaminar a situação? — Asuna sugeriu, com a concordância de «Kizmel» e «Myia». Eu estava com elas, é claro, mas sabia que dois jogadores e dois NPCs, três de nós encapuzados, chamariam atenção, e já tínhamos sido atacados dentro de uma casa trancada, então provavelmente não havia nenhum lugar seguro para ir na cidade.
— Talvez os assentos ao ar livre ao longo da estrada principal, com todo o tráfego, sejam menos propensos a nos expor a um ataque — sugeri, ponderando que seria melhor priorizarmos a visibilidade em favor da segurança.
Mas antes que Asuna pudesse dizer algo, foi «Kizmel» quem falou.
— Vocês — e «Myia» — ainda têm algum motivo para estar nesta cidade?
— Hã...? — Asuna e eu trocamos olhares, depois voltamos a olhar para «Kizmel».
Tínhamos planos aqui. Depois de fazer o que fosse possível sobre a missão, usaríamos o portão de teletransporte de «Stachion» para visitar o primeiro andar e mostrar a «Kizmel» a «Town of Beginnings». Mas, nesta situação, teríamos que estar preparados para um ataque enquanto fazíamos turismo — e seria certo arrastar «Myia» junto conosco?
— Bem... hum — gaguejei, o que foi o suficiente para «Kizmel» entender. Eu podia ver seu sorriso sob o capuz profundo.
Ela se voltou para minha parceira e disse.
— Asuna, fico realmente comovida por saber que vocês planejaram tantas coisas para fazermos juntos. Mas não posso simplesmente ignorar «Myia» e os Caídos que a ameaçam para sair em uma viagem turística. A antiga eu talvez não ligasse para os conflitos da humanidade... mas, assim como vocês dois me salvaram, agora eu quero salvar «Myia».
Asuna fechou os olhos lentamente e os abriu novamente com um sorriso que era incrivelmente gentil, até amoroso.
— Nossos planos podem esperar. Temos todo o tempo do mundo. Posso organizar outra coisa assim que resolvermos todos esses problemas. E tanto Kirito quanto eu não estamos nem um pouco dispostos a abandonar «Myia».
Ela pousou a mão no ombro de «Myia». Eu tinha certeza de que Asuna havia visto o nível da garota, mas ela não parecia estar enxergando a situação através dessa lente. E, por parte de «Myia», ela não dava muita importância à sua própria habilidade considerável.
Ela se curvou profundamente para nós.
— Obrigada... Não consigo imaginar onde minha mãe está agora ou o que ela está fazendo. Por favor, eu apreciaria sua ajuda.
— Mas é claro — respondeu «Kizmel» de imediato, antes de olhar para mim. — Agora, eu tenho uma sugestão... Por que não levamos «Myia» de volta ao castelo? Não há preocupação com os Caídos atacando-a lá, e encontraremos muitos lugares para relaxar e conversar abertamente.
— O quê?! — gritei.
Mas era verdade: se o Código Anti-Crime não fosse nos ajudar agora, então nenhum lugar seria mais seguro para nós do que o Castelo Galey. A única questão era se «Myia» concordaria em deixar sua casa em «Stachion» e viajar até lá...
Então expliquei sobre o Castelo Galey para «Myia». Atrás das lentes da máscara de gás, seus olhos estavam grandes e brilhantes. Rapidamente, as palavras saíram em um turbilhão.
— Claro que eu quero ver um castelo de elfos.
Deixamos «Stachion», pegando a rota curta de volta pela floresta, e usamos o estoque rapidamente diminuindo de Gotas de Villi em nossas solas para atravessar o Lago «Talpha». Ao atravessarmos o deserto da segunda área ao norte, encontramos outro cacto frutífero e fizemos uma breve pausa para colhê-lo. «Myia» tirou a máscara pela primeira vez em horas para comer e exclamou que nunca havia provado uma fruta tão deliciosa antes. «Kizmel» explicou orgulhosamente que um cacto só dá frutos por trinta minutos em todo o ano.
Os escorpiões gigantes da área do desfiladeiro eram tão resistentes como sempre, mas lidamos rapidamente com eles com a adição de não um, mas dois NPCs poderosos. O gamer dentro de mim queria apenas ficar ali e farmar por meia jornada, mas minha consciência me venceu, e eu sabia que não era certo usar uma garota de dez anos como ferramenta de power-leveling. Ainda assim, com o que ganhamos na dungeon da área sul ontem e o bônus de recompensa pela missão da "Chave de Ágata", cheguei ao nível 21, e Asuna alcançou o nível 20. «Kizmel» e «Myia» nos aplaudiram quando isso aconteceu.
