Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 4

SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 1)


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


1

EU NUNCA ESPEREI QUE ESSE DIA CHEGASSE, pensou Asuna, a espadachim nível 16, enquanto mantinha sua «Chivalric Rapier» +5 em uma postura de combate média. 4 metros e meio à frente, um espadachim de cabelos negros e casaco preto fazia o mesmo com sua espada. Sua postura parecia preguiçosa e relaxada, mas a ponta afiada da lâmina permanecia totalmente imóvel, brilhando friamente enquanto absorvia o olhar de Asuna.

Eles estavam se enfrentando em uma praça cercada por antigas ruínas cobertas de musgo. A área estava silenciosa, sem qualquer sinal de jogadores ou mobs. A luz que atravessava a abertura externa do castelo flutuante era fraca, aproximando-se do roxo escuro do crepúsculo a cada momento.

Hoje era o quinquagésimo (50º) dia desde o início oficial de Sword Art Online, o jogo mortal em que, se o HP de um jogador chegasse a 0, resultaria na morte dele na vida real. No mundo real, era 28 de dezembro de 2022. Em mais quatro dias, um novo ano chegaria — assumindo que eles vivessem para vê-lo.

Vou sobreviver até o próximo ano.

Quando ela saiu da cidade inicial pela primeira vez, nunca havia sequer considerado essa possibilidade. Ela havia usado rapieiras compradas em lojas, não se preocupava em fazer manutenção nelas — na verdade, nem sabia que isso era possível — e as usava até o limite enquanto lutava incessantemente contra inúmeros mobs, resignada a eventualmente ficar sem forças e morrer... Parte dela até esperava que isso acontecesse, ansiava por essa obliteração.

Mas, em algum momento, aquele todestrieb — aquele impulso de morte — havia desaparecido. Não que Asuna tivesse agora uma esperança clara para o futuro. Não havia certeza de que algum dia derrotariam o jogo e voltariam ao mundo real. Mas ela queria viver para ver mais um dia... para lutar seu caminho através deste andar até alcançar o próximo. Esse sentimento era palpável dentro dela.

E a razão para essa mudança era, sem dúvida, o garoto de cabelos negros à sua frente, segurando sua espada longa. Ele havia lhe ensinado muito sobre o jogo e como funcionava. Ele a havia salvado de muitos perigos. E não apenas isso... Apesar do perigo esmagador que os cercava, ele mantinha uma atitude despreocupada, nunca esquecia de sorrir e se divertir, e até aliviava seu coração pesado com ocasionalmente uma bobeira. Como seu parceiro constante na superação do jogo, ele lhe dava esperança para o amanhã.

Mas agora, a única coisa nos olhos negros de Kirito, o espadachim nível 17, era uma concentração afiada e impiedosa. Não havia gentileza ou frivolidade ali. Sua espada e mente eram uma só, prontas para reagir a cada movimento de Asuna sem pausa ou atraso.

Ontem — 27 de dezembro — enquanto subiam a escadaria circular do quarto andar para o quinto, Asuna se virou para ele e perguntou: — Por quanto tempo você planeja trabalhar comigo?

Ela não esperava uma resposta concreta. Talvez ela tivesse sido levada a esse sentimento apenas depois de se separar dos elfos negros do terceiro e quarto andares. «Kizmel» e Visconde «Yofilis» eram NPCs, mas, de certa forma, eles estavam mais próximos dela do que qualquer jogador havia estado.

Kirito olhou de volta nos olhos de Asuna, deu de ombros e, com sua habitual maneira distante, disse: — Até que você seja forte o suficiente para não precisar de mim.

Foi uma resposta prática, desprovida de emoção no estilo típico dele, mas Asuna ainda não conseguia afastar aquele peso sufocante de seu coração. No quinto andar, e provavelmente no próximo depois desse, ele continuaria a estar ao lado dela como seu parceiro, lutando às suas costas. Ela não queria admitir, mas o pensamento a deixava feliz.

E, no entanto...

— Se você não vai me atacar, eu vou dar o primeiro golpe — disse Kirito de repente, cortando seus pensamentos vacilantes com uma voz controlada. A espada longa em sua mão direita começou a balançar. O sol poente deslizava ao longo de sua lâmina como uma gota de sangue vermelho.

