Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 4

SCHERZO DO CREPÚSCULO SOMBRIO - QUINTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 10)

 


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10

— SWIIIITCH!!

Shivata e Liten deram o comando juntos por trás de seus escudos de aço, bloqueando o ataque triplo do pequeno golem (embora ainda tivesse mais de um metro e oitenta de altura). Eles usaram a força dos golpes para saltar para trás, e Hafner avançou entre eles, com sua grande espada levantada. A lâmina espessa brilhou em laranja, e o sistema impulsionou o pesado guerreiro para frente.

A habilidade de espada de duas mãos «Cascade» atingiu o pequeno golem na testa, destruindo o terço restante de seu HP. Ele se desfez nas juntas de seus membros e, uma vez que era apenas um pedaço inerte de rocha, se despedaçou em pequenos fragmentos azuis.

— Esse é um poder de ataque e tanto — murmurou Nezha em admiração.

Virei-me para ele e sussurrei.

— Verdade, mas ele também acertou no ponto certo. Você notou como o golem tinha um tipo de símbolo na testa?

— Ah, verdade.

— Esse é o ponto fraco de todos os golems, inclusive do boss de andar. Naturalmente, o boss é muito mais alto, então ataques normais e a maioria das habilidades de espada não vão alcançá-lo...

— Entendo. Mas isso aqui vai — disse Nezha, segurando o círculo de metal em sua mão direita.

— Sim, o chakram pode acertar. Assim como com o rei minotauro no segundo andar, você espera o momento certo e conseguirá cancelar o especial do boss.

— Entendido.

Enquanto isso, a Equipe A terminou sua limpeza pós-batalha, e o líder do grupo, Hafner, deu o comando para continuar. Levantei a mão em reconhecimento e dei a ordem para minha equipe —  Equipe B — seguir.

Os dois grupos estavam se revezando para combater os mobs, e para uma equipe montada na hora, o trabalho em equipe não estava ruim. Embora a Equipe A pudesse ter usado o padrão dourado de guarda/switch/ataque, eu estava mais preocupado com a Equipe B, que estava presa repetindo ataque/switch/ataque. Mas entre o machado de duas mãos de Agil e a grande espada de Wolfgang, eles tinham poder suficiente para repelir nossos oponentes, dando a Asuna e a mim tempo para pular e seguir.

O mais importante, no entanto, era o trabalho em conjunto das duas equipes. Nas câmaras maiores onde encontrávamos mini-bosses, tentávamos fazer com que a Equipe A defendesse e enfraquecesse o inimigo, enquanto a Equipe B atacava pelos lados e por trás, mas, como eu temia, houve algumas vezes em que a Equipe B se empolgou demais e gerou muito aggro, desviando a atenção do boss da Equipe A. Como a estatística de aggro estava oculta dos jogadores, teríamos que conscientemente segurar a Equipe B para não atacar demais na grande luta que estava por vir.

Até experimentar por mim mesmo, eu não tinha ideia de como era difícil ser líder de raid. Agora eu entendia um pouco melhor os sentimentos de Lind, tentando liderar sua guilda com regras rígidas e hierarquias claras. Por outro lado, eu também podia imaginar o desejo de Kibaou de aumentar o sentimento de solidariedade na guilda e ceder à tentação da bandeira da guilda.

Depois que essa missão acabasse, eu voltaria à minha vida fácil de solo — na verdade, dupla — e nunca mais assumiria uma posição de liderança novamente, jurei para mim mesmo enquanto caminhava pelo corredor escuro. Asuna cutucou meu braço para chamar minha atenção.

— Hmm...?

— Sabe, acho que está ficando cada vez mais parecido — comentou ela. Olhei ao redor e vi que a dungeon estava de fato mudando em relação ao seu design anterior.

As paredes estavam cobertas com letras antigas misteriosas, e os pilares maciços agora estavam esculpidos em pilhas de cabeças angulares de golems, enquanto o chão e o teto eram feitos de granito preto polido. O aumento nos detalhes interiores era um sinal de que estávamos nos aproximando da câmara do boss.

Verifiquei minha janela e vi que já passava das sete horas. Três horas haviam se passado desde que entramos na dungeon, e considerando o número de escadas que subimos, já era hora de chegarmos ao objetivo.

— Finalmente chegamos à sala do boss, né? Eu devia ter pensado que atravessar a torre do labirinto não seria rápido — comentou Agil, com as mãos na parte de trás de sua cabeça careca. Sorri com isso.

— Na verdade, as torres do quinto e sexto andares têm menos salas e layouts mais simples. O labirinto do décimo andar é insanamente grande e complexo, e mesmo depois de três dias no beta, nunca chegamos à câmara do boss.

