Volume 5
CÂNONE DA REGRA DE OURO (INÍCIO) - SEXTO ANDAR DE AINCRAD, JANEIRO DE 2023 (PARTE 1)
Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!
— PAH-CHOO!
Eu me virei para entender a origem do som estranho atrás de mim.
A espadachim que era minha parceira temporária tinha as mãos sobre o nariz. Alguns segundos depois, ela arqueou as costas e soltou outro — Pah-choo!
— Foi um espirro ou você está dizendo que quer patchouli no seu banho hoje à noite? — brinquei, recebendo um olhar furioso em troca.
— Eu não gosto de patchouli.
— Que tal pumpkin spice?
— Não.
— Talvez nabo?
— Não... Ei, isso nem é uma opção! — ela reclamou, acabando com a piada. Asuna, a espadachim de nível 18, suspirou. — Foi um espirro... eu acho. Não tenho certeza.
— Hã? O-O que isso quer dizer? Você não deveria saber se espirrou ou não...? — perguntei, dessa vez seriamente. Parei no meio do caminho.
Há apenas uma ou duas horas, a rua central de «Karluin», a cidade principal do quinto andar de Aincrad, estava lotada de gente, mas agora estava completamente vazia. A festa de contagem regressiva com fogos de artifício para celebrar a chegada de 2023 tinha acabado, e os jogadores se dispersaram, voltando para suas estalagens — ou para o deserto, para caçar.
Asuna e eu assistimos aos fogos de artifício das ruínas do antigo castelo fora da cidade, esperando a área se acalmar antes de partirmos. Isso porque tivemos um encontro perigoso e inesperado nas ruínas. Mesmo com minha excelente habilidade de «Search», seria mais difícil detectar alguém nos seguindo em meio à multidão.
Verifiquei casualmente atrás de mim enquanto esperava a resposta de Asuna. Para minha surpresa, ela deu uma resposta bastante racional.
— Espirros são funções corporais involuntárias, projetadas para aumentar a temperatura do corpo quando está frio ou expulsar um objeto estranho da cavidade nasal, certo? Nenhuma dessas funções é necessária para um avatar de jogador.
— Ah. Bem, acho que... isso faz sentido...
— Então, se o sistema de SAO está reproduzindo artificialmente algum tipo de função de espirro, não tenho certeza se isso pode ser chamado de um "espirro" de verdade... Essa é a questão.
— Entendi — murmurei, impressionado. Então meu próprio nariz começou a coçar. Ou era o frio ou a repetição da palavra "espirro" que me fez ficar consciente disso. Eventualmente, não consegui segurar mais.
— Broosh! — explodi.
Asuna sorriu com ar de superioridade.
— O que foi isso? Está dizendo que quer bruschetta no café da manhã de amanhã?
— O que é bruschetta?
— É um tipo de petisco italiano.
— Isso até parece bom — murmurei, imaginando como seria essa bruschetta e, inconscientemente, puxando a gola do meu casaco para cima antes de perceber o que estava fazendo. — Ei... sou só eu ou está meio frio aqui?
— Sim, está bem gelado...
Asuna usava uma capa de lã com capuz, mas estava por cima de uma minissaia que não parecia protegê-la muito contra o frio. Um homem gentil e atencioso colocaria seu próprio casaco nela sem dizer uma palavra, mas como um gamer fracassado e recluso, não era uma habilidade que eu pudesse adquirir em um videogame.
Felizmente, antes que eu fizesse algo para me envergonhar, Asuna abriu seu menu e ajustou o manequim de equipamento. Uma luz cobriu suas pernas pálidas, expostas pela saia de batalha de couro, e depois se transformou em uma meia-calça branca.
Não deveria haver fibras artificiais neste mundo, dado o cenário, mas de alguma forma, o material justo parecia brilhar à luz — eu não pude evitar de olhar. Antes, ela teria revidado com um olhar frio, palavras afiadas e talvez até algum tipo de ataque físico — mas desta vez, Asuna apenas tossiu e olhou para o teto do andar acima, visível na escuridão.
