Volume 4
SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 8)
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8
EU NÃO TINHA CERTEZA SE ERA BASEADO NA ESTRUTURA ESPIRAL DA CIDADE, mas a especialidade local de «Mananarena» era um bolo de rolo gigante feito de uma fina camada de pão de ló e generosas porções de creme com sabor de banana. Eu estava determinado a provar um quando chegasse aqui, mas agora que o momento tinha chegado, eu havia perdido o apetite.
A espiral de bolo, de vinte centímetros de comprimento, me encarava do meio da mesa. Enquanto isso, do outro lado, Asuna parecia extremamente séria.
— Será que eles são oficialmente um casal?
— Hã?
Não era nem um pouco o que eu esperava que ela fosse dizer. Ela continuou, ainda completamente séria.
— Shivata e Liten. Como eles ficaram juntos e o que aconteceu entre eles depois disso — perdemos todos os detalhes importantes.
— V-Você tem razão...
Eu honestamente não sabia como deveria reagir a uma história desse tipo, então, por minha parte, fiquei aliviado que Shivata resumiu os detalhes, mas Asuna parecia bastante interessada. Eu enfiei um grande pedaço de bolo de banana na boca, escolhendo minhas palavras com cuidado.
— Mas... aquele atleta sério estava chamando-a de 'Licchan', então eu diria que eles estão saindo juntos.
— Ohh? Shivata está na equipe de atletismo?
— Não, isso é só o que eu imagino.
— E pensar que eu realmente acreditei em você por dois segundos!
Ela levantou uma sobrancelha ceticamente para mim e enfiou uma grande garfada de bolo na boca, o qual encheu suas bochechas. O poder milagroso da sobremesa especial aliviou a ruga entre as sobrancelhas dela, e eu decidi que era seguro apresentar uma preocupação minha.
— Mas... o que exatamente significa 'sair juntos' neste mundo?
— O que significa? Bem, é a mesma coisa que no mundo real — disse ela com naturalidade. Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei mais do que um pouco curioso sobre a experiência dela na vida real nesse campo, mas não pude perguntar, então deletei essa pergunta da minha mente e segui em frente.
— De qualquer forma... eu imaginaria que fazer as mesmas coisas que no mundo real é impossível aqui...
— Hã? Oh... certo. Por causa do código de proteção — Asuna murmurou, olhando ao redor.
Depois que nós dois nos separamos de Shivata e Liten, nos mudamos para este café, um ponto secreto em «Mananarena». Ao contrário dos restaurantes onde a DKB e a ALS frequentavam, ele não ficava na estrada espiral principal, então você precisava saber onde ele estava primeiro. Como eu esperava, não havia clientes dentro, mas ainda estávamos no clima de falar em sussurros.
O Código de Prevenção de Assédio em questão era o mais desconfortável de todos os muitos sistemas do SAO para discutir.
Eu sabia por que era necessário. Sem ele, sem dúvida haveria alguns jogadores masculinos que exporiam NPCs femininas atraentes a comportamentos desagradáveis. O sistema funcionava de maneira muito simples: Qualquer contato inapropriado com um NPC ou jogador do sexo oposto por um certo período de tempo geraria um aviso e uma força de repulsão, e os infratores reincidentes seriam automaticamente teleportados para a prisão dentro do «Black Iron Palace» na cidade inicial. Eu mesmo fiquei momentaneamente apavorado de ser levado para lá na oficina do velho «Romolo», o construtor naval no quarto andar, quando sacudi o ombro de Asuna na tentativa de acordá-la de uma cadeira de balanço.
Asuna estava esfregando o ombro esquerdo e me encarando, claramente se lembrando da mesma situação.
Ela tossiu.
— Bom... sim, você pode não conseguir tocar a outra pessoa... mas ainda pode estar em um relacionamento.
— Ah, c-certo. Mas as condições do código são muito vagas para entender... Como você sabe onde está a linha tênue do contato inapropriado? No meu caso, eu não recebi nenhum aviso ou choque antes de você receber a janela de teletransporte forçado... Talvez seja necessário um pouco de pesquisa...