✗✗✗
Poucos minutos após uma hora, chegamos ao desfiladeiro logo antes do Castelo Galey.
— Ooooh...! — maravilhou-se «Myia» ao ver o castelo imponente à distância. Ela não saía de «Stachion» havia dez anos, então a maravilha de ver o majestoso edifício dos elfos negros deve ter sido muito maior do que quando vi o Castelo Kawagoe no mundo real. Por sinal, o Castelo Kawagoe nem sequer tinha torres, então seu perfil era bem menos impressionante.
Algum tempo atrás, eu teria me perguntado "O que realmente significa um senso de maravilha para um NPC?", mas minha visão dos NPCs (das IAs em geral) havia sido atualizada muitas vezes nos últimos dias. Eu não podia simplesmente assumir que apenas «Kizmel» e o Visconde «Yofilis» eram NPCs especiais acima dos outros.
À medida que nos aproximávamos do castelo pela ponte de pedra que aparentemente já foi um aqueduto, os sinos começaram a tocar, e os pesados portões começaram a se abrir. Só então me ocorreu que «Myia» era humana e não havia aceitado nenhuma missão dos elfos negros, mas os guardas não pareceram interessados em abordá-la, talvez por causa da presença de «Kizmel». Fiz uma anotação mental para perguntar sobre conseguir para a garota outro dos anéis com o sigilo enquanto atravessávamos os portões semiabertos.
«Myia» exclamou de novo ao olhar para os vastos ramos da árvore espiritual e o castelo que se erguia atrás dela. O Castelo Galey se estendia em um arco ao longo do penhasco curvo, o que tinha que ser uma mudança encantadora em comparação com «Stachion» e todos os seus ângulos retos implacáveis. Assim que tudo isso acabasse, poderíamos levá-la para ver «Karluin» no quinto andar, o Castelo Yofel no quarto e «Zumfut» no terceiro. Enquanto isso, «Kizmel» baixou o capuz da Capa Folha Verde e disse.
— Vamos conversar no seu quarto, Asuna? Ou no salão de jantar?
A espadachim baixou o próprio capuz e disse.
— No banho.
Eu sabia que não tinha o direito de recusar, e minha única esperança de escapar disso era a pequena «Myia», que aceitou felizmente, então não tive escolha a não ser seguir as três mulheres. Usamos as escadas da ala oeste para descer ao subsolo e chegamos aos vestiários masculinos e femininos. Aborrecido, decidi que não vestiria um par de calções de banho para me defender, só para contrariá-las, e fui para a fonte termal na parte rebaixada sob as raízes pendentes da árvore espiritual.
Assim que afundei na água quente e turva até os ombros, deixei escapar sem querer um suspiro de êxtase. Eu odiava admitir, mas depois de marchar até «Stachion» e voltar, e de todas as lutas naquele desfiladeiro empoeirado, um bom banho quente era insuperável. Recostei-me contra as raízes da fonte e fechei os olhos, deixando minha mente relaxar e se expandir. No mundo real, adormecer em um banho quente te colocaria em risco de desidratação ou afogamento. Mas no mundo virtual... bem, se você adormecesse e afundasse na água aqui, provavelmente acabaria com o status de afogamento e perderia um pouco de HP. E ainda assim, era impossível resistir ao prazer de todos os meus músculos relaxando em meio ao cheiro agradável e amadeirado das plantas...
— Será que ele ainda está lá? — disse uma voz não muito longe, mas eu estava cerca de 70% a caminho de dormir e não reagi no momento.
— Deve ter várias coisas para preparar — disse outra voz.
Então a primeira voz disse.
— Não consigo imaginar o que ele possivelmente precisaria preparar... Mas de qualquer forma, vamos esperá-lo perto das raízes. Ontem, encontrei uma concavidade nelas que parecia quase uma poltrona...
De repente, algo macio se acomodou em cima de mim. Nenhuma quantidade de serenidade poderia me impedir de reagir a isso, no entanto.
— Hwhoa—?!
Demorou mais de dois minutos para desfazer a crise que se seguiu a partir disso.
— Eu poderia jurar que tínhamos um acordo de ficar em lados opostos da linha central — disse uma voz tão irritada que eu praticamente podia visualizar o vapor saindo dela.
Sem esperança de vencer, argumentei.
— Mas achei que essa posição do assento estava bem na linha divisória...
— Não! Você estava quase quatro centímetros do lado das mulheres no banho! — afirmou Asuna. Ela estava sentada no pequeno espaço de casulo que roubou de mim, com «Myia» descansando em seu colo. «Kizmel» estava sentada em uma raiz grossa ali perto, mas o vapor do banho era tão denso que eu não conseguia nem ver suas silhuetas. A única razão pela qual eu sabia onde as garotas estavam era pelos cursores verdes e amarelos.
