Volume 4
SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 2)
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2
APÓS AS SETE DA NOITE, OS DOIS DECIDIRAM voltar para a cidade.
A cidade principal do quinto andar, «Karluin», foi construída no centro de uma vasta área de ruínas que cobre a parte sul do andar. Ela foi projetada para se assemelhar a um assentamento de pessoas recém-chegadas reutilizando uma cidade em ruínas de séculos passados.
Comparada aos canais cruzados de «Rovia», no quarto andar, havia pouca água, mas, talvez graças a alguns zelosos NPCs limpadores, também não era particularmente empoeirada. Os prédios, feitos de blocos de pedra escurecidos, estavam se desmoronando em alguns lugares, mas o centro da cidade estava cheio de tendas de couro e lona, que fervilhavam de uma animada desordem.
— É meio difícil saber onde está a fronteira da área segura — murmurou Asuna, depois que as palavras apareceram do nada em sua visão.
Quando o aviso desapareceu, ela olhou para o caminho que tinham seguido até ali, cercado por paredes de pedra semi-destruídas. Mas não havia arcos ou outros sinais visuais que indicassem a fronteira da cidade. Seria importante lembrar o local pela aparência, para que pudessem escapar para a área segura se caso enfrentassem problemas com monstros.
Ao lado dela, Kirito assentiu e disse: — Sim, é isso mesmo. No beta, as pessoas empilhavam caixas de madeira e outras coisas para servir como marcador, mas elas são tratadas como objetos abandonados, então se desgastam e eventualmente desaparecem...
— Ahh... Não poderia empilhar algo barato e durável? Haveria algo que se encaixaria nisso?
— Claro. Os blocos quebrados espalhados por todo lugar.
Ela olhou para onde Kirito estava apontando e viu vários blocos de pedra quadrados espalhados pelo caminho. Mas, dado que eram do mesmo material das paredes, empilhá-los não seria algo que chamaria a atenção dela ou de Kirito.
— Acho que teremos que manter os olhos abertos.
Ela retomou a caminhada, tentando gravar a imagem da área em sua mente.
À medida que se aproximavam do centro de «Karluin», o primeiro som que ouviram foi o de uma flauta, no estilo de alguma música folclórica europeia, seguido pelo burburinho animado das vozes. Mais de um dia havia passado desde que ativaram o portão de teletransporte, e muitos jogadores haviam chegado através dele dos andares inferiores.
— Hmm... Não vejo a DKB ou ALS — murmurou Kirito enquanto examinava a multidão na entrada da praça. Isso surpreendeu Asuna.
— Você normalmente tenta evitá-los. Vai convidá-los para jantar ou algo assim?
— Pode-se dizer que sim.
Agora ela estava verdadeiramente perplexa.
— O-O que diabos deu em você?
— Bem — ele disse, esboçando um sorriso com um lado da boca e depois coçando a cabeça com um dedo — eu estava esperando encontrar um dos caras mais razoáveis, como Shivata ou Hafner, e perguntar sobre Morte novamente. Ele não participou das lutas contra os bosses do terceiro ou quarto andar, então provavelmente deixou as guildas... mas talvez eu possa descobrir algo sobre sua história e o que ele fez enquanto ainda era membro.
— Ahh — ela respondeu secamente, mas, no fundo, reconhecia que se o desajeitado e antissocial espadachim estava indo a esses extremos, ele realmente tinha que estar preocupado com a possibilidade de um PKer solto em Aincrad. Talvez ela devesse ajudar a coletar informações... mas então um pensamento lhe ocorreu.
— Ah, certo... Por que não perguntar à Argo?
Era a escolha óbvia. Argo, a Rata, extraordinária corretora de informações, certamente saberia tudo sobre Morte, até onde ele estava escondido. Mas Kirito parecia hesitante.
— Na verdade... Eu já comprei informações sobre Morte de Argo uma vez. Mas foi no terceiro andar, pouco antes dele me desafiar para aquele duelo... Duvido que ela teria aceitado o trabalho se soubesse o quão perigoso ele era — resmungou.
— Huh? Por que ela não—-? — Ela começou a perguntar, mas entendeu no meio da frase.
