Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 6

CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 7)

7

COM NOSSO RELATÓRIO PARA O CONDE «GALEYON», A MISSÃO "CHAVE DE ÁGATA" estava concluída. Asuna e eu recebemos uma enorme quantidade de experiência, e, assim como no quarto andar, podíamos escolher nossas recompensas de itens.

Isso foi fantástico, claro, mas o que nos deixou ainda mais felizes foi saber que «Kizmel» ganhou um dia inteiro de folga. Ela poderia fazer o que quisesse amanhã, dia 4 de janeiro, e só precisaria ir para o sétimo andar na manhã do dia 5. Eu ainda estava preocupado com o grupo da linha de frente chegando à área sul até amanhã à tarde, mas passei a informação sobre aquele novo mini boss centopeia através da Argo, então não achava que havia perigo de eles enfrentarem-no despreparados.

Tínhamos que participar da torre do labirinto e da luta contra o boss de andar, claro, mas se «Kizmel» nos desse mais daquelas Gotas de Villi, poderíamos ir direto da segunda área para a quinta. E, se não, provavelmente ainda poderíamos alcançar o grupo pela rota normal em cerca de meio dia, assumindo que as dungeons do caminho estivessem limpas. Disse isso à Asuna depois de voltarmos ao quarto no terceiro andar da ala oeste, e concordamos que passaríamos o dia seguinte relaxando.

Quando retornamos ao corredor para encontrar «Kizmel», fomos ao banho no porão para lavar o suor e a sujeira imaginária do dia. Para evitar repetir a tragédia de ontem, concordamos previamente em manter cada metade da área de banho separada entre os sexos. Mas ouvir as duas mulheres conversando e rindo do outro lado das raízes da árvore espiritual não facilitou o processo para mim.

Quando terminamos o banho, relaxamos na área de espera por um tempo antes de nos dirigirmos ao refeitório. O prato principal de hoje era peixe grelhado. Além de não ter o molho estranhamente temperado que os cozinheiros humanos do jogo gostavam de usar, a pele do peixe estava crocante e perfumada, e tive que pedir mais uma porção.

Aproveitamos um pouco de chá após a refeição, conversando e relembrando os eventos do quarto e quinto andares. Saí do refeitório extremamente satisfeito. «Kizmel» se afastou brevemente para devolver a Capa de Folha Verde ao tesouro de onde a havia pegado, então Asuna e eu decidimos explorar um pouco o castelo. Começamos a caminhar em direção à ala leste, que ainda não havíamos visto durante nossa estadia.

Nesse momento, um sino soou no pátio escurecido. Paramos, notando com interesse moderado que ainda tocavam os sinos após o banho e o jantar... e então me lembrei de que aquele não era realmente um momento para ficar distraído.

Kizmel não havia dito que o sino só tocava quando o portão sul era aberto...?

E, como regra básica, os elfos negros no castelo não o deixavam. O sino estava nos alertando de que jogadores, além de nós mesmos, haviam aparecido no Castelo Galey.

Asuna percebeu isso ao mesmo tempo que eu. Trocamos um olhar, então corremos até uma janela. Quando olhamos para o pátio, pressionados contra o vidro, vimos que os portões imensos estavam realmente se abrindo muito lentamente.

Meu primeiro pensamento foi que o visitante era Morte ou o usuário da adaga, ou talvez ambos de uma vez. O Castelo Galey estava fora da zona de segurança, então nada os impediria de entrar com cursores laranja de criminosos. Tudo o que precisavam para abrir os portões eram os mesmos Anéis do Sigilo de «Lyusula» que tínhamos. Ontem à noite, eu supus que seria difícil para eles atravessarem o lado dos elfos negros da campanha a tempo, mas não havia nenhuma evidência absoluta disso.

— Precisamos descobrir quem acabou de aparecer — murmurou Asuna, sua voz tensa.

Afastei meu breve momento de indecisão e disse.

— Sim, vamos descer. Certifique-se de estar equipada.

— Entendido.

Viramos e começamos a correr em direção às escadas, ambos abrindo nossos menus de jogo. Troquei minha roupa de uso interno pelo meu equipamento de combate habitual e empunhamos nossas armas favoritas. Mal registrei os degraus enquanto voávamos até o primeiro andar da ala oeste. Em vez das portas principais do castelo, corremos até uma porta lateral no final do corredor e a abrimos levemente para espiar o pátio.

O sino ainda estava tocando, mas a porta da frente já estava se fechando. Se o visitante já tivesse desaparecido no espaçoso castelo, seria muito difícil encontrá-lo.

Mas, mesmo assim, provavelmente poderíamos perguntar aos soldados perto da porta como o jogador se parecia. Reforcei minha coragem e fui para o aberto, indo em direção a eles ao longo da parede íngreme cortada na rocha.

Depois de uns cinco passos, Asuna estendeu a mão e agarrou minha gola. Soltei um grito estrangulado e parei.

— O que foi isso? — sussurrei.

— Olhe, Kirito — ela sussurrou de volta, apontando na direção da árvore espiritual do pátio, em vez do portão. Assim que olhei para lá, pisquei. Havia quatro pessoas reunidas ao redor da nascente da árvore espiritual, de costas para nós. Seus cursores eram do mesmo verde que os nossos.

Baseado no número deles, provavelmente não era o grupo de Morte. E, por um lado, Morte e eu tínhamos um duelo oficial no terceiro andar, então nossos nomes apareceriam um para o outro, fazendo com que um daqueles quatro cursores mostrasse MORTE — mas tudo o que eu conseguia ver eram barras de HP e marcas de guilda.

