Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 6

CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 11)

11

EU SALTEI DO SOFÁ E CORRI ATRAVÉS DO SALÃO DE JANTAR ATÉ A PORTA, quase inteiramente no piloto automático.  

O ar frio do corredor ajudou a afastar o último abraço remanescente do sono. Eu me lancei em direção à janela do outro lado do corredor e olhei através do vidro para o pátio.  

A primeira coisa que vi foram os portões escancarados do castelo. Os flashes brancos intermitentes que eu via ocasionalmente vindos de lá eram definitivamente os efeitos visuais de uma batalha.  

Eu abri a janela, mal pensando no que estava fazendo, e o som de clangores agudos e gritos aumentou. Os servos reunidos na porta atrás de mim gritaram.  

Lutando do lado de dentro dos portões estavam os familiares guardas do castelo elfo negro contra um grupo de guerreiros vestidos de preto, com características semelhantes, mas que usavam máscaras que cobriam seus rostos. Eu semicerrei os olhos, focando no grupo, e vi um cursor vermelho brilhante aparecer com a legenda GUERREIRO ELFO CAÍDO.  

Elfos caídos!

Eu tive uma suspeita de que fossem eles quando os vi pela primeira vez, mas ver isso confirmado oficialmente pelo sistema tornou o choque ainda maior. Eles já haviam liderado pequenos ataques e emboscadas no deserto e em dungeons antes, mas nenhum ataque em grande escala como este. Eles sempre se mantiveram nas sombras, nos bastidores da luta entre os elfos da floresta e os elfos negros. Então, por que eles liderariam uma invasão direta ao Castelo Galey, talvez a fortaleza mais bem defendida dos elfos negros? Como eles conseguiram que os guardas abrissem os portões? E eu pensei que os elfos não deveriam ser capazes de atravessar aquele vale árido sem ajuda…

As perguntas vinham rápidas e intensas, mas elas não iam se responder sozinhas se eu ficasse aqui parado só observando. Eu precisava tomar uma decisão sobre o que fazer.

Por enquanto, a invasão parecia restrita à área entre os portões do castelo e a fonte da árvore espiritual. Contudo, a cada momento, mais elfos Caídos atravessavam os portões escancarados. Devia haver uns vinte agora, talvez trinta. Guardas adicionais corriam do palácio para reforçar a defesa, mas os Caídos, individualmente, pareciam muito mais poderosos. Eu tinha a forte impressão de que confiar apenas nos guardas para proteger o castelo talvez não fosse uma boa ideia.

Mas minha maior prioridade neste momento eram as vidas de Asuna, «Kizmel» e «Myia».  

Trabalhando a partir dessa conclusão, eu supus que deveríamos tentar fugir do castelo enquanto os guardas ainda estavam contendo os elfos caídos. Por outro lado, a orgulhosa cavaleira «Kizmel» nunca fugiria e abandonaria seus camaradas, e Asuna certamente iria querer lutar ao lado de «Kizmel».  

De qualquer forma, o primeiro passo era nos reagrupamos na biblioteca.

Eu me afastei da janela e comecei a correr.  

— Ah…! — ouvi meu próprio suspiro.  

Os guardas elfos negros que lutavam na linha de defesa do pátio vacilaram, três deles caindo de uma vez. Seus cursores mostravam que seus pontos de vida ainda estavam acima da metade. Eu fiquei espantado, até notar um certo ícone ameaçador piscando abaixo das barras. Paralisia.  

A certa distância, ao longo das paredes laterais do castelo, um grupo de elfos inimigos rotulados como BATEDOR ELFO CAÍDO estava atirando algo nos guardas. Eu não conseguia ver daqui, mas entendia instintivamente que eram aquelas dardos venenosos de novo.  

Os guardas elfos negros usavam armaduras de metal, mas não eram de placa completa. Grande parte de seus braços e pernas estava desprotegida, o que os tornava alvos fáceis.  

O buraco na linha de defesa foi preenchido por novos guardas, e os feridos foram retirados para a segurança, mas estava claro que, se muitos mais fossem paralisados, a linha rapidamente desmoronaria.  

Reagrupar com Asuna ou correr para ajudar os guardas? Eu mesmo estava paralisado de indecisão por um momento, até que finalmente respirei fundo e entrei em ação.  

Eu abri minha janela e me sentei no chão do corredor. Primeiro, enviei uma breve (possivelmente desnecessária) mensagem para Asuna: TERMINE O TREINAMENTO, depois cruzei as pernas na posição de lótus Zen. Na meditação Zen real, eu deveria formar um símbolo elíptico com as mãos, mas neste mundo, eu simplesmente tinha que esticar todos os dedos e colocar as palmas das mãos sobre meus pés virados para cima. Esta era a pose de ativação da habilidade «Meditation».  

No beta, você precisava manter essa pose por sessenta segundos completos antes que o buff fosse ativado. Como era impossível alcançar esse tempo uma vez que a batalha começava, a habilidade foi rapidamente considerada inútil. No entanto, agora eu a tinha no nível 500, o que provavelmente reduzia significativamente o tempo de pré-ativação. 

Por favor, que eu esteja certo sobre isso! Eu rezei. O sistema, é claro, não respondeu, mas quando contei silenciosamente até vinte, um ícone que eu não via há vários meses apareceu na minha barra de HP. Era a silhueta de uma pessoa em posição de meditação: o buff «Meditation».  

Se eu fosse acreditar no que «Bouhroum» disse, esse buff poderia anular veneno paralisante de nível 2. Se não anulasse, isso seria uma péssima notícia para mim, mas se eu ficasse aqui assistindo, o mesmo aconteceria de qualquer maneira. Tudo o que eu podia fazer era confiar no velho e agir.  

Eu desfiz a posição de lótus, me levantei e ordenei aos servos atrás de mim.

— Vão ao depósito e tragam todas as poções de cura e antídotos que puderem para o pátio!  

A maioria dos servos recuou em direção ao salão de jantar, parecendo apavorada, mas a mais velha de todas disse corajosamente.

— Entendido. Vamos, vocês, depressa! — e levantou sua longa saia para correr em direção à ala leste. Seus colegas mais jovens, devidamente repreendidos, trocaram um olhar breve antes de correrem atrás dela.  

Eu comecei a correr sem olhar para trás. Eu adoraria pular no pátio pela janela, mas os BATEDOR ELFO CAÍDO me veriam. Eu queria pegar pelo menos um de surpresa.  

Corri para o fim da ala oeste, enviando uma segunda mensagem para Asuna ao mesmo tempo. CERTIFIQUEM-SE DE QUE TODOS VOCÊS TRÊS TENHAM O BUFF MED ANTES DE DESCEREM PARA O PÁTIO, enviei, rápido demais para corrigir meus erros de digitação. Com base no tempo atual, haviam se passado cerca de cinquenta e cinco minutos desde que eles começaram o treinamento de «Meditation».  

Se o treinamento tivesse terminado no momento em que o sino começou a soar, então nenhuma dessas instruções importava, mas o fato de não ter havido resposta era um sinal de que o treinamento ainda continuava — presumi. Eu tinha a sensação de que a questão de se o grupo de Asuna adquiriu ou não a habilidade de «Meditation», e se eles poderiam utilizá-la a tempo da luta ou não, seria a chave para a vitória ou derrota.  

Continuei correndo do edifício principal para a ala oeste, pulando dez degraus de cada vez, quando de repente ouvi uma lembrança da voz da minha parceira na minha cabeça.

"Você não vai correr sem me avisar de novo! Você deve ficar ao alcance da minha vista por vinte e quatro horas. Entendido?!"

Isso foi três dias atrás... depois que conversamos com os oficiais da DKB no quarto da estalagem em «Stachion». Eu obedeci à ordem dela desde então, exceto por situações inevitáveis como o vestiário da fonte termal, mas presumi que o Castelo Galey era seguro e aparentemente baixei minha guarda. Asuna me disse para não vê-las treinando, mas havia todas aquelas estantes de livros na biblioteca. Eu poderia ter simplesmente esperado ao redor de uma delas.  