— Então, se eu tivesse apertado o botão SIM, você teria coletado dados muito valiosos.
— Er, deixa pra lá — disse eu, balançando a cabeça. Asuna me encarou de novo, depois refletiu sobre algo.
— Mas sobre esse assunto, eu nem recebi uma janela de teletransporte da última vez...
— Última vez?
— Você sabe, depois que escapamos daqueles caras nas catacumbas, você—
Ela de repente parou, então olhei para cima, enquanto cortava um novo pedaço de bolo para mim. A espadachim desviou o olhar bem antes de fazermos contato visual, mas ao ver o vermelho em suas bochechas, eu me lembrei.
— Ahhh, c-certo...
Ela tinha razão. Depois que Morte e seu companheiro foram perseguidos pela horda de mobs, Asuna ficou tão aliviada pela tensão que tive que abraçá-la e acariciar sua cabeça para acalmá-la. Pensando bem, agora, fiquei impressionado comigo mesmo. O contato durou pelo menos três minutos, muito mais tempo do que o contato na oficina. Então, era um mistério que Asuna não tivesse recebido uma janela de teletransporte para me afastar.
— Hmm... Talvez os ombros sejam proibidos, mas a cabeça é permitida...?
— Mas se a pessoa tocada não gostar, não há diferença entre a cabeça e os ombros. Além disso, você também estava tocando meu ombro na hora.
— Oh, eu estava...? Hmm, é um mistério... Talvez seja porque no quarto andar, você estava dormindo...
— Isso não seria a razão. Por que mostrar uma janela para um jogador dormindo? Eles não podem apertar os botões.
— É mesmo... Ah! Deveríamos simplesmente perguntar ao Shivata da próxima vez.
— Perguntar o quê? — Asuna perguntou.
Revelei minha ideia brilhante: — Bem, se aquele atleta tentar fazer contato físico com Liten, então inevitavelmente ele estará coletando dados sobre os limites e condições do Código de Assédio, certo?
De repente, o garfo na mão da espadachim avançou audivelmente em direção ao meu nariz. Se fosse uma faca, ela poderia ter conseguido realizar um «Linear».
— O-Ouça-me! Você está absolutamente proibido de fazer uma pergunta indecente como essa! Não me importo com o cara, mas não é justo com a Liten!!
— E-Eu entendo. Não vou sugerir isso de novo, então, por favor, abaixe o garfo...
Uma vez que ele estava descansando com segurança na superfície da mesa novamente, suspirei de alívio e me recostei na cadeira.
— Hmm. A única outra coisa que posso imaginar é que ele evolui dependendo do jogador alvo...
— O que você quer dizer?
— Estou dizendo que pode ser mais facilmente acionado entre dois estranhos que nunca tiveram contato antes, mas que isso se torna mais fácil à medida que o relacionamento entre os jogadores cresce... Eu só não consigo imaginar como eles rastreiam e quantificam a proximidade emocional dos dois jogadores...
Olhei para baixo, saindo do teto, e a espadachim estava quieta, sua expressão neutra. Preocupei-me que pudesse ter dito algo estúpido novamente, mas por alguma razão, notei que uma vermelhidão estava subindo em sua pele, do colarinho da capa até a boca e o nariz. Antecipando uma eventual explosão, minhas pernas se tensionaram, prontas para fugir, mas, para minha considerável sorte, o sino na porta tocou naquele momento, quebrando a tensão no ar.
A visitante do café era ninguém menos que Argo, que havia se instalado em Mananarena antes de chegarmos. Não foi coincidência, é claro; eu a havia enviado uma mensagem assim que terminamos com Shivata e Liten.
— Oiê.
A corretora cansada, com bigodes pintados, caminhou e se sentou na cadeira ao lado de Asuna. Ela pediu um bolo de rolo, triplo, e soltou um longo suspiro.
— Você me tirou dos meus negócios, então espero que isso seja mais importante do que as quests de bosses, Kii-boy.
— Claro — eu a tranquilizei. Por um breve momento, considerei quebrar o gelo com uma pergunta boba sobre as condições do Código de Assédio, mas decidi que não valeria a pena se ninguém fosse rir.