— E, além disso, se você já está na água, deveria ao menos nos avisar. Quando você está se escondendo desse jeito, é claro que vou presumir que tem algo maldoso em mente — Asuna continuou, ainda irritada.
«Myia» comentou inocentemente.
— Achei que você e Kirito eram irmãos ou namorados.
— N-Não, você está errada! Ele é apenas um membro do grupo... er, um parceiro, ou ajudante, ou assistente, ou algo assim! — Asuna protestou com uma estranha dificuldade.
Curiosamente, eu me perguntava se «Myia» pensava que eu era o irmão mais velho ou que Asuna era a irmã mais velha. Dado o preço do NerveGear e a dificuldade de comprar uma cópia de SAO no lançamento, parecia improvável que Asuna tivesse menos de quatorze anos, e seu vasto conhecimento e ar de autoridade lhe davam um ar de irmã mais velha. Mas, de vez em quando, ela mostrava um vislumbre de infantilidade que tornava mais difícil dizer. Em todo caso, assistente era uma palavra cruel. Talvez ajudante realmente fosse um termo mais apropriado...
Meus pensamentos estavam começando a vagar quando fui trazido de volta à realidade pela voz animada e divertida de «Kizmel», que reverberou na superfície da água.
— Ha-ha-ha… Estou ao seu lado há bastante tempo, e mesmo eu tenho dificuldade em entender a natureza exata da sua relação. Vocês parecem agir com uma mente só na batalha, mas brigam três vezes ao dia. Esse foi o segundo, a propósito.
— O quê? Não, só brigamos uma vez.
— Você estava zangada com Kirito por ele ter voltado para o quarto depois de dar uma volta esta manhã, não estava?
— Ah, aquilo não foi uma briga. Eu só estava dando um aviso.
Se for para separar desse jeito, eu nem consigo me lembrar de estar zangado ou chateado com Asuna, então nenhuma dessas conta como briga. Claro, parte disso é porque eu sempre sou o que estraga tudo.
De qualquer forma, se eu continuasse ouvindo a conversa, meus nervos me transformariam em uma esponja seca, então tossi e chamei do outro lado das raízes.
— Então, uh, vamos falar sobre o que fazer?
Houve um pequeno barulho de água, e eu estava bem ciente de que três pessoas estavam focando sua atenção em mim.
— Suponho que sim. Mas sinto que não temos muitos fatos concretos para trabalhar — Asuna disse, então decidi listar o que sabíamos, algo que estava organizando e refletindo durante a viagem ao castelo.
— Vamos olhar isso em ordem cronológica. Primeiro, há dez anos, antes de o incidente começar: o lorde de «Stachion» era «Pithagrus», o gênio e chamado rei dos enigmas, enquanto seu principal aprendiz, «Cylon», e a criada «Theano» viviam em sua mansão. Naquela época, «Cylon» e «Theano» eram amantes...
— Será que «Pithagrus» sabia disso? — Asuna murmurou.
— Não — «Myia» interrompeu — Minha mãe não falava muito sobre seu tempo vivendo na mansão do lorde, mas ela disse que ninguém mais sabia sobre ela e meu pai.
— Ah, entendo...
— E pouco antes do incidente, estou supondo, «Theano» ficou grávida de «Myia» — eu disse, tentando ser o mais maduro possível ao falar sobre o conceito de gravidez. Mas isso me fez questionar, por curiosidade, como o sistema do jogo lidava com o conceito de bebês e nascimento. Então mudei de ideia, percebendo que os NPCs não teriam filhos por conta própria. Afinal, esse caso de assassinato de dez anos atrás não era um evento real que aconteceu em Aincrad; era apenas uma série de memórias dadas a esses NPCs para construir a história para o jogador... eu achava. Estava quase certo.
Tossi e continuei.
— Então... um dia, dez anos atrás, «Pithagrus» disse a «Cylon» que estava escolhendo outro aprendiz para ser seu sucessor, e, em um acesso de raiva, «Cylon» matou «Pithagrus» com o cubo dourado que é o símbolo do lorde da cidade. «Theano», que presenciou tudo, não conseguiu se forçar a acusar publicamente «Cylon», seu amante e o pai de sua filha ainda não nascida, de assassinato. Enquanto «Cylon» estava fora da sala, ela entrou e retirou o cubo dourado e a chave dourada. Ela trancou o cubo na dungeon abaixo da mansão e escondeu a chave na segunda casa secreta de «Pithagrus», em uma cidade próxima. Depois, deixou seu emprego na mansão.