E bem naquela hora de relaxamento, como se fosse cronometrado, os elfos caídos atacaram. Foi uma coincidência, claro, mas parecia um sinal. Acelerei o passo, tentando superar minha apreensão, e passei disparado pela porta lateral no fim do primeiro andar da ala oeste.  

Tive que frear, por mais tentador que fosse arrombar a porta e invadir correndo. Em vez disso, abri-a com cautela, verificando se havia inimigos por perto. A porta lateral ficava bem próxima à parede interna, e se eu me movesse ao longo dela, logo alcançaria os Caídos que lançavam dardos envenenados. O problema era que ainda eram apenas três e meia da tarde, e a luz do dia oferecia pouca cobertura para ocultar minha aproximação.

Eu não podia esperar até o anoitecer para me esconder, obviamente. Eu só tinha que sacar minha espada e sair para campo aberto.  

Uma parede de som me atingiu lá fora, espadas se chocando e gritos de combate e raiva. Eu me curvei contra o barulho e corri ao longo da parede à minha direita.  

O círculo oco que envolvia inteiramente o Castelo Galey tinha pouco mais de duzentos metros de diâmetro, e a fonte que alimentava a árvore espiritual no meio de seu terreno tinha cerca de trinta metros de largura, então isso dava uns oitenta metros do muro do castelo até a fonte termal. A linha defensiva dos guardas do castelo já havia sido empurrada para mais da metade do caminho. Se eles conseguissem invadir o castelo, seria muito difícil impedir os Caídos de chegarem à sala do tesouro no quarto andar do edifício principal do castelo, onde as quatro chaves sagradas estavam atualmente guardadas.

Tínhamos que detê-los no pátio. E eliminar os BATEDOR ELFO CAÍDO que estavam jogando suas agulhas paralisantes era essencial.  

Assim que vi o primeiro Caído à minha frente, deixei de andar agachado e silencioso para uma corrida total. O Caído me percebeu e se virou, usando uma máscara com apenas buracos para os olhos. Ele puxou um dardo preto de seu cinto e preparou o braço para atacar.

Quando vi o brilho do dardo arremessada, uma memória de três noites atrás veio à minha mente. A sensação de estar indefeso no chão, incapaz de mover um dedo, olhando para cima enquanto Morte se aproximava, transformou-se em um líquido mais frio que gelo, correndo pelas minhas veias.  

Mas eu cerrei os dentes, suportando o medo, e ergui a minha «Sword of Eventide».  

A mão do BATEDOR ELFO CAÍDO se moveu rapidamente. Um Espinho de Shmargor, coberto com veneno paralisante de nível 2, veio em direção ao meu peito, sibilando suavemente. Era tarde demais para desviar ou me defender.  

Se o meu buff de «Meditation» não protegesse contra essa paralisia, eu cairia indefeso no chão em meio a uma batalha caótica.  

Houve um leve impacto abaixo da minha clavícula esquerda. Uma mancha escura apareceu no canto inferior do meu campo de visão. Mas eu desliguei meu sentido de toque e visão, focando toda a minha mente na espada em minha mão.  

A lâmina brilhou em azul. A mão invisível da assistência do sistema empurrou meu corpo.  

Sem paralisia!  

— Vai! — gritei, a palavra presa atrás dos lábios fechados, e ativei a habilidade de golpe quádruplo, «Vertical Square».  

Os olhos do Caído se arregalaram um pouco quando ele percebeu que eu não estava paralisado. Ele alcançou uma adaga atrás de sua cintura, mas já era tarde demais. Meu primeiro golpe atingiu o ombro esquerdo, deixando uma linha vertical brilhante no ar.  

Em um único momento, minha espada ricocheteou para cima, completando golpes para baixo e para cima, deixando efeitos visuais paralelos da cabeça aos pés. Esses três golpes tiraram quase 60% do HP do Caído.

Então, minha espada voltou à posição original e arqueou ainda mais, quase até minhas costas, antes de desferir o devastador quarto golpe. Mais uma vez, senti o cabo da «Sword of Eventide» tremendo na palma da minha mão. Mas, em vez de lutar contra a vontade da espada, acrescentei uma força extra ao curso ajustado.  

Zumm!

A lâmina aprimorada pelos elfos cravou-se pesadamente no peito do BATEDOR ELFO CAÍDO. O golpe crítico no ponto fraco obliterou os 40% restantes. O quadrado completo de luz azul brilhou mais forte e se dispersou, e, um momento depois, o corpo do Caído se desfez em inúmeros pedaços também.  

Eu já havia matado mais de dez elfos caídos desde o início da campanha de missão "Guerra dos Elfos". Era uma questão simples, claro, já que eu precisava fazer isso para completar as missões — ou assim eu sempre presumi, mas isso provavelmente ainda contava como uma espécie de assassinato.  

De qualquer forma, eu não podia parar agora. Eu estava ajudando os elfos negros, e precisava proteger Asuna, «Kizmel» e «Myia» de qualquer dano. Asuna tratava os NPCs como se fossem ainda mais humanos do que eu, e ela não hesitaria em lutar contra os Caídos.  

Através dos polígonos que se dissolviam no ar, vi os outros dois BATEDOR ELFO CAÍDO arremessando suas agulhas nos guardas do outro lado dos portões do castelo. Não podia imaginar que eles não tivessem notado meu ataque, mas, por enquanto, eles priorizavam ajudar seus camaradas que lutavam mais adiante.  

Por um instante, olhei para a esquerda e vi que agora havia ligeiramente mais cursores vermelhos de Guerreiros Elfos Caídos do que cursores amarelos dos guardas do castelo.  

...?!  

Antes que meu olhar voltasse para os dois Elfos Caídos, notei algo e semicerrei os olhos.  

Os combatentes elfos caídos, todos vestidos de preto e lutando de costas para mim, tinham algo estranho preso aos cintos de suas espadas. Eram hastes estreitas com fragmentos brilhantemente verdes de algo amarrado no topo... Não, aqueles não eram objetos artificiais. Eram galhos de árvores.  

Os galhos tinham cerca de um terço de metro de comprimento, com folhas nas pontas, como se tivessem sido quebrados de qualquer árvore próxima. Eu não pensaria duas vezes se visse qualquer jogador carregando a mesma coisa por aí.  

Mas o fato de esses serem elfos caídos mudava a situação. Eles, como todos os elfos, não podiam ferir árvores vivas. Lembrei-me do General «N’ltzahh» dizendo isso na dungeon submersa no quarto andar, onde os elfos caídos estavam comprando madeira secretamente dos humanos.

Há muito tempo que fomos afastados da bênção da Árvore Sagrada, ainda estamos presos aos tabus da raça élfica.

O segredo de como os Caídos haviam se movido pelos cânions provavelmente — não, definitivamente — estava contido nesses galhos. Seja como for que eles tivessem contornado o tabu, parecia que estavam sendo protegidos por uma espécie de barreira pessoal emitida pelos galhos. O que significava que o próximo movimento deles provavelmente seria...  

— Gaaah!  

Um grito vindo do pátio me distraiu. Um guarda elfo negro na linha de frente do combate caiu no chão, abatido pela lâmina curva de um Guerreiro Elfo Caído. Antes que seus companheiros pudessem alcançá-lo, seu corpo se transformou em fragmentos azuis e desapareceu.  

— Droga...! — amaldiçoei, afastando o mistério dos galhos da minha mente. Nossa prioridade era virar a maré da batalha. Meu buff de Meditation eventualmente se dissiparia. Eu tinha que eliminar os outros dois Elfos Caídos antes que isso acontecesse.