A «Anneal Blade» +8 de Kirito, que o havia servido desde o primeiro andar, finalmente se quebrou em uma batalha contra um cavaleiro elfo da floresta no quarto andar, então agora ele estava usando a «Elven Stout Sword» que seu oponente havia dropado. O cabo e a guarda tinham enfeites delicados, adequados para uma arma de fabricação élfica, mas não era uma arma particularmente elegante. A lâmina polida brilhava friamente no crepúsculo.

Na verdade, as especificações básicas da arma eram quase tão boas quanto a «Anneal» no nível +8. Em outras palavras, se Asuna não bloqueasse ou esquivasse deste ataque, seu HP — a representação numérica de sua vida — sofreria um grande dano.

Mas o mesmo poderia ser dito de Kirito.

A «Chivalric Rapier» na mão direita de Asuna era uma excelente arma aprimorada pelo ferreiro NPC do acampamento dos elfos negros no terceiro andar. Segundo Kirito, suas estatísticas eram anormalmente altas, o que tornava sua força de ataque única maior do que a maioria das espadas longas — uma qualidade mortal para rapieiras, que eram feitas para ter ataques frequentes, mas fracos. Era difícil adivinhar quanto do HP de Kirito seria retirado se Asuna o acertasse limpidamente com sua melhor habilidade, o combo de três partes «Triangular».

A visão de cada combatente se estreitou, focando unicamente no momento em que qualquer espada atingisse o alvo. Suas respirações se encurtaram. O som normalmente inevitável das botas raspando contra o chão de pedra tornou-se distante.

Eles haviam lutado contra inúmeros mobs até aquele momento, e não apenas contra animais e insetos não humanos. Haviam lutado uma batalha feroz no Castelo Yofel no quarto andar contra soldados elfos da floresta que pareciam exatamente como qualquer jogador. Mesmo essa experiência não havia sido tão assustadora quanto esta.

Como lutar contra outro jogador pode ser tão diferente disso? É porque... estou lutando contra o Kirito?

A ponta da «Chivalric Rapier» que ela segurava oscilava. Kirito não perdeu a oportunidade, avançando com sua perna esquerda.

A espada élfica já não estava mais sendo segurada de forma preguiçosa, mas imóvel ao nível dos olhos. Ele iria desferir um ataque normal impulsivo... ou uma habilidade de espada saltando. Ela tinha que adivinhar qual e reagir antecipadamente. Mas sua rapieira não parava de tremer.

— Não.

Outro gemido áspero escapou de seus lábios trêmulos antes que ela percebesse.

— Não. Eu não quero fazer isso.

Ela segurou sua mão direita rebelde com a esquerda, empurrando-a em direção ao chão. Seus olhos deixaram o rosto de Kirito e se fixaram na pedra abaixo, índigo na escuridão. Ela sabia que era uma reação infantil, e não havia garantia de que Kirito pararia. Mas Asuna manteve seu rosto teimosamente voltado para baixo.

Com o tempo, veio o som de botas raspando na pedra. Em seguida, o som de uma lâmina cortando o ar. O leve tilintar do metal. Quando ela olhou novamente, Kirito havia guardado sua espada longa na bainha em suas costas e estava levantando as mãos em exasperação.

— Então você mudou de ideia… — ele disse com um sorriso irônico, verificando o cronômetro do duelo na metade superior de sua visão. — Você foi quem pediu uma aula de PvP, Asuna.

 

✗✗✗

 

Cinco minutos depois, Kirito já havia acendido uma pequena fogueira em um canto das ruínas que tinham sido a arena do duelo deles. Ele tirou uma chaleira de ferro de seu inventário e começou a ferver água. 

Para sua surpresa, ele até tinha galhos para queimar na fogueira.

— Quando você pegou esses galhos? — ela perguntou.

— Hmm? Ah, aqui e ali, no terceiro e quarto andar — ele respondeu, com um ar satisfeito por algum motivo. Ele puxou um dos gravetos acesos da fogueira. — Veja como a cor da chama é um pouco diferente do fogo comum?

Agora que ele mencionou, a chama na ponta do galho parecia um pouco esverdeada.

— Esse é um item de loot chamado Galho de Madeira Fóssil. Eles queimam por muito mais tempo do que galhos comuns. Eu os encontrei enquanto caminhava pelos andares inferiores, então peguei alguns, só por precaução. Afinal...

Ele fez uma pausa e gesticulou com o galho para as ruínas de pedra ao redor.

— O quinto andar é um andar de ruínas. Há muito poucas árvores aqui, então não será fácil encontrar esses suprimentos.