Eu já tinha explicado tudo isso para Asuna em várias ocasiões, mas tinha conhecimento da fase beta que poderia estar preenchendo lacunas onde os detalhes tinham mudado na versão oficial. «Myia», no entanto, não me corrigiu em nenhum momento, o que me dizia que eu estava com os detalhes gerais corretos.
— Depois que «Pithagrus» foi morto, um enigma amaldiçoado apareceu na cidade de «Stachion» a cada dia. «Theano» voltou para sua casa original, focou-se em criar «Myia» e esperou que «Cylon» viesse até ela e confessasse o seu crime. Mas «Cylon» inventou um viajante fictício que havia sido morto, assumiu a posição de lorde e pediu a qualquer aventureiro que viesse à mansão para procurar o cubo dourado. Após dez anos, Asuna e eu aparecemos e fomos à casa separada em «Suribus» a pedido de «Cylon», onde encontramos a chave dourada.
Isso fazia parecer que éramos simplesmente muito melhores do que qualquer outra pessoa que tentou, mas era inevitável, pois era assim que a história da missão estava configurada. O problema era a próxima parte.
— Então «Cylon» apareceu, nos paralisou com gás venenoso, roubou a chave e fez «Terro» nos ajudar a voltar para «Stachion». Mas, no caminho, ladrões atacaram e mataram «Cylon». «Terro» fugiu sozinho para «Stachion», visitou a casa de «Theano» e explicou o que havia acontecido. Na manhã seguinte, «Theano» deixou uma nota para «Myia» e a chave de ferro que ela sempre carregava, entrou na dungeon abaixo da mansão por uma porta secreta nos fundos, pegou o cubo dourado e desapareceu. Naquela mesma noite, um ladrão entrou na casa de «Myia», tentando roubar a chave de ferro, mas falhou... Acho que tenho tudo certo — terminei.
Do outro lado da água fumegante, ouvi Asuna gemer.
— Hrrrmmm... Juntar tudo isso levanta mais perguntas do que respostas, eu acho. Principalmente sobre «Theano»... Eu simplesmente não entendo por que ela deixaria a chave de ferro na casa dela. «Cylon» e «Theano» viveram separados por dez anos, mas mantiveram as chaves como lembrança do relacionamento durante todo esse tempo. Eu presumiria que fosse algo muito precioso para «Theano»...
— Ha-ha. Você tem as opiniões mais românticas, Asuna — «Kizmel» riu, provocando uma defesa apressada de Asuna.
— Eu—eu não quero dizer desse jeito. Estou apenas sendo realista e racional sobre isso...
Pessoalmente, eu estava mais preocupado com o fato de «Kizmel» ter realmente usado a palavra inglesa romantic — provavelmente um exemplo do vocabulário de Asuna a influenciando —, mas era uma pergunta razoável. Considerando que as chaves se atraíam e poderiam levar o assassino de «Cylon» diretamente à outra, era muito perigoso deixá-la com «Myia». E agora já haviam vindo atrás da chave duas vezes. «Myia» podia ter recebido o excelente treinamento com espada de «Theano», mas isso não parecia uma boa razão para expor sua própria filha ao perigo.
— A propósito — perguntei do outro lado da parede de raízes —, onde está a chave da sua mãe agora, «Myia»?
— Está ao redor do meu pescoço — ela disse.
— Ah, isso é bom.
Eu soltei o ar. Era impossível para os elfos caídos entrarem neste castelo, mas também era um pouco assustador pensar na chave sendo deixada sozinha na sala de trocas de roupa.
— E onde está sua chave, Kirito? — ela perguntou.
Eu ia dizer que estava "no meu inventário", mas percebi que não podia.
— Está, uh, no meu Livro de Escrita Mística.
Esse era o termo élfico para isso, mas, felizmente, «Myia» pareceu entender.
— Ah, você quer dizer aquele amuleto antigo que só os aventureiros podem usar.
Ooooh, entendi, pensei. Então, outro pensamento me ocorreu, e eu perguntei à garota.
— Ei, está tudo bem para você que eu esteja com essa chave? Essa era a chave de «Cylon», seu pai, então você não deveria ter as duas...?
— Não — ela respondeu sem hesitar por um instante. — Se não for incômodo, quero que você fique com ela. Acho que há um motivo para haver duas chaves e para que cada um dos meus pais tenha ficado com uma. Acho que é melhor mantê-las separadas, até descobrirmos o uso correto delas.
— Ah...ok.
Para uma garota de dez anos, ela tinha uma cabeça muito boa. Mas seria apropriado pensar sobre uma NPC nesses termos?
