Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 5

CÂNONE DA REGRA DE OURO (INÍCIO) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 2)

 


Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


2

APESAR DE EU TER ESQUECIDO DE CONFIGURAR O despertador, meus olhos se abriram apenas três minutos antes do horário marcado para o encontro. No mundo real, eu jamais conseguiria chegar a tempo com tão pouco tempo de sobra, mas aqui não era necessário lavar o rosto, pentear o cabelo ou escolher o que vestir. Apenas rolei para fora da cama, coloquei o casaco por cima da camiseta e saí do quarto. 

O som da porta abrindo e batendo foi mais alto do que eu esperava, e por um momento, me perguntei se eu ainda estava um pouco atordoado de sono. Mas não, minha companheira de quarto ao lado havia saído exatamente ao mesmo tempo. 

Asuna e eu trocamos um olhar por cerca de dois segundos. Parecia que ela também tinha acabado de acordar, e seu cérebro não estava funcionando em plena capacidade ainda. No silêncio, ouvi as placas numeradas das duas portas clicando e fazendo barulho enquanto resolviam seus quebra-cabeças. 

— Bom — comecei a dizer, mas Asuna varreu sua capa para o lado e correu em direção às escadas. 

Por que ela fugiu?! 

Mas a resposta veio imediatamente. Ela estava indo para o restaurante um segundo antes de mim, para poder me acusar de forma presunçosa de ser o único que dormiu demais. 

— Não vale! — gritei, começando a correr, mas eu não conseguia alcançar Asuna em sua velocidade máxima, considerando que ela provavelmente tinha um status de agilidade mais alta. Seu cabelo longo brilhava sob o sol da manhã enquanto desaparecia na curva do corredor. Eu ia perder a corrida.

Resignado ao mau comportamento, me lancei do chão e dei um, dois, três passos ao longo da parede mais próxima, arrastando as solas dos meus sapatos pela pedra plana. Essa era uma habilidade fora do sistema que eu chamava de Corrida na Parede. Três passos era o melhor que eu conseguia sem um bônus de equipamento, mas com um status de Agilidade mínima, pessoas como Argo, a Rata, provavelmente conseguiriam ir muito mais longe.

Ainda assim, foi o suficiente para me levar até a curva do corredor, então, no terceiro passo, me impulsionei com força e saltei para a parede oposta na curva, depois pulei dela para o corrimão nas escadas. Pousei logo atrás de Asuna, que havia desacelerado na curva do corredor que levava ao patamar das escadas. Com mais um grande salto, passei por ela e corri em direção ao saguão do primeiro andar.

— Ei, não vale! — ela gritou atrás de mim, mas a competição atlética era inerentemente injusta. A entrada do restaurante ficava após a recepção. Abaixei meu centro de gravidade, me preparando para os últimos quinze metros da corrida—

— Hi-yah! — ouvi um grito perturbador sobre meu ombro, e senti ser puxado para trás. Minhas solas perderam aderência e deslizaram pelo chão polido. Asuna havia agarrado a barra do meu casaco.

— Ei… falta! Falta! — lamentei enquanto caía de bunda, mas não houve apito de árbitro. 

Bem ao lado do meu rosto, ouvi ela dizer — Até mais! — enquanto botas de couro branco passavam correndo por mim. 

Sim — não havia regras ou árbitros nesta corrida. Apenas nossa boa consciência limitava o que faríamos. E eu era o tipo de pessoa que estava mais longe do conceito de boa consciência: eu era um adolescente e um ex-beta tester. 

Sem dizer uma palavra, estendi a mão e agarrei o tornozelo esquerdo de Asuna. 

— Heywha?! — a espadachim exclamou, uma estranha abreviação de "Ei, o que você está fazendo?", e ela perdeu o equilíbrio. Um segundo depois, nós dois rolamos pelo chão, e a NPC atrás do balcão chamou — Por favor, sem distúrbios dentro do prédio. — Se não era imaginação minha, a voz dela parecia mais fria do que de costume.

 

✗✗✗

 

Sentamos na mesa mais distante no fundo do restaurante e pedimos os pratos de café da manhã e café. 

Asuna suspirou. 

— Haaah… A última coisa que eu preciso de manhã é ficar cansada... 

— Foi você quem começou a correr primeiro.

— Eu só estava acelerando o passo, só isso.

Eu sabia que ela estava mentindo, mas a comida chegou antes que eu pudesse confrontá-la sobre isso. O prato de café da manhã variava dependendo da cidade e do estabelecimento; este tinha dois pãezinhos com manteiga, salada verde, queijo, presunto e ovos, que era uma combinação bastante ortodoxa. 

Asuna cortou ordenadamente o quadrado de queijo em dois triângulos e comentou.