— Umm, acho que descobrimos por que a ALS está planejando se adiantar no boss.
Como uma criatura que se alimenta de informações, o rosto de Argo imediatamente se iluminou.
— Espera, sério? Nem eu peguei essa informação na minha rede de inteligência. Isso é bem impressionante.
— Bastante surpreendente, não é? — eu perguntei.
— O que é?
— Bem, eu teria pensado que você já sabia... Não se lembra de nada sobre um item do boss do quinto andar que causou problemas no beta?
— Problemas...?
Seus bigodes pintados se contraíram — eu havia mexido com seu orgulho como informante. Argo franziu os lábios por um tempo, consultando sua memória, depois eventualmente levantou as mãos em rendição.
— Odeio admitir, mas não consigo lembrar. Se puder me desculpar, eu não era uma negociadora de informações no beta. Também não era uma jogadora da vanguarda, então não participei daquela luta de boss...
— Ah, você não participou? Bem, não vou segurar isso contra você... Acho que a ALS está atrás de uma bandeira de guilda.
— Bandeira… de guilda? Por que eles querem uma bandeira?
— Como objeto, não passa de uma lança longa de baixo poder… mas se você fizer isso — Coloquei o garfo na minha mão de pé e bati sua base contra a mesa. — Quando o jogador finca-a no chão, todos os membros da guilda dentro de quinze ou dezoito metros recebem aumento de ataque e defesa, além de resistência extra contra debuffs.
— O quê...? — Argo disse, com a mesma reação atônita de Shivata. Ela apontou para o garfo na minha mão e perguntou, em rápida sucessão — O jogador com a bandeira pode se mover? Quanto tempo dura o buff? Há um limite para o número de jogadores afetados?
— A resposta para sua primeira pergunta é um meio sim. Se você tirar a bandeira do chão, o buff se desativa, mas quando você se mover e fincar novamente, ele volta a funcionar.
— Hmm.
— A resposta para sua segunda pergunta é: enquanto a bandeira estiver fincada.
— Hummm.
— A resposta para sua terceira pergunta é: sem limite, contanto que sejam membros da guilda.
— Hummmmmmm.
Argo cruzou os braços, resmungando, enquanto um pedaço de bolo de banana três vezes mais grosso que o meu e o de Asuna chegava. Com vinte centímetros de comprimento e mais de cinco centímetros de largura, era quase do tamanho de um bolo inteiro pequeno. Argo separou um quarto dele com seu garfo e enfiou todo o pedaço na boca.
— Isso é realmente um grande problema, Kii-boy.
— Exatamente...
— O aumento de status é uma coisa, mas o efeito na mentalidade dos jogadores é especialmente perigoso... Se a ALS conseguir esse item e fincá-lo durante a batalha, o moral deles vai disparar e o do DKB vai despencar. O mesmo vale para o contrário... É mais do que poderoso o suficiente para esmagar o equilíbrio instável que existe agora.
— Você pode entender por que Kibaou decidiu tentar enfrentar o boss prematuramente quando soube disso — murmurei, levando um pedaço de bolo à boca. Enquanto isso, Argo já havia feito desaparecer outro quarto de seu próprio bolo. Ela olhou para a esquerda.
— Você está bem quieta hoje, A-chan.
— Er… uh, não, não é nada! — Asuna insistiu, finalmente colocando seu cérebro consciente em funcionamento.
Ela se apressou em comer mais bolo, e Argo piscou surpresa.
— Então... como aquele bufão de cabelo espetado conseguiu a informação deste item? É meio chocante para mim que eles tenham obtido essa informação antes de mim.
— Bem, você e eu não somos os únicos beta testers, Argo — apontei.
Eu não havia contado a Argo sobre a gangue de PK que estava à espreita nas sombras de Aincrad, uma decisão que Asuna me obrigou a tomar. Naturalmente, temíamos que, se ela soubesse deles, tentaria coletar informações por conta própria — e isso era um trabalho muito mais perigoso do que compilar informações sobre bosses. Eu não duvidava da capacidade de Argo. Sabia que ela tinha a velocidade para escapar dos locais mais perigosos. Mas a habilidade do homem no poncho preto, o suspeito líder da gangue de Morte, era totalmente desconhecida. Até que eu pudesse descobrir que tipo de perigo ele representava, não queria que Argo se envolvesse com eles.