— Bem, é o começo do ano, então é de se esperar que esteja frio... e ainda assim, o quarto andar estava bem quente quando estivemos lá. Como Aincrad lida com as estações do ano?
— Hm... era agosto no beta teste, mas mesmo que o sol parecesse quente ao meio-dia, não era, tipo, desconfortavelmente quente. E não era nada parecido com o calor sufocante do verão na vida real.
— Hmm... Suponho que, se fosse realmente tão quente, ninguém se incomodaria em usar armadura completa, por exemplo.
— Verdade. Me faz pensar o que os velhos cavaleiros europeus faziam durante o verão...
— Os Cavaleiros Templários do Reino de Jerusalém perderam para as forças de Saladino porque o calor drenou suas forças.
— Ah... entendi.
Como de costume, Asuna tinha muitos fatos para apoiar suas afirmações. Comecei a ter a desconfortável sensação de que ela poderia eventualmente aprender mais sobre Aincrad do que eu sabia, então rapidamente voltei ao assunto.
— A questão é... Aincrad modela as estações até certo ponto, mas não acho que simule calor e frio a um nível que seja desconfortável. Em resumo, isso não é nem de perto tão ruim quanto o clima de inverno rigoroso que estaríamos sentindo no mundo real, certo?
— Mesmo vestida assim, o pior que acontece é eu espirrar.
— Mas há exceções. Acho que me lembro de ler sobre andares que são inverno ou verão o ano todo... segundo uma revista ou algo assim...
— Hmm...
Asuna olhou para cima mais uma vez, depois perguntou.
— Você não encontrou esse andar de verão eterno durante o teste beta?
— Bem, era verão na época... mas lembro de uma praia no lado sul do sétimo andar. Tinha areia branca, coqueiros e um monte de jogadores curtindo suas férias de verão.
— Do jeito que você fala, imagino que não tenha participado — ela observou perspicazmente.
— Bem, um cara celebrando as férias sozinho é meio triste, né? — admiti. — Tudo bem. Eu estava focado em avançar pelo jogo.
Essa desculpa desesperada fez Asuna sorrir o suficiente para esquecer o frio. Ela me deu um tapinha nas costas.
— Lado sul do sétimo andar? Vou lembrar disso. Se realmente for uma área de verão eterno...
— E então?
— Hmm. Acho que vou guardar segredo até lá. Vamos para a próxima cidade principal. O sexto andar começa pra valer amanhã... ou melhor, hoje.
A espadachim saiu em um ritmo acelerado, e eu tive que correr para alcançá-la, ainda desconfiado. Já fazia mais de um mês desde que nossa parceria temporária havia começado, e eu ainda não conseguia entender o que ela estava pensando na maior parte do tempo.
Mas acho que isso fazia parte do charme dela, pensei, o que não era típico de mim. Balancei a cabeça e minhas narinas começaram a coçar de novo. Era inofensivo o suficiente na segurança da cidade, mas se eu espirrasse em uma dungeon enquanto tentava me esconder, as consequências poderiam ser desastrosas. Eu teria que estudar como suprimir a vontade.
Tentei segurar o nariz, depois prender a respiração, mas nada funcionou.
Eventualmente, meu "medidor de coceira" atingiu o pico.
— Vah-kesh!
Asuna parou e olhou para mim com um olhar 60 por cento irritado e 40 por cento enigmático.
— Está tão animado para as férias de verão assim? — ela perguntou.
— N-Não, eu...
— Então é melhor passarmos pelo sexto andar o mais rápido possível.
— Estou dizendo, não é nada disso!
Mas, por mais que eu protestasse, o sorriso irônico nunca deixou o rosto da espadachim. No final, eu nem tinha certeza se realmente queria que o sétimo andar fosse um paraíso de verão eterno ou não.
1
MESMO DO OUTRO LADO DO PORTAL DE TELETRANSPORTE, o ar ainda estava frio.