— Você não precisa resolver um quebra-cabeça para conseguir sua comida. 

— Ah, você preferiria assim? Para o almoço, conheço um lugar que serve uma refeição em uma caixa de quebra-cabeça... 

— Não, obrigada — disse ela, pegando o queijo com os dedos e dando uma mordida. Comemos em silêncio depois disso, e só quando já estávamos pela metade dos pratos que Asuna falou novamente.

— Então, por que há tantos quebra-cabeças por toda «Stachion»?

— Ah. É porque o tema deste andar são quebra-cabeças — disse, finalmente revelando o detalhe que eu tinha esquecido de contar a ela na noite anterior. A espadachim piscou surpresa.

— Você quer dizer… que não é só a cidade principal, mas o andar inteiro é assim?

— Sim. A maioria das dungeons estão cheias de quebra-cabeças e truques. Foi um andar que realmente dividiu a base de jogadores durante o beta, posso te garantir.

— U-Uhum...

Havia algo estranho no olhar de Asuna, mas com minha baixa habilidade de Comunicação, eu não conseguia entender o que era.

— O que esse olhar significa? — perguntei, colocando presunto dentro do meu pãozinho. Asuna deu de ombros.

— Bem, não é que eu odeie quebra-cabeças... Eu gosto dos jogos de números do sudoku, e de quebra-cabeças de montar e de desenredar e coisas do tipo. Mas... quando penso no boss do quinto andar, fico preocupada... 

— Oh. Bom ponto...

Finalmente entendi por que ela parecia chateada. O boss que derrotamos ontem — «Fuscus the Vacant Colossus» — era pra ser um típico mob golem de RPG, mas acabou sendo terrivelmente diferente — uma criatura fundida com a própria câmara. Ele usou uma série de truques complexos que foram uma grande dor de cabeça para o grupo de ataque. 

— Isso significa que, se o tema do andar são quebra-cabeças, o boss vai ser da mesma forma? — Asuna perguntou. 

— Mais ou menos — admiti. — O boss no beta era meio como um cubo mágico com braços e pernas. A fileira que você atacava girava, e quando todas as faces estavam alinhadas, sua armadura se quebrava. Mas como todo mundo atacava descontroladamente, as cores ficavam cada vez mais desalinhadas...

...

Asuna suspirou profundamente, interrompendo o movimento do garfo no ar, que carregava um legume semelhante a um pepino.

— Esse é exatamente o tipo de coisa pela qual Lind da DKB e Kibaou da ALS vão brigar — quem tem o direito de dar as ordens na batalha. Talvez seja melhor enfrentarmos esse boss com o mesmo grupo da última vez?

Era ousado, mas eu tive que descartar a ideia. 

— Nem pensar. Antes, não tínhamos outra opção para impedir que a ALS avançasse... mas o propósito das batalhas contra bosses é usar um grupo de ataque completo e ir com tudo. Além disso, não temos como saber se ele sofreu alterações desde o beta.

— Provavelmente para tornar tudo mais irritante, se for o caso.

Dessa vez, tive que concordar. Eu não queria imaginar uma configuração mais irritante que o cubo mágico, mas se algum padrão se mantinha até agora, era que nada havia sido facilitado desde o beta. Além disso, tinha outro problema para lidar em relação à batalha contra o boss, além dos possíveis truques de quebra-cabeça.

Asuna percebeu algo na minha expressão. Ela mastigou uma fatia de pepino e balançou o garfo como se fosse uma pequena bandeira. 

— Falando nisso... o que você vai fazer com aquilo que está com você?

— Não sei — respondi. Ela fez uma expressão que deixava claro que já esperava essa resposta.

O "aquilo" que está comigo é a «Flag of Valor», um item ultra raro que o boss do quinto andar dropou — também conhecido como a bandeira de guilda. Se você registrasse a bandeira com o nome da sua guilda e a fincasse no chão, qualquer membro da guilda dentro de um raio de quinze metros receberia quatro tipos diferentes de bônus de status. O motivo pelo qual a ALS de Kibaou havia tentado enfrentar o boss primeiro era o medo de que a DKB conseguisse a bandeira de guilda e o incrível bônus que ela concedia.

Mas o grupo de ataque improvisado que Asuna e eu montamos derrotou o boss do quinto andar primeiro, e a bandeira em questão veio para a minha posse. Lind provavelmente ainda nem sabia da existência da bandeira, então eu ia marcar uma reunião com os principais membros da DKB mais tarde para explicar tudo. Conhecendo o orgulho do homem, não dava para saber como ele reagiria.

Quando Kibaou invadiu a câmara do boss logo após termos derrotado «Fuscus», eu dei a ele as condições que precisavam ser cumpridas antes de eu entregar a bandeira da guilda.

