Volume 4
SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 4)
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PARA ALÍVIO DE ASUNA, A ESCADARIA NÃO MERGULHOU imediatamente em uma atmosfera escura e fantasmagórica. Na verdade, já havia várias dezenas de jogadores na grande sala ao fundo das escadas. Eles estavam reunidos em pequenos grupos aqui e ali, realizando reuniões ou tomando café da manhã — alguns até encolhidos em sacos de dormir ao longo das paredes.
— Essa é uma área segura? — Asuna perguntou, e Kirito se virou para ela com uma expressão perplexa no rosto.
— Pelo contrário, ainda estamos no refúgio seguro. A notificação nunca apareceu, certo?
— Oh... c-certo...
A tensão deixou seus ombros, e ela olhou ao redor novamente. Com isso em mente, percebeu que quase nenhum dos jogadores ali era guerreiro da linha de frente. A maioria dos grupos tinha equipamentos do segundo ou terceiro andar, e alguns eram turistas desarmados.
— Então, todos estão aqui para encontrar relíquias.
— É o que eu imagino. Provavelmente já vasculharam este quarto e agora estão se dirigindo às ruínas subterrâneas próximas...
De repente, o rosto de Kirito ficou sério. Ela o encarou com um olhar curioso, e ele deu de ombros e murmurou:
— O primeiro andar subterrâneo estava dentro do refúgio seguro no beta. Então, sem mobs e sem armadilhas. Acho que todos vieram aqui para coletar relíquias com base nas notícias sobre isso, mas…
— Há algo errado com isso?
— Não, desculpe, só estou pensando demais. Vamos continuar.
Kirito começou a liderar o caminho, mas parou e fez um gesto para Asuna ir na frente. Ela suspirou internamente e olhou para as portas que saíam de cada parede da câmara.
Por favor, que eu encontre a missão do filhote ou do gatinho primeiro, ela rezou silenciosamente e escolheu o corredor na parede norte.
O quarto em si estava bem iluminado por várias fogueiras, mas o corredor ficou imediatamente escuro e sombrio, fazendo Asuna fazer uma careta. Enquanto isso, a chuva da qual eles estavam tentando escapar parecia estar escorrendo pelas paredes, pingando aqui e ali e ocasionalmente caindo em sua cabeça ou ombros.
Com as coisas tão quietas, ela ia acabar esquecendo que ainda estavam dentro do refúgio seguro da cidade, então Asuna olhou por cima do ombro para iniciar uma conversa com Kirito.
— Então, acho que chove em Aincrad.
— Não choveu várias vezes antes disso já?
— Não me lembro. Sei que nevou durante o Natal, mas...
— Ah, certo. Bem, é verdade que isso acontece raramente. Em MMORPGs antes deste, chuvas e tempestades eram ocorrências regulares, mas é muito mais desagradável em um VRMMO. Como você viu, arruina a visibilidade; torna seu equipamento pesado, suas roupas grudam em você; e é muito frio... Choveu muito mais no início do beta, mas reduziram a probabilidade quando os players reclamaram.
— Ah, então foi isso que aconteceu. É uma pena... Eu gosto de assistir a chuva.
Enquanto conversavam, ela começou a se acalmar. Por mais que parecesse, esse lugar ainda estava dentro da segurança da cidade, e eles nunca veriam nenhum mob. Precisavam resolver a montanha de missões, ganhar um nível e se preparar para enfrentar o andar de verdade.
Ela apertou o punho de sua espada, sentindo-se novamente encorajada.
Asuna abriu sua janela no caminho e verificou seu mapa praticamente vazio, pegando um desvio do corredor principal em direção ao destino da missão. Eles passaram de lado pelo corredor estreito de um pé de largura, depois rastejaram por um túnel de apenas 60 cm (desta vez, ela fez Kirito ir na frente) enquanto se aproximavam do marcador.
Eventualmente, chegaram a um lugar parecido com uma pequena capela. Havia uma fileira de bancos longos, e próximo à parede nos fundos havia uma estátua desmoronada de aparência assustadora. Várias velas espalhadas pelo chão forneciam alguma luz, mas os cantos do espaço estavam imersos na escuridão. Parecia o lugar perfeito para encontrar algumas relíquias, mas não havia outros jogadores presentes.
Sentindo uma sensação muito ruim vinda do lugar, Asuna sussurrou para Kirito.
— Qual missão acontece neste lugar?
— Hã...? Agora você quer spoilers?
— Só me diga isso.
— Bem, se você só quer o título... é o 'Lamento de Trinta Anos'!
...
Ela conseguiu não demonstrar o quão horrorizada estava com sua terrível sorte e verificou o registro de missões.