A «Aincrad Liberation Squad» de Kibaou tinha uma marca de uma espada e escudo cinza sobre um fundo verde. A «Dragon Knights Brigade» de Lind usava um dragão prateado sobre um campo azul. Mas essa marca de guilda não era nenhuma dessas; era um símbolo desconhecido, como a letra Q em ouro sobre um fundo preto.

— Já viu esse emblema antes, Kirito? — sussurrou Asuna. Eu balancei a cabeça.

— Não. E você...? Bem, acho que não teria perguntado se soubesse.

Ela não respondeu, mas senti sua cabeça acenando. O sistema havia confirmado que Morte não estava entre os quatro, e não parecia provável que o grupo de PKs liderado pelo homem de poncho preto formasse uma guilda e a registrasse com um logotipo tão distinto e memorável — mas ainda não estava confirmado que as duas coisas não estavam relacionadas. Este castelo não era um refúgio seguro, então precisávamos estar atentos o tempo todo.

Eu estava parado ali, colado à rocha áspera, pensando no que fazer, quando Asuna sussurrou.

— Ei. Suponhamos que alguns humanos... quer dizer, jogadores entrem em uma briga dentro do castelo, e os cursores deles fiquem laranja. Como você acha que os elfos negros reagiriam? Ignorariam ou...

— Hummm...

Eu não tinha uma resposta imediata para isso. O motivo pelo qual jogadores laranja (criminosos) não podiam entrar em cidades humanas com o Código Anti-Crime ativo não era por causa de uma barreira mágica que repelisse quem fosse mau. Era porque você seria atacado por guardas NPCs incrivelmente poderosos. No beta, havia pessoas que intencionalmente ficavam laranja e entravam na cidade para tentar lutar e derrotar os guardiões. Eles se chamavam de Guardlers — aparentemente uma abreviação de Guard Killers — mas, ao contrário dos sudokers de Stachion, pelo que ouvi, ninguém conseguiu isso até o fim do teste beta.

Provavelmente, os soldados elfos negros no Castelo Galey não eram tão deslealmente poderosos quanto os guardiões da paz nas cidades dos jogadores, mas eu sentia que eles também não ignorariam humanos correndo com espadas dentro do castelo. Eu podia dizer com certeza que, se aqueles quatro jogadores nos atacassem, «Kizmel», pelo menos, viria em nosso auxílio, e se ela ordenasse, os guardas do castelo também se envolveriam.

Eu condensei toda essa lógica em uma simples frase.

— Acho que eles não ignorariam toda a situação.

Asuna concordou.

— Exatamente. Então vamos apenas falar com eles.

— Sim... acho que essa é a única escolha real — admiti. A menos que simplesmente saíssemos do castelo, não havia como ficar espreitando por aí sem sermos vistos, e ainda tínhamos muito o que fazer por aqui.

Caminhamos para longe da escuridão da parede, prontos para sacar nossas espadas se necessário, em direção aos quatro jogadores que ainda observavam a fonte à sua frente. Nenhum de nós estava particularmente tentando esconder nossos passos, mas mesmo a dez metros de distância, nenhum dos jogadores, de costas para nós, reagiu. Eles provavelmente estavam muito envolvidos na conversa.

— É melhor não tentar. Você vai levar uma bronca.

— Sim, mas eu quero pelo menos tentar uma vez. Ninguém nunca confirmou se só os blelfs podem se teletransportar das árvores espirituais.

— Certo, teste, mas se você desaparecer, não vamos atrás de você.

— Se os guardas ficarem bravos, vamos correr e deixar você para trás.

Pelo som, o grupo era composto por três homens e uma mulher. Pelo conteúdo da conversa, eles definitivamente estavam fazendo a missão da campanha do lado dos elfos negros. O termo blelf ainda era um mistério para mim.

Paramos a dois metros atrás deles, e eles ainda não tinham nos notado, então enviei uma mensagem telepática para Asuna assumir a dianteira e dei meio passo para trás. A expressão dela passou de irritada para ultra-sociável antes de ela chamar alegremente.

— Boa noite!

O grupo de quatro ficou chocado, virando-se de uma vez, mas ninguém alcançou suas armas. Todos encararam Asuna por cerca de cinco segundos, atônitos, antes de seus olhos subirem um pouco. Aquilo provavelmente significava que estavam examinando o cursor colorido dela. Então olharam para ela novamente por mais três segundos, antes de finalmente me notarem por trás de seu ombro.

A primeira a falar foi a mulher, que usava uma cimitarra grande e um escudo pequeno.

— B-Boa noite. Me desculpe, você nos assustou.

— Oh, não. Eu peço desculpas por gritar assim do nada — disse Asuna com um sorriso, e a apreensão nos rostos do outro grupo desapareceu instantaneamente. Se eu tivesse falado com eles, levaria dez vezes mais tempo para fazê-los relaxar.

— Uau, você realmente me deixou nervoso. Nunca pensei que veria outro jogador aqui de verdade.

Esse era o homem pequeno com a espada de duas mãos, que antes falava sobre querer testar o teletransporte da árvore espiritual. Agora ele estava esfregando sua couraça. Ao lado dele, havia um sujeito alto e magro com uma glaive, que deu de ombros.

— Claro que haveria jogadores aqui. O castelo é público.

Por último, havia um homem com a estranha combinação de um escudo torre, grosso como uma placa de metal, e uma lança curta e esbelta. Ele tinha uma barba curta e um sorriso afável enquanto estendia a mão.

— Olá. Somos de uma guilda chamada «Qusack». Estamos fazendo a campanha dos blelf... quer dizer, dos elfos negros agora.

Então, aparentemente, blelf era o apelido deles para os elfos negros. Enquanto Asuna e eu apertávamos a mão do homem com o escudo, me perguntei distraidamente qual seria o apelido deles para os elfos da floresta.