Um: Eu ficaria com a bandeira até que outra aparecesse. Nesse momento, eu a entregaria para que tanto a ALS quanto a DKB tivessem uma.

Dois: Se a ALS e a DKB se fundissem, eu entregaria a bandeira imediatamente.

Qualquer uma dessas opções seria satisfatória para mim, mas eu sabia que nenhuma delas era um resultado realista. Era um item tão revolucionário que os jogadores o chamavam de "Quebrado", então não haveria várias cópias disso surgindo por aí — no beta, só havia aparecido uma no quinto andar. E a DKB e a ALS, que tinham ideologias opostas, se fundirem em uma só? Ainda mais improvável.

— Se dermos a bandeira para qualquer uma das guildas, isso vai destruir o equilíbrio que temos agora. Vai acabar permanentemente com qualquer chance de paz entre os dois lados e, no pior dos cenários, pode dizimar metade do poder do grupo que avança na linha de frente — murmurei, olhando para a folha verde parecida com salsa no meu prato. Senti Asuna concordando em silêncio. Então, peguei a folha e a girei entre os dedos. — Mas também é tão poderosa que deixá-la apodrecer no meu inventário seria um desperdício... No momento, quase não temos meios de adicionar buffs de combate, e essa bandeira oferece quatro tipos diferentes, apenas fincando-a no chão...

— Quais buffs específicos, exatamente?

— Aumento de poder de ataque, aumento de poder defensivo, redução no tempo de recarga e aumento da resistência a todos os debuffs.

— Uau...

A voz dela estava cheia de admiração. Asuna ainda era nova nos conceitos gerais de RPGs, mas até ela conseguia reconhecer os enormes benefícios que essa combinação de efeitos representava.

— Claro, em termos numéricos puros, os valores individuais são bem pequenos, mas também pode afetar qualquer número de jogadores — e por um tempo ilimitado... E a parte mais insana de todas é que a bandeira da guilda em si é categorizada como uma arma de haste, com várias tentativas possíveis de upgrade...

— Ah... q-quantas?

— Dez.

Mais uma vez, uma expressão incrédula cruzou o rosto de Asuna.

— E... estou supondo... que isso não é para aumentar seu poder como arma, mas...

— Também deve afetar os percentuais dos buffs. Tenho até medo de imaginar como seria se você conseguisse aprimorá-la todas as dez vezes.

— Hrmmm — a espadachim resmungou de maneira incomum. Ela apontou o garfo e a faca para mim.

— Então, que tal esta ideia?

— Qual?

— Por que você não cria uma nova guilda, registra a bandeira e absorve tanto a DKB quanto a ALS?

Um som que, se transcrito, seria algo como blrmpph saiu da minha boca. Felizmente, evitei de borrifar partículas de salsa mastigada na cara de Asuna, mas parecia que havia algo muito estranho no emulador de sabor do jogo — minha boca estava sentindo um gosto estranho. Tomei um gole de café para resetar, inspirei e expirei várias vezes, e então me expressei de forma mais racional desta vez.

— Absolutamente não. Chance zero. Zero vírgula zero-zero-zero-zero!

......

A expressão no rosto dela dizia "Você é uma criança, por acaso?". Ela tomou um gole delicado de seu café. 

— Foi apenas uma sugestão. Sei que não é do seu agrado, e eu não tenho a menor vontade de ser sublíder de qualquer guilda. A versão mais prática da ideia seria pedir para o Agil... mas até isso parece improvável de dar certo...

Ela caiu em silêncio, pensando profundamente. Eu considerei perguntar se ela realmente aceitaria ser minha vice-capitã em uma guilda hipotética, mas não tinha certeza se seria uma boa ideia tocar no assunto. Decidi manter essa ideia trancada no meu inventário mental por enquanto.

— Bem, Agil já está liderando uma guilda própria... mas se pedíssemos para ele expandir a Bro Squad para uma organização maior, sinto que ele forçaria todos a usar armas de duas mãos...

— Ah-ha-ha-ha, de jeito nenhum — Asuna riu, apenas para subitamente parar. Ela provavelmente se imaginou como membro da Bro Squad, empunhando um enorme martelo de guerra. Ela balançou a cabeça. — De qualquer forma, devemos pensar em uma forma de usar essa bandeira da guilda de forma eficaz. Vamos torcer para que Lind tenha algumas ideias construtivas em mente...

— Sim, sem dúvida...

Naquele momento, o relógio marcou dez horas. Nossa reunião com a DKB seria às doze e meia, e ocorreria em algum lugar de «Stachion». Levando em consideração o tempo de viagem, isso nos deixava com cerca de duas horas livres. Coloquei o último pedaço de pão na boca, murmurei um agradecimento pela refeição e fiz uma sugestão à minha parceira.