— Ohh... Se você tivesse me dito, eu teria pegado alguns também, sabe — disse Asuna, o que lhe rendeu um sorriso cético de Kirito.

— Não sei, não. Você só encontra Madeira Fóssil semi-enterrada em solo úmido. É difícil imaginar a Asuna meticulosa colocando um item tão enlameado em seu inventário.

— Eu... Eu não me importaria com isso. É apenas um lugar de armazenamento digital, então não é como se os outros itens fossem ficar sujos.

— Além disso, quando você os tira do solo, às vezes têm insetos nojentos neles, então...

...

Asuna se afastou um pouco do graveto em chamas na mão de Kirito. O espadachim o devolveu à fogueira com uma risada calorosa. Nesse momento, vapor branco saía da chaleira, então Kirito despejou a água fervente no bule já preparado, esperou quinze segundos e, em seguida, serviu o líquido em duas xícaras.

— Aqui.

Ela pegou a xícara, agradeceu a ele e então inalou seu aroma. Ela havia comprado aquelas folhas em «Rovia», a cidade principal do quarto andar; tinham um cheiro parecido com um chá rooibos com sabor de fruta. Com os braços em volta dos joelhos, ela tomou um gole do líquido quente e suspirou satisfeita.

O último raio de sol já havia desaparecido, e a área estava coberta por uma escuridão azulada. Nos andares inferiores, o luar que entrava pela abertura externa de Aincrad proporcionava um pouco de iluminação, mas aqui no quinto andar, quase não havia luz. Se não fosse pela fogueira, Kirito seria apenas uma silhueta negra ao lado dela.

Ontem, eles haviam ido diretamente da saída da escadaria espiral para a cidade principal, e, quando a noite caiu, estavam descansando em uma pousada. Hoje, estiveram ocupados cumprindo missões o dia todo, então Asuna não havia percebido o quão escura era a noite fora da cidade. Como um jogador solo por opção, Kirito tinha a habilidade de «Searching», então ele a alertaria se um mob ou outro perigo se aproximasse, mas ela não conseguia evitar imaginar algo espreitando na escuridão, além das paredes de pedra que cercavam a praça em ruínas.

Asuna inconscientemente deslizou-se cerca de cinco centímetros mais perto de Kirito, então murmurou.

— Desculpe por mais cedo.

— Hã? Pelo quê?

Ela já esperava essa resposta e imediatamente continuou.

— Por desistir do duelo que eu mesma pedi.

— Oh... Bem, olha, eu não me importo — Kirito deu um grande gole no chá e fez uma careta devido ao calor. Ele a olhou. — Só parece um pouco raro você desistir de algo que começou.

— Mm...

Ela assentiu e descansou o queixo nos joelhos enquanto os abraçava com o braço esquerdo.

— Não era bem o que eu imaginei. Esse duelo... mas não é realmente um duelo porque estava no — como você chamou — modo de primeiro golpe? Então, quem der o primeiro golpe vence e é basicamente seguro. Eu pensei que seria mais como... uma partida. Uma competição esportiva. Mas...

A boca de Asuna se moveu sem som enquanto ela tentava encontrar as palavras para descrever o medo que se infiltrou em seu coração quando lâmina encontrou lâmina. Mas antes que ela conseguisse, Kirito murmurou.

— Há pelo menos uma grande diferença... entre duelos em SAO e competições esportivas na vida real.

Ela olhou para o espadachim de manto preto sentado de pernas cruzadas na pedra. Seus olhos, mais negros que a escuridão, estavam olhando para o fogo. Estavam levemente estreitos, contemplando memórias distantes.

— Acho que é o motivo para lutar. Nos esportes — mesmo nos combates competitivos — é a vitória que você espera alcançar, certo? O desejo de vencer se torna uma enorme fonte de energia. Superficialmente, os duelos neste jogo são muito parecidos com esportes. Quando jogadores de níveis e equipamentos semelhantes lutam no modo de término no primeiro golpe, não há absolutamente nenhum medo de que os HP caiam para um nível perigoso. Mas...

Quando Kirito se calou, o pedaço de Madeira Fóssil estalou e explodiu. Uma chuva de faíscas vermelhas subiu, derretendo na escuridão.

Asuna traçou o punho da «Chivalric Rapier» equipada em seu quadril esquerdo e continuou de onde Kirito parou.