Depois vieram as apresentações. A mulher da cimitarra, que parecia inteligente e sensata, era Lazuli. O sujeito despreocupado com a espada de duas mãos era Temuo. O usuário de glaive alto e afiado era Highston. Por fim, o robusto e corajoso portador do escudo era Gindo.

Eu não reconhecia nenhum dos nomes — nem a guilda «Qusack». Nem Asuna.

Havia oito mil jogadores atualmente presos nessa fortaleza flutuante, então, obviamente, ninguém poderia memorizar os nomes de todos. Na verdade, eu provavelmente conhecia menos de cem jogadores pelo nome. Se tivéssemos nos cruzado em uma das cidades principais de outro andar, eu não pensaria duas vezes sobre eles, mas o Castelo Galey era uma fronteira selvagem em 3 de janeiro. Eles tinham que derrotar muitos daqueles mobs venenosos no desfiladeiro para chegar aqui, e nem sequer tinham um grupo completo de seis pessoas. Eles deviam estar próximos do nosso nível — então como era possível que eu nunca tivesse sequer os visto antes?

Quase queria ser rude e perguntar se eles definitivamente não eram NPCs. Mas um outro olhar para os cursores deles revelava que estavam impecavelmente verdes. Enquanto eu continuava com essa linha de pensamento, olhei para suas armaduras e tentei avaliá-las. Dois usavam armaduras leves de metal, e os outros dois armaduras pesadas; e todas tinham o brilho profundo e rico de alta qualidade. E, apesar de terem acabado de passar por um mapa mortal para chegar aqui, seus equipamentos pareciam novos e intactos, exceto pelos escudos de Lazuli e Gindo.

Talvez fossem jogadores que não saíram disparados no início do jogo, dois meses atrás, mas tinham o talento para alcançar os jogadores da linha de frente depois. Se fosse esse o caso, era um pensamento animador. Parecia provável que a ALS os recrutaria em breve, pensei.

— Vocês dois estão fazendo a missão dos elfos sozinhos? — perguntou Lazuli, a garota da cimitarra, avançando. Seu cabelo verde-escuro estava amarrado em um rabo de cavalo, e seus traços orgulhosos e a voz rouca, mas penetrante, davam a ela um ar de vitalidade e atividade.

Enviei outra mensagem telepática de "Assume essa!" para Asuna. Ela me olhou de lado antes de sorrir novamente e responder.

— Sim, é isso mesmo. Na verdade, chegamos a este castelo ontem.

— Hm... isso significa que vocês fazem parte do grupo avançado?

— Tecnicamente — Asuna deu de ombros.

Os olhos grandes de Lazuli ficaram ainda maiores.

— Uau, nunca encontrei um deles antes! E você é tão bonita! Eu não acredito nisso.

Havia apenas surpresa honesta e alegria em sua voz, mas, por um breve momento, os três homens atrás dela compartilharam um olhar desconfortável.

O que foi isso? — pensei imediatamente, mas não conseguia ler suas mentes apenas pelas expressões. Depois de estar constantemente com Asuna por tanto tempo, só agora estava começando a entender a forma como ela pensava sobre as coisas... possivelmente.

Asuna teria notado a reação dos homens também, mas continuou conversando com Lazuli sem demonstrar qualquer sinal de desconfiança. Ela falou sobre como éramos parte do grupo da linha de frente, mas não estávamos em nenhuma guilda, e Lazuli mencionou que os quatro da «Qusack» só deixaram a cidade inicial há quatro semanas. Nesse momento, Asuna sugeriu que continuássemos a conversa no refeitório.

Os aventureiros famintos imediatamente concordaram, e seguimos pela entrada do Castelo Galey até o segundo andar.

A tarefa de «Kizmel» no depósito de tesouros já devia estar concluída, mas eu não a vi no refeitório. Para ser honesto, eu não conseguia prever o que poderia acontecer quando ela interagisse com outros jogadores além de nós, então decidi que não valia a pena procurá-la. Nós seis nos sentamos em uma mesa perto de uma janela.

Um mordomo se aproximou, então Asuna e eu pedimos apenas chá, enquanto o grupo de Gindo pediu o prato completo com pão — e eles pediram repetição do peixe também. Apenas Highston, o usuário de glaive, se limitou a um único prato.

Quando ele terminou primeiro, havia uma expressão de desculpa em seu rosto magro.

— Vocês terão que desculpá-los. Estamos quebrados, de forma geral, então agora que estamos aqui na base dos elfos negros, e a comida é gratuita, eles não conseguem se conter.

Temuo, cuja cabeça estava raspada como a de um jogador de beisebol colegial, mordeu um peixe começando pela cabeça e deu um empurrãozinho no ombro de Highston.

— Não tente bancar o controlado na frente da garota bonita! No vilarejo dos elfos do quinto andar, você estava comendo espetinhos com as duas mãos!

— E você com três em cada mão!

Eles eram um grupo bem alegre. Mas, mais uma vez, algo neles me parecia estranho. Highston disse que estavam quebrados, mas eles tinham equipamentos muito caros. E se eles tinham a habilidade de chegar até aqui — e assumindo que não estavam gastando dinheiro em itens duvidosos ou jogos de azar — deveriam ao menos ter col suficiente para gastar em comida decente.

Mas, obviamente, eu não iria me intrometer na situação financeira de uma guilda que eu acabara de conhecer, então apenas me recostei e tomei um gole de chá. Então, com o sorriso mais natural e o tom de voz mais despreocupado que eu poderia imaginar, Asuna perguntou.

— E como vocês se conheceram?

Considerando que ela era como um porco-espinho espinhoso quando nos conhecemos em «Tolbana», no primeiro andar, Asuna tinha se transformado em uma socialite bastante agradável...