Mudei a espada para a minha mão esquerda e puxei a agulha paralisante presa sob minha clavícula. Ela ainda estava utilizável, então a preparei e a arremessei em direção a um dos Caídos localizados perto da torre do portão direito.  

Até eu usar «Meditation» no meu quinto slot de habilidade, estava considerando colocar «Throwing Knives» lá. Felizmente, mesmo sem essa habilidade ativa, a agulha conseguiu acertar a perna esquerda do Elfo Caído, que era um alvo fixo. Ele parecia não ter defesa contra a paralisia, e desabou sem emitir som algum depois que uma borda verde apareceu ao redor de seu cursor. O outro correu para dar uma poção ao seu parceiro, mas eu já estava avançando a toda velocidade novamente.  

O último Caído desistiu de curar seu parceiro e preparou uma adaga. Dei-lhe um simples golpe alto. Ele evitou com um passo para trás, em vez de bloquear, mas eu já esperava isso. Quando congelei brevemente após o meu grande movimento, o Elfo Caído avançou habilmente e lançou sua adaga em minha direção.  

Esse golpe feroz era bem mais afiado do que qualquer outro que eu tinha visto dos Caídos até então, mas eu já estava me aproximando de seu alcance para poder realizar o «Senda», a habilidade de «Martial Arts» básica que usei contra Morte.  

A adaga roçou meu ombro direito enquanto meu punho esquerdo atingia seu lado. Os algoritmos dos NPCs e mobs, intencionais ou não, tinham o hábito de reagir um pouco mais devagar ao uso repentino de um tipo diferente de habilidade de ataque.  

— Uugh...  

O dano do «Senda» não era grande coisa, mas o Caído grunhiu e congelou. Esta seria a minha chance de usar uma habilidade de espada... mas, em vez disso, alcancei as costas dele com minha mão livre. Como eu esperava, meus dedos tocaram algo que parecia um galho de árvore. Eu o agarrei e puxei de seu cinto.  

Eu não esperava que isso fizesse o elfo caído colapsar imediatamente. Afinal, estávamos no pátio, sob a proteção da árvore espiritual. Eles não precisariam do galho a menos que voltassem para fora do portão.  

Mas os olhos do Caído se arregalaram atrás da máscara, e ele gritou roucamente.

— Devolva!  

Antes que ele pudesse se lançar para recuperá-lo, coloquei a ponta da «Sword of Eventide» na garganta do elfo e exigi.

— Como você conseguiu este galho?!  

— Isso não é da sua conta, humano! — o elfo cuspiu, baixando sua arma em favor do diálogo. Havia fogo de ódio em seus olhos. — E que negócios sua espécie tem nesta luta?! A inimizade entre elfos não diz respeito aos humanos!!  

— Sua espécie...? — repeti, sentindo algo errado nisso. Olhei ao redor — mas a única figura próxima era o terceiro Caído, paralisado. Asuna e «Myia» não tinham se juntado à batalha.  

O Elfo Caído estalou a língua, irritado por aparentemente ter falado demais. Ele saltou para trás para se afastar da ponta da minha espada e preparou sua adaga novamente. Percebendo que eu não obteria mais informações dele, ergui o galho com a mão livre. No momento em que seu olhar subiu para segui-lo, eu o joguei para o lado e avancei.  

O Caído olhou de volta, mas isso foi o suficiente para atrasar sua reação. Aproveitei para usar a habilidade de três golpes de curto alcance «Sharp Nail». Três cortes de luz vermelha, como as garras de uma besta feroz, brilharam no peito do Caído, e ele foi lançado para trás, batendo contra a parede do castelo. Quando ele ricocheteou de volta para mim, adicionei o golpe único «Horizontal».  

Seu torso foi cortado ao meio, e o Elfo Caído parou suspenso no ar, de forma antinatural, antes de se desvanecer em fragmentos. Enquanto as partículas se espalhavam ao meu redor, virei-me e corri.

O Caído, que estava paralisado, exibia outro galho em suas costas. A paralisia não parecia próxima de se dissipar, mas o olho visível sob aquele ângulo lançava um olhar mais penetrante do que qualquer agulha arremessada.

Ele eventualmente se recuperaria, então eu não podia simplesmente deixá-lo de lado. Se eu apenas perfurasse seu coração enquanto ele estava imóvel, o dano contínuo da perfuração seria suficiente para matá-lo.  

No entanto, me impedi de erguer a espada ainda mais. Talvez fosse uma obsessão inútil, talvez até uma emoção prejudicial, mas eu simplesmente não conseguia me forçar a executar um inimigo indefeso como se fosse um tipo de inseto.  

O Caído tinha bolsos para agulhas de arremesso em ambos os lados de seu cinto de couro, e havia quase dez Espinhos de Shmargor ainda dentro deles. Eu os removi todos, guardei-os na minha própria bolsa, tirei seu galho e sua adaga negra, e os joguei no meu inventário. Também encontrei o outro galho que tinha jogado — e me virei para inspecionar a batalha.  

A sabotagem com as agulhas paralisantes tinha acabado, mas a linha de defesa foi empurrada para cerca de apenas quinze metros das fontes termais. Se os guardas caíssem na água, a linha colapsaria, e o inimigo poderia avançar. Quando isso acontecesse, eles poderiam estar na entrada do castelo em questão de momentos.  

Havia cerca de vinte e cinco Guerreiros Elfos Caídos em combate e nem mesmo vinte guardas do castelo lutando contra eles. Cerca de dez estavam paralisados e arrastados para a retaguarda, e não havia mais guardas saindo do castelo.  

Essa era toda a força de combate do Castelo Galey, porque, infelizmente, eu não esperava que o Conde «Galeyon» descesse correndo para virar o jogo da batalha.  

Alguns segundos depois, entendi a situação da batalha e tirei as agulhas paralisantes da minha bolsa, determinado a usá-las bem. Havia nove agulhas, mais as duas que recuperei de Morte e as duas que os Caídos que atacaram a casa de «Myia» deixaram para trás, totalizando treze. Se eu conseguisse derrubar dez guerreiros com elas, poderíamos virar essa batalha. Mirei nas costas do alvo mais próximo e arremessei.  

A agulha pousou exatamente no alvo, na brecha entre as peças da armadura. O guerreiro congelou por um momento... depois continuou balançando seu cimitarras como se nada tivesse acontecido.  

— O quê...?  

Segurei a respiração, então notei um ícone desconhecido na barra de HP do guerreiro. Parecia uma folha preta; talvez fosse um buff de resistência à paralisia. Suponho que, com todas as agulhas que os invasores estavam lançando por trás, algumas poderiam acertar seus próprios aliados. Então faria sentido que eles tivessem algum tipo de medida de segurança contra isso... mas também parecia uma estratégia muito inteligente, quase inteligente demais para NPCs.  

E, além disso, eu ainda não sabia como os elfos caídos tinham passado pelos portões.  

Eu estava dormindo no salão de jantar quando o sino me acordou. Mas lembrei de ouvir primeiro o toque normal para a abertura dos portões; só depois de alguns momentos ele se transformou em um alarme rápido. Isso significava que os guardas haviam aberto os portões para alguém que tinha permissão para entrar, e então os Caídos invadiram? Mas não havia lugar para se esconder no longo e empoeirado cânion que levava aos portões. Se dezenas de inimigos estivessem correndo desde o início do cânion, ainda haveria tempo para deixar o convidado entrar e fechar os portões antes que eles chegassem.  

Havia apenas uma possibilidade.

Quem quer que tenha aberto os portões estava em conluio com os Caídos… e, neste momento, havia apenas um grupo de jogadores tão avançado na campanha da missão "Guerra dos Elfos": «Qusack». Se eles entrassem no castelo e tomassem a sala da torre-portão, poderiam garantir que o portão permanecesse aberto por tempo suficiente para que os elfos caídos chegassem.  