Diferente de «Karluin», a cidade principal do quinto andar, que estava nas ruínas de uma cidade antiga, «Stachion» era uma cidade impecavelmente construída no sexto andar. O principal material de construção era uma pedra cinza brilhante, parecida com granito polido, e todas as estruturas eram feitas de blocos exatamente do mesmo tamanho, dispostos em um padrão de grade, com cerca de vinte centímetros de lado — o que significava que tudo era composto por linhas retas e ângulos. O efeito era tão impressionante que, quando visitei esse lugar pela primeira vez no teste beta, minha reação foi — bem, exatamente a mesma de Asuna agora.
— Uau... É tão quadrado...
— Bom, estamos presos em um videogame — respondi, a piada padrão em «Stachion». Isso me rendeu um olhar frio e penetrante, que diminuiu ainda mais a minha temperatura corporal.
Puxei a gola do casaco para cima, mas não adiantou nada para afastar o frio. Ainda era muito melhor que o inverno real, mas uma das partes mais irritantes do mundo virtual era que, uma vez que você notava que estava quente ou frio, a única maneira de parar de sentir isso exigia alguma lógica do jogo.
Eram três horas da manhã, 1º de janeiro de 2023.
O entusiasmo de Ano Novo da linha de frente tinha se dissipado com o show de fogos de artifício, e dificilmente se via uma alma na praça do portal de teletransporte de «Stachion». Um vento seco do norte soprava pelo espaço vazio, que tinha cerca de cinquenta metros de lado. Imaginei que estaria frio para Asuna e sua minissaia, mas entre a capa forrada de lã e as meias-calças, ela parecia estar suficientemente protegida.
Ou talvez o frio que eu estava sentindo agora fosse mais do que apenas as sensações artificiais do NerveGear...
Nas ruínas do antigo castelo a leste de «Karluin», onde Asuna e eu fomos assistir ao show de fogos de artifício, eu saí para pegar comida e acabei correndo direto para um ataque de uma figura misteriosa em um poncho preto. O castelo ficava dentro dos limites de proteção da cidade, é claro, então o plano dele era me enganar, fazendo-me acreditar que eu não estava dentro da zona de código anticrime enquanto ele me atraía para o porão do castelo, que na verdade estava fora da área segura.
O homem no poncho preto se esgueirou bem atrás de mim, apesar da minha proficiência na habilidade de «Search», apontou uma faca para minhas costas e sussurrou: — É hora do show. A frieza daquela voz não saía dos meus ouvidos... A maneira como ele falava parecia quase uma canção — e ainda assim, era alienígena na falta de qualquer emoção discernível.
Eu quase demorei demais para perceber o blefe. Disparei uma série de habilidades com espada dentro da zona segura, esperando deixá-lo atordoado, mas ele usou um item desconhecido de cortina de fumaça para escapar. Corri de volta para o quarto onde havia deixado Asuna e fiquei tão aliviado ao ver minha parceira temporária a salvo que a abracei — ganhando um gancho violento na lateral direita. Mas isso não resolvia o problema principal.
Minha suposição era de que o homem de poncho preto era o chefe de Morte, o machadeiro que tentou me matar em um duelo. O líder do grupo de PKs agitadores, que havia tentado enganar os Legend Braves com seu golpe de upgrade de equipamento e incitar uma guerra entre a «Dragon Knights Brigade» (DKB) e a «Aincrad Liberation Squad» (ALS).
Graças a mim e à Asuna intervindo, nenhum desses incidentes resultou em desastre. Por isso, o homem de poncho preto veio me eliminar diretamente, presumi — mas eles não desistiriam após uma única tentativa fracassada. Eu teria que ficar atento a qualquer perigo a partir de agora.
E havia um problema ainda maior:
Havia uma grande possibilidade de que eles também fossem atrás de Asuna. Isso, acima de tudo, eu tinha que impedir, e ainda assim, eu não havia contado a ela sobre o ataque que acabei de sofrer.
Eu não ia manter isso em segredo, é claro. Na hospedaria desta noite, no máximo, eu contaria tudo sobre o homem e daria outra lição sobre os princípios básicos do combate PvP. Mas tudo o que eu conseguia lidar no momento era com o que tinha acontecido logo depois de subirmos ao quinto andar.