— Mas não estamos usando bastões, raquetes ou até mesmo espadas shinai de bambu... São aço de verdade. Claro, são linhas de código digital, mas se tocarem seu oponente, tiram sua vida real...

— Exatamente. Quanto mais a sério você leva o duelo, menos ele se torna sobre conquistar uma simples vitória. Aqueles que não têm medo de cortar seus oponentes com armas de aço e tirar seus HP — aqueles que seguem mais puramente o propósito de 'matar' seu inimigo — chegarão mais perto da vitória. No cerne, o duelo não é um esporte aqui. É apenas derramamento de sangue para a sobrevivência. Vencer não tem nada a ver com isso.

Quando essas últimas palavras saíram de seus lábios, Asuna sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ela reconheceu isso como a mesma sensação que havia atrapalhado sua mão mais cedo, naquela tentativa de duelo.

— Eu não quero ter uma luta até a morte com você, Kirito — ela desabafou, e então rapidamente fechou a boca. No entanto, ele não a provocou.

— Sim. Eu também não quero fazer isso com você... Mesmo que seja apenas um duelo de primeiro golpe — Ela olhou para ele com leve surpresa e viu que Kirito também estava olhando para ela. Seus olhos negros refletindo a luz laranja da fogueira, seu parceiro temporário continuou — Mas... ainda acho que você deveria ter alguma experiência com duelos... com PvP, antes de começarmos a explorar este andar a sério.

Ela olhou de volta para ele, sem saber como responder.

A tentativa abortada de duelo foi ideia de Asuna. Mas essa ideia veio de algo que Kirito havia dito na noite anterior, enquanto subiam a escadaria em espiral para este andar.

Depois que eles derrotaram «Wythege, The hippocampus», boss do quarto andar, com a ajuda de «Kizmel», a cavaleira elfo negra, e do Visconde «Yofilis», Asuna e Kirito deixaram os membros das outras guildas para trás na câmara e continuaram subindo a escadaria em espiral para o quinto andar.

A parede do salão da escadaria estava entalhada, como de costume, com relevos que simbolizavam a paisagem e as vistas do novo andar, mas o mais impressionante e memorável era sempre aquele na grande porta no topo de cada escadaria.

O relevo era de um grande castelo antigo. Não era uma mansão elegante como o Castelo de Yofel no meio de um lago, mas uma fortaleza pesada e imponente. Enquanto olhava para a escultura, Kirito suspirou e disse.

— Parece que o terreno básico é o mesmo que era no beta-teste...

Asuna perguntou que tipo de terreno era aquele, e ele deu de ombros e explicou.

— Ruínas. Talvez trinta por cento do mapa seja terreno natural, e o resto são todas ruínas labirínticas. Ou seja, todo o terreno de nove quilômetros e meio de largura é, de certa forma, uma enorme dungeon... E é muito escuro... Houve muito PK-ing lá no beta teste...

PK-ing: matar jogadores. E quem matava jogadores era um PKer.

Ela estava familiarizada com isso como um termo de jogos. Kirito uma vez disse que queria comprar a mesma capa com capuz que ela usava, para esconder seu rosto na cidade. Quando ela apontou que ele poderia muito bem usar um saco de estopa na cabeça, ele respondeu que seria confundido com um PKer se fizesse isso.

Na época, foi uma conversa leve e boba, então Asuna basicamente ignorou e depois esqueceu o termo. Afinal, nunca haveria PK-ing em Aincrad.

No entanto, Kirito parecia preocupado. Ele disse a Asuna que ouviu rumores de que PKers já estavam operando em Aincrad e que o segundo andar, no início de abril de 2022, teve mais de dez pessoas que morreram pela perda de todos os seus HPs.

Apenas escutar essas palavras a fez estremecer, mas Kirito fez questão de soar despreocupado.

— Não é como se o PKing se tornasse comum agora ou algo assim. Eu só acho que é melhor ter alguma experiência com duelos e outros tipos de combate PvP... de preferência enquanto eu ainda estiver por perto.

Isso lhe rendeu um olhar significativo. Embora ela não estivesse totalmente convencida, Asuna pensou no assunto durante a noite, decidindo na manhã seguinte a pedir por um duelo.

No entanto, seu oponente não foi aquele que ela esperava.

Seu parceiro assentiu e voltou a olhar para o fogo. Havia uma tensão incomum em suas feições.