— Ugggh — gemeu o companheiro de Agil, Wolfgang. — Então vocês simplesmente desistiram de avançar ali mesmo?

— Nós não desistimos, o tempo acabou. Acho que cheguei mais longe que qualquer um, mas estava lutando contra um daqueles malditos Samurais Serpente quando anunciaram o fim do teste beta e me teletransportaram de volta para a cidade inicial.

— Uau, você só pode estar brincando sobre esse tal de Samurai Serpente, né? Eu odeio cobras — resmungou o homem musculoso, o que fez Asuna dar uma risadinha.

Wolfgang tinha longos cabelos castanhos desgrenhados até as costas e uma barba da mesma cor, o que lhe dava uma aparência tão parecida com a de um lobo quanto seu nome. Segundo ele, ele ganhou o nome por causa de uma famosa churrascaria americana. Se conseguisse juntar dinheiro suficiente, ele abriria a sua própria no andar das vacas, então não era de se surpreender que ele se desse bem com Agil, o mercador.

— A carne das cobras gigantes no décimo andar é bem boa, então quando você abrir seu restaurante, deveria colocar isso no menu.

— Você está maluco?! Bifes vêm de vacas, e é isso! A única coisa que você vai encontrar no meu menu é carne perfeitamente maturada!

— Er... você percebe que se maturar a carne, ela vai perder toda a durabilidade e desaparecer, certo? — comentou Agil secamente. Argo riu.

Se ele estava se limitando à carne bovina, eu ia perguntar se ele considerava os touros no labirinto do segundo andar como uma opção justa, até que uma voz da Equipe A, mais à frente, me interrompeu.

— Ei, olhem para isso!

Estiquei-me para ver pelo corredor escuro e avistei algo que era metade do que eu esperava e metade do que não esperava.

Nos labirintos anteriores, esses corredores sinistros sempre terminavam em um conjunto de portas sombrias que levavam à câmara do boss. No entanto, à frente, em vez das tradicionais portas duplas, erguia-se uma imensa escadaria, tão larga quanto o próprio corredor. Ela ascendia para dentro de um vasto buraco negro no teto. Por ora, não havia sinal de mobs, nem no corredor, nem na escadaria.

— Procedam com cautela! — avisei, e Hafner respondeu afirmativamente. A Equipe A ficou na frente, e nós vigiamos os lados e a retaguarda enquanto avançávamos por meio minuto.

A equipe A parou antes da escadaria, e quando eu os alcancei, me esgueirei para ficar à frente de todo o grupo.

— Não há brechas nas laterais — observei.

À minha esquerda, Hafner disse.

— O que significa que teremos que subir. Nossas coordenadas nos colocam bem no centro da torre.

— Hmmm... Mas será que haverá outro corredor e, depois, uma porta lá em cima, ou será direto na sala do boss?

— Isso não era assim na versão beta? — perguntou Shivata, na retaguarda. Virei-me para falar.

— Não. Antes havia apenas um conjunto normal de portas, depois a sala com o golem. Mas praticamente tudo foi alterado de alguma forma, então talvez não haja um grande significado na adição dessa escadaria...

Olhei novamente para frente, encarando o quadrado de escuridão no topo das escadas, mas não consegui distinguir nada. Assim que pensei em jogar uma tocha lá em cima, Argo passou por mim à direita, carregando uma luz.

— Vamos ter que dar uma olhada.

— Certo... Bem, supondo que isso vá direto para a sala do boss lá, eu vou subir sozinho para fazer uma exploração primeiro.

Virei-me para dar uma ordem formal ao resto do grupo, mas Argo interveio, com uma expressão mortalmente séria.

— Espere. Deixe isso comigo.

— Hã...?

— Essa escadaria é preocupante. Pode ser uma armadilha, onde os degraus se levantam do chão para selar a saída. Se isso acontecer, eu sou rápida o suficiente para sair antes que feche.

Ela chutou o degrau de pedra com a ponta do sapato. Naquele momento, notei que até mesmo as laterais dos degraus tinham aquelas letras antigas esculpidas, o que tornava sua sugestão ainda mais plausível.

Mas eu já havia forçado Argo a fazer um reconhecimento solo do mini boss das catacumbas. Só porque ela saiu bem daquela vez, não significava que tudo iria correr bem novamente.

— Vamos juntos, então. Eu não vou recuar dessa vez.

— O quê...?

— Não faça essa cara! Eu posso não ser tão rápido quanto você, mas ainda sou do tipo veloz. Sou capaz de escapar também, se os degraus começarem a se mover, sabia?