A informante sorriu de um jeito compreensivo e assentiu, aceitando.
— Bem, você tem um ponto aí. O que importa agora não é de onde as informações vieram, mas o que fazer com elas... Se for realmente um item tão grande que eles podem lootear, a ALS não será dissuadida por argumentos diretos.
— Um, eu estava pensando — Asuna começou. Ela havia terminado seu bolo um pouco mais tarde que eu e tomou um gole de chá antes de sugerir — E se simplesmente compartilharmos a informação sobre a bandeira de guilda com a DKB? O motivo pelo qual a ALS está sendo tão imprudente em querer lootear não é porque eles querem tanto, mas porque têm medo de que a DKB consiga, certo? Se Lind propuser uma maneira justa de dividir o loot..
— Sim... Não é uma má ideia...
Pensei no rosto extremamente sério de Lind. Se Shivata fosse um atleta imaginário de pista e campo, então Lind pertencia a um clube de artes marciais ou até mesmo a um clube de caligrafia.
— De qualquer forma, Lind pode ser convencido... Ele talvez consiga forçar uma conversa com a ALS. O problema é que... a administração conjunta da bandeira da guilda é impossível, quanto menos compartilhar seu poder. Uma vez que o item esteja registrado em uma guilda, não consigo imaginar que possa ser alterado, e também não seria possível separar a bandeira do bastão. No final, isso vai se resumir a um jogo de pedra-papel-tesoura, ou a um lance de dados, ou até mesmo a um duelo de grupo cinco contra cinco.
— Não consigo imaginar que Kibaou aceitaria essa proposta — Asuna murmurou. Tanto Argo quanto eu assentimos.
Kibaou tinha uma crença inabalável de que todos os recursos deveriam ser compartilhados para minimizar as baixas no jogo: col, itens, informações. Essa era a filosofia fundamental da guilda que ele fundou. Lind e a DKB acreditavam que os melhores jogadores, com o maior conhecimento e poder, deveriam lutar bravamente na linha de frente e servir como um símbolo de esperança, gerando assim a energia e inspiração necessárias para derrotar o jogo.
Eu não sabia qual estava certo. Tudo o que eu podia dizer era que ambos eram sucessores de Diavel, o cavaleiro. E ambos desejavam intensamente a bandeira da guilda para promover suas respectivas causas. Nenhum deles sonharia em ceder isso ao outro.
Por que você teve que morrer, Diavel? Perguntei ao cavaleiro falecido, reclinando-me na cadeira e olhando para o teto de madeira.
Não houve resposta, é claro. Mas, de alguma forma, ouvi suas últimas palavras se repetirem em minha mente.
— Você precisa continuar daqui, Kirito. Mate o... b—
Seu avatar explodiu em pedaços antes que ele pudesse terminar sua frase. Sim — eu também herdei algo dele. Kibaou herdou o senso de justiça do cavaleiro, e Lind adotou seu heroísmo. E o que eu herdei, como um companheiro beta tester... foi seu senso de realismo. Abri os olhos lentamente, olhei para Argo e Asuna por sua vez, e então falei.
— Vamos derrotar o boss.
As palavras derreteram no ar da sala, ecoando e desaparecendo, mas a negociadora de informações e a esgrimista não falaram.
O garfo de Argo, que havia pairado no ar por alguns momentos, finalmente perfurou a metade restante do grosso bolo de rolo, levantou a massa de esponja e creme, que desapareceu como se fosse um truque de mágica. Em verdadeiro estilo roedor, as bochechas da Rata inchavam de forma cômica enquanto ela mastigava sua refeição.
Finalmente, ela perguntou: — Você quer dizer nós três?
— Ah, nem pensar.
Afinal, quando Asuna sugeriu a mesma coisa, eu disse que era impossível, mesmo com «Kizmel», a cavaleira de elite, ao nosso lado. Asuna virou-se para mim, curiosa.
