Volume 6
CÂNONE DA REGRA DE OURO (FIM) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 6)
6
ACORDEI COM MOVIMENTOS QUE NÃO ERAM MEUS, calor que não era meu e respiração que não era minha.
Através das pálpebras entreabertas, vi a luz fraca e branco-cinza da manhã. Com base na cor, estimei que eram por volta das cinco da manhã.
Normalmente, eu ainda estaria dormindo a essa hora, mas fui para a cama muito cedo e já tinha dormido nove horas. Estávamos programados para nos encontrar com «Kizmel» no refeitório às sete, então ainda havia tempo para relaxar, mas decidi que era melhor não ser preguiçoso.
E, ainda assim, meus olhos se fecharam novamente. O ar frio da manhã de janeiro contra o absoluto conforto e calor da cama era simplesmente uma luta injusta. Minha mente, parcialmente desperta, afundou de volta na escuridão.
Só mais trinta minutos... Não, vinte, pensei. Como um estudante do ensino fundamental na manhã de segunda-feira, e tentei desligar meu cérebro. * NOTA
Mas houve um leve "Mmh…" e uma sensação de algo se mexendo ao meu lado. A princípio, pensei que estava tendo um sonho de que tinha um gato, mas logo percebi que não era nem um gato nem um sonho.
Minhas pálpebras estavam tão pesadas que pareciam estar coladas; embora o mundo virtual não utilizasse seus olhos reais, o modo como ele tornava impossível focar em um estado de meio-sono era estranhamente realista — provavelmente uma questão entre o cérebro e o NerveGear. Pisquei repetidamente até que a névoa cinza se tornasse uma imagem nítida.
A metade superior do meu campo de visão era dominada por um grande travesseiro, enquanto a metade inferior mostrava algo marrom-claro. Eu estava deitado de lado, isso eu sabia, e meu braço direito estava estendido para frente, preso entre o objeto marrom e o travesseiro.
Meu braço esquerdo estava repousando sobre um objeto macio, e minhas pernas estavam entrelaçadas com algo também. Estavam ou aprisionando ou sendo aprisionadas; era difícil dizer ao certo. Pisquei mais algumas vezes, usando meu braço livre para tentar afastar o enigma grudado ao meu corpo...
— Nnuh — veio outro murmúrio, de algum lugar sob meu queixo. O objeto macio que minha mão esquerda tocava de repente se mexeu.
Não era um gato nem qualquer outro animal pequeno. Era um animal grande, mais ou menos do meu tamanho — um humano. Um jogador. Especificamente, era minha parceira temporária, Asuna. O objeto marrom repousando sobre meu braço direito era a cabeça de Asuna.
No instante em que a situação foi registrada em minha mente, ela acelerou de um estado de confusão para um foco intenso. Conforme minha mente despertava, escolhi minha linha de ação.
Aparentemente, eu havia oferecido meu braço como travesseiro e minha mão livre segurava seu ombro. Eu estava de lado, e Asuna também, o que significava que nossos corpos estavam quase totalmente em contato, e eu não sabia o que estava acontecendo com nossas pernas. Movi meus olhos sem mexer o pescoço para olhar para a cabeceira da cama. Eu estava firmemente do lado esquerdo da cama — o que significava que eu era o responsável por violar o tratado territorial.
Estávamos apenas de mãos dadas com os dedinhos quando adormecemos, então, durante a noite, de alguma forma avancei do leste para o oeste.
— Uyu...
Asuna se mexeu novamente. Os intervalos de sua atividade estavam ficando mais curtos, e em minutos... talvez menos de um minuto, ela provavelmente acordaria. Eu precisava voltar para meu território no lado direito da cama antes que isso acontecesse.
Cuidadosamente, soltei o ombro de Asuna e deixei minha mão pairar no ar. Mas meu braço direito ainda estava preso entre sua cabeça e o travesseiro, e removê-lo seria difícil. Sem mencionar as nossas pernas, que estavam todas entrelaçadas. A essa altura, a única maneira de me libertar sem perturbar Asuna exigiria um cristal de teletransporte, mas esses só permitiam teletransporte para os portões de teletransporte das várias cidades — e, mais importante, eles não estavam disponíveis no sexto andar.
Ainda assim, eu tinha tempo para tentar, caso acreditasse em milagres — e não tinha muita outra escolha. Tentei usar minha mão esquerda para levantar a cabeça de Asuna. Se eu conseguisse libertar meu braço direito, talvez pudesse desfazer nossas pernas e escapar.
— Mmmh...
No momento em que meus dedos tocaram a nuca dela, Asuna fez uma careta. Rapidamente tirei minha mão. Ela se mexeu por mais alguns segundos, depois estendeu a mão bem na minha frente e agarrou a gola da minha camisa.
Estou morto.
Nesse ponto, tudo o que eu podia fazer era deixar meus músculos relaxarem e esperar pelo momento fatídico.
✗✗✗
Duas horas depois...
— Por que você está colocando seu peixe no prato de Asuna, Kirito? Você não gosta de peixe? — «Kizmel» me perguntou. Estávamos no refeitório.
Com um sorriso triste e secreto, respondi.
— Não, eu adoro peixe — no tom seco de uma frase de exemplo em um livro didático de idiomas.
— Então por que está dando tudo para ela?
— Hã...
Fiquei sem uma resposta apropriada. Em vez disso, Asuna enfiou seu garfo no peixe frito que eu estava oferecendo e explicou alegremente.
— Kirito fez algo ruim, então está pagando por seu crime.
— Oh... O que ele fez?
— Bem — começou Asuna, mas antes que pudesse detalhar o incidente inteiro, eu intervim.
— Veja bem, eu meio que invadi o espaço pessoal de Asuna... Cheguei um pouco perto demais para o conforto dela — eu disse, para explicar o termo em inglês "espaço pessoal". Recebi um olhar frio da espadachim por meu comentário. Sim, o ato de abraçar alguém em uma cama estava além do nível de "violação de espaço pessoal", mas se «Kizmel» também fosse ficar chateada comigo, eu poderia muito bem passar o dia todo fazendo agachamentos no canto do castelo sozinho.
Rezei para que ela entendesse e aceitasse essa explicação, assumindo que ela na verdade não aceitaria. Mas, para minha boa sorte, «Kizmel» assentiu profundamente e com seriedade.
— Entendo. É a primeira vez que ouço esse termo, mas compreendo seu significado. Na sociedade élfica também é considerado uma violação das normas se aproximar demais de outra pessoa.
— Sério? — perguntou Asuna à minha direita. Ela colocou sua xícara de chá de ervas de lado e refletiu — mas... quando você está conosco, não parece manter distância, «Kizmel»... Na dungeon da aranha rainha no terceiro andar, você nos conduziu para debaixo de sua capa de ocultação, por exemplo.
De fato, lembrei-me de ter ficado bastante confuso com a quantidade de contato que houve com seus braços e pernas e outras partes do corpo. A cavaleira élfica sorriu melancolicamente e olhou para suas próprias mãos.
— Sim, eu me lembro disso. Parece que, em comparação com outros elfos negros, meu espa... espaço pessoal... é um pouco menor. «Tilnel» gostava de se agarrar a mim, afinal... Vivíamos muito grudadas quando éramos crianças, então acho que me acostumei com a sensação.
Senti os olhos de Asuna se arregalarem quando «Kizmel» mencionou o nome de sua falecida irmã, que morreu em batalha contra um Falconeiro Elfo da Floresta no terceiro andar.
Asuna e eu nunca conhecemos «Tilnel». Na verdade, eu partia do pressuposto de que nunca houve um NPC de elfo negro em Aincrad chamado «Tilnel». A infância de «Kizmel» com sua amada irmã, o momento em que ela se tornou uma cavaleira e «Tilnel» uma herborista, e a morte de «Tilnel» durante a missão para recuperar a chave sagrada... Todas essas coisas tinham que ser parte de sua história de fundo, detalhes inventados e colocados na memória de «Kizmel». Por um lado, os elfos tinham uma vida longa, então «Kizmel» era mais velha do que parecia, talvez cinquenta ou sessenta, ou até mais do que isso. No entanto, o mundo de Aincrad em si existia apenas desde 6 de novembro de 2022, menos de dois meses atrás no mundo real.
Mas, depois de todas as minhas interações com «Kizmel», o Visconde «Yofilis» e até o velho «Romolo» e o ferreiro do acampamento, essa maneira de pensar estava lentamente evoluindo. Essas coisas pareciam ricas e complexas demais para serem apenas simples memórias geradas que foram implantadas para definir os personagens e dar-lhes individualidade.
Nos dias atuais de 2022 — ou melhor, não, já era 2023, tive que me lembrar — a humanidade ainda não havia desenvolvido uma AGI funcional, ou inteligência artificial geral. * NOTA
A inteligência artificial em si havia avançado muito nos cinco anos desde 2017, que agora era considerado o primeiro ano da era da IA. Havia aplicativos de shogi e go que você podia instalar no smartphone e que eram mais difíceis do que qualquer jogador profissional, programas de negociação de ações e moedas que realizavam milhares de transações por segundo para ganhos eficientes, e os hospitais agora tinham ferramentas para realizar diagnósticos automaticamente com imagens de alta resolução. Não demoraria muito para alcançarmos o nível 5, o ponto em que carros totalmente automatizados estariam dirigindo nas ruas públicas. * NOTA
Mas, em comparação com os avanços rápidos dessas "IAs estreitas", que eram focadas em tarefas específicas, ainda tínhamos um longo caminho para desenvolver uma "IA geral" capaz de aprender sozinha e se comunicar no mesmo nível que um ser humano. Uma vez que esse nível de inteligência fosse alcançado, a IA poderia ser aplicada a uma ampla variedade de áreas. Alto-falantes inteligentes estavam em casas ao redor do mundo, ajudando com gerenciamento de horários, eletrodomésticos e pesquisas de informações, mas claramente eram incapazes de contribuir de maneira significativa para uma conversa.
Para começar, as IA são boas em aprender coisas com resultados claros — vencer e perder, certo e errado — mas têm grandes dificuldades quando não há uma resposta correta a discernir. Os conceitos de vitória e derrota não se aplicam à conversa normal.
Ainda assim, à minha frente, tomando seu chá de ervas com uma expressão pensativa, estava uma NPC elfa negra em um videogame — não exatamente o auge do desenvolvimento de IA de ponta — que nunca nos havia dado uma resposta sem sentido a qualquer afirmação. Talvez isso se devesse em parte ao fato de que estávamos evitando tocar em tópicos que «Kizmel» não entenderia, mas mesmo assim, sua capacidade de manter uma conversa era essencialmente ao nível de um ser humano.