Argo era uma talentosa negociadora de informações, com a agilidade para passar por todos os monstros e chegar à câmara do boss de um labirinto, mas seu equipamento (presumido) e escolhas de habilidades tinham que ser focados em não combate. Kirito estava preocupado com a segurança dela.
— Desculpa. Claro, você está certo. Estamos falando de um assassino de jogadores; você não pode simplesmente pedir para ela arriscar o pescoço — murmurou Asuna. Kirito deu a ela um olhar significativo.
— O-O quê? — ela perguntou.
— Hum... talvez você devesse repetir isso para si mesma — disse ele, uma mistura de rudeza e preocupação.
Ela piscou, surpresa.
— Claro que não estou pensando em fazer essa investigação sozinha, ok?
— Contanto que isso esteja claro — disse Kirito. Sua expressão a lembrou de um garoto mais novo tentando o seu melhor para agir como um adulto. Ela não conseguiu se conter de estender a mão e dar um leve soco no ombro do casaco preto dele.
— O-O quê?
— Nada — ela disse, e esticou as mãos para cima. — Ahh, estou com fome! Me mostre um restaurante que seja bom, que tenha poucos jogadores e limpo por dentro.
— Isso é pedir muito. — Kirito balançou a cabeça, pensou por um momento e então sorriu. — Tudo bem, acho que sei de um lugar.
✗✗✗
Após alguns minutos caminhando entre lojas de aparência suspeita à esquerda e à direita, Asuna já não fazia ideia de onde estava. Ela abriu a tela do mapa no menu, mas ainda era uma área nova para ela, então os arredores estavam escurecidos, e o máximo que sabia era que estava no lado sul da cidade.
O mesmo valia para Kirito, mas ele seguia pelo labirinto de vielas sem hesitação. Considerando que o beta havia terminado há quatro meses, sua memória era impressionante.
— Você tem o layout de todas as cidades até o décimo andar memorizado? — ela perguntou, desconfiada, enquanto caminhavam. Ele deu de ombros.
— De todas, não. Minha memória de «Rovia» era meio vaga... mas eu meio que gosto de «Karluin». Fiz desta cidade minha base por uns dez dias.
— O quê? Por que não escolheu «Rovia» em vez disso? Pelo menos aquele lugar era muito mais bonito — ah, certo, no beta...
— Exatamente. Os canais eram apenas estradas no beta. Mas ainda não sei se faria de «Rovia» minha casa agora... Aposto que me cansaria muito de não poder me locomover sem um barco.
— Suponho que você tenha razão…
Ela olhou ao redor. Em algum momento, as lojas haviam desaparecido e as lanternas haviam se tornado mais raras, restando apenas as ruínas ao redor. Não havia jogadores ou NPCs no caminho com eles.
Se fosse o mundo real, ela nunca consideraria andar sozinha com um garoto no escuro depois do pôr do sol. Ela nunca tinha tido um namorado, então a situação normalmente exigiria que seu radar de cautela estivesse operando ao máximo, mas com a defesa do Código Anti-Crime do sistema e sua confiável rapiera ao lado, ela estava surpreendentemente tranquila. Na verdade, estava até um pouco animada para ver onde ele estava levando-a.
Eles passaram mais cinco minutos seguindo o radar de Kirito, atravessando portas de madeira e arcos, até que uma luz suave apareceu à frente.
Inserida na parede de pedra no final do beco estreito, havia uma porta de madeira com lanternas em ambos os lados e uma pequena placa plantada na frente. As paredes eram altas demais para ver o que estava do outro lado da porta, mas, no mínimo, parecia ser um estabelecimento comercial.
Asuna correu os últimos quinze metros, deixando Kirito para trás, para que pudesse ler a placa. Era feita de uma folha plana de pedra preta, com o nome TAVERN INN BLINK & BRINK gravado nela. O especial do dia estava escrito em inglês abaixo do nome, com giz branco.
— Blink and Brink...? Vamos ver, eu conheço a palavra *blink* em inglês... mas não tenho certeza sobre a outra — ela murmurou, olhando para o menu, e então notou um pequeno aviso em japonês na parte inferior. Dizia: AVISO! NÃO CORRA PARA DENTRO DO PRÉDIO.
Enquanto ponderava o significado disso, Kirito a alcançou e estendeu a mão para a porta.