— Argh! Tudo bem, tudo bem — Argo aceitou, fazendo beicinho. Dei a ordem para os outros vigiarem nossas costas.

Asuna veio à frente e sussurrou.

— Tome cuidado.

Eu a tranquilizei, dizendo que estaria bem e que logo voltaria.

Coloquei o pé no primeiro degrau e comecei a subir a escadaria massiva cuidadosamente, após Argo. A escuridão à frente se aproximava, pouco a pouco.

Eventualmente, as escadas encontraram o teto do corredor e continuaram em frente. Isso significava que a camada de rocha que separava o andar onde o resto do grupo esperava e o andar acima era extremamente espessa. A única fonte de luz era a lanterna de Argo e, embora fosse mais brilhante do que uma tocha, a espessa escuridão resistia à sua luz penetrante.

Depois de termos subido mais de quatro metros da entrada do buraco, notei uma mudança na temperatura. Um frio pesado estava descendo sobre mim de cima. Era o ar de uma sala de boss.

— Argo — chamei. A informante assentiu, ainda olhando para frente. Três, quatro, cinco degraus depois, o material sob nossos pés mudou.

Os cravos nas solas das minhas botas atingiram uma superfície dura e lisa, produzindo um som agudo. Imediatamente, houve uma vibração estranha e várias luzes se acenderam à distância.

As luzes pálidas, que pareciam lâmpadas de LED, afastaram a escuridão. Quando vi o que as luzes revelaram, fiquei boquiaberto.

Era vasto.

A câmara circular devia ter uns trinta metros de diâmetro e quinze metros de altura. Isso significava que toda a parte superior da torre do labirinto era ocupada por essa única sala de boss. As paredes curvas deviam ser as próprias paredes da torre, e o teto seria o fundo do sexto andar acima.

Mas isso deixou uma pergunta.

— Espere... não há escada subindo — murmurei, e Argo assentiu enquanto guardava a lanterna. Ela lançou um olhar minucioso ao redor da câmara e disse nervosamente.

— Também não há sinal de um boss...

Foi a minha vez de assentir. Até este ponto, a sequência era sempre: entrar na câmara, as luzes se acendem, o boss aparece. Mas, embora tivéssemos saído da escadaria para o chão, não havia nenhum bloco poligonal surgindo. O chão e o teto eram planos e lisos, brilhando como cristal negro, com linhas finas cruzando aqui e ali, como circuitos elétricos. Abaixei-me para tocar uma das fendas, mas nada aconteceu.

— Você não acha... que a ALS já o derrotou, acha?

— Nunca. Quando saímos de «Mananarena», confirmamos que eles ainda estavam na cidade. Provavelmente já saíram, mas temos uma vantagem de três horas sobre eles — apontou Argo, avançando lentamente.

— Espere...

— Eu não acho que o boss vai aparecer a menos que avancemos um pouco mais... Espere ao lado das escadas, Kii-boy — ela disse, prosseguindo cautelosamente.

Olhei para frente dela, onde, a uns nove metros de distância, havia um ponto onde as linhas no chão se juntavam em um padrão concêntrico complexo. Parecia que algo poderia acontecer ali, mas isso só me deixava mais nervoso. Argo sabia disso também. Eu só tinha que ficar aqui e observá-la.

A informante deslizou lentamente, suavemente sobre a superfície negra, iluminada pelas lâmpadas pálidas e, após um suspiro profundo, pisou no círculo.

Um... dois... três...

Entre o quarto e o quinto segundo, várias coisas aconteceram ao mesmo tempo.

As linhas no chão brilharam, e uma vibração feroz e instantânea sacudiu toda a sala. Gritei o nome de Argo, mas ela já estava se preparando para saltar fora do local.

Se ela tentasse a mesma coisa cem vezes, ela teria sucesso em noventa e nove delas.

Mas em Aincrad, todos os resultados eram fruto de cálculos do sistema que apenas pareciam aleatórios. Se o sistema decidisse que seria assim, a vontade do jogador não poderia sobrepor-se a esse resultado. A vibração momentânea desequilibrou Argo, e ela caiu dentro do círculo. No momento seguinte, cinco pilares quadrados surgiram do chão ao seu redor, formando um padrão.

Havia três pilares longos. Um pilar menor. E um ainda menor. O padrão... o layout.

Eles não eram apenas pilares. Eram dedos. Era uma mão gigante.