Foi Asuna quem pediu uma aula sobre combate player vs player — seja PvP, duelo ou como quer que chamasse. Após a luta contra Morte no quarto andar, percebi imediatamente a importância dessa lição, então, em um canto vazio das ruínas, nos envolvemos em um duelo apropriado.
Quando estávamos com as espadas em punho, ela ficou paralisada. Com lágrimas nos olhos, baixou a lâmina e confessou que não queria prosseguir com aquilo.
Não era por falta de talento para PvP. Quando um dos PKs quase pegou sua «Chivalric Rapier» nas catacumbas do quinto andar, a maneira como ela usou um mob saqueador para recuperá-la foi brilhante. Uma vez que essa imaginação dela fosse reforçada com conhecimento e experiência, ela seria capaz de colocar seu já considerável talento em prática no campo de combate mano a mano.
Mas, sob as regras atuais de SAO, onde morrer no jogo significava morrer na vida real, um duelo entre jogadores era, portanto, uma luta até a morte. Se ambos os lados estivessem igualmente equilibrados, o vencedor seria quem tivesse menos hesitação em tirar a vida do outro. Em outras palavras, sem esse nível de crueldade, qualquer vitória potencial em uma luta equilibrada provavelmente resultaria em uma derrota.
Se eu fosse ensinar Asuna a lutar contra outro jogador, seria mais importante que ela aprendesse essa racionalidade fria do que qualquer técnica mecânica detalhada que eu pudesse ensinar. Eu mesmo nunca matei outro jogador, claro, mas se fosse necessário para proteger a mim ou minha parceira, acreditava que seria capaz de fazê-lo. Ou, parafraseando, eu não era uma pessoa boa o suficiente para hesitar no calor do momento.
Mas Asuna era diferente. Ela era muito mais bondosa do que eu — com uma alma justa e honesta. Eu não queria dizer a ela que precisava ser fria, cruel e pronta para matar...
— Ei, Kirito — Olhei para cima e vi minha parceira bem na minha frente, preocupada. — Por que você ficou quieto de repente? Já está com fome?
— N-Não, não é isso...
— Então, posso fazer minha primeira pergunta sobre o sexto andar?
— P-Pois não — respondi. Estávamos no meio do décimo andar quando o teste beta terminou, então, incluindo este andar, restavam apenas quatro e meio onde eu poderia realmente responder às perguntas de Asuna. Oh. Depois de tudo o que aconteceu, já estávamos no sexto andar, pensei, surpreso.
Então, a espadachim perguntou.
— O que é isso?
— Hã?
Asuna apontou para nossos pés. Segui seu dedo esguio até uma das pedras cinzas que pavimentavam a praça de teletransporte. Assim como os blocos que formavam os edifícios, era apenas uma pedra comum, de cerca de vinte centímetros, mas uma em cada quatro ou cinco tinha um numeral arábico de um a nove.
— Ahh... sim, estas — Dei dois passos para trás e apontei para o chão, imitando Asuna. — Viu como a linha entre elas é mais grossa aqui?
— É verdade...
— Essa linha mais grossa é onde as pedras são divididas em grades de nove por nove, totalizando oitenta e uma pedras. Isso te lembra alguma coisa?
— Nove por nove — Asuna murmurou. Ela piscou três vezes, depois sorriu. — Ahhh, entendi. Isso é um quebra-cabeça de sudoku! Eu era bem boa nisso. Interessante, então as pedras da praça formam um quebra-ca... beça...
Ela parou de falar ao olhar novamente ao redor da praça de teletransporte. Se ignorasse o portal no meio, a praça inteira, com cinquenta metros, estava coberta dessas pedras. E aqueles quebra-cabeças de sudoku com suas dicas numéricas se estendiam de ponta a ponta.
— Quantos desses quebra-cabeças existem?
— Se não mudou desde o beta, são vinte e sete linhas e colunas desses conjuntos de oitenta e uma pedras. Como o centro exato é ocupado pelo portal, isso significa que são vinte e sete ao quadrado, menos um. O que dá setecentos e vinte e oito.