— Hm, para completar a manhã, que tal explorarmos «Stachion», aceitarmos todas as missões que pudermos e completarmos uma ou duas mais fáceis? Ou podemos praticar duelos, como falamos ontem. O que prefere?

— Hmm — Asuna murmurou, mas sua resposta veio bem rápido. — Praticar. Não quero deixar para depois e me arrepender mais tarde.

— Oh... l-legal — disse, surpreso com a escolha dela. — Nesse caso, vamos encontrar um lugar onde possamos ficar sozinhos. Se as pessoas ouvirem ou espionarem nosso treino, isso vai ter o efeito contrário.

— Parece bom... mas você tem algum lugar em mente?

— Tenho uma ideia — sorri, pulando de pé.

 

✗✗✗

 

Diferente da noite passada, a praça de teletransporte estava agitada com jogadores. Mais de alguns tinham pergaminhos e penas na mão, encarando os azulejos numerados. Ainda não estava claro se seriam a nova geração de solucionadores de sudoku, mas desejei silenciosamente boa sorte a eles e saltei pelo portal azul brilhante no centro da praça.

Nosso destino era «Zumfut», a cidade principal do terceiro andar. Mas não era a cidade em si que eu queria. Passei direto pelas três enormes árvores baobá, seguindo para fora do mapa e saindo da trilha. Quando tive certeza de que não havia jogadores nos seguindo, corremos em direção ao sudoeste, entrando na floresta profunda.

Os mobs nos atacavam de vez em quando, mas, neste ponto, Asuna e eu éramos fortes o suficiente para que uma emboscada de pequenos treants ou aranhas gigantes na «The Forest of Wavering» não precisasse de mais do que duas habilidades com a espada para ser eliminada. Ignoramos-os e continuamos correndo, deixando-os para trás.

Eventualmente, um vale surgiu à vista, a névoa pairando sobre ele em fios ainda mais grossos do que o normal. Eu deixei meu mapa aberto e continuei correndo pelo vale por mais um minuto.

De repente, a névoa desapareceu como se nunca tivesse estado lá, e altas bandeiras negras apareceram diante dos meus olhos. Elas exibiam um cimitarra e um chifre, e além delas havia uma depressão no vale, dentro da qual estavam quase vinte tendas roxo-escuras de vários tamanhos. Mas aquilo não era uma vila comum — era o acampamento dos cavaleiros elfos negros, um lugar que apenas jogadores alinhados com a facção dos elfos negros da campanha multiandar da "Guerra dos Elfos" poderiam visitar. Além disso, era um mapa instanciado gerado para cada grupo separado, o que significava que o próprio sistema do jogo impedia qualquer outro jogador de sequer vê-lo, muito menos entrar.

Asuna fez uma reverência para os guardas inexpressivos ao passar por eles, então murmurou para mim.

— Faz mais de dez dias desde que estivemos aqui pela última vez. É bom estar de volta… mas por que agora? Está dizendo que não há nenhum lugar privado que possamos encontrar em «Stachion» ou «Karluin»?

— Há… mas havia outra coisa que eu queria resolver.

— O que é…? O próximo destino da missão da "Guerra dos Elfos" não é no sexto andar?

Eu assenti. A história geral da campanha, que havia começado neste andar, era que os elfos negros e os elfos da floresta estavam lutando por seis chaves secretas que abriam o portão para um lugar chamado o Santuário, que existia em algum lugar de Aincrad. Mas por trás desse conflito, estavam os Elfos Caídos, que também estavam secretamente atrás das chaves.

Tínhamos conquistado a Chave de Jade no terceiro andar, a Chave de Lápis no quarto, e a Chave de Âmbar no quinto. A cavaleira de elite elfo negro «Kizmel» usou uma árvore espiritual, um meio de transporte especial só para os elfos, para levar as chaves a uma fortaleza na região noroeste do sexto andar, onde elas estavam guardadas agora. Quando chegássemos àquela fortaleza, a parte do sexto andar da campanha começaria — mas eu tinha coisas para cuidar antes de fazermos isso.

— Essa tarefa não tem nada a ver com nenhuma missão. Eu só quero melhorar este cara — disse, alcançando o cabo da minha espada. Asuna murmurou em compreensão.

No centro da longa depressão no vale estava a enorme tenda de refeições, em frente à qual havia uma pequena área comercial. Ao longo do caminho, havia uma loja de itens, um alfaiate, um curtidor e um ferreiro. Tudo parecia o mesmo da última vez que visitamos, exceto pelo fato de que os elfos, normalmente indiferentes e bruscos, agora nos saudavam, perguntando como estávamos. Fiquei tão surpreso com isso que tudo o que pude fazer foi acenar de volta, mas Asuna sorriu para eles e disse.