— O Morte me desafiou para um duelo de meio-acabamento, reduziu meu HP até pouco acima da metade e tentou me acertar com seu machado para causar um dano massivo. Se ele tivesse sucesso, teria eliminado todo o meu HP e me matado... E, tendo vencido o duelo de maneira justa, ele não se tornaria um jogador laranja. Isso faria com que fosse um método de PK tão legal quanto um PK de mobs... Um PK de duelo, acho. Estou impressionado por ele ter pensado nisso.

— Não comece a ficar impressionado com ele — Asuna retrucou. O espadachim esboçou um sorriso forçado e concordou.

Com a expressão séria novamente, Kirito murmurou: — O problema é por que Morte faria uma coisa dessas. Baseado na maneira como ele apareceu, não acho que ele seja um PKer por prazer, fazendo isso por diversão. A razão pela qual ele me desafiou para aquele duelo foi porque ele queria me impedir de completar a missão no acampamento dos elfos da floresta. E, enquanto eu estava ocupado, a DKB e a ALS estavam se aproximando do mesmo acampamento para linhas de missões diferentes. Ele queria que eles tivessem um confronto... que lutassem.

— Sim… — murmurou Asuna, lembrando do evento. — Quando «Kizmel» e eu corremos para o acampamento, parecia que eles estavam prontos para sacar as armas a qualquer momento... Se ela não tivesse interrompido ali mesmo, todo o grupo da linha de frente poderia ter se desintegrado. Mas... mesmo que ele tivesse sucesso, como isso ajudaria Morte? O que ele poderia ganhar que valeria um atraso de meses em vencer o jogo e obter a liberdade de todos? — Ela fez essa pergunta mais para si mesma, mas Kirito estava contemplando a mesma questão.

A DKB e a ALS eram tão grandes que representavam quase a totalidade dos jogadores mais avançados do jogo. Todos os bônus de Last Hit dos bosses tinham sido obtidos pelo espadachim negro sentado ao lado de Asuna, mas, a essa altura, era praticamente impossível vencer a torre do labirinto sem essas duas guildas.

Um motivo para fazer as duas guildas lutarem.

Normalmente, uma boa razão seria aproveitar o caos da briga para assumir o controle de ambas as guildas, assumindo o comando da liderança: em suma, pela glória. Ou talvez lootear o dinheiro e o equipamento dos jogadores que morressem na batalha, para ganho pessoal.

Mas seria possível que a busca por glória ou riquezas superasse o desejo de sobreviver? Não importava sua posição elevada neste mundo, não importava quanto col você ganhasse ou quanto equipamento de elite você usasse, tudo isso era inútil se você perdesse uma luta, seja contra um mob ou outro jogador. Você simplesmente morreria nesta prisão digital e nunca retornaria ao mundo real.

Algo não se encaixava nos motivos de Morte. Parecia que ele estava tentando interferir nos esforços para completar o jogo. Mas ninguém deveria realmente pensar dessa maneira. Especialmente se estivesse arriscando a morte ao deixar a segurança da cidade e aventurar-se na perigosa Aincrad.

A razão de Asuna para lutar na linha de frente como uma das melhores jogadoras do jogo era um dia escapar dessa fortaleza flutuante. Ela voltaria ao mundo real, retomaria sua vida antiga e esqueceria todo o medo e tristeza que havia experimentado aqui...

Sem perceber, ela olhou para sua direita. Seu parceiro temporário de cabelos pretos estava olhando para o fogo crepitante. O jeito como ele estava perdido em pensamentos removia sua habitual postura tensa e, na verdade, o fazia parecer bastante jovem.

Escapar deste mundo. Isso significaria...

Ela se forçou a interromper esse pensamento e endireitou a cabeça com considerável força de vontade. Seus olhos pousaram no estranho fogo esverdeado ao redor do Galho de Madeira Fóssil. Comparado a um fogo real, havia um toque de artificialidade na maneira como as pontas das chamas se moviam, mas era real o suficiente para Asuna, e também bonito.

Sim... o mundo em que viviam era uma prisão cruel, mas às vezes podia ser deslumbrantemente lindo. A cidade no primeiro andar, as planícies do segundo, as florestas do terceiro e os canais do quarto... E a única razão pela qual ela conseguia apreciar essas coisas era devido à influência do parceiro sentado ao lado dela.