— Setecentos e vinte e o quê? — Asuna ofegou baixinho. Ela desviou o olhar dos números dos seus pés. — Por um momento, fiquei interessada em resolver todos. Agora não estou mais.
— Uma decisão sábia — falei com um tom sábio, imitando qualquer ancião NPC de vila. — Durante o teste beta, os jovens que caíram nas armadilhas do sudoku e desistiram de nos ajudar a avançar no jogo foram chamados de "sudokers" em respeito...
— Esse é um apelido ainda mais triste do que os "acumuladores", que ficaram viciados em encontrar moedas nas ruínas. Mas, dado o número de quebra-cabeças, isso significa que há alguma recompensa gigantesca se você resolver todos?
— Você pensaria isso — respondi, desta vez de forma normal. — Eu também supus isso durante o beta, e os sudokers acreditavam nisso com certeza. Mas a parte desagradável é que... todos os números de dicas são trocados à meia-noite, todas as noites.
— O quê?! Então você está dizendo... se alguém quisesse resolver tudo, teria que fazer setecentos e vinte e oito quebra-cabeças de sudoku em vinte e quatro horas? — Asuna exclamou. Ela começou a contar nos dedos. — Vamos ver... À primeira vista, esses parecem de dificuldade máxima, então até um especialista levaria uns vinte minutos para resolver um. Multiplicando isso por setecentos e vinte e oito dá quatorze mil quinhentos e sessenta minutos... dividido por sessenta dá duzentas e quarenta e duas horas e quarenta minutos...
Eu tive que admitir que a rapidez desse cálculo defendia sua afirmação de que era "bem boa" em quebra-cabeças matemáticos.
— Isso dá mais de dez dias! — exclamou, seu choque se transformando em irritação. — Isso é impossível! Eu não vou fazer isso!
— N-Ninguém disse que você precisava... De qualquer forma, os sudokers se dividiram para tentar resolvê-los, e mesmo assim, não foram rápidos o suficiente para vencer até a meia-noite. Então, no último dia do beta, recorreram a medidas proibidas.
— Proibidas...?
— Como você podia entrar e sair do jogo quantas vezes quisesse no beta, eles memorizavam a posição das dicas, depois saíam do jogo e usavam um programa externo para resolver o problema...
— Ah, entendi — disse Asuna, sorrindo.
Concluí a história dos heróis.
— Eles resolveram tudo apenas uma hora antes do fim do teste. Agora, vê como apenas uma pedra entre as oitenta e uma é de uma cor mais escura?
— Hm, é verdade...
— Os números nessas pedras são algum tipo de chave. Então, depois de todo aquele trabalho, os sudokers conseguiram setecentos e vinte e oito números-chave...
— Aham?
— E foi só isso.
— O quê?
— Ninguém sabia o que fazer com eles. Dizem que, na última hora antes do fim do teste, os trágicos sudokers foram reduzidos a correr pela praça de cuecas, gritando os números e enlouquecendo.
……
A irritação de Asuna se transformou em pena. Ela olhou para o vasto espaço de pedra plana e números, solitário sob o luar. Sem dizer mais nada sobre o assunto, fechou os olhos por um momento, depois acenou com a mão direita para abrir o menu.
— Nossa, já são mais de três da manhã. Devíamos ir para a pousada já. Imagino que a DKB e a ALS também vão dormir até mais tarde, mas eu ainda gostaria de acordar e voltar ao trabalho até às dez.
— Boa ideia — concordei, lembrando da minha ansiedade anterior. Mas o sorriso de Asuna era sincero e inocente.
— Então, aqui vai a segunda pergunta. Qual sua recomendação de lugar para ficar em «Stachion»?
✗✗✗
Caminhamos por cerca de três minutos, seguindo para o leste por uma estrada pavimentada com as mesmas pedras da praça, até que a levei a uma pousada discreta, de tamanho médio — embora, considerando que tudo na cidade era feito dos mesmos blocos pequenos, era difícil que algum edifício se destacasse.