O pensamento me arrancou um pequeno riso pelo nariz, fazendo o líquido na xícara ondular. Sentindo meus pensamentos, a espadachim gentilmente pisou no topo do meu pé esquerdo, enviando um sinal muito claro para que eu não dissesse nada fora de linha.

Sem saber que esse ato de intimidação estava acontecendo debaixo da mesa, os quatro trocaram outro olhar, incluindo Lazuli dessa vez. Gindo, o dândi barbudo — embora de um tipo diferente de Okotan da ALS — limpou a boca educadamente com um guardanapo antes de responder.

— Nós nos conhecemos na cidade inicial. Mas no começo, nunca planejamos realmente deixar a cidade... Nós éramos mais como uma fraternidade de troca de informações.

— Troca de informações? — Asuna repetiu.

Gindo percebeu a suspeita na voz dela e explicou.

— Sei que isso vai soar patético para você, dado o seu lugar no jogo, mas os "esperadores" lá na cidade inicial, que escolhem ficar seguros até que o jogo seja vencido, ainda sentem fome e sono todos os dias. Você não vai morrer sem comida aqui, claro, e pode dormir na rua, mas todo mundo quer uma refeição quente e uma cama macia. Isso significa que você precisa de dinheiro para comida e alojamento todos os dias.

Isso era verdade. E embora eu não tivesse voltado ao primeiro andar há um bom tempo, sabia que era muito mais difícil do que parecia. A maneira mais rápida de ganhar col era derrotar mobs. SAO não era o tipo de jogo que dizia "Insetos e animais não carregariam moedas de ouro!" então até mesmo as minhocas fracas e os javalis logo fora da «Town of Beginnings» deixavam alguns col. Mate dez por dia, e você poderia pagar uma refeição decente e um lugar para dormir — mas mesmo contra javalis, não havia como eliminar a possibilidade de um acidente.

Concentrar-se demais em um mob e você poderia não ouvir o som de outro surgindo nas proximidades, acabando por enfrentar dois ao mesmo tempo. Através da repetição de pequenos erros ou lapsos de julgamento assim, adquiria-se conhecimento, experiência e, finalmente, força. Mas neste mundo, você tinha apenas uma vida que poderia pagar o preço de um erro. Muito provavelmente, a maioria dos dois mil jogadores que já haviam desistido do jogo mortal o fizeram não muito longe da «Town of Beginnings». E de acordo com cálculos aproximados de Argo, isso incluía algumas centenas de beta-testers. Um erro, um acidente que levasse ao pânico, era tudo o que bastava para esgotar seus pontos de vida, não importava o quanto você soubesse sobre o jogo...

— Mas nós não ganhávamos nosso dinheiro indo para a selva e derrotando mobs. Na verdade, há muitas missões na «Town of Beginnings» se você procurar por elas — disse Gindo.

Era minha vez de repetir suas palavras.

— Missões?

— Sim. Claro, não podíamos mexer nas que eram como "Saia da cidade e pegue tal coisa" ou "Derrote X número de mobs", mas dentro da cidade, você pode fazer coisas como recados, encontrar objetos perdidos e até algumas raras como limpar casas e passear com animais...

— Ah, sim, sim! — disse Lazuli, que estava beliscando os legumes em conserva que vieram com o peixe grelhado. — Aquela em que você tinha que limpar a casa do acumulador? Essa foi difícil... Havia pilhas e pilhas de itens por toda a casa, e você tinha que separá-los em enormes caixas de madeira no quintal. Tinha que separar cada item perfeitamente para completar a missão, e muitos deles você nem sabia se eram brinquedos, itens práticos ou...

— Sabia que se você roubar as moedas e joias que aparecem nessas pilhas, você fica preso no porão daquela mansão por meio dia? — acrescentou Temuo.

Highston suspirou.

— Só você tentaria algo assim.

As brigas os fizeram rir. O líder deles, Gindo, sorriu com ironia e estendeu as mãos.

— O ponto é que há muitas missões que dão ganhos seguros. Mas, como não colocam sua vida em risco, todas são tediosas. Começamos a nos encontrar tanto nos vários pontos de missões que naturalmente começamos a trocar informações.

— Isso mesmo. No começo, eu tentava manter distância desse velho suspeito — disse Lazuli, apontando o garfo para Gindo. Ele reclamou.

— Eu não sou tão velho assim...

Embora sua aparência e comportamento fossem completamente diferentes, eu vi uma semelhança nos gestos de Gindo com o homem que empunhava uma cimitarra chamado Klein, com quem eu havia passado algumas horas caçando javalis no primeiro dia do jogo.

Ele havia ficado na«Town of Beginnings» para estar com seus amigos. Será que ele estava trabalhando duro agora para alcançar a linha de frente? Ou será que ele permaneceu onde estava para se concentrar na própria segurança? Seu nome ainda estava na minha lista de amigos, então eu poderia lhe enviar uma mensagem sempre que quisesse, mas os últimos dois meses passaram sem nenhuma comunicação entre nós. Suponho que me senti culpado por tê-lo abandonado e escolhi não chamar atenção para isso agora.

Mentalmente falando, a «Town of Beginnings» parecia infinitamente distante, mas com um portão de teletransporte, na verdade, estava a apenas um passo de distância. Se tivéssemos a oportunidade de ir para «Stachion», talvez fosse interessante visitar o andar inferior novamente.

Foi então que Lazuli disse. 

— Ainda assim, como regra geral, não há desvantagem nas recompensas ao fazer missões em grupo. Se trabalharem juntos, terminam mais rápido, e podem usar o tempo extra para procurar livros japoneses para ler. Logo, nosso pequeno grupo de troca de informações se tornou um grupo cooperativo de estratégia.

