Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 5

CÂNONE DA REGRA DE OURO (INÍCIO) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 4)

4

— BEM, ISSO ACABOU BEM MAIS RÁPIDO DO QUE EU IMAGINEI — disse asuna, quando já estávamos a uma distância considerável do Pegasus Hoof. Algo em seu tom sugeria decepção.  

— Está dizendo que teria preferido se tivéssemos discutido mais sobre isso...?  

— Claro que não, seu bobo — a espadachim ergueu o punho, depois olhou ao redor antes de continuar em um tom mais baixo — Eu esperava uma resposta mais progressista. Não é como se uma segunda bandeira fosse dropar a qualquer dia, então a única maneira de usarmos isso neste andar é a segunda opção, a fusão — é óbvio para todos. Por isso imaginei que, se alguém fosse tomar a iniciativa nessa direção, seria a DKB, e não a ALS...  

— Você achou? Por que diz isso? — perguntei, sentindo que ambos os lados prefeririam dizer que preferiam ir à guerra do que se unir como um único grupo.  

Asuna disse — A ALS é um grupo que persegue um conjunto de ideais, enquanto a DKB busca resultados práticos. Claro que haveria uma certa reorganização no caso de uma fusão, mas não parece que os membros da DKB reclamariam menos? É como se eles já soubessem que são o verdadeiro modelo para enfrentar esse jogo, e têm confiança para seguir em frente com isso...  

— Ahhh... Sim, entendo o que você está dizendo.

Olhei para o teto do sétimo andar, pendurado a cem metros acima de nós. A «Aincrad Liberation Squad» obviamente tinha esse nome por causa do objetivo final de libertar todos os dez mil — bem, agora oito mil — jogadores presos neste castelo flutuante. Mas também parecia conter outra mensagem: libertação de um status quo em que apenas cinquenta ou sessenta jogadores de elite monopolizavam todos os recursos do jogo.  

Por outro lado, o nome da «Dragon Knights Brigade», seja lá quem o tenha pensado, não parecia ter muito significado. Era o tipo de nomenclatura fantasiosa típica que você encontraria em qualquer RPG online. Se mudar o nome da guilda fosse um ponto de discórdia na fusão entre os dois lados, Asuna provavelmente estava certa ao dizer que os membros da DKB resistiriam menos à ideia.  

Era por isso que ela esperava que a DKB demonstrasse disposição para a fusão, abrindo um caminho para uma possível união. Mas...

— O sistema de SAO só permite um líder de guilda — murmurei.  

Os passos ao meu lado pararam. Reduzi o ritmo e acrescentei.

— Mesmo que conseguíssemos iniciar as negociações de fusão, nem Lind nem Kibaou cederiam a liderança no final. Ambos estão convencidos de que estão seguindo os passos de Diavel.

— Nesse caso...!  

Fiquei surpreso com sua veemência e olhei para a minha direita.  

Asuna estava parada ali, com as mãos cerradas em punhos, encarando as lajotas de vinte centímetros debaixo de seus pés.  

— Nesse caso, por que eles deixam todos os trabalhos realmente perigosos para você? Eles brigam por essas coisas inúteis como ideias e orgulho, e sempre deixam você pagar a conta por eles. Isso não é o que um líder faz.  

Era uma declaração muito semelhante à que ela fez na câmara do boss ontem. E eu não podia dar a ela uma resposta diferente.  

— Eles não estão forçando isso em mim. É porque eu me envolvi onde não deveria que agora estou com a bandeira da guilda. E, na verdade, sinto mais por ter te arrastado para tudo isso...  

Depois que eu fiz esse ponto ontem, Asuna havia chorado.  

Mas hoje ela não chorou. Ela olhou para cima, seus olhos castanho-avermelhados fortes e determinados. Quando falou, sua voz era calma, mas firme até o núcleo.  

— Você não pode mais ser tão despreocupado com isso. O homem com o poncho preto te atacou na noite passada porque você o impediu de fazer a ALS e a DKB brigarem, não foi? Na verdade, é mais do que isso... Aposto que ele queria roubar a bandeira da guilda de você também. É a ferramenta perfeita para virar os jogadores da linha de frente uns contra os outros.  

— O quê...? Como essas informações estariam se espalhando tão rápido? As únicas pessoas que sabiam que eu tinha a bandeira da guilda naquele momento eram as que participaram da luta contra o boss conosco, e os principais membros da ALS...  

Foi então que me dei conta. A ALS não tinha apenas Morte, o portador do machado, com quem lutei no terceiro andar. Muito provavelmente, também tinham outros membros da gangue PK do poncho preto infiltrados em suas fileiras. O que significava que as informações sobre a bandeira da guilda estavam sendo passadas diretamente para eles.  

A ALS estava um pouco atrás da DKB em termos de nível de membros e status de equipamentos, e estavam tentando compensar isso aumentando seu número. Sua prática de ter uma equipe de recrutamento que trazia proativamente jogadores que queriam se juntar ao grupo principal era admirável, mas também tornava a guilda vulnerável à infiltração por aqueles com más intenções.  

Estava começando a me ocorrer que seria inteligente reunir a liderança de ambas as guildas para compartilhar informações sobre a existência dessa gangue PK. Mudei minha postura de negação inicial.  

— Na verdade, você pode estar certa sobre isso. Mas isso só torna mais importante que eu não entregue a bandeira para outra pessoa. Já tenho uma ideia razoável de como eles estão fazendo isso, e tenho alguma experiência em lutar contra jogadores do teste beta...  

Asuna prendeu a respiração, mas a soltou após apenas um segundo, longa e devagar. Então, ela se virou — os dedos roçando a rapiera dourada pendurada ao seu lado esquerdo.  

— E agora que aprendi o básico dos duelos com você, também tenho o dever de lutar contra eles.

— O quê?! N-Não, não era esse o meu ponto...  

— Bom, já decidi! — ela declarou, soltando a rapiera e apontando o dedo para o meu peito. Assim, minha parceira temporária me deu ordens: — Escuta aqui! Você não vai sair correndo sem me avisar, como fez quando foi procurar a Argo no quarto andar! Você deve ficar à vista durante as vinte e quatro horas do dia. Entendido?!

— O quê?!  

Eu sentia como se ela estivesse me tratando como uma criança de pré-escola, mas a expressão de Asuna estava longe de ser uma brincadeira. Abri e fechei a boca algumas vezes, sem sucesso. Por fim, protestei:  

— Mas e quando ficarmos numa pousada...?  

Para minha surpresa, Asuna já tinha uma resposta para isso. Antes, ela provavelmente ficaria vermelha e me atacaria fisicamente, mas agora ela não apenas não hesitou e muito menos gaguejou, como também tinha uma resposta imediata.  

— Então alugaremos uma suíte de dois quartos, como da última vez. Se dividirmos o custo, não deve sair muito caro.  

— Ah, c-certo...  

Eu realmente não tinha outra opção.  

— Ótimo! — disse Asuna, como uma professora satisfeita. Ela se virou e começou a caminhar ruidosamente pelos azulejos. Em três passos, parou e olhou para mim novamente. — E... para onde estamos indo agora?  

— Hm...  

Olhei ao redor. Estávamos em um pequeno caminho a leste da rua central de «Stachion», que corria de norte a sul da praça de teleporte. Embora fosse uma rua secundária, era larga, com uma faixa de vegetação no lado direito do caminho e uma fileira de pequenas lojas no lado esquerdo. Algumas eram restaurantes, como evidenciado pelos cheiros fragrantes que faziam cócegas no meu nariz.  

— Que tal almoçarmos primeiro e depois irmos até a mansão do Lord? — sugeri.  

Asuna concordou, sorrindo novamente, finalmente.  

— Boa ideia. Gostaria de comer algo apropriado para o feriado de Ano Novo.  

— Isso... pode ser difícil...  

Por dentro, estava vasculhando minha memória, tentando lembrar se os menus dos restaurantes aqui tinham algo que se adequasse à época. 

 

✗✗✗

 

Almoçamos bolo de carne e bolinhos de camarão, o que poderia ser generosamente interpretado como uma versão ocidental da culinária japonesa de osechi para o Dia de Ano Novo. Depois, subimos pela suave estrada de escadaria ao norte, até chegarmos à mansão que dava vista ao resto de «Stachion».

Atrás da mansão estava o perímetro externo do próprio Aincrad, então a vasta extensão azul-clara estava bem próxima. Se você fizesse uma volta de 180 graus no grande portão da frente, veria a cidade retangular à sua frente, seguida, ao longe, pela vastidão do sexto andar.  

— Quando você vê tudo assim, percebe que 10 mil metros de extensão realmente é um espaço enorme — comentou Asuna. Eu estava prestes a dizer que Aincrad era em forma de cone, e que cada andar era cerca de sessenta metros mais estreito que o anterior, mas então percebi que não era algo importante o suficiente para falar.  

— O mapa típico de um RPG de mundo aberto tem cerca de 10 a 20 mil metros em cada direção, então é como se vários deles estivessem empilhados uns sobre os outros. Segundo a lenda da Grande Separação que «Kizmel» mencionou, Aincrad foi construído a partir de pedaços de terra cortados do continente abaixo. Dá para imaginar o quão grande deve ser aquele mapa...  

— E na lenda dos elfos da floresta, coletar as seis chaves e abrir o Santuário devolverá Aincrad à terra — disse Asuna. Isso trouxe de volta todos os detalhes do enredo da missão da "Guerra dos Elfos".  

— E os elfos negros disseram que abrir o Santuário causaria a ruína de Aincrad... certo? Definitivamente não queremos que tudo seja destruído, mas também prefiro que não volte para a terra. E se esse mapa de repente se tornasse dezenas ou centenas de vezes maior? Seria difícil manter a motivação para continuar.  

— Você não poderia simplesmente pular todos os labirintos e ir direto para a masmorra do boss final?  

— Hmm, boa ideia... mas não há como derrotá-lo...  

Por um instante, comecei a imaginar o boss final esperando no centésimo andar, como Akihiko Kayaba havia dito no primeiro dia de nosso encarceramento. Então balancei a cabeça para afastar a visão.  

— Vamos, vamos entrar. Pegaremos as missões com o Lord e tentaremos concluir todas as que estão na cidade até o final do dia.

  

✗✗✗

 

«Cylon», o Lord de «Stachion», era um homem pequeno e magro que parecia terrível com sua barba majestosa e toga extravagante. Ele, no entanto, não se mostrava arrogante; era muito receptivo com os estranhos que apareceram em sua porta. Na verdade, tivemos que esperar um pouco do lado de fora de sua câmara porque já havia três grupos de jogadores na fila, mas isso não era culpa dele. Eles até nos serviram chá.  

A aparência e a história de fundo de «Cylon» eram exatamente as mesmas da versão beta, mas ainda valia a pena prestar atenção para refrescar a memória.  

Segundo ele, a abundância de quebra-cabeças por toda a cidade era resultado de uma maldição lançada sobre o antigo Lord.  

O nome dele era «Pithagrus», e ele era um homem que adorava números e enigmas. Gabava-se dia e noite de que não havia quebra-cabeça que ele não pudesse resolver. Um dia, um viajante visitando sua mansão apresentou um enigma numérico extremamente complexo, e «Pithagrus» não conseguiu resolvê-lo. Em sua fúria, pegou um cubo dourado próximo e matou o viajante a golpes. O último suspiro do viajante foi uma maldição, e desde então, «Stachion» ficou possuída por quebra-cabeças de todos os tipos...  

— «Pithagrus» enlouqueceu com isso e deixou «Stachion» para sempre, carregando apenas o cubo dourado ensanguentado consigo. Já faz dez anos... Suspeito que ele já não esteja mais entre os vivos — disse «Cylon», bebendo seu chá, desanimado.

— Como aprendiz sênior de «Pithagrus» — ele continuou — assumi as responsabilidades de seu cargo e me esforcei ao máximo para desfazer a maldição que o viajante assassinado lançou, mas os quebra-cabeças só aumentam — surge um novo na cidade a cada dia. Quase todas as portas internas e caixas de armazenamento da cidade já estão afetadas por quebra-cabeças, e as portas da frente não vão demorar. Quando isso acontecer, não será mais possível vivermos aqui... Bom espadachim, por favor, encontre o cubo dourado que «Pithagrus» levou desta mansão e traga-o de volta. Se o cubo for colocado no túmulo do viajante e orações forem dedicadas à sua memória, a maldição dos quebra-cabeças certamente será desfeita. Por favor, por favor, salve «Stachion» dessa ameaça! — «Cylon» fez uma profunda reverência, fazendo um ponto de exclamação dourado aparecer sobre sua cabeça. Asuna olhou para mim e disse:

— Muito bem. Aceitamos sua missão.

Nesse momento, o ponto de exclamação se transformou em uma interrogação. Em seguida, veio o momento para perguntas, mas como sabíamos que outros jogadores estavam na fila para pegar suas missões, mantivemos ao mínimo e saímos apressados do salão de convidados. Depois disso, fizemos uma rápida visita à mansão, que ainda parecia muito com um videogame, graças à sua construção cúbica. Por fim, saímos para o quintal para fazer uma breve oração no túmulo do viajante que havia sido morto pelo antigo Lord.

— Ahhh... Entrar em mansões assim sempre me dá vontade de vasculhar todas as estantes, gavetas e potes — comentei, alongando as costas.

Asuna fez uma cena exagerada de se afastar com nojo.

— Eca... Isso é o seu fetiche, Kirito?

— O quê?! Primeiro de tudo, isso não é um fetiche, e segundo, é um clássico de RPG vasculhar as casas das pessoas em busca de itens! Embora, em muitos jogos ocidentais, os guardas te perseguem se você fizer isso...

Por três segundos, Asuna encarou meu protesto com um olhar ainda mais suspeito. Depois, começou a rir.

— Bem, suponho que você não seja do tipo que sai furtivamente pegando coisas. Prefere derramar todo o inventário do dono bem na frente dele.

— Eu não me lembro de ter feito algo assim — então me lembrei de quando fiz Asuna materializar todos os pertences dela no segundo andar e de repente tive que limpar a garganta — com malícia. O que quero dizer é, vamos começar logo essas missões. A "Maldição de «Stachion»" é uma série de missões bem longa, então, se não fizermos rapidamente, podemos ficar para trás na batalha contra o boss. E além disso, temos mais missões da "Guerra dos Elfos" neste andar.

— Estou mais interessada nessas, para ser honesta. Entre todos os viajantes assassinados e senhores desaparecidos, a história local parece um tanto sombria.

— Como regra geral, as missões de RPG tendem a não ser assuntos alegres e divertidos — comentei. Mas, na verdade, eu queria ver «Kizmel» o quanto antes. Por outro lado, quanto mais longa a série de missões, maior o bônus de experiência recebido. Ganhos de experiência de alto risco e alto retorno eram difíceis de conseguir — a última coisa que alguém queria era morrer —, então cumprir diligentemente as missões ainda era a maneira mais rápida de subir de nível.

De repente, Asuna jogou os braços para o ar e se alongou como se estivesse fazendo ginástica matinal.

— Certo, vamos nessa! Para onde vamos primeiro? — exclamou.

— Vamos até um velho que era mordomo do antigo Lord — para fazer algumas perguntas — respondi. O nível de entusiasmo dela caiu visivelmente.

— Ugh, que chato... e vamos ter que esperar na entrada de novo, não é?

— Vamos comprar alguns quebra-cabeças de anéis para brincar enquanto esperamos?

— Não, obrigada.

A espadachim balançou a cabeça tristemente e saiu marchando. Eu caminhei atrás dela.

 

✗✗✗

 

A casa do antigo mordomo ficava no extremo sul de «Stachion», do outro lado da cidade. Se a metade norte era a parte luxuosa, com sua abundância de vegetação, a metade sul era a mais urbana, com pequenas casas aglomeradas em becos apertados. A maioria dos prédios era feita de madeira — mas blocos de madeira de vinte centímetros, em vez de tábuas e pilares — então pareciam mais casas de blocos em tamanho real.

Felizmente, não havia outros jogadores no nosso destino, e terminamos de conversar com o NPC idoso em pouco mais de dez minutos e já estávamos a caminho.

Sua história era a mesma que havia sido no beta. O antigo mordomo não estava presente no assassinato do viajante; ele ouviu os gritos e correu até o aposento do mestre, apenas para ver o corpo horrível. Do jeito que ele descreveu, a cabeça estava esmagada e as roupas humildes do viajante estavam cobertas de sangue. No beta, as pessoas haviam comentado: "Essa missão tem que ser para maiores de idade!"

O mordomo não tinha pistas sobre o paradeiro de «Pithagrus» ou do cubo dourado, mas previsivelmente, ele disse que a empregada da época poderia saber de algo. Então, fomos para a casa da serva em seguida.

Enquanto caminhávamos pelo caminho estreito, Asuna levantou uma questão muito razoável.

— Diga... você já não sabe o destino final dessa missão, Kirito? Não poderíamos simplesmente pular todas essas etapas e ir direto para lá?

— Na verdade... não dá. Se você não seguir a ordem, as coisas quebram. Os personagens não falam com você e os eventos não acontecem. Se não tivéssemos falado com «Cylon» primeiro, aquele velho lá provavelmente não teria nos deixado entrar em sua casa.

— E quantas pessoas mais precisamos conversar na cidade, por sinal?

— Seis.

Ela de repente exclamou algo.

— Falyoon!

— O que foi isso?

— Eu estava dizendo, "eu prefiro muito mais as missões genéricas de matar mobs do que as de caça a pessoas", em élfico!

— Nga-grunga.

— O que foi isso?

— "Eu concordo plenamente", em orc.

E assim continuamos conversando e brincando enquanto atravessávamos «Stachion» até a casa da empregada, que havia se casado e saído feliz do emprego (embora não tivessem dito isso).

De lá, fomos ao antigo jardineiro, depois ao cozinheiro, depois ao primeiro aprendiz, depois ao segundo aprendiz, depois ao barman favorito, até que finalmente conseguimos a informação de que «Pithagrus» possuía uma casa separada em uma cidade vizinha. Esse foi o fim da linha de missões em «Stachion» por enquanto.

Quando saímos da taverna, o céu visto pela abertura exterior estava avermelhado. Já eram cinco e meia da tarde, em grande parte porque, em várias dessas paradas de missão, as pessoas tinham seus próprios afazeres para fazer.

Asuna se espreguiçou. Ela parecia cansada.

— Então, depois de tudo isso... não aprendemos muita coisa. «Pithagrus» era excêntrico, mas todos parecem admirá-lo, e ele não tinha esposa ou filhos. Foi isso, certo? E ninguém sabe quem era o viajante assassinado — ou de onde ele veio...

— Bem, isso não é tão estranho, né? Se você é um viajante aqui, não tem passaporte ou contas nas redes sociais pra seguir.

— Mas os teletransportadores não estavam ativos há dez anos, então, se é um viajante, ele veio de algum lugar do sexto andar, certo? — ela ponderou, olhando para cima. — Existem talvez três ou quatro outras vilas aqui, então, se quiséssemos rastreá-lo, deveria ser possível identificá-lo, não acha? — E, com isso, ela me encarou diretamente.

— O que foi?