A história da missão era bem simples. O cliente NPC era um solteiro de meia-idade que havia se mudado recentemente de outra cidade no mesmo andar, mas estava perturbado por ruídos estranhos e talheres caindo tarde da noite em sua nova casa. Ele queria ajuda, então Asuna e Kirito verificaram seu porão, mas não encontraram sequer um rato. O registro terminava com uma sugestão de que eles deveriam descer mais fundo abaixo da cidade.
— Então isso significa que esta capela fica diretamente abaixo da casa desse homem? — ela perguntou. Kirito sorriu.
— Faz sentido se você trocar seu mapa.
...
Ela fez o que ele disse, indo para a aba do mapa e pressionando os botões de seta que trocavam entre os níveis verticais, passando do primeiro nível subterrâneo para o nível acima do solo. Como ele disse, o marcador de localização atual no subsolo e o marcador do NPC da missão na cidade coincidiam perfeitamente.
— Ah, entendi. Então é daqui que vêm as vibrações misteriosas — ela corrigiu, fechando o mapa e olhando novamente ao redor da capela. Mas não viu nada que pudesse ter algum efeito sobre a casa acima, seja biológico ou não.
Normalmente, seu parceiro tomaria a dianteira e lhe daria a resposta, mas desta vez, ele ficou para trás, como um professor observando seu aluno durante o processo de aprendizado. Era o resultado de um mal-entendido, mas também era verdade que ela precisava ser capaz de terminar missões sozinha a essa altura. Não havia garantia de que a parceria temporária deles algum dia seria permanente...
Ela decidiu resolver essa por conta própria e passou a revisar as informações em sua mente.
Uma casa em «Karluin» estava sofrendo de fenômenos sobrenaturais todas as noites. Acreditava-se que a causa era subterrânea, então eles foram ao local nas catacumbas sob a casa, onde encontraram uma capela obviamente assustadora e suspeita. Para encontrar a fonte do fenômeno, poderiam vasculhar toda a capela em busca do objeto apropriado — ou fazer o fenômeno acontecer diante de seus olhos.
Não encontraram nada, então teriam que tentar a última opção.
Assim que chegou à sua conclusão, Asuna olhou para cima.
— Aquele homem não disse que a casa começava a tremer por volta das duas da manhã?
— Disse sim — confirmou Kirito.
— Então... precisaremos vir aqui às duas horas para descobrir a origem do som, certo?
— Boa ideia. Essa é a maneira tradicional de resolver isso. Na verdade, muitas quests têm restrição de tempo desse tipo.
— Olha... agradeço o elogio, mas agora são só nove horas da noite. Vamos ficar aqui parados até às duas da manhã? — ela perguntou, irritada.
Kirito balançou o dedo teatralmente.
— Poderíamos, mas também é verdade que muitas quests desse tipo têm um pequeno atalho. Espere, e uma dica vai aparecer... ah, olha aí!
Ele começou a empurrá-la para trás, mas ela afastou a mão dele com um tapa.
— O que você quer dizer com 'uma dica vai aparecer'? — ela perguntou, confusa.
De repente, ela ouviu passos arrastados e assustadores vindo de trás. Ela segurou desesperadamente o grito que quase escapou de sua garganta e se escondeu atrás de Kirito, lembrando-se de que estava na segurança da cidade.
Parado silenciosamente na porta pela qual haviam passado minutos antes estava um pequeno NPC, parecido com uma criança. Seu rosto estava escondido sob o capuz de um manto cinza escuro, mas seus pés descalços eram extremamente grandes em comparação com o resto de sua figura, e seus braços eram igualmente longos. Em sua mão esquerda, carregava um saco sujo, e na direita, uma longa vela.
O cursor amarelo indicava que era um NPC, mas ela não conseguia ter certeza de sua humanidade. Enquanto o observava com medo por cima do ombro de Kirito, o pequeno homem (ou pelo menos ela achava que era um homem) arrastou os pés pelo chão da capela, aproximando-se de uma das pilhas de velas espalhadas pelo local.
Ele se agachou e tirou uma nova vela do saco, acendendo-a com uma das velas quase apagadas e colocando-a no chão. Depois, foi para a próxima pilha e repetiu o processo. Parecia ser uma espécie de zelador da capela subterrânea, mas a espécie daquela criatura ainda era incerta.
Ele devia ser o que Kirito chamava de "dica". Nesse caso, ela tinha que ser corajosa e obter as informações. Podia parecer assustador, mas era só um design. Não passava de dados. Ela reuniu coragem, saiu de trás de seu parceiro e foi em direção ao pequeno homem.
— Ol… Olá.
…
Ele parou de repente e, lentamente, virou-se para ela. O capuz estava completamente escuro, mas os dois olhos brilhavam fracamente dentro dele.