— Ah, entendo — murmurou Asuna, satisfeita com a resposta. Ela levantou a ponta da bota do meu pé debaixo da mesa.

Parecia perfeitamente natural que as pessoas trabalhassem juntas para completar as missões da cidade na «Town of Beginnings», mas aqui era o Castelo Galey, bem na linha de frente. Havia um grande salto mental envolvido em passar de um grupo que se uniu para evitar o perigo de lutar contra mobs para uma guilda oficial do jogo — o que significava que eles completaram a difícil e perigosa missão da guilda no terceiro andar — com equipamentos sofisticados capazes de derrotar os escorpiões naquele desfiladeiro empoeirado a caminho deste castelo.

Highston percebeu minha desconfiança e se virou para me encarar diretamente, com seus longos cabelos arroxeados balançando.

— Agora que chegamos a essa parte da história, podemos muito bem ir até o fim. Quando começamos o grupo, estávamos ganhando uma renda bastante sólida por um tempo... No entanto, a «Town of Beginnings» pode ser grande, mas não tem uma quantidade infinita de missões. Algumas são missões diárias que só podem ser feitas uma vez por dia, mas, quando a notícia se espalhou sobre elas, tantas pessoas tentaram que você tinha que esperar metade do dia só para poder começar uma...

— Ah... isso faz sentido — eu disse.

Gindo, o dândi barbudo, continuou dali.

— As missões da cidade foram concluídas antes mesmo de o primeiro andar ser limpo, então estávamos com problemas. Ah, não que eu esteja criticando vocês do grupo de linha de frente — muito pelo contrário. Somos muito gratos pelo seu trabalho árduo, e nos sentimos mal por vocês estarem fazendo tudo isso por nós. Nem conseguimos imaginar tentar fazer o que vocês fazem, limpando labirintos e derrotando bosses de andar...

— Hã? Mas isso não é verdade — eu disse, um pouco mais direto do que provavelmente deveria. — Vocês parecem ter equipamentos de alta qualidade, e se conseguiram chegar até aqui, eu imaginaria que podem lutar nas torres do labirinto sem muita dificuldade...

Eu queria perguntar se eles ajudariam juntando-se ao grupo de ataque, mas os quatro começaram a balançar a cabeça de repente.

— Não, não, de jeito nenhum — nós não conseguimos. Não somos assim — Lazuli começou a protestar, mas Gindo a interrompeu.

— Vamos explicar em ordem. Então, hum... eu contei para você como as missões na «Town of Beginnings» se esgotaram. Bem, nesse ponto, tínhamos algumas economias decentes, então não íamos passar fome tão cedo... mas, mesmo ficando na pousada mais barata, a carteira eventualmente ia esvaziar. Então, nós quatro conversamos e ponderamos duas opções: Racionar nosso dinheiro pelo tempo que pudermos na segurança da cidade? Ou gastar tudo em equipamentos e poções — e sair da cidade?

— Hã...?

Se vocês tinham essa opção, deveriam ter escolhido desde o início, pensei, antes de perceber algo.

— Ah, certo. Se você completa missões, ganha mais do que apenas dinheiro. Você ganha pontos de experiência.

— Exatamente — disse Temuo, com uma cauda de peixe saindo de sua boca. Ele moveu os lábios para puxar o resto para dentro e mastigou com um sorriso. — Quando terminamos todas as missões internas na «Town of Beginnings», estávamos todos no nível cinco.

— Cin…? — fiquei boquiaberto. Asuna e eu trocamos olhares.

Eu deixei a cidade no nível um depois do discurso do tutorial de Akihiko Kayaba, mas lembrei que, quando consegui a «Anneal Blade» na cidade de «Horunka», ainda estava apenas no nível quatro. Um grupo de quatro jogadores no nível cinco com bons equipamentos precisaria de um desastre para perder para os vermes e javalis ao redor da cidade inicial.

Mas o problema dos MMORPGs é que a possibilidade de desastre está sempre presente. Para jogadores que ficaram na segurança da cidade por quase um mês finalmente saírem daquela zona segura, tinha que haver algum outro motivo que os impulsionasse.

— Nós realmente nos sentíamos mais confiantes com nossos níveis... mas a razão pela qual eu argumentei que deveríamos sair pelo mundo era mais simples que isso — disse Highston timidamente, segurando sua xícara de chá com ambas as mãos. — Eu só queria fazer mais missões... As missões de SAO tendem a ser detalhadas, mas muitas parecem que foram escritas por uma criança. Você simplesmente não sabe o que vai acontecer nelas. Parece que os momentos em que estamos pensando seriamente na pista que resolverá o enigma, ou correndo pela cidade procurando aquele item faltando, são os únicos momentos em que realmente conseguimos esquecer que estamos jogando um jogo que está tentando nos matar...

— O quê?! Sério que era nisso que você estava pensando?! — gritou Lazuli, irritada, dando um leve tapa no ombro de Highston. A carranca logo se transformou em um sorriso. — Você deveria ter dito isso desde o início! Então não precisaríamos ter discutido por horas sobre isso.

— Sim. Todos nós já sabíamos que você era o maior amante de missões do grupo — apontou Temuo. Highston corou e tentou argumentar que não era tão obcecado assim.

Gindo sorriu novamente ao ver seus companheiros discutirem e voltou ao assunto.

— De qualquer forma... decidimos gastar quase todo nosso col em equipamentos e saímos da cidade. Primeiro, passamos por todas as missões de extermínio e colheita que não podíamos fazer antes, então todos chegamos ao nível 6 e ganhamos um novo espaço de habilidade. Nesse ponto, eu até comecei a pensar que, no ritmo que estávamos indo, íamos alcançar o grupo da linha de frente em pouco tempo...