— Espera aí... você já sabe o final dessa missão, não sabe? Pra onde foi «Pithagrus»? Quem era o viajante?

— Hã... você realmente vai fazer essa pergunta?

Quer fosse um jogo multiplayer online ou não, a história de um jogo era uma área sensível quando se tratava de spoilers. Algumas pessoas não se importavam nem um pouco, e outras ficavam furiosas. A sobrevivência era a prioridade máxima em SAO, claro, e Asuna não parecia ser do tipo que se importaria com spoilers, mas eu tinha sido cuidadoso para não revelar o desfecho das missões antes de chegarmos lá.

Depois de um breve olhar de surpresa, Asuna entendeu o que eu quis dizer e soltou uma risadinha.

— Ahhh, então você estava se segurando por minha causa! Bem, tudo bem. Eu não fico incomodada com esse tipo de missão.

— Hã... esse tipo de missão...? Então, com que tipo de missão você ficaria chateada... com spoilers?

— As comoventes e as emocionantes.

…...

De todas as missões que havíamos feito juntos, quais ela classificaria como comoventes e quais como emocionantes? E em que categoria a "Maldição de «Stachion»" se encaixava? Depois de alguns segundos, cheguei à conclusão de que era inútil tentar descobrir.

— Então, estou certo em pensar que você não vai ficar brava se eu contar o final dessa missão?

— Fica tranquilo. Essa é totalmente uma daquelas missões decepcionantes, né?

…...

Eu odiava admitir, mas ela estava certa. Depois de todo o trabalho que tive para terminá-la no beta, fiquei com um gosto tão amargo que quis ter uma palavrinha com o roteirista do jogo.

— Certo, então vou estragar tudo... Nunca existiu nenhum viajante.

— Hã?! — gritou Asuna. Ela parou de repente e se virou para mim. — Nenhum viajante...? Mas o mordomo e a criada viram o corpo, não viram? E o jardineiro cavou o buraco para o túmulo no quintal. Então quem foi que morreu e foi enterr... Oh!

Ela se interrompeu em um momento de epifania. Dei-lhe uma pequena salva de palmas.

— Bingo. Aquele era o corpo de «Pithagrus», o antigo Lord. E quem o matou foi...

— «Cylon»?

— Bingo de novo. «Cylon» era o primeiro aprendiz de «Pithagrus», o rei dos enigmas, mas quando ele anunciou que outro aprendiz assumiria como seu verdadeiro herdeiro, «Cylon» ficou furioso e espancou o mestre até a morte. Para esconder o crime, ele desfigurou o rosto até ficar irreconhecível e vestiu roupas esfarrapadas para transformar o corpo em um viajante inventado...

— Eu sabia! Eu sabia! — ela gritou de repente, com as mãos nos quadris e o rosto inclinado para frente. — Eu sabia que seria uma missão decepcionante! É por isso que eu não gosto desse tipo de missão! E o que significa ser 'rei dos enigmas'? O que se ganha sendo o herdeiro do rei dos enigmas?!

— Não grita comigo. Eu não escrevi isso... Não sei o que ganham com isso, mas existem reis de quiz e reis de medalhas e coisas assim. Algumas pessoas só querem ter essa honra, acho.

— Não faz sentido... E, por falar nisso, eu também não sei o que é um rei de medalhas...

— Desculpa, esquece que eu falei isso. De qualquer forma, esse é o final. Mas você ganha uma tonelada de experiência por isso, então vamos aguentar firme e terminar a missão.

— Tudo bem — disse Asuna, sem muita convicção. Ela olhou para o teto de rocha e aço. A tampa de metal e pedra estava ficando roxo-escuro, sinalizando que a noite chegaria em uma hora. A próxima cidade ficava a cerca de um quilômetro de distância, e não haveria muitos mobs ao longo da estrada, então definitivamente chegaríamos lá antes de escurecer, mas o problema era o próximo passo depois disso. A outra casa de «Pithagrus» agora era uma ruína vazia, cheia de mobs astrais (ou seja, fantasmas), e teríamos que enfrentá-los várias vezes antes de encontrar a próxima pista. Decidi manter essa parte em segredo, dando um tapinha no ombro da espadachim.

— Vamos jantar na próxima cidade, e aí continuamos a missão. Se conseguirmos terminá-la até o fim de amanhã, devemos conseguir chegar à fortaleza dos elfos negros no dia seguinte.

O rosto de Asuna se iluminou, e ela me deu um animado: — Ótimo!

 

✗✗✗

 

«Suribus», a segunda cidade no sexto andar, era um lugar bonito, com um ar do sul da Europa e absolutamente sem pequenos blocos de oito polegadas.  

Um grande rio corria pelo meio da cidade, atravessado por inúmeras pontes — uma vista que lembrava «Rovia», a cidade principal do quarto andar — embora, infelizmente, esse rio não tivesse uma única gôndola. Ainda assim, a visão das luzes alaranjadas refletindo na superfície escura da água tinha uma beleza etérea que só se encontra em um mundo virtual. Tivemos que parar por um momento na ponte que levava à cidade para apreciar tudo isso.  

— Essa cidade não tem nenhum quebra-cabeça amaldiçoado, certo? — disse Asuna logo de cara.  

— Não — confirmei. — Se quiser levar alguns para casa, eles vendem nas lojas de lembranças.  

— Eu não quero — ela afirmou com firmeza. — Mais importante, vamos comer alguma coisa. O que é bom em «Suribus»?  

— Hmm, deixe-me pensar...  

No beta, eu só passava correndo pelas missões e não passei muito tempo aqui, e, pensando bem, não havia muitas oportunidades para comer em Aincrad naquela época. Se eu tivesse tempo, preferia usá-lo para ganhar níveis, e se eu ficasse cheio no mundo virtual, minha mãe e minha irmã brigariam comigo. Tentei vasculhar as poucas lembranças que tinha do lugar, sem muito sucesso.  

— É uma torta assada.  

Girei alarmado ao som de uma voz bem atrás de nós, cobrindo Asuna para protegê-la.  

Encostada no corrimão de pedra não estava, no entanto, o homem de poncho preto que tentou me matar outro dia, mas uma pequena mulher em uma capa marrom-areia. A metade superior de seu rosto estava escondida atrás de cachos loiro-palha, mas não havia como confundir as três marcas de bigode em cada bochecha.  

Era a melhor e única fonte de informações em Aincrad, Argo, a Rata. Ela pareceu surpresa por um segundo, depois fez um bico.  

— O que foi? O que eu fiz para merecer esse tipo de reação de você, Kii-boy? Isso dói.  

— Desculpe... Eu estou meio tenso agora. Vamos chamar isso de Semana de Cuidado com Ataques Surpresa...  

Asuna apareceu de trás das minhas costas.  

— Boa noite, Argo! Não te vi em «Stachion» — claro, você já deve ter vindo para cá.  

— Boa noite, A-chan — Argo acenou para ela e se afastou do corrimão para se aproximar. — Bem, eu queria lançar meu primeiro guia estratégico até amanhã, mas parece que a maioria dos líderes de vanguarda já está saindo da cidade principal e vindo para «Suribus».  

— Ah, eles estão? Mas por quê...? — comecei a perguntar, antes de a razão me ocorrer. — Ah... É porque os quebra-cabeças são uma dor de cabeça, não é?  

— Hee-hee-hee! Bingo. E os mobs não são muito fortes por aqui... então, apesar de eu odiar ser a portadora de más notícias, praticamente todos os quartos de «Suribus» estão reservados. Só sobraram as suítes caras.  

Asuna e eu nos entreolhamos. Estávamos planejando ficar em uma suíte com dois quartos essa noite de qualquer forma, então os quartos individuais estarem ocupados não era um problema. Mas, dado o lema ameaçador de Argo de "vender qualquer informação que possa ser vendida", essa dica gratuita era um pouco — não, muito — suspeita.  

— Ahhh, entendi. Mas tenho certeza de que, se procurarmos, podemos encontrar um ou dois quartos livres — respondi. A sobrancelha de Argo tremeu, mas ela não disse mais nada sobre o assunto.  

— Bem... Pelo que vocês estavam dizendo antes, imagino que estão prestes a jantar?  

— Sim, estávamos decidindo o que comer — disse Asuna. — Argo, você disse que essa cidade é famosa por suas tortas assadas? Tem algum restaurante recomendado?  

— Eu acabei de chegar aqui de «Stachion» hoje, na verdade. Só tive a chance de experimentar um lugar, mas estava bem gostoso.  

— Então vamos nesse! — insistiu Asuna. Argo não teve escolha a não ser fazer uma careta e concordar. Se fosse comigo, ela teria cobrado por essa informação, mas agora que Asuna a havia identificado como uma boa amiga, a Rata parecia incapaz de aplicar suas práticas comerciais habituais.  

Argo nos levou a um lugar no terceiro andar de um prédio à beira do rio que atravessava «Suribus». Era um estabelecimento meio escondido, do tipo que você só encontra se já souber sobre ele.  

As escadas eram tão estreitas que mal cabiam duas pessoas subindo e descendo ao mesmo tempo, e a porta no final estava desbotada e marcada, mas o interior do lugar era bem limpo. Havia um balcão e duas mesas para quatro pessoas, então pegamos uma delas.  

Eu estava imaginando que a famosa "torta assada" seria algo como guioza, mas o que veio foi basicamente uma torta de carne redonda com cerca de vinte centímetros de diâmetro. Carne, vegetais com sabor de tomate e bastante queijo. Estavam todos embrulhados em uma crosta quente e crocante. Não era ruim. Na verdade, era ótimo.  

Num piscar de olhos, eu já havia reduzido a torta redonda a uma semicircular. Tomei um longo gole de chá de ervas gelado e perguntei à vendedora de informações:  

— Todas as tortas assadas dessa cidade são de tomate e queijo?  

— Não. Se for como era no beta, cada lugar serve um tipo diferente. Como é uma cidade à beira do rio, a maioria era de peixe.  

— Torta de peixe...? Parece estranho para mim — murmurei.  

Mas Asuna estava com um enorme sorriso no rosto.  

— Igual à famosa torta de arenque com abóbora, eu suponho.

— Famosa...?  

Inclinei minha cabeça para o outro lado, imaginando se havia um prato assim em Aincrad, e vi que Argo também estava sorrindo.  

— A-chan, se você vai fazer uma referência que um viciado em jogos vai entender, tem que ser de um jogo.  

— Acho que você tem razão...  

— Você tem muito trabalho pela frente...  

— Nem me fale... Quero dizer, não que eu tenha decidido que essa parceria vai durar para sempre!  

— Nee-hee-hee-hee!  

No momento, tive a sensação de que, embora fosse difícil entender exatamente sobre o que elas estavam falando, provavelmente era melhor eu não saber, então voltei minha atenção para a torta de carne pela metade.  

Pensando bem, essa pode ter sido a primeira vez que eu provei um verdadeiro sabor de tomate ortodoxo em Aincrad. A comida neste mundo tendia a ser leve no tempero, mas pesada em especiarias. Era bom depois que você se acostumava, mas a maioria dos restaurantes tinha um pequeno detalhe — ou às vezes grande — que deixava uma sensação de insatisfação depois.  

Esse sabor de tomate agradavelmente exagerado, no entanto, era quase reminiscente à comida industrializada para mim. Eu adoraria experimentá-lo sobre um espaguete cozido, em vez de em uma torta arrumadinha... mas ainda assim comi até o último pedaço da refeição.  

— Ahhhh... Bom trabalho, Argo. Você realmente conhece os melhores lugares.  

— Não conheço? Agora, não estou dizendo que você me deve pela dica, mas...  

Ela olhou ao redor da sala, certificando-se de que não havia outros jogadores presentes, e então sussurrou:  

— Aquele negócio... Como tudo terminou?  

Como estávamos sozinhos, parecia que ela poderia ter dito o nome do item em questão. Mas era um tópico importante o suficiente para que eu não pudesse me dar ao luxo de ser sensível sobre isso.  

Me inclinei sobre a mesa e sussurrei, baixo o suficiente para que nenhuma habilidade de «Eavesdropping» pudesse captar através da porta:  

— Demos a DKB as mesmas condições que demos a ALS. Eles aceitaram nossos termos, mas...  

— E depois?  

— Eles também tentaram nos comprar por trezentos mil col. 

Argo piscou uma vez, bem devagar. Seus bigodes pintados tremeram.  

— Heh-heh. Então essa é a tática deles. Bem, nesse caso...  

Ela deixou a frase no ar, enquanto terminava o chá de ervas.  

— Ele realmente está assumindo o lugar do Diavel — deixou implícito. Asuna nos olhou em busca de respostas, mas eu sussurrei.

— Eu explico depois — antes de voltar ao tópico principal — De qualquer forma, parece que vou ficar com isso por enquanto. O único problema é: isso significa que não podemos usá-lo na próxima batalha contra o boss... então, eles estavam na mesma de tentar encontrar um atalho para isso.

— Um atalho, né...? — Argo cruzou os braços e murmurou para si mesma. Então, ela sorriu novamente. — Lembra o que o cara do chakram, que te ajudou com o boss do quinto andar, disse? Se você fundasse uma guilda, todos os Legend Braves se juntariam a você. Na verdade, se fizesse a A-chan a líder, em vez de você, aposto que teria uma multidão de gente querendo entrar. Que tal?

— O-q-quê?  

Mais cedo, naquela manhã, Asuna tinha dito que não queria ser a sublíder de uma guilda. Ela balançou a cabeça tão violentamente que as pontas de seu longo cabelo me acertaram no rosto.  

— Você só pode estar brincando! Já é irritante o suficiente ter que ficar de olho nele. Eu não quero nada com esse negócio de ser mestre de guilda!

— I-Irr...itante...?  

Eu não esperava que a resposta dela fosse me jogar debaixo do ônibus. Argo apenas riu para si mesma. 

 

✗✗✗

 

Nos despedimos da negociante de informações do lado de fora da loja de torta de carne e seguimos direto para a outra casa de «Pithagrus», nos arredores da cidade.  

O rio que corria por «Suribus» vinha de uma cachoeira que surgia diretamente de um dos pilares maciços na abertura externa de Aincrad, e ele continuava até o lago no centro do andar. A cidade foi construída em uma faixa estreita ao longo das duas margens do rio, com inúmeras pontes cruzando de um lado para o outro. Algumas dessas pontes tinham edifícios completos em cima, com telhados e tudo. Uma dessas "casas-pontes" era o nosso destino da missão.  

Começamos o dia treinando no acampamento dos elfos negros no terceiro andar, depois conversamos com a DKB, corremos pela cidade fazendo missões, saímos da cidade e lutamos contra nossos primeiros mobs ao anoitecer, e agora chegamos a «Suribus» para jantar. Naturalmente, Asuna parecia um pouco cansada, mas assim que viu a ponte para onde estávamos indo, seus olhos brilharam.  

— Uau, é linda! Igual à Ponte Vecchio!  

O nome soou familiar para mim, então consultei minhas memórias do mundo real — em risco de serem completamente substituídas por esse mundo de fantasia — e perguntei.

— Erm, você está falando daquela ponte, no... famoso parque temático de Tóquio?  

Asuna piscou duas vezes, então sorriu. 

— Ah, certo. Eles copiaram lá também, não foi? No parque aquático, não no parque de terra. Mas a Ponte Vecchio original é uma ponte em Florença, na Itália, que atravessa o Rio Arno. A verdadeira é muito maior do que essa, claro, mas é tão bonita quanto...

Ela olhou para a casa-ponto novamente, encantada, enquanto eu me perdia em meus pensamentos. Essa era a segunda vez (desde o quarto andar) que minha parceira temporária mencionava o nome de uma cidade na Itália. A essa altura, era provavelmente uma boa aposta que ela realmente já tivesse estado lá — e não apenas lido sobre o lugar. Isso por si só não era importante, mas se encaixava em um padrão, junto com sua aparência, habilidades de comunicação, falta de conhecimento em jogos e riqueza de outros conhecimentos, sugerindo que Asuna tinha uma vida extremamente completa e normal no mundo real. Então, como ela acabou entrando no SAO no primeiro dia, quando apenas dez mil cópias foram enviadas (e nove mil ativadas), ficando presa aqui...?  

— Vamos, vamos logo! Aposto que o rio é lindo visto lá de cima!  

Ela deu um tapinha nas minhas costas, e eu voltei à realidade. 

— Ah, s-sim, eu aposto... 

 

✗✗✗

 

Por fora, a segunda mansão de «Pithagrus» era bonita, mas por dentro estava um desastre total. Também estava cheia de mobs do tipo fantasma, que Asuna descreveu como "não meu forte" — o que provavelmente significava que ela estava completamente apavorada com eles. Mas antes que eu pudesse explicar qualquer coisa, a espadachim já havia marchado em direção ao prédio, e a única coisa que pude fazer foi correr atrás dela.  

Enquanto caminhávamos ao longo do rio em direção à ponte, três jogadores estavam descendo as escadas de pedra que levavam à casa sobre a água. Instintivamente, paramos atrás das árvores que ladeavam a estrada e ouvimos o que eles diziam.  

— Não tem como essa porta abrir...  

— Perda de tempo. Esqueça essa coisa toda. Três dígitos já é ruim, mas seis é impossível!  

— É, mas eu sinto que tem algo bom lá dentro...  

O trio resmungando passou por nossa posição e foi embora. Da árvore ao lado da minha, Asuna me lançou um olhar de soslaio.

— Tem outra porta de quebra-cabeça?  

— Sim.  

— Você disse que elas só estavam na cidade principal.  

— Não, só tem essa aqui... eu acho — acrescentei, voltando para a rua.  

A ponte que Asuna comparou à Ponte Vecchio tinha cerca de vinte e quatro metros de comprimento e seis metros de largura. O primeiro andar era apenas uma ponte normal, mas os corrimões laterais eram pontilhados de pilares que formavam inúmeros arcos sustentando o espaço de convivência no segundo andar. Depois de passar tanto tempo em «Stachion» com seu visual uniforme e quadrado, a estrutura aqui era, de fato, elegante e atraente.  

Na borda do corrimão havia suportes especialmente grandes — os pilares principais, como eram chamados — do tipo que geralmente apresentava uma placa com o nome da ponte. Um deles tinha uma escada curta que levava até a casa de «Pithagrus», sobre a própria ponte. Quando me aproximei da porta antiga, não pude evitar pensar que jogos te ensinavam a querer seguir por caminhos pequenos como esse.  

Na superfície da porta robusta de madeira havia um mostrador de metal com seis partes. Era um dispositivo de trava familiar, onde cada roda podia girar por todos os dígitos, de zero a nove.  

Asuna chegou primeiro e testou, os mostradores clicando enquanto ela movia os números. Ela se virou para mim.  

— Nenhuma das missões até agora nos deu a chave para uma fechadura numérica, deu...? Nós devemos resolver isso por conta própria?  

— Você pode tentar adivinhar um código de três dígitos, mas seis torna isso praticamente impossível. Pode ser qualquer coisa de zero a novecentos e noventa e nove mil, novecentos e noventa e nove, então são cem mil possibilidades...  

— Você quis dizer um milhão.  