— Argooo!! — Eu gritei, correndo para frente. Ela tentou se levantar para escapar dos dedos, mas uma queda neste mundo não era apenas uma perda de equilíbrio; era um status negativo reconhecido pelo sistema. Ela ficaria brevemente atordoada após a queda e não poderia se mover até que o efeito passasse.

Os dedos negros, cobertos por linhas azuis brilhantes, começaram a se fechar ao redor da garota. Eu me agachei, pronto para pular entre eles e resgatá-la...

— Fique para trás, Kii-boy!!

Foi uma ordem afiada como nunca antes tinha ouvido dela. A mão direita de Argo brilhou de onde estava no chão. Algo passou voando e raspou minha bochecha esquerda — a picareta que ela sempre carregava ao lado. As pernas do meu avatar desobedeceram meu comando e congelaram por apenas um breve instante.

Com um estrondo profundo e explosivo, a mão negra que prendia Argo começou a se estender para cima do chão. No ar, os cinco dedos se fecharam, firmemente. Através das fendas no punho negro como breu, ouvi um som fraco de estalo e vi uma nuvem cintilante de partículas azuis.

Se eu não tivesse experimentado o mesmo medo nas catacumbas dois dias antes, poderia ter sido verdadeiramente tarde demais desta vez.

Quando vi o homem encapuzado segurando a «Espada Chivalric» +5, perdi toda a minha calma. Apenas a imagem dela sendo morta por jogadores tomou conta da minha mente completamente. Simplesmente não pensei em verificar a barra de HP dela na leitura do meu grupo, mas mesmo depois de verificar, quase me convenci de que era apenas uma reação atrasada do sistema do jogo. Para minha sorte, o grito dela atraiu mobs que forçaram Morte e seu amigo a fugir — mas se eu tivesse mantido meu juízo, poderia ter elaborado um plano mais inteligente.

Não podia cometer o mesmo erro desta vez.

Desviei o olhar das luzes flutuantes no ar e verifiquei a barra de HP mais baixa das seis no canto superior esquerdo da minha visão. Havia perdido cerca de 10% de dano, mas a barra ainda estava intacta. O efeito de esmagamento que vi não era Argo em si, mas seu equipamento.

Ainda era cedo para me sentir aliviado, no entanto. O HP de Argo estava caindo lentamente, mas seguramente. Ela precisava ser libertada do grande punho o mais rápido possível.

Rrrah! Saquei a «Sword of Eventide» e a golpeei contra o braço negro que se estendia a 9 metros do chão. A colisão produziu um estrondo ensurdecedor, uma chuva de faíscas e uma vibração desagradável que percorreu do meu pulso ao ombro. Uma linha vermelha de dano atravessou a superfície de quartzo esfumaçada, mas desapareceu rapidamente. O punho acima não se abriu.

Segurei minha espada ao lado esquerdo para iniciar uma habilidade com espada, tentando conter meu pânico crescente. O brilho azul-claro piscou de um lado para o outro em alta velocidade diante dos meus olhos, criando um impacto maior do que o último.

O golpe «Horizontal Arc» de duas partes obteve uma reação clara do punho desta vez. Um rugido como trovão irrompeu acima, o braço puxou para baixo em direção ao chão, e o punho se abriu.

Uma pequena sombra saltou da palma flutuando a 7 metros acima, girando no ar e aterrissando ao meu lado. Fez um salto mortal para trás e eu me afastei também do grande braço.

Enquanto o braço afundava no chão com um estrondo menor do que quando apareceu, ouvi Argo comentar tranquilamente.

— Ufa! Isso me assustou.

— É isso que eu estou dizendo — retruquei, mas na verdade estava aliviado. Argo acabou sofrendo apenas 15% de dano, mas seu icônico manto com capuz havia desaparecido, e a armadura de couro abaixo estava em péssimo estado. O efeito de explosão que vi era do manto.

— Acho que deveríamos voltar—

"Para baixo", eu ia dizer, mas Argo me interrompeu.

— Kii-boy, lá embaixo!

— Hmm?!

Os circuitos de luz que percorriam o chão estavam passando por uma transformação vertiginosa. As linhas azuis estavam se reunindo ao redor dos meus pés, formando vários círculos concêntricos...

— Nwaah!

Argo e eu pulamos para longe, imediatamente antes do enorme braço negro emergir do chão novamente, fechando o punho audivelmente no ar.

Foi por pouco, mas pelo menos identificamos um dos padrões. Enquanto prestássemos atenção nas linhas, não seríamos pegos como daquela vez...

— Abaixo, abaixo!! — Argo gritou novamente. 

— O quê?!

Olhei para baixo e vi que os círculos concêntricos estavam se formando novamente, apesar de o braço já estar em outro lugar.