— Hum... você é quem troca todas as velas aqui? — ela perguntou para começar. O pequeno homem acenou com a cabeça em silêncio. Aliviada por poder se comunicar, ela continuou — Hum, você já viu algo estranho acontecer aqui tarde da noite?
…
O pequeno homem não respondeu, e ela se perguntou se sua pergunta foi um pouco vaga demais, mas sua longa pausa foi interrompida por uma voz rouca.
— Não venho aqui à noite. Acordo de manhã e acendo as velas. Durante o dia, coloco mais velas. À noite, apago as velas e vou dormir.
Ele voltou a caminhar. Depois de colocar uma nova vela na última pilha, saiu da capela, arrastando os pés.
Quando os passos do pequeno homem desapareceram, Asuna pensou que tudo tinha acabado. Se as palavras dele fossem verdadeiras, as velas iluminavam a capela da manhã até a noite. Ela não tinha horários concretos, mas isso sugeria que às duas da manhã, no meio da noite, a capela estaria totalmente às escuras.
— Ah...
Ela olhou para Kirito. Ele não disse nada. Ela foi até a pilha de velas mais próxima, se agachou e as apagou. A capela ficou cerca de um quarto mais escura e mais assustadora do que antes, mas ela tinha certeza de que essa era a resposta.
— Apague aquelas velas, Kirito! — ela ordenou, apagando a próxima pilha.
Quando ele terminou de apagar a última pilha alguns momentos depois, a capela mergulhou na escuridão total. Era impossível se mover assim, então Asuna estava prestes a abrir sua janela para pegar sua própria lanterna quando uma luz azul pálida iluminou suas mãos.
— Obrigada — ela disse, olhando para cima para agradecer a seu parceiro pela consideração, mas Kirito estava distante, de mãos vazias. Ela olhou ao redor, se perguntando de onde vinha a fonte de luz. O chão no centro da sala estava brilhando fracamente.
Não era o musgo brilhante da caverna das aranhas no terceiro andar, nem um item mágico com propriedades luminosas. Não havia calor... Na verdade, a luz vazia parecia encher a sala com um frio gélido.
— Hyoooo…
Um som semelhante ao farfalhar de galhos perturbou o ar da capela. Asuna se levantou de um salto, o corpo rígido. Algo estava emergindo do chão e tomando forma. Era uma mão pálida, transparente e magra como um galho.
...Por favor, por favor, por favor, não, não, não, não, não.
Claro que sua súplica silenciosa não impediu a coisa de se transformar. Ela emergiu do chão com outro gemido de ódio — primeiro um braço, depois um ombro. Cabelos longos e desgrenhados, um corpo esquelético... Era uma mulher. Mas onde deveriam estar os olhos, havia apenas chamas vermelhas e tremeluzentes, e presas afiadas sobressaíam de sua boca.
Não importava o quanto Asuna se concentrasse, nenhum cursor aparecia. Mas claramente não era um NPC ou jogador. Era um mob — não, um fantasma.
A aparição, que demorava a se materializar para realmente causar o máximo de terror, brandia mãos com unhas longas como garras e emitia um terceiro grito.
— Hyoooooh…!!
De repente, toda a capela tremeu violentamente. Os bancos caíram, um após o outro, e pequenos pedaços de pedra caíram das paredes e do teto. Ela tinha que se manter firme, ou poderia perder o equilíbrio... mas seu corpo não obedecia. Todos os seus sentidos estavam distantes, e seu corpo rígido tombou como um pedaço de madeira—
— Ei, aí — uma voz sussurrou em seu ouvido enquanto braços finos mas poderosos a apoiavam pelas costas. De alguma forma, Kirito agora estava bem ao seu lado — Ah... você não gostou? Achei que era um efeito de casa mal-assombrada bem legal — Então ele notou o estado anormal de Asuna — Você está bem?
Ela tentou tranquilizar seu parceiro preocupado, mas sua boca não funcionava direito. Ele percebeu seu problema, passou o braço esquerdo ao redor dela para apoiá-la, e a conduziu até a parede.
O fantasma continuou a lamentar enquanto ele fazia isso, e a capela apenas vibrava mais intensamente. Era claramente a origem dos problemas do NPC da quest, mas foi o máximo que a mente de Asuna conseguiu processar. Ela fechou os olhos o mais forte que pôde nos braços de Kirito, rezando para que o fantasma desaparecesse logo.
Os próximos quinze segundos pareceram muito mais longos do que isso, mas, finalmente, o tremor começou a diminuir. A voz do fantasma se acalmou, foi enfraquecendo, até desaparecer.
Quando o silêncio voltou, Asuna soltou o fôlego que estava segurando. Quando seus sentidos entorpecidos retornaram, ela percebeu que o braço de Kirito estava ao redor dela, o que fez a vergonha subir. Ela abriu os olhos para dizer a ele que estava bem, que podia ficar de pé sozinha…
A cerca de um palmo do seu nariz estava um rosto fantasmagórico, emitindo uma luz azul pálida.
— Yaaaaaaaah!!
Asuna soltou um grito ensurdecedor que superou em muito o do fantasma, agarrou Kirito com toda a sua força e enterrou o rosto em seu casaco de couro preto.
Quando ela ficou tão assustada com coisas fantasmagóricas? Ela nem se lembrava do motivo. Asuna não tinha medo de nada sobrenatural. Dependendo do tipo, alguns yokai japoneses tradicionais eram até fofos, e ela gostava de filmes de zumbis. Mas o que ela não conseguia lidar eram coisas "fantasmagóricas" — seres sem corpo, que podiam aparecer e desaparecer à vontade, flutuando através de paredes e pisos. O que a incomodava era a incerteza de não saber se eles estavam realmente ali.
Ela havia enfrentado uma grande variedade de mobs desde que ficou presa no SAO, mas ainda não tinha enfrentado um único mob do tipo fantasma e incorpóreo (Ausência de um corpo físico real). Ela esperava que isso significasse que eles não tinham sido programados, mas claramente era um sonho impossível. Kirito havia mencionado um "espírito maligno" antes, e, como esperado, a origem dos tremores que atormentavam a casa do velho não era outra senão uma assombração.
Agora aquela criatura espiritual estava flutuando a poucos centímetros de distância, observando Asuna com olhos brilhantes e assustadores.
Com isso em mente, não havia absolutamente nenhuma chance de ela tirar o rosto do casaco de Kirito. Ela queria completar essa quest sozinha para reduzir sua dependência do parceiro temporário, mas bastou um único instante para que essa determinação fosse despedaçada. Tudo o que ela podia fazer era manter a boca fechada para não gritar novamente.
Depois do que pareceram ser dez segundos, seu parceiro murmurou: — Hum... Asuna-san...?
Ela manteve o rosto pressionado contra o casaco dele para não ver nada e murmurou: — O fantasma já se foi?
— Hum... não, ele ainda está bem aqui...
— Yaaaaaah!!
Ela gritou novamente, mas agora não tinha mais jeito. Ela balançou a cabeça rapidamente de um lado para o outro e implorou como uma criança pequena: — Faça-o ir embora! Expulse-o agora!!
— Bem, precisamos avançar na quest para isso…
— Então avance com a quest!!
Kirito tentou se afastar dela, mas Asuna apenas apertou mais o casaco dele.
— Não, fique aqui!!
— E-Entendido.
Ele tentou manter o corpo de Asuna no lugar enquanto se virava levemente para falar com o fantasma
— Hum, Fantasma-san... por que você está causando tumulto nesta capela?
Depois de alguns momentos, veio uma voz ecoante que soava como o vento assobiando. Asuna sentiu um grito prender-se em sua garganta, mas conseguiu contê-lo a tempo.
— Porque... eu não posso sair…
— Por que você não pode sair?
— Estou presa... dentro deste lugar...
Ainda era assustador, claro, mas a voz parecia mais tingida de tristeza do que de ódio. Esse reconhecimento ajudou a mente de Asuna a funcionar um pouco melhor, e, mesmo com o rosto pressionado contra o peito de Kirito, ela percebeu algo.
Quando eles entraram na capela, a porta estava um pouco desalinhada, mas não estava trancada. E era um fantasma sem corpo, então deveria ser capaz de atravessar qualquer porta ou parede como quisesse.
Como Kirito tinha a mesma suspeita — bem, mais porque ele conhecia o padrão de conversa necessário para completar a quest — ele conseguiu conduzir a conversa fantasmagórica com bastante tranquilidade.
Ela (?) havia sido presa dentro desta capela há trinta anos, quando ainda estava viva. Quem a trancou ali foi o homem a quem ela havia prometido sua vida. O ódio que sentia por ele era o que a mantinha acorrentada a este lugar.
Depois que todas essas informações foram reveladas, a presença do fantasma começou a desaparecer. Asuna ainda não tirava o rosto do casaco de Kirito, então ele perguntou cuidadosamente: — Hum, Asuna-san…?
— Ele foi embora?
— Sim, por enquanto.
— E não vai voltar?
— Por agora, não
Ela soltou um suspiro profundo e sentiu seus ombros relaxarem. Com o fim da aparição do fantasma, o medo foi diminuindo, apenas para ser substituído por um desconforto crescente.
Afinal, ela tinha gritado a plenos pulmões e enterrado o rosto no peito do seu parceiro, onde ainda permanecia. Ela não tinha ideia de como sair dessa situação e manter a dignidade.
Enquanto permanecia imóvel e de cabeça baixa, ouviu a voz igualmente desconfortável de Kirito dizer: — Hum, bem… desculpe por não perceber que você tinha problemas com… tipos astrais…
O termo desconhecido fez com que ela levantasse um pouco a cabeça.
— Astrais?
— É uma categoria de mob. Kobolds e goblins são semi-humanos, aranhas gigantes e louva-a-deus são insetos, golems e gárgulas são encantados, e assim por diante. Espectros e aparições como a que acabamos de ver — basicamente, mortos-vivos sem corpos sólidos — são tipos astrais. Os outros mortos-vivos com corpos físicos, como ghouls e esqueletos, são classificados como mortos-vivos.
— Ahh…
Quando ele explicava assim, isso ajudava a reforçar o conceito de que tudo isso era apenas dados em um computador, fantasma ou não. Asuna contou até três e se forçou a se afastar.
Depois de olhar ao redor para garantir que o caminho estava realmente livre, ela deu um passo para longe de Kirito — que estava ajoelhado no chão — colocou as mãos nos quadris e anunciou: — Eu só fiquei assustada porque ele apareceu do nada. Só isso.
— Certo…
— Sim, eu posso não gostar de fantasmas… ou de astrais, ou seja lá como chamam, mas não é assim para a maioria das garotas?
— Certo.
— Então vamos esquecer que isso aconteceu e não precisamos mencionar isso no futuro.
— Certo…
Depois de concordar com ela três vezes, Kirito se levantou. Com base em experiências anteriores, ela interpretou o tremor nas narinas dele como um sinal de uma intensa batalha interna sobre se ele deveria ou não provocá-la, e o encarou com um olhar severo.
— E absolutamente nada de brincadeiras infantis!
— Sim, sim — ele respondeu como um menino repreendido e começou a reacender as velas. Finalmente, Asuna se sentiu confortável o suficiente para esboçar um pequeno sorriso novamente.
Eles vasculharam a área onde o fantasma apareceu e encontraram um pingente de ouro marcado como um item de quest, então voltaram para a cidade. Quando fizeram um NPC identificar o pingente, descobriram que não era uma relíquia, mas o símbolo de uma família de comerciantes ricos em «Karluin». Eles se dirigiram para a mansão da família.
Após uma breve discussão com o guarda no portão, eles conseguiram se encontrar com o líder da família, um homem de cinquenta e poucos anos, a quem mostraram o pingente da capela subterrânea. Ele começou a chorar e admitiu seu pecado do passado. Ele havia se cansado da garota com quem estava noivo trinta anos atrás e a atraiu para a capela sob o pretexto de caçar relíquias. Quando a trancou lá dentro, ela arrancou o pingente de suas mãos.
Asuna quis socá-lo bem no rosto, mas Kirito a alertou de que isso cortaria a quest, então ela conteve-se, seguiu o homem de volta à capela subterrânea. Eles apagaram as velas novamente, a garota espectral apareceu, e o comerciante se ajoelhou e começou a implorar perdão pelo seu crime.
O fantasma finalmente desapareceu; eles escoltaram o homem de volta à mansão, receberam algumas recompensas e acabaram de fechar a porta do escritório quando começou um terrível estrondo. Ao abrir a porta, o homem havia desaparecido… Um final um tanto assustador, mas satisfatório para a quest "Lamento de Trinta Anos".
Quando deixaram a mansão e voltaram para a praça central, com Kirito distraidamente conferindo suas recompensas da quest, Asuna comentou: — Sabe… essa quest parece um péssimo exemplo para crianças.
— Hmm? Ahh… verdade. O NerveGear não é para uso de menores de treze anos, e o SAO tinha uma classificação etária recomendada de quinze anos ou mais, então não há crianças de verdade aqui… Eu acho.
— Sim, eu suponho que sim…
Agora que ele mencionou, Asuna havia completado quinze anos apenas um mês antes do lançamento do SAO, então ela mal tinha entrado na faixa etária recomendada.
Se ela ainda tivesse quatorze anos em 6 de novembro, será que ela nem teria jogado o jogo? Será que teria desistido de pegar emprestado o NerveGear do irmão e escapado do destino dessa armadilha mortal?
…Não, ela finalmente decidiu. No dia em que seu irmão estava, por azar ou sorte, trabalhando no exterior, ela se esgueirou para o quarto dele, encontrou o NerveGear já configurado, e o colocou na cabeça sem sequer se preocupar em verificar a classificação etária do jogo.
Mas supostamente ela já havia desistido de se arrepender do passado quando deixou o quarto da pousada na cidade inicial. Agora, a única coisa a fazer era manter os olhos no impossível centésimo andar… e seguir em frente na tentativa de vencer o jogo. E se algum mob do tipo astral aparecesse, ela simplesmente faria um breve desvio.
— Bem, vamos seguir para a próxima quest… Melhor não ter nenhum fantasma na quest do cachorrinho. Ou tem? — ela perguntou ao parceiro.
Dessa vez, ele não conseguiu evitar um sorriso malicioso.
— Provavelmente não. Mas nunca se sabe, pode ser um cachorro fantasma.
✗✗✗
Depois de terminarem as outras duas missões subterrâneas (felizmente, não temáticas de terror) e concluírem as outras na cidade, já era hora do entardecer, e ambos haviam subido de nível — Kirito para o 18, Asuna para o 17. Enquanto caminhavam pelo mesmo caminho da noite anterior em direção ao restaurante e à pousada, Asuna resmungou para seu parceiro: — Por alguma razão, parece que eu nunca vou alcançar você em nível.
— Hã…?
— Bem, a quantidade de experiência necessária para subir de nível é maior para você do que para mim, certo? Então, como é possível que você esteja sempre exatamente um nível acima de mim?
— Ah, certo — Kirito pensou em como responder à pergunta e coçou a cabeça de forma desajeitada — Bem, não há bônus de grupo para a experiência ganha em SAO, então, quando várias pessoas derrotam um mob, a experiência é dividida entre elas, mas não é uma divisão igual… Ela leva em consideração o dano e os debuffs infligidos, além do tempo que ficou sendo alvo e coisas do tipo. Nosso padrão de combate atual geralmente me faz atrair a atenção do inimigo o tempo todo, então…
— Ah, entendi…
Nesse caso, ela não podia reclamar. Quando encontravam um mob, Kirito sempre atacava primeiro e usava uma habilidade de espada; depois, ela entrava e fazia um ataque normal, finalizando com uma habilidade de espada própria. Mas, como essa ordem fazia com que Kirito fosse o alvo, era natural que ele acabasse ganhando mais experiência. E, considerando que ele tinha muito mais conhecimento, experiência e técnica do que ela, não era lógico para Asuna assumir esse papel.
— Hrrm — ela resmungou, incapaz de aceitar esse fato de imediato.
Kirito eventualmente ofereceu uma fraca continuação.
— Ei, estamos chegando a um ponto onde um nível a mais faz pouca diferença… E ambos estamos bem dentro da margem de segurança, então não deveria se preocupar com isso…
— Rrrmmm — ela disse, acenando com a cabeça apesar do semblante sério.
Kirito estava certo, é claro, e ela não estava planejando sugerir uma mudança nos deveres de combate, mas ainda assim se sentia mal com isso.
Desde que chegaram ao quinto andar, ela sentia que suas piores qualidades estavam em exibição. Deixou sua ganância aparecer ao procurar relíquias; gritou para o mob astral; e até pediu por um duelo pessoal, apenas para desistir antes de qualquer um deles desferir um golpe. Ela ao menos esperava alcançar seu parceiro em nível, mas isso só serviu para lembrá-la de que estava contando com ele até mesmo no combate normal.
Sim, sua parceria poderia ser temporária, mas ela não queria ser a que estava sempre recebendo ajuda. Ela precisava oferecer algum benefício, algo que pudesse oferecer ao outro.
…Eu preciso pensar no que posso fazer.
Mal havia chegado a essa resolução quando atravessou a porta do restaurante que Kirito estava segurando aberta para ela e se repreendeu por não ter percebido isso.
✗✗✗
Mesmo na terceira noite no quinto andar, o restaurante Blink & Brink estava surpreendentemente vazio. Era o auge da hora da refeição, mas não havia jogadores no terraço ao ar livre ou dentro do restaurante.
— Huh…? — Kirito exclamou enquanto se sentava na mesma mesa da última vez, examinando o menu.
— O que foi?
— Bem… essa torta de blueberry ainda não esgotou… Eu imaginei que, a essa altura, já estariam fazendo fila para comprá-la antes mesmo de o restaurante abrir.
— Isso é surpreendente… Especialmente porque tantas pessoas estão caçando relíquias no subsolo. Será que estão fazendo isso sem o bônus de visão, então?
— Eu suponho que sim…
Enquanto isso, a garçonete NPC chegou para anotar o pedido, então eles pararam para cuidar disso. Eles brindaram com o ficklewine pelo bom trabalho do dia — branco para Asuna, espumante vermelho para Kirito — e deram um gole.
Kirito bebeu metade do vinho de uma vez, então examinou a taça de flauta borbulhante e disse: — Eu gosto do sabor, mas não acho que essa coisa de espumante vermelho vai pegar…
— Oh, isso é real. Existe o Lambrusco da Itália, e o Shiraz da Austrália, e assim por diante.
— O quê, sério? Você sabe demais, Professora Asuna — ele respondeu, com os olhos arregalados de admiração.
Ela negou com um sorriso presunçoso, depois olhou para baixo e acrescentou: — Não é como se esse conhecimento tivesse algum valor aqui…
— Isso não é verdade.
— Huh?
Ela olhou para a expressão seriíssima de Kirito.
— Há muitos momentos em que o conhecimento do mundo real é útil para resolver missões e quebra-cabeças… Além disso, Aincrad pode parecer um mundo de fantasia à primeira vista, mas não é um verdadeiro outro mundo. Nós e os NPCs falamos todos japonês, e as interações dos jogadores estão todas enraizadas em valores japoneses modernos. É um tabu falar sobre o outro lado, mas não podemos simplesmente ignorá-lo completamente assim…
Whoosh, whoosh — Asuna acenou com a cabeça. Seu parceiro voltou a olhar para o menu, esperando mudar o tópico e o clima.
— De qualquer forma, saber que ainda estão vendendo a torta de blueberry me dá vontade de comer uma. O bônus é ótimo e tudo, mas eu gosto do sabor.
— Concordo — Asuna disse, lembrando-se do frescor azedo dos blueberries e da espessura cremosa do creme. — Mas eu me pergunto por que não esgotou. Você não encontraria um bônus melhor para caçar relíquias.
— Talvez a Argo não tenha colocado isso no guia de estratégias dela? Ou, na verdade — Kirito observou, olhando para a praça de teletransporte — Eu não acho que vi o guia de estratégias da Rata na loja de itens. Talvez ela ainda não tenha começado a consigná-los.
— Agora que você mencionou… até agora, o primeiro volume do guia dela sempre saía na noite seguinte à abertura do andar.
— Hmm. Bem, tenho certeza de que ela tem seus próprios motivos… Talvez eu devesse mandar uma mensagem para ela.
Kirito colocou o garfo de lado e abriu o menu, digitando rapidamente uma mensagem no teclado holográfico. Alguns segundos depois, ele franziu a testa.
— Não quer enviar…
— Talvez ela esteja em outro andar? — sugeriu Asuna.
Kirito olhou para o lado, de forma evasiva, e murmurou: — Não… era uma mensagem de amigo.
Isso veio como uma grande surpresa para Asuna, que era sua parceira temporária, mas não estava adicionada como amiga dele. Ela soltou um longo e enfático — Ohhhhhhh?
Kirito rapidamente explicou: — Er, é só… Eu compro muitas informações dela e ofereço as minhas de vez em quando, então é só mais conveniente tê-la adicionada…
— Eu não disse nada — ela observou com um sorriso, apenas para considerar a nova informação por um momento. Uma mensagem instantânea regular poderia ser enviada para qualquer jogador cujo nome você conhecesse (e pudesse soletrar corretamente no alfabeto ocidental), mas as restrições de espaço eram severas, e não chegaria a menos que ambos estivessem no mesmo andar. Enquanto isso, as mais abrangentes "mensagens de amigo" poderiam ser enviadas para qualquer amigo adicionado, independentemente do andar, desde que não estivessem em uma dungeon ou mapa instanciado.
— Então isso pode significar que Argo está em uma dungeon agora — sugeriu Asuna, ao que Kirito assentiu seriamente.
— Sim... provavelmente. Mas não me lembro se havia alguma informação nessa dungeon importante o suficiente para atrasar o lançamento do guia do andar...
— O que você quer dizer com 'essa dungeon'?
— Ah — Kirito olhou para o chão do terraço — o primeiro nível das catacumbas subterrâneas em que estávamos hoje fica dentro da zona segura, então a mensagem a alcançaria lá. Mas, a partir do segundo nível, é tratado como uma dungeon e, tecnicamente, fica fora da cidade.
— Ah... Entendi. Quantos níveis tem?
— Três, eu acho. Há um mini boss de área no fundo, e se você derrotá-lo, isso abre um túnel de atalho para a próxima cidade.
— Então não é apenas uma sub-dungeon menor. Suponho que não seria estranho Argo estar coletando informações de uma dungeon necessária...
Kirito balançou a cabeça, ainda com uma expressão de dúvida.
— Sim... talvez você esteja certa. É uma dungeon ligada à cidade, então tenho certeza de que ela quer cobri-la completamente em sua primeira edição.
— Tenho certeza de que ela vai aparecer do nada, como sempre faz.
— Sim... Vamos comer.
Finalmente sorrindo, Kirito fechou sua janela e pegou o garfo novamente.
✗✗✗
Como ainda não tinham esgotado, os dois decidiram pedir as tortas de mirtilo novamente e encerrar a noite, alugando um quarto no segundo andar do Blink & Brink, que também funcionava como uma pousada.
No corredor, combinaram um horário para se encontrarem pela manhã, desejaram boa noite um ao outro e abriram portas adjacentes. Asuna hesitou por um segundo, mas Kirito bocejou profundamente e desapareceu em seu quarto, então ela fez o mesmo e fechou a porta com força.
Ela abriu sua janela para acessar seu manequim de equipamentos, apertou o botão REMOVER duas vezes para ficar de roupa íntima, e então se jogou na cama. Depois de enterrar o rosto no travesseiro grande, ela resmungou uma série de interjeições.
— Hmph! Tudo bem! Não me importo mesmo!
Logicamente, ela entendia. Não havia mérito em adicionar Kirito como amigo no momento. Considerando que eles eram atualmente uma equipe trabalhando juntos, eles não poderiam se separar em andares diferentes, então mensagens instantâneas seriam suficientes caso precisassem se comunicar à distância.
Mas, emocionalmente, ela não podia deixar de se perguntar por que ele simplesmente não perguntava. Tudo o que ele precisava fazer era dizer algo como — Bem, devemos nos adicionar também, só por precaução? — e ela responderia tranquilamente — Claro, por que não?
Enquanto estava deitada na cama, resmungando, ela relembrou a conversa com Kirito na noite anterior.
Quanto tempo você pretende trabalhar comigo? Até você ser forte o suficiente para não precisar de mim.
Talvez fosse esse o limite que Kirito queria impor. Eles eram parceiros, não amigos... então, quando chegasse o momento inevitável de se separarem, seria mais fácil fazê-lo se não estivessem adicionados como amigos.
— Não. Ele é apenas insensível e desatento — ela resmungou, então finalmente relaxou e se virou. Olhou para o teto — que tremeluzia com o jogo de luz e sombra da lanterna do quarto — e murmurou — Tudo bem. Um dia vou pedir para sermos amigos... quando eu for tão forte quanto você.
Ela esticou os braços para cima, juntou as mãos, e então balançou para trás, usando o impulso para se levantar de uma vez. Decidindo tomar um banho, Asuna olhou ao redor do quarto, mas não viu nada parecido com uma porta de banheiro. Ao tocar na parede, apareceu uma janela de referência do quarto, mostrando no mapa que não havia banheiros anexos; havia apenas um grande no final do corredor superior.
Ela entrou em pânico brevemente, pensando no grande salão de banho no Castelo de Yofel, mas percebeu que, ao contrário daquele banho misto, este era devidamente separado por sexo. No entanto, não estava claro se isso era realmente uma regra ou apenas uma diretriz de boa conduta.
Por precaução, ela colocou sua roupa casual e configurou para poder equipar o maiô que havia criado no quarto andar, se necessário, e então saiu. Ela havia acabado de virar o primeiro canto em direção ao banho, que ficava no lado oposto do andar em relação à escada, quando ouviu uma porta se abrir e fechar atrás dela e instintivamente se encostou na parede.
Ao espiar em volta do canto, viu uma figura caminhando pelo corredor escuro. Ela ficou aliviada por um momento, mas então seus olhos se arregalaram.
Era apenas uma silhueta, mas ela não podia confundir aquela forma. Era Kirito. Ele estava com sua vestimenta habitual: longo casaco e botas, e ela podia distinguir o cabo gracioso de sua nova «Sword of Eventide» sobre o ombro.
Já passava das nove da noite. Talvez ele estivesse apenas saindo para fazer alguma manutenção de equipamento, mas havia algo firme e resoluto em seu andar.
Provavelmente ele estava indo às catacumbas subterrâneas para procurar por Argo, a Rata.
— Por que ele tem que ser tão reservado? — ela resmungou, abrindo sua janela de menu.
No manequim de equipamento, ela ativou sua couraça, saia de couro e «Chivalric Rapier». O banho podia esperar — ela ia seguir aquele homem.
Sim, ela estava chateada com a questão do registro de amigos agora pouco, mas Argo também era uma boa amiga para Asuna. Aincrad podia ser grande, mas Argo era a única que a chamava por um apelido como "A-chan." Se Argo estivesse em perigo, fazia sentido abrir mão de seus próprios confortos para ajudá-la.
O corredor estava vazio. Ela desceu as escadas correndo de dois em dois degraus, passou correndo pelo NPC na recepção — que soltou um genérico "Tenha uma boa viagem" — e saiu pela porta da frente do Blink & Brink.
CONTINUA NA PARTE 5 DIA 23/07
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