— Será que é isso mesmo…? — Perguntei a mim mesmo, sem conseguir acreditar. Virei-me e corri para a torre do portão mais próxima e abri a porta reforçada com metal. Enfiei minha espada no espaço aberto, mas não havia ninguém lá dentro. Se o elfo negro que deveria estar aqui foi assassinado, não havia como eu procurar por provas.  

Olhei para cima e vi que a câmara da torre estava cheia de engrenagens e pesos sobre minha cabeça. Na parede à minha frente, havia uma alavanca de madeira que puxei com toda a minha força.  

Com um estrondo pesado, as engrenagens acima começaram a girar. Isso, pelo menos, deveria fechar o portão e garantir que quaisquer reforços dos Caídos do lado de fora não conseguissem entrar. Eu estava preocupado com o paradeiro de «Qusack», mas a batalha no pátio era a questão mais urgente no momento.  

Saltei da torre e corri para a linha de batalha. Se as agulhas paralisantes não fossem funcionar contra aqueles Guerreiros Elfos Caídos, minha confiável espada teria que resolver.  

—Raaaaah!!  

Eu rugi, um poder surgindo de dentro do meu estômago, abrindo mão da vantagem de atacar pelas costas. Três inimigos próximos se viraram e fecharam a distância. Eu me lancei no meio deles, me aproximando o máximo que pude antes de ativar a habilidade da espada «Horizontal Square». Ela não causava tanto dano a um único alvo quanto o «Vertical Square», mas tinha melhor precisão e um alcance maior.  

A sequência de quatro cortes horizontais atingiu todos os três guerreiros, tirando dois terços de sua vida e os lançando para trás. Se eu pudesse usar essa nova habilidade repetidamente, provavelmente poderia derrotá-los todos, mas, infelizmente, ela tinha um tempo de recarga proporcional à sua força considerável, e eu não seria capaz de usá-la novamente por um tempo. Eu teria que fazer pleno uso de todas as habilidades de espada que aprendi até agora. Havia mais de vinte inimigos aqui, e se eu fosse cercado, estaria morto num piscar de olhos.  

Dois outros inimigos notaram minha presença atrás deles. Usei o ataque de salto de longo alcance «Sonic Leap» em um deles. Aquele guerreiro bloqueou o ataque, mas sua cimitarra era mais fraca que a «Sword of Eventide», e ele vacilou, incapaz de suportar o impacto total da minha investida.  

No instante em que o detestável daley pós-habilidade passou, usei o chute de «Martial Arts» «Gengetsu» no guerreiro que estava vacilando. Meu instinto mediu a distância do outro inimigo atrás de mim — girei e ativei o movimento de duas partes «Horizontal Arc». Os cortes deixaram um V lateral no peito do guerreiro. Ele voou pelo ar com um grunhido.  

Era uma pena que eu não pudesse dar o golpe final nele, mas se eu gastasse muito tempo em um único inimigo, seria cercado. Os três que foram derrubados pelo meu «Horizontal Square» já estavam se levantando, eu notei, então usei o ataque de investida frente ao chão «Rage Spike» em um deles.  

Meu deslize estava tão perto do chão que praticamente rastejava. O guerreiro tentou usar a habilidade básica de cimitarra «Reaper» para contra-atacar. Se ele me acertasse, não apenas minha habilidade falharia, como eu ficaria em um estado de leve atordoamento. Então, torci o corpo enquanto corria, tentando escapar do caminho do «Reaper». Por outro lado, se eu me desviasse muito do movimento correto, erraria automaticamente a habilidade da espada. O brilho azul-claro que cobria minha espada oscilou, avisando que a técnica estava prestes a falhar.  

— Jyaaa! — o guerreiro rugiu, baixando sua lâmina que brilhava com um laranja sinistro. A ponta afiada roçou meu peito, tirando cerca de 5 por cento da minha HP com isso — mas, em troca, minha espada cortou a perna esquerda dele pela base. O restante da vida do guerreiro se foi, e sua forma esguia desmoronou como vidro fino.  

O efeito sonoro, belo e horrível, parecia chamar a atenção de todos os outros Caídos que lutavam no vasto pátio. Um especialmente grande, no centro da batalha, que parecia ser o oficial comandante, apontou sua cimitarra — mais parecida com um longo sabre — e gritou. 

— Eliminem aquele obstáculo primeiro! Cerquem-no por quatro lados e esmaguem-no!  

Instantaneamente, quatro guerreiros praticamente ilesos se destacaram da linha e correram na minha direção. Isso abriu uma brecha na linha deles, é claro, mas os Caídos ainda tinham o número superior.  

Um dos guardas gritou. — Protejam o espadachim! — mas seria difícil para eles romperem a linha dos Caídos, mesmo com a brecha. Eu teria que lidar com esses quatro sozinho — na verdade, se eu conseguisse apenas superar essa investida, poderia virar os números a nosso favor e tornar a vitória uma possibilidade.  

Os elfos caídos deslizaram suavemente ao meu redor em ambos os lados. Eu ainda não podia usar o «Horizontal Square», minha única boa habilidade de ataque em ampla área, então recuei, procurando o alvo certo para atacar, mas todos estavam vestidos com equipamentos pretos e capuzes combinando, com cerca da mesma quantidade de HP restante, então era impossível escolher uma resposta óbvia.  

Atrás dos quatro, os guerreiros cuja HP eu havia reduzido pela metade agora estavam recuando para a parede e bebendo o que parecia ser poções de cura. Se eles recuperassem toda a vida, e os quatro ao meu redor se transformassem em oito, seria difícil até mesmo escapar, muito menos eliminá-los.  

O pior erro a cometer nesta situação seria ser apressado demais ao reduzir o número de inimigos e parar de se mover. Como com mobs, o senso comum era continuar se movendo, evitar ser cercado e desgastar a HP do inimigo, pouco a pouco. Se isso acontecesse em uma dungeon, outros jogadores poderiam ficar irritados, porque você poderia facilmente atrair um "trem de mobs" ao chamar a atenção de cada vez mais mobs, mas aqui as boas maneiras não significavam nada.

...!!  

Prendi um fôlego forte e saltei do chão de pedra, correndo atrás do alvo que escolhi puramente por instinto. O inimigo levantou sua cimitarra na diagonal em uma posição defensiva, enquanto os outros três se apressavam para me cercar por trás. A velocidade de reação deles e o trabalho em equipe eram muito melhores do que os de mobs, embora isso já fosse esperado.  

O único ponto positivo, por mais que não fosse grande coisa, era que nenhum dos Guerreiros Elfos Caídos usava armaduras pesadas ou escudos. Esses guerreiros são muito difíceis de derrubar, mas esses aqui tinham apenas armaduras leves de metal e suas espadas curvas, o que significava que eu poderia ultrapassar suas defesas.  

Avancei diretamente, com a espada pendendo da minha mão direita. Os olhos do guerreiro pareciam vacilar, perdendo a confiança. Talvez ele pretendesse se defender do meu primeiro golpe, mas atacar sem uma postura ofensiva estava introduzindo um elemento de incerteza no algoritmo da IA.  

Quando eu estava a dois metros de distância, o guerreiro finalmente entrou em uma postura de ataque. Acelerei o máximo que pude e estendi minha mão aberta com os dedos em forma de um C maiúsculo. Fiz questão de deixar a cimitarra do inimigo passar por aquela abertura estreita e afastei o medo primordial de perder meus dedos enquanto os apertava com força.  

Houve um brilho prateado na minha mão, e senti meu aperto e a espada do guerreiro se fundirem em um só. Arranquei a arma da mão do inimigo e a virei para segurar o cabo. Essa era a habilidade de roubo de armas, «Empty Wheel», que adquiri quando minha habilidade de «Martial Arts» atingiu a proficiência de 100, bem no meio desta batalha. Naturalmente, era minha primeira vez usando-a, e se eu não tivesse investido na dica de Argo sobre «Martial Arts», talvez nem tivesse percebido que a tinha disponível até a batalha terminar.  