— Você vai entender o que significa 'brink' lá dentro. Depois de você.
Ele puxou o anel de ferro fundido na porta. Uma rajada de vento frio emergiu de dentro, e Asuna virou o rosto. Quando o vento diminuiu, ela espiou cautelosamente.
Além da porta havia um terraço quadrado. À frente e à direita estavam grades de ferro, enquanto o lado esquerdo se conectava ao restaurante. Reparos de madeira substituíam as ruínas de pedra desmoronada, e quando combinados com a grande janela de estilo campestre, o ambiente parecia encantador. Mas o olhar de Asuna foi atraído de volta para o terraço à frente.
Ela passou pela porta e atravessou o terraço de pedra, desviando de três mesas de ferro fundido até alcançar a borda e segurar a grade na altura do estômago com ambas as mãos.
— O que... é isso...? — ela murmurou para si mesma, rouca. Kirito se aproximou e encostou-se à grade.
— Bem, é o céu.
Mas essa era uma palavra muito simples para o que ela via.
Sua visão estava cheia do céu noturno, preto como tinta à direita e gradualmente mudando para azul-marinho, índigo, roxo e finalmente o vermelho profundo do pôr do sol à esquerda. Acima havia uma constelação lotada de estrelas, parecendo pronta para chover luz a qualquer momento. Abaixo estava um mar infinito de nuvens, brilhando suavemente com a luz das estrelas de cima.
Ela ficou olhando para a visão deslumbrante, sentindo um arrepio correr da cabeça aos pés.
Quando olhou mais de perto, viu um bando de grandes aves voando ligeiramente acima deles. Elas atravessaram o céu lentamente de leste a oeste até desaparecerem na cortina de estrelas.
Asuna perdeu a noção de quanto tempo ficou ali parada, mas então seu cérebro voltou a funcionar. Ela piscou e murmurou, — Claro... 'Brink' como em 'à beira de um precipício'.
— Essa é minha suposição. Tive que procurar no dicionário durante o beta — respondeu Kirito. Ela olhou ao redor novamente.
As paredes altas em ambos os lados do terraço curvavam-se suavemente, cada lado cobrindo a base de um pilar mamute que se estendia até a parte inferior do andar acima, a noventa metros de distância. Como o nome sugeria, eles estavam na própria borda de Aincrad.
— Nunca estive tão perto da borda.
— E desde o beta, eu também não... Há um mirante saliente na cidade inicial, no primeiro andar, mas mal voltei lá.
— Só para confirmar — o que acontece se você pular essa grade...?
— Hmm...
Ele não respondeu de imediato. Kirito inclinou a metade superior do corpo sobre a grade para olhar para baixo.
— E-Ei!
Instintivamente, ela agarrou a gola do casaco dele e o puxou com toda a força. Kirito engasgou e voltou ao terraço com um sorriso forçado.
— Olha, eu não ia.
— Claro que não vai! Não vá em busca de adrenalina agora!
— Desculpe, desculpe. Quando caí da borda externa no beta, recebi a mensagem 'Você está morto' no meio do ar e então ressuscitei no «Black Iron Palace». Bem, aposto que é a mesma coisa agora, exceto que não há ressurreição. Mas a cerca e o terraço são objetos indestrutíveis, então são muito mais seguros do que seriam no mundo real.
— Bem... você está certo sobre isso, eu acho — ela resmungou, soltando o casaco de Kirito.
O espadachim levantou um dedo e acrescentou, — Ah, certo. No beta, alguém correu pela porta no momento em que se abriu, esperando pedir um prato de suprimento limitado com efeito de buff, mas não conseguiu fazer uma curva tão acentuada para o restaurante a tempo e caiu sobre a grade. Então, cuidado com isso.
— Acho que é para isso que serve o aviso na placa — Ela se lembrou de uma cena de cerca de vinte dias antes.
Em «Urbus», a cidade principal do segundo andar, havia um enorme bolo com efeito de buff chamado Tremble Shortcake. Efeito de status à parte, não havia nada melhor do que comer um enorme bolo recheado, com montes de creme e repleto de morangos, sem se preocupar com uma única caloria.
A lembrança do bolo ativou seu senso de fome, e Asuna puxou o casaco do parceiro suavemente desta vez.