— Então quem você vai chamar para ajudar?
— Bem...
Comecei a listar os candidatos nos dedos.
— Primeiro, tem o Agil e seus três amigos; depois, talvez Nezha possa nos ajudar...
— É só isso? — Asuna perguntou, olhando para meu polegar e dedos dobrados. Eu tossi e limpei a garganta de maneira constrangedora.
— Hum, Argo, você conhece alguém...?
— Ah, não seja ridículo, Kii-boy — ela disse. Mas até minha rede de segurança, com toda a sua rede de inteligência, só conseguiu dar de ombros. — Bem, eu fico de olho nas pessoas que estão se esforçando para se juntar aos líderes, mas esse potencial significa que não posso convidá-los para uma missão perigosa. Por que você acha que tenho distribuído esses guias de estratégia nos andares inferiores de graça?
— É, boa questão... Bem, mesmo que Nezha diga sim, isso nos deixa com eu, Asuna, Argo, Nezha e o Bro Squad para um total de oito... Vou dizer que precisamos de pelo menos doze para dois grupos...
— Não, mesmo com dois grupos, isso seria difícil — Asuna disse, acenando com a mão na frente do rosto. — Você disse que mal derrotamos o boss do quarto andar com um ataque completo. Se o próximo boss for mais forte que aquele cavalo-marinho, como um grupo de doze vai vencer...?
— Hmm... Em termos numéricos, o quinto boss vai ser especialmente difícil. Supondo que cada boss se torne mais forte a cada andar — Fiz cortes imaginários na borda da mesa, separando quatro pedaços, com o quinto sendo um pouco maior — então eu imagino que o boss do quinto andar vai ser próximo em força ao boss do sexto andar. Mas a força de um boss não é medida apenas em ataque, defesa e HP. Se aquele golem gigante não foi alterado desde o beta, há uma maneira para até mesmo uma incursão de doze homens derrotá-lo. Dependendo das informações das quests do boss e da exploração da câmara do boss, é claro...
Só quando o som da minha própria voz atingiu meus ouvidos e eu processei o que estava dizendo, lembrei-me de que do outro lado da mesa, Argo já havia feito aquelas missões.
— Oh, c-certo. Que tipo de dicas as quests do boss estavam dando?
— Kii-boy, você está esquecendo que eu negocio informações para viver?
Eu rapidamente abri minha janela para propor uma troca, mas a Rata já estava sorrindo para mim.
— Eu te agradeceria pela transação... mas vou te dar isso em troca daquela dica sobre a bandeira da guilda. Falando primeiro pela conclusão, parece que o boss ainda é um golem — Ela abriu sua própria janela e mudou para a aba de notas, projetada para salvar anotações e coisas do tipo — Vamos ver aqui... Lembra o que você me contou das quests dos elfos, o segredo da criação de Aincrad e tal?
— Oh... você quer dizer a Grande Separação?
Eu já tinha dado a Argo um resumo da lenda dos elfos que «Kizmel» tinha compartilhado conosco.
Dizia que os cem andares de Aincrad não existiam como estão agora. Os vários reinos de elfos, humanos e anões foram cortados em pedaços circulares da terra e convocados para o céu para formar o castelo flutuante. Naquele momento, todos os poderes mágicos foram perdidos. Mas essa história ainda não havia desempenhado nenhum papel no jogo, fora a campanha de missões dos elfos.
Argo fez uma careta e explicou: — Bem, em uma forma resumida... esse andar era originalmente uma área industrial para um reino humano. Eles extraíam metal e minérios mágicos com feitiços e produziam em massa armas que eram vendidas para um conflito regional em outro lugar. Mas o rei daquela terra não exportava o minério mágico realmente poderoso, guardando-o para construir uma enorme arma de guerra... o golem. Quando o golem foi terminado, ele ia usá-lo para invadir os anões que eram seus rivais comerciais quando ocorreu a Grande Separação, e o golem e o rei foram convocados para o céu. O poder da magia foi perdido, então eles não puderam minerar ou refinar o material... e essa é a história.
— Ahhh, entendi...
À minha frente, Asuna percebeu algo e falou.