Como a Argus — como Akihiko Kayaba — conseguiu implementar uma IA tão funcional em um videogame?
Só conseguia imaginar uma maneira: criar um enorme corpus de texto de conversas entre um vasto número de humanos e IA sobre tópicos específicos e, em seguida, reduzir o ruído estatístico e o estresse computacional. Claro, isso não seria fácil. Seria difícil o suficiente apenas conseguir que centenas de pessoas participassem e explicassem o que era permitido discutir e o que era proibido. E ainda haveria a questão de como recrutá-las e como pagá-las pelo tempo e esforço.
Mas em um mundo de VRMMO…
Os jogadores geralmente falariam apenas sobre tópicos e missões do jogo, e quem precisaria pagar a eles quando estariam felizes em entrar e passar horas no jogo de cada vez? Se mil jogadores falassem com IA ao longo de um mês, você acumularia o tipo de dados que nenhuma empresa ou pesquisador jamais conseguiu obter.
Então, usando esse corpus de texto, eles poderiam fazer as IAs conversarem entre si. Uma vez que os humanos reais fossem retirados da equação, essa conversa poderia ser simulada muito, muito mais rápido. Em dois meses, seria possível simular séculos ou mais de diálogo entre IA individuais.
Isso significava que era possível que «Kizmel» e os elfos negros... e os elfos da floresta, e os elfos caídos, e os NPCs humanos... tivessem todos construído uma história real que começou desde a criação de Aincrad antes do lançamento oficial de SAO. E entre eles estavam IAs especiais com habilidades conversacionais próximas a uma inteligência geral, como «Kizmel» e o Visconde «Yofilis».
Se minha imaginação — não, meu devaneio — estivesse mesmo próxima da verdade, então a capacidade de IA do SAO já estava nesse reino de "futuro próximo".
Agora havia dez vezes mais jogadores do que no beta, um total de dez mil em Aincrad, todos trocando palavras com IA todos os dias. Esses dados poderiam ser acumulados, refinados e polidos o suficiente para levar à produção de uma joia da coroa da verdadeira inteligência artificial? Eu certamente não poderia descartar categoricamente...
— Hum, Kirito.
Um toque no meu cotovelo me trouxe de volta com uma rápida série de piscadas.
— Hweh? O... o quê?
— Não vem com "o quê" pra cima de mim. Foi tão chocante assim eu ter pegado seu peixe? Você mal deu uma mordida até agora.
— Oh…
Olhei para o meu prato, onde ainda havia dois pedaços de peixe frito depois do que eu tinha oferecido à Asuna, e eu nem tinha tocado na salada ou na torrada. A aventura do dia prometia ser longa, então eu precisava me alimentar enquanto podia — mesmo que as calorias não fossem reais.
Espetei um pedaço de peixe com o garfo e enfiei tudo na boca. A porção crocante desmanchou, revelando um pedaço suculento de carne branca. Enquanto limpava o prato, não pude deixar de me perguntar se «Kizmel» e seu povo sentiam as mesmas sensações de gosto e satisfação. Quando terminei a comida, engoli o chá de ervas.
— Não precisava engolir tudo de uma vez, sabia? — murmurou Asuna. Eu me inclinei e mordi o tomate cereja preso na ponta do garfo dela, arrancando-o.
— Aaah! Por que fez isso?! — Asuna levantou o garfo para me acertar, e eu levantei a faca para me defender. «Kizmel» apenas balançou a cabeça, num gesto de irmã mais velha, se é que eu já tinha visto um. Asuna percebeu e abaixou o braço.
— Ei, «Kizmel», você pode nos contar mais sobre «Tilnel»?
— Hmm...? Ah, claro. Contarei algumas histórias durante nossa jornada hoje.
— Ótimo. Mal posso esperar para ouvi-las — Asuna sorriu, recebendo um sorriso de volta da elfa negra. Não havia nenhuma sombra em sua expressão desta vez.
✗✗✗
Após a refeição, «Kizmel» nos guiou até o posto de suprimentos do Castelo Galey. Eles foram muito generosos, oferecendo-nos cinco poções de cura, cinco poções de antídoto e uma sacola com rações e lanches, uma vez por dia, gratuitamente. Infelizmente, os antídotos eram apenas de nível 1, então não podiam neutralizar o veneno paralisante de nível 2 dos dardos arremessáveis de Shmargor de Morte.
A perspectiva de encontrar um antídoto eficaz contra o veneno me deixou animado para ouvir o contador de histórias que «Kizmel» mencionou na noite anterior, mas, infelizmente, só poderíamos encontrá-lo na biblioteca entre meio-dia e três da tarde.
Eu não gostava da ideia de continuar a missão sem um meio de neutralizar os dardos venenosos, mas provavelmente estaríamos bem enquanto «Kizmel» estivesse conosco. Ela tinha um anel com encantos mágicos de antídoto, e eu não conseguia imaginar que a gangue de Morte atacaria uma cavaleira de elite cujo nível era tão alto que seu cursor de cor deveria parecer preto.
Pelo modo como o usuário da adaga, também conhecido como Capuz Preto Número Dois, havia desistido de sua arma principal para tentar salvar Morte — ou Mamoru, como o chamava — eles não tinham se envolvido naquele truque esperando sacrificar suas vidas.
Mas isso só significava que, quando tentassem nos atacar novamente, seria em circunstâncias ainda mais vantajosas do que na outra noite. Da próxima vez, fariam o que fosse necessário para nos matar; e provavelmente estavam elaborando seu plano diabólico naquele exato momento.
Senti uma nova onda de apreensão com a ideia de apenas esperar eles fazerem o próximo movimento, mas não conseguia pensar em uma maneira de atacá-los primeiro; e mesmo que tivesse um plano, precisaria de uma força de vontade em um nível diferente do que estava trabalhando agora. Para começar, assumindo que soubéssemos onde era o esconderijo deles, não havia um método infalível para prender um jogador em Aincrad por longos períodos de tempo. A única maneira de impedir que eles cometessem mais maldade seria desconectá-los permanentemente do jogo.
E a única maneira de fazer isso com certeza, neste momento, era reduzir os pontos de vida deles a zero. O que causaria a morte do jogador na vida real…
— Ei, Kirito, estamos indo!
— Não nos faça deixar você para trás!
Levantei o olhar dos ladrilhos no chão para a distância, onde vi a cavaleira e a espadachim me chamando em direção à nascente nas raízes da árvore espiritual.
Os galhos e folhas da enorme árvore, que emergia do centro da piscina, brilhavam deslumbrantemente com inúmeras gotas de orvalho que capturavam o sol da manhã e escorriam como fios dourados. A visão das duas mulheres contra esse pano de fundo era surpreendentemente bela.
«Kizmel» era «Kizmel», é claro, mas a essa altura, Asuna talvez fosse mais forte do que eu em pura habilidade de luta também. Mesmo assim, senti um poderoso desejo de protegê-las surgir no meu coração enquanto corria para me juntar a elas.
Fomos escoltados para fora dos portões do castelo pelo som dos sinos leves e os olhares silenciosos dos guardas. Após passar um minuto caminhando sobre a ponte construída sobre o vale arenoso, desprovido de qualquer vegetação, um ícone de debuff desconhecido apareceu na barra de vida de «Kizmel».
O símbolo de uma pessoa cabisbaixa era o ícone de status de fraqueza, eu me lembrava. Sofri com isso uma vez no beta, lutando contra os sacerdotes serpente no Castelo das Mil Serpentes no décimo andar. Ele eliminou grande parte dos meus atributos de força e agilidade, o que me colocou em um estado de sobrecarga. Incapaz de fugir para a segurança, fui morto logo depois.
«Kizmel» não parecia estar tão mal, mas percebi, em pouco tempo, que sua rica pele marrom-café estava visivelmente mais pálida agora. Asuna chamou seu nome com preocupação e tentou oferecer-lhe um braço, mas a cavaleira corajosamente a afastou e retirou uma capa fina de uma bolsa que mantinha presa nas costas.
— Achei… que pudesse aguentar mais tempo… mas isso é apenas um lembrete de que nós, elfos, somos impotentes sem a generosidade da floresta e da água — resmungou, trocando sua capa usual por aquela.
Assim como a de Asuna, essa capa tinha capuz e era de um tom misterioso de verde com tintura prateada — eu até conseguia distinguir um padrão que parecia veias de folhas. No momento em que colocou o capuz sobre a cabeça, o ícone de fraqueza de «Kizmel» desapareceu e foi substituído por um novo ícone de buff.
— Ufa — a cor já estava voltando ao seu rosto. Asuna e eu ficamos tão surpresos com a melhora imediata que a cavaleira nos deu um pequeno sorriso orgulhoso. — Esta capa é um tesouro especial que foi mantido no reino desde antes da Grande Separação. É cuidadosamente costurada com as folhas preciosas da Árvore Sagrada, que raramente caem, mesmo no meio do inverno… Entre todos os castelos e fortalezas juntos, não há mais de dez dessas capas restantes.
— Ooooh… Isso é fascinante — sussurrou Asuna, examinando a capa de perto. — Então é feita das folhas da Árvore Sagrada…
Enquanto isso, eu estava mais curioso sobre os efeitos do novo ícone de folha — mas não podia simplesmente sair tocando na capa de «Kizmel» enquanto ela a usava. Fiz uma anotação mental para pedir permissão a ela para examiná-la assim que voltássemos ao Castelo Galey e abri meu menu principal para verificar o registro de missões.
Estávamos prestes a enfrentar a história principal da missão da campanha "Guerra dos Elfos" no sexto andar, conhecida como "Chave de Ágata". O formato da missão em si era simples — coletar a chave na dungeon da área sul e levá-la de volta ao castelo — mas o problema era que, das cinco áreas radiais ao redor do centro do sexto andar, estávamos no noroeste, o que significava que teríamos que atravessar a área oeste só para chegar ao sul.
Isso significava passar por duas das dungeons de fronteira que separavam cada área — a primeira das quais já era um desafio considerável para um grupo de ataque completo com a ALS e a DKB, além da Bro Squad como apoio. Mesmo com «Kizmel», isso não seria fácil... Só por precaução, verifiquei nossa rota até lá.