— Como ousa, canalha?! — rosnou o guerreiro, que se lançou em direção à sua arma. Eu cortei seu braço com a «Sword of Eventide» e ganhei um bônus por parte amputada. O guerreiro gemeu, segurando o braço parcialmente perdido. Eu o empurrei com um chute e girei.  

Os outros três guerreiros não mostraram sinal de desacelerar após verem meu truque de roubo de armas.  

— Shyaaa!  

Bloqueei um golpe diagonal traçado de preto com a cimitarra na minha mão esquerda. As faíscas daquele impacto espirraram no meu rosto enquanto eu golpeava a lateral do inimigo com minha espada.  

Sentindo outro ataque à minha direita, usei a espada para bloquear um golpe horizontal. O guerreiro hesitou, e eu cortei seu pescoço com a cimitarra que capturei, depois passei pelo espaço entre os dois.  

Enquanto eu segurasse a «Sword of Eventide» na mão direita e a cimitarra do elfo caído na esquerda, eu estava em um estado irregular de equipamentos, o que significava que não podia usar nenhuma habilidade de espada. Mas em uma batalha de um contra quatro, eu não queria usar habilidades maiores que pudessem causar um atraso significativo nos movimentos depois. Pelo contrário, ter uma espada em cada mão me dava mais opções de defesa.  

Não pude deixar de pensar que, se fosse para chegar a esse ponto, eu poderia ter mantido um escudo para o meu mod de «Quick Change», mas eu ainda era bom o suficiente para bloquear os cortes rápidos e leves dos Caídos com uma espada. Além disso, sentia que combinar duas espadas se encaixava melhor em mim, permitindo que eu realizasse um movimento de bloqueio e contra-ataque com qualquer uma das mãos.  

Girando, pensei comigo mesmo que, se conseguisse sair dessa luta, deveria realmente considerar praticar com duas espadas.  

Encontrei o quarto guerreiro, que estava ileso, à minha frente, com mais dois guerreiros danificados, mas relativamente saudáveis, vindo atrás dele. O que teve sua cimitarra roubada correu de volta em direção aos seus companheiros que estavam se curando, talvez para pegar uma arma emprestada.  

De acordo com seus cursores, suas HPs já estavam curadas em cerca de 70%. Talvez faltasse um minuto até que estivessem completamente curados — eu tinha que derrotar esses três antes disso. Mas poderia fazer isso sem habilidades de espada? Eu já havia mostrado tudo o que tinha.  

Não era uma questão de se eu poderia ou não fazer. Eu simplesmente tinha que fazer.  

Ficar parado só me faria ficar cercado, então foquei no guerreiro à direita e avancei. Eles devem ter aprendido com minha tendência de atacar os lados, pois também mudaram de direção para garantir que estivessem sempre vindo de frente. Mas, se eu continuasse virando à direita, eventualmente seria encurralado contra a parede do castelo.  

Recuar? Não, não tenho tempo. Tenho que atravessar, entrar no meio da batalha e torcer para encontrar o caminho para a vitória...  

Eu estava prestes a me lançar em um tudo ou nada quando ouvi uma voz.  

— Kirito, cuidado!!  

Por um instante, pensei que estava imaginando coisas. Mas meu corpo reagiu por instinto, jogando-me para a esquerda.  

Um brilho vermelho carmesim passou pelos meus olhos.  

O efeito visual mais brilhante que eu já tinha visto avançou sobre os Guerreiros Elfos Caídos por trás com uma velocidade de tirar o fôlego. Havia uma silhueta no meio daquela luz, que eu não conseguia distinguir por causa do brilho. O próprio ar rugiu, e as pedras sob meus pés tremeram.  

Os três guerreiros que estavam me seguindo notaram a anomalia e se viraram. Mas, naquele momento, a luz vermelha já estava sobre eles.  

— N’wah! — gritou o guerreiro do centro, levantando sua cimitarra. Os outros dois assumiram posições defensivas semelhantes.  

Kabooom! Com uma explosão, o guerreiro do centro foi arremessado para o alto. Os dois ao seu lado foram jogados no chão, e um deles rolou até parar aos meus pés. Por puro reflexo, golpeei-o com a espada da minha mão direita, acabando com o último vestígio de sua barra de HP vermelha.  

Olhei através das partículas azuis explodindo e vi o intruso, passando como um trem desgovernado, parar em meio a uma nuvem de poeira a cerca de seis ou sete metros de distância.  

Uma capa com capuz vermelho. Uma saia plissada da mesma cor. Cabelos longos e castanho-avelã. Não precisava verificar o cursor para saber que era Asuna, minha parceira temporária.  

Mas que habilidade de espada foi essa agora…? Não me lembrava de nenhum ataque de carga tão chamativo na categoria de Rapier. A força e o alcance disso estavam fora de qualquer comparação com sua habilidade favorita, a «Shooting Star»...  

— Hã…?! 

No instante em que a vi através da nuvem de poeira se dissipando, fiquei boquiaberto.  

A arma que Asuna segurava em suas mãos não era a «Chivalric Rapier» que ela usava, mas uma enorme lança que parecia ter pelo menos dois metros de comprimento. Ela tinha um cabo de couro verde escuro, o corpo em si era de um prateado brilhante, e havia uma ornamentação elaborada na base. Claramente, era uma arma de excelente qualidade pelo design, mas minha dúvida não era de onde ela a havia conseguido, e sim como ela conseguia manejá-la tão bem.

Atualmente, havia quatro habilidades envolvidas no manejo de armas do tipo lança: «one-handed spears», «two-handed spears», «one-handed lances» e «two-handed lances». Dentre elas, as «two-handed spears» eram as mais comuns. Havia poucos usuários de lanças no geral, mas eu podia nomear Cuchulainn dos «Legend Braves»; Okotan, o alabardeiro, e Hokkai Ikura, o usuário de tridente da ALS; e Highston de «Qusack», que usava uma glaive. Todos eles caíam na habilidade de «two-handed spears». Havia ainda menos usuários de lanças de uma mão — além de Schinkenspeck da ALS, eu só conseguia pensar em um ou dois no grupo da linha de frente. 

Mas a habilidade de Lança era ainda mais rara do que essas. Eu nunca havia visto um jogador na fronteira (linha de frente) usando uma lança.

O motivo para isso era a pequena variedade de armas e a dificuldade de usá-las. As únicas que operavam sob a habilidade de Lança eram as lanças e as lanças de guarda, que tinham um cabo maior — ambas só podiam ser usadas para estocadas. Além de serem difíceis de manejar em combate, fosse solo, em grupo ou em incursão, não havia situações onde uma lança fosse crucial. Então, no atual SAO, onde não havia espaço para habilidades por hobby, elas eram um desperdício de espaço... na minha opinião.

— Por quê...? Onde...? O quê...?  

Isso foi tudo o que consegui dizer na rápida sucessão de perguntas: Por que você tem isso? Onde conseguiu? O que está acontecendo com suas habilidades? Mas Asuna pareceu captar a essência do meu choque, e, quando seu longo atraso acabou, ela se virou para mim e gritou.

— Eu explico depois! Cobre as minhas costas!  

De fato, com uma lança de duas mãos que era mais longa do que ela, virar-se seria difícil. Corri em sua direção, então lembrei que dois dos três guerreiros que ela havia derrubado ainda estavam vivos.  

Mas eu não precisava terminá-los.  

Ouvi dois estalos cristalinos atrás de mim, quase ao mesmo tempo. Olhando por cima do meu ombro esquerdo, através de uma nuvem de fragmentos de textura, vi «Kizmel» com seu sabre e «Myia» com uma rapieira.  