Nesse momento, houve o som de água espirrando — literalmente, eu estava certo — e Asuna disse.
— Então, se não sabemos onde usar as duas chaves, e não sabemos por que «Theano» tirou o cubo dourado da mansão, estamos meio que presos. Eu não tenho ideia de para onde devemos ir e o que devemos fazer agora.
— Sobre isso — disse «Kizmel», que finalmente quebrou seu silêncio. Sua voz ecoou suavemente nas rochas. — Por que não mostramos as chaves ao contador de histórias? Está claro que elas estão sob algum tipo de encanto mágico. Não sou uma especialista, mas o contador de histórias talvez possa nos dizer algo. E, se não me engano, Kirito e Asuna, vocês queriam perguntar ao ancião como se defender contra o veneno do dragão maligno, certo?
✗✗✗
Assim que terminamos nas termas e nos encontramos na sala de estar, já eram duas horas. Nós quatro bebemos copos de água gelada juntos, depois seguimos para a biblioteca no terceiro andar da ala leste do castelo. Enquanto eu caminhava atrás de nossa guia, «Kizmel», e «Myia», que havia colocado sua máscara de gás novamente, me senti cheio de tanto excitação quanto preocupação.
Se obtivéssemos novas informações sobre as chaves de ferro, isso poderia nos impulsionar adiante nessa missão parada. Mas eu tinha quase certeza de que o contador de histórias mencionado por «Kizmel» era ninguém menos que «Bouhroum», o excêntrico velhote que encontrei no anel montanhoso externo logo de manhã. Eu não desgostava do velho maluco que amava bife, mas ainda não sabia como usar a habilidade de «Awakening» — que, na verdade, não era uma habilidade, mas uma modificação para a habilidade de «Meditation» — que eu havia me esforçado tanto para conseguir, e ele não me deu nem um pedacinho de hambúrguer. Tinha dificuldade em imaginá-lo nos dando respostas sinceras sobre as chaves.
E além disso, como eu deveria agir perto dele quando nos encontrássemos na biblioteca?
— Ei, Kirito — disse Asuna baixinho no meu ouvido. Olhei rapidamente em sua direção.
— O que foi?
— Quando você acha que «Qusack» vai voltar?
— Ah...
Até ela dizer isso, eu tinha completamente esquecido do outro grupo de jogadores. Meus olhos vagaram por um momento.
— Hum... eles disseram que iam fazer a missão da "Chave de Ágata" hoje, então pode ser que voltem só à noite... não, espera. Eles não podem pegar o atalho pelo Lago «Talpha», então precisam vir da área noroeste onde estamos, no sentido anti-horário, passando pelo oeste e depois pelo sul. É uma longa jornada... acho que vão passar a noite em «Goskai», no extremo sul, e voltar amanhã à tarde.
— Entendi. Então eles não vão encontrar «Myia» até esse ponto.
Finalmente, entendi o que estava preocupando Asuna. Conseguimos explicar a presença de «Kizmel» porque ela era nossa NPC guarda-costas para a linha de missões "Guerra Élfica". Mas era claramente anormal para uma NPC humana estar no Castelo Galey. Eu conseguia facilmente imaginar, dado seu status como especialista em missões, que Gindo faria todo tipo de perguntas para saciar sua curiosidade.
— Hmmm... Bem, acho que devemos inventar algum tipo de história que pareça natural o suficiente... — murmurei.
Mas Asuna franziu a testa.
— Eu não quero mentir para pessoas que realmente estão levando suas missões a sério, mas se descobrirem que a missão "Maldição de «Stachion»" ainda está em andamento, com certeza ficarão curiosos sobre isso.
— E se as coisas ficarem confusas, eles também podem acabar sendo alvos dos elfos caídos. Os Ladrões Desconhecidos em «Stachion» eram definitivamente mais fortes do que os soldados elfos caídos com os quais lidamos na campanha da "Guerra Élfica", e se eles usarem dardos de paralisia, serão ainda mais mortais. Dependendo das circunstâncias, talvez queiramos sair do castelo antes que eles voltem amanhã...
Por outro lado, precisávamos de um destino antes de partir. Sem nenhuma ideia sobre o paradeiro atual de «Theano» ou seu objetivo, nossa única esperança era o conhecimento e a avaliação de itens do velho «Bouhroum».
Um momento depois, «Kizmel» se virou rapidamente, sua longa capa girando.
— Esta é a biblioteca. O contador de histórias deve estar aqui dentro...
Ela abriu a pesada porta à esquerda do corredor. Um aroma começou a sair pela porta, como de material vegetal seco, mas não era desagradável.