— Hum… agora que penso nisso, quando lutamos contra aquele mini boss zumbi nas catacumbas… ele não estava usando uma coroa?
— Sim, já que você mencionou… Então aquele zumbi gigante era o rei do passado? Mas ele não tinha o tamanho de um humano.
Argo riu da minha confusão.
— Ei, é costume que todos aqueles bosses de reis malignos dos videogames magicamente aumentem de tamanho.
— Ou então, estar em um lugar úmido por eras o fez inchar por causa de toda a umidade. Os zumbis sempre me pareceram altamente absorventes — Eu tive que mudar de assunto rapidamente quando as duas garotas franziram o nariz com o meu senso de humor afiado — De qualquer forma, voltando ao boss do andar… Se é isso que as quests do boss disseram, então parece que podemos ficar tranquilos, o golem da versão beta ainda está no lugar.
— De uma maneira básica, sim — Argo confirmou. Ela fechou sua janela e terminou o restante de seu chá. — É só que… até os bosses que pareciam iguais à sua forma beta foram alterados de alguma maneira. Os minotauros no segundo andar ganharam um companheiro extra, por exemplo…
— Isso é algo que não saberemos até investigarmos… Além disso, deveríamos planejar um método de fuga da sala do boss — eu disse, mudando para tópicos concretos de estratégia quando Asuna me interrompeu.
— Espere, Kirito. Você acabou de dizer que um grupo de doze pessoas seria suficiente para lidar com o boss, mas isso ainda nos deixa com quatro a menos. E nem sabemos se o grupo de Nezha e Agil nos ajudará…
— Se o Bro Squad disser não, estaremos em apuros. Se isso acontecer, podemos contar a Lind sobre a bandeira guil e rezar para que sua conversa com Kibaou termine pacificamente. Quanto aos outros quatro membros — Parei, então segui meu instinto — Vamos perguntar a Shivata e Liten.
— O quê?! — Asuna empalideceu, inclinando-se para trás — Você sabe que isso não vai funcionar… Eles são membros da DKB e ALS!
— Exatamente por isso. Se fossem membros do mesmo grupo, não ajudariam em um plano que enfraquece seu grupo… mas como são de grupos diferentes, acho que pode haver uma chance.
Com essa sugestão, Argo se animou e sorriu.
— Liten é a que usa a armadura de placa que acabou de se juntar à ALS? Então ela e Shivata da DKB… Ahhh, essa é nova para mim.
— Ei! Não, Argo, você não pode vender essa informação para ninguém.
— Nya-ha-ha, eu sei. Mas como o Kii-boy disse, se eles são tão próximos, podem nos ajudar. O amor é mais forte do que as regras da guilda.
Essa frase foi tão fora de caráter que eu tive que me segurar para não comentar sobre isso.
— D-De qualquer forma… se Shivata e Liten puderem trazer um parceiro cada, isso completará doze. Felizmente, ambos são membros do comitê de organização de festas, então devem estar se movendo de «Mananarena» para «Karluin» em breve. Se conseguirmos alcançá-los antes e irmos direto para a torre, suas guildas não descobrirão sobre a participação deles na batalha contra o boss… Acho…
— Você precisa ter certeza disso. Além disso, supondo que Shivata e Liten concordem em nos ajudar, como vamos ajudá-los se forem expulsos de suas guildas pelo que fizeram por nós? Não posso concordar em trazê-los para o nosso plano se você não puder me dar uma resposta adequada sobre isso — Asuna declarou decisivamente, me lançando um olhar determinado.
Nosso plano insano de tentar enfrentar o boss do andar com apenas dois grupos tinha como objetivo evitar que tanto a ALS quanto a DKB ganhassem uma vantagem incontrolável, e parecia provável que, se não conseguíssemos realizar o plano, Shivata e Liten seriam forçados a escolher entre suas guildas e um ao outro… mas Asuna não estava falando de lógica, ela estava falando de lealdade. Eles haviam confiado em nós com suas informações pessoais, e não seria correto usá-los como peões descartáveis em nosso jogo.