Ela estava lutando para manter sua mente longe desse fato, ponderando mais sobre os motivos de Morte, quando Kirito quebrou seu longo silêncio para considerar: — Talvez... Morte não seja o mesmo tipo de jogador que nós, no sentido mais verdadeiro...

— Hã? O que você quer dizer?

Ela olhou novamente para Kirito, que ainda estava olhando fixamente para o fogo do acampamento.

— Se você assumir que o motivo dele em interferir no nosso progresso é, em si, um ato de sabotagem dirigido por quem quer que esteja controlando este jogo de morte... isso faz algum sentido.

— S...Sabotagem? Você está dizendo... que ele está trabalhando com Akihiko Kayaba?

— Sim — confirmou Kirito. No entanto, ele rapidamente balançou a cabeça. — Mas mesmo assim, não faz sentido. Seria uma coisa se estivéssemos prestes a terminar o jogo, mas esse cara começou suas atividades quando estávamos no terceiro andar de cem. É cedo demais. Não, espere...

Os olhos de Kirito brilharam de repente.

— Agora!

— Hã?! O-O quê?! — Asuna exclamou, levantando-se ao mesmo tempo que Kirito sacava sua espada.

A ponta afiada da «Elven Stout Sword» traçou uma linha prateada na escuridão. Ele perfurou a fogueira com um golpe quase tão rápido quanto a esgrima de Asuna.

Enquanto ela observava perplexa, uma enorme tempestade de faíscas flutuou para o céu noturno. Quando ele puxou a espada de volta, algo estava espetado na ponta. Estava cozido até ficar levemente crocante, emitindo um vapor branco e delicioso: um inhame assado.

— Hum... Kirito.

— Sim.

— Quando você estava olhando fixamente para o fogo daquele jeito...

— Sim.

— Era só para monitorar o cozimento do inhame?

— Pode apostar — ele respondeu, sério. Em resposta, ela oscilou entre gritar com ele ou socá-lo.

Mas antes que pudesse colocar qualquer plano em ação, Kirito retirou a ponta da batata-doce e colocou a espada na bainha sobre suas costas. Ele jogou a batata quente de uma mão para a outra e eventualmente a dividiu em duas metades. Outro jorro de vapor saiu, junto com um cheiro doce e fragrante.

— Aqui.

Ele ofereceu a ela uma metade. Como haviam se passado seis horas desde o almoço, ela decidiu que era generosa o suficiente para deixar sua raiva de lado por enquanto.

O inhame assado não era exatamente igual a uma batata-doce real em cor e textura, mas ainda era delicioso. Asuna deu uma mordida e deixou o recheio macio derreter como creme em sua boca, com um sabor rico e doce.

Após a segunda mordida, e depois uma terceira, ela tomou um gole de chá, suspirou satisfeita e finalmente perguntou:

— Quando você comprou isso? Não me lembro de termos passado em um mercado.

Kirito murmurou e disse evasivamente.

— Hmm? Eu não comprei.

— Então, de onde isso veio? Não me diga que você pegou isso do chão na floresta do terceiro andar também.

— Ha-ha, de jeito nenhum. Essas batatas-doces são ingredientes de nível B — você não pode simplesmente encontrá-las em andares baixos como este.

— Então você conseguiu de alguém?

— Bem, você pode dizer que sim, de forma geral... Isso é um drop dos mobs metade-peixe, metade-humano no labirinto do quarto andar.

...

A resposta inesperada a deixou sem saber como reagir. Se ele tivesse dito que era "carne de homem-peixe", ela teria jogado diretamente na cara dele, mas uma posse anterior parecia segura o suficiente para ser aceitável. Ela deu outra mordida rapidamente, antes de fazer sua quarta pergunta:

— Por que um homem-peixe largaria batatas-doces?

Ela esperava uma das piadas irônicas e escorregadias de sempre, mas ficou decepcionada.

— Hmmm...

Ele gemeu, depois murmurou por três segundos e colocou a batata assada pela metade de lado. Ele devolveu a pergunta com outra.

— Você sabe de onde vêm as batatas-doces de Satsuma?

— Hã...? Bem, Satsuma era o antigo nome de Kagoshima, certo? Eu acho que aprendi isso na escola. Alguém chamado Aoki Konyo trouxe as sementes da província de Satsuma.

Assim que terminou de responder, ela percebeu, com um susto, que quase admitiu que tinha estado no ensino fundamental na vida real. Ela quase nunca falava com Kirito sobre a vida lá fora — nunca, na verdade. Esta provavelmente era a segunda vez.