De repente, o sorriso desapareceu de seus lábios, e ele apertou as mãos em punhos.

— Terminamos todas as missões em «Horunka» e «Medai» com facilidade, e então tentamos pegar um atalho pelo pântano até «Tolbana». Na semana desde que saímos da cidade, achamos que tínhamos ficado bons em lutar, e os kobolds de lá eram fáceis o suficiente, então ficamos arrogantes. Encontramos um grupo de três kobolds no pântano e não percebemos que um deles era novo para nós...

— Era um Kobold Caçador do Pântano? — perguntei.

Gindo parecia surpreso, mas assentiu.

— Sim, acredito que era esse o nome. Na época, eu usava uma espada de uma mão, mas a armadilha que o kobold lançou emaranhou minha lâmina, e ela caiu no pântano... Tentei pegá-la, mas, enquanto eu estava alcançando o lodo para buscá-la, outro kobold me atacou...

— Você não leu o guia de estratégias? — Asuna perguntou, com a voz um pouco mais dura do que antes. — Tenho certeza de que já estava sendo distribuído de graça em «Medai» naquela altura.

— Ah... é...

Gindo virou-se desconfortavelmente para olhar para seus amigos e suspirou.

— Usamos ele quando saímos da «Town of Beginnings», é claro. Mas esses guias são mais sobre mobs e itens, e as informações sobre missões são limitadas às maiores e às de combate... Estávamos orgulhosos — arrogantes, até — de termos completado todas as missões da «Town of Beginnings». Começamos a pensar que sabíamos mais do que o livro, então só folheamos rapidamente a versão atualizada em «Medai». E quando lemos com atenção depois, vimos que tinha uma descrição completa do Kobold Caçador do Pântano e alertas sobre o perigo que ele representava...

...

Abri a boca para dizer algo, mas percebi que não sabia o que realmente dizer. O conteúdo dos guias de estratégia da Argo naturalmente inclinava-se para informações de segurança. Esse era o motivo pelo qual ela os fazia e distribuía em primeiro lugar, e ela precisaria de uma equipe completa de escritores para cobrir todas as missões que não tinham potencial de serem letais.

— Naquele momento, eu estava à beira da morte, e Temuo e Lazuli também estavam no amarelo — disse Gindo, com a cabeça abaixada de vergonha. — Eu estava em pânico total. Só queria fugir, mas era um pântano, então correr era difícil... Tudo o que eu sabia era que eu ia morrer. Corremos como loucos, possuídos, até finalmente despistá-los, mas, a essa altura, nosso espírito já estava quebrado...

Eu estava lutando na linha de frente do progresso dos jogadores desde o lançamento oficial de SAO, mas o número de vezes que senti a Morte se aproximando foi surpreendentemente pequeno. Mas entendi exatamente o que ele quis dizer quando falou de espíritos quebrados. Ainda sentia um calafrio vívido ao me lembrar daquele momento lutando contra «Asterios, the Taurus King», no segundo andar, quando fui paralisado pelo ataque de raios dele, incapaz de fazer qualquer coisa além de olhar para o boss se aproximando.

Provavelmente, o fato de eu não ter desistido e me escondido na segurança da cidade depois disso foi porque eu estava com Asuna, pensei. Ela diria algo como "Prefiro morrer a desistir", e eu não poderia deixá-la sozinha para voltar à «Town of Beginnings».

Eu imaginava que esses quatro provavelmente aguentaram tudo isso por causa de seus laços pessoais.

Enquanto isso, Gindo continuou.

— Quando voltamos a «Medai», derrotados e destruídos, havia cerca de dez jogadores na praça da cidade gritando sobre algo. Quando perguntamos o que aconteceu, eles disseram que o boss do primeiro andar havia sido derrotado enquanto estávamos fora explorando. Isso foi emocionante e maravilhoso, e éramos gratos aos jogadores que fizeram isso, mas, honestamente, nos sentimos conflitantes.

Gindo suspirou, e o careca Temuo interveio.

— Tipo, ali estávamos nós, derrotados e miseráveis, e aí ouvimos essa notícia? Só serviu para nos mostrar o quão despreparados estávamos... Tipo, joguei beisebol em uma liga juvenil até o ensino fundamental...

— O quê?! — exclamei. Metade da minha surpresa foi por ele ser realmente um jogador de beisebol, como eu imaginava, e a outra metade foi por ele ter voluntariamente revelado detalhes do mundo real para estranhos.

Temuo pareceu surpreso com a reação, mas Highston balançou a cabeça, irritado.

— Sempre te dizemos para não falar do mundo de fora.

— E daí? Eu posso falar da minha própria vida se quiser, né? — ele perguntou, se voltando para mim em busca de validação. Concordei, meio sem jeito.

— Er, uh, sim.

— Viu, no beisebol, é muito fácil perceber quando você é superado. Isso é verdade para todos os esportes, claro... mas sempre há pelo menos um cara no seu time que você percebe que nunca será melhor que ele, e quando você joga em um torneio, encontra monstros que nem ele consegue superar na competição. Só as pessoas que continuam e não deixam isso desanimá-las alcançam o topo, mas eu não aguentava. Quando ouvi que o boss havia sido derrotado, me lembrei dessa sensação. Aquela sensação de estar nas arquibancadas no parque, gritando até ficar rouco, e percebendo o quão distante aquilo tudo parecia...

Ele ficou em silêncio, com o olhar perdido no espaço. Era como se ele estivesse olhando para a névoa de calor sobre o campo de beisebol no meio do verão.