— Vamos lá, vamos comer. Já que estamos aqui, devemos comer no terraço.
— Claro. As mesas do lado de fora foram um grande sucesso durante o beta, principalmente para encontros. Você não tem ideia de quão solitário era devorar a comida para o efeito de buff cercado por aqueles tipos — Kirito resmungou, sentando-se em uma cadeira na mesa mais próxima da borda.
Asuna sentou-se na cadeira em frente a ele e respondeu, — Bem, você deveria estar feliz, sabendo que finalmente veio com outra pessoa...
Quando viu a expressão estranha no rosto de seu parceiro temporário, percebeu seu erro. Sentindo as orelhas esquentarem até as pontas, ela bateu na mesa de ferro fundido com força.
— N-Não é isso! Isso não é um encontro, só para ficar claro!
Antes que Kirito pudesse reagir à declaração dela, a porta do restaurante, no lado oeste do terraço, se abriu. O jogo provavelmente registrou o impacto dela na mesa como um sinal para o atendimento. Uma garçonete NPC, vestindo um avental preto, se aproximou rapidamente, fazendo uma reverência e os cumprimentando, e então colocou dois copos de água na mesa.
— Já decidiram o pedido?
— Ah, só um minuto...
Asuna pegou o menu de pergaminho fixado em uma placa de bronze. A garçonete era uma NPC virtual, então não haveria problema em fazê-la esperar — ou pelo menos foi o que Asuna pensou até meio mês atrás, quando conheceu a elfa negra «Kizmel». Agora, ela sentia que cada NPC tinha sua própria mente e emoções, seja um agente avançado como «Kizmel» ou simples NPCs de cidade, sem IA, como essa.
O menu estava escrito em inglês e japonês, então ela usou sua visão e intuição por cinco segundos antes de tomar sua decisão.
— Eu vou querer a salada de folhas de chèvre com dez queijos, a sopa gratinada bem quente e o assado de pássaro poro-poro, com um pãozinho.
Ela ia passar o menu para Kirito em seguida, mas ele levantou a mão e disse:
— Eu vou querer o mesmo, mais uma garrafa de ficklewine, e duas tortas de blueberry e cafés depois da refeição.
A garçonete repetiu o pedido perfeitamente e saiu. Asuna soltou um longo suspiro.
— Quando você chega a um novo andar, não sabe como são todos os pratos, então parece uma aposta quando faz o pedido.
— Você soou bem decidida para mim.
— Eu fiz o meu melhor para evitar os nomes novos — ela disse, olhando o menu mais uma vez. Uma pergunta surgiu em sua mente. — Você pediu aquele item limitado com efeito de buff?
— Claro.
— Qual é o efeito?
— Vou deixar você descobrir — Kirito respondeu, sorrindo. Asuna lançou um olhar severo para ele, decidindo que o faria testar os pratos primeiro para ver se estavam envenenados.
Assim que pensou nisso, a comida chegou.
Para seu alívio, a salada, a sopa e o prato principal eram, em grande parte, como ela esperava. Kirito puxou a rolha da garrafa de vinho com os dedos e despejou o líquido dourado no copo de Asuna.
Ela achou o nome estranho quando ele fez o pedido, mas parecia um vinho branco comum — exceto que, quando Kirito serviu em seu próprio copo, o vinho era rosa e borbulhante.
— Que tipo de truque é esse?
— Não é um truque ou ilusão de mão — ele disse audaciosamente, colocando a garrafa com um sorriso. — Este vinho muda aleatoriamente entre tinto, branco, rosé, doce, seco ou espumante cada vez que você o serve. Daí o nome: ficklewine.
— Então você acabou com um rosé espumante. Eu peguei...
Ela levantou o copo, brindou com Kirito e tomou um gole. O frio intenso e o sabor sutil foram uma agradável estimulação para seu paladar. Era muito parecido com o vinho branco que ela havia experimentado no mundo real, mas, claro, aqui não havia teor alcoólico.
— Um branco seco. Mmm, é bom.
— Ahhh — Kirito murmurou, observando-a atentamente. Ela arqueou uma sobrancelha questionadora para ele, que desviou o olhar, pigarreando de forma constrangedora.
— Er, eu... eu fiquei pensando se você tinha experiência em beber vinho.