— O grupo de Agil tem exatamente quatro. Vou perguntar se eles se importam de deixar os outros dois se juntarem. Se isso não for possível… os convidaremos para o nosso grupo — eu disse, demonstrando uma determinação considerável. Asuna sorriu e assentiu.
Agil e Shivata estavam no quinto andar, então poderíamos contatá-los com mensagens instantâneas, mas a última vez que vimos Nezha foi no segundo andar. Se ele não estivesse aqui, teríamos que voltar pelo túnel até «Karluin», depois teletransportar para os andares inferiores e enviar mensagens lá. Se ele estivesse em uma dungeon, nem isso funcionaria, e teríamos que desistir. Com uma oração silenciosa, decidi tentar contato com ele primeiro.
FAZ TEMPO QUE NÃO NOS VEMOS. ONDE VOCÊ ESTÁ AGORA? Escrevi de forma simples.
Apenas quinze segundos depois, ele respondeu.
É UM PRAZER TER NOTÍCIAS DE VOCÊ. ESTOU COLETANDO RELÍQUIAS NA DUNGEON SOB A CIDADE.
Ergui o punho e agradeci às minhas estrelas da sorte por o festival de caça às relíquias ainda estar em andamento em «Karluin».
— Vou voltar para a cidade principal para encontrar Nezha. Asuna, você pode entrar em contato com Agil, Shivata e Liten?
— Eu?
— Sua habilidade de persuasão é muito melhor que a minha.
— Ah, é…? Ei, não existe tal habilidade no jogo! — ela fez beicinho, mesmo enquanto trazia à tona seu teclado holográfico. Enquanto isso, Argo sorriu.
— E o que eu devo fazer, Kii-boy?
— Quero que você estoque pots para nós. O orçamento não é uma variável aqui, então compre o máximo de poções boas que puder.
Abri uma janela de troca e enviei a Argo mais do que dinheiro suficiente para a viagem, depois saí do café.
O túnel subterrâneo que conectava «Mananarena» à cidade principal de «Karluin» tinha uma boa quantidade de mobs e tesouros, então a viagem poderia levar uma ou duas horas para um grupo que lutasse em seu caminho, mas esse tempo poderia ser comprimido significativamente por um único jogador correndo.
Levei pouco mais de vinte minutos para percorrer a rota de cinco quilômetros, evitando grupos de mobs e despachando indivíduos com uma boa habilidade de espada perfurante. Emergi na grande sala de espera no primeiro nível do porão da dungeon e procurei por Nezha.
Antes que pudesse encontrá-lo, ouvi alguém chamar "Kirito!" atrás de mim. Mal me virei e minha mão já estava sendo calorosamente apertada.
— Faz tanto tempo. Estou feliz em ver você novamente! — disse o mesmo ferreiro — bem, ex-ferreiro — que conheci no segundo andar. Mas, diferente de antes, não havia sombra de medo tímido em seu sorriso. Não pude deixar de sorrir e apertar de volta.
— Também é bom ver você, Nezha… ou devo chamá-lo de Nataku?
O sorriso do outro homem ficou tímido quando ele disse: — Não, só Nezha está bom. Meus companheiros ainda me chamam de Nezuo, de qualquer forma.
— Oh… eles chamam?
Olhei ao redor da câmara, mas não vi sinal dos outros Legend Braves. Nezha soltou minha mão e olhou para cima.
— Eu estava fazendo aquela caça aos artefatos com a guilda, mas eles voltaram para a cidade primeiro.
— Ahh…
Isso foi um alívio; me senti mal por isso, mas estava planejando pedir para ele fazer isso de qualquer forma. Queríamos o máximo de pessoas possível, mas, dado que os forçamos a desistir de seus equipamentos poderosos para fazer as pazes, não seria justo pedir que enfrentassem um boss mortal agora.
— Bem, desculpe pela mensagem de repente.
— Não, de jeito nenhum. O que você queria discutir? — Nezha perguntou curioso. Eu puxei seu braço para levá-lo a um canto da sala. O acampamento base para a caça aos artefatos não estava tão lotado quanto quando a cidade foi aberta, mas ainda havia uma boa dúzia de jogadores por ali.