Empurrei a porta de madeira (pelo menos isso era diferente) e fiz o check-in no balcão, reservando dois quartos adjacentes no segundo andar. O corredor vazio lá em cima tinha dez blocos de largura, pouco mais de dois metros, sem lugar para se esconder.
Estive em alerta desde o momento em que chegamos a esse nível de Aincrad até chegarmos à pousada, mas ninguém parecia estar nos seguindo ou observando — pelo menos, foi o que pensei. Mas eu não podia ter certeza absoluta, já que agora suspeitava que o homem de poncho preto tinha uma habilidade de «Stealth» tão boa quanto minha habilidade de «Search», o que me fazia duvidar dos meus próprios olhos e ouvidos.
Caminhei até o final do corredor, ciente do estresse de estar em perigo potencial. Asuna estava no quarto 201, no canto, enquanto eu ficava no 202, logo antes dele.
A espadachim bocejou graciosamente na frente de sua porta e olhou para mim.
— Hm... nos encontramos no restaurante lá embaixo às oito... ou melhor, às nove?
— Está bom pra mim.
— Então, boa noite, Kirito.
Ela acenou e segurou a maçaneta da porta. Mas a maçaneta tremeu e resistiu à pressão dela.
— Qu... o quê? Será que o outro quarto é o meu...? — ela se perguntou, piscando com os olhos sonolentos. Eu segurei seus ombros.
— Não, você pegou o quarto certo.
— Uhm... então por que não está abrindo?
A pergunta dela era válida. Os quartos nas pousadas de Aincrad geralmente não tinham chaves; as portas destrancavam automaticamente para o dono (ou para seus amigos e membros do grupo registrados) — uma escolha de sistema feita para a conveniência dos jogadores. E como estávamos no mesmo grupo, mesmo que ela tivesse tentado o meu quarto, a porta deveria ter aberto.
Aproximei-me de Asuna, que estava meio sonolenta e meio cética, e apontei para o número 201, afixado na porta dela. Olhando mais de perto, a placa quadrada estava dividida em uma grade de quatro por quatro, com os outros quadrados contendo números mais apagados e um espaço em branco no canto inferior direito.
— Isso também não te parece familiar? — sugeri.
Asuna piscou umas cinco vezes antes de finalmente dizer.
— Oh... isso é um quebra-cabeça de quinze...?
— Bingo. Só que, neste caso, os números vão de zero a quatorze.
— Você está dizendo que, se eu não resolver esse quebra-cabeça, a porta não vai abrir?
— Correto.
...
Agora sua expressão era 20% sono, 20% desconfiança e 60% desgosto. Acrescentei rapidamente.
— M-Mas não se preocupe. Tem um truque para isso...
Ergui a mão até a placa e comecei a mover os números de madeira, que estavam colocados aleatoriamente, exceto pelos do Quarto 201.
— Viu? É fácil colocar de zero a sete nas duas primeiras fileiras, certo? Depois disso, basta alinhar o oito e o doze no canto inferior esquerdo, colocar o nove e o treze ao lado deles, e o resto vai naturalmente...
No momento em que deslizei o quatorze para o lugar certo, houve um clique audível, e a porta destrancou. Então, empurrei a maçaneta, e a porta se abriu para dentro desta vez.
— Obrigada — disse Asuna, mas sua expressão não sugeria gratidão. Eu a havia trazido para essa pousada por um motivo — de todas as portas com quebra-cabeças em «Stachion», as daqui eram as mais simples.
Mas havia algo mais importante a explicar para ela agora — algo mais importante do que os detalhes dessa cidade ou desse andar inteiro. Asuna estava bastante exausta, e eu também estava chegando ao auge da minha fadiga, mas a última coisa que eu queria agora era adiar essa decisão para amanhã e me arrepender.
— Bem, boa noite — Asuna começou a desaparecer pela porta.
Levantei a voz apenas 5% mais do que o normal.
— Asuna!
— O quê? — ela perguntou, com os olhos sonolentos. Eu me senti culpado, mas não havia mais volta.