— Hum, «Kizmel», sobre nosso destino... Presumo que estamos indo para o Santuário da Chave na parte mais ao sul do sexto andar?
— Isso é correto. Estou impressionada que você soubesse que o santuário estava no sul — disse «Kizmel» maravilhada. Obviamente, eu não podia contar a ela que já tinha estado lá no teste beta, então dei uma resposta superficial sobre ter entendido isso com meu livro de Escrita Mística. De fato, o registro da missão incluía a localização da dungeon, então não era exatamente uma mentira.
— Entendo. Seus encantos mágicos humanos são poderosos, de fato — comentou a cavaleira. Caminhei até ela para mostrar o mapa completo do sexto andar, que Asuna examinou do lado oposto. Elas traçaram o caminho até nosso destino com o dedo.
— Nossa localização atual é aqui, e o santuário com a chave está em algum lugar por aqui. Isso significa que temos que passar pelo caminho sob as montanhas tanto aqui quanto aqui... Isso vai ser um desafio sério se tentarmos enfrentá-los de frente, mas se houver algum tipo de atalho secreto conhecido apenas pelos elfos negros, então — insinuei. Asuna me deu uma cotovelada na lateral.
— Agora, não seja inconveniente. Desculpe, «Kizmel», por favor ignore ele.
— Hrmm. Não me lembro de ter ouvido nada sobre um atalho — respondeu a cavaleira. Ela olhou para cima e sorriu. — Mas não há necessidade de atravessar as montanhas.
— Uh... por que não?
— Podemos guardar essa surpresa para depois. Vamos primeiro em direção ao lago central.
«Kizmel» colocou a mão em minhas costas e nas de Asuna e nos empurrou para frente, então tive que fechar minha janela e começar a andar.
✗✗✗
O corpo de água em forma de estrela no centro do andar era chamado de Lago «Talpha», e de fato reduziria significativamente o tempo de viagem se você conseguisse atravessá-lo. No beta, muitos jogadores usaram materiais flutuantes para tentar atravessá-lo, mas o lago abrigava um devastador mob estrela-do-mar gigante que agarrava qualquer pessoa que tentasse cruzá-lo e a arrastava para uma sepultura aquática.
Isso seria um entretenimento emocionante em um jogo normal, mas encontrar aquela estrela-do-mar em SAO agora era algo nada menos que suicídio. A ideia das intenções de «Kizmel» era preocupante, mas no momento eu não tinha escolha senão confiar nela.
Nós três cruzamos a ponte de pedra e entramos no labirinto de paredes de cânion. Mobs arenosos começaram a surgir ao nosso redor, mas «Kizmel» estava ainda mais forte do que quando trabalhamos com ela na missão da chave sagrada no quinto andar, e com facilidade ela derrotou as aranhas do deserto e vermes da morte que nos deram tanto trabalho.
Em termos de eficiência de nivelamento, SAO era um jogo solitário, onde a melhor maneira de subir de nível era jogando sozinho, mas por enquanto, não havia ajuste de pontos de experiência baseado na diferença de nível entre mob e jogador — o que significava que subir de nível em grupo, onde um ou dois jogadores de nível mais alto poderiam fortalecer o grupo derrubando grandes quantidades de mobs sozinhos, era surpreendentemente fácil.
Esse era exatamente o caso no momento, então eu gostaria que pudéssemos encontrar uma boa área com alta frequência de mobs e ficar por duas ou três horas — talvez até metade de um dia ou um dia inteiro — para ganhar níveis. Mas, considerando que estávamos em uma missão importante para recuperar as chaves sagradas, eu não podia pedir isso a «Kizmel». (Na verdade, eu já não considerei essa ideia no terceiro andar?)
Para minha decepção, evitamos o combate na maior parte enquanto seguíamos para o sul através dos cânions arenosos, e chegamos às colinas do outro lado da área por volta das dez horas.
As cinco áreas de tamanho igual do sexto andar estavam espalhadas como um leque, então quanto mais você se aproximava do lago no centro, mais estreita se tornava a faixa de terreno. A cerca de quinhentos metros à nossa esquerda havia uma face rochosa íngreme, e se eu apertasse os olhos, conseguia ver a entrada do caminho da caverna por onde passamos ontem, na base das rochas bem à frente.
Havia uma parede de rocha semelhante no lado direito, mas o túnel por aquela região estava localizado mais próximo do perímetro externo do andar — e não era visível daqui. As paredes ficariam cada vez mais estreitas até chegarmos ao Lago «Talpha» em forma de estrela no centro.
— Ufa... Finalmente, passamos pelo vale seco — comentou «Kizmel», tirando o capuz verde.
— Hey, já é seguro tirar isso? — perguntei, hesitante.
— Sim. Há pelo menos algumas plantas nesta região, com algumas nascentes de água aqui e ali.
Mas, pelo que eu podia ver, a paisagem ao redor era apenas um deserto árido e marrom-avermelhado, com as únicas plantas visíveis sendo cactos espinhosos e suculentas. Não parecia estar transbordando com a "generosidade da floresta e da água", mas a cavaleira tirou a capa de qualquer maneira.
O ícone de debuff não reapareceu, mas mesmo depois de duas horas sob a capa, o rosto dela ainda parecia pálido e desconfortável. Asuna também notou e perguntou.
— Tem certeza de que não deveria mantê-la até chegarmos ao lago?
— Sim... Como eu disse antes, essa Capa de Folha Verde é muito preciosa. Seria uma desonra para nossos antepassados usá-la onde não fosse necessário e danificá-la em combate — respondeu «Kizmel», dobrando cuidadosamente a capa e guardando-a em uma bolsa. Ela retirou seu manto de camuflagem com um longo suspiro e o vestiu em seguida.
Eu abri meu inventário e materializei uma garrafa de água para ela, que aceitou agradecida. Depois, peguei mais duas para Asuna e para mim, e nós três saciamos nossa sede em fila. Por algum motivo, senti vontade de fazer uma pose com a mão esquerda na cintura, mas não o fiz, com medo de que minhas companheiras não me acompanhassem.
Quando a garrafa estava pela metade, eu a guardei. Um jogador podia carregar tanta comida e água quanto o limite de carga permitisse, mas os elfos não tinham inventários sofisticados como os dos jogadores e precisavam carregar todos os seus pertences à mão. O mesmo valia para os NPCs humanos, o que significava que, quando Morte matou «Cylon», todas as moedas de ouro e prata que ele deixou caíram estavam guardadas em algum lugar sob suas vestes.
Aposto que o Lord da cidade tem uma bolsa bem pesada, pensei, o que não tinha nada a ver com a situação, mas o pensamento me fez parar por um momento. Quando «Cylon» morreu, ele deixou cair tanto a chave dourada que roubou de nós quanto uma chave de ferro. Por essa lógica, ou ele a carregava o tempo todo, ou a tirou de sua mansão para usá-la. Se fosse a segunda opção, fazia sentido que, para onde «Cylon» pretendia levar Asuna e eu enquanto estávamos paralisados, a chave de ferro seria necessária.
Quando finalizei o evento de paralisia sozinho no beta, o servo e protegido secreto de «Pithagrus», «Theano», me salvou nas ruas secundárias de «Stachion», então eu não sabia onde a carruagem deveria terminar. E não me lembrava de nenhuma chave de ferro envolvida nas séries de missões que se seguiram. Portanto, se Morte não tivesse matado «Cylon», duvido que teríamos visto qualquer chave de ferro desta vez também.
Isso significava que a chave que eu tinha em meu inventário agora era um item que o jogo gerava apenas quando «Cylon» morria no meio da missão... e que provavelmente havia uma rota alternativa "«Cylon» morto" para a missão "Maldição de «Stachion»".
Sem pensar, eu estava passando pela minha janela de inventário aberta procurando pela chave de ferro. Tive que segurar meu pulso com a outra mão para me deter. Agora era o momento de focar na missão "Chave de Ágata", não na "Maldição de «Stachion»". Poderíamos voltar a «Stachion» a qualquer momento, e mais importante, se «Kizmel» pudesse nos ajudar a atravessar o Lago «Talpha», provavelmente poderíamos nos adiantar em relação aos outros jogadores da linha de frente que estavam contornando o mapa no sentido anti-horário.
— Certo, vamos — comecei a dizer, mas notei que Asuna e «Kizmel» estavam ocupadas, de costas para mim, diante de um cacto bastante grande. Caminhei até lá para ver o que elas estavam fazendo e vi que estavam colhendo algo vermelho entre os espinhos do cacto e levando à boca.
— Ei! Vocês estão comendo alguma coisa! — gritei. Asuna me lançou um breve olhar antes de voltar à sua colheita. Ela estava até fazendo isso com as duas mãos agora, colocando os objetos vermelhos na boca em dobro de velocidade.
Determinado a não ficar de fora, rodeei o cacto e examinei a base dos espinhos de quase dez centímetros de comprimento do objeto vermelho ali. Cautelosamente, estendi a mão e colhi uma fruta redonda com menos de três centímetros de diâmetro. Quando hesitante mordi, o suco jorrou, doce, frio, azedo e efervescente, entorpecendo minha mente de prazer.
Imediatamente certo de que o sabor era melhor do que até mesmo as batatas-doces semi-peixe de classificação B, fui pegar outra, mas talvez por minhas mãos serem maiores que as delas, não consegui colher a fruta com tanta rapidez. Quando tirei a terceira fruta, Asuna já estava dando a volta ao cacto.
Ela vai comer a minha parte! — pensei, e na pressa de pegar a quarta fruta, minha mão escorregou e se cravou em um espinho do cacto.
— Ai!! — Assim como com as sensações de combate, não era dor real, mas eu puxei a mão por puro instinto. Asuna aproveitou a oportunidade para pegar a fruta e colocá-la na boca.
No final, eu consegui apenas cerca de dez frutas antes que o cacto fosse totalmente limpo. Olhei para minhas duas companheiras satisfeitas e resmunguei.
— Não acredito nisso. Vocês poderiam ter me avisado antes de começarem a comê-las...
— Ha-ha, desculpe por isso, Kirito — riu «Kizmel», que parecia estar com um bom humor. Talvez a fruta do cacto tivesse algumas propriedades curativas. — Essas Frutas Celusianas têm o sabor mais delicioso, mas as flores florescem e produzem frutos apenas uma vez por ano. E mais, a fruta pode aparecer em qualquer estação, porque os frutos caem apenas trinta minutos depois de crescerem. Então, quando você as vê, deve comê-las o mais rápido possível.