Como alguém que estava presente na batalha contra «Illfang the Kobold Lord», o boss do primeiro andar, eu deveria ter dito algo, mas não consegui encontrar as palavras. Temuo estava falando sobre ser superado e sentir que estávamos tão distantes, mas eu não compartilhava dessa sensação. A única coisa que definia o atual grupo da linha de frente era um sprint bem-sucedido desde o início, nada mais. Nenhum dos bosses de andar havia sido fácil. Quando estavam em «Medai», maravilhados com nossa vitória sobre «Illfang», nós estávamos lamentando a perda de Diavel, nosso líder do grupo de ataque.

— Então... por que vocês não voltaram para a cidade depois disso? — Asuna perguntou, sem rodeios.

Temuo piscou algumas vezes, surpreso com a franqueza da pergunta.

— Bem, se eu tivesse que usar uma palavra, acho que seria... teimosia? — Ele olhou para os lados, onde Lazuli, Highston e Gindo todos assentiram. — Sabíamos que não iríamos entrar no grupo da linha de frente... mas ainda éramos teimosos em pensar que sabíamos mais sobre missões do que qualquer outra pessoa. Então dissemos a nós mesmos, antes de desistir e voltar para a zona segura, vamos testar até onde conseguimos chegar só com as missões.

— M-Missões... sozinhos? — perguntei, enquanto ao meu lado, Asuna arfou.

— Oh! Isso significa que o Q de «Qusack» é de...?

— Isso mesmo! Muito perspicaz, Asuna! — Lazuli comentou, estalando os dedos.

Nesse momento, achando que estava sendo chamado, o mordomo elfo negro se aproximou da mesa, o que fez Lazuli entrar em pânico. Mas Asuna aproveitou a oportunidade para pedir uma cerveja de mel, e enquanto o garçom se afastava, Highston assumiu a explicação.

— Você está certa — o Q é a abreviação de quest (missão). E sack veio do nosso amigo jogador de beisebol aqui, referindo-se aos sacos de ouro que levávamos.

Asuna soltou uma risada fofa, e eu acrescentei um gorgolejo abafado, bem menos gracioso. Como todas as guildas que conhecíamos tinham nomes legais e chamativos, como «Dragon Knights Brigade» e «Legend Braves», a simplicidade honesta de «Qusack», sendo apenas uma sigla para "buscar sacos", nos fez rir.

A cerveja de mel foi convenientemente trazida nesse momento, e eu tomei um gole do líquido doce e refrescante para matar a sede.

— Entendi... Vou ser sincero, achei que vocês eram um pouco suspeitos no começo, mas os enigmas estão sendo resolvidos. Então, a razão de suas armaduras serem tão boas, apesar de estarem quebrados financeiramente, é porque são recompensas de missões.

E a razão de parecerem desconfortáveis quando admitimos que fazíamos parte do grupo da linha de frente era por se sentirem culpados por terem desistido, acrescentei mentalmente. Mas algo na forma como Gindo puxou sua barba curta me disse que ele entendeu o que eu quis dizer.

— Sim, está certo. Você geralmente ganha mais experiência do que dinheiro nas missões... e entre todas as recompensas com uma seleção de loot, dá para montar um conjunto muito bom. Infelizmente, você precisa caçar para conseguir esses sacos de moedas, no entanto.

— Agora que você mencionou, isso é verdade — admiti. Mas ainda havia uma pergunta na minha mente. Para uma guilda focada em missões, como eles pareciam tão limpos e frescos mesmo depois de chegarem ao Castelo Galey? Os insetos gigantes e artrópodes nos desfiladeiros áridos lá fora eram alguns dos mobs genéricos mais difíceis de enfrentar até aquele ponto.

— Então... você está me dizendo... que começou a facção dos elfos negros na campanha "Guerra dos Elfos" no terceiro andar e veio ao Castelo Galey para continuar as missões da chave secreta? — perguntei.

Os quatro membros de «Qusack» assentiram.

— Isso mesmo. E vocês? Já recuperaram a chave desse andar? — perguntou Highston. Eu olhei para Asuna antes de responder.

— Sim, acabamos de voltar de lá. Se quiserem, podemos contar os principais pontos para se cuidar.

— Agradeceríamos muito — ele sorriu, inclinando a cabeça. Então, virou-se para o copo.

— Mas suponho que os mobs aleatórios pelo caminho foram mais difíceis do que resolver os enigmas... Vocês tiveram problemas com os insetos gigantes a caminho do castelo? — perguntei, em uma tentativa um tanto suave de investigar. Minha parceira percebeu a tentativa, e tossiu desconfortavelmente. Os quatro eram tão diretos quanto o nome de sua guilda sugeria; nenhum parecia desconfiar da minha pergunta.

— Ah, deixamos os ataques para nossa escolta e focamos apenas em proteger o grupo o tempo todo... — disse Gindo, o que não fez muito sentido para mim de imediato.

— E-Escolta? Vocês contrataram outro jogador...?

— Ah, não. Não temos dinheiro para isso. Quero dizer o NPC elfo negro... Vocês também não têm um? — perguntou ele. Olhei novamente para Asuna.

O primeiro pensamento que surgiu na minha cabeça ao ouvir "NPC elfo negro" foi «Kizmel», mas ela não era nossa guarda ou escolta, e só nos reunimos com ela ao chegarmos ao Castelo Galey. Ou será que isso significava que eles tinham sua própria "«Kizmel»"? Assim como nós, eles conseguiram derrotar o Cavaleiro Sagrado Elfo da Floresta na «Forest of Wavering Mists», evitando a morte de «Kizmel» e ganhando uma companheira...?

Olhei ao redor do salão de jantar, mas não vi ninguém que se encaixasse nessa descrição. Talvez eles já tivessem separado o grupo no momento da chegada, mas isso poderia significar que nossa «Kizmel» no tesouro poderia se deparar com a «Kizmel» deles em algum lugar no castelo. Eu não conseguia imaginar o que aconteceria se isso acontecesse.