— Hã? Ah... s-sim, claro. Um milhão de possibilidades. Então, mesmo que você tente todas, levaria vários dias. Mas, alerta de spoiler, você pode encontrar a combinação correta no escritório de «Cylon».  

— O quê? Onde estava escrito?  

— Na pintura de paisagem na parede — eu disse.  

As bochechas de Asuna inflaram instantaneamente.  

— Ei, você poderia ter dito algo. Se eu soubesse que havia uma pista ali, teria olhado mais de perto e a encontrado.  

— Não, eu duvido muito disso. A ideia é que você venha aqui e pense: 'Eu não sei os números!' Então você volta para «Stachion» para perguntar ao «Cylon», que não te conta, mas faz um grande esforço para esconder a pintura. Depois ele te expulsa, e você tem que esperar ele sair para poder voltar e procurar a pintura. É um grande incômodo...  

— Você tem razão, eu prefiro não passar por isso — Asuna admitiu. Então suas sobrancelhas se franziram novamente. — Mas... como isso faz sentido? «Cylon» é o—  

Eu tinha a sensação de que ela iria soltar isso em algum momento, então olhei por cima do ombro e a interrompi.

— Podemos conversar lá dentro. Eu não quero que ninguém nos veja abrindo a porta.  

— Certo, certo, como você quiser. Então... qual é a combinação correta?  

— Vamos ver...

Comecei a responder de acordo com minha lembrança do beta, mas minha espinha gelou. Se eles tivessem mudado a combinação entre o beta e o lançamento do jogo, eu ia parecer muito estúpido. Hesitante, pronunciei os seis dígitos.

— Seis, dois, oito, quatro, nove, seis.  

— Aham...

Ela rapidamente girou os pequenos mostradores para a posição correta. Com um clique muito claro, o cadeado foi destravado. Dei um passo à frente, aliviado, mas Asuna apenas encarou os mostradores sem girar a maçaneta.

— O que foi? Se você não abrir logo, o cadeado vai travar de novo.

— Ah... s-sim. Eu estava só pensando, os números me pareceram familiares de alguma forma. Talvez eu realmente os tenha visto na pintura sem perceber — disse ela vagamente, enquanto abria a porta. O interior estava totalmente escuro, e uma corrente de ar frio e úmido soprou para fora. A espadachim recuou um pouco, sentindo algo sinistro, mas eu segurei seus ombros por trás e a fiz seguir em frente.

Assim que entramos, a porta se fechou sozinha. Houve um som de arranhado, que era apenas os mostradores do cadeado se reorganizando, mas eu senti os ombros de Asuna tremerem sob meus dedos.

— Hum, está escuro aqui dentro.

— Sim, é noite.

— Como vamos procurar por aqui assim? Devemos esperar até o amanhecer e voltar?

— Não, estamos bem.

Abri minha janela e materializei um item que sempre deixo na primeira página do meu inventário.

— Luuuuuuuz deeeeespeeeejooo — disse com uma voz assustadora, na esperança de melhorar o clima. Tudo o que recebi foi um olhar frio sobre o ombro de Asuna. Tossi de maneira desajeitada e acendi a lanterna, iluminando a área com uma luz alaranjada.

Como era de se esperar de uma casa pertencente ao Lord de «Stachion», o hall de entrada era bastante espaçoso. Como foi construída sobre uma ponte, inevitavelmente era um pouco alongada e estreita, mas o corredor que seguia pela parede esquerda era largo o suficiente para não parecer apertado.

Por outro lado, havia teias de aranha nos cantos do teto, e utensílios quebrados e pedaços de papel rasgados estavam espalhados pelo chão. Tinha muito a aparência de uma casa abandonada. A expressão de Asuna deixava claro que isso não era o que ela esperava.

Ela se virou para mim.

— Então... voltando ao que eu estava dizendo.

— O que era mesmo...? Ah, sobre «Cylon»?

— Sim. O que ele está fazendo faz algum sentido? Se ele é o responsável por matar «Pithagrus» e enterrar o corpo como se fosse de um viajante no quintal, por que ele está nos pedindo para investigar o caso?

— Não, «Cylon» não pediu para investigarmos a morte do viajante. Ele nos pediu para encontrar o cubo dourado que foi usado no assassinato.

— Ah, certo — A pequena ruga entre as sobrancelhas dela sumiu por um momento, mas logo voltou. — Não, ainda assim não faz sentido. «Cylon» foi quem espancou «Pithagrus» até a morte com o cubo dourado, certo? Então, por que ele esconderia a arma?

— Bem, a explicação para isso aparece no final da missão... mas enfim. «Cylon» se irritou e espancou «Pithagrus» até a morte, depois disfarçou o corpo como um viajante que não existia para encobrir o crime, certo? Ele achou que tudo estava resolvido, mas de alguma forma o cubo desapareceu da cena do crime — um cubo com as impressões digitais ensanguentadas de «Cylon». Além disso, é o tesouro da cidade e o símbolo do seu Lord — o mesmo cubo que foi usado como base para o tamanho de todos os blocos de pedra e madeira que compõem a cidade. Então, a ideia de «Cylon» é que a única maneira de purificar a maldição dos enigmas em «Stachion» é encontrar o cubo perdido, limpar suas impressões digitais e colocá-lo no túmulo do viajante... que na verdade é o próprio «Pithagrus».

— Parece... muito conveniente. Ou egoísta. Se ele realmente quisesse desfazer a maldição dos enigmas, não deveria se preocupar com o cubo. Ele deveria admitir que matou «Pithagrus» e se entregar para a polícia, não é?

— Bom, sim. Mas não há polícia em Aincrad.

Asuna murmurou um suave "Ah, é", mas sua indignação ainda permanecia. Ela mencionou a guarda da cidade, a fortaleza dos elfos negros, até o «Black Iron Palace» na cidade inicial no primeiro andar, como lugares onde ele poderia se entregar a uma autoridade superior.

— E então? — concluiu, me olhando.

— E então... o quê?

— O que você acha que quero dizer? Quem roubou o cubo dourado? Você não vai me dizer que ele criou pernas e saiu andando por aí... Ah!

— "Ah"... o quê?

— É isso? Você disse que o boss deste andar é como um grande cubo mágico. O cubo dourado se transformou em algum tipo de mob?

Agora foi minha vez de ficar surpreso. Por mais impressionado que estivesse com a imaginação da espadachim, balancei a cabeça.

— Infelizmente, não é isso. Na verdade, talvez seja uma sorte — se aquele boss cubo fosse completamente dourado, você não saberia como girá-lo para resolver os lados. Mas voltando ao ponto... já encontramos a pessoa que pegou o cubo.

— O quê? — Ela franziu a testa, deixando o olhar vagar enquanto pensava. — Então você está dizendo que... é uma das sete pessoas com quem falamos em «Stachion»? O ex-mordomo, a criada, o jardineiro, o cozinheiro, os dois aprendizes e o barman que ele costumava visitar...? E um deles está com o cubo agora? Quem é?

— Vamos descobrir por conta própria. Estamos aqui para encontrar as pistas, afinal — disse com um sorriso malicioso.

Ela fez um beicinho.

— Tudo bem, vamos acabar logo com isso. Você sabe em qual sala está a pista, certo?

— Infelizmente, o lugar onde o item-chave aparece é aleatório.

— Então teremos que começar pela primeira sala e ir em ordem.

A espadachim começou a caminhar pelo hall de entrada. Enquanto ela avançava, eu gritei.

— Ah, e algumas salas têm fantasmas, então não se esqueça de se preparar para a batalha.

— Claro, claro, tanto faz.

Passo-passo-passo, pausa.

De repente, ela teleportou para trás de mim e colocou as mãos nos meus ombros. Uma força inabalável me empurrou em direção à primeira sala.

Felizmente, como na versão beta, não havia fechadura com dial nas portas internas. Empurrei a porta, revelando um quarto que era ainda mais escuro do que o corredor. Mesmo com a lanterna levantada, a luz não alcançava todos os cantos da sala.

— Tinha um fantasma? — veio uma vozinha atrás de mim. Por um breve momento, meu lado brincalhão quis pregar uma peça, mas eu sabia que isso poderia ser o fim da nossa parceria, então dei uma resposta honesta.

— Não parece que tem um neste quarto.

— Eu não quero "parece"! Quero uma confirmação!

— Tá bom, tá bom. Não tem fantasmas aqui.

Finalmente, Asuna saiu de trás de mim, com sua expressão de sempre, controlada e confiante, enquanto inspecionava o quarto.

— Eca... está em um estado terrível...

Eu tive que concordar. Provavelmente era uma sala de visitas originalmente, com um conjunto de móveis de luxo no meio do quarto de tamanho moderado, e uma enorme lareira na parede oposta. Mas todos os outros móveis haviam desmoronado após dez anos de desuso, e o tapete estava corroído por insetos.

Asuna se aproximou de uma mesinha lateral que ainda estava intacta e passou o dedo pela superfície, coberta por uma grossa camada de poeira. Ela fez outra careta.

— Isso provavelmente foi uma mobília de luxo um dia. Agora não serve mais para nada...

— Bem, talvez você possa restaurá-la se levar para um NPC marceneiro.

— Espera, dá pra fazer isso? Achei que você não podia mover os objetos nas casas dos NPCs.

— Como regra geral, sim. Mas, nestas dungeons em zonas seguras, há vários móveis cujas coordenadas não estão travadas — expliquei, aproximando-me de Asuna e pegando a mesinha lateral com ambas as mãos. Quando puxei para cima, as pernas se levantaram do chão.

— Viu só?

— Você tem razão... Hmm. Mas, mesmo que conseguissem restaurar, acho que não gostaria de usar mobília de um lugar como este. Além disso, nem sei quando terei uma casa própria.

— Sim, faz sentido — respondi, abaixando a mesa. Mas essa vibração, por menor que fosse, foi o suficiente para acabar com o que restava da durabilidade da mesa, que se desfez em uma pilha de madeira.

— Oooh, você quebrou! Está encrencado! — Asuna zombou, exibindo um sorriso malicioso. Ela se encostou no encosto de um sofá de três lugares, e instantaneamente, as pernas racharam. O sofá terminou sua trajetória se partindo em dois, tanto no assento quanto no encosto.

— Ooh, vou contar para a professora! — provoquei de volta, uma frase que eu nem lembro de ter usado nem na escola primária. Asuna riu e socou meu lado com o punho esquerdo. Não pude devolver o golpe, então só me restou ranger os dentes de frustração.

— Não parece haver mais nada aqui. Vamos para o próximo — apontei para a porta.

— Tá bom, se você diz... mas o que estamos procurando, afinal?

— Algo que sugira a localização do cubo dourado.

— E o que seria esse "algo"? Bem, se for a chave para esta missão, aposto que vão garantir que seja visível de algum jeito.

— Vamos torcer para que sim — respondi, já sabendo o que estava por vir, enquanto me dirigia para o corredor. Verifiquei a porta da frente, só para garantir, mas não parecia ter sido aberta enquanto estávamos na sala de visitas. Asuna olhou na mesma direção e notou algo.

— Ei... o que acontece se alguém mais resolver a combinação dos dials enquanto estamos aqui dentro?

— Não é um local instanciado. Então, eles simplesmente entrariam.

— E o que acontece se essa pessoa encontrar o item antes de nós?

— Eu diria que o item ficaria bloqueado, então ninguém poderia movê-lo ou destruí-lo, ou seria algo que você poderia encontrar infinitamente. Nesse caso, ele apareceria em intervalos. Alguns reaparecem em trinta minutos ou uma hora. Outros podem levar até um dia.

— Então é melhor acharmos logo e sairmos daqui. Vamos, próximo, próximo!

 

✗✗✗

 

Asuna me empurrou por vários passos pelo corredor até chegarmos a uma nova porta.

O quarto ao lado da sala de visitas era uma grande sala de jantar. A enorme mesa de jantar e as cadeiras ainda estavam intactas, mas o fato de haver cerca de dez talheres dispostos na mesa era um tanto assustador. As garrafas de vinho e os castiçais estavam cobertos de poeira, e o lustre pendurado no teto sustentava várias teias de aranha.

Por cinco segundos, Asuna se escondeu atrás de mim. Uma vez que teve certeza de que não havia fantasmas, ela surgiu como se nada tivesse acontecido.

— Dá para mover o vinho e os talheres também? — ela perguntou.

— Provavelmente. Quer levar isso de volta e beber?

— Não, obrigada. Por outro lado, o item da pista também não parece estar aqui — ela murmurou, aproximando-se da mesa de jantar.

Nesse momento, ouvimos um som de assobio, semelhante ao que ouvimos na capela subterrânea do quinto andar, e uma luz pálida começou a emanar debaixo da mesa. Através da toalha de mesa suja, surgiram dois mobs astrais. Com base nas silhuetas longas e esguias e nos vestidos brancos esfarrapados, pareciam ser espectros. Embora houvesse outras categorias, como fantasmas, aparições e espíritos, eu honestamente não sabia ao certo o que os diferenciava.

Embora ela não tenha gritado como no andar de baixo, Asuna deu um salto de mais ou menos 30 cm e correu pelo ar — pelo menos foi o que me pareceu, já que ela se movia tão rápido — e se lançou novamente atrás de mim.

— A-Ali estão eles! Rápido! Faça alguma coisa! — ela ordenou. Eu saquei minha «Sword of Eventide» +3, mas em vez de atacar imediatamente, mantive os espectros à distância com a ponta da lâmina.

— Asuna, acho que seria bom você enfrentar alguns desses tipos astrais agora.

— Mas…

— Está tudo bem. Talvez você tenha esquecido, mas estamos na cidade. Não importa o quanto eles ataquem, você não vai perder um único pixel de HP.

Ela soltou um suspiro que parecia dizer que esse não era o problema. Mas Asuna tinha seus próprios pensamentos sobre isso e espiou por cima do meu ombro esquerdo. Embora ela tenha recuado de imediato, logo deslizou todo o corpo até ficar ao meu lado. Com a lanterna erguida em sua mão livre, ela sacou a «Chivalric Rapier» +7 e apontou para os espectros situados sobre a mesa.

Eu também me concentrei nos fantasmas, ativando o cursor automático. Abaixo da barra de HP, estava escrito «ANNOYING WRAITH» em inglês, e o cursor era de uma cor rosa bem clara. Isso significava que, mesmo se não estivéssemos na cidade, eles não seriam inimigos difíceis.

— Não me lembro de já ter visto um Espectro "annoying" antes — disse Asuna, com a voz um pouco rouca.

Com a maior calma possível, perguntei.

— O que significa "annoying"?

— Você não aprendeu isso nas aulas de inglês? É tipo, irritante — ou problemático...

— Ahh. Faz sentido para um evento de missão como esse. Como eu disse, estamos na cidade, então não vamos perder HP. Mas, além disso, esses são iguais a qualquer espectro comum. Acertar os braços ou as pontas das roupas deles não vai causar muito dano, e se eles te atingirem, podem te debuffar.

— Espere... você não me avisou sobre isso! — Asuna gritou, e os espectros pareceram reagir ao som. Eles abriram os braços e desceram com um gemido.

Hyoooo!

Mobs astrais do tipo humano podiam ser masculinos, femininos ou indefinidos, mas espectros eram, em sua maioria, femininos, ao que parecia. No entanto, eles não tinham nenhuma beleza; os braços que se estendiam de seus vestidos esfarrapados eram finos como ossos, e dois terços de seus rostos eram esqueletos. Fogueiras azuis ardiam nos olhos desses, e eles balançavam longas mãos com unhas afiadas como facas.

Eu evitei o primeiro ataque e atingi o torso. O corte profundo produziu uma substância branca como fumaça, mas teve pouco impacto, e o espectro perdeu apenas um décimo de sua barra de vida.

Mas a criatura soltou um grito horrível e voou para o canto da sala de jantar. Mantive minha espada apontada em sua direção e olhei para checar Asuna.

— Ah, seu! Fngh! Shwaaa! — a espadachim estava sibilando, determinada a não ser superada pelos sons bizarros dos espectros. Ela executou habilidades de estocada com incrível velocidade — a frequência era tanta que até o fantasma não conseguia passar por sua rapieira. Enquanto o espectro voava em um padrão de oito, ela ocasionalmente acertava um braço, mas isso não causava muito dano à barra de HP.

Os tipos astrais tinham corpos insubstanciais, e armas comuns não infligiam dano eficaz neles. Outros jogos teriam magias de fogo ou luz que poderiam devastá-los, mas devido à antiga Grande Separação de Aincrad, a verdadeira magia havia se perdido aqui. Você tinha que se virar com ataques físicos, de uma forma ou de outra.

O método mais comum era colocar um buff de bênção na sua arma, mas, no momento, isso só podia ser feito em grandes cidades com uma igreja, e custava dinheiro. Também era possível usar habilidades de espada com alto efeito anti-astral (a maioria das quais eram habilidades de maça ou mangual), outra opção envolvia o uso de uma grande quantidade de itens de iluminação (já que os mobs astrais eram naturalmente mais vulneráveis à luz), no entanto, essas exigências eram complicadas para um grupo composto apenas por dois espadachins.

Felizmente, tanto a «Chivalric Rapier» de Asuna quanto minha «Sword of Eventide» haviam recebido manutenção élfica, o que lhes conferia uma leve eficácia contra mortos-vivos — o suficiente para serem eficazes por si só contra mobs de evento fracos como esses. Avancei com minha lanterna à frente e me aproximei para eliminar meu alvo. Nessa situação, um guerreiro que usasse escudo ou uma arma de duas mãos teria que colocar a luz no chão para lutar, mas como eu tinha uma mão livre, podia segurar a lanterna. E, para entrar ainda mais nos detalhes, ter uma luz equipada na batalha não só ajudava no poder de ataque, como uma tocha era melhor porque não contava como equipamento irregular — e tinha poder extra contra inimigos astrais fracos ao fogo — com o único inconveniente de que era preciso ter cuidado ao balançá-la em ambientes fechados, para não queimar algo que pudesse ser destruído.

Iluminado pela luz amarela da lanterna, o Espectro Irritante soltou um gemido agudo e deslizou para a direita para se afastar. Mas era exatamente isso que eu queria; quando ele entrou no alcance, usei a habilidade de três golpes «Sharp Nail».

As habilidades de espada mais fortes que eu tinha no momento eram as de quatro golpes «Horizontal Square» e «Vertical Square», que se desbloqueavam no nível de proficiência 150, mas eram muito abrangentes para um ambiente interno como este. Se chegasse a uma situação difícil, eu não me preocuparia em destruir as paredes ou móveis, mas, como estávamos em uma área com código anticrime e havia muitos objetos inquebráveis por aqui, eu não queria que minha espada ricocheteasse em um obstáculo e eu perdesse meu combo de habilidade.

No entanto, «Sharp Nail» era uma sequência compacta de três golpes com o mesmo ângulo alto. Minha espada brilhante de prata afundou no torso do Espectro Irritante sem encostar na parede ou no teto.

Os primeiros dois golpes reduziram a barra de vida a cerca de um terço, mas o último parecia improvável de terminar o trabalho.