Kirito não parecia dar muita importância à revelação.

— Sim. Para ser preciso, elas vieram primeiro de Okinawa. Mas isso é só no Japão... O que eu quero dizer é, onde elas foram cultivadas pela primeira vez no mundo todo?

— O mundo...? — ela perguntou, ligeiramente aliviada. — Hmm... Acho que ouvi que as batatas são originárias da América Latina...

— Correto.

— Hã?

— Batatas-doces são originárias de lá. Tecnicamente, as batatas foram cultivadas nas terras altas da América do Sul e Central, enquanto as batatas-doces foram cultivadas nas terras baixas próximas à costa.

— Ohhh...

Ela colocou o último pedaço na boca, saboreou o sabor e então trouxe o assunto de volta, perguntando: — O que isso tem a ver com aqueles homens-peixe?

— Bem, isso é só uma tentativa minha de forçar a conexão — ele respondeu. Com um sorriso, ele jogou o último pedaço de sua batata assada para o ar e o pegou na boca. — Mas, na mitologia dos astecas, o mundo já colapsou quatro vezes. No primeiro mundo, as pessoas foram comidas por jaguares. No segundo, as pessoas foram transformadas em macacos. No terceiro, elas foram transformadas em pássaros. E no último mundo, elas foram transformadas em peixes...

— E as pessoas que foram transformadas em peixes eram as que estavam lutando contra nós no labirinto do quarto andar? — ela respondeu ceticamente. Kirito riu de bom humor.

— Ha-ha, talvez, talvez não. Mas lembra do que a «Kizmel» disse? Os vários andares de Aincrad foram separados da terra há muito tempo e subiram ao céu. Havia elfos, kobolds e minotauros nessas seções... então, quem pode dizer que não poderia haver mobs das lendas astecas?

— Hmmm... o que eu quero saber é — Asuna fez uma pausa enquanto terminava o chá em sua xícara, depois olhou para ele com uma mistura de exasperação e admiração. — Como você sabe tanto sobre as lendas astecas e a origem das batatas-doces?

— Ahh — ele hesitou, e ela percebeu o que havia feito. Ela havia ultrapassado os limites próprios deste mundo novamente. Mas seu parceiro temporário apenas a olhou brevemente. — O lugar onde eu morava... do outro lado... era famoso por cultivar batatas-doces. Quando eu estava no ensino fundamental, fiz meu relatório de férias de verão sobre a história das batatas-doces. Engraçado como ainda me lembro dessas coisas.

— Ohh — ela murmurou, mantendo o rosto sério enquanto seu cérebro trabalhava furiosamente em uma nova sub-rotina.

Se era famoso por batatas-doces, isso significava Kagoshima ou Ibaraki, mas o vocabulário e a entonação de Kirito eram praticamente iguais ao japonês de Tóquio de Asuna. Então poderia ser alguma área ao redor de Tóquio famosa por batatas-doces — mas existiria tal lugar? Se ela tivesse um telefone da vida real, poderia fazer uma busca instantaneamente...

Após meio segundo desse rápido processo de pensamento, ela fechou os olhos e o interrompeu.

Se o jogo da morte fosse vencido, tudo neste mundo desapareceria — todos os equipamentos, itens e conexões pessoais. Ela não queria que isso fosse uma coisa ruim. Isso a faria perder de vista sua razão para continuar avançando.

— Obrigada pela batata. E pelos fatos sobre as batatas — ela disse, batendo palmas para afastar aquele pensamento persistente de sua mente. — Agora, sobre o Morte...

— Hmm? Ah... certo — Kirito disse, piscando e voltando sua mente ao tópico importante em questão. — Estávamos nos perguntando se o Morte estava trabalhando com Akihiko Kayaba ou não. Bem, eu sei que fui eu quem trouxe isso à tona, mas não acho que seja provável. Morte é apenas uma exceção à regra por enquanto, um jogador agindo com motivações que não se alinham com nossa lógica ou razão. É assim que devemos vê-lo por enquanto. Há apenas uma coisa que me incomoda...

Ele fez uma pausa, seus olhos encarando intensamente o fogo tranquilo da fogueira. Desta vez, ele não pegou outro conjunto de batatas.

— Nós já ouvimos uma história semelhante.

— Hã...? — ela soltou, então lembrou. — Oh... do Nezha!

Asuna prendeu a respiração até que Kirito assentiu silenciosamente.