— Trinta minutos...? — repeti, olhando para o deserto árido. Havia mais de cem cactos pontilhando a paisagem, só do que eu podia ver, mas um ano teria 8.760 horas, o que significa 525.600 minutos, e apenas trinta desses minutos apresentariam frutos em um cacto individual. As chances de realmente encontrar um cacto frutífero deviam ser incrivelmente baixas. Não valeria a pena vagar pelo deserto em busca deles, por mais saborosos que fossem, então essa poderia ser a primeira e última vez que eu teria essa chance. Voltei-me para minha parceira temporária, que ainda parecia estar saboreando o resplendor de sua refeição.
— Hum, Asuna?
— Ahhh... o que?
— Quantas dessas frutas do cacto você comeu?
— Cerca de quarenta ou cinquenta. Eu comeria mais, se pudesse... Só me dê uma banheira cheia delas.
— Hrrr...! — gemi, jurando para mim mesmo que teria que voltar para procurá-las de qualquer maneira.
«Kizmel» deu um tapinha no meu ombro.
— Vamos embora agora. A essa altura, aqueles mobs insetos irritantes não vão mais nos incomodar.
Como ela disse, os mobs que surgiram na região montanhosa pareciam principalmente coiotes e lagartos, e nenhum deles tinha veneno, o que os tornava muito mais fáceis de derrotar. Em vez disso, passamos o último quilômetro ouvindo «Kizmel» nos contar histórias sobre sua irmã «Tilnel», que tinha despertado a curiosidade de Asuna.
A história de como ela pegou um barco a remo e foi para o lago perto da cidade real no nono andar, sozinha, quando era criança, e ficou perdida por um dia inteiro. A história de como colocou muito extrato de zimbro no banho e cheirou igual a uma árvore por uma semana. A história de como deu a «Kizmel» um tônico experimental durante seus estudos de herbologia, que deixou o cabelo de «Kizmel» verde como o de uma dríade.
Asuna riu de todas as histórias, e elas me lembraram das experiências que tive com minha irmã, Suguha, anos atrás, mas não pude deixar de entreter um pensamento inquietante no fundo da minha mente. Se todas as memórias de «Kizmel» sobre «Tilnel» eram apenas "história de fundo", memórias implantadas, então eram todas coisas que o pessoal da Argus, algum roteirista, tinha inventado originalmente.
Mas será que eles realmente dariam uma história tão rica para «Kizmel», que era apenas um dos incontáveis NPCs que habitavam Aincrad? Não parecia haver fim para as histórias da cavaleira; era como se ela se lembrasse de cada dia que passou com sua irmã «Tilnel». Se não fosse apenas NPCs especiais como «Kizmel» e o Visconde «Yofilis» que tivessem essa riqueza de memória, mas todos os NPCs no jogo... seria impossível para uma equipe de roteiristas criar tanto material.
Por quase uma hora, caminhamos, as histórias de «Kizmel» entrando pelo meu ouvido esquerdo e a fumaça do meu cérebro superaquecido saindo pelo direito. Finalmente, o espaço entre as duas paredes da montanha à frente alcançou menos de meio quilômetro, com a superfície azul brilhante do lago visível além.
Trocamos olhares e corremos o resto do caminho até chegarmos à água.
— Ooooh, uau! — exclamou Asuna, e eu não a culpei. A margem da água, fortemente curvada, era uma praia de areia branca pura, com água incrivelmente cristalina lambendo a areia. A superfície brilhava ao sol, a água passando de verde-esmeralda para azul-cobalto à medida que se aprofundava. Até o ar parecia um pouco mais quente ali.
Comparado ao diâmetro de dez quilômetros do primeiro andar, o Lago «Talpha» não era tão grande, mas ainda assim tinha mais de meio quilômetro de largura, a margem oposta desaparecendo na distância. No entanto, as paredes rochosas que dividiam o andar em cinco seções iguais eram claramente visíveis à direita e à esquerda — e bem à nossa frente. Era evidente à primeira vista que aquele era o centro onde as cinco áreas se encontravam.
— Ei, posso entrar na água só um pouquinho? — perguntou Asuna. Ela estava se aproximando cada vez mais da areia. Eu ia avisá-la, mas «Kizmel» foi mais rápida.
— Não, você não pode. Este lago é o lar de um terrível mob estrela-do-mar... Eu nunca o vi pessoalmente, mas dizem que seus braços extremamente longos podem alcançar a margem desde as profundezas do lago.
Asuna imediatamente recuou.
Então, a estrela-do-mar gigante, que era chamada de «Ophiometus», ainda estava no fundo do lago na versão oficial. Agora eu estava realmente curioso e preocupado com o plano de «Kizmel» para chegar à outra margem.
A cavaleira sentiu meus olhos sobre ela e sorriu confiante. Ela puxou um novo item de sua bolsa: um pequeno frasco de vidro, não maior que seu polegar. Havia um líquido azul-puro dentro.
— Kirito, mostre-me a sola da sua bota.
— O...kay — concordei, mas mesmo em um mundo virtual, levantar a perna o suficiente para que a sola do sapato ficasse visível era mais fácil falar do que fazer. Consegui erguer a perna direita, tentando esticar o tornozelo e a pelve o máximo que pude, mas quando a perna estava perpendicular ao chão, perdi o equilíbrio, gritei, balancei os braços e caí na praia de areia.
O riso espontâneo de Asuna foi abafado com um som abafado de "Poom!"
Envergonhado, queria me levantar rapidamente, mas «Kizmel» disse.
— Perfeito, assim está bom — e me fez deitar de costas com os pés apontados para o ar, o que não me fez sentir melhor.
Ela cuidadosamente retirou a rolha do frasco e colocou uma gota em cada uma das minhas solas. Os sapatos começaram a brilhar em azul por completo, e outro ícone desconhecido acendeu acima da minha barra de HP. Eu podia adivinhar o que significava, dado o desenho de um sapato sobre a água, mas esperei «Kizmel» explicar de qualquer maneira.
— Pode se levantar — disse ela. Puxei minhas pernas de volta sobre a posição da minha cabeça, depois as empurrei para frente para saltar de pé em um movimento. Eu precisava estar na melhor posição possível para observar o senso de equilíbrio da minha parceira, depois que ela gentilmente riu de mim por cair de bunda.
Asuna me lançou um olhar irritado, disse — Vá em frente, «Kizmel» — e ergueu a perna direita, não para a frente, mas para trás, apoiando o tornozelo com a mão. Claro, essa era uma maneira muito mais fácil de expor a sola do pé sem forçar as articulações. Na verdade, provavelmente nove em cada dez pessoas fariam o mesmo. Eu estava ao mesmo tempo impressionado e irritado com a ideia. — Injusto — resmunguei.
Depois de pingar suas próprias botas no final, «Kizmel» colocou a rolha de volta no frasco e o guardou novamente. Em seguida, cruzou a areia e pisou cautelosamente na água cristalina onde ela ia e vinha contra a margem. Os primeiros passos afundaram na superfície, mas por volta do quarto, uma estranha ondulação atravessou a água, e o quinto e o sexto passos foram claramente sobre ela.
— Ooooh — dissemos Asuna e eu, maravilhados.
A cavaleira se virou e nos chamou para a frente.
— Venham, vocês dois. Passem devagar sobre a água.
Nós assentimos com a cabeça e nos aproximamos da beira do lago. Só para garantir, segurei o ombro da minha parceira e a mantive imóvel.
— Então, «Kizmel», se andarmos sobre a superfície da água, a estrela-do-mar não vai aparecer?
— Eu garanto. No entanto…
— No entanto?
— O encantamento "Gotas de Villi" nas suas botas só terá efeito se vocês pisarem suavemente. Se correrem ou pularem, quebrarão a superfície e perderão o efeito. Então, a estrela-do-mar os perceberá... por isso, tomem cuidado para não perderem o controle.
Tive a sensação de que essa última parte era dirigida apenas a mim, mas decidi que era apenas minha imaginação. A grande questão era se podíamos confiar nossas vidas a um feitiço — ou melhor, um "encantamento" — que poderia perder seu efeito apenas correndo. Afinal, o corpo de «Ophiometus» nunca emergia. Ele apenas enviava suas longas e longas mãos para agarrar os jogadores e arrastá-los para o fundo, então era impossível derrotá-lo em combate. E, diferente do beta, se morrêssemos no fundo do lago, não renasceríamos no «Black Iron Palace», na cidade inicial.
Eu queria dizer, «Kizmel», nós realmente não podemos nos dar ao luxo de morrer, mas me contive. Essa afirmação era tão verdadeira para NPCs como «Kizmel» quanto para nós. Mesmo que outro elfo negro com o mesmo nome e aparência fosse gerado nas florestas do terceiro andar após sua morte, não seria a mesma «Kizmel». Como eu poderia dizer a ela "Tudo bem se você morrer, mas nós somos mais importantes"?
— Está tudo bem, Kirito — sussurrou Asuna, como se lesse meus pensamentos. Ela estendeu a mão e segurou os dedos da minha mão direita, murmurando.
— Só precisamos andar. E, mesmo que caiamos, eu tenho uma carta na manga. Ou... na perna da calça.
— Na sua... perna da calça...?
Eu não tinha ideia do que a espadachim estava insinuando, mas parecia que não seria tão difícil fazer isso sem correr ou pular. Pelo menos, deveria ser muito mais administrável do que manobrar a diferença entre andar e pular em um jogo tradicional, onde a única distinção era o ângulo exato em que o polegar inclinava o analógico.
— Bem, tudo bem. Só tome cuidado e mantenha o que está fazendo em mente o tempo todo.
— Olha quem fala — ela rebateu, e começamos a caminhar. No início, nossos sapatos apenas espirravam na água, mas logo havia flutuação sob nossos pés. Estávamos de pé sobre a água, que parecia como pisar em uma camada espessa de borracha.
Quando alcançamos «Kizmel», que havia esperado pacientemente, ela nos deu um sorriso tranquilizador e se virou. Então, começou a avançar sobre a água em direção à outra margem. Nós a seguimos.
Depois de andarmos cerca de vinte metros, Asuna disse.
— Ah, é... quando lutamos contra «Wythege», no quarto andar, foi esse encantamento que impediu o Visconde «Yofilis» de afundar na água?
— Ohhh... Mas, espera aí, ele não estava correndo loucamente sobre a superfície?