Ainda assim, no momento em que o terceiro golpeou, a ponta da «Sword of Eventide» na verdade desviou, como se fosse atraída por um ímã. Ela cortou o ombro do espectro, passou habilmente pelo centro do peito e saiu pelo lado. Ao contrário dos dois primeiros cortes, este veio com a sensação de algo pequeno e duro se quebrando.

Contrariando minhas expectativas, a barra de HP do espectro afundou na zona vermelha e não parou até chegar a zero. As três marcas visuais dos cortes pairavam no ar como as garras de uma fera feroz, sobrepostas pelo habitual efeito azul de explosão de qualquer mob morrendo.

Eu fiquei olhando para a lâmina da minha espada de segunda geração, ainda na pose com a qual terminei o golpe.

Aquela sensação magnética que eu tinha sentido era, sem dúvida, o sistema de ajuste de mira que o aumento de Accuracy havia dado à minha arma. Eu pensava que o efeito só ativava quando você mirava intencionalmente em um ponto fraco, mas eu não sabia que um mob do tipo espectro tinha um pequeno nódulo sólido no peito como ponto vital. Isso significava que a «Sword of Eventide» basicamente atingiu o Espectro Irritante bem nesse ponto por conta própria.

— Isso é verdade? — perguntei em voz baixa. A espada, claro, não respondeu.

O que eu ouvi, em vez disso, foi minha parceira gritando.

— Uniiieee!

Provavelmente era uma expressão de nojo e frustração. Virei-me para ver, do outro lado da grande sala de jantar, a espadachim utilizando uma habilidade de espada. Era o melhor movimento que ela tinha no momento, «Triangular».

Um golpe certeiro dessa habilidade, com o poder da «Chivalric Rapier» +7, seria suficiente para tirar metade do meu HP. Ela perfurou o espectro com uma velocidade quase invisível. Mas o inimigo se ergueu bem antes da execução da habilidade, fazendo com que acertasse apenas a parte final da saia. Aquela fumaça ectoplásmica branca se desfez no ar, mas deixou a barra de HP com 30% restante.

— Hoh-hoh-hooohhh — o espectro choramingou — algo entre um grito e uma risada zombeteira — e balançou seus longos braços em direção a Asuna enquanto ela esperava para se recuperar do atraso da habilidade. Não causou nenhum dano, mas a barra de HP de Asuna acendeu com um ícone de uma mão pálida. Era o debuff de Frieza, que reduzia desconfortavelmente a temperatura corporal.

— Fyah! — Asuna rugiu, saltando para trás assim que conseguiu se mover de novo. Apesar de segurar a espada com bravura, seu tremor era evidente. A Frieza não causava dano real, mas era um grande incômodo, causando espirros durante a batalha e impedindo de desviar dos ataques do inimigo.

Corri até ela e gritei.

— Asuna, quer aj...?

— Não! — ela retrucou, recusando minha ajuda. No entanto, ela não lidaria com isso totalmente sozinha. — Só me dá uma dica ou algo assim! O HP dela se recusa a cair!

— Ah... é, estocadas de rapieira são praticamente o pior tipo de ataque para usar contra astrais...

O Espectro Irritante flutuando perto do teto não poderia entender o que eu estava dizendo, mas escolheu um momento bem apropriado para rir.

— Asuna, você dominou alguma habilidade de espada do tipo corte? — perguntei.

A voz da minha parceira estava tensa — certamente devido à luta para controlar o frio, e não por estar com raiva de mim — enquanto ela respondia — Quando alcancei proficiência 150 um tempo atrás, aprendi uma chamada «Folium».

— Sim, acho que essa funcionaria. Certo, na próxima vez que o espectro se aproximar, use «Folium» bem no meio do peito dele.

— O quê... qual parte é o meio? — ela gritou de volta. Eu não tinha uma resposta imediata. Contra kobolds ou reptóides, eu diria "Onde fica o coração"; todos os humanoides, incluindo jogadores, tinham corações (pontos críticos) localizados um pouco à esquerda do centro do peito. No entanto, o pequeno nódulo que eu senti no peito do espectro estava bem no centro. Não havia outra maneira de definir isso.

— Hum...

Coloquei a espada atrás das costas e olhei em volta, então peguei uma faca de sobremesa empoeirada na mesa de jantar. Ela não tinha quase nenhum valor como arma, e eu não tinha a habilidade de «Blade Throwing», então não causaria nenhum dano real, mas...

— Yah!

Joguei a faca, concentrando-me apenas na precisão, e ela pousou no meio do peito oscilante do espectro, bem onde o pequeno nódulo estaria, causando apenas um pixel de dano na barra de HP antes de cair no chão. Um efeito de dano vermelho apareceu por apenas alguns segundos no vestido branco esfarrapado.

— Ali! — gritei, mas Asuna já estava se movendo. O espectro flutuou para baixo do teto enquanto ela se aproximava.

Asuna havia aprendido os métodos de evasão do "caminho de menor resistência" do Espectro Irritante com sua experiência anterior e manteve a rapieira ao lado, atraindo o inimigo o mais perto possível. Os braços do espectro, em sua maioria ossos, estenderam-se para agarrá-la novamente, e uma luz verde-limão irrompeu. 

A habilidade de espada «Folium» era um ataque raro de corte para a categoria de rapieira, mas sua trajetória era pouco ortodoxa. Ela subia da altura do quadril esquerdo, fazia uma curva acentuada no topo e terminava no lado direito inferior, muito parecida com uma letra "l" cursiva minúscula. A intenção era desviar o ataque do inimigo antes de contra-atacar, mas não era adequada para acertar um ponto específico.

Ou pelo menos era o que eu pensava.

— Teyaa! — A «Chivalric Rapier» entrou no lado direito do espectro, acertando perfeitamente o ponto que eu tinha indicado, antes de fazer a curva e sair pelo flanco esquerdo. Deve ter quebrado o pequeno ponto fraco, porque o terço restante da barra de HP drenou completamente. O Espectro Irritante soltou um grito horrível e explodiu.

Minha parceira se endireitou sem dizer uma palavra e guardou a espada na bainha.

Eu me aproximei dela.

— Ei, belo controle. Seu aumento de precisão entrou em ação agora? Ou foi...?

— Pah-choo! — ela respondeu com um espirro. Ela soltou a rapieira e abraçou o próprio corpo, o rosto pálido. — Eu estou com muito frio.

— É, você pegou o efeito de Frieza... acho que desaparece em cinco minutos, então você só precisa...

— Pah-choo!

O segundo espirro dela abafou as palavras "aguentar firme". Mesmo sabendo que o efeito era basicamente inofensivo, não pude deixar de sentir pena da palidez e dos tremores dela.  

No final do teste beta, começamos a receber Cristais de Purificação, que podiam anular instantaneamente vários debuffs, incluindo esse, mas aqui no sexto andar, os cristais estavam apenas começando a ser dropados e ainda eram muito raros. A única outra maneira de desfazer os efeitos era pelo método individual para cada um — poções de antídoto para veneno, desfazer uma maldição na igreja, etc.  

Frieza, claro, tinha seu próprio método de recuperação especial. Você podia se aquecer perto do fogo, mas lanternas e tochas não emitiam calor suficiente. Por outro lado, havia aquela lareira na sala anterior — ocorreu-me que ela havia sido colocada ali de propósito para desfazer os efeitos dos fantasmas — mas seria um pouco incômodo. Não, seria muito incômodo.  

Em vez disso, abri meu menu para testar um método conveniente, mas um tanto constrangedor. Com ambas as mãos, retirei um cobertor grosso para acampamento e o coloquei sobre as costas como uma capa. Para disfarçar o embaraço do que eu estava prestes a fazer, me concentrei em pensamentos como "Esses cobertores de lã de boi com pelo longo são realmente pesados, e eu realmente poderia usar um saco de dormir com penas agora, e aposto que seria caro". Quando cheguei até Asuna, que me olhou surpresa, disse.

— Com licença — e a puxei para perto, para que pudéssemos nos cobrir juntos debaixo do cobertor.  

Instantaneamente, o corpo dela ficou rígido como uma barra entre meus braços, e bem ao lado do meu ouvido, sua voz aguda e rouca disse.

— Ei, o-o que você... est...fazendo... Pah-choo!  

— Este é o jeito mais rápido de desfazer o efeito de Frieza. Só aguenta mais vinte segundos.  

O frio gelado do corpo dela começou a se infiltrar em mim, fazendo meu nariz coçar. O frio era apenas uma sensação virtual na pele, criada pelo NerveGear, e meu corpo real estaria em algum quarto de hospital com temperatura perfeitamente controlada no momento, mas eu não podia deixar de me perguntar se espirrar aqui também estava me fazendo espirrar lá fora...  

— Ouça, mesmo que isso seja pra desfazer o debuff, se alguém nos ver assim, vai entender tudo errado e... fwuh...  

Bem no momento em que ela fez aquele som estranho, o frio que escorria do corpo dela para o meu desapareceu de repente. Eu já havia experimentado isso antes: quando o efeito de Frieza acabava, deixava o corpo agradavelmente aquecido. Era como a sensação de tirar as roupas em um vestiário no inverno e logo se afundar em uma banheira cheia de água quente. Não a culpo por deixar escapar um gemido estranho.  

Ela ficou olhando para o nada, mente longe, até que voltou à realidade, piscando rapidamente, e se desvencilhou dos meus braços.  

— Hum, isso não foi... Não é... — ela balbuciou, a boca trabalhando furiosamente, e então se virou de costas para mim. — Bom... sou grata por ter desfeito o debuff. Mas da próxima vez, eu apreciaria uma explicação antes!  

— Eu achei que se eu tivesse que explicar antes, seria o dobro da vergonha — respondi, guardando o pesado cobertor de volta no armazenamento.  

Para minha surpresa, Asuna disse.

— Isso soa como se você já tivesse feito isso antes.  

— O quê?! Bom, eu sabia disso porque tinha feito no beta, claro... mas só pra deixar bem claro, a outra pessoa era como o Wolfgang do Bro Squad, mas duas vezes mais peludo e super macho, tá?  

— Não sei se queria ouvir isso ou não — disse a espadachim, com um sorriso estranho e sutil nos lábios. Pelo menos, o humor dela havia melhorado. Ela caminhou pela sala de jantar, examinando a mesa e as pinturas na parede, mas não encontrou nada.  

— Bem, isso tornou nossa luta contra os fantasmas inútil.  

— Ei, é assim que as quests funcionam — brinquei, agora que nosso humor habitual havia retornado. Saímos da sala de jantar e voltamos para o corredor.  

Entre a cozinha, o escritório e o quarto, derrotamos mais quatro Espectros Irritantes, mas ainda não havíamos encontrado o item chave. Por fim, chegamos à última porta. Asuna segurou a maçaneta e então me olhou de lado.  

— Kirito, você não sabia de antemão que não íamos encontrar nada nas primeiras cinco salas, sabia?  

— Eu não sei como eu poderia saber. Como eu disse, o item aparecia em qualquer uma das seis salas de forma aleatória no beta. Eu... tenho certeza de que foi isso que aconteceu agora também.  

— Você disse isso como um NPC — acusou Asuna, o que foi algo estranho de se dizer. Ela abriu a porta, e um cheiro de mofo atingiu minhas narinas.  

Lembrei-me de que a última porta levava a um depósito. Segui Asuna para dentro, segurando minha lanterna no alto. Era a menor das seis salas, cheia de prateleiras de madeira alinhadas com caixas de madeira, potes e vários tipos de itens.  

— Ugh... temos que abrir todas essas coisas para procurar?

— Eu também não quero fazer isso — murmurei, passando pelo labirinto de prateleiras até o fundo da sala. No final, havia uma pequena escrivaninha encostada na parede, e em cima dela, aparentemente abandonado de uma maneira bastante significativa, estava um objeto que refletia de forma opaca o brilho da lanterna.  

Era uma grande chave, coberta por dez anos de poeira.  

— Oh! Deve ser isso! — exclamou Asuna, ansiosa, correndo até a mesa. Tentei segurar seu ombro, mas minha mão agarrou apenas o ar vazio.  

— Asuna, seus pés! — gritei, no exato momento em que um som de rachadura ecoou sob seu pé. Na luz tremeluzente da lanterna, vi um osso velho e desbotado.  

Asuna congelou em uma posição bastante estranha, no mesmo instante em que o boss fantasma dessa quest da casa mal-assombrada surgiu da parede atrás da escrivaninha.  

Diferente dos espectros anteriores, esse «RESENTFUL WRAITH» era masculino. Mais uma vez, meu conhecimento de inglês não era bom o suficiente para me informar o que a palavra "Resentful" significava.  

O fantasma alto e esquelético vestia uma túnica esfarrapada, como os antigos romanos, brandindo suas unhas assustadoramente longas e abrindo a boca de forma tão exagerada que parecia que sua mandíbula estava deslocada, só para poder gritar:  

— Byoouuu!!  

Enquanto eu alcançava a espada nas minhas costas, me ocorreu que a situação não era das melhores.  

O «Resentful Wraith» não podia tirar o nosso HP, claro, mas ele tinha uma ampla variedade de debuffs, e se sofrêssemos todos de uma vez, levaríamos um bom tempo para nos recuperar. Isso não seria o pior cenário, mas eu também tinha medo de perder o progresso que havíamos feito na superação do medo de fantasmas de Asuna. Eu queria manter a atenção dele focada em mim, mas, com apenas um metro e meio de espaço entre a parede de pedra à esquerda e as prateleiras de madeira à direita, mal havia espaço para brandir minha espada, muito menos trocar de lugar com Asuna.  

— Asuna, recua para o corredor! — gritei, estendendo a mão para seu ombro novamente. Mas antes que eu conseguisse tocar nela, ouvi sua voz, muito mais firme do que eu esperava.

— Kirito, posso quebrar os ossos no chão?!  

— Oh… hum, acho que eles estão ali só para assustar.  

— Entendido! — gritou ela, assumindo uma postura que espalhou os ossos pelo chão. Ela sacou sua rapieira e desferiu uma série de cinco estocadas com uma velocidade tão rápida que a ponta da lâmina se tornou um borrão contra o «Resentful Wraith» que avançava. 

Todas foram direcionadas ao centro do peito dele, e enquanto as quatro primeiras não tiveram muito efeito, a quinta tirou bons 15% da barra de HP. A lâmina élfica havia acertado o ponto fraco, que devia ser o mesmo que o dos inimigos anteriores.

Byaaaaa!! 

O espírito gritou de raiva, subindo até o teto. Ele começou a usar uma técnica hipnotizante, movendo-se em um padrão de oito, mas, sem o espaço da sala de jantar, seu movimento lateral estava limitado. Aliviado, percebi que isso tornaria mais fácil para a rapieira mirar nos pontos onde ele estava flutuando, o que nos permitiria reduzir seu HP muito mais rápido…  

— Estou de saco cheio de lidar com fantasmas!  

Asuna pulou em cima da escrivaninha, quase chutando o item crucial para longe, e se lançou no ar. No ponto mais alto do salto, ela ativou a habilidade de espada «Shooting Star». O efeito visual prateado percorreu desde a ponta até a arma inteira — e até o corpo de quem a empunhava — criando uma força propulsora invisível. Com um som cintilante, a rapieira de Asuna disparou em direção ao teto e acertou o fantasma bem no peito, abrindo um grande buraco em seu corpo transparente.

Ah, entendi, pensei, impressionado. Uma habilidade de espada com carga da rapieira pode acertar um alvo pontual com uma cobertura muito maior. O «Resentful Wraith» soltou um grito horrível e desapareceu… e a ponta da «Chivalric Rapier» colidiu com o teto, criando uma explosão de luz roxa.  

Ativar habilidades de espada no ar era uma técnica altamente avançada que, essencialmente, permitia um pulo duplo, mas também tinha suas desvantagens — se você pulasse mais alto do que o pretendido e sofresse dano de queda, ou se batesse em um obstáculo e sofresse dano de colisão. Como estávamos na cidade, não houve perda de HP por bater nas paredes ou no teto, mas me pareceu de mau gosto ficar parado assistindo minha parceira cair desajeitadamente no chão.  

Portanto, dei dois passos à frente, estimando onde o rebote de bater na parede de código enviaria Asuna, e estendi os braços. Eu não estava totalmente confiante no meu atributo de força ou na minha (inexistente) proficiência na habilidade de «Carrying», mas consegui segurá-la em um abraço no estilo "noiva". Quando olhei para o rosto dela, vi olhos castanhos-avelã piscando de volta para mim.  

(Slag: ABSOLUTE CINEMA!)

Pensei que ela estivesse um pouco atordoada pelo impacto, mas não parecia ser o caso. Sua boca abriu e fechou algumas vezes antes de finalmente sussurrar.

— Obrigada.  

— De nada.  

Eu a coloquei de volta no chão. Ambos respiramos fundo por algum motivo. Foi uma experiência, mas a missão de exploração da casa mal-assombrada estava concluída por enquanto.  

— Você derrotou o boss, então você deveria pegar a chave, Asuna — sugeri. A jovem começou a se aproximar da escrivaninha, mas parou para olhar os ossos que ela havia espalhado momentos atrás. Ela se virou para mim.  

— Ei, esses ossos não são do «Pithagrus», são?  

— Hã? Ah, não… não seriam. Lembra que «Cylon», o discípulo, matou «Pithagrus» para se tornar o Lord de «Stachion» e enterrou o corpo dele no quintal atrás da mansão.  

— Então a quem pertencem esses ossos?  

— Hum…  

Eu precisava pensar sobre isso. Como eu já tinha estragado o final, colocar a ordem dos detalhes e reviravoltas da história estava ficando meio complicado.  

— Bom, pulamos essa etapa, mas lembra como te falei sobre a ordem correta de procurar o código da fechadura da porta da frente? — perguntei.  

— Ah, certo… você deveria voltar a «Stachion» e olhar para a pintura no quarto do lorde?  

— Exato. E você só sabe que a pintura é uma dica quando «Cylon» tenta escondê-la… o que te diria que «Cylon» sabe que os dígitos dessa fechadura estão ocultos na pintura.  

— Ah, entendi… Mas isso realmente faz sentido? Se ele sabe o número para destrancar essa casa, porque «Cylon» não vem investigar esse lugar por conta própria? Então ele encontraria essa chave. É a chave do lugar onde o cubo dourado está escondido, certo?  

Fiquei impressionado com a rapidez do raciocínio de Asuna e sua habilidade de extrapolar além das informações dadas.

— Boa pergunta. Então, a razão pela qual ele não pode fazer isso deve ser porque «Cylon» conhece os números, mas não sabe onde usá-los. Lembra? A única pessoa que sabia que essa era a segunda casa de «Pithagrus» era o barman que ele visitava — a última pessoa com quem falamos em «Stachion». «Pithagrus» manteve esse lugar em segredo de todos, inclusive de seus aprendizes e servos.  

— Mas por quê?  

— Você vai saber se verificar os livros no escritório.  

— Ewww — ela fez uma careta.  

Em qualquer RPG de fantasia, os livros eram uma grande presença entre os elementos de decoração de interiores. Uma casa deveria ter uma estante de livros, e uma estante deveria ter livros, é claro.  