— Bem, um pouco, só pelo gosto — ela começou, mas parou ao perceber que estava se aproximando de informações do mundo real novamente. E era um tópico bastante sensível: se ela o fizesse pensar que costumava beber vinho, isso significaria que ela tinha mais de vinte anos, a idade legal para beber. Asuna havia completado quinze anos apenas três meses antes, e era estranho imaginar alguém a vendo como cinco anos mais velha do que isso. Na verdade, ela não havia bebido mais do que os goles que dava do copo do pai ou do irmão em casa.
— S-Só um pouco, na verdade. Você não dava goles na bebida do seu pai também?
— Bem, sim. Embora fosse a bebida da minha mãe...
Kirito olhou para a direita, em direção ao céu noturno. Asuna seguiu seu olhar e, após alguns momentos, arregalou os olhos surpresa.
Ela não havia percebido a princípio, porque havia tantas estrelas no céu, mas agora que olhava, podia ver uma linha de três estrelas: o Cinturão de Órion. Isso significava que a grande estrela vermelha à esquerda era Betelgeuse, a estrela cintilante mais à esquerda era Procyon em Cão Menor, e duas estrelas abaixo, a pálida Sirius, em Cão Maior — o Triângulo de Inverno.
— As mesmas constelações do mundo real — Asuna fechou os olhos com força e abaixou a cabeça.
As estrelas eram virtualmente invisíveis de sua casa no distrito de Setagaya, em Tóquio, mas o ar montanhoso da casa dos pais de sua mãe, em Miyagi, era claro e puro, proporcionando uma visão nítida das estrelas. Uma noite de inverno, ela havia saído com roupas pesadas para que seu avô lhe ensinasse os nomes das estrelas. Aquela memória de infância voltou com uma clareza brilhante, envolta em uma nostalgia dolorosa que a perfurava o coração.
Ela colocou a mão na armadura e sentiu que Kirito estava prestes a dizer algo. Ela balançou a cabeça.
— Não diga nada.
...
— Eu não quero pensar no mundo real. Eu sou Asuna, espadachim de nível 16. Se eu não continuar acreditando nisso, vou voltar a ser a antiga eu, que não conseguia lutar...
As palavras que saíam de sua garganta eram tão fracas que até ela mal podia ouvi-las. Após alguns momentos, uma voz calma respondeu, — Sim... Eu entendo. Desculpe.
Ela balançou a cabeça novamente, dando a entender que não era culpa dele. Eventualmente, a dor em seu peito desapareceu, e ela respirou fundo antes de levantar a cabeça.
— Não, eu que peço desculpas... Vamos comer, antes que esfrie.
✗✗✗
A refeição, que eles consumiram um pouco apressadamente, foi muito boa no geral. As folhas da salada tinham um leve toque de maionese, e quando tiraram a tampa da sopa, ela estava realmente borbulhando intensamente. O pássaro-poro desmanchou-se em pedaços macios com apenas um toque do garfo, mas, no geral, foi uma refeição agradável. Quando Asuna terminou sua terceira taça de vinho — desta vez um rosé doce — a garçonete trouxe as sobremesas.
— Parece uma torta de mirtilo normal. Esta é a...?
— Sim. O prato com bônus de buff de estoque limitado.
A cor dos mirtilos parecia um pouco vívida demais (provavelmente a origem do "blue" extra no nome), mas com a única iluminação vinda das quatro lanternas penduradas em cada canto do terraço, era difícil dizer. Assim que viu Kirito devorar alegremente a primeira mordida sem sinais de envenenamento ou maldições, Asuna pegou um pedaço triangular e levou-o à boca.
— Oh... está uma delícia — ela soltou. Debaixo dos frescos e doces mirtilos havia uma camada de creme de confeiteiro espesso, que combinava bem com a crosta crocante da torta. Claro, não tinha o tamanho do Bolo Tremble, mas era difícil dizer qual sabor era melhor. Ela terminou a sobremesa em um estado de felicidade, tomou um gole de café e suspirou de satisfação. Ao fazer isso, um ícone de efeito desconhecido apareceu no canto superior esquerdo de sua visão.
Dentro do ícone quadrado havia a imagem de um olho aberto. Provavelmente houve algum tipo de aumento para a visão, mas ela não sentiu que sua visão ou visão noturna tinham melhorado de forma notável.