Além da soleira, havia uma sala muito espaçosa, cheia de enormes estantes de livros que se estendiam até o teto. Eu estava imaginando uma biblioteca como aquelas das escolas, mas os tapetes carmesim correndo pelos corredores e as enormes pinturas a óleo nas paredes eram ainda mais luxuosos do que as decorações na casa secreta de «Pithagrus». Estendi a mão para uma das estantes polidas e ricamente decoradas para pegar um dos livros encadernados em couro, mas, como de costume, o conteúdo pertencia a algum texto de um país europeu e era completamente ilegível para mim.
Coloquei o livro de volta e apressei-me a seguir «Kizmel». Fizemos uma volta de 180 graus ao redor de um corredor e encontramos um pequeno espaço aberto do tamanho de uma sala à frente, com uma mesa, sofá e uma grande poltrona de descanso. O espaço parecia vazio a princípio, mas, à medida que nos aproximávamos, percebi que a poltrona, voltada para a parede oposta, estava emitindo um som estranho.
«Kizmel» e «Myia» pararam, então passei por elas para ver o que havia na poltrona. Dormindo pacificamente estava um velho com uma túnica preta, chapéu preto, longa barba branca e óculos redondos no nariz: ninguém menos que «Bouhroum», o autoproclamado sábio.
— Bem... parece que o contador de histórias está descansando agora. O que devemos fazer...? — «Kizmel» ponderou, parecendo preocupada. Eu dei uma olhada para ela, então agarrei o encosto da poltrona e comecei a balançá-la para frente e para trás.
— Oooouh...?! O que está acontecendo?! — gritou o velho imediatamente, saltando para cima. Ele então me viu, com os óculos tortos, e gritou de novo.
— V-Você! O garoto da batata! Por que está aqui?! Eu já disse — você não vai comer nenhuma das minhas fricatelle!
Um NPC dormindo no trabalho. Decepcionado, disse a ele.
— Eu não sou "garoto da batata" — meu nome é Kirito. E eu não estou aqui para comer fricatelle.
— Hrrmm...? — o velho resmungou, ajustando os óculos. Ele olhou ao redor e finalmente notou «Kizmel», Asuna e «Myia» de pé atrás de mim. Imediatamente, saltou ágil para seus pés, alisando a longa barba e limpando a garganta.
— Ahem! Ahhh-hem! Bela cavaleira de «Lyusula» e espadachim humana, como este velho pode ajudá-las?
Uau, essa não foi a recepção que eu recebi, não pude deixar de notar. Como as mulheres estavam muito surpresas para responder, decidi assumir o controle.
— Viemos porque precisamos da sua ajuda com algo, Vovô «Bouhroum». Eu esperava que você pudesse nos dizer algumas coisas.
Expliquei nosso encontro na manhã cedo da forma mais resumida possível, omitindo a câmara secreta e o hambúrguer, então entrei no meu inventário do jogo para pegar uma das chaves de ferro. Balancei-a diante dos olhos do velho e perguntei.
— Vovô, você sabe para que serve essa chave?
— Hmmm...? — «Bouhroum» pegou a chave, examinou-a de perto e inclinou seu chapéu pontudo para a direita. — Bem... parece ter um encanto estranho sobre ela, mas eu não a reconheço.
— Olhe mais de perto. Você é nossa única esperança agora, Vovô... quero dizer, Mestre Sábio.
— Ah, então você só me bajula com o "Mestre Sábio" quando precisa de algo — murmurou o velho, sentando-se novamente na poltrona. Ele olhou para as mulheres, que ainda pareciam surpresas, e gesticulou para o sofá com uma mão enrugada.
— Ah, perdoem-me por mantê-las de pé. Por favor, jovens damas, sentem-se. Há chá e algumas xícaras naquela mesa, garoto, vá e faça o serviço.
Decidi engolir minha reclamação e fui até a mesa. Se eu tivesse que moer as folhas inteiras, estaria além das minhas habilidades, mas, felizmente, o grande bule de vidro já estava cheio de um líquido marrom-avermelhado. Coloquei as quatro xícaras na bandeja de prata e cuidadosamente servir o chá, depois levei-o até a mesa baixa.
Coloquei uma xícara diante de cada uma das mulheres no sofá de três almofadas e comecei a levantar a quarta até meus lábios quando uma mão esticou-se da poltrona e a arrebatou. O velho tomou o chá ruidosamente e olhou da chave pendurada para o meu rosto.
— Você tem outra igual a essa, não tem?
— Uh, sim... Como você sabia?
Eu quase quis comentar que achava que ele era apenas um velho maluco que amava bife. No sofá, «Myia» silenciosamente puxou a outra chave de dentro de sua camisa e a entregou, sem emitir som algum de sua máscara de gás. O velho pegou a chave e a deixou pendurada para inspecioná-la.