Mas os livros são um dos piores inimigos de um designer de jogos. Diferente de móveis ou utensílios, os livros são importantes por seu conteúdo. E preencher a vasta quantidade de livros em um jogo com conteúdo significativo é praticamente impossível. Portanto, a maioria dos jogos torna impossível retirar os livros da estante ou limita o acesso a apenas alguns livros, com apenas algumas páginas visíveis.

Mas SAO, provavelmente por alguma fixação de Akihiko Kayaba, desafiou bravamente essa limitação. Todos os livros neste mundo funcionavam plenamente, podiam ser retirados da estante, e todas as páginas continham texto impresso. Gerar todo esse conteúdo do zero aparentemente foi longe demais, já que quase todos os livros continham simplesmente o texto de obras clássicas de domínio público até 2024, em seus idiomas originais. Então, a grande maioria dos jogadores podia olhar os livros, mas ler era muito difícil. Ouvi rumores de que alguns livros em japonês também estavam por aí, mas nunca vi um.  

Era estranho pensar em livros escritos em idiomas do mundo real nas estantes de um mundo que continha elfos, anões e outros seres. Mas, se começasse a questionar isso, também teria que se perguntar por que os NPCs estavam falando japonês.  

Por isso, era possível pegar um livro e folhear seu conteúdo, mas a ideia de conferir esses livros fazia até mesmo Asuna gemer.  

— Sinto que já vi escrita cirílica e árabe o suficiente para a vida toda — ela resmungou.  

— Não se sinta mal. Para mim, é tudo grego... Desculpa, desculpa, só uma piada — acrescentei ao ver o olhar que ela me lançou. — A maioria dos livros no escritório é o que você esperaria, mas alguns estão misturados como manuais de quebra-cabeças. Em outras palavras, «Pithagrus», o rei dos quebra-cabeças, mantinha seus livros secretos, com as soluções para os enigmas dos lordes anteriores e os seus próprios, aqui em sua casa secreta para segurança. Só que, se tentássemos lê-los, não entenderíamos nada.  

— Ah, entendi... Bem, odeio falar mal dos mortos, mas ele parece um pouco mesquinho. Talvez, se ele tivesse permitido que seus aprendizes lessem esses livros, em vez de guardar tudo para si, ele não teria acabado sendo morto — disse Asuna, balançando a cabeça tristemente. Então, ela olhou para os ossos no chão. — Então... de quem são esses ossos?  

— Do capanga de «Cylon». Assim como nós, ele ouviu sobre a segunda casa no bar e chegou até aqui usando a combinação de «Cylon» para abrir a fechadura... mas, antes que pudesse voltar para relatar ao seu mestre, os espectros o pegaram.  

— Espera, você quer dizer que a pessoa que morreu aqui não foi o espectro com quem acabamos de lutar...?  

— Se fosse, então haveria ossos nas outras salas onde encontramos os Espectros Irritantes, certo? Parece que, quando uma casa é abandonada e começa a ruir, fantasmas simplesmente aparecem lá naturalmente.  

— Se algum dia eu comprar uma casa de jogador aqui, vou limpá-la todos os dias. E você também não pode deixá-la bagunçada, Kirito.  

— Sim, sim — murmurei, mas então parei de repente. Hmm? Que tipo de situação ela estava imaginando nesse cenário? Ela pareceu confusa com o jeito que eu estava pensando, refletiu sobre o que havia acabado de dizer, e sua pele branca ficou instantaneamente vermelha.  

— Não!!  

— Ah...tá bom? — disse, assustado com seu súbito protesto. Ela agarrou meu ombro esquerdo.  

— Não é isso! Definitivamente não é isso!!  

— Ah...tá bom.  

Eu não tinha certeza do que "isso" era, mas os lasers disparados de seus olhos me convenceram de que eu deveria dar a entender que havia entendido. Asuna bufou, soltou meu ombro e girou para ir até a escrivaninha. Ela pegou a chave e voltou bufando.  

— Este é o item, certo?  

No lado esquerdo da minha visão, o registro da missão foi atualizado, então eu disse.

— Sim.  

— E que porta isso abre?  

— Não sei.  

— Você não sabe...?  

— A única pessoa que sabe é quem escondeu o cubo dourado e deixou a chave nesta escrivaninha.  

— Então agora temos que encontrar essa pessoa — ela disse, parecendo brevemente desapontada. Mas rapidamente se recuperou, abriu sua janela de jogo e colocou a chave no inventário. — Puxa, já são mais de nove horas. Vamos ter que continuar amanhã.  

— Concordo. Ou... concordaria, mas — disse, considerando muito cuidadosamente o quanto eu deveria estragar. — Bem... algo vai acontecer em breve que vai te surpreender, mas definitivamente não colocará nossas vidas em perigo... Em outras palavras, não haverá perda de HP. Então, reaja com calma.  

— Hã? O que você quer dizer...? O que vai acontecer?  

— Veja, eu não gostaria de estragar a melhor parte de um filme para você, certo? Apenas pense nisso como uma montanha-russa e aproveite o passeio.  

— Isso não me faz esperar por um bom momento — Asuna resmungou, olhando ao redor. Não havia diferença nas paredes e estantes ao nosso redor. Eventualmente, ela reuniu coragem, fechou sua janela e agarrou meus ombros, me girando.  

— Você vai primeiro, Kirito.

— Entendido.  

Eu sabia que a ordem em que caminhávamos não faria diferença para o que aconteceria a seguir, então reprimi um sorriso maluco e comecei a andar de volta pelo caminho que havíamos vindo. Passamos pelo labirinto de prateleiras e chegamos à porta. Agora de volta ao corredor escuro, olhei por cima do ombro para a expressão nervosa de Asuna e continuei em direção à porta de entrada distante.  

À esquerda, passamos pelas portas de todos os quartos que já havíamos vasculhado. Logo, a luz da lanterna na minha mão esquerda alcançou o hall de entrada. Era praticamente uma sala por si só, então a luz não alcançava cada canto a partir do corredor. Mesmo sabendo que estávamos seguros, e que essa era a segunda vez que passávamos por esse local, não pude evitar que meus nervos se ativassem ao pisar na entrada.  

De repente, houve um som de pshooo! e uma nuvem de fumaça verde e venenosa subiu, bloqueando minha visão.  

Normalmente, você teria uma chance de evitar uma armadilha de névoa venenosa se prendesse a respiração a tempo, mas como este era um evento forçado, isso não importava. Atrás de mim, Asuna gritou, e eu estendi a mão para agarrar a dela e mantê-la calma. A fumaça logo chegou ao nível de nossos rostos. No momento em que senti o cheiro acre, minhas pernas ficaram dormentes, e nós caímos no chão.  

No canto superior esquerdo, nossas barras de HP estavam cercadas por bordas da cor da fumaça. Isso indicava um estado de paralisia... mas, enquanto na paralisia normal você ainda podia usar o braço direito (com dificuldade), agora estávamos completamente incapazes de nos mover — ou mesmo falar. Felizmente, o sentido do tato ainda estava intacto, então, através do contato da pele, tentei transmitir a Asuna para não se preocupar.  

Em trinta segundos, o gás desapareceu completamente sem deixar vestígios, e a fonte dele ficou visível à luz da lanterna, que agora estava no chão. Era um pequeno pote, com um útil símbolo de caveira na lateral. Então, dois pares de passos se aproximaram.  

No canto do hall de entrada, apareceram dois homens com mantos iguais, um grande e outro pequeno — apenas identificáveis como homens porque eu já sabia quem eles eram. Sob seus capuzes profundos, usavam máscaras de couro estranhas que cobriam todo o rosto.  

O homem grande parou no meio da sala, mas o menor se aproximou de nós, pegou o pote e o guardou em seu manto. Em seguida, puxou o capuz para trás e removeu a máscara, que claramente o manteve seguro do gás.  

...!!  

Ouvi o suspiro de Asuna.  

Visível na luz alaranjada da lanterna estavam as bochechas fundas, a cabeça calva e a impressionante barba do lord de «Stachion», «Cylon».  

— Bem, bem... Estou bastante surpreso, espadachim. Não achei que você encontraria o esconderijo de «Pithagrus» tão cedo. Demorei muitos anos para encontrá-lo... porque nunca esperei que estivesse em «Suribus», em vez de «Stachion».  

Ele balançou a cabeça teatralmente, depois olhou além de mim pelo corredor.

— Estou curioso sobre a fórmula secreta por trás de seus quebra-cabeças que ele manteve tão em segredo... mas vou começar com isso primeiro.  

Ele passou por mim, com seus sapatos de pontas estranhamente curvadas batendo no chão, e estendeu a mão para Asuna. Através de algum tipo de truque de mágica — ou provavelmente apenas para fazer a cena da história funcionar — a chave dourada apareceu em sua palma, quando deveria estar segura no inventário dela. Ele examinou seus detalhes finos e soltou um suspiro pesado.  

— Ahhh... Eu esperava encontrar o cubo aqui... mas tenho uma ideia de onde posso encontrar a porta para esta chave. Certamente, o item que procuro estará lá — disse ele, sua decepção se transformando em um sorriso agradável. Ele guardou a chave em seu manto e acariciou sua longa barba.  

— Você fez um ótimo trabalho para mim, espadachim. Normalmente, eu diria adeus aqui... mas, na verdade, tenho outro trabalho para você. Você se importaria se eu pedisse sua cooperação mais uma vez...?  

Ele estendeu a mão esquerda e estalou os dedos. O homem grande e mascarado, que não havia dito uma palavra, se aproximou e tirou um grande saco de seu manto. Ele se ajoelhou, agarrou minha gola com um punho anormalmente grosso, me levantou facilmente e me jogou no saco. Já havia passado por isso antes, mas, no beta, venci a missão sozinho. Quando em grupo de dois, será que eles trazem dois sacos, ou apenas...?  

Minha pergunta foi respondida quando a boca do saco se abriu novamente, e minha parceira caiu em cima de mim. Eu teria gemido com o impacto, se fosse capaz de usar minha voz. Certamente, Asuna não ficaria feliz com isso, mas ela teria que aguentar pelo bem da nossa experiência de quest.  

Por cima do ombro dela, vi o homem grande espiando dentro do saco.  

Então, ele fechou a abertura, e não podíamos ver nada.  

Senti o homem grande nos levantando e colocando em suas costas. Nosso saco balançava no ritmo de cada passo pesado. Houve o som de uma porta se abrindo e fechando. Através da lona grossa, ouvi o som fraco do rio e a música distante de músicos NPCs.  

A essa hora, muitos jogadores ainda estariam comendo e fazendo compras em «Suribus». E nós estávamos sendo sequestrados e carregados bem no meio disso — um cenário bastante ousado para uma quest. O saco era grande o suficiente com nós dois dentro; o que aconteceria se fosse um grupo completo de seis pessoas...? Antes que pudesse imaginar as possibilidades, houve um baque forte, e paramos de balançar. Ouvi sons de respiração pesada — de um cavalo — e, em seguida, fomos carregados para a carroça.  

Em instantes, a carroça balançou novamente, provavelmente quando o homem grande e «Cylon» se sentaram no assento da caixa. Houve o som de um chicote estalando, depois cascos batendo e rodas rangendo. A carroça estava lentamente seguindo o caminho à beira do rio.  

A paralisia ainda me impedia de me mover ou falar, mas saber que estávamos ganhando um táxi grátis de volta para «Stachion» tornava a experiência suportável. O maior problema era que eu não fazia ideia de como Asuna — que estava descansando em cima de mim — se sentia em relação a tudo isso. Assim que estivéssemos livres para nos mover, ela provavelmente gritaria comigo por não avisar o que aconteceria primeiro, mas, por enquanto, queria acreditar que ela entenderia que eu estava apenas tentando manter a surpresa e a diversão dessa cena climática para ela aproveitar.  

Em poucos minutos, a carroça saiu da cidade, e a estrada sob as rodas mudou de pedra para terra. Faltava apenas um quilômetro e meio para «Stachion», sem mobs no caminho, o que significava que a viagem duraria apenas cinco minutos. Naturalmente, o evento continuaria ao chegar à cidade, então provavelmente seriam mais trinta minutos até recuperarmos completamente nossa liberdade. Nesse ritmo, passaríamos a noite em «Stachion», em vez de «Suribus»...  

— Bree-hee-hee!!  

A carroça parou violentamente quando o cavalo relinchou. Abri meus olhos o máximo que podia, o único movimento que eu podia controlar, mas não havia como ver o que estava acontecendo do lado de fora do saco.

— Quem está aí?! Eu sou «Cylon», lord de «Stachion»! — ele gritou. Foi seguido pelo som de metal batendo em metal.  

O cavalo relinchou de novo, e a carroça tombou. Eu teria gritado se pudesse. O saco rolou conosco dentro e aterrissou em um pequeno trecho de grama. O impacto abriu levemente a boca do saco, nos dando uma visão melhor do lado de fora.  

Em cima da carruagem, «Cylon» e um bandido com capuz preto estavam lutando com espadas, e um pouco mais adiante, o homem grande com máscara de couro estava em combate com um bandido semelhante. O cursor de «Cylon» e de seu assistente estava amarelo, enquanto os dos bandidos estavam laranja.  

Esse evento não havia acontecido na versão beta. Não era incomum que as missões na versão completa fossem diferentes, mas isso significava que meu conhecimento anterior não seria mais útil. Ainda teríamos que esperar a paralisia passar, mas, quando isso acontecesse, poderíamos ser forçados a escolher entre apoiar «Cylon» ou os bandidos — ou simplesmente fugir...  

...!!  

Achei que senti Asuna tensa e respirando mais forte que o normal. Um momento depois, entendi o porquê.  

Nós já tínhamos lutado contra vários elfos da floresta que eram tratados como NPCs. Seus cursores eram vermelhos, assim como os mobs. Mas os bandidos encapuzados de preto, lutando contra «Cylon», tinham cursores laranja. A cor dos criminosos.  

Eles não eram NPCs. Eram jogadores.  

Assim que percebi isso, o bandido que estava lutando na carroça usou uma habilidade com a espada e derrubou «Cylon» sem piedade. A força do movimento puxou o capuz do atacante para trás, revelando seu rosto.  

Brilhando sob o pálido luar, estava uma cota de malha de prata, com as pontas desgastadas e penduradas — e, por baixo, um grande sorriso debochado.  

Eu conhecia aquele rosto. Ele estava com uma espada agora, mas eu jamais o confundiria com outra pessoa. Era o machadeiro que me desafiou para um duelo no terceiro andar com a intenção de me matar...  

Era Morte.  

O veneno paralisante de «Cylon» apenas imobilizava o corpo e não afetava a mente do jogador — mas eu fiquei sem reação por alguns momentos.  

Finalmente, uma pergunta surgiu em minha cabeça — e então a resposta.  

Elas eram tão rápidas quanto bolhas subindo e estourando.  

O que diabos Morte e seu amigo estão fazendo?  

...Isso deveria ser óbvio. Eles não estão nos salvando de «Cylon». Pelo contrário: estão aproveitando nossa paralisia para nos matar.  

Mas como eles sabiam que estaríamos paralisados e passando por esse lugar exatamente agora?  

...Será que eles nos seguiram o caminho todo? Não. Morte era um beta tester como eu. Ele provavelmente sabia tudo sobre a missão "A Maldição de «Stachion»", e sabia que, se vigiasse o esconderijo de «Pithagrus», acabaria nos vendo aparecer.  

Então, como escapamos?  

........  

Mas nenhuma quantidade de espera trouxe a resposta para a terceira pergunta à minha mente.  

Era perfeitamente possível interferir na missão de outro jogador se ela estivesse acontecendo a céu aberto, e eu já havia passado por isso em outros jogos antes de SAO. Mas nunca me ocorreu que algo assim pudesse acontecer.  

«Cylon» estava caído no chão da carroça, com a mão vazia ainda estendida para seu atacante. — Matar um Lord é um crime grave e terrível! — ele gritou. — Você nunca será permitido em «Stachion» — ou pelas portas de qualquer outra cidade novamente!  

Não consegui dizer se essa fala fazia parte de um dos padrões de diálogo de «Cylon» ou se ele a inventou quando se deparou com uma morte inesperada. Em qualquer dos casos, sua ameaça não teve efeito sobre Morte. O machadeiro deu dois passos à frente, ainda sorrindo, trocou para um machado de uma mão com a habilidade «Quick Change» e o desferiu sobre a cabeça de «Cylon».  

A barra de HP abaixo do nome do cursor «CYLON» foi a zero, e o Lord de «Stachion» lentamente balançou para trás, com a mão direita ainda estendida, e caiu da carroça. Seu corpo quicou bem perto dos nossos pés no chão e ficou imóvel de forma antinatural antes de se estilhaçar em uma nuvem de pequenas partículas azuis.  

Como se esperaria de um Lord, ele deixou cair uma série de itens entre montes de moedas de ouro e prata, fazendo-as tilintar e chacoalhar no chão. Era o tipo de lucro pelo qual se tornaria um jogador criminoso, mas Morte não deu a mínima. Ele olhou para nós de cima da carroça. Seus olhos estavam escondidos sob a borda da cota de malha, mas o sorriso em seus lábios finos se alargou.  

Nesse momento, o outro bandido encapuzado, que lutava contra o homem grande do outro lado da carroça, gritou: — Ei, se você já terminou com o velho, me ajuda aqui! Esse gordão é de nível bem alto!  

Forcei meus olhos o máximo que pude e vi o homem grande, seus punhos enormes envoltos em tiras de couro cravejadas de metal, balançando contra o jogador menor, que se movia agilmente ao redor. O bandido tinha uma adaga fina na mão, o que me disse que ele deveria ser aquele que estava com Morte nas catacumbas subterrâneas do quinto andar. Se esses dois estavam por perto, então era possível que o chefe da gangue de PKs estivesse por ali — o homem com o poncho preto que tentou me matar durante o show de fogos de artifício — mas eu ainda não o senti.  

O usuário da adaga desviava dos socos do homem grande e contra-atacava habilmente, mas mantinha distância e não se aproximava o suficiente para causar grandes danos. A essa altura, nossa única esperança era confiar no homem que nos prendeu nesse saco em primeiro lugar. Se ele conseguisse resistir por alguns minutos, mesmo com Morte envolvido, Asuna e eu poderíamos nos recuperar da paralisia.  

Mas...  

— Desculpa, estou ocupado agora. Se não consegue derrotá-lo, então arraste-o para a floresta e o perca por lá, por favor — ordenou Morte, voltando-se para nós. Seu parceiro protestou, mas parecia claro que Morte tinha uma posição mais alta na gangue. Em vez disso, ele gritou para o homem grande segui-lo e correu para a densa mata no lado sul da estrada. O homem com a máscara de couro emitiu um rugido abafado e correu atrás dele.  

Quando os passos das duas duplas desapareceram, um silêncio ensurdecedor tomou conta. Por alguma razão, o habitual som dos insetos noturnos e o piar das corujas estavam completamente ausentes.  

Nesse silêncio, soou o leve som de passos. Morte havia pulado da carroça. O machado que ele usara para matar «Cylon» repousava em seu ombro, e ele pisou despreocupadamente sobre as moedas espalhadas no chão enquanto se aproximava de mim e de Asuna, onde estávamos deitados.  