Asuna preencheu o silêncio que eu estava deixando. Ela perguntou com uma voz rouca,

— Qual é... o nome da sua escolta...?

— Nome? — repetiu Gindo, surpreso. Ele olhou para seus companheiros. — Vocês sabem o nome desse elfo...?

Os outros três balançaram a cabeça. Lazuli disse.

 — O cursor só dizia "Batedor Elfo Negro". Não seria esse o nome?

Agora foi nossa vez de nos entreolharmos. «Kizmel» era uma cavaleira, não uma batedora. Seu título oficial era Guarda Real Elfa Negra. Isso tornava muito menos provável que a escolta de «Qusack» fosse outra «Kizmel», mas eu precisava ter certeza.

— A propósito, qual o sexo da sua escolta...?

— É um homem. E ele é bem rude — disse Temuo. Tanto eu quanto Asuna suspiramos.

Após mais perguntas, descobrimos que, como o design inicial da missão previa, o evento de entrada deles fazia com que tanto o elfo negro quanto o elfo da floresta morressem. Os quatro conseguiram completar as missões do comandante do acampamento de alguma forma, mas na missão final do terceiro andar, "Recuperando a Chave", eles receberam um Batedor Elfo Negro como escolta e quinto membro da equipe. Aparentemente, ele desaparecia na entrada das cidades humanas e reaparecia quando eles saíam. Se aceitassem missões não relacionadas ou caçassem em um lugar só, ele sumia novamente. Ele era extremamente frio, como se esperava de um elfo negro, e não se envolvia em conversas pessoais ou triviais.

Quando eu fiz a campanha "Guerra dos Elfos" no beta como jogador solo, eu não tive um escolta; o que eles estavam vivenciando provavelmente era uma medida de suporte adicionada ao lançamento oficial, mas se aquele elfo fosse tão forte quanto «Kizmel», eu podia entender como esses quatro jogadores focados em missões chegaram ao Castelo Galey sem sofrer danos.

Mas, ao mesmo tempo, senti perigo. Essa linha de missões continuava até o nono andar. Aquele escolta desapareceria quando a missão acabasse. Será que eles conseguiriam continuar sem alguém para causar o grande dano por eles?

Me perguntei essas e outras coisas enquanto tomava um gole da minha cerveja de mel, mas decidi que não era realmente da minha conta. Eles tinham completado outras missões fora da campanha dos elfos sem um guarda-costas, e certamente Asuna e eu recebemos muitos benefícios táticos e emocionais com a presença de «Kizmel». Dado que o batedor era apenas um simples NPC guarda-costas para eles, «Qusack» talvez achasse mais fácil seguir em frente quando a campanha terminasse, sem perder a motivação.

— Nossa, olha a hora — disse Gindo, me despertando dos meus pensamentos. Os pratos na mesa já estavam limpos, e Temuo e Lazuli pareciam sonolentos. Gindo fechou sua janela, levantou-se e deu um tapinha na cabeça de Temuo.

— Kirito, Asuna, foi um prazer conversar com vocês. Vamos pegar nossa missão com o senhor do castelo, então vamos nos despedir por hoje...

— Não, obrigado por nos cederem seu tempo — disse Asuna, levantando-se da cadeira. Eu também inclinei a cabeça. Combinamos de nos encontrar novamente pela manhã e assistimos os quatro deixarem o salão.

Quando as portas se fecharam e os cursores desapareceram da vista, olhei para minha companheira temporária. Depois de alguns segundos, Asuna murmurou.

— Acho que também há pessoas como eles lá perto da linha de frente.

— Eu nunca tinha considerado a possibilidade de uma guilda focada em missões... Mesmo sem fazer grind para subir de nível, dá pra chegar até aqui só com os loot das missões, pelo visto. * NOTA

— Não que a gente faça tanto grind assim — ela apontou.

— Isso é verdade.

Seguiu-se um silêncio, e eventualmente, exalamos simultaneamente. Era bom ver mais jogadores se concentrando em sair das cidades e chegar à linha de frente — e ser focado em missões abria novas possibilidades para isso. Nosso encontro com o grupo de Gindo foi um desenvolvimento bem-vindo — mas havia algo no meu peito que incomodava e não ia embora.

Talvez fosse apenas uma irritação infantil pelo fato de outros terem invadido o que eu considerava nosso momento de relaxamento privado ao redor do castelo com «Kizmel». O Castelo Galey era um local público, então todos os jogadores tinham o direito de visitar. Em SAO, como em qualquer MMORPG, era uma violação clássica de etiqueta "reivindicar" um espaço público e recusar aos outros o direito de estar ali.

Como membros da facção dos elfos negros nessa linha de missões, esse era, na verdade, um lugar para trocarmos informações úteis. Eu me disse para parar de ser infantil e egoísta — e seguir o exemplo de Asuna na forma como ela interagiu cordialmente com o grupo de «Qusack». E, ainda assim...

— Mais cedo, eu disse que não era fã de instâncias. Agora eu retiro o que disse — minha parceira comentou de repente. Eu a encarei.

— Po...por quê?

— Porque! De qualquer forma, onde «Kizmel» foi parar? — ela retrucou, claramente tentando mudar de assunto, olhando ao redor do salão de jantar sem motivo aparente. Praticamente todos os outros elfos negros já haviam seguido em frente, e, claro, «Kizmel» não estava ali.

— Talvez ela tenha voltado para o quarto dela...

— Bem, então nós devíamos voltar também.

— Sim, boa ideia.

A espadachim prontamente saiu andando, e enquanto a seguia, me perguntei se algum dia eu entenderia completamente o jeito que a mente dela funcionava...

Não, decidi com um suspiro, esse dia provavelmente nunca chegaria.



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