Eles encontraram o jogador ferreiro Nezha no segundo andar. Ele usou o mod «Quick Change» para roubar secretamente seu «Wind Fleuret», uma escolha forçada por sua guilda, os Legend Braves.

Mas o truque em questão não foi ideia dele.

— O homem que conversou com eles no bar e lhes ensinou o truque daquele golpe de graça — o de poncho preto — continuou Kirito, com a voz baixa. — Acho que o objetivo verdadeiro dele era que Nezha fosse julgado pelos outros jogadores da linha de frente. Se não fosse pelo resto dos Braves se ajoelhando e implorando perdão após a luta contra o boss do segundo andar, eles poderiam ter executado Nezha. De certa forma, isso seria PK-ing. Brincar cuidadosamente com os pensamentos de vários jogadores, guiando-os a se matarem uns aos outros... Você poderia chamar isso de PK provocativo...

Asuna sentiu suas feições se contorcerem com a feia maldade da ideia.

O PK-ing de mobs (MPK) e o PK-ing de duelos (DPK) já eram ruins o suficiente, mas também envolviam um certo risco para a pessoa que tentava. Ao realizar um MPK, qualquer erro poderia fazer com que os mobs atacassem o PKer, e em um DPK, você sempre poderia acabar perdendo.

Mas um PK provocativo (se fosse um conceito comum o suficiente para ter seu próprio acrônimo, seria PPK) removia completamente qualquer risco direto para o que o orquestrava. O perpetrador apenas permanecia confortável no centro, guiando indivíduos e grupos para confrontos diretos ao seu redor.

As chances de sucesso pareciam menores do que um MPK ou DPK, mas em todo mundo há pessoas extraordinariamente habilidosas em manipular os outros. Mesmo na escola só para meninas onde Asuna estudava, havia alunas que não se destacavam de outra forma, mas podiam usar e-mails, mensagens de texto e rumores para manipular o clima da classe e aplicar pressão onde queriam. Elas provavelmente faziam isso sem perceber a própria habilidade, mas esse homem misterioso de poncho preto tentou fazer com que Nezha fosse morto com um propósito claro e maligno.

— Você acha que Morte e o poncho preto podem ser a mesma pessoa? — ela perguntou. Kirito passou um dedo entre as sobrancelhas.

— Hrmmm... Nezha descreveu o poncho preto como um homem que ria alegremente. E Morte certamente gostava de suas risadas, então eles podem ser a mesma pessoa. Se for o caso, então, como eu disse antes, Morte pode ser um PKer único e solitário que se recusa a seguir a lógica comum de Aincrad. Mas se forem pessoas diferentes, a situação é mais grave do que isso…

A fogueira, que finalmente estava perdendo combustível e força, estourou em uma explosão de faíscas. Asuna estremeceu, então hesitante, virou-se para seu parceiro.

— O que você quer dizer com 'grave'...?

Kirito respirou várias vezes, hesitando em responder, antes de finalmente falar com uma voz baixa.

— Se forem pessoas diferentes, devemos supor que Morte e o poncho preto estão trabalhando juntos.

…!!

— Significa que eles estão trabalhando para cometer PKs como uma dupla… ou talvez haja até mais de dois. Podem haver três, quatro… ou uma gangue inteira de PKers em algum lugar em Aincrad…

O galho de Madeira Fóssil finalmente chegou ao fim de sua durabilidade e desmoronou pelo meio, desaparecendo com uma grande quantidade de faíscas. À medida que as pequenas luzes se apagavam, a escuridão ao redor deles se aproximava, e Asuna inconscientemente se movia alguns centímetros para a direita.

— Mas se você matar jogadores em SAO agora, eles não podem ser revividos... Eles morrerão no mundo real. Morte e seu amigo não querem que a gente vença o jogo? Eles não querem sair daqui...? — ela raspou, com a voz tão rouca e seca que tinha dificuldade para se ouvir.

Quase dez segundos depois, a resposta de Kirito também foi tensa.

— Talvez... eles não estejam preocupados se escapamos ou não... Como você disse, quando seu HP chega a zero, o jogador morre. Então talvez eles só queiram causar PKs... cometer assassinatos...

Asuna achou que ouviu um ruído atrás dela e se virou.

Mas o que estava lá era uma série de paredes quebradas, escuras, frias e indiferentes.

 

CONTINUA NA PARTE 1 DIA 20/07


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