— O palpite de Asuna está metade correto — disse «Kizmel», virando ligeiramente a cabeça para nos olhar por cima do ombro. — O líquido que eu pinguei nas solas dos nossos sapatos é um elixir valioso que só pode ser feito por villis — espíritos da água, donzelas undinas. Mas os sapatos do Visconde «Yofilis» são tecidos com pelos de villi e nunca afundam na água.
— Pelos...? Você não quer dizer que ele matou o espírito e cortou o cabelo dela, né...? — perguntei, imaginando algum drama trágico, mas «Kizmel» balançou a cabeça veementemente.
— Nunca!
Um pouco de água espirrou nos pés dela, e a cavaleira encolheu o pescoço.
Felizmente, não foi o suficiente para quebrar o encantamento em si, e ela retomou, em silêncio.
— Para nós, elfos, as ondinas, incluindo os villis, são tão sagradas quanto as dríades da floresta. Elas são nossas vizinhas e nossas protetoras... Se considerarmos cortar uma árvore viva ou profanar um riacho límpido como quebrar um tabu, então matar uma villi seria atrair uma maldição sobre toda a raça élfica.
— Eu sinto muito, não deveria ter sugerido tal coisa… Então, como o visconde conseguiu sapatos tão valiosos?
O preço era um valor desconhecido nesse caso, mas RPGs de fantasia sempre tratam equipamentos que permitem cair suavemente ou andar sobre a água como artefatos preciosos. A essa altura, estávamos perto do centro do lago, e a titânica e mortal estrela-do-mar se escondia apenas alguns metros abaixo de nós, mas eu estava tão absorto nesse tópico que quase esqueci disso enquanto esperava a resposta dela.
«Kizmel» olhou para a frente e balançou a cabeça novamente, quase imperceptivelmente dessa vez. Ela sussurrou.
— Eu não sei os detalhes. Mas, se os rumores forem verdadeiros... há muito tempo, o visconde e uma donzela villi... não. Não devo falar de coisas incertas. Por favor, finjam que não ouviram isso.
Asuna, que estava mil vezes mais interessada do que eu nesse tipo de assunto, suspirou. Mas não insistiu — e manteve o silêncio enquanto caminhava.
Eu não pude deixar de imaginar se a cicatriz de lâmina no rosto do visconde poderia ter algo a ver com essa história, mas provavelmente nunca saberíamos. Pelo menos, as botas que permitiam ao Visconde «Yofilis» andar sobre a água não eram destinadas a nenhum jogador, então eu poderia abandonar essa ideia.
À frente, a margem distante, que antes estava nebulosa ao longe, se aproximava muito. Faltavam talvez duzentos metros, e sua praia branca e a parede rochosa imponente atrás dela já eram claramente visíveis.
Das cinco áreas que compunham o sexto andar, a primeira, ao nordeste, contendo a cidade principal, era floresta; a segunda, ao noroeste, contendo o Castelo Galey, era terra árida; a terceira, ao oeste, era um pântano; e a quarta área, ao sul, para onde estávamos indo, era projetada para ser cavernas. Não era uma dungeon feita pelo homem, mas uma formação natural de cavernas, e havia poucos lugares onde se podia realmente ver o céu — ou o fundo do sétimo andar, como era o caso. Portanto, não era necessariamente um lugar agradável para passear, mas certamente era melhor do que a área ocidental que estávamos pulando, com sua lama pegajosa e lodo profundo fora da trilha principal.
Assim que conseguíssemos a chave sagrada, teríamos que voltar ao Castelo Galey, mas ter o atalho do lago seria de grande ajuda quando chegasse a hora de enfrentar o labirinto do andar, se pudéssemos usá-lo. Mas essas Gotas de Villi eram claramente extremamente valiosas, então eu não poderia simplesmente pedir mais — não quando era apenas por conveniência.
Enquanto isso, a margem distante estava cada vez mais próxima, e a vista sob a superfície estava novamente mais clara, com pequenos cardumes de peixes nadando sob nossos pés. Às vezes, havia brilhos que pareciam moedas ou joias na areia lá embaixo, o que me dava vontade de mergulhar e pegá-los, mas isso claramente era uma armadilha. Eu teria que esperar até que tivéssemos um meio de derrotar a estrela-do-mar primeiro.
✗✗✗
Nosso padrão usual de atividade exigia que um de nós dois — geralmente eu — cometesse um erro e se metesse em grande encrenca pouco antes de alcançarmos a segurança, mas desta vez não houve nenhum mergulho repentino na água. Estávamos de volta em terra firme, caminhamos um pouco pela praia branca e então paramos com um suspiro de alívio.
— Bem... há uma primeira vez para tudo. Isso foi bastante emocionante — disse a cavaleira.
Virei-me para ela, surpreso.
— Espera, essa foi a sua primeira vez atravessando o lago também, «Kizmel»?
— Mas é claro. Nunca pus os pés fora do Castelo Galey.
— Então você está dizendo... que não sabe a localização do labirinto subterrâneo que guarda a chave...? — perguntei, pensando que essa poderia ser uma rara ocasião em que seríamos nós a guiar «Kizmel», em vez do contrário. Mas a cavaleira tirou um pergaminho de um estojo longo e fino em seu cinto e disse orgulhosamente: — Nunca estive lá, mas sei o caminho. Veja.
Olhei para o papel. Era um mapa da área sul, desenhado com considerável detalhe. Uma marca vermelha estava colocada dentro do complexo de cavernas sinuosas, e uma linha vermelha indicava a rota direta a partir da beira do lago.
— Ah, então você tem um mapa. Então aqui está o lago, e aqui é o nosso destino... e o que é essa marca? Parece a cabeça de um inseto — Asuna disse, apontando para um ponto perto da parte inferior do mapa.
— Está correto — «Kizmel» respondeu com um aceno de cabeça. — Nas cavernas espreita uma centopeia gigante coberta por uma armadura rochosa. Felizmente, não precisamos cruzar seu caminho, mas ouvi falar de muitos humanos que se perderam em sua toca e pagaram o preço final.
— Nossa... Estrelas-do-mar, centopeias — este lugar tem de tudo. Só espero que não haja milípedes ou ganymedes.
Eu poderia ter sido metido e apontado que o último era o nome de uma lua, não de uma criatura, mas guardei isso para mim. * NOTA
No beta, não havia um mini boss campo do tipo centopeia na área sul do sexto andar. Em vez disso, havia uma planta na torre labirinto localizada na quinta e última área, e a estrela-do-mar invencível no lago, mas isso era tudo o que eu me lembrava.
Alguns dos minis bosses de campo haviam sido mudados nos andares anteriores — como o boss tartaruga gigante no quarto andar, que se transformou em uma tartaruga marinha de duas cabeças — mas até agora não haviam sido adicionados novos bosses. O grupo de avanço estava enfrentando o jogo sob essa premissa, então, se a ALS ou a DKB, em sua pressa competitiva, se deparassem com um boss centopeia na caverna para o qual não estivessem preparados, havia a possibilidade de desastre à espreita.
— Desculpe, me dê um momento — pedi às duas mulheres, que ainda examinavam o mapa, e fui até a aba de MENSAGENS do meu menu principal. Enviei uma mensagem curta para Argo, a negociadora de informações.
ONDE ESTÁ O FR MAIS DISTANTE AGORA?
FR era a abreviação de front-runner, o apelido preferido de Argo para o grupo que estava à nossa frente em Aincrad. Ela não devia estar em combate ou espionagem, porque recebi uma resposta em dez segundos.
ELES VÃO TENTAR A DUNGEON QUE LEVA À TERCEIRA ÁREA HOJE À NOITE. 100C, dizia sua mensagem, com o custo da informação indicado no final. Felizmente, ela mantinha uma conta corrente para mim, mas não era a fatura que me fez franzir a testa.
— Rápido demais — murmurei, verificando a aba do MAPA. O grupo líder havia se movido da primeira área para a segunda na tarde de ontem, 2 de janeiro, então estavam se movendo para a próxima área após apenas um dia.
A segunda área tinha apenas uma pequena cidade chamada «Ararro» — o Castelo Galey dos elfos negros não tinha sentido se você não estivesse fazendo a missão da "Guerra dos Elfos" — e os mobs fora do vale seco que levava ao castelo não eram tão difíceis. Então imaginei que não levaria muito tempo, mas ainda assim era muito rápido. Provavelmente, Kibaou e Lind calcularam que poderiam levar uma área por dia, terminando o sexto andar em apenas cinco dias no total. Dado que terminamos o quinto andar em quatro dias, não era absurdo, mas a última torre do labirinto ficava em uma linha reta se você evitasse desvios. Este exigia muito mais viagens para ser alcançado.
De qualquer forma, estava claro que precisávamos assumir que a terceira área pantanosa estaria concluída amanhã à tarde, quando o grupo de linha de frente chegaria à quarta área, onde estávamos. Voltei para o lado de «Kizmel» para examinar o mapa; a toca da centopeia gigante estava localizada um pouco antes da Cidade Caverna de «Goskai», a maior cidade da área. Se o grupo estivesse correndo ao longo do caminho, cansado após limpar a dungeon, havia uma chance maior de eles tropeçarem na caverna da centopeia com pouca ou nenhuma preparação do que eu queria admitir.
Abri minha janela novamente e enviei uma segunda mensagem para Argo.
CONSEGUI INFORMAÇÕES SOBRE UM NOVO MINI BOSS DE CAMPO ANTES DE «GOSKAI» NA QUARTA ÁREA.
ENTENDIDO, ela respondeu imediatamente, VOU ABATER O CUSTO DA SUA ÚLTIMA DICA.
Isso deve ser suficiente para impedir que a DKB e a ALS se deparem com o mini boss centopeia sem ter ideia do que estava por vir. No entanto, não é que eu não confiasse na capacidade deles, mas eu queria participar dessa batalha também.
A verdadeira questão era se poderíamos terminar a missão do "Castelo Galey" até amanhã à tarde e alcançar o grupo novamente.
— Esse encanto de Escrita Distante que vocês humanos podem usar é uma coisa muito prática — disse «Kizmel», impressionada. Ela estava me observando enviar mensagens para Argo.
Asuna se intrometeu e disse.
— Os elfos precisam enviar batedores para entregar cartas, não é? Mesmo com suas árvores espirituais, isso parece muito trabalhoso.
— Isso mesmo. Nós, elfos negros e elfos da floresta, pensamos pouco sobre os encantos humanos de vocês, mas vendo o que são capazes de fazer, suspeito que suas Magias de Escrita Mística e Escrita Distante sozinhas possam superar toda a magia que nós elfos ainda possuímos.