— Desculpe pelo atraso, Kirito! — gritou «Kizmel», enquanto «Myia» balançava a cabeça, ainda coberta por aquela máscara de couro. A porta lateral para a ala leste estava ao longe, atrás delas, então elas deviam ter vindo dessa direção. Presumi que o treinamento de habilidades havia corrido bem, pois pude ver o buff de «Meditation» nas barras de HP delas.  

Eu havia eliminado os três batedores elfo caído que estavam lançando suas agulhas paralisantes à vontade, mas não podia garantir que nenhum dos espadachins restantes tinha seu próprio estoque de agulhas. Para o resto dessa batalha — e de todas as possíveis lutas contra os elfos caídos —, teríamos que adotar medidas defensivas contra a paralisia.  

Mas esses aliados poderosos vindo em nosso auxílio pelo menos tornaram essa luta equilibrada. Se Asuna conseguisse desferir um ou dois daqueles ataques de carga pesada em mais grupos de inimigos, venceríamos. Eu só precisava cobrir as costas da minha parceira enquanto isso.  

— Quantos segundos faltam para a recarga, Asuna?! — gritei, com uma espada em cada mão.  

Por cima do ombro, ouvi ela responder.

— Cem!  

— Entendido!  

Vinte segundos haviam se passado desde sua investida, o que significava que o tempo de recarga da habilidade era de dois minutos, o que era razoável para um ataque tão massivo quanto aquele. Os guardas deveriam conseguir resistir por tanto tempo, além de que cinco ou seis garçonetes do castelo estavam saindo e dando poções aos guardas paralisados e feridos que não estavam mais lutando. Infelizmente, o remédio delas não parecia capaz de curar instantaneamente a paralisia de nível 2, mas, enquanto conseguíssemos manter a linha onde estava, eles acabariam se recuperando.  

— Vindo do sul, Kirito!  

A voz de «Kizmel» me trouxe de volta à realidade, e vi quatro Guerreiros Elfos Caídos que estavam se curando se aproximarem, embora seus HPs estivessem em torno de apenas 70%. O guerreiro de quem eu havia roubado a cimitarra também estava lá, com uma adaga emprestada, fechando a retaguarda.  

— «Kizmel», «Myia», deem a volta pelos lados! Kirito, lide com os inimigos que vêm do norte! — Asuna ordenou. A cavaleira elfa e a guerreira correram. Depois de vê-las ir, me virei e vi dois Guerreiros Elfos Caídos se separando da batalha em frente à fonte de águas termais e correndo em nossa direção. Eles estavam trabalhando com os cinco ao sul em uma tentativa de ataque em pinça.  

Era sete contra quatro, mas eu sabia que não podíamos perder. Reduzir o número de inimigos significava que a linha defensiva estava recuperando forças e revidando.  

— Fiquem fora disso, humanos!!  

Dois guerreiros saltaram em nossa direção, com suas vozes cheias de raiva. Bloqueei seus golpes perfeitamente sincronizados com cada uma de minhas espadas. Faíscas amarelas queimaram meus olhos, e choques correram dos meus cotovelos até os ombros, mas convoquei toda a força do meu corpo para resistir àquela pressão. Prometi proteger as costas de Asuna, e não daria um único passo para trás.  

Assim que senti que havia resistido ao impacto total dos golpes, usei a habilidade de pernas de «Martial Arts», «Gengetsu», que era a única habilidade que eu podia usar enquanto segurava duas espadas de uma mão. Um dos guerreiros, que chutei no estômago, cambaleou, mas manteve-se de pé, enquanto o outro foi arremessado para longe e caiu no chão.  

Com uma súbita inspiração, finquei a cimitarra no chão, desfazendo o estado de empunhadura irregular, e usei minha espada longa para ativar a habilidade de espada «Vertical Square», que acabara de sair do período de recarga. O guerreiro à minha frente levou todos os quatro golpes e explodiu depois de ser jogado no chão.  

Quando consegui me mover de novo, puxei a cimitarra e desferi uma série de golpes consecutivos no outro guerreiro, enquanto ele se levantava.

Claro, durante a fase beta, houve jogadores que tentaram usar duas espadas de uma mão. Um grande contrapeso para a desvantagem de não poder usar habilidades de espada era o fato de que os bônus mágicos de ambas as armas ainda se aplicavam. Então, se, por exemplo, eu de alguma forma tivesse duas cópias da minha «Sword of Eventide», eu receberia um bônus de +14 em agilidade, me dando uma grande melhoria em mobilidade.  

Mas, até onde eu sabia, no último dia do teste beta, nenhum jogador havia se tornado um mestre na arte de lutar com duas espadas. Eu tentei, mas achei a experiência de ter uma espada em cada mão desconcertante, como se cada metade do meu corpo fosse um ser independente.  

No fim, a compreensão comum na fase beta era que, na melhor das hipóteses, você poderia usar uma espada para defender enquanto usava a outra para atacar, e nesse ponto, seria melhor usar um escudo. E na linha de frente do jogo oficial, eu nunca tinha visto ninguém usando duas espadas — se você excluísse Argo, cujas garras eram realmente duas armas em uma. Mesmo no caso das garras, você só poderia usá-las dentro do limite de uma habilidade de espada.  

Mas, naquele momento, eu havia desferido uma sequência de cinco ou seis golpes antes de finalmente perceber que estava executando aqueles ataques simultâneos proibidos. Imediatamente, fui atormentado novamente por aquela sensação dissociativa, e acidentalmente deixei a cimitarra cair da minha mão esquerda.  

Felizmente, o último golpe foi suficiente para reduzir o HP do guerreiro a zero. Instintivamente, virei meu rosto para longe dos estilhaços azuis explodindo.  

Isso fazia um total de seis elfos caídos que eu tinha matado desde o início da batalha. Eu não pensaria duas vezes antes de matar mobs semihumanos como kobolds e ictioides às dezenas, mas, neste caso, senti uma espécie de pressão estranha pesando sobre mim. Sacudi a cabeça, afastando tanto os sentimentos de dissociação quanto a leve culpa, e olhei para o sul.  

Asuna estava prestes a ativar uma nova habilidade de espada. Sua lança de duas mãos, brilhando em verde, mergulhou em direção aos cinco elfos caídos que «Kizmel» e «Myia» haviam manobrado para formar um grupo compacto. Não era tão poderosa quanto sua investida anterior, mas seu enorme alcance e ponta afiada perfuraram os Caídos de qualquer forma. Então, ela puxou a lança de volta e a lançou para frente novamente. Mais uma vez... um ataque triplo.  

Assim que o último som metálico ecoou, três dos cinco elfos caídos estavam no chão, despedaçados pela explosão. O poder era devastador; em um confronto individual, esses elfos ágeis seriam adversários formidáveis. Porém, em uma batalha de grupo, onde era possível conter o inimigo, parecia claro que nenhuma arma seria mais eficaz.

Mas não havia como ela ter aprendido uma habilidade de lança de duas mãos desde o início da batalha. Com base no poder e no número de habilidades de espada que ela estava usando, sua proficiência com a lança tinha que ser de pelo menos 100. E agora que eu pensava nisso, quando estávamos falando sobre habilidades adquiridas outro dia, Asuna havia dito algo estranho...  

Esse breve pensamento foi interrompido por uma nova explosão. Com ataques rápidos e precisos, «Kizmel» e «Myia» despacharam os dois últimos inimigos. O guerreiro de quem roubei a cimitarra não teve sequer a chance de empunhar outra adaga; ele se desfez em fragmentos de dados e foi deletado.

Tínhamos derrotado todos os sete guerreiros que se separaram para tentar aquele ataque em pinça. Virei-me para contar o número de inimigos vivos, e um novo rugido ecoou pelo pátio aberto.  

— Sulaaaaaa!!  