— Mwah—!

Outro salto. Um segundo braço irrompeu, quase raspando a ponta da minha bota, e agarrou outro punhado de ar.

— O quê? São dois?!

— A maioria das pessoas tem dois braços, Kii-boy — Argo comentou calmamente, dado que quase morreu menos de um minuto antes. — Olhe como o polegar está em um lugar diferente. São uma mão direita e uma mão esquerda.

— Oh... sim, agora que você mencionou...

De fato, pela forma como os dois braços estavam posicionados, pareciam um gigante emergindo do chão.

Isso significava que os ataques de agarrar estavam encerrados por enquanto. A escada para baixo estava a uma boa distância através da câmara, e comecei a me dirigir para ela quando tive um pressentimento ruim e olhei para cima.

Aquelas linhas azuis estavam se formando no teto mais cedo, assim como no chão...

— Eu sabia!! — gritei, agarrando Argo pelo braço. Os círculos de perigo estavam se formando diretamente acima, como uma mira.

Desta vez, não foi um braço que irrompeu pela pedra, mas um pé enorme. Bem atrás de mim, um pé negro nu, tamanho 200, pisou no chão. A onda de choque do impacto quase me tirou do chão, mas consegui me manter de pé.

— Kii-boy, se há dois braços, isso significa…

— Eu sei!!

Continuei correndo, observando o teto. Como esperado, as linhas se entrelaçaram, formando outra mira.

— Lá vem!! — gritei, mas o estrondo abafou o som. O segundo pé pisou com mais força do que até mesmo o «General Baran», sub boss do segundo andar, enviando mais ondulações pelo chão. Desta vez estávamos preparados e saltamos sobre a onda de choque com segurança, depois paramos e nos viramos.

Perto do centro da câmara de 30 metros de largura, os dois braços e pernas estavam como torres sinistras. Tínhamos evitado a combinação agarrar-agarrar-pisar-pisar, mas como corremos em direção à parede, agora estávamos a 15 metros das escadas. Não era uma distância longa em um ambiente mais seguro, mas nesta batalha, parecia uma extensão interminável.

Por enquanto, as linhas no chão e no teto, assim como os membros gigantes, estavam parados, então poderíamos tentar correr até as escadas agora ou observar com cuidado para ver se um terceiro braço ou perna, ou algo completamente diferente, aparecia.

— Não se mova, Kii-boy.

— Hã?

Eu comecei a me virar para ela, mas outro comando de "Não se mova!" me congelou. Eu prendi a respiração, sem entender o que ela estava dizendo, já que as linhas não estavam se movendo.

— Olhe para baixo, muito devagar, sem mover os pés.

— O-Ok — eu obedeci, olhando para baixo, para os meus pés, com o mínimo de movimento facial e ocular.

Havia chão preto, linhas azuis e minhas botas de couro.

— Estou olhando... E aí?

— Olhe mais de perto. Veja como seus pés e os meus estão quase, mas não tocando as linhas azuis?

Ela estava certa. Todos os nossos quatro pés estavam tocando apenas o chão plano, sem cruzar nenhuma das linhas. Mas no ponto mais estreito, havia menos de uma polegada de distância entre nossos sapatos e as linhas, então qualquer movimento causaria uma pisada nelas.

— Então, pisar nas linhas faz com que aqueles círculos de alvo apareçam e invoquem as mãos e pés gigantes? — perguntei.

— É o que eu acho.

— E se nos movermos sem pisar nas linhas, podemos chegar às escadas sem sermos atacados?

— É o que eu acho.

Ainda assim, era mais fácil falar do que fazer. Seria uma coisa se as linhas estivessem em um padrão de grade, mas elas fluíam e se torciam em arrays aleatórios, e os espaços eram grandes o suficiente apenas para uma pessoa nos pontos mais largos, enquanto em seus pontos mais estreitos havia apenas uma polegada de distância. Mesmo com muito cuidado e andando na ponta dos pés, seria extremamente difícil retornar à escada sem pisar em uma única linha.

Nesse caso, talvez fosse melhor simplesmente correr e esperar ser atacado... mas, novamente, esse tipo de pensamento desesperado é o que causa problemas...

O chão tremeu novamente. Olhei para frente em pânico, mas não era um ataque. Os quatro membros estavam se retraindo de volta para suas respectivas superfícies. Aparentemente, se nenhuma das linhas fosse cruzada por tempo suficiente, a armadilha se resetaria.

Bem, só precisávamos nos esgueirar de volta para as escadas, decidi, e me virei para sugerir isso para Argo — mas as próximas palavras a serem ditas não vieram de mim ou dela.