Eu não sabia bem como responder a ela. Ela as reconhecia como uma forma de magia, mas o menu do jogador e as mensagens instantâneas eram funcionalidades do jogo, e eu não poderia explicar isso. Além disso, os jogadores humanos podiam usar essa "magia", mas os NPCs humanos não.
Mas «Kizmel» não demonstrou mais interesse na arte da Escrita Distante. Em vez disso, ela trouxe à tona um ponto sobre o qual eu não pensava há um tempo.
— O que foi que «N'ltzahh», o elfo caído, disse no quarto andar? Quando eles tiverem todas as chaves e abrirem a porta do Santuário, a maior magia da humanidade desaparecerá, certo?
— Ah... ele disse isso — respondeu Asuna, com as bochechas ficando um pouco coradas. Fiquei curioso sobre o motivo e tentei lembrar das circunstâncias daquela cena.
Tínhamos feito uma viagem de gôndola pelo rio de «Rovia» no quarto andar e estávamos no final da dungeon aquática quando nós dois ouvimos os Caídos discutindo.
Além de «N'ltzahh», o general mascarado, havia também «Eddhu», um capataz, e uma elfa que parecia ser a assistente do general. A declaração foi de «N'ltzahh» para sua assistente, cujo nome eu lembrava ser «Kysarah».
"Quando tivermos todas as chaves e abrirmos a porta do Santuário, até a maior magia deixada para a humanidade desaparecerá sem deixar rastros."
E, em resposta, «Kysarah» havia dito: "Claro, Excelência. O momento de nosso triunfo se aproxima."
Se não pudéssemos mais usar nossa Escrita Mística e Escrita Distante, isso seria um grande problema. Mas parecia impossível na prática. Mensagens instantâneas eram uma coisa, mas não poder usar o menu principal do jogo? Sem escolher habilidades, armazenar itens ou ver o mapa — o jogo seria impossível de vencer dessa forma.
Então, isso significava que a "maior magia" de que «N'ltzahh» falava era outra coisa? Algo cuja perda estaria ligada a algum grande desejo dos elfos caídos? Que tipo de desejo seria esse...?
Minha imaginação bateu numa parede naquele momento. Minha mão direita abriu e fechou repetidamente em frustração. Então Asuna veio marchando em minha direção e pisou no meu pé esquerdo com a ponta da bota, com força.
Essa sensação foi o gatilho que trouxe uma nova enxurrada de memórias. Quando «N'ltzahh» disse aquelas coisas, Asuna e eu estávamos escondidos em uma pequena caixa de madeira, espremidos e imóveis. Minha mão tinha ficado presa sob a placa do peito de Asuna, e...
— Acho que já descansamos o suficiente. Gostaria de terminar e voltar ao castelo enquanto ainda está claro — anunciou «Kizmel», me puxando de volta da lembrança. Abaixei a mão e silenciosamente balancei a cabeça para Asuna. Ela bufou e me lançou um olhar que ordenava que eu apagasse aquela memória para sempre, então começou a andar ao lado da cavaleira.
Havia uma alta face rochosa à frente delas, com uma boca de caverna aberta no centro.
Ei, o código de prevenção de assédio não disparou dessa vez também, pensei enquanto corria atrás delas. Será que ela viu a janela disso abrir quando acordou esta manhã?
✗✗✗
A maior parte da área da caverna não era completamente escura como uma dungeon; em vez disso, áreas abertas aqui e ali permitiam a entrada de luz do teto, e mesmo nos trechos mais sombrios, ainda havia luz natural suficiente para enxergar. Não precisávamos carregar tochas ou lanternas.
Felizmente, os mobs aqui não eram insetos, mas principalmente tipos aquáticos e morcegos. Os mais problemáticos eram os slimes, fazendo sua primeira aparição em Aincrad aqui. RPGs japoneses eram famosos por caracterizar slimes como os mobs mais fracos de introdução, mas isso não era verdade em SAO. Por um lado, não havia magia de fogo ou gelo no mundo para contra-atacar efetivamente aquele corpo gelatinoso.
Então teríamos que nos virar com nossas armas. Mesmo assim, ataques de corte e estocada eram fracos contra o slime, com apenas armas de impacto tendo algum efeito decente. E, no nosso grupo de três,«Kizmel» e eu tínhamos armas de corte, e Asuna usava uma arma de estocada.
Slimes eram excepcionalmente difíceis para nós.
Então...
— Aaaaaargh! Que raiva! — Asuna não fez questão de esconder sua frustração ao ativar a habilidade de espada «Oblique». Sua rapieira iluminou o ambiente escuro com uma estocada rápida para baixo. A espada atingiu o Covetous Ooze marrom no chão da caverna à sua frente.
Um grande buraco apareceu no centro do slime, que tinha cerca de um metro de largura, e, embora parecesse que ele poderia se despedaçar, não houve muito efeito em seu HP. Quando os efeitos visuais da habilidade desapareceram, os pedaços de slime se contorceram e se reuniram, voltando à sua forma plana e gelatinosa original.
Percebi que uma parte dele estava se projetando para fora, então avisei Asuna.
— Se esquive!
A espadachim saltou para longe assim que pôde se mover, exatamente quando a parte protuberante do slime lançou um pequeno tentáculo semelhante a um chicote. Ele tentou se enrolar na «Chivalric Rapier», mas errou por meros centímetros quando Asuna puxou sua arma de volta.
Se pegasse, o tentáculo puxaria com força tremenda, e se a arma fosse arrancada, seria absorvida pelo núcleo do slime. Isso tornava difícil recuperá-la, e a arma sofreria uma grande perda de durabilidade nesse meio-tempo. Eu nem sabia o que poderia acontecer se ele agarrasse o jogador, especialmente se estivesse usando armadura de tecido.
O Covetous Ooze — assim chamado por roubar coisas com avidez — retraiu seu tentáculo e ondulou, praticamente zombando de Asuna
— Grrrr! O que fazemos com essa coisa, Kirito?! — ela suplicou. Olhei para trás de mim, onde, a alguns metros de distância, «Kizmel» estava lidando com dois morcegos vampiros. Seu HP não havia caído, então provavelmente estava bem sozinha. Olhei de volta para Asuna e disse, em um volume seguro que não chamaria a atenção de mais mobs nas proximidades.
— Primeiro, guie-o para a luz!
— Eu... eu vou tentar!
Asuna se moveu lentamente para a direita, até que o slime se arrastou para um círculo de luz natural que passava por um buraco no teto. O corpo amarelo sujo no escuro se tornou dourado brilhante na luz — mas foi só isso. Ele não recebeu nenhum dano da luz, não pareceu perturbado nem tentou fugir.
— Nada aconteceu! — Asuna lamentou, então eu lhe dei a próxima dica.
— Olhe bem para o corpo inteiro do slime enquanto ele está translúcido sob a luz do sol!
— O quê?! Ah... tem algo ali.
Sempre afiada, Asuna encontrou o que procurava em apenas dois segundos, apertando os olhos. Não estava no centro do slime, mas ao longo da borda externa do que constituía suas "pernas". Havia algo brilhante e reflexivo, como um olho, uma bolsa de ovas de peixe, ou uma daquelas bolinhas transparentes de gel.
— Esse é o núcleo do slime! Esmague essa coisinha com uma habilidade de espada e você o matará com um golpe! — gritei. Como se fosse um sinal, o slime se encolheu em uma forma de bola. Não estava assustado, mas se preparando para pular alto do chão, espalhando-se fino e largo. Se envolvesse sua cabeça, você sofreria dano contínuo de ácido e começaria a sufocar.
Mas, em vez de recuar, Asuna usou outra habilidade de espada. Era ainda mais fácil ver o núcleo com o corpo do slime todo espalhado sob o sol, tornando-o o alvo perfeito para a habilidade de estocada única, «Streak». A ponta da rapieira deixou um rastro prateado ao atingir o núcleo de dois centímetros. A esfera translúcida resistiu por um breve momento antes de estourar com um pequeno som de estouro.
Quando seu HP chegou a zero, o slime perdeu sua coesão interna e se desfez em muitos pequenos pedaços. Eles espirraram no rosto e no corpo de Asuna, cobrindo-a de uma geleia amarela-escura. Ela provavelmente teria gritado, se não fosse pelo fato de que o slime se transformou em pequenas texturas poligonais azuis que flutuaram para longe.
Asuna ficou parada, com a rapieira ainda estendida, até que «Kizmel» voltou depois de derrotar os dois morcegos e disse alegremente.
— Ah, muito bem, Asuna. Nem muitos elfos são habilidosos o suficiente para derrotar um slime com uma única estocada de rapieira.
— Obrigada — murmurou a jovem. Seus lábios estavam tremendo porque parte do slime havia voado em sua boca? Eu estava rapidamente me tornando um especialista nos alimentos mais bizarros de Aincrad e queria perguntar a ela qual era o gosto, mas meus instintos de sobrevivência me disseram que agora não era o momento.
Eu queria dizer "Bom trabalho!" com um sorriso, mas também tive que me conter. Havia mais sons suaves de algo se contorcendo à distância. Coloquei um dedo nos lábios para silenciar as duas e escutei atentamente. O som característico do slime se retorcendo estava ficando mais próximo e mais alto, mas não vi nenhum cursor por perto. Quando isso acontecia no beta, geralmente era porque...
— Acima! — gritei.
Acima de nós, uma forma amorfa estava caindo entre estalactites finas, semelhantes a pingentes de gelo, no teto da caverna.
Asuna percebeu tarde e tentou pular para trás enquanto o observava cair, mas, por azar, tropeçou em uma estalagmite baixa que estava logo atrás dela e caiu de costas. «Kizmel» ergueu sua espada para proteger Asuna, mas se ela simplesmente cortasse o slime que estava caindo sem acertar o núcleo, a criatura líquida sofreria pouco dano e atacaria as duas diretamente.
Levantei minha espada instintivamente para preparar a habilidade de espada «Sonic Leap». Eu saltaria em um ângulo tão forte quanto o sistema permitisse e acertaria o slime caindo com ela. Como ele estava logo fora do buraco no teto, o slime não pegava a luz do sol e parecia apenas uma mancha escura. Não havia como saber onde o núcleo estava naquele ponto.