Quando estávamos a uma distância segura, abaixei a voz e fui direto ao ponto.
— Nezha... odeio ser tão repentino sobre isso, mas preciso pedir um favor a você.
— Qualquer coisa, desde que seja algo que eu possa fazer.
— Certo, vou direto ao assunto... Quero que você me ajude a derrotar o boss do quinto andar agora.
Sob sua franja cuidadosamente dividida, seus olhos ficaram tão grandes e redondos quanto moedas de ouro de mil col, e ele engoliu o ar com força. Coloquei minha mão sobre sua boca antes que ele pudesse gritar de surpresa.
— Mrrrgh?!
Assim que o grito abafado passou, soltei-o. O ex-ferreiro respirou fundo algumas vezes antes de se virar para mim e murmurar o mais baixo que pôde.
— O que você está falando?! As duas grandes guildas são as responsáveis por gerenciar as batalhas contra os bosses de andar. Você está fazendo isso com o conhecimento delas?!
— Não, de jeito nenhum.
— De jeito nen...
Agarrei o ombro do ferreiro, sem palavras, e o puxei para mais perto, para poder explicar.
— Por razões que não vou entrar em detalhes aqui, precisamos derrotar esse boss antes da DKB e da ALS. Não vou colocá-lo em perigo direto. Você só precisa ficar na retaguarda e acertar o ponto fraco do boss na hora certa... Por favor. Você nos ajudaria?
...
Ele respirou fundo novamente, soltou o ar devagar e olhou para baixo, em direção à sua cintura. Nela pendia um fino círculo de metal com cerca de vinte centímetros de diâmetro. Era um raro chakram, pertencente à categoria de Armas de Arremesso.
Dedos que antes seguravam um martelo agora passavam pela lateral do chakram. Ele fechou o punho e o ergueu até a altura do peito.
— São razões muito importantes, imagino? — ele sussurrou. Eu assenti.
— Isso mesmo. Importantes o suficiente para determinar o futuro do grupo da linha de frente... de SAO como um todo.
— Então, tudo bem — Nezha disse, batendo em meu ombro. — Como você parece estar com pressa, vou deixar você explicar enquanto seguimos. Apenas lidere o caminho.
— Obrigado — eu disse, e me virei em direção às escadas que acabei de descer.
Não era como se eu não tivesse receios sobre isso. Com base no equipamento dele, estimei que o nível de Nezha estava em torno de 12 ou 13. Não estava completamente fora da margem de segurança para enfrentar o boss do quinto andar, mas definitivamente também não estava acima dela.
Claro, eu não planejava colocar Nezha na linha de frente. Eu queria que ele fornecesse ataques de longa distância da retaguarda. O boss golem usava apenas ataques físicos com seus membros, então, com uma distância segura, não haveria preocupação em perder HP...
Mas os quatro bosses anteriores me ensinaram que, em suas batalhas, não havia garantias absolutas.
«Illfang, The Lord Kobold», boss do primeiro andar, usou habilidades com Katana que não estavam na versão beta para tirar a vida do cavaleiro Diavel.«Karluin»
«Asterios the Taurus King», boss do segundo andar, quase exterminou todo o grupo com um ataque de respiração elétrica que nunca havia sido visto na beta.
«Nerius, The Evil Treant», boss do terceiro andar, usou um novo ataque de veneno em grande escala que teria destruído a incursão se não tivéssemos estocado uma grande quantidade de antídotos.
E «Wythege, The Hippocampus», boss do quarto andar, inundou a câmara do boss com água, quase afogando toda a incursão.
Era evidente que o boss golem do quinto andar também seria diferente da versão beta de alguma forma. Precisávamos observar esses detalhes cuidadosamente com antecedência para eliminar todos os perigos inesperados. Agora que estávamos trazendo Nezha para isso, "não sabiamos" não seria mais uma desculpa aceitável.
— Já contatei minha equipe. Devo ficar bem pelo resto do dia — Nezha disse depois de uma longa sequência de toques no teclado. Olhei para ele de perto — ele realmente parecia diferente do que era antes.
— Tudo bem. Vamos lá.
CONTINUA NA PARTE 9 DIA 28/07
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