— Bom dia!

Eu imaginava que algum tipo de valor de afinidade com os elfos negros estava subindo à medida que avançávamos na missão da campanha, e isso significava que nossa fama e valor desejado entre os elfos da floresta estava subindo junto. Não havíamos interagido com eles no quinto andar, então eu só tinha que rezar para que o padrão se mantivesse no sexto também.

Eu parei em frente à quarta loja da fila. Na frente dela estava um homem de expressão severa, usando um avental pesado e luvas compridas, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo, batendo em um pedaço de metal incandescente em cima de uma bigorna com golpes rítmicos. Depois da mudança nos outros elfos, presumi que ele seria mais amigável também, então esperei por uma pausa no trabalho antes de chamar.

— O… oi!

O homem nos encarou, bufou, e voltou ao trabalho.

— Bem, ele não mudou nada — sussurrou Asuna, segurando o riso, mas eu ainda não ia desistir.

Tirei a espada completa das costas e disse.

— Hum, gostaria de reforçar esta espada.

Ele bufou novamente. A única indicação de que isso não foi uma recusa ao meu pedido foi que uma janela especial de ferreiro NPC apareceu diante de mim.

Eu juro, vou fazer esse cara gostar de mim algum dia — pensei, enquanto inseria meu pedido de trabalho na janela.

Minha «Anneal Blade» +8 tinha sido minha fiel companheira desde pouco depois do início deste jogo de morte, mas ela quebrou ao meio na luta contra o comandante elfo da floresta durante a batalha no Castelo Yofel, no quarto andar. Agora, eu estava usando a «Sword of Eventide», uma espada longa de uma mão que havia sido uma recompensa por vencer aquela luta. Além de seus excelentes atributos base, ela tinha um efeito mágico que adicionava +7 de agilidade. Com ela equipada, minha habilidade de correr pelas paredes se estendia de três passos, no máximo, até quase dez.

No entanto, armas poderosas também eram difíceis de dar upgrade como regra geral. Por isso, eu a estava usando sem tentar aumentar seu poder durante todo o quinto andar. Agora que íamos enfrentar o sexto, eu queria pelo menos aumentá-la para +3. E, até onde eu sabia, o melhor ferreiro NPC a quem eu podia recorrer era este. Com uma habilidade como a dele, um pouco de antipatia não seria um problema… assim eu esperava.

Coloquei os materiais que combinavam com o tipo da minha arma na tela do menu e pausei para pensar quando cheguei à seção de materiais aditivos.

O sistema de upgrade de armas em SAO permitia escolher entre cinco parâmetros diferentes: Sharpness, Heaviness, Quickness, Accuracy, e Durability. Sharpness (ou Toughness para armas contundentes) simplesmente aumentava o dano, e Heaviness aumentava as chances de quebrar a arma ou armadura do oponente. Quickness  melhorava a rapidez dos ataques regulares e das habilidades de espada, enquanto Accuracy aumentava a taxa de acerto crítico, e Durability aumentava a capacidade da própria arma de resistir a danos. Qualquer uma dessas seria uma melhoria, mas o movimento inteligente era escolher os valores que combinavam com seu estilo de combate. Eu geralmente escolhia Sharpness e Durability para meus aprimoramentos, porque elas não interferiam com a assistência do sistema como as outras faziam.

Decidi que iria aumentar a Sharpness duas vezes e a Durability uma vez, então selecionei o número máximo de materiais adicionais que correspondiam à Sharpness e apertei o botão OK. Quando lidava com um ferreiro jogador, você tinha que escolher manualmente os materiais necessários e extras do seu próprio inventário, mas com um NPC, tudo era automático. Uma pequena sacola cheia de materiais apareceu sobre a janela. Segurei-a com uma mão e empunhei minha espada com a outra, depois pedi ao ferreiro para prosseguir.

Mas o elfo ignorou a sacola de materiais em minha mão e pegou apenas a espada. Ele a retirou da bainha e deixou que a lâmina refletisse a luz da manhã. Uma pequena ruga apareceu entre suas sobrancelhas.

— É obra de um mestre de «Lyusula»? — ele perguntou de repente. No começo, entrei em pânico, imaginando se isso seria o início de algum evento no jogo, mas neste ponto eu tinha que ser honesto. O reino de «Lyusula» era a nação dos elfos negros que existia na terra antes de Aincrad ser criado, e eles ainda se chamavam de povo de «Lyusula».