Mas eu mantive meus olhos o mais abertos possível e esmaguei a criatura amorfa com minha «Sword of Eventide» +3. Normalmente, eu aumentaria o poder adicionando meu próprio balanço à assistência automática do sistema, mas desta vez, desacelerei de propósito apenas o suficiente para evitar que a habilidade de espada falhasse.
Quando a lâmina cortou a substância pegajosa, senti que estava agarrando algo mais denso, uma pequena esfera. Rapidamente, parei de recuar e deixei a habilidade seguir seu curso, ouvindo o som do núcleo se estilhaçando. O HP do slime desapareceu em um instante, a criatura obliterada antes que eu pudesse até ler seu nome no cursor. Eu teria uma boa noção do gosto se pegasse um pouco de gelatina voando na boca, mas uma premonição repentina me fez cobrir o rosto com o braço. Quando pousei, todos os pedaços estavam se desintegrando em luz azul.
Foi um feito bastante impressionante, se eu dissesse a mim mesmo, então virei com um floreio e perguntei — Vocês estão bem? — como um personagem de mangá.
Por algum motivo, Asuna me lançou um olhar de reprovação do chão.
— En... Enfiou na minha boca de novo. * NOTA
— Que gosto tinha? — perguntei, incapaz de conter minha curiosidade desta vez. Ela disse que os pedaços do Covetous Ooze tinham um gosto "infernalmente azedo, como ameixas curtidas em suco de limão". O segundo slime soltou um item chamado Geleia de Ooze, mas eu não era muito fã de sabores azedos e decidi deixá-lo apodrecer no meu inventário.
Assim que Asuna estava de pé novamente, ela me pressionou por respostas.
— Kirito, vou deixar de lado o fato de que você poderia ter começado me dizendo que os slimes têm núcleos — e como encontrá-los. Quando você cortou o segundo, não havia luz brilhando no slime. Você acertou o núcleo só por sorte?
— Nah. Eu não tenho tanta sorte assim.
Mesmo se eu tivesse, já teria gastado tudo ao conseguir esses dois membros específicos para o grupo, me colocando bem no negativo para isso — um pensamento que, claro, mantive para mim.
— A luz natural é a melhor maneira de encontrar o núcleo de um slime, como você acabou de fazer — expliquei. — Mas também funciona com tochas ou lanternas em ambientes muito escuros. Porém, depois de caçar slimes o suficiente para pegar o jeito, você aprende a encontrar o núcleo com outras fontes de luz também.
— Outra luz...? — ela repetiu, cética. Mas «Kizmel», de repente, bateu as mãos num momento de epifania.
— Ah, claro! Você pode usar o brilho da sua técnica de espada para iluminar o núcleo.
— Correto! — disse eu, dando uma salva de palmas para ela. Mas então hesitei. Era um fato conhecido que os NPCs podiam usar habilidades de espada — mas eu deveria falar sobre os truques "extracurriculares" envolvidos neste caso? A expressão de excitação e expectativa de «Kizmel» selou a questão, no entanto. Asuna, por outro lado, parecia cética.
— O quê? As habilidades de espada têm menos de um segundo entre o brilho e o impacto no alvo... Você realmente consegue encontrar o núcleo de um slime nesse tempo?
— Bem, isso se resume à experiência... e a desacelerar a habilidade de espada. Os slimes não se mexem muito, então, se você desacelerar a habilidade o máximo possível, isso te dá mais tempo para localizar o núcleo.
— Desacelerar — Asuna murmurou, com partes iguais de admiração e exasperação. Ela guardou sua rapieira de volta na bainha. — Admito... acho essa técnica incrível, mas vai demorar um bom tempo para eu aprender, então, por enquanto, vou contar com você para cuidar de todos os slimes no escuro.
— Uh... Claro — eu disse, a única coisa que poderia dizer.
«Kizmel» acrescentou.
— Não se preocupe, eu também aprenderei essa habilidade.
— Sim... Estou ansioso por isso — respondi, novamente a única coisa que eu poderia dizer.
Depois disso, vimos não apenas o Covetous Ooze amarelo-escuro, mas também slimes azuis, slimes vermelhos e até alguns slimes pretos, que pareciam familiares. Como ela proclamou, em três batalhas, «Kizmel» já havia aprendido efetivamente o truque da chamada habilidade de iluminação. A partir daí, não tivemos muitos problemas para alcançar a entrada da dungeon, no fundo da caverna, antes do almoço.
Se possível, eu esperava fazer uma pequena caminhada extra até a Cidade da Caverna de «Goskai», não muito longe, para comer e repor suprimentos, mas presumi que «Kizmel» não gostaria de entrar em uma cidade humana. Além disso, se houvesse jogadores lá da facção dos elfos da floresta da missão, eles veriam o cursor de «Kizmel» transcender de vermelho para preto.
Então, sentamos à entrada da dungeon, consumindo algumas das rações que pegamos no Castelo Galey. Para minha surpresa, o biscoito assado cheio de nozes e frutas secas era incrivelmente bom. Até Asuna, a gourmet exigente, parecia satisfeita. Com o espírito recuperado, mergulhamos na dungeon, avançando cada vez mais fundo, e lutando contra um conjunto abruptamente diferente de mobs — até pouco depois da uma da tarde, quando encontramos um obstáculo que eu nunca imaginei que veria.
— Hm...? Essa era uma dungeon que os elfos construíram há séculos, certo? — Asuna murmurou, olhando para cima. «Kizmel» balançou a cabeça em concordância.
— Isso é correto. Segundo a lenda, nos tempos antigos, logo após a Grande Separação, as seis chaves foram divididas em seis andares e colocadas em seis labirintos diferentes para mantê-las escondidas e seguras.
— Então por que isso estaria aqui...?
— Eu não sei.
«Kizmel» deu um passo à frente e estendeu a mão para o painel de pedra quadrado que bloqueava as grandes portas à nossa frente, tocando as peças numeradas alinhadas nele.
Era claramente um quebra-cabeça de quinze peças — exceto que, neste caso, as peças estavam organizadas em seis por seis, então, na verdade, era um quebra-cabeça de trinta e cinco peças. De qualquer forma, era um daqueles quebra-cabeças amaldiçoados que se encontravam por toda «Stachion».
«Kizmel» clicou cuidadosamente na peça ao lado do espaço vazio e se virou para mim.
— Isso... não é algo feito pelos elfos negros, nem pelos elfos da floresta, acredito. O Conde «Galeyon» também não mencionou nada sobre haver tal dispositivo neste labirinto.
— Não... esse foi criado pela humanidade — eu disse, o que fez «Kizmel» estremecer.
— O quê...? Quer dizer que algum humano entrou furtivamente neste labirinto antes de nós e colocou esse dispositivo na porta? Isso significa que... a chave já foi retirada...?
— Não, não necessariamente. Além disso, esse quebra-cabe... esse selo pode não ter sido literalmente colocado pelo humano que entrou aqui furtivamente...
— O que isso quer dizer? — «Kizmel» perguntou desconfiada. Asuna e eu explicamos — com dificuldade, porque não podíamos explicar que tudo isso eram "missões" em um "jogo" — o mistério de assassinato em «Stachion» e a maldição do quebra-cabeça que ele havia gerado.
A cavaleira élfica ficou em silêncio por alguns momentos após terminarmos e finalmente disse.
— Então, a maldição desse lorde humano que foi assassinado há dez anos se espalhou para fora da cidade de «Stachion» e produziu esse quebra-cabeça numérico na porta deste labirinto distante?
— Sim... essa é a única maneira de descrever isso neste momento. Não que eu ache que o velho «Pithagrus» tenha algum motivo para amaldiçoar especificamente um labirinto élfico.
— Nunca se sabe. Maldições são coisas realmente aterrorizantes e imprevisíveis. Especialmente quando são maldições impostas pelos mortos... Os elfos negros têm várias histórias sobre aqueles que tiveram o infortúnio de entrar em contato com maldições que nada tinham a ver com eles. Sem falar na famosa história de como o dragão maligno Shmargor caiu sob a maldição da Árvore Sagrada e atormentou os humanos que nada fizeram a ele.
— Ah, sim... você tem um ponto...
De certo modo, todo o castelo flutuante de Aincrad era como a maldição do gênio louco, Akihiko Kayaba. E éramos nós que estávamos injustamente presos dentro dele... embora, como um beta tester, eu suponho que era inevitável que eu me tornasse uma vítima.
Não havia sentido em lamentar minha situação neste ponto. Tudo o que eu podia fazer era confiar que um dia venceria este jogo mortal — e continuar avançando a cada dia em direção a esse objetivo.
O olhar de Asuna estava distante, sugerindo para mim que ela estava pensando a mesma coisa. «Kizmel» nos deu uma olhada, depois se virou novamente para a porta e disse.
— Se esse quebra-cabeça é obra de uma maldição, então suponho que nenhuma espada pode destruí-lo.
— Hã...? Ah, s-sim, é indestrutível.
— Então teremos que resolvê-lo — disse a cavaleira.
Eu me apressei em perguntar.
— Hum, os elfos negros também resolvem quebra-cabeças?
— Hmm? Bem... como crianças, resolvemos tabuleiros de correspondência de imagens e anéis emaranhados, mas nunca vi um quebra-cabeça de números como este. Devemos reorganizar as peças em ordem numérica?
— Sim, começando do canto superior esquerdo e movendo em linhas — eu expliquei, embora, por dentro, começasse a entrar em pânico.
Um desses quebra-cabeças deslizantes com quinze peças já era difícil o suficiente se você não soubesse o truque, mas este tinha trinta e cinco peças. Achei que seria muito difícil para «Kizmel» na sua primeira tentativa — e isso sem saber se os NPCs tinham o poder de IA para resolver quebra-cabeças como este. Pelo que me lembrava, quebra-cabeças de grade N × N como este eram chamados de problemas NP-difíceis na teoria da computação, o que significava que computadores normais achavam difícil calcular o menor número possível de movimentos.
— «Kizmel», talvez eu devesse — comecei a dizer, mas então minha boca ficou aberta.
Após apenas três segundos olhando para os números dispostos aleatoriamente, «Kizmel» já estava reorganizando tudo.
O som rápido das peças deslizando no lugar encheu o corredor escuro, e, diante dos meus olhos, as trinta e cinco peças começaram a se alinhar em ordem, do canto superior esquerdo para baixo. Para nosso choque, logo a trigésima quinta e última peça se encaixou no lugar.
O tabuleiro de pedra inteiro brilhou momentaneamente, e a porta atrás dele se abriu lentamente com um estrondo. «Kizmel» olhou por cima do ombro para nós e sorriu.