— Ei, vocês estão bem?!

Era Hafner, que liderava os outros nove que subiam as escadas para a câmara. Vinte pés pisaram nas linhas, fazendo com que quatro círculos de alvo aparecessem simultaneamente no chão e no teto.

— Estranho, o boss ainda não apareceu? — Shivata cacarejou. Eu o abafei gritando.

— Esquivam-se! Rápido!!

Se eu tivesse tempo para ser preciso, teria dito que apenas aqueles que vissem os círculos de luz azul sob seus pés precisavam se afastar, mas foi tudo muito repentino.

Três décimos de segundo depois disso, os membros da raid mostraram reflexos admiráveis ao saltarem para trás. Mas como os dez membros estavam muito juntos, Shivata e Lowbacca colidiram e caíram no processo. E devido a uma cruel lei do universo, Lowbacca foi um dos quatro que pisaram nas linhas primeiro; um círculo alvo apareceu como um olho ameaçador sob os dois, onde eles caíram.

Go-go-go-gong! 

Dois enormes braços irromperam do chão, e duas enormes pernas caíram do teto.

A mão direita apertou o ar vazio. As pernas bateram ferozmente contra o chão de pedra. E a mão esquerda fechou sobre Shivata e Lowbacca, levantando-os alto no ar.

— Nwaah?!

— Whoa!

Os gritos surpresos foram interrompidos pelo fechamento dos dedos da mão. Eram dois homens adultos, então, ao contrário da pequena Argo, seus membros ainda estavam visíveis — mas não havia espaço suficiente para escapar.

Como eles estavam na raid, mas não no meu grupo, suas barras de HP eram visíveis de forma abreviada. Ainda assim, ver as pequenas barras horizontais diminuindo rapidamente só acelerou minha pressa.

O dano deles não era tão rápido quanto o de Argo, graças à alta defesa e HP, mas o verdadeiro problema era o efeito de quebra de armadura do ataque de agarrar. Shivata era o tanque indispensável do Time A, com sua vasta experiência como usuário de escudo pesado. Se ele perdesse sua armadura, nosso plano de batalha desmoronaria.

Eu só precisava de um item que pudesse congelar o tempo por um minuto — pelo menos trinta segundos! — Eu desejei desesperadamente.

Dado que podíamos parar os ataques dos membros ao não pisar nas linhas, era possível que essa luta contra o boss fosse mais fácil que o normal, se a executássemos corretamente. Isso nos ajudaria a pausar a batalha, nos dando um momento para beber poções de recuperação.

Mas eu ainda não tinha tempo para compartilhar essa informação com os outros. Eu queria ordenar que eles corressem de volta para as escadas, mas eles não fugiriam com Shivata e Lowbacca presos daquela maneira. Liten e Hafner já haviam sacado suas armas, se preparando para lutar contra o braço imponente. Enquanto isso, o braço e as pernas que erraram em seus ataques estavam retornando ao chão e ao teto.

O instinto de lutar não estava errado, mas ataques normais não desmanchariam a armadilha de apertar. Eu suspeitava que seria necessário uma habilidade de espada acima de certo nível de poder, mas com vários lutadores em pânico usando ataques em área em um espaço tão estreito, isso poderia levar a um desastre por dano colateral. 

Mas quem comandar e como?

Enquanto meu cérebro trabalhava em alta velocidade, algo atingiu meus olhos como um meteorito. Eu cruzei olhares com um par de olhos castanho-avelã.

Asuna. A única pessoa que estava parada em meio ao caos, esperando que eu dissesse algo. Eu dei a ordem mais curta que pude para minha parceira, a 15 metros de distância.

— «Parallel» no braço!!

Ela assentiu sem perder o ritmo e ergueu sua «Rapier Chivalric», já desembainhada. A habilidade de espada dela, «Parallel Sting», começou com um passo firme à frente. Isso a levou a passar por Liten e Hafner, atingindo o braço de pedra negra com dois golpes rápidos como relâmpago.

O ataque emitiu explosões de luz, e o mesmo som estrondoso de antes surgiu do teto. O punho se abriu, liberando Shivata e Lowbacca. Eles caíram de 9 metros de altura, e Liten e Hafner fizeram o possível para pegá-los.

Todos os quatro perderam HP, mas a maior notícia era que eles escaparam sem perder nenhuma armadura. Isso foi um alívio, mas a tensão ainda não havia terminado. Os outros membros já haviam se retirado, e novos círculos de alvo estavam se formando sob os pés de Nezha e sobre as cabeças de Okotan e Naijan, mais perto da escada.