— Ora, ora, ora. Eu estava esperando por você, Kirito. Tinha a sensação de que você aceitaria a missão do Lord, mas não tinha tanta certeza de que iria segui-lo o tempo todo desde o início. Em vez disso, só fiquei vigiando o esconderijo do Py-alguma-coisa de uma estalagem desde ontem à noite... Ah! Opa.  

Seu sorriso debochado ficou um pouco envergonhado, e ele coçou a lateral da cabeça com as costas do machado.  

— O chefe sempre me diz que eu deveria tomar cuidado para não falar demais, mas parece que isso nunca vai mudar, né? Por outro lado, seria bem ruim se você se recuperasse da paralisia enquanto estou aqui conversando sem parar, então temo que este é o momento de nos despedirmos.  

Ele girou o machado nos dedos, fazendo-o rodopiar audivelmente, e depois o segurou firme, começando a andar novamente.  

Naquele momento, a borda verde em torno das barras de HP minha e de Asuna começou a piscar. Faltavam trinta segundos para o debuff desaparecer naturalmente... mas cinco segundos eram suficientes para ele matar um jogador indefeso.  

Asuna estava deitada de lado, de costas para mim, então eu não podia ver seu rosto. Não conseguia dizer uma palavra para ela, nem segurar sua mão.  

Eu deixei essa situação acontecer por falta de cautela. Sabia que seríamos levados para fora da cidade em um estado totalmente indefeso e deveria ter percebido que isso nos deixaria vulneráveis a PKers. E mesmo que eu não tivesse percebido, talvez Asuna tivesse sido atenta o suficiente para notar minha falha, se eu não estivesse tão ocupado com minhas preciosas surpresas de história.  

Eu tinha que encontrar uma maneira de tirar Asuna dessa armadilha mortal, mesmo que isso exigisse sacrificar a mim mesmo.  

As botas se aproximavam, esmagando o chão. O debuff ainda não havia desaparecido. Meu coração batia acelerado.  

Isso não era um sinal virtual. Eu sabia que, onde quer que estivesse no mundo real, meu coração estava acelerado também. Minha mente estava comprimida, o tempo passando mais devagar do que deveria, enquanto meu cérebro percorria todas as possíveis escolhas.  

Eu podia ver o cabelo castanho de Asuna, a grama verde e a floresta azulada ao fundo... bem como a variedade de itens que «Cylon» deixou ao morrer. Moedas de ouro, prata, bolsas misteriosas, uma espada longa de aparência bem cara, sua máscara de couro, uma chave de ferro, uma chave dourada, um pequeno jarro e aqueles sapatos com pontas viradas para cima.  

Uma possibilidade passou pela minha mente, tão instantânea quanto um raio.  

Eu não podia mover meus braços ou pernas no momento. Mas havia duas coisas que eu podia fazer.  

Uma era olhar. A outra, respirar.  

Morte parou a apenas meio metro atrás de mim; eu estava deitado de lado. Embora não pudesse vê-lo diretamente, sua sombra estava no chão, erguendo o machado silenciosamente acima da cabeça.  

Naquele momento, expeli o ar que estava segurando pelos lábios semicerrados.  

Meu alvo era o pequeno jarro, que estava de pé a cerca de um metro de distância. Tinha uma marca de caveira na lateral — era o que «Cylon» usara para nos paralisar. Deve ter sido reiniciado ao seu estado padrão quando caiu, pois estava tampado em vez de aberto e vazio.  

O jarro tinha apenas cinco centímetros de altura, e o ar expelido aqui tendia a ser exagerado — tínhamos conseguido inflar os frutos no quarto andar com um único sopro — mas eu não tinha certeza se conseguiria derrubá-lo. Para minha surpresa, no entanto, outro sopro de ar desceu sobre ele ao mesmo tempo. Asuna havia chegado à mesma conclusão e tentado o mesmo truque.  

O pequeno jarro inclinou-se de lado com a força dos dois sopros ao mesmo tempo. Balançou para trás, inclinou-se para a frente — e tombou. A tampa, que estava apenas repousada no lugar, rolou pelo chão, e aquela fumaça verde e venenosa disparou para fora com uma força surpreendente.  

Eu inspirei uma grande e profunda lufada de ar limpo e a segurei.  

Instantaneamente, a fumaça nos envolveu, tingindo tudo de verde. Ouvi um estalo de língua e senti Morte se afastar rapidamente.

O piscar da borda verde ao redor da minha barra de HP ficou cada vez mais rápido.

Em Aincrad, aumentar dois tipos diferentes de atributos podia permitir que você exibisse força física e velocidade impossíveis na vida real. Mas havia poucas coisas em um VRMMO de imersão completa que ainda derivavam do seu corpo físico real.

Uma dessas coisas era a capacidade pulmonar. Se a água cobrisse sua cabeça, o jogo registraria você no estado de afogamento, mas enquanto você segurasse a respiração, não haveria perda de HP. Como essa respiração não era apenas do avatar, mas do seu corpo físico, isso significava que jogadores com maior capacidade pulmonar no mundo real podiam se mover por mais tempo debaixo d'água. A mesma lógica se aplicava a segurar a respiração contra gás venenoso.

Eu não fazia muito exercício no ensino fundamental ou médio, então minha confiança na capacidade pulmonar era baixa, mas o gás de «Cylon» durou apenas trinta segundos na casa assombrada, e eu sabia que conseguia segurar o fôlego por esse tempo. O problema era saber se a paralisia ainda duraria tanto tempo... e se Morte ficaria longe por todos esses trinta segundos.

Já haviam se passado cinco... seis... sete segundos desde que o gás começou — e a borda da barra de HP e o ícone de debuff haviam desaparecido. Instantaneamente, a sensação voltou ao meu corpo, e eu me levantei com a mão esquerda, alcançando minha espada com a direita.

Foi então que Morte avançou através da cortina de veneno em minha direção.

O gás era tão denso que eu só conseguia ver um contorno vago da forma do inimigo. O mesmo valia para Morte, mas o golpe que ele desferiu, cortando a fumaça, estava perfeitamente mirado no meu rosto.

Se eu bloqueasse a cabeça do machado que se aproximava de mim apenas com a espada, perderia em termos de peso e impulso. Mas também não havia tempo para desferir um golpe de uma posição agachada. Não tive escolha a não ser colocar a mão esquerda atrás da lâmina e assumir uma posição de bloqueio com as duas mãos.

O machado de Morte atingiu a lateral da «Sword of Eventide», espalhando faíscas quase ofuscantes, mesmo na névoa densa. O impacto foi tão forte que, por um momento, temi que minha espada quebrasse, mas a lendária lâmina do clã «Yofilis» absorveu o golpe bravamente — fazendo Morte vacilar ligeiramente.

...!!

Dei um salto com um rugido abafado, executando a habilidade básica de artes marciais «Senda» com a mão esquerda. Meu punho disparou envolto em luz vermelha, que Morte bloqueou com o braço direito cerrado — mas não de forma sólida o suficiente para impedir que perdesse o equilíbrio. Eu também tinha uma pausa pós-habilidade, mas, de todas as habilidades com espada que eu conhecia, o «Senda» tinha o menor atraso. Quando me recuperei menos de um segundo depois, Morte ainda estava desequilibrado.

Seu lado direito estava protegido pelo machado robusto, mas o esquerdo estava indefeso. A melhor forma de atingi-lo ali seria com a habilidade de espada Horizontal—

Não. Espere.

Quando lutei contra Morte no acampamento dos elfos da floresta no terceiro andar, ele usou «Quick Change» para trocar sua espada por um machado. Mas ele também trouxe um escudo redondo junto com o machado. Agora, porém, sua mão esquerda estava vazia. Ele mudou de estilo? Por quê—?

Para me fazer pensar que sua mão esquerda estava vazia.

—!!

Cerrei os dentes e me impedi de usar a habilidade de espada que estava prestes a acionar, recuando a lâmina. No mesmo instante, Morte girou o pulso esquerdo e lançou algo em direção ao meu rosto.

O objeto cortou o gás venenoso e ricocheteou na minha espada, que mal consegui levantar a tempo. Pelo forte clangor metálico e a intensidade do impacto, deduzi que era um dardos de arremesso — provavelmente envenenado.

No tempo que levei para recuar minha espada e me defender, Morte já havia se recuperado, mas escolheu se retirar em vez de contra-atacar. Ele saltou para trás, e eu o segui, atento a mais dardos. Em cinco segundos, estava fora da nuvem de veneno, então expeli o ar e inspirei ar fresco.

Cinco metros à frente, Morte também respirava fundo, com um sorriso largo no rosto.

— Ha-ha... Muito bem, Kirito. Não acredito que você bloqueou aquilo.

— Me diga, onde conseguiu esse dardo envenenado tão perigoso e raro? — perguntei, olhando de relance para a «Sword of Eventide» polida para ver o que se refletia em sua superfície por trás de mim. Asuna havia se recuperado ao mesmo tempo que eu, mas ainda não tinha saído da fumaça verde. O ícone de debuff havia sumido de sua barra de HP, então sabia que ela não havia inalado uma nova dose, mas não entendia por que ela ainda não havia se movido.

— Bem, se eu te contasse, você iria atrás dele, não é? É surpreendente o quanto essas coisas podem ser úteis — debochou Morte, inclinando-se para pegar outro dardo de seu cinto.

Veneno em SAO, especialmente o tipo paralisante, era incrivelmente perigoso, como demonstrado pelo evento de paralisia que quase nos matou. Devido à sua complexidade, era extremamente difícil para os jogadores utilizá-lo. Criar um agente de paralisia de alto nível com a habilidade de «Mixture» era desafiador, e simplesmente aplicar o veneno na arma não era suficiente. A arma precisava ter um atributo de Toxicidade extremamente raro, algo que eu nunca tinha visto, muito menos encontrado. 

O homem de poncho preto, o chefe de Morte, alegou que a faca que ele usou contra mim possuía paralisia nível 5 e veneno nível 5, mas depois descobri que era apenas um blefe.

Mas o dardo de dez centímetros entre os dedos de Morte brilhava com um resíduo oleoso sob a luz da lua. Claramente, ele havia abandonado o escudo e aceitado o status de "equipamento irregular" que o tornava inelegível para usar habilidades com espada, tudo para realizar ataques furtivos com aquilo. Portanto, devia ser uma arma envenenada. Qualquer que fosse a solução que ele havia aplicado, eu não deixaria ele me acertar.

Felizmente, dardos eram armas descartáveis por natureza, com versões compráveis e dropáveis em conjuntos de três. O primeiro que Morte lançou foi parar na floresta, então ele ainda tinha dois. Se eu conseguisse tirá-los da jogada, teria a vantagem.

O sorriso debochado de Morte se suavizou um pouco. Ele empurrou o machado para frente e escondeu a mão de arremesso atrás dele. Eu ergui minha espada na altura média, pronta para desviar de qualquer ângulo.

O gás venenoso atrás de mim ainda estava lá. Ele só durou trinta segundos quando «Cylon» nos envenenou, então presumi que seria o mesmo aqui — mas e se o período de ativação tivesse sido comprimido apenas para o evento, e uma vez que ele tivesse atingido um jogador, sua duração padrão fosse maior? Se fosse dois minutos, ou até mesmo apenas um, eu não poderia garantir que Asuna aguentaria prender a respiração. Se a paralisia havia passado, por que ela não estava saindo da fumaça…?

Bem no momento em que comecei a ficar realmente preocupado, ouvi um grito do outro lado da nuvem de fumaça.

— Ufa! Finalmente me livrei dele! Ei, vocês já terminaram aí? — O segundo homem encapuzado, que havia puxado o NPC para dentro da floresta, voltou mais cedo do que eu esperava. Cerrei os dentes, enquanto o sorriso de Morte retornava. Se Asuna estivesse com algum problema e não conseguisse se soltar, eu teria que lutar contra dois ao mesmo tempo, enquanto a protegia. De fato, sua vida era a prioridade, então, se fosse necessário, eu teria que me sacrificar para que minha parceira pudesse escapar.

No reflexo da minha espada, meu retrovisor improvisado, vi uma figura encapuzada contornando a nuvem de veneno a uma boa distância.

— Droga, ele ainda está vivo? Qual é a desse gás, afinal? Não deveríamos estar usando isso, né? — perguntou o segundo capuzado.

— Não é meu. Kirito aqui encontrou uma maneira de usar o item de veneno do NPC. Aha-ha-ha — respondeu Morte.

O segundo capuzado estalou a língua de maneira teatral.

— Que saco. Por outro lado... talvez eu tenha sorte, agora que posso acabar com alguém? Ainda não superei minha raiva por terem roubado minha «Chivalric Rapier» no quinto andar. Ei, cadê a garota?

— Parece que ela ainda está paralisada dentro da nuvem de fumaça.

— Ótimo. Então vamos matar o beater primeiro.

O Segundo Capuzado puxou uma adaga escura e brilhante da cintura.

Mantive o silêncio enquanto os dois conversavam ao meu redor, mas no instante em que o Número Dois mencionou Asuna, senti meu sangue ferver e quase ataquei. Mas sabia que, se virasse as costas para Morte, ele jogaria o dardo. O «Coat of Midnight» que eu havia aprimorado no acampamento dos elfos negros ainda era poderoso o suficiente para ser útil aqui no sexto andar, apesar de ser o prêmio de bônus por derrotar o boss no primeiro andar. 

O problema era que ele era fraco contra ataques perfurantes, como todas as armaduras não metálicas. Isso não era um grande problema em Aincrad, onde não havia arcos e flechas, mas, além de armas como lanças e alabardas — e armas de uma mão, como estiletes e estocos — os dardos de arremesso eram um tipo de arma perfurante perfeitamente viável.

Eu precisava atacar Morte o mais rápido possível para neutralizá-lo e, em seguida, derrotar seu comparsa. Essa era a única maneira de sair dessa — mas eu realmente conseguiria superar o machadeiro, sabendo que sua habilidade de duelo provavelmente havia melhorado desde a última vez que lutamos? Mesmo que eu tivesse a técnica e os status, eu seria capaz de cruzar aquela linha final…?

Diferente do mundo real, enquanto você tivesse um único pixel de vida restante na barra de HP, ainda podia se mover e lutar. Então, a única maneira de garantir sua neutralização sem veneno ou armadilhas era reduzir seu HP a zero — matá-lo.

Como Morte e o usuário da adaga haviam atacado «Cylon» e seu assistente, seus indicadores de jogador estavam laranja, a cor dos criminosos. Como jogador verde, eu poderia atacá-los sem penalidades ou medo de me tornar laranja, mas isso era apenas seguindo as regras do sistema. No momento, SAO era um jogo de morte inescapável, e perder seu HP significava que o NerveGear fritaria seu cérebro com micro-ondas intensos. Se eu matasse Morte e seu amigo, estaria matando seus corpos biológicos, onde quer que estivessem no mundo real.

Matar jogadores agora era assassinato real. Eu poderia fazer isso?

A intuição demoníaca viu direto através de mim naquele momento de indecisão.

Shah!

Morte sibilou e se moveu. Pulei para a esquerda para sair do caminho e manter o usuário da adaga à vista. Mas Morte previu isso e girou na mesma direção que eu, desferindo um golpe lateral com seu machado.

Enquanto ele segurasse o dardo venenoso na mão esquerda, ele seria registrado como um duelista e não poderia usar habilidades com espada. Mas o machado de uma mão de Morte tinha um poder que não podia ser ignorado, mesmo com ataques comuns. Diferente da «Anneal Blade», que tinha excelente peso e resistência, a «Sword of Eventide» era afiada, mas leve, e talvez não aguentasse ataques pesados se minha técnica de guarda não fosse meticulosa.

Quando aterrissei, balancei para trás, e a lâmina grossa do machado rugiu exatamente onde meu pescoço havia estado. O golpe foi tão pesado que Morte acabou expondo suas costas para mim. Apesar da minha postura, eu poderia ter atacado ele naquela posição, mas o Número Dois estava se aproximando de mim com sua adaga. Se eles me cercassem pela frente e por trás, eventualmente eu seria atingido por aquele dardo envenenado. Eu precisava atraí-los para a floresta ao lado norte da estrada, onde poderia lutar com as costas contra uma árvore.

Dobrei os joelhos, pronto para pular de novo.

Nesse momento, a nuvem verde de fumaça atrás do Número Dois se dividiu ao meio.

Era uma espadachim, capa vermelha escura esvoaçando atrás dela, rapieira prateada na mão. Seu rosto estava escondido por uma máscara de couro monstruosa — a máscara de gás que «Cylon» usou no esconderijo de «Pithagrus» e que caiu quando ele morreu. Asuna estava espreitando no meio do gás por mais de um minuto porque estava usando a máscara.

Tanto Morte, que tentava recuperar o impulso do machado em minha direção, quanto o Número Dois, que avançava, não perceberam sua presença. Ela poderia tirar vantagem usando uma habilidade com espada contra as costas indefesas do segundo.

Mas a questão era: Será que Asuna, que nunca havia experimentado um duelo como uma forma de combate realmente mortal, conseguiria fazer isso? Se ela hesitasse por um instante durante a ativação, a habilidade falharia, e ela ficaria congelada, vulnerável a um contra-ataque devastador.

Durante todo esse momento de expectativa angustiante, mantive o foco no machado de Morte. Se minha expressão fizesse o Número Dois perceber o ataque surpresa, a paciência e astúcia de Asuna seriam desperdiçadas. Eu tinha que acreditar na minha parceira.

Shhu!

Morte balançou o machado novamente. Dei um passo para trás apenas o necessário para evitar o golpe, mantendo meus olhos em sua mão esquerda. Ele estava esperando que eu bloqueasse o machado, o que lhe daria uma abertura para arremessar o dardo, então eu precisava continuar me esquivando com balanços e passos rápidos.

Pelo canto do olho, vi Asuna correndo a uma velocidade incrível para diminuir a distância, puxando sua rapieira para atacar. Seu alvo estava diminuindo a velocidade rapidamente, talvez percebendo os passos atrás dele.  

A ponta feroz da arma dela brilhava em um vermelho intenso. O braço direito de Asuna e sua espada derreteram-se no fluxo de luz. Enquanto eu me preparava para o terceiro golpe de Morte, enviei uma mensagem silenciosa para minha parceira.  

Vai, Asuna!!  

Ouvi uma série de impactos pesados. Sua habilidade com espada, «Triangular», acertou o homem bem nas costas, tirando mais de um terço de sua vida.  

— Aaah... droga! — ele grunhiu de dor e fúria, rolando uma volta e meia no chão com suas costas sangrando em um enorme efeito visual de dano, mas ele conseguiu se levantar em vez de entrar em estado de queda.  

— Ela não está paralisada! Isso foi um truque sujo! — ele gritou.  

Asuna se recuperou do atraso pós-habilidade e, ignorando o protesto hipócrita dele, tirou sua máscara de couro e a jogou na grama. Sob a luz pálida da lua, seus traços belos estavam marcados por uma fúria — uma que eu nunca tinha visto antes. Era o suficiente para calar o homem barulhento, com certeza.  