— Hrrm, hrrm...
«Bouhroum» devolveu sua xícara de chá à mesa e aproximou a chave da minha. Um som agudo ecoou pelo teto alto da biblioteca, e, toda vez que as chaves ficavam diretamente uma de frente para a outra, elas tremiam como se estivessem vivas. O velho as empurrou ainda mais perto.
Sabe, acho que nunca realmente tentamos juntar as chaves. O que é engraçado, porque geralmente essas coisas não mostram sua verdadeira forma até que você as combine…
Mal tive esse pensamento, quando veio um flash prateado e um som de bzak!. As chaves voaram das nossas mãos e colidiram com a parede e a estante de livros. Nem eu, nem nenhuma das mulheres reagimos no momento. O único som veio do próprio «Bouhroum».
— Fwaaah?!
— Ei, foi você quem fez isso! — gritei, indo procurar a chave que havia voado da minha mão. Eu a vi bater na parede e quicar, mas depois disso... Provavelmente estava em algum lugar perto da mesa de chá no canto...
— Ah... encontrei.
A corrente havia se enroscado na chaleira alta. A outra chave voou em direção à estante, e Asuna se levantou para pegá-la entre as prateleiras. Ela a devolveu para «Myia» e, então, aparentemente já acostumada com a personalidade de «Bouhroum», finalmente o abordou da sua maneira habitual.
— Senhor «Bouhroum»... o que acabou de acontecer? Parecia que as chaves se repeliram...
— Ah, sim... Isso é porque elas realmente se repeliram. Há um encanto poderoso colocado nas chaves que impede que elas entrem em contato.
— Colocado...? — perguntei. — Em outras palavras, isso não existia até que alguém lançou o encanto sobre as chaves?
— Bem, obviamente — respondeu ele, três vezes mais rude comigo do que com Asuna.
Indiferente, insisti.
— Quem faria algo assim? E por quê?
— Como você espera que eu saiba isso? — resmungou ele, irritado.
Em seguida, foi a vez de «Kizmel»:
— Mas, Contador de Histórias, dizem que você é uma das maiores mentes de toda «Lyusula». Você não tem nenhuma dedução, nenhum palpite? Aceitaremos qualquer pista que puder nos dar neste momento.
— Isso eu posso fazer — admitiu «Bouhroum». Ele olhou para a chave em minha mão. — Pelo que posso ver, essas duas chaves foram originalmente feitas para serem combinadas antes do uso. A cabeça e os dentes das chaves são esculpidos para se alinharem perfeitamente.
— Hã? Sério...?
Olhei de uma chave para a outra, mas não conseguia perceber isso pela aparência delas. E não podia testar, porque elas se repeliam. Mas também não podia imaginar que o autoproclamado sábio inventaria algo do nada, então presumi que minha intuição de que elas se combinavam para assumir sua verdadeira forma não estava muito errada.
Nesse caso, se pudéssemos desfazer o encanto das chaves e combiná-las, poderíamos obter alguma nova pista ou informação.
— Desfaça o encanto, Vovô — disse rapidamente. Ele me lançou um olhar feroz.
— Não é tão simples. Eu acabei de te dizer que é um encanto poderoso... Suspeito que apenas quem colocou esse encanto pode desfazê-lo.
— Aww... então nos diga quem colocou o—
— Kaaaah! — ele interrompeu, fazendo o som familiar que ouvi várias vezes durante meu treinamento de «Awakening». Sem sair da cadeira, ele ergueu um punho na minha direção. — Só porque sou um grande e sábio erudito não significa que sei de tudo! Já disse tudo o que sei sobre essas chaves!
Ou que você sabe de alguma coisa, pensei em silêncio. Mais uma vez, considerei as chaves. Mesmo a sabedoria de «Bouhroum» não nos trouxe muitas novas percepções, mas, por outro lado... sem a interferência de Morte ao matar «Cylon», esse não era um item que estava oficialmente destinado a cair nas mãos dos jogadores. Então, não podia reclamar muito da falta de explicação.
Espero que o velho ao menos faça jus à sua reputação com o outro assunto sobre o qual queríamos ouvir — mas isso ainda estava por vir. Peguei o chá meio terminado de Asuna, bebi o restante e toquei no segundo tópico.
— A propósito, Vovô... gostaríamos de lhe perguntar sobre um dragão maligno chamado Shmargor…
✗✗✗
Dez minutos depois, saí da biblioteca sozinho. Asuna, «Kizmel» e «Myia» ficaram para treinar com o velho.