— Ah, agora entendo. Seus quebra-cabeças humanos são bastante revigorantes.
✗✗✗
O caminho até a sala final, uma vez que a porta estava aberta, era praticamente direto, com quase nenhum mob dentro, então chegamos rapidamente. Era o mesmo boss da dungeon de chaves do quinto andar, um dullahan sem cabeça, mas muito mais forte. Felizmente, também havíamos subido de nível, e a presença de «Kizmel» era positivamente injusta, então, embora tenhamos usado as poções de cura do Castelo Galey, a luta foi vencida sem muita dificuldade.
No fundo da câmara do boss havia um pequeno santuário imponente. No altar no centro dele, havia um objeto preto como breu — a Chave de Ágata. Recuperá-la foi praticamente o fim da missão. Não havia teletransporte em SAO, exceto pelos portões e cristais, então, sem um meio de viagem rápida, não tivemos escolha a não ser voltar ao Castelo Galey a pé. Ajudava saber que isso significava mais tempo juntos com «Kizmel».
Voltamos à entrada da dungeon em metade do tempo e saímos completamente das cavernas, evitando slimes sempre que possível. Finalmente, o brilho azul do Lago «Talpha» nos recebeu de volta.
Após uma breve pausa na praia sem mobs, voltamos a caminhar pelo lago e retornamos à área noroeste.
Não houve emboscadas dos elfos caídos no caminho de volta pela terra desolada — mas também não havia cactos com frutos. «Kizmel» abrigou-se novamente sob a capa da Árvore Sagrada, e nós a protegemos pelo desfiladeiro empoeirado. Quando o grande portão do Castelo Galey apareceu à vista, a parte inferior do andar acima de nós estava tingida pelas cores do pôr do sol.
Ao passarmos pelo portão, acompanhados pelo toque dos sinos, verifiquei a hora na janela do jogo. Eram 16h20. Infelizmente, havíamos perdido o horário em que o velho contador de histórias estaria na biblioteca, mas, para uma missão de grande escala como essa, o tempo foi muito bom. Me alonguei, sentindo a agradável dor do cansaço, e «Kizmel» me deu um tapinha nas costas com um sorriso.
— Bom trabalho hoje… mas ainda há mais a fazer. Precisamos entregar a chave que recuperamos ao Conde «Galeyon».
— Ah… certo — respondi, mas, para ser honesto, eu não estava com vontade de correr para ver o conde agora, e não acho que Asuna estivesse também. Assim que entregássemos a chave e completássemos a missão, «Kizmel» provavelmente usaria a Árvore Sagrada para partir para o sétimo andar desta vez.
A cidade real onde a rainha dos elfos negros vivia ficava no nono andar. Era lá que a linha de missões da "Guerra dos Elfos" alcançaria seu grande final. Parecia uma jornada tão longa quando começamos a missão no terceiro andar, mas aqui estávamos, prestes a cruzar o ponto médio.
Depois que a campanha terminasse, eu não tinha ideia do que aconteceria com «Kizmel» e nós. Talvez pudéssemos vê-la sempre que voltássemos à cidade real, ou talvez não. Mas, pelo menos, eu tinha certeza de que nunca mais lutaríamos lado a lado com ela. «Kizmel» era simplesmente forte demais para eu imaginar, de forma otimista, que poderíamos levá-la em missões totalmente não relacionadas ou em sessões de grind.
— Hum… «Kizmel» — Asuna disse, falando por mim — quando entregarmos a chave ao conde, você vai partir para o próximo andar?
Ela era cem vezes mais honesta consigo mesma do que eu. A cavaleira élfica parecia estar segurando algo — ou pelo menos foi o que me pareceu, fosse um truque dos olhos ou não — mas logo colocou o sorriso agradável de sempre.
— Essa é uma boa pergunta… Depende da decisão dos sacerdotes enviados da cidade real. Muito provavelmente, serei ordenada a entregar as quatro chaves à fortaleza no sétimo andar.
— Entendo… É uma missão muito importante, afinal — murmurou Asuna, olhando para a Árvore Sagrada à nossa frente. Então, ela se virou para a cavaleira, deu um grande passo à frente e perguntou em tom baixo — mas, nesse caso, por que tem que ser só você a ir buscar essas chaves? Nós recuperamos quatro das seis… Por que os cavaleiros do castelo ou aqueles malditos sacerdotes não podem ir buscar as duas últimas?
— Eu não vejo essa missão como difícil ou desagradável — «Kizmel» sorriu. Ela acariciou amorosamente o cabelo castanho de Asuna, como uma irmã mais velha faria. — Como cavaleira de Sua Majestade, tenho um dever a cumprir, e tenho vocês dois me ajudando… Às vezes, eu gostaria que não fossem seis chaves, mas dez ou vinte.
— «Kizmel» — Asuna se encolheu, parecendo prestes a chorar. «Kizmel» colocou a mão nas costas da garota e me chamou com a outra. Ela ofereceu calmamente — Além disso, no pano de fundo dessa missão, há uma série de complicadas disputas e cálculos políticos. Como eu disse a vocês há um tempo, minha Pagoda Knights Brigade, a Sandalwood Knights Brigade, que protege o palácio, e a Sandalwood Knights Brigade, que usa armaduras pesadas, estão frequentemente em desacordo… Nossa liderança, especialmente, sempre foi competitiva entre si. Quando surgiu a notícia de que os elfos da floresta estavam em busca das chaves ocultas, houve muita discussão sobre qual brigada deveria responder…
— E eles não estavam tentando empurrar a responsabilidade um para o outro, mas exatamente o contrário, é claro — pressupus.
«Kizmel» assentiu seriamente.
— Isso mesmo. Faz mais de um século desde que os cavaleiros de «Lyusula» saíram do castelo para uma missão prática, em vez de apenas treinarem… e ainda contra os elfos da floresta de «Kales'Oh». As três brigadas lutaram pela honra dessa tarefa, e, no final, foi dada exclusivamente à Pagoda Knights Brigade, por nossa armadura leve e mobilidade ágil. Uma vanguarda de sessenta foi enviada ao terceiro andar, mas não há nenhuma fortaleza de elfos negros lá. Deveríamos montar um acampamento como base e explorar o labirinto que continha a chave. Não deveria haver combate…
Ela exalou pesadamente. Eu sabia para onde a história ia a partir daí e queria dizer a ela que não precisava continuar, mas era tarde demais para interromper.
— Mas em nossa primeira missão de exploração, que dividiu a vanguarda em dois grupos, sofremos uma emboscada dos elfos da floresta. O grupo de batedores foi praticamente exterminado por um ataque vindo da retaguarda, e foi quando «Tilnel» perdeu a vida. O comandante da vanguarda solicitou mais membros ao quartel-general da brigada, é claro… mas o pedido foi recusado. Eles provavelmente sabiam que, se fosse revelado que o grupo recém-descido ao terceiro andar já estava pela metade, as outras brigadas viriam roubar nossa glória…
— Não…! Vocês lutaram o máximo que puderam! Eles não podem simplesmente — Asuna começou a gritar. «Kizmel» olhou ao redor e nos levou a um banco encostado na parede do castelo. Ela sentou-se entre Asuna e eu, cruzou os dedos sobre o estômago e olhou para a Árvore Sagrada que se erguia sobre o pátio aberto.
— Nós lutamos com força — ela repetiu tranquilamente. — Isso é verdade. Mas lutar com força, por si só, não é suficiente quando você é a cavaleira da rainha. Quando você luta, deve vencer… por isso, não amaldiçoo nosso quartel-general por ter recusado nosso pedido. Se há algo, sou grata por terem me dado a oportunidade de recuperar minha honra.
Mas Asuna não parecia totalmente convencida com aquela resposta. Ela cerrava os punhos onde eles descansavam sobre seus joelhos, e sua cabeça estava inclinada para baixo.
— Mas… isso não significa… que você precise fazer tudo… sozinha…
— Asuna, é verdade que eu estou sozinha na missão de recuperar as chaves, mas isso não significa que os outros cavaleiros estão parados, sem fazer nada. O comandante da vanguarda elaborou um novo plano para completar nossa missão com um número bem menor. Cerca de dez cavaleiros se revezariam para hostilizar os elfos da floresta e chamar sua atenção; enquanto isso, um cavaleiro habilidoso em furtividade obteria as chaves dos labirintos… Eu me ofereci para a recuperação. «Tilnel» e eu brincávamos de esconde-esconde e pega-pega quando éramos jovens, então confio nas minhas habilidades de furtividade.
Fico imaginando, quando os elfos brincam de pega-pega e imaginam o "pegador" como um mob, em que eles pensam? Provavelmente em um tipo de ogro… pensei brevemente antes de voltar minha atenção.
Lembrei-me de como «Kizmel» disse que se ofereceu para fazer a missão sozinha, quando estávamos diante do túmulo improvisado de «Tilnel» no acampamento do terceiro andar. Desvio, infiltração — era um plano muito habilidoso, eu tinha certeza, mas que expunha «Kizmel» a grande perigo. Ela conseguiu a chave no terceiro andar em segurança, mas o Cavaleiro Sagrado dos Elfos da Floresta a perseguiu, e eles quase se mataram no duelo que se seguiu.
Diante do túmulo de sua irmã, «Kizmel» me disse que assumiu aquela missão esperando que pudesse morrer. E que talvez uma parte dela até quisesse isso.
Mas ao olhar agora para o seu sorriso sereno de perfil, já não conseguia ver a profunda tristeza que presenciei naquele momento solitário. Virei-me para a esquerda, olhando além da cavaleira para minha companheira, que ainda cerrava os punhos.
— Asuna, a missão de «Kizmel» é muito difícil. Mas ela não está fazendo isso sozinha… Nós estamos ajudando ela.
— Sim, é verdade. Exatamente isso — disse «Kizmel», assentindo profundamente. Ela acariciou a cabeça de Asuna. — Desde que você e Kirito começaram a me ajudar, nunca mais pensei nesta missão como algo doloroso, e não tenho intenção de morrer sem completar minha tarefa. Vamos recuperar todas as seis chaves e ir ao palácio no nono andar juntos… Acho que você vai gostar, Asuna.
— É — ela respondeu, baixinho, mas firme, colocando a cabeça no ombro de «Kizmel».
Sentamos ali no banco em silêncio, observando enquanto a luz do sol refletida no chão acima de nós escurecia cada vez mais com a aproximação da noite.