— Deixe esse comigo. Você pega o Morte, Kirito.  

Sua voz suave chegou clara e alta, mesmo a mais de dez metros de distância. Eu respondi com um breve aceno para seus olhos frios e brilhantes, e então me virei para o machadeiro.  

A boca cruel, visível sob seu capuz, não continha o menor indício de um sorriso.  

— Ora, ora — ele rosnou. — Nossa diversão virou um verdadeiro dilema, muito rapidamente.  

— Você achou que seria fácil matar algumas pessoas imobilizadas? Pense de novo.  

— Calma lá, ainda não acabou. Eu ainda tenho dois dardos… venenosos! — ele gritou, girando o machado em sua mão direita verticalmente. Inclinei-me para trás por instinto quando a lâmina escura avançou em direção ao meu nariz.  

Doía não poder bloquear, mas o «Harsh Hatchet» de Morte estava aprimorado com +6 em Heaviness, o suficiente para abaixar o centro de gravidade do avatar no início do golpe. Era um detalhe muito pequeno, mas se você prestasse atenção, podia notar.  

Enquanto Morte e eu estávamos travados em combate, Asuna e o Segundo Capuzado lutavam com resultados espetaculares.  

Ambos eram do tipo rápido — a adaga e a rapieira cintilavam com uma velocidade vertiginosa, iluminando a noite com uma chuva de faíscas. Em termos de velocidade pura, nenhum jogador da linha de frente superava Asuna — se alguém pudesse, talvez fosse o extremo status de AGI de Argo. Mas, em uma luta de jogador contra jogador sem regras, o estilo de Asuna era um pouco direto demais. Contra um oponente versado em blefes e truques, ela provavelmente encontraria forte resistência.  

Mas, depois de ter caído sentada em simples treinos contra mim, o fato de que ela estava se dedicando completamente a uma luta contra um verdadeiro PKer era um sinal de grande progresso. Eu tinha que seguir seu exemplo. Não poderia ficar na defensiva o tempo todo.  

Morte continuava desferindo golpes furiosos em mim, tentando me forçar a bloquear seu machado — ou apenas me desequilibrar para que ele pudesse me acertar com a agulha diretamente. No mundo real, ele já estaria sem fôlego, mas desde que você não executasse ações além de sua variável de força, o coeficiente de fadiga oculto não seria um problema aqui.  

A floresta à noite oferecia baixa visibilidade e terreno irregular, então, se eu continuasse me esquivando, eventualmente tropeçaria em uma raiz ou pedra. Eu precisava sair dessa situação antes que isso acontecesse.  

Sh…shwaa!  

Evitei os golpes consecutivos de Morte, lateralmente e verticalmente, com passos rápidos e estreitos. Então eu arrisquei: fingi tropeçar em algo, caindo para frente.  

Morte atacou.  

— Haaaa! — ele gritou, balançando o «Harsh Hatchet» de cima para baixo. Ele avançou bastante, já que eu vinha recuando em todas as minhas esquivas.  

Machados eram poderosos, quer fossem usados com uma ou duas mãos, mas se você chegasse perto o suficiente — e usasse toda a sua ousadia e coragem —, poderia aproveitar a fraqueza estrutural deles.  

— Argh! — gritei, tensionando minha perna esquerda — tropeçada entre aspas — e me lançando para frente a partir dela. Isso me empurrou para dentro do caminho da cabeça do machado que caía, onde eu pude levantar meu antebraço esquerdo e pressioná-lo contra o cabo do machado.  

Um choque feroz percorreu meu braço e ombro, e perdi cerca de 5% do meu HP. Mas, ao mesmo tempo, ativei a habilidade com espada Inclinação com a outra mão. A lâmina azul brilhante atingiu o braço esquerdo de Morte enquanto ele puxava o pulso para lançar o projétil envenenado.  

Imaginei que, se conseguisse fazê-lo soltar o dardo, seria ótimo. Mas minha obra-prima de elfo negro mostrou uma habilidade ainda maior em responder ao meu arriscado movimento. A espada cortou silenciosamente o braço de Morte abaixo do cotovelo. Seu antebraço explodiu em minúsculos fragmentos de cristal, e o dardo que ele segurava caiu na grama.  

Eu havia causado dano de perda de parte do corpo. Ele não poderia lançar os dardos com a mão esquerda por pelo menos três minutos, até se recuperar desse efeito.  

— Ha-ha! — Morte riu, fosse como blefe ou sinal de que ainda tinha truques na manga. Ele saltou para trás, partículas vermelhas vivas jorrando de seu braço decepado como se fosse sangue.  

Eu não era do tipo que continuava atacando em um duelo após já ter atingido o alvo. Combinar habilidades com espada em busca de máximo dano também maximizava sua própria vulnerabilidade, e era muito fácil sofrer consequências devastadoras quando se deixava levar pelo momento.  

Mas, nessa única vez, assim que o atraso da minha habilidade terminou, avancei, perseguindo Morte enquanto ele recuava. Parecia que eu estava mais irritado do que percebia com os PKers por terem atacado Asuna... e comigo mesmo, por não ter reconhecido o perigo do evento de paralisia.  

Raaahh!!

Rugi do fundo do meu ser, estocando a espada com um giro dos pulsos. Várias trilhas de luz azul-clara saíram da ponta, e uma força invisível me empurrou por trás. Era a habilidade de estocada baixa, «Rage Spike».  

Essa habilidade com espada, desbloqueada com proficiência de 50 em espada de uma mão, era uma das habilidades básicas, depois de «Slant», «Vertical», e «Horizontal». Então, seu poder era baixo, mas, ao contrário do «Sonic Leap», que envolvia um salto alto seguido de um golpe descendente, essa habilidade estocava em linha reta ao longo do chão, tornando-a mais precisa e difícil de defender.

Com a mão esquerda decepada e sem empunhar armas em ambas as mãos, Morte agora estava livre para usar habilidades com espada junto de seu machado, mas ao me ver inclinado e correndo rente ao chão, ele abandonou instantaneamente a ideia de contra-atacar. Ele virou o machado e o segurou à sua frente para se defender.  

O cabo do machado era basicamente apenas uma vara redonda, embora alguns pudessem ter espinhos ou pequenas lâminas próprias. Mas, por causa dessa estrutura, era o ponto fraco da arma durante o ataque — embora, ao contrário das espadas, o cabo de um machado fosse muito menos propenso a ser destruído durante a defesa, independentemente de como fosse atingido. E, com a habilidade de Morte, ele não teria muita dificuldade em bloquear minha estocada com o cabo, mesmo que tivesse menos de uma polegada de espessura.  

No entanto, uma estocada bloqueada ainda poderia empurrar o alvo para trás. Agora era a hora de colocar tudo nesse golpe, sem medo de retaliação — para que ele soubesse com quem estava lidando.  

— Yaaa! — berrei, lançando minha espada diretamente em direção ao peito dele.  

— Sshheh! — Morte sibilou, brandindo o cabo do machado no caminho da linha azul-clara. A ponta da minha espada avançava, pronta para partir aquele bastão de aço.  

E então.  

Como se a espada se movesse por conta própria, a ponta balançou um pouquinho para a direita. A perfeitamente rígida e implacável «Sword of Eventide», nesse único momento, assumiu uma flexibilidade viva, torcendo-se para evitar o obstáculo… ou assim me pareceu.  

Ela roçou a borda do «Harsh Hatchet» o suficiente para criar faíscas, e então recuperou sua habitual rigidez, atingindo uma polegada à direita do centro de Morte — diretamente em seu coração, um ponto crítico — com uma precisão assustadora.  

A armadura justa de escamas cinza-escuro do machadeiro era reflexiva de forma úmida, sugerindo que não era feita de metal, mas de algum tipo de couro de mob. Parecia fácil de se mover e silenciosa, ideal para PKing, mas sua capacidade de desviar ataques perfurantes e estocadas não era diferente do meu longo casaco.

A «Sword of Eventide», em vez de parar como faria contra uma placa de metal grossa, cortou através das fendas entre as escamas e afundou cada vez mais...  

Kadaaamm!!

Eu já tinha usado essa habilidade mais vezes do que podia contar, e mesmo assim, nunca a ouvi produzir esse tipo de explosão. Vibrava através da minha palma com força suficiente para sacudir meu crânio. O efeito de luz que o impacto produziu era duas ou três vezes mais brilhante do que o normal, fazendo minha visão ficar turva e azulada.  

Som, luz, feedback. Isso foi um verdadeiro golpe crítico. E um acerto crítico em um ponto fraco, também.  

Quando o clarão diminuiu, mais da metade da minha espada estava embutida no peito de Morte.  

A barra de HP no meio do cursor laranja flutuando sobre a cabeça do machadeiro começou a diminuir. Parecia se mover mais devagar que o normal, talvez porque eu estivesse em um estado de alerta elevado, mas não mostrava sinais de parar. De uma posição quase cheia, caiu para 70%, depois 60%, 50% e ainda mais, entrando na zona de alerta amarela.  

Eu tinha certeza de que iria parar logo, mas a linha amarela continuava a diminuir no mesmo ritmo constante. Já estava em 40%, depois 35... e 30. Agora na zona de alerta vermelha, a barra se aproximava cada vez mais do final esquerdo da escala.  

Quando ele me desafiou para o duelo no terceiro andar, Morte me enfraqueceu até pouco mais da metade do meu HP para poder destruir o restante com um golpe final — um PK de duelo. Mas, no final, aquela luta terminou com ambas as barras de HP um pouco acima de 50%.  

25... 23... continuava descendo. Seria possível erradicar completamente o HP de um jogador de nível alto em um único golpe, mesmo com um verdadeiro acerto crítico em um ponto fraco? Luz vermelha brilhante jorrava de onde a espada élfica estava cravada no peito de Morte, pulsando como sangue. Através da palma da minha mão direita, eu sentia uma vibração, como se fosse um batimento cardíaco. Nem eu nem Morte nos mexíamos.  

Algumas vezes no passado, eu havia sofrido tanto dano de uma vez que mal conseguia respirar, muito menos me mover, enquanto minha barra de HP caía. Isso já era difícil o suficiente no beta, mas agora as consequências da morte eram permanentes. Se não parasse, então Morte... o cara deitado em alguma cama no Japão... seria morto pelo NerveGear dele.  

Sem perceber, olhei da barra de HP vermelha para o rosto sob a cota de malha dele. A luz vermelha jorrando de seu coração lançava um brilho fraco na metade superior de seu rosto, que de outra forma estava constantemente imersa em sombras.  

Minha primeira olhada no PKer me mostrou um jovem comum, talvez alguns anos mais velho que eu, mas ainda um adolescente. Seus olhos arregalados estavam fixos no espaço sobre o meu ombro direito... na minha barra de HP, que só ele podia ver. Ele não tinha uma expressão verdadeira, mas seus lábios, que normalmente estavam curvados em um sorriso cínico, agora estavam ligeiramente abertos, como se murmurando incredulidade.  

Minha boca também estava aberta, e eu queria perguntar a ele, mesmo que só pelo movimento dos lábios, por que ele escolheria ser um PK em um mundo como este...  

...quando uma voz extremamente irritante e aguda perfurou meus tímpanos por trás.  

— Mamoru! Tire a espada agoooora!! — Num instante, eu finalmente entendi.  

O HP de Morte não havia caído tanto apenas pelo golpe crítico combinado. Ele estava sofrendo dano contínuo de perfuração. Com minha espada ainda cravada nele, seu HP continuava a sangrar.  

Quando ele também percebeu isso, Morte soltou um grito de pânico nada característico. Ele deixou cair o «Harsh Hatchet» e agarrou a «lâmina da Sword of Eventide» com a mão direita.  

Se eu segurasse o cabo da espada com ambas as mãos e a empurrasse até o cabo, eu poderia matá-lo em menos de cinco segundos. E provavelmente deveria fazer isso. Ele tentou usar o evento de paralisia para matar a mim e Asuna. Se ele sobrevivesse a isso, provavelmente tentaria algo semelhante de novo. Eu não queria morrer, e especialmente não queria que Asuna morresse. Ela iria se tornar uma guerreira muito maior do que eu, liderar a população do jogo até a vitória e salvar milhares de vidas.  

Nada era mais importante do que a vida de Asuna.  

Então era absolutamente crucial que eu tomasse essa decisão agora, para—  

— Aaaaah! Aaaaaaah!! —  

Houve um grito atrás de mim — um som nem mesmo humano.  

Passos se aproximaram correndo de mim.  

Por instinto, coloquei minha mão esquerda no peito de Morte e puxei a Sword of Eventide. Partículas vermelhas se espalharam da lâmina enquanto eu a balançava, no momento exato em que o Capuz Negro Número Dois saltou sobre mim com sua adaga em punho.  

Asuna o perseguia por trás, mas a velocidade dele era formidável, e ela não o alcançaria a tempo. Eu me movi para a direita e ergui minha espada, preparando-me para enfrentar a adaga enquanto mantinha um olho em Morte, caso ele decidisse lançar seu terceiro projétil com sua única mão boa.  

Mas Morte ficou imóvel, e o Capuz Negro Número Dois adotou uma estratégia inesperada. Ele lançou sua adaga em mim sem sequer parar para mirar.  

Um único golpe da minha espada desviou a adaga giratória.  

Então o Número Dois jogou algo com a outra mão.  

Não era uma arma, mas uma pequena esfera com pouco mais de uma polegada de tamanho. Eu tinha acabado de ver o mesmo objeto menos de trinta horas antes, então corri em direção a Asuna e gritei.

— Pare! É uma bomba de fumaça!  

Ouvi um som suave e abafado atrás de mim. Quando cheguei até ela, me virei e vi uma cortina de fumaça mais escura que a noite se erguendo para cobrir os PKers.  

Mesmo assim, consegui ver o homem da adaga agarrando a mão direita de Morte e ajudando-o a se levantar. Então a fumaça espessa cobriu suas silhuetas, e eu ouvi apenas passos leves correndo em direção à floresta ao norte, até sumirem de vista. Os dois cursores laranja desapareceram ao mesmo tempo.  

Eu já sabia que a cortina de fumaça não conferia nenhum debuff do sistema. Então, se eu os perseguisse, havia uma grande possibilidade de que eu pudesse acabar com os dois de uma vez por todas — ou pelo menos com o gravemente ferido Morte.  

Mas meus pés estavam tão pesados que meus joelhos afundaram na grama, e Asuna também não fez nenhum movimento para ir atrás deles.  

A brisa fria da noite balançava as árvores, dispersando finalmente o gás venenoso verde e a nova cortina de fumaça escura. Quando o ar se limpou, Asuna guardou sua rapiera na bainha ao seu lado e murmurou.

— O que ele quis dizer com "Mamoru"? Se ele não tivesse dito isso, eu não teria hesitado em persegui-los.

Enquanto Morte sofria aquele dano contínuo, o Capuz Negro Número Dois o chamou de Mamoru. Ou era um apelido entre camaradas, ou... Eu tive que parar esse pensamento — e guardei minha espada onde costumava deixá-la.  

— Eu estava tão perto, mas não consegui matá-lo. Quando puxei minha espada, estava tão certo de que nunca o deixaria fazer isso de novo...  

— Será que eles vão voltar? — murmurou Asuna.  

Pensei um pouco.  

— Provavelmente vão. E com algum novo esquema de PK que a gente nunca verá chegando...  

Depois de dizer isso, percebi que havia algo mais que eu deveria ter dito imediatamente. Virei-me para Asuna, olhei em seus olhos curiosos por um terço de segundo, depois desviei o olhar e inclinei a cabeça para ela.  

— Desculpa, Asuna. Eu sabia que o evento de sequestro nos tiraria da cidade em estado de paralisia, então eu deveria ter imaginado que isso poderia acontecer... e porque eu não estava pensando direito, expus você ao perigo. Sinto muito, de verdade.  

Pensando melhor, eu já havia provocado a ira de Asuna várias vezes desde que nossa parceria começou no primeiro andar. Nem conseguia lembrar o número exato de vezes que ela jogou um travesseiro em mim ou me cutucou na lateral só neste andar.  

Mas esse erro era de um nível diferente. Se eu não tivesse dado a ela minha garantia despreocupada, baseada na experiência do beta, de que era "absolutamente seguro" — ou se eu apenas tivesse contado exatamente o que aconteceria no evento — a perspectiva de Asuna, sem influências prévias, talvez tivesse notado o perigo de um PK.  

O perigo que acabamos de sobreviver foi claramente uma situação que surgiu porque eu era um beater. E eu não podia garantir que seria a última vez.  

— Eu sinto que provavelmente não tenho mais o direito de continuar sendo seu par — comecei a dizer até algo macio tocar as laterais da minha cabeça abaixada.  

Percebi que eram as mãos de Asuna. Ela me puxou para cima, forçando-me a ficar ereto. A jovem olhou diretamente para o meu rosto, sem soltar sua firmeza.  

— Vou te dizer uma coisa que eu realmente, de verdade, odeio.  

— Sim?

— É quando duas pessoas sabem o que o outro está pensando, mas decidem continuar usando palavras vagas e imprecisas para manter tudo à distância e jogar jogos mentais indiretos. Sim, suavizar as coisas é valioso às vezes, mas as coisas realmente importantes precisam ser ditas de forma limpa e clara... você não concorda?  

— Hum... do-do que estamos falando...?

Eu entendi o ponto de Asuna, só não sabia como isso se conectava à situação atual. Mas, com ela segurando minha cabeça firme com ambas as mãos, eu nem conseguia pôr o dedo no rosto para ponderar.  

— Minha pergunta é — disse Asuna, respirando fundo — você está dizendo que quer romper nossa parceria?  

Sem escapatória dessa pergunta direta como um tiro certeiro, não tive escolha a não ser responder honestamente.  

— Se é uma questão de querer ou não querer... eu não quero que nos separemos.  

— Certo. Bom, eu também não quero... então essa deve ser a nossa conclusão. Certo?  

...  

Ela é tão incrível, pensei de maneira bizarra. Asuna bagunçou meu cabelo com as mãos antes de me soltar.  

— Agora que isso está resolvido, há muitas coisas que precisamos discutir... O que você acha que deveríamos fazer primeiro?  

— Humm... hmmmm...

Respirei fundo o ar frio e refrescante de meio-inverno que envolvia a floresta para reorganizar minha mente e olhei ao redor.  

Tínhamos nos afastado mais do que eu pensava durante a batalha. A estrada de terra batida estava a uns sete metros ao sul de nós. A carruagem sem cavaleiro e o cavalo ainda estavam na estrada. Parecia que deveríamos fazer algo a respeito, mas eu não fazia ideia do quê. Muitos objetos brilhantes estavam espalhados pelo chão ao redor da carruagem também. Moedas de ouro de mil cols, pratas de cem cols e uma grande variedade de itens. Tudo pertencia ao Lord «Cylon» de «Stachion» antes de Morte matá-lo.  

— Que tal decidirmos o que fazer depois, mas pegarmos as coisas que o «Cylon» dropou primeir — comecei a dizer, antes de perceber algo. Havia um item que precisávamos pegar imediatamente. Desviei o olhar da carruagem e voltei para a grama — Asuna, encontre o machado e a adaga que eles deixaram cair! — gritei.  