— Sim... Eu a recebi do mestre do Castelo Yofel, no quarto andar.

— Ahh, uma peça da família «Leyshren», então.

Inclinei-me para Asuna, sentindo que provavelmente já tinha ouvido esse nome antes, e sussurrei.

— Uh... quem era mesmo?

— Vamos, preste atenção e lembre das coisas. Esse era o nome do Visconde «Yofilis».

— Ah, certo — eu disse, mas então franzi a testa, incerto. O ferreiro acabara de se referir a esse nobre elfo negro pelo primeiro nome de maneira casual, mas eu não sabia dizer se isso era algo notável ou se era apenas costume de sua cultura.

Ele não pareceu prestar atenção aos nossos sussurros, no entanto. Continuou examinando a bela espada.

— Você solicitou um upgrade de Sharpness, correto?

— Sim, para começar.

— Não faça isso.

— Hã?

Agora eu estava verdadeiramente perplexo. Podia sentir meus olhos e boca se arregalando de surpresa. O Velho «Romolo», o construtor de barcos que fez nossa gôndola no quarto andar, era um pouco rabugento para os padrões dos NPCs, mas nem ele recusava diretamente um pedido de seus serviços. No entanto, o ferreiro elfo ia recusar o pedido que eu tinha registrado no menu do sistema. Ele nunca reclamou quando pedi para aumentar a Sharpness da «Anneal Blade...»

— Erm... p-por que não? — perguntei.

O ferreiro bufou com óbvia irritação, mas pelo menos desta vez ele explicou.

— Esta espada já está afiada o suficiente. Afiá-la mais não a melhorará.

— Eu... entendo...

Acho que isso significava que, comparada à «Anneal Blade», dar a ela +1 de Sharpness só proporcionaria um pequeno aumento extra no poder de ataque.

Era verdade que o upgrade de armas deveria ser adequado ao tipo de arma. Aumentar o Quickness de um enorme martelo de guerra de duas mãos uma ou duas vezes dificilmente registraria qualquer mudança de velocidade — e aumentar o Heaviness de uma rapiera ou adaga apenas acabaria com sua especialidade sem melhorar sua capacidade de destruir outras armas e armaduras.

Mas eu nunca tinha considerado que poderia haver tendências individuais entre diferentes armas da mesma categoria de espada de uma mão quando se tratava de upgrade. Surpreso, perguntei a ele:

— Então, que tipo de upgrade você recomendaria?

— Escolha qualquer qualidade que quiser, exceto Sharpness... é o que eu diria normalmente, mas se «Leyshren» lhe devia o suficiente para lhe dar isto, acho que você merece um conselho mais afiado — disse ele friamente. O ferreiro olhou de perto para a «Sword of Eventide» novamente. — Accuracy seria bom para esta espada.

— Ahhh — eu soltei como uma criança petulante.

Aumentar a Accuracy aumentava a taxa de acertos críticos de uma arma: isso era um fato inegável. O problema era que o debate sobre o que exatamente era um acerto crítico em SAO ainda não havia sido resolvido.

Muitos mobs tinham pontos fracos definidos, que, se atingidos diretamente, sofriam grande dano. Quase todos os jogadores entendiam isso como um acerto crítico.

Mas, além disso, ao atingir partes não vulneráveis, havia uma chance muito rara de o efeito do golpe ser um pouco mais chamativo do que o normal — e causar um pouco mais de dano. Era mais fácil fazer isso com habilidades de espada do que com ataques normais, mas isso também não era o mesmo que a técnica de "aumento de poder", que você poderia aproveitar estendendo mais os braços e pernas nos movimentos que o sistema ajudava a realizar automaticamente durante uma habilidade de espada. Isso era algo em que a mesma habilidade de espada no mesmo ponto do inimigo poderia ou não causar o efeito — era completamente aleatório.

Se você ouvisse os fundamentalistas de acertos críticos, que estudavam crits desde o beta (nós os chamávamos de "critters"), acertar o ponto fraco de um inimigo era uma habilidade, e o grande dano causado pela habilidade do jogador não era um acerto crítico. Eles procuravam por aquele dano extra aleatório, o verdadeiro acerto crítico dos RPGs de antigamente — algo que não poderia ser afetado por uma técnica habilidosa.

A partir desse ponto, havia um pântano sem fundo de dados, idealismo e fanatismo culto, do qual escapar era quase impossível. Os critters diriam que um verdadeiro acerto crítico era determinado por quão seriamente o NerveGear detectava o jogador; que era mais fácil acertar quanto mais madeira sua arma continha; que quanto menos HP você tinha, maior era a taxa; que uma lua cheia aumentava suas chances, e assim por diante... Não havia tempo ou vida suficiente para testar rigorosamente todas essas teorias.