Entrei em pânico no início, mas não se tratava de um novo grupo de inimigos, nem de mais guardas vindo ao resgate. Os mais de uma dúzia de guardas elfos negros, defendendo desesperadamente a fonte da árvore espiritual, ergueram um grito juntos. Agora eu pude ver que os números estavam aproximadamente iguais na batalha da linha de defesa — e se você adicionasse os guardas sendo curados na retaguarda, na verdade, tínhamos mais. O comandante dos Caídos rugiu para reunir seus guerreiros, mas nenhum deles respondeu da mesma forma.  

— Certo, vamos derrotar aquele comandante e quebrar a… — comecei a dizer para Asuna quando algo passou voando perto dos meus olhos. Depois outro... e mais outro.  

— O quê...? — «Kizmel» ofegou e apontou para o céu. Quando segui o dedo dela, fiquei sem palavras.  

Contra o fundo dourado-azulado da base do andar de Aincrad acima de nós, incontáveis flocos giravam e dançavam pelo ar.  

Eram... folhas. As folhas da árvore espiritual, que se erguia sobre o pátio, estavam murchando e caindo dos galhos.  

Instintivamente, estendi a mão e peguei uma antes que ela atingisse o chão. Era marrom-clara e desidratada, e se desfez nos meus dedos antes de se dissolver no ar.  

Olhei novamente para cima e encarei a árvore de perto, a cerca de trinta metros de altura. Não havia nenhuma mudança em seu tronco neste momento, mas as folhas continuavam caindo de seus galhos em todas as direções.  

Isso não poderia ser um fenômeno natural. Era janeiro, tarde demais na temporada para as folhas caírem, e a árvore espiritual nunca tinha murchado porque recebia vida constante da fonte termal em suas raízes por séculos...  

Foi então que meus olhos se arregalaram, e tive um terrível pressentimento.  

Não poderia ser coincidência que os elfos caídos estivessem atacando justamente quando as folhas da árvore espiritual começaram a cair. Se todas as folhas caíssem, a "proteção da árvore espiritual", como «Kizmel» a chamava, seria perdida, e o Castelo Galey seria o mesmo que o desfiladeiro empoeirado fora de suas muralhas. Um debuff de fraqueza afetaria todos os elfos negros no castelo, e os guardas obviamente não poderiam lutar. Mas os elfos caídos tinham aqueles galhos recém-cortados em seus cintos e poderiam continuar lutando.

Esse era o plano deles o tempo todo. E a maneira mais provável de eles prejudicarem a árvore espiritual era…

— «Kizmel», você está com sua Capa Folha verde?! — gritei.

A cavaleira olhou para mim, assustada, mas balançou a cabeça.

— Não... Eu devolvi para a sala do tesouro. Ah! Se a árvore espiritual secar, então...

— Exato, é isso que eles querem. Aqui, «Kizmel», pegue isso — eu disse e, o mais rápido possível, abri minha janela e tirei o galho que havia removido do Elfo Caído. «Kizmel» tinha percebido que os Caídos estavam usando essas coisas, e parecia um pouco evasiva.

— Eles cortaram esses galhos de árvores vivas...? Mas como...?

— Eu não sei. Mas essa é sua única opção... Se todas as folhas da árvore espiritual caírem, acho que os guardas não serão mais capazes de lutar.

Pressionei o galho cheio de folhas na mão da cavaleira e, em seguida, me virei para Asuna, com sua enorme lança, e «Myia», com sua máscara de gás. Não pude evitar de me preocupar com Asuna estando ali. Mas «Kizmel» não abandonaria os seus companheiros, e, de qualquer forma, Asuna não fugiria.

— Aguente firme... Eu já volto!

— Onde você vai, Kirito?! — gritou ela.

— Para o subterrâneo! — respondi enquanto corria.

Em segundos, eu estava a toda velocidade, correndo por entre as folhas que caíam. Os guardas haviam pausado quando o fenômeno anormal começou, mas agora estavam começando a lutar novamente. As folhas desapareceriam dentro de três minutos. Ainda havia quinze Guerreiros Elfos Caídos, incluindo o comandante, e mesmo com as três mulheres presentes, seria difícil eliminá-los todos em três minutos. Eu precisava parar o murchamento da árvore espiritual antes disso.

Preparei minha espada acima do ombro direito, na esperança de desferir ao menos um golpe antes de sair. Ajustei minha mira, ouvindo o som de início da habilidade da espada, e ativei o «Sonic Leap». Acertou em cheio as costas de um guerreiro que estava separado do grupo, fazendo-o cair rolando. Peguei o galho do cinto dele.

— Mirar nos galhos nas costas dos Caídos! — gritei para os guardas — e para que os Caídos me ouvissem também — e corri para a entrada do castelo. Sem dúvida, seria difícil mirar nos galhos nas costas dos inimigos em meio à batalha, mas, no mínimo, isso colocaria alguma pressão psicológica sobre os Caídos. Se eles perdessem esses galhos, seriam tão suscetíveis à fraqueza quanto os outros quando a árvore espiritual morresse.

Cheguei à entrada em segundos e entreguei o galho que acabei de roubar às garçonetes que ajudavam os feridos e paralisados ao lado da porta.

— Se a árvore espiritual murchar, reúnam todos ao redor deste galho!

O alcance do efeito do galho seria muito curto, eu tinha certeza, mas ainda suficiente para fazer alguma diferença. Assim que as garçonetes assentiram, atordoadas, corri para dentro.

O saguão de entrada do primeiro andar estava vazio. Muito provavelmente, o Conde «Galeyon» e os altos sacerdotes estavam se barricando no último andar. Eu não achava que eles ouviriam um vagante humano como o Visconde «Yofilis» fez, e se a árvore murchasse, o conde estaria tão indefeso quanto o resto deles de qualquer maneira.

A escada para as fontes termais subterrâneas ficava um pouco adiante no corredor da ala oeste. Virei à esquerda e estava acelerando de novo quando ouvi uma voz familiar.

— Ei! Garoto! Devagar!

Imediatamente parei e olhei para cima, na direção da voz. Na varanda do segundo andar, no átrio espaçoso, uma figura envolta em um manto preto agitava as mãos de forma frenética.

— G... Vovô?! O que você quer? Não tenho tempo para...

Mas «Bouhroum», o autoproclamado "grande sábio", me interrompeu com um desesperado — Eu sei disso! Suspeito que os Caídos jogaram veneno na fonte, e sei que você está indo para lá! Mas você não pode consertar isso sozinho!

— Então o que podemos fazer...?

— Derrame isso na fonte! — ele disse, jogando algo que parecia feito de vidro da varanda.

Se fosse uma missão com uma história apropriada, falhar em pegar o objeto resultaria em falha imediata da missão, eu sabia, então larguei minha espada e usei as duas mãos para pegar a bola de vidro.

Acabou sendo um frasco de fundo redondo, com cerca de dez centímetros de diâmetro. Havia uma rolha firmemente tampada no gargalo curto, e estava cheio de um líquido verde escuro. Pela aparência, parecia muito venenoso.

Eu queria perguntar se isso era realmente seguro, mas não havia tempo a perder. Decidi confiar na palavra do sábio por ter treinado Asuna e os outros na habilidade de «Meditation», então peguei minha espada e me preparei para sair.

— Certo, eu vou fazer isso!

— Muito bem, garoto!

Com isso, voltei a correr. Uma escada descendente apareceu no lado direito do saguão, e praticamente rolei escada abaixo para o porão. Tive que ser o mais cauteloso possível enquanto corria pelo corredor com suas lâmpadas avermelhadas. Os Caídos poderiam estar à espreita a partir daquele ponto.

No final do corredor curvo, estava a grande porta para as fontes termais subterrâneas. O vapor branco saía pela porta aberta.

— Ooh...

Instintivamente, cobri a boca com a mão que segurava a espada. Antes, só cheirava a água termal, mas agora havia um odor desagradável misturado. Algo como lama secando — um cheiro mofado e de bolor.