Nossa missão de perguntar sobre um meio de neutralizar os dardos envenenados dos elfos caídos foi um sucesso, embora de uma forma diferente do que eu esperava. «Bouhroum» não sabia como forjar o Escudo de Platina que o antigo herói «Selm» supostamente usou para se proteger dos espinhos de Shmargor, mas ele conseguiu sugerir um meio alternativo de saber. Na verdade, era por meio do uso da habilidade «Meditation».
O treinamento para «Meditation» não era tão difícil quanto quebrar rochas para as «Martial Arts».. Tudo o que você precisava fazer era manter a pose que ativava a habilidade por uma hora contínua. No beta, o local de meditação era no topo de um pilar com no máximo quinze centímetros de largura, então era difícil pegar o jeito.
Mas desta vez, quando as garotas sugeriram aprender a habilidade, o método de treinamento de «Bouhroum» era ficar imóvel por uma hora em cima de almofadas fofas e macias no chão. Eu não pude evitar gritar por causa disso. Mas não adiantava reclamar que — no beta era diferente. Eu queria observar esse treinamento alternativo, mas Asuna me expulsou do quarto, dizendo que era embaraçoso ter alguém assistindo.
Certamente, manter uma pose meditativa estilo Zen não era exatamente glamoroso ou fofo, mas, se você quisesse usá-la em combate, tinha que fazer essa pose, independentemente do local. Eu disse a ela que precisava se acostumar com a ideia de ser observada, mas ela me ignorou e me botou para fora da biblioteca.
Pelo menos eu sabia, dado o cenário confortável, que as três deveriam passar no teste na primeira tentativa. Parecia algo inédito que NPCs pudessem aprender Habilidades Extras, mas o nível para me surpreender tinha subido consideravelmente nos últimos dias. Nada mais iria realmente me chocar, a menos que alguém me dissesse que, por exemplo, «Kizmel» e «Myia» estavam sendo controladas por jogadores humanos.
Mas chega disso. Sacudi a cabeça para clareá-la e me dirigi às janelas do lado sul do corredor. Ainda não eram três horas, o que significava que a luz do sol enchendo o pátio do Castelo Galey começava a ganhar um leve tom dourado, mas ainda havia tempo até o pôr do sol. Queria usar essa hora extra de forma útil, mas não queria sair para treinar fora do castelo, no caso de Asuna perceber minha barra de HP diminuindo e se distrair com isso.
— Então, minhas opções são... cochilo ou lanche...
Três segundos depois, decidi pelo lanche. Meu estoque de doces estava meio vazio, mas provavelmente eu encontraria algo bom se fosse ao refeitório.
Caminhei pelo corredor oeste e fui ao segundo andar do edifício central. O refeitório estava bastante vazio, porque não era hora de refeição, mas, quando me sentei em um sofá ao longo da parede, um criado se aproximou imediatamente. Pedi o cardápio de sobremesas e escolhi uma torta de castanhas e nozes e um chá de ervas.
A torta era luxuosa, com castanhas doces cozidas, nozes perfumadas e uma porção generosa de creme suave e doce, e logo desapareceu no meu estômago virtual. Bebi o chá azedo e estava considerando pedir outra torta quando um forte desejo de dormir me atingiu como uma tonelada de tijolos.
De repente, lembrei que havia me forçado a acordar às duas da manhã, explorado os arredores do castelo e concluído o treinamento de «Awakening» de «Bouhroum» em sua pequena sala secreta. Depois disso, fui até «Stachion» e voltei logo em seguida. Após essa rotina pesada, não era de se admirar que, sentado em um sofá confortável e comendo um pedaço de bolo, eu ficasse sonolento. Tentei resistir, mas o peso sobre minhas pálpebras aumentava a cada piscar.
Faltariam mais trinta... não, quarenta minutos até o fim do treinamento de «Meditation» delas. Certamente eu podia tirar um cochilo até lá. Se fosse um restaurante no mundo real, uma garçonete severa já teria aparecido para perguntar se eu queria mais alguma coisa, mas certamente os mordomos elfos negros seriam gentis o suficiente para me deixar dormir…
✗✗✗
Clang... clang... clang.
O som agudo do sino me tirou de meu sono confortável.
Fiquei tenso no início, mas percebi que era apenas «Qusack» voltando de sua missão. Eu imaginava que seria amanhã, mas talvez eles tenham apenas corrido pelas etapas sem pausas ou missões secundárias pelo caminho.
Lá estava eu, ponderando essa ideia com os olhos fechados, meio adormecido — quando de repente a velocidade e a intensidade do toque aumentaram.
Clang-clang-clang-clang-clang!!