E, para ser honesto, eu não tinha o menor desejo de me aproximar desse pântano, mas o problema era que eu sabia que existiam acertos críticos verdadeiros diferentes dos acertos críticos de pontos fracos. O prazer de ver o efeito 20% exagerado e o grande dano era viciante uma vez que você se acostumava. 

Eu não era um critter, nem de longe, mas, por outro lado, havia mantido meu slot de modificação aberto nos cinco dias desde que alcancei 150 de proficiência em espadas de uma mão porque não conseguia decidir se queria «Shortened Skill Delay» ou «Critical Rate Increase», que eu tinha que presumir que afetava as chances de um verdadeiro acerto crítico.

Você pensaria que, se fosse tão tentador, eu deveria simplesmente optar pelo aumento da taxa de crítico, mas o problema era que aumentar a Accuracy da arma afetava apenas os acertos críticos de pontos fracos, não os acertos críticos verdadeiros.

Quando a Accuracy de uma arma era aumentada, o sistema ajustava automaticamente para melhorar sua mira ao tentar acertar o ponto fraco de um mob. Alguns jogadores, como Asuna, conseguiam dominar esse sistema e usá-lo como uma segunda natureza. Mas eu não lidava com nenhum tipo de assistência do sistema que tirasse o controle de mim. Durante o teste beta, experimentei uma «Anneal Blade» com Accuracy +8, e a sensação da espada indo diretamente para o ponto fraco do mob me fez sentir como se estivesse empunhando uma arma viva com vontade própria.

Então... como eu deveria explicar ao elfo negro essa peculiaridade muito específica minha, baseada em preferência e não em ganho racional? Se eu insistisse na Sharpness, isso poderia resolver a questão, mas parecia haver uma chance de 1 — ou melhor, 10% — de que este NPC em particular dissesse — Então, eu não farei isso. Em vez disso, apenas olhei de um lado para o outro entre a espada e o rosto dele.

Finalmente, Asuna quebrou o impasse com uma solução perfeita e simples.

— Por que Sharpness não é a melhor escolha? — ela perguntou.

O ferreiro assentiu.

— De todas as grandes lâminas de «Lyusula», esta é especialmente afiada — e, portanto, frágil. Para preservar e proteger a lâmina, é melhor despachar o inimigo com o mínimo de golpes possível. Isso significa que a melhor escolha seria Accuracy, seguido de Durability.

— Ah, entendi... Então, Accuracy é para tornar as batalhas mais eficientes — disse Asuna, ecoando minha própria reação.

A Durability da espada não era nada ruim de acordo com suas especificações, mas desde que comecei a usá-la, notei que parecia se desgastar mais rapidamente nas batalhas. A «Sword of Eventide» era melhor para cortar pontos descobertos ou desprotegidos do que para romper camadas de armadura, aparentemente. Se eu me concentrasse em acertar os pontos fracos desde o início, o efeito da assistência do sistema talvez não fosse tão desorientador, afinal.

Isso não eliminou todas as minhas dúvidas, mas se essa era uma espada forjada por um elfo negro, provavelmente seria melhor aceitar o conselho de um ferreiro elfo negro sobre ela.

— Certo... Entendi. Então, vamos melhorar a Accuracy, por favor — eu disse.

— Muito bem — respondeu o ferreiro, e a janela apareceu mais uma vez. Reajustei os itens e valores, pressionei o botão OK novamente e peguei a bolsa de materiais que apareceu.

O ferreiro pegou os itens e os jogou na fornalha, que parecia ser feita de madeira. Os materiais derreteram instantaneamente, e as chamas laranjas começaram a brilhar em azul. Ele enfiou a «Sword of Eventide», e ela prontamente adquiriu um brilho azulado.

Em seguida, ele transferiu a espada para a bigorna — não consegui entender o motivo exato do tempo que ele escolheu — e começou a golpeá-la com o martelo. Com apenas dez golpes, rápidos o suficiente para que eu não ficasse nervoso, a espada brilhou mais intensamente.

— Está pronto — ele disse, estendendo a espada em minha direção.

— Hã — eu disse, sem pegá-la. — Eu gostaria de mais uma melhoria em Accuracy, na verdade, seguido de Durability.

 

✗✗✗

 

Mesmo maximizando a quantidade de materiais no processo, o upgrade não podia ter uma chance maior do que 95% de sucesso, mas o ferreiro facilmente completou três tentativas perfeitas. Era da minha natureza querer continuar com a sequência, mas, infelizmente, meus materiais acabaram. Ainda tinha três pranchas de moo-moo (as peças de metal com a marca da vaca) que poderiam aumentar suas chances ao máximo de uma vez, mas estava guardando-as para quando fosse realmente necessário.