— O que é esse buff?
— Olhe para o chão do terraço — disse Kirito. Ela se inclinou para olhar para o chão de pedra sob a mesa. Enquanto o examinava, notou algo brilhando suavemente na borda do terraço.
— Tem algo ali...
Ela se levantou e caminhou em direção ao objeto brilhante — uma pequena moeda.
O efeito de brilho parou assim que ela a pegou, mas o reflexo da luz da lanterna não desapareceu. Era uma moeda de prata antiga.
Mas a imagem estampada no lado não era o ícone familiar de Aincrad na moeda comum de cem col. Era um novo símbolo de duas árvores lado a lado. Do outro lado havia apenas um brasão estranho, sem números.
Ela voltou para Kirito e levantou a moeda.
— É só uma moeda desconhecida... O que é isso? Por que estava brilhando?
Ela se sentou e jogou a moeda na mesa. Kirito a pegou rapidamente, deu uma olhada e assentiu, girando-a entre os dedos.
— Essas ruínas são compostas de restos — os edifícios e estradas que constituem «Karluin» — e um outro elemento muito importante. Você sabe o que é?
Ela resmungou, sentindo que estava sendo questionada por um professor de história. Com a mente de estudo ativa pela primeira vez em anos, ela tentou chegar a uma resposta razoável.
— Artefatos?
Kirito lançou a moeda com o polegar direito e a pegou habilmente com a mão esquerda.
— Perto! Bem, você está basicamente certa, mas a resposta é 'relíquias.' Restos e relíquias se combinam para formar ruínas... O que quero dizer é que «Karluin» não é apenas essas estradas e paredes antigas — está cheia de pequenas relíquias como esta. A história ainda não avançou, mas dentro de um ou dois dias, haverá centenas de jogadores subindo para cá para caçar relíquias por toda a cidade.
— Ooooh…
Ela não pôde deixar de olhar novamente para o chão. Havia um novo brilho na base da grade voltada para o sul, então ela correu para pegá-lo.
— Esta é de cobre.
O símbolo de duas árvores era o mesmo, mas a moeda marrom era um pouco menor quando colocada na mesa ao lado da primeira. Agora ela podia sentir seu corpo coçando para procurar mais delas. Kirito sorriu para ela.
— Tome cuidado para não ficar viciada na caça de relíquias. Em outros jogos, você teria um mini mapa com as localizações dos itens listados, e eles brilhariam na tela, mas em SAO, eles estão apenas no chão... Foi até difícil encontrar aquele enorme Galho de Madeira Fóssil, então você pode imaginar quão difícil será encontrar essas pequenas moedas por aí.
— Hã? Mas estava brilhando para mim — ela começou a dizer, então percebeu que era o efeito do buff da torta de mirtilo azul. — Oh. Então esse ícone de olho significa...
— Sim. Esse é um bônus para encontrar relíquias, e só funciona dentro e abaixo de «Karluin», mas vai te ajudar bastante ao fazer com que moedas e joias brilhem—
— Joias? — Asuna perguntou, interrompendo-o.
— Er... s-sim. As moedas de ouro e joias são super raras, então mesmo com o buff, é bem difícil encontrá-las. Ainda mais raros são os anéis mágicos e colares…
— Anéis? Colares?
— S-Sim.
Asuna desviou o olhar do Kirito, que parecia desconfortável, e para as moedas de prata e cobre na mesa. Depois de cinco segundos de luta interna, ela admitiu: — Eu quero caçar relíquias também.
Provavelmente não era a ação mais elegante, mas quando estava no jardim de infância, ela se lembrava de participar de uma cerimônia de conclusão de construção, onde correu para pegar todos os bolinhos de mochi que espalharam para abençoar a construção concluída. Isso lhe rendeu uma bronca feroz de sua mãe, então pegar itens em um mundo virtual não era nada neste momento. Além disso, eles pagaram pela torta com efeito, então não havia motivo para deixá-lo desperdiçado.
Ela encarou seu parceiro, que parecia mais cético a cada segundo, e perguntou: — Há algum problema?
— N... Não, não é nada...