— Eu... eu tenho algo importante para te dizer. Você se importaria se eu entrasse no seu quarto por um instante?
— Uhm... pode entrar...
A permissão dela veio de forma surpreendentemente fácil. Ela entrou cambaleando. Apressadamente a segui antes que a porta se trancasse sozinha.
O quarto 201, sendo no canto, tinha grandes janelas nos lados leste e sul, mas agora não havia nenhum horizonte visível. O quarto tinha uns 16 metros quadrados, com móveis padrão: uma cama espaçosa o suficiente para uma pessoa, mas não para duas, um conjunto de sofás e uma escrivaninha. O chão era marrom escuro, mas quadriculado naquele padrão familiar de vinte centímetros.
Asuna flutuou suavemente até a cama e se jogou sobre a superfície macia. Ela esperava que eu falasse, quase se rendendo ao sono.
— Então, qual é essa coisa importante que você tem pra me dizer...? — ela repetiu, piscando três vezes.
De repente, seus olhos se arregalaram. Ela olhou ao redor do quarto e depois para mim. Por alguma razão, sua mão esquerda alcançou um travesseiro grande, e ela o segurou na frente do corpo, gaguejando:
— Ah... espera... impor... eu... Eu... não estou, preparada para...
Não estava claro o que Asuna estava imaginando, mas, felizmente para mim, o que quer que fosse a despertou um pouco. Dei um passo mais perto.
— Ouça, Asuna.
— Não, espe... e-espera, só um instante.
— Não. Não posso esperar.
— O quê?
Ela estava apertando o travesseiro com tanta força que parecia que ia explodir. Dei mais um passo à frente.
— Asuna... de manhã, quero que você pratique duelo comigo.
— Hweh?
— Sei que você odeia PvP. Mas estamos chegando a um ponto em que não dá mais para evitar isso. Antes de começarmos a explorar este andar, deveríamos pelo menos passar metade de um dia praticando...
— Pare.
A mão dela disparou como um raio, interrompendo-me. Ela respirou fundo várias vezes. Eventualmente, se levantou, ainda segurando o travesseiro.
— Eu sabia que não poderia continuar fugindo disso. Então, concordo com seu ponto sobre o treinamento. Estou pronta para isso.
— Oh... c-certo.
— Mas deixe-me dizer uma coisa primeiro.
A espadachim sorriu gentilmente para mim, trocou o travesseiro para a mão direita e então o levantou.
— Isso foi... extremamente enganoso!!!! — ela gritou, arremessando o travesseiro com uma rotação, como um lançador da liga principal. O travesseiro voou em minha direção com tanta força que ativou o efeito da barreira roxa ao aterrissar, mesmo sendo macio.
✗✗✗
Um copo de água fria ajudou a acalmar Asuna. Depois disso, expliquei brevemente o que havia acontecido nas ruínas do castelo de «Karluin». Embora ela estivesse furiosa com o necromante de poncho — e um tanto preocupada comigo também — ela aceitou a situação de maneira calma e racional, e concordou em retomar o treinamento de duelo.
Ao final de tudo, já eram 3h40, então adiamos a reunião do dia seguinte para às nove e meia, e eu saí do quarto 201.
De repente, o peso do sono caiu sobre minhas pálpebras, agora que eu não estava mais segurando-o com pura força de vontade. Mas havia outra tarefa que eu precisava fazer antes de abrir a porta do meu próprio quarto.
Diferente do quarto 201, o quebra-cabeça de quinze peças para abrir o quarto 202 tinha dois números dois, e o número mais alto era treze. Embora eu tenha cometido alguns erros por causa disso, consegui resolver o quebra-cabeça em menos de trinta segundos. Abri a porta do meu quarto, removi meus equipamentos enquanto caminhava, e mergulhei na cama de cara.
Tive tempo para apenas alguns pensamentos nos três segundos antes de adormecer.
Sabe, eu esqueci de realmente dizer à Asuna que o tema deste andar inteiro são quebra-cabeças.
E o que ela quis dizer com "enganoso"?
CONTINUA NA PARTE 2 DIA 10/09
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