Parei na entrada, escutando atentamente antes de entrar. Não havia ninguém na ampla área de descanso, mas o fedor era mais forte ali. Se o cheiro estivesse vindo da piscina de onde as raízes da árvore espiritual bebiam, não havia um segundo a perder. Abri a porta ao fundo, corri pelo vestiário vazio e entrei na grande cúpula subterrânea...

Cerrei os dentes ao ver a cena.

A água pura e leitosa da fonte termal agora estava escura e contaminada. Bolhas espessas e viscosas subiam à superfície, liberando um miasma acinzentado ao estourar. As raízes pendentes do teto abobadado estavam quase completamente negras, claramente envenenadas pela água poluída. Se eu não purificasse aquela fonte imediatamente, a árvore centenária estaria morta em menos de um minuto.

Mas eu não conseguia avançar.

À minha frente, no caminho de ladrilhos de pedra, perto da borda da água, estava um homem. Ele vestia uma armadura completa de metal, uma lança curta na mão direita e um escudo de torre na esquerda. Seu rosto era envelhecido, e seu queixo ostentava uma barba curta.

Era o líder de «Qusack», Gindo. O lancista me olhava com desconfiança.

— Saia do caminho — eu disse.

Mas Gindo apenas apontou o grande escudo na minha direção e resmungou.

— Não... Não posso me mover até que essas raízes tenham apodrecido completamente.

Isso basicamente confirmava que Gindo havia despejado o veneno na fonte termal. Mas o cursor colorido acima de sua cabeça estava verde. Então, quem quer que tenha entrado na sala do portão da torre e matado ou expulsado o guarda elfo negro para que o portão ficasse aberto, não foi ele. Deve ter sido um dos seus outros três companheiros.

De qualquer forma, «Qusack» me enganou completamente. Amargo arrependimento e ódio inundaram minha boca.

— Você está... ajudando os elfos caídos? Ou faz parte daquela gangue de PK...?

O que eu esperava de Gindo, não era isso.

— De jeito nenhum... nem um, nem outro! Eu... nós nem sabíamos que pessoas estavam PKing em Aincrad. Então eu... eu nunca suspeitei dele de...

— Dele? Quem...? 

Mas eu não tinha tempo para continuar conversando. Não havia um segundo a perder. No pátio logo acima de nós, Asuna, «Kizmel», «Myia» e os guardas estavam lutando desesperadamente para salvar o castelo. Pelo que eu pude ver nas barras de HP deles, ainda não haviam perdido muito, mas se a árvore espiritual morresse e os guardas não pudessem mais lutar, meus companheiros estariam em grave perigo.

— Eu não tenho tempo para falar com você. Se você não sair agora — eu disse, levantando minha espada e apontando-a para o homem que estava a cinco metros de distância —, eu vou movê-lo à força.

Se eu atacasse Gindo, que tinha um cursor verde, o meu ficaria laranja. Mas eu faria a missão de recuperação de alinhamento quantas vezes fosse necessário para manter Asuna e os outros vivos.

Em resposta, Gindo ajustou seu escudo de torre, que tinha mais de um metro de altura. Ele não se moveria até que a árvore tivesse murchado completamente. Não seria fácil romper sua defesa, mas se fosse necessário, eu poderia usar uma série de habilidades com a espada para quebrar o escudo...

Uma ideia surgiu na minha mente, e eu olhei para a espada na minha mão direita. 

Coloquei-a de volta na bainha sobre minhas costas sem dizer nada, abri minha janela e guardei o frasco no meu inventário. Quando me viu desarmado, Gindo deixou transparecer uma breve hesitação no rosto, que eu não deixei passar despercebida.

Num instante, eu estava voando. Gindo tentou freneticamente levantar sua lança curta, mas eu saltei para a direita, me agachando no ponto cego criado pelo grande escudo dele. Então, avancei novamente, colocando ambas as mãos no escudo e empurrando com toda a minha força.

Dentro da zona do Código Anti-Crime, mesmo o jogador mais forte não podia forçar outros jogadores ou NPCs a saírem de seu espaço pessoal. A ação de cravar os pés no chão fixava suas coordenadas pessoais e fazia o jogo tratá-lo como qualquer outro objeto imóvel.

Mas fora da área de refúgio, esse sistema não se aplicava. E nem eu sabia onde estava a linha entre simplesmente empurrar uma pessoa e cometer um crime. Se você empurrasse alguém de uma borda alta e causasse dano por queda, você definitivamente ficaria laranja, mas isso parecia seguro para mim...

— Yaaaah! — Gritei, convocando toda a força do meu abdômen, e empurrei o guerreiro pesadamente armado, cujo equipamento devia pesar o dobro do meu. Por diferença de força ou simplesmente por surpresa, Gindo vacilou para trás e não conseguiu se recuperar, deslizando pouco a pouco. Ele resistiu por um breve momento na beirada do caminho de pedras, mas acabou caindo de costas na água preta e suja.

Um enorme jato de líquido subiu, e então o rosto de Gindo emergiu da água.

— Bwah! — Ele cuspiu e agitou as mãos, mas por causa do peso de sua armadura de placas e do escudo de torre, não conseguia se manter à tona. Felizmente (eu supunha), a água escurecida era fedorenta, mas aparentemente não venenosa para os jogadores, já que nenhum ícone de debuff apareceu no cursor dele. Tardiamente, percebi que, se o HP dele tivesse diminuído, eu poderia ter virado criminoso, mas, pelo menos por enquanto, eu não estava sofrendo nenhuma perda de alinhamento.

Passei meus dedos pela janela aberta e materializei o frasco que eu acabara de guardar. Rapidamente, tirei a rolha e despejei o líquido verde na água quente.

Uma fumaça branca praticamente explodiu da água onde o líquido caiu, fazendo-me virar o rosto. A figura de Gindo, ainda se debatendo, foi engolida pela fumaça densa. A reação rapidamente se espalhou pela vasta piscina de água, pintando tudo de branco à minha frente.

Isso me lembrou de uma brincadeira que eu fiz quando criança com minha irmãzinha Suguha, quando jogamos um enorme bloco de gelo seco na água do banho.

— Espero que você saiba o que está fazendo, vovô — murmurei.

Não houve resposta, é claro, mas alguns segundos depois, a primeira mudança que notei não foi na aparência da fonte, mas no cheiro. O fedor pesado que pairava na cúpula começou a se dissipar rapidamente, sendo substituído por um cheiro fresco e amadeirado, como o de uma floresta após a chuva. Eventualmente, a nuvem branca se dispersou, permitindo que eu visse novamente.

Em poucos instantes, o pântano venenoso da fonte termal sofreu uma transformação dramática. A água esverdeada agora estava limpa novamente, o piso de pedra pavimentado visível com clareza, e o cheiro horrível havia desaparecido completamente. Os feixes de raízes pendurados no teto ainda estavam enegrecidos no topo, mas até isso estava lentamente desvanecendo. Parecia que havíamos evitado o pesadelo da árvore espiritual murchar completamente.

Verifiquei as barras de HP dos meus companheiros de equipe novamente e, satisfeito ao ver que ainda estavam em torno de 70%, soltei um suspiro de alívio. Uma vitória dos elfos negros estava praticamente garantida a essa altura, mas com outros jogadores envolvidos, era impossível prever o que poderia acontecer a seguir. Eu precisava voltar ao pátio e ajudar a eliminar os Caídos.

Virei nos calcanhares, mas pausei e olhei para Gindo, que já não estava mais lutando. O guerreiro pesado, ajoelhado na água, levantou o rosto em direção ao meu e, no mínimo de volume necessário para ser audível, murmurou.

— Agora... eles todos vão morrer.

— O quê...? Quem vai...? — perguntei.

Seu rosto estava abatido, como se sua alma tivesse sido drenada, com apenas um toque de raiva e desespero.

— Quem você acha? Meus amigos. Lazuli, Temuo, Highston... Eles foram envenenados. Estão sendo mantidos prisioneiros.



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