Em vez disso, Asuna decidiu aumentar sua «Chivalric Rapier» para +7 — a parte assustadora era que ela ainda tinha oito tentativas restantes — e depois agradecemos ao ferreiro, que nos deu um resmungo desinteressado e voltou aos seus afazeres. Eu estava curioso sobre por que ele chamava o Visconde «Yofilis» de «Leyshren», mas não tínhamos tempo, então isso teria que esperar para outro dia.

Também paramos na artesã de couro e na costureira para alguns upgrades em nossas armaduras — ambas eram mulheres e pelo menos cinco vezes mais amigáveis que o ferreiro. Quando terminamos, Asuna e eu nos dirigimos ao campo de treinamento ao ar livre no extremo oeste do acampamento. Eram 10h40, então, mesmo considerando a viagem, tínhamos uma hora inteira para praticar.

Não havia como eu ensinar a ela todos os pequenos truques e lições que acumulei durante meu tempo com o jogo, e isso provavelmente teria o efeito contrário com Asuna. Ensinar-lhe mais sobre os princípios básicos, sobre a mentalidade necessária, era muito mais provável de ajudá-la a fazer uso de sua própria criatividade e habilidades proativas.

O problema era que dar uma palestra sobre mentalidade era muito mais difícil do que falar sobre técnica. E era ainda mais difícil quando o professor era apenas um garoto estúpido como eu, sem experiência em ensinar.

Parei na entrada do campo de treinamento vazio, olhei para Asuna, que estava a trinta graus de mim, e fiquei completamente sem saber como começar sequer a primeira frase. Tudo o que conseguia pensar era na forma como Asuna disse "Eu não quero fazer isso" quando tentamos praticar duelos no quarto andar.

— Eeeentãooo... hããããã...

Eu gaguejava e hesitava, tentando encontrar um ponto de partida para o tópico. De repente, Asuna riu e disse.

— Escute, Kirito.

— S... sim?

— Eu entrei no banho com Argo quando estávamos na cidade de Shiyaya, no quinto andar.

— S... sim?

Parecia familiar para mim, só não conseguia entender por que ela estava trazendo isso à tona agora. Olhei para ela desconfiado.

— C... certo, acho que me lembro disso. Você e Argo estavam batendo um papo de garota na...

— Não estávamos fazendo nada disso! — ela disse, fazendo um biquinho brevemente. Então, ela sorriu. — Não, Argo e eu tivemos um duelo lá.

— Quê? Na... área de banho?

— Isso.

— Sem... equipamento?

— Com roupa de banho... Espera, esse não é o ponto!

Ela me cutucou no estômago com os dois dedos juntos. Tardiamente, lembrei que não estávamos numa zona segura de cidade — mas, para meu alívio, ela não fez nada pior do que isso.

— Mas quando digo duelo, tudo o que fizemos foi nos bater com os ramos de ervas aromáticas que eles colocam na banheira. Argo me perguntou... se eu tinha medo de duelar.

— E o que você respondeu...?

— Fui honesta. Disse a ela que estava com medo, mas, pensando bem, Argo usa todos os seus pontos em agilidade, então ela tem ainda menos HP do que eu. No entanto, no duelo, ela lutou duro só com um ramo de plantas e não parecia nem um pouco nervosa. Ela entra em dungeons sem um pingo de hesitação... Então, em troca, perguntei a ela: "Você não tem medo?"

— E ela disse...?

— "Desculpa, não posso te contar isso de graça" — disse Asuna, imitando notavelmente o estilo de fala de Argo, a Rata, e se dirigiu ao outro lado do campo.

Gritei atrás dela.

— Hã, v-você pode explicar o que essa história quer dizer?

A espadachim virou-se, com o cabelo longo esvoaçando, e me deu um sorriso malicioso.

— O que você acha que significa?

Como diabos eu deveria saber?! gritei por dentro. Provavelmente, Asuna estava tentando dizer que agora estava bem. Então, eu só precisava ensiná-la o máximo que pudesse no curto tempo que tínhamos. Depois que ela superasse seu medo de lutar contra outro jogador, não haveria mais nada que segurasse o potencial de Asuna e a lâmina afiada de sua «Chivalric Rapier» +7.

Olhei para a floresta ao redor do acampamento e sussurrei um aviso para o homem de poncho preto e seus amigos, onde quer que estivessem agora em Aincrad.

— Não vou deixar vocês escaparem na próxima vez.

— O quê? Você disse alguma coisa? — gritou Asuna.

— Nada! — respondi, correndo pela grama curta em direção à minha parceira.

 

 

CONTINUA NA PARTE 2 DIA 11/09


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