— Na verdade, por que você parece tão desmotivado para fazer isso? Conhecendo você, pensei que recomendaria pegar todos antes que a cidade ficasse cheia.
— Q-Que rude... e, bem, preciso admitir que é preciso — o espadachim resmungou relutantemente. — Eu também adoro fazer coisas assim, mas tenho algumas memórias trágicas do beta... Mas, contanto que fiquemos na cidade, deve ficar tudo bem...
Ele chegou a algum tipo de consenso interno e se levantou, apontando para a mesa.
— A propósito, essas Moedas de Karl podem ser convertidas em col em um comerciante de troca NPC na cidade — ele acrescentou, pegando as moedas.
Quando a garçonete NPC veio limpar os pratos, eles deram a ela um automático "obrigado pela refeição" e voltaram pela grande porta. Ainda não havia jogadores à vista, mas uma vez que a torta com buff fosse incluída nos guias de estratégia da Argo, aquela fila da beta retornaria.
— Quanto tempo dura esse buff? — Asuna perguntou enquanto partiam.
Kirito fez uma cara como um adulto tranquilizando uma criança pequena.
— Não há necessidade de pânico. Temos uma hora inteira.
— Você quer dizer apenas uma hora! Ah, certo... você pode pedir essas tortas para viagem?
— Infelizmente, o buff só funciona se você comê-la no restaurante. Apenas uma por cliente, trinta feitas por dia.
— Ahh... Então você não poderia comprá-las todas e revendê-las com um grande lucro — Asuna murmurou. Kirito se afastou em horror fingido.
— Uau, nem eu desceria a esse nível!
— E-Eu não disse que faria isso! Só estou dizendo, é uma sorte que isso seja impossível!
Mesmo enquanto cutucava o ombro do casaco dele, ela teve o cuidado de não tirar os olhos do chão. Por enquanto, ela não viu nenhum objeto brilhante.
— Havia dois naquele terraço antes, mas não estou encontrando nenhum por aqui...
— Não há muitas relíquias nas passagens, nem em lojas e edifícios de NPC. Os lugares para ir são as praças abertas aqui e ali, os templos e os locais realmente arruinados que os residentes não usam.
— Ahh... E quando você pega uma relíquia, ela desaparece?
— No beta, elas reapareciam sempre que o servidor era desligado para manutenção... mas desde que o jogo começou oficialmente, nunca houve nenhum período de manutenção onde o servidor fosse parado...
— Sabe, você tem razão... Quando eles desligam jogos online como este para manutenção, o que exatamente eles fazem?
Essa talvez fosse uma pergunta mais relacionada ao mundo real, mas ela achou seguro perguntar. Kirito pressionou os dedos nas têmporas e tentou se lembrar.
— Acho que li sobre isso uma vez... Eles verificam o software e o hardware em busca de danos, consertam ou substituem qualquer coisa que encontrarem, atualizam o programa com correções de bugs, e então reiniciam o servidor... Eu acho?
— Então tem várias coisas que eles fazem. E... isso tudo é necessário, certo? Como o SAO está funcionando bem por dois meses sem manutenção?
— Infelizmente, eu não sei — respondeu o espadachim, sorrindo de forma irônica enquanto olhava para o andar acima. — Se eles agruparem os servidores, podem fazer uma manutenção escalonada, trocando-os individualmente sem parar o serviço... mas o problema em um jogo é garantir que a lógica cronológica não se misture. No caso de SAO, Kayaba claramente o projetou sabendo que o transformaria em uma armadilha mortal, então obviamente ele tinha um plano para tudo... Só não consigo adivinhar como isso funciona daqui.
Ela estava começando a perder o fio do pensamento dele, então Asuna rapidamente aproveitou a pausa no discurso dele para dizer: — Obrigada. Enfim, no momento, isso significa que é possível que qualquer relíquia que seja pega nunca mais reapareça no chão.
— De fato.
— Nesse caso, é ainda mais importante que não percamos tempo! Praças e templos, você disse? Vamos!
— Sim, sim, estou indo. Se você virar à esquerda ali na frente, há um templo em ruínas que vale a pena explorar... Ah, senhorita, por favor, não corra nos corredores!
Mas Asuna já tinha disparado em direção às ruínas que ainda não havia visto.
CONTINUA NA PARTE 3 DIA 21/07
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