Então corri alguns metros e me inclinei na vegetação densa. Era por aqui, eu tinha certeza. Precisava do lugar onde cortei o braço esquerdo de Morte; ele segurava o dardo envenenado naquela mão quando aconteceu. E no momento em que sua mão decepada desapareceu, o dardo...  

— Aha!

Alcancei a grama e cuidadosamente ergui um pedaço de metal preto cravado no chão. Tinha um pouco menos de dez centímetros de comprimento — e cerca de oito milímetros no ponto mais grosso — com seis lados que curvavam suavemente, o que me fez pensar em uma espécie de broca. Do meio até a ponta fina como uma agulha, um líquido oleoso parecia estar escorrendo de dentro das ranhuras em espiral.  

Eu estava curioso para verificar as propriedades do item, mas a posse e o status de equipamento daquele dardo ainda estavam com Morte, e eu precisava fazer o que fosse necessário para roubá-lo dele. Se eles chegassem a um local seguro e usassem o comando de "Materializar Todos os Itens", o dardo desapareceria instantaneamente. E, de fato, Morte talvez nem precisasse se incomodar com algo assim.  

— Consegui, Kirito — disse Asuna, aproximando-se com um machado na mão direita e uma adaga na esquerda. Eu consultei minha lista mental dos vários mobs que se podia encontrar nos campos do sexto andar.

Eu sabia que havia um. Uma daquelas criaturas detestáveis com os mesmos hábitos dos homens-rato que espreitam nas catacumbas do quinto andar. Chamava-se...  

— Asuna, vá olhar na floresta ao redor para ver se há um mob chamado Muriqui Snatcher.  

— Moo-ree-kee...? Que nome estranho. Como se soletra isso?  

— Ah, é complicado... M-u-r-i-q-u-i, acho.  

— Hmm...  

Mesmo Asuna, cujo conhecimento às vezes parecia enciclopédico, não reconheceu essa palavra. Me ocorreu que eu deveria ter pesquisado isso nos dois meses entre o fim do beta teste e o lançamento do oficial. Olhei para a floresta no lado norte da trilha, mas não vi nenhuma forma que se parecesse com o mob em questão.  

Os mobs não costumavam povoar as áreas próximas às estradas, mesmo no perigo da selva, mas isso só valia quando os jogadores estavam quietos e cuidando de seus próprios assuntos. Eu estava preocupado que o grito do usuário da adaga tentando salvar Morte pudesse ter atraído os mobs, mas, felizmente — ou, neste caso, infelizmente — não havia nenhum dentro do alcance de seu grito.  

Isso significava que teríamos que entrar na floresta para encontrar um, mas seria a tempo? Morte e seu grupo já eram criminosos, então não podiam entrar em nenhuma cidade ou vila, o que tornava difícil encontrar um refúgio seguro — mas eles já teriam considerado isso ao elaborar esse plano. Se tivessem uma área de evacuação por perto, dependeria de quem chegaria primeiro — ou se encontraríamos um Muriqui Snatcher...  

— Ei, Kirito.  

Ao ouvir meu nome, voltei à atenção. Minha parceira estava apontando não para o norte, mas para trás, ao sul. Virei-me e olhei para a floresta escura.  

— Uu...uu-uu!  

O som de gritos vagamente humanoides e animalescos entrou no alcance da audição, e notei várias pequenas silhuetas entre os galhos das árvores. Acima de suas cabeças, cursors avermelhados que os identificavam como mobs apareceram. Havia dez — no máximo quinze deles.  

— Olha! São todos muriquis! — apontou Asuna. De fato, todos os nomes exibidos começavam com MURIQUI, mas essa não era uma situação para comemorar.  

Eu estava no nível 19 no momento, e Asuna no 18. Isso era consideravelmente mais alto do que o necessário para o início do sexto andar, então todos os cursors eram de uma cor rosa pálido, mas havia muitos deles. E não eram apenas os Ladrões que eu queria, mas também outros, como Lutadores Muriqui e Atiradores de Nozes Muriqui. Acontece que o grito do homem foi bem eficaz, afinal; ele chamou um bando inteiro de muriquis que normalmente ficavam nas profundezas da floresta.  

Todos os jogadores em SAO podiam produzir o mesmo volume de voz, mas como o jogo usava a voz real do jogador no ambiente, o tom da voz fazia diferença em como ela se propagava. O usuário da adaga tinha uma voz horrível, estridente, que se recusava a se misturar com a ambientação natural e certamente se propagaria mais longe, mesmo na barulhenta floresta noturna. Ser capaz de atrair uma grande variedade de mobs apenas gritando era uma habilidade eficaz para um PKer — não que eu achasse que essa era a razão pela qual ele escolheu essa atividade.  

— Então... e agora? — Asuna perguntou.  

Era claro que estava dirigida a mim, mas vários muriquis desceram dos galhos das árvores por cipós e troncos como se respondessem àquela pergunta. Uu-uu, eles gritavam, se aproximando da carruagem abandonada. Quando saíram debaixo do dossel das árvores, a luz do luar iluminou suas formas.  

— Ah... são macacos — comentou Asuna. De fato, os muriquis eram mobs do tipo macaco, com pelos peludos, caudas e longos braços. Eles eram bem menores do que os símios que apareciam nos andares superiores e tinham apenas cerca de 1,20 metro de altura quando em pé, mas eram muito rápidos, e faziam uso das árvores para saltar em três dimensões de maneiras irritantes.  

Quatro deles haviam ido ao chão — três dos quais eram Ladrões com bolsas parecidas com as de cangurus em suas barrigas, e o último era um Lutador com um porrete na mão. Asuna e eu poderíamos eliminar esses quatro em um instante com habilidades de espada, mas atacar provavelmente traria os outros doze das árvores para cima de nós. Tínhamos treinado e completado missões sem parar desde esta manhã, e logo depois de uma luta até a morte contra Morte e seu amigo, eu tinha certeza de que Asuna estava mais exausta do que demonstrava. Para conseguir de vez a misteriosa agulha envenenada e as armas corpo a corpo deles, a batalha contra os muriquis seria inevitável. A única questão era o quanto deveríamos nos forçar.  

Enquanto ponderava sobre esse dilema, o trio de Ladrões se aproximou da parte traseira da carruagem e começou a pegar as moedas, colocando-as em suas bolsas estomacais. Asuna parecia um pouco incomodada com isso.  

— Ei, eles estão pegando as coisas do «Cylon»!  

— Sim, essa é a ideia — murmurei. Ela me lançou um olhar cético.  

Nesse momento, o machado pesado que pendia de sua mão desapareceu com um som de shwim!  

Era tarde demais, lamentei — mas então percebi que a adaga e o dardo envenenado em minhas mãos ainda estavam lá. Isso significava que os dois PKers não haviam chegado a um ponto de evacuação e usado "Materializar Todos os Itens"; Morte havia apenas usado «Quick Change» para recuperar sua arma principal, o machado de uma mão.  

Como o mesmo não havia acontecido com esses itens, isso significava que o usuário da adaga ainda não tinha o mod de «Quick Change». Ainda assim, o crucial dardo envenenado provavelmente desapareceria dentro de um minuto. Tudo o que Morte precisava fazer era trocar o item registrado no ícone de «Quick Change» do machado para o dardo e usar a habilidade novamente. Melhor deixar um mob pegá-lo do que simplesmente deixá-lo desaparecer, então eu o joguei aos pés dos Ladrões Muriquis. Comandei minha parceira.

— Jogue a adaga no mesmo lugar!  

— Ok.  

Asuna lançou a adaga preta. Um dos Ladrões se aproximou, guinchando, e rapidamente guardou tanto o dardo quanto a adaga em sua bolsa. Eles tinham a habilidade de «Steal», então a posse dos itens foi transferida instantaneamente, e nem «Quick Change» nem Materialize All Items poderiam recuperá-los remotamente. Quando o bando de muriquis terminasse de pegar todos os itens, eles recuariam para as profundezas da floresta, então as chances de Morte e seu amigo encontrarem os macacos certos para derrotá-los e recuperar suas armas eram quase nulas.  

Eu me convenci de que essa era a melhor decisão... e me virei para Asuna, pronto para sugerir que voltássemos à cidade. Mas antes que eu pudesse, ela murmurou.

— Entendi. Finalmente entendi... Você queria usar o mesmo método de quando conseguiu de volta minha rapiera no quinto andar.  

— O quê...?  

— Vamos derrotá-los antes que escapem! Você pega o que está com o bastão, Kirito!  

Ela é tão cheia de energia que eu não pude deixar de me admirar, antes de sair do meu transe e correr atrás da minha parceira.  

 

✗✗✗  

 

Quando tudo terminou, percebi que o grupo de dezesseis muriquis não era tão perigoso quanto eu temia.  

Como lutamos perto da estrada, em vez de na floresta, eles não puderam usar suas ágeis técnicas de evasão de símios entre as árvores. A pior parte acabou sendo os Atiradores de Nozes Muriqui lançando cascas duras em nós por trás, mas, uma vez que você se acostumava, era bem fácil rebater os projéteis no ar. Além disso, os Ladrões geralmente fugiam assim que você os atacava quando estavam sozinhos, mas em grupo, eles resistiam até o fim. Isso facilitou bastante garantir que recuperássemos todos os itens que o trio de Ladrões havia levado.  

Se houve algum problema maior, foi depois da batalha com os macacos, quando o grande assistente de «Cylon» voltou cambaleando para fora das árvores. Eu tinha completamente esquecido dele, mas agora que o segundo atacante o havia deixado para trás na floresta, ele retornou fielmente à sua carruagem.  

Eu estava preocupado que isso se transformasse em outra luta, mas o homem com a máscara de gás simplesmente subiu na caixa da carroça e seguiu pela estrada até «Stachion» sem sequer olhar para nós. Não tinha certeza se ele sequer percebeu que seu mestre estava morto ou não.  

Com todos os vestígios dos eventos da noite desaparecidos da floresta, Asuna e eu voltamos para «Suribus», que estava mais perto do que «Stachion» neste ponto.  

 

✗✗✗

 

— Que sono... tão cansada... tão faminta...  

Assim que passamos pelos portões da cidade e o texto SANTUÁRIO SEGURO desapareceu, Asuna se apoiou em uma das colunas do portão. Então, ela olhou para mim e franziu a testa.  

— Que tipo de expressão é essa?  

— Ah... é só que você disse algo que eu normalmente diria primeiro — respondi.  

Ela me olhou por alguns momentos, chocada, e então se afundou ainda mais.

— Sabe... nem consigo me dar ao trabalho de negar essa calúnia. Vamos apenas para a pousada...  

— Boa ideia — disse eu, olhando para a rua principal, que estava muito mais tranquila agora.  

Se tivéssemos seguido o evento de sequestro como deveria ter ocorrido, sem a interferência de Morte, teríamos sido libertados em «Stachion» após uma breve luta e ficado hospedados na pousada de lá. Agora que estávamos inesperadamente de volta a «Suribus», tínhamos que lidar com o problema da superlotação nas pousadas, como Argo nos alertou.

— Ah... bem... Não acho que vamos encontrar dois quartos individuais lado a lado — sugeri com cautela.  

Asuna piscou sonolenta para mim e murmurou.

— Uma suíte de dois quartos está bom... Esse era o plano original, lembra?  

De fato, era isso que havíamos discutido, mas principalmente para nos proteger de ataques de PKs, e agora que o grupo de Morte provavelmente não atacaria novamente por um tempo, não parecia necessário nos próximos dias. Por outro lado, o homem de poncho preto, que era o líder deles, não apareceu dessa vez, e o único dano duradouro que causamos foi mental e material, então não havia garantia de que eles não voltariam, talvez até na mesma noite.  

— Entendi. Nesse caso... acho que havia um bom lugar na margem esquerda do rio. Vamos tentar aquele — sugeri. Asuna murmurou um sim e se levantou, instável. Ela estendeu a mão em minha direção, e por um breve momento entrei em pânico, achando que ela queria segurar minha mão. Em vez disso, ela agarrou a ponta do meu cinto, que estava para fora do meu casaco.  

Com Asuna no modo automático, permitindo que eu a guiasse, levei-nos a um prédio de quatro andares perto do portão norte. Era uma pousada acima da média para «Suribus», e além disso, todos os quartos tinham varandas voltadas para o rio, oferecendo a melhor vista da cidade.  

O Jade and Kingfisher estava cerca de 80% cheio, provavelmente por causa de sua placa discreta, e se não nos importássemos em ficar separados, poderíamos ter escolhido dois quartos individuais. Mas Asuna, ainda segurando meu cinto, pediu a suíte deluxe sem um momento de hesitação.  

Minha parceira parecia completamente sem energia. Eu a empurrei escada acima e abri a porta sem quebra-cabeças do nosso quarto. Uma enorme janela à frente nos mostrava a vista noturna de Suribus. Se fôssemos até a varanda, veríamos as luzes da cidade refletindo no rio abaixo, mas Asuna apenas cambaleou até o centro da sala de estar e olhou para as portas dos quartos nas paredes opostas.  

— Vou ficar com este. Boa noite — disse ela, bocejando, e desapareceu no quarto à esquerda. Ouvi o som de sua armadura sendo removida — e depois, silêncio.  

Eu me aproximei da porta aberta e vi Asuna, ainda com suas roupas normais, deitada de bruços na cama espaçosa. Após alguns segundos de hesitação, entrei no quarto e peguei a ponta do lençol sob ela.  

Com muito cuidado, puxei-o para virar Asuna — ela já estava profundamente adormecida — para que ficasse de barriga para cima sobre os lençóis e travesseiros. Então, coloquei o cobertor sobre ela, sussurrei Boa noite e saí do quarto. Depois de um momento, decidi deixar a porta dela aberta.  

De volta à sala de estar, exalei.  

De fato, era uma acomodação deluxe. Havia um conjunto de móveis muito elegante no meio da sala, com uma cesta de frutas sobre a mesa entre os sofás. Peguei uma fruta com formato de kiwi e cor de morango e dei uma mordida. Tinha a textura de uma banana, com sabor de abacaxi.  

Enquanto comia, refleti sobre o passado.  

Quando ficamos em um quarto deluxe em «Zumfut», no terceiro andar, também havia uma cesta de frutas. Lembro-me de Asuna jogando uma fruta que tinha gosto de maçã, pera e lichia em mim — mas, embora isso tenha sido apenas duas semanas atrás, não consigo me lembrar por que ela fez isso.  

E, ainda assim, consigo lembrar distintamente da conversa que tivemos lá.  

— Se algum dia eu for mais um obstáculo do que uma ajuda, você deve me dizer — Asuna tinha dito enquanto estávamos deitados em camas adjacentes.  

Sua razão para deixar a cidade inicial era para que pudesse ser ela mesma... não para que eu a protegesse.  

Desde aquele dia, Asuna trabalhou incansavelmente para provar que essa afirmação era verdadeira. Ela absorveu uma enorme quantidade de informações sobre como o jogo funcionava, melhorou suas habilidades de combate e até superou seu medo de duelar com outros jogadores. Tudo o que eu ensinei a ela no acampamento dos elfos negros esta manhã foram algumas dicas técnicas e sugestões de mentalidade, e esta noite ela enfrentou o parceiro de Morte sozinha. Se eu fosse vencê-la em um duelo agora, não conseguiria ganhar apenas com habilidades básicas. Precisaria usar algum truque de nível superior.  

Então, ficar me preocupando eternamente com expor Asuna ao perigo era, de certa forma, um insulto a ela. Mas esse conhecimento não me ajudava a parar de me culpar.

Terminei a fruta e abri meu inventário, rolando pelos itens em ordem de aquisição até encontrar o nome FRASCO DE VENENO DE NAMNEPENTH (0). Esse era o pequeno recipiente de gás venenoso que havia paralisado Asuna e a mim, e também nos salvado do perigo, embora agora estivesse vazio. Toquei no nome e o coloquei no topo da lista de itens, fixando sua localização através de um submenu. Dessa forma, veria o nome toda vez que abrisse meu inventário e seria lembrado do meu erro amargo.

Em Aincrad, veneno — especialmente o paralisante — era uma arma incrivelmente poderosa. Ataques de paralisia de mobs podiam ser evitados com conhecimento e experiência, mas era quase impossível se defender perfeitamente contra um jogador malicioso e astuto armado com isso. Se continuássemos lutando contra essa gangue de PKs, eles quase certamente nos colocariam em perigo com veneno paralisante novamente. Mas, pelo menos, não vou deixar que Asuna seja exposta a esse perigo uma segunda vez. Nunca mais.

Fechei a janela e comecei a alcançar o botão para remover todo o meu equipamento, mas pensei melhor e removi fisicamente minha espada e bainha das costas. Desenhei a espada lentamente para evitar fazer barulho e deixei a luz da lâmpada incidir sobre a lâmina. Apesar da batalha feroz contra Morte e do massacre subsequente dos muriquis, a fina «Sword of Eventide» brilhava tão clara e brilhante quanto um espelho.

Quando executei «Rage Spike» no centro do peito de Morte, a espada se contorceu e torceu como um objeto vivo para perfurar seu coração — seu ponto crítico.

Meus dois upgrade de precisão no acampamento dos elfos negros haviam entrado em ação e mirado automaticamente... era só isso. Mas naquele momento, e no momento em que atingiu o núcleo do Espectros Irritantes, o processo de correção parecia muito como a vontade da própria arma. Não era que a espada estava ajustando seu caminho em direção ao ponto fraco que eu tentava atingir, era como se a própria espada tivesse encontrado o ponto de menor resistência e quisesse cortar exatamente aquele alvo.

...Estou superanalisando isso. Só parece estranho porque nunca usei uma arma com aprimoramento de Accuracy antes. Além disso, foi uma boa coisa ter atingido Morte no coração e ter colocado o medo de uma morte instantânea nele. Caso contrário, eles não teriam pegado os itens e saído correndo assim.

Passei os dedos ao longo da lâmina, então a devolvi à bainha. Desta vez, pressionei o botão UNEQUIP, e ela desapareceu no meu inventário, junto com o casaco.

Agora que estava mais leve, olhei para o quarto de Asuna, pensei por um momento e então entrei no quarto à direita. Tirei o cobertor superior da cama e voltei para a sala de estar. Deitei no sofá, que era um pouco duro, e me enrolei no cobertor. Se eu dormisse ali, isso me colocava em uma posição ligeiramente melhor, caso alguém encontrasse uma forma de burlar o sistema e entrar em nosso quarto.

Asuna e eu éramos parceiros iguais, então agir como se fosse meu dever fornecer toda a proteção era pura arrogância. Ainda assim, se havia algo que eu pudesse fazer, eu queria fazê-lo. Tenho certeza de que Asuna estava me vigiando da mesma forma, de uma maneira que eu nem mesmo percebia.

Toquei a mesa para abrir o menu do quarto e apaguei as luzes. Fechando os olhos, pensei ter ouvido uma respiração fraca do outro quarto através da escuridão azul-escura.

Sussurrei boa noite para ela e senti minha mente afundando em um lugar muito, muito profundo.

 

CONTINUA NA PARTE 5 (FINAL)


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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