— Não podemos escapar agora! — Argo gritou ao meu lado.

Eu suspeitava que ela estava certa. As linhas no chão estavam mais espaçadas em direção à parede e mais juntas à medida que se aproximavam das escadas. Agora era impossível para todos nós chegarmos à escada sem pisar em nenhuma linha.

— Todos, corram para a parede mais próxima! — gritei no volume máximo, e em menos de um segundo, todos estavam correndo. No momento seguinte, uma mão explodiu do círculo próximo às escadas, seguida por dois pés batendo no chão. Respirei fundo para dar outro comando.

— Assim que chegarem à parede, parem e certifiquem-se de que não estão pisando em nenhuma linha!!

O restante do grupo olhou para baixo enquanto corria. O problema era que as linhas estavam se reconfigurando, tornando a evasão impossível. Eventualmente, o movimento diminuiu até ser possível acompanhar com os olhos, e depois diminuiu ainda mais...

— Agora!! Evitem as linhas e parem!! — gritei pela terceira vez. Dentro de uma pequena janela de tempo, todos pararam.

Prendi a respiração, olhando de um lado para o outro entre o chão e o teto. Nenhum círculo de alvo ainda. Ainda nenhum, ainda nenhum...

— Ah — uma voz suave veio de perto.

Nezha, que estava correndo na minha direção, estava em pé sobre um pé, balançando os braços na tentativa de recuperar o equilíbrio. Havia um espaço relativamente grande perto dele, mas, por alguma razão, ele hesitava em colocar o pé levantado ali.

Num instante, entendi o porquê.

Ele havia sido designado com um status menor de FNC (full-dive nonconformity) pelo NerveGear, o que significava que ele tinha dificuldade com a percepção de profundidade neste mundo virtual. Foi por isso que ele desistiu do combate corpo a corpo para se tornar um ferreiro. Ele não tinha problemas para caminhar ou correr, mas a habilidade de julgar a distância entre seus pés e as linhas estava um pouco além de sua capacidade.

— Aguente mais um pouco! — chamei, tomando cuidado para não pisar em nenhuma linha enquanto me aproximava dele. Quando o lançador de chakram se inclinou e quase caiu no chão, agarrei sua mão estendida e o segurei.

— Você está bem, apenas coloque o pé ali... Bem abaixo, isso mesmo. Bom trabalho.

— D-D-Desculpa...

O equilíbrio de Nezha foi restabelecido. Finalmente, pude soltar um suspiro pesado de alívio.

Conseguimos fazer com que todas as doze pessoas evitassem pisar nas linhas, proporcionando-nos uma pausa muito necessária. Não podíamos desperdiçar esse momento.

Eu não ia fazer perguntas inúteis sobre o motivo pelo qual eles subiram. Os batedores haviam perdido HP, e havia grandes sons retumbantes vindos de cima — claro, eles subiram as escadas.

— Todos que sofreram danos, tomem uma poção enquanto escutam! Esses braços e pernas pertencem ao boss do andar! — anunciei. Pude ver os olhos de Hafner se arregalarem enquanto ele inclinava uma garrafa para os lábios. — Vocês veem essas linhas azuis no chão? Pisar nelas faz com que as linhas no chão e no teto comecem a se mover aleatoriamente, criando círculos de alvo abaixo ou acima da pessoa que pisou! Quando as linhas param de se mover, os braços saem do chão para agarrar você, e os pés descem do teto para esmagar você!

— Então você está dizendo que, se evitarmos as linhas, os braços e pernas não nos atacarão?! — Agil gritou do outro lado da câmara, entendendo rapidamente. Eu não conseguia ver sua expressão a trinta metros de distância, mas os ecos da câmara fechada eram audíveis, pelo menos.

— Isso mesmo! No máximo, ele pode atacar com dois braços e duas pernas ao mesmo tempo! Se o braço te agarrar, ele te levantará a cerca de nove metros e causará dano simultâneo ao seu HP e à durabilidade da sua armadura! Mas se você acertá-lo com uma habilidade de espada equivalente a um ataque de duas pancadas de uma espada de uma mão, ele soltará sua presa! — Depois de me certificar de que todos haviam ouvido isso, continuei — Não sei o quão poderosos são os pés, porque ainda não fomos pisoteados, mas estou supondo que o dano deles é pior do que o dos braços! E, assim como com o «General Baran», eles criam ondas de choque para fora quando pisam, então você pode ser derrubado se não evitá-los!

Mais uma vez, os outros dez reconheceram que entenderam. Consultei minha memória dos últimos minutos para ver se havia mais alguma coisa a dizer, mas não consegui pensar em nada.

— Bem, isso é tudo!!

Um silêncio atordoado caiu sobre a câmara.

Alguns segundos depois, Asuna falou a cerca de sete metros de distância.

— Então, se ficarmos assim, o boss não atacará, mas também não podemos acertá-lo, certo?

— Eu... acho que sim. O lado positivo é que, se tivéssemos uma equipe completa de invasão, não haveria como conseguir que todas essas pessoas evitassem pisar nas linhas, mas com o nosso número menor...

Considerei se deveríamos intencionalmente pisar nas linhas para começar a atacar, ou se deveríamos tentar voltar para as escadas para descer.

Mas justo nesse momento, como se o próprio sistema do jogo se recusasse a permitir que um momento tão tranquilo passasse na câmara do boss, as linhas no centro do teto, diretamente sobre as escadas, começaram a se mover sozinhas. Todos nós ficamos congelados no lugar, então não podíamos fazer nada além de assistir com horror.

Gong, go-gong!

O teto começou a se projetar em uma forma complexa.

As superfícies pretas começaram a se conectar, alinhando-se ao longo dos limites azuis brilhantes, formando um objeto simétrico. Era uma testa protuberante, órbitas oculares profundas, um nariz quadrado e uma boca horizontal.

O "rosto" grosseiro e anguloso, como algo dos primeiros dias dos motores de jogos 3D, tinha cerca de três metros de altura, da testa ao queixo. As órbitas oculares pretas de repente se iluminaram com círculos pálidos de luz, e um símbolo complexo e assustador brilhou no centro da testa.

Enquanto doze pares de olhos assistiam em silêncio, seis barras de HP apareceram uma após a outra sobre a cabeça gigante. A primeira barra parecia ligeiramente mais curta por causa das habilidades de espada que usamos no braço, mas o dano era insignificante.

Por fim, o nome correto do boss do quinto andar apareceu em uma fonte branca e fantasmagórica: «FUSCUS, THE VACANT COLOSSUS».

— O nome... é totalmente diferente do beta — sussurrei, chocado.

Como se em resposta, os dois olhos sem pupilas se moveram, e a boca angular se abriu. O símbolo azul na testa tornou-se um vermelho ominoso.

Isso era uma má notícia, mas eu não tive tempo de emitir um comando defensivo. De qualquer forma, não teria ajudado.

A boca cavernosa soltou um rugido alto o suficiente para sacudir toda a torre do labirinto, e todos os membros do grupo de invasão vacilaram de alguma forma. Felizmente, ninguém pisou em nenhuma linha, mas isso foi apenas um alívio temporário. No momento em que o boss rugiu, um ícone de debuff de redução de defesa apareceu sob todas as nossas barras de HP, e as anteriormente imóveis linhas azuis explodiram em movimento novamente.

O debuff inevitável de redução de defesa era ruim, mas também me tirou da minha paralisia de choque. Eu rugi minhas ordens para o grupo.

— Espalhem-se e observem as linhas com atenção! Esquivem-se delas sempre que possível, e se pisarem em uma, verifiquem o chão e o teto para os círculos, e saiam do caminho se virem algum! Se puderem, ataquem os membros quando aparecerem!!

Ouvi respostas ferozes e corajosas ao redor da câmara. Em um tom muito mais baixo, eu disse a Nezha, que estava por perto.

— Os espaços entre as linhas são maiores perto da parede, então é mais fácil evitar as linhas! Quando elas pararem de se mover, mire seu chakram naquele símbolo na testa do gigante!

— En-Entendido! — ele respondeu, e correu para a parede próxima. A velocidade vertiginosa das linhas estava diminuindo agora. Em seguida, dei ordens para Argo e Asuna.

— Vou acionar uma linha de propósito — preparem-se para usar habilidades com espadas!

— Pode apostar!

— Tudo bem!

Observei atentamente as linhas no chão. Tínhamos formado equipes com tanques no Time A e atacantes no Time B, mas se o boss continuasse com esse padrão irregular de ataque, manter a formação só atrapalharia. Teríamos que evitar as linhas individualmente e encontrar chances de contra-atacar por conta própria.

As incontáveis linhas deslizando pelo chão negro foram desacelerando... desacelerando.

— Lá vou eu! — gritei, pisando intencionalmente em uma delas com meu pé direito. As linhas reagiram como uma criatura viva, formando um círculo-alvo ao redor do meu pé. Assim que se fixou, eu saltei para fora do caminho.

Um braço negro passou bem diante dos meus olhos, rