Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 4

SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 3)

 


Este capítulo foi traduzido pela Mahou. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


3

VINTE E TRÊS MOEDAS DE COBRE, CADA UMA VALENDO DEZ COL. Nove moedas de prata, cada uma valendo cem col. Duas pequenas moedas de ouro, cada uma valendo quinhentos col. Uma grande moeda de ouro, valendo mil col. Três gemas de qualidade razoavelmente boa. Um colar que parecia ter um efeito mágico. Uma pulseira de natureza similar. Dois anéis de natureza similar.

Essa foi a lista de itens que Asuna e Kirito encontraram no templo na beira de «Karluin» antes que o buff deles acabasse. Eles só saberiam o valor das gemas e dos acessórios após uma avaliação, mas o total devia ser bem mais de cinco mil col. Foi um loot impressionante para apenas uma hora de trabalho.

Logo depois de fazerem uma última varredura no templo vazio para confirmar que não havia mais objetos brilhantes, o ícone do buff parou de piscar e desapareceu.

— Ufa…

Asuna suspirou e se sentou em um banco rachado ao lado de Kirito. Ela olhou para as relíquias — os tesouros — que eles haviam coletado, dispostos ordenadamente em um cobertor dobrado, e suspirou novamente.

— Sim, agora eu entendo o perigo de se viciar nisso.

— Não é? No beta, havia pessoas que desistiram de subir de nível e se tornaram colecionadores de relíquias. Nós as chamávamos de 'acumuladores' por respeito.

— Não vejo o que torna esse termo particularmente respeitoso...

Ela pegou uma joia vermelha do cobertor e a colocou na palma da mão. Era divertido rastejar pelo templo procurando por pontos brilhantes, mas depois que o efeito mágico passava, ela ficava com uma sensação de culpa que puxava seu coração.

De certa forma, para aqueles jogadores que escolheram seguir na arte do craft ou nunca saíram da cidade inicial, essa era uma das poucas maneiras de ganhar dinheiro na zona segura. Se as relíquias não voltassem, isso tornava as coisas ainda piores. Eles não estavam precisando de dinheiro para comida ou hospedagem, então começar a pegar todas as relíquias antes de qualquer outra pessoa não passava de ganância egoísta.

Ela colocou a joia de volta no cobertor. Quando Kirito falou em seguida, não havia o sarcasmo irônico costumeiro.

— Você é muito gentil.

Ele quis dizer isso em reconhecimento ao arrependimento dela, mas essa mensagem não chegou ao cérebro dela de imediato. Só depois de três segundos ela se assustou.

— E-Ei?! O quê? Eu não — O que você...?

Kirito sorriu um pouco timidamente e explicou: — Você não precisa se sentir culpada, Asuna. Comparado a todas as relíquias nesta cidade, o que pegamos é só uma pequena ninharia.

Ele estendeu a mão de forma desajeitada e deu um leve tapinha no conector da ombreira direita de Asuna.

Antes, ela poderia ter revidado com um soco e exigido que ele não a tocasse assim. Mas desta vez, Asuna só conseguiu prender a respiração enquanto tentava conter a súbita onda de emoção dentro dela.

Ela se sentia culpada por ter se divertido coletando as relíquias sem considerar as implicações. Mas ela também queria argumentar que, assim como ele, ela também ficava com medo quando saía para lutar contra monstros. A combinação dessas duas emoções explodiu dentro dela, transformando os sentimentos que ela estava tentando suprimir em uma poderosa urgência.

Ela queria enterrar o rosto no peito de seu companheiro, o espadachim de cabelo preto com quem ela havia se juntado apenas para avançar de forma mais eficiente neste jogo mortal, e chorar até não poder mais. Queria abandonar o papel de jogadora de elite poderosa, uma honra que ela nunca desejou, para jogar fora todas as limitações impostas a ela e gritar e chorar como uma criança pequena. Ela queria ser liberada — e que isso fosse aceito, perdoado e consolado.

Mas essa não era uma opção.

Ela não podia se agarrar a Kirito em sua fraqueza. Já estava aproveitando demais o conhecimento dele. Quantas perguntas ele já havia respondido para ela no único dia que passaram neste andar? E o contrário quase nunca acontecia.

Se ela dependesse dele mais do que isso, eles não seriam mais parceiros de jogo — seriam protetor e protegido. Em termos de conhecimento sobre o jogo, isso já era verdade. Por isso, ela precisava ser igual a ele em combate e controlar suas emoções.

Do lado esquerdo, onde Kirito não podia ver, ela apertou a bainha de sua rapiera, resistindo à tempestade de impulsos. Eventualmente, a maré alta de emoções começou a recuar, voltando ao fundo do seu coração, onde ela as guardava.

Asuna soltou um longo e lento suspiro e se virou para sorrir, embora fracamente, para seu parceiro preocupado.

— Sim... obrigada, estou bem. Eu não me arrependo; me diverti bastante... mas acho que estou satisfeita com a busca por relíquias por enquanto.

— Tudo bem — disse Kirito, sorrindo e acenando com a cabeça. Ele tirou uma bolsa de couro vazia de seu inventário, colocou as moedas e acessórios dentro e disse gentilmente: — Quando eu disse que você não precisava se sentir culpada, era verdade. Existem templos e praças como esta por toda a cidade...

— Sim.

— E não sabemos com certeza se elas não vão voltar…

— Sim.

— Além disso, encontrar relíquias na cidade é mais como um simples subproduto da verdadeira caça ao tesouro de «Karluin».

— Sim... sim? — ela perguntou, pausando em confusão. — O que você quer dizer?

— Sabe como não vimos ninguém da DKB e ALS perto do portão de teleporte ou em qualquer outro lugar? Bem, eu sinto que são eles que vão pegar todas as relíquias para financiar seu baú de guerra ou algo assim.

— Você pode estar certo...

Ela observou seu parceiro, se perguntando onde essa conversa estava indo. Kirito estendeu o dedo indicador e o apontou diretamente para baixo.

— Acho que eles estão lá embaixo.

— Embaixo?

— Sim. Há uma enorme catacumba sob «Karluin»... Basicamente, uma dungeon. É tão grande que se estende além dos limites da cidade, e é lá que está a verdadeira caça ao tesouro. As coisas que você encontra aqui são pequenas em comparação.

— O quê...?

— Então, não há motivo nenhum para se sentir culpada por isso. Vamos fazer uma avaliação, transformar em dinheiro e dividir entre nós. Depois podemos ir a uma armaria e melhorar nosso equipamento...

— Hã? Hã?! Huuuuuuh?!

Algo subiu das profundezas do coração de Asuna — mas, ao contrário de antes, isso era mais um rugido de raiva. Ela cerrou a mão direita em um punho.

— Você devia ter...! Dito isso...!! Antes!!!

Seu gancho de direita cortou o ar audivelmente e teria acertado Kirito no flanco esquerdo, se não fosse pelo Código Anti-Crime. As faíscas roxas que resultaram brilharam intensamente, iluminando brevemente o templo em ruínas.

 

✗✗✗ 

 

A única maneira de ver as propriedades de um item não identificado era levá-lo a um jogador ou NPC com a habilidade de «Appraisal». Ainda não havia jogadores com essa habilidade, então a dupla foi a um comerciante NPC em «Karluin» para identificar suas joias e acessórios.

As gemas eram todas pedras de nível D, valendo pouco mais de quinhentos col cada, o colar dava +3 na habilidade de «Recitation», a pulseira dava +4 em «Mixture», e um dos anéis acrescentava 1% de resistência a atordoamento — não era um grande tesouro. Mas o outro anel tinha um efeito desconhecido: Claridade.

Ao saírem da loja, Asuna examinou o anel de prata com a pedra amarela, e Kirito sugeriu: — Por que você não equipa esse? Vai ser útil.

— Uh... vai? Mas...

Eles encontraram juntos, então ela achou que deveriam decidir quem ficaria com o prêmio no pedra-papel-tesoura, mas Kirito a interrompeu levantando as mãos.

— Olha, eu já tenho anéis em ambas as mãos.

De fato, havia um brilho prateado nos dedos indicadores de cada mão. O da mão direita era +1 em força, uma recompensa de uma missão do comandante elfo negro no terceiro andar. E o da mão esquerda era o Sigilo de «Lyusula», dado a ele pelo Visconde «Yofilis».

Asuna tinha o mesmo anel no dedo médio da mão esquerda. Quando o receberam juntos, ela o colocou no dedo anelar sem pensar. Lembrar-se do momento em que percebeu e rapidamente transferiu para o dedo médio trouxe uma nova onda de vergonha em suas bochechas, e ela baixou a mão.

— Bem... Se você insiste, eu vou usar.

Ela colocou o misterioso Anel de Claridade no dedo médio da mão direita e começou a andar, esquecendo-se de perguntar a ele sobre o efeito mágico.

Eles venderam o resto dos itens em uma loja de itens mais próxima do avaliador, e depois de converter as Moedas de Karl na casa de câmbio ao lado, eles ganharam 6.480 col no total. Kirito abriu a janela de troca e enviou a ela exatamente metade, o que ela aceitou.

Ela ainda não havia superado completamente a culpa de limpar um templo inteiro, mas, de acordo com ele, ainda havia montanhas de tesouros ao redor e abaixo da cidade, então as pessoas que subiriam para encontrar relíquias ainda teriam muita diversão pela frente. Além disso, ela só havia ganhado tanto em tão pouco tempo graças ao efeito bônus de encontrar relíquias. Dado o número limitado de tortas disponíveis, a cidade inteira não seria esvaziada tão cedo.

Asuna decidiu usar sua súbita influxo de dinheiro inteiramente para avançar no jogo, uma decisão que a fez se sentir um pouco melhor. Enquanto isso, Kirito já estava direcionando-os para uma armaria.

— Ei, disseram que não há magia em Aincrad, certo?

— Hmm? Sim... foi o que «Kizmel» disse. Os elfos têm seus encantos de antes da Grande Separação, mas nós, humanos, basicamente não temos nada sobrando...

— Nesse caso, como funciona o efeito daquela torta? É basicamente um efeito mágico, certo?

— Ahh — murmurou Kirito, sorrindo — Eu descobri isso hoje... Acho que talvez seja por isso que ela vem na forma de uma torta de mirtilo-azul.

— O que você quer dizer?

— Sabe como dizem que a antocianina dos mirtilos é boa para a visão? Bem, com dois azuis, há o dobro de antocianina, o suficiente para tornar possível ver as relíquias melhor. Então você poderia argumentar que não é exatamente magia...

— Hmm...

Nesse caso, ela se perguntou como ele explicaria o bônus de sorte oferecido pelo Tremble Shortcake, mas decidiu que preferia valorizar a memória do que discutir, e ficou em silêncio.

Em vez disso, ela olhou para cima, para o fundo do andar acima, brilhando vagamente com a luz das estrelas, e murmurou: — Vamos encontrar a «Kizmel» neste andar também, não vamos?

Kirito não respondeu imediatamente. Como Asuna, ele olhou para cima.

— O curso da missão de campanha desviou muito do que aconteceu no beta no quarto andar. Antes, o General «N'ltzahh» e o Visconde «Yofilis» nem existiam. Então, não posso dizer nada com certeza... mas espero que sim.

— Sim — concordou Asuna esperançosa.

— Oh — Kirito continuou — mas talvez possamos ir vê-la daqui.

— Hã...?

— Lembre-se, precisamos ir pegar a recompensa do visconde antes que comecem a avançar seriamente pelo quinto andar.

— Oh, certo. Claro.

Depois da batalha no Castelo Yofel no andar anterior, o mestre do castelo lhes ofereceu uma lista impressionante de recompensas potenciais, mas naquele exato momento, receberam a notícia de que as guildas haviam ido desafiar o boss do andar e tiveram que adiar a escolha e correr para a torre do labirinto. Não havia limite de tempo para a escolha — assim esperavam — mas seria melhor voltar logo.

— Não sei se a «Kizmel» ainda estará no castelo — acrescentou Kirito, sem querer alimentar demais as esperanças de Asuna. Ela verificou a hora: nove e meia da noite. Não era cedo, mas também não era tarde demais.

— Vamos voltar ao quarto andar?

— Hmm, sim... Eu deveria mudar para minha próxima espada em breve, de qualquer forma...

— Oh? Você não vai continuar usando essa? — ela perguntou, olhando para a «Elven Stout Sword» pendurada nas costas de Kirito. — Ela não é muito resistente?

— Sim, é... mas só tenho mais uma tentativa de aprimoramento nela. Mesmo que seja bem-sucedida, essa arma não me será útil por muito mais tempo.

— Hmm... Então, acho que nem sempre dá certo.

— Exatamente — ele disse, sorrindo amargamente. — Bom! Vamos usar o teletransportador para voltar à «Rovia» e reunir todos os ingredientes até o fim da noite.

— Ingredientes...? Ah, certo...

Para se locomover pelos canais do quarto andar, eles precisavam de uma gôndola. Mas sua confiável «Tilnel» ainda estava ancorada no Castelo Yofel. Eles precisariam construir um novo barco para ir da cidade até o castelo novamente.

— Bem… Eu gostaria de ver o construtor de barcos «Romolo» também... Vamos cuidar dos negócios! — Asuna cerrou o punho, cheia de entusiasmo.

Kirito interveio, temeroso: — Desta vez, vamos fazer apenas uma gôndola normal, certo...? Nada que exija gordura do rei da floresta...?

— Ah, tudo bem. Acho que vou me contentar com uma normal.

Seu parceiro suspirou visivelmente aliviado, mas Asuna cutucou seu ombro e acelerou o passo.

 

✗✗✗

 

Quando eles passaram pelo portão de teletransporte de «Karluin» e chegaram à «Rovia», a cidade principal do quarto andar, foram recebidos pelo agradável cheiro da água e pelo som das ondas suaves. Era noite lá também, é claro, mas a visão das luzes residenciais refletindo nos canais era tão bonita quanto um sonho.

— Já abrimos o quinto andar, mas ainda há tantos turistas aqui — observou Asuna.

— A esse ritmo, talvez tenhamos que esperar um pouco na casa do velho «Romolo»... Bem, vamos começar a coletar esses materiais para…

Ele parou. Uma voz grave os chamou por trás.

— Ei, vocês dois!

Eles sabiam a quem pertencia antes mesmo de vê-lo.

Era o homem careca que liderava a equipe de guerreiros de armas de duas mãos — Kirito os chamava de "Esquadrão dos Bro" — que mantinham sua independência das duas principais guildas.

Kirito se virou e ofereceu um casual — E aí.

Asuna seguiu com uma reverência educada.

— Boa noite, Agil.

— E aí.

Agil, o guerreiro do machado, sorriu para eles, mas seu machado característico não estava equipado. Em vez disso, ele carregava um grande objeto em forma de tubo sobre o ombro. Depois de olhar por um momento, Asuna reconheceu.

Aquele objeto era um Tapete de Vendedor; o mesmo item de comerciante que Kirito havia recebido do ferreiro Nezha e repassado — ou melhor, concedido — a Agil depois.

— Uau, você está mudando de classe de guerreiro para comerciante? — Kirito perguntou, atônito. Agil sorriu novamente.

— Bem, já que você me deu, achei que não deveria desperdiçá-lo.

— N-Não pode ser — Kirito gemeu. Asuna também ficou surpresa. Se Agil e seus três companheiros largassem suas armas, seria um golpe significativo para a força do grupo da linha de frente.

Mas Agil apenas olhou para seus rostos preocupados e riu, inclinando-se para trás.

— Desculpem, não quis dizer que não vou mais ajudar. Mas achei que poderia dar uma chance a isso e ver se consigo vender itens em excesso com isso, em vez de vender para uma loja NPC. Fiz alguns negócios mais cedo esta noite.

— Ahh… E como foi? — Kirito perguntou, curioso.

Agil esfregou sua barba cuidadosamente aparada e disse: — Hmm... parece depender do item. Consegui liquidar os itens dos quais se precisa muito, como materiais para gôndolas, por um bom preço. Mas os acessórios com ingredientes alimentares ou que aumentam habilidades não combativas não se esgotaram. Basicamente, se você vai se dedicar ao comércio sério, precisa ficar de olho nas tendências dos itens de alta demanda e trabalhar no seu marketing.

— Ahh, entendo — respondeu Kirito, esfregando o queixo com as costas dos dedos. — SAO não tem uma daquelas funções de casa de leilões que todos podem acessar a qualquer momento. Acho que se você for sério em vender itens, precisa se esforçar…

— Sim. É difícil para um guerreiro vender itens desnecessários na beira da estrada. Leva tempo, e os compradores e vendedores não sabem onde se encontrar... Na verdade, a falta de algo assim torna realmente difícil definir um preço de mercado.

— Se ao menos houvesse um intermediário importante, algo como aquelas lojas de reciclagem em grande escala no Japão da vida real, o comércio entre jogadores seria muito mais movimentado... mas ninguém tem dinheiro para realizar um negócio desses. Pelo menos, não por agora.

— Mas isso significa que quem conseguir fazer isso primeiro vai ganhar muito dinheiro.

Asuna estava ouvindo os dois homens divagarem sobre esquemas para ganhar dinheiro à distância, mas neste ponto, ela interveio.

— Com licença, Agil... Eu ouvi você dizer que estava vendendo os materiais para a missão de construção de barcos?

— Hmm? Sim. Meu inventário estava abarrotado de madeiras e minérios. Preciso fazer algo com eles.

— V-Você ainda tem algum?!

Kirito voltou a si e o pressionou.

— S-Sim! Você tem algum, Agil?!

O homem grande deu de ombros suavemente e estendeu as mãos vazias.

— Não acabei de dizer que vendi todos os materiais para gôndolas? Não sobrou nenhum item. Mas por que vocês querem algo assim agora? Vocês não foram os primeiros a fazer seu barco? — ele perguntou, curioso. Kirito deu-lhe um resumo rápido. O guerreiro do machado assentiu, pensou um pouco e abriu sua janela, pedindo aos dois que esperassem um minuto. Ele estava enviando uma mensagem instantânea para alguém.

Agil olhou para a resposta quase instantânea e disse: — Meus parceiros disseram que está tudo bem. Vocês podem usar nosso barco emprestado.

 

✗✗✗

 

No cais oriental da praça de teletransporte, Agil soltou a corda de amarração do «Pequod» de tamanho médio e ficou em terra enquanto Asuna e Kirito acenavam de volta, conduzindo o barco para o sul pelo canal principal.

Manejando o remo na popa, Kirito proclamou ousadamente: — Ahh, não há nada tão valioso quanto amigos generosos.

— Você vai agradecê-lo adequadamente na próxima vez que nos encontrarmos. Com um presente de verdade.

— Vamos dividir o custo, espero…? — Kirito perguntou, nervoso. Asuna apenas sorriu de volta e se virou para frente.

Já fazia apenas um dia desde a grande batalha naval com a frota dos elfos da floresta no lago sul do quarto andar, mas parecia que se passaram eras desde que tinham andado de gôndola. A beleza das luzes da cidade refletindo na superfície da água, os respingos ocasionais, o suave balançar da proa enquanto cortava as ondas — era realmente um prazer andar de barco.

— Você estava falando sobre ganhar dinheiro como intermediário mais cedo; não poderia abrir um negócio vendendo passeios de gôndola em um dos modelos grandes? — Asuna sugeriu distraidamente. — As gôndolas NPC em «Rovia» não podem sair da cidade, certo?

Seu gondoleiro de preto levou a sugestão muito a sério.

— Hmm. Aposto que há demanda. Mas há monstros nos rios fora da cidade…

— Ah, boa observação. Você não pode administrar um negócio que envolva qualquer tipo de perigo para a segurança do jogador…

— Mas se você tivesse barcos menores na frente e atrás para segurança... ou equipasse seus passageiros com armaduras pesadas…

— Desculpe, esqueça a ideia do cruzeiro.

Enquanto conversavam, a gôndola passou pelo portão sul de «Rovia» e entrou no rio que serpenteava pelo terreno externo. As corredeiras os levaram mais ao sul, atravessando o lago central da caldeira, que antes havia sido o local da batalha contra o «Biceps Archelon». 

Eles encontraram alguns ouriços, águas-vivas e caranguejos gigantes durante a viagem, mas uma única habilidade de espada foi suficiente para a maioria deles, enquanto a gôndola continuava em direção à vila de «Usco», no meio do lago em forma de crescente, e entrava no estreito cânion da parte sul do andar. Pelos próximos dez minutos, Kirito guiou cuidadosamente o «Pequod», que era maior que a «Tilnel», garantindo que não atingisse nenhuma das rochas, até que finalmente passaram pela parede de neblina branca que marcava a fronteira entre o mapa de campo regular e a área instanciada — sua própria cópia privada do destino.

'Quando o elegante castelo-mansão, pairando escuro sobre o lago, apareceu à vista, Asuna sentiu seu coração pular no peito. Foi apenas ontem que ela se despediu da cavaleira elfa negra «Kizmel» na torre do labirinto. Mas ela não conseguiu conter a ansiedade em seu coração com o reencontro tão próximo.'

A gôndola deslizou sobre a superfície espelhada do lago até atracar lentamente no píer do Castelo Yofel. Se eles colocassem a corda ao redor da amarração no cais, o jogo garantiria que apenas Agil, o verdadeiro dono da gôndola, pudesse liberá-la novamente, então eles simplesmente pularam livremente para o cais. Bem ao lado do «Pequod» estava uma gôndola menor, em branco e verde — a «Tilnel», seu próprio barco. Asuna sussurrou "estamos de volta", e então olhou brevemente para Kirito antes de se dirigirem ao portão do castelo à frente.

O portão escuro e brilhante ainda estava fechado, guardado por guerreiros com alabardas. Mas quando Kirito brandiu o Sigilo de «Lyusula» em sua mão esquerda, eles o saudaram e começaram a abrir o pesado portão.

O anel lhes dava passagem livre pela porta da frente do castelo, e eles subiram a grande escadaria para prestar suas homenagens ao dono do castelo. Quando chegaram ao quinto andar, bateram na pesada porta à direita.

Era quase meia-noite, mas uma voz familiar e bela emergiu de imediato, dizendo para que entrassem. Kirito lançou um breve olhar para Asuna, depois abriu a porta.

Na primeira vez que vieram a este quarto, estava escuro como breu, com pesadas cortinas cobrindo todas as janelas, mas a primeira coisa que Asuna viu desta vez foi a quente luz laranja de uma infinidade de lanternas e velas. No fundo do escritório, sentado do outro lado de uma grande mesa, estava um elfo negro alto e magro.

O mestre do Castelo Yofel, «Visconde Leyshren Zed Yofilis».

Seu cabelo preto ondulado estava amarrado atrás, e uma cicatriz antiga que ia da testa pelo olho esquerdo até o queixo desfigurava suas feições, de outra forma, belas. Ele havia se trancado na escuridão (supostamente) para esconder aquela cicatriz, que ele chamava de "prova de sua maior vergonha". A batalha contra os elfos da floresta ontem aparentemente trouxe uma mudança de coração.

O visconde sorriu para ambos, com uma expressão que combinava vitalidade juvenil com maturidade envelhecida.

— Kirito, Asuna, vocês retornaram.

— Sim. Nós… er, tínhamos um acordo com o senhor, meu lorde — Kirito disse desajeitadamente. Mesmo para ele, era um pouco difícil admitir que estavam ali apenas para reivindicar uma recompensa de missão. Ele olhou para sua parceira em busca de ajuda, mas ela o ignorou e fez uma reverência ao visconde.

— Perdoe-nos por incomodá-lo tão tarde da noite, meu lorde.

— Não me importo. Vocês protegeram este castelo de um grande perigo; são bem-vindos a qualquer momento. Por favor, sentem-se.

Ao comando de «Yofilis», eles atravessaram o escritório e se posicionaram diante da mesa. Não havia outros NPCs na grande sala.

— Hum… onde está «Kizmel»? — Asuna perguntou, presumindo que a cavaleira deveria estar por perto. O visconde fixou nela seu olho cinza-esverdeado e balançou a cabeça.

— Sinto muito em informá-la que ela não está mais dentro do castelo.

— Hã?! — os dois jogadores exclamaram juntos.

«Yofilis» inclinou-se para frente e cruzou os dedos sobre a mesa, explicando calmamente.

— Por ordem dos sacerdotes, «Kizmel» assumiu a tarefa de transportar a Chave de Jade e a Chave de Lápis para a fortaleza do quinto andar. Ela já deve ter chegado lá.

— Ah, entendo — Asuna murmurou, tentando conter sua decepção. «Yofilis» deixou que um leve sorriso surgisse em seus lábios ao dizer gentilmente.

— Tenho certeza de que «Kizmel» também deseja vê-los. Se tiverem a oportunidade, sugiro que visitem a fortaleza. Aquele sigilo lhes garantirá passagem.

— Sim… nós iremos!

— Iremos assim que possível.

«Yofilis» sorriu novamente e apontou para a parede direita do quarto. Havia um baú pesado ali.

— Ainda não lhes agradeci devidamente e nem lhes dei a recompensa por terem salvado meu castelo. Como disse antes, cada um de vocês pode escolher dois itens do baú.

Asuna estava prestes a cutucar Kirito com o cotovelo, dada a expressão de alívio evidente que ele demonstrava por a oferta ainda estar em aberto, mas ela foi distraída pela aparição de uma caixa de recompensa da missão com várias opções para selecionar.

Ela percebeu que estava tão animada quanto seu parceiro. Agradeceu brevemente ao benfeitor e começou a percorrer a longa lista.

Levou vinte e cinco minutos inteiros para que ambos tomassem uma decisão final sobre suas recompensas. O visconde esperou pacientemente, mas, a menos que estivesse imaginando coisas, Asuna achou que o viu sufocar um bocejo duas vezes.

 

✗✗✗

 

Eles passaram a noite no castelo e tomaram café da manhã na manhã seguinte antes de pegar o «Pequod» de volta para «Rovia». Depois de atracar a gôndola no cais leste, lançar a âncora e fixar a corda na amarração, enviaram uma mensagem de agradecimento a Agil. A praça central ainda estava cheia de turistas, então tiveram que se espremer pela multidão até chegarem à praça de teletransporte.

Quando foram da úmida «Rovia» para a arruinada «Karluin», Asuna puxou o capuz do manto ao redor da boca para se proteger da brisa fria e empoeirada. Mas ao invés disso—

Eles emergiram do portão em um ambiente ainda mais úmido do que encontraram em «Rovia». E veio na forma de milhões de gotas suspensas no ar, caindo em cascata do céu ao chão.

— Chuva? — ela murmurou, olhando para cima. Seu rosto foi instantaneamente atingido por grandes gotas, e ela apressadamente puxou o capuz.

— Sim, isso é chuva — Kirito murmurou surpreso, levantando as lapelas do casaco de couro. Isso não foi suficiente para bloquear o ataque de água, é claro, e em poucos momentos seu cabelo preto estava grudado na testa.

O cabelo molhado era apenas um incômodo, mas se a armadura ficasse coberta de água, sofreria um efeito de encharcamento que dificultava o movimento.

— Bem, vamos procurar um lugar coberto para nos abrigar — sugeriu Asuna, olhando ao redor da praça. Mesmo com a hora ainda cedo, às oito da manhã, o clima fazia com que houvesse poucas pessoas por ali. Grandes poças se formaram nos calçadões escuros, salpicadas de ondulações devido à chuva constante.

— Mas já tomamos café da manhã… E acabamos de melhorar nossas armas e não temos nada para comprar em uma loja de itens…

— Não importa para onde vamos, desde que tenha um telhado! — Asuna sibilou. Kirito pensou por dois segundos, então acenou com a cabeça, gotas caindo das pontas de sua franja.

— Então, vamos começar a completar as missões que pegamos ontem.

— No meio da chuva?

— Não se preocupe, haverá um telhado.

Kirito seguiu caminhando pela chuva torrencial, e ela não teve outra escolha a não ser ir atrás dele. Eles pularam pelas poças da praça e seguiram para o lado norte da cidade, que ainda não haviam visitado. Após apenas alguns metros, chegaram a outra grande praça. No meio dela, havia uma grande ruína em decomposição, mas, comparado ao templo em que haviam explorado ontem, este parecia mais sinistro e assustador.

Apesar disso, mergulharam nas ruínas escuras e úmidas, que finalmente lhes ofereceram um alívio da chuva. Asuna esfregou a água que grudava em seu manto e saia com as duas mãos e finalmente respirou aliviada.

Ela olhou ao redor e viu que estavam em um grande espaço escuro. As grossas paredes de pedra à frente e dos lados não tinham portas, mas no meio do cômodo havia uma escada descendente embutida no chão. Estátuas sagradas bizarras estavam de cada lado, lançando sombras contorcidas pelo quarto na luz tremeluzente das fogueiras, localizadas em cada canto.

— O que é este lugar? — ela perguntou ao parceiro, que estava batendo as folhas de água de seu casaco. A resposta dele foi em grande parte o que ela esperava.

— A entrada para as catacumbas subterrâneas que mencionei. Existem outras entradas, eu acho, mas esta é a principal.

— Ahh… E há missões para completarmos aqui?

— Oh, sim, várias.

Kirito afastou a franja molhada dos olhos e abriu sua janela, configurando-a para o modo visível e mostrando a Asuna sua lista de missões aceitas.

— Essa aqui, 'A Pequena Jenny Perdida,' é onde você procura o cachorrinho ou gatinho perdido da garota. 'O Colecionador Sem Graça' envolve encontrar um certo tipo de relíquia, e o 'Lamento de Trinta Anos' é onde você tem que encontrar algum tipo de espírito maligno—

— Nyet! — Asuna exclamou repentinamente, cobrindo a boca de Kirito com a mão.

Surpreso, ele tentou murmurar algo através de sua palma, mas ela lhe lançou um olhar mortal para que ele ficasse em silêncio antes de finalmente soltá-lo. Ele permaneceu em silêncio por alguns momentos e então, timidamente, disse: — O que foi esse som de nyet?

— É 'não' em russo.

— Por que você disse não?

— Porque… bem… eu não quero spoilers — ela terminou, timidamente — uma desculpa fraca, na sua opinião — mas Kirito assentiu seriamente, bastante convencido.

— Oh… sim, bom ponto. Missões necessárias para completar o andar são uma coisa, mas é mais divertido fazer essas missões únicas sem saber a história de antemão… Ok, boa ideia. A partir de agora, não vou explicar ou comentar sobre as missões. Você pode liderar, Asuna.

Ele estava tão sério e sincero a respeito disso que ela não conseguiu corrigi-lo. Ela tossiu e olhou para baixo da escada.

— Ah… sim. N-Neste caso, eu irei primeiro. Você está pronto?

— Claro.

Ele levantou sua nova espada e a sacudiu para ela. Havia dois tipos de espadas de uma mão na lista de recompensas do Visconde «Yofilis». Pelo que Asuna podia ver de suas propriedades, o sabre parecia mais forte, mas Kirito escolheu a «Sword of Eventide» em vez disso.

Asuna mentalmente anotou um lembrete para perguntar a ele o motivo dessa escolha em algum momento, mas isso não era importante agora. Ela respirou fundo, se entregou ao seu destino e se dirigiu para a entrada da catacumba subterrânea.

— Vamos então!

— Sim!

Às 8h20 do dia 29 de dezembro, Asuna e Kirito começaram sua conquista do quinto andar de Aincrad com determinação.

 

CONTINUA NA PARTE 4 DIA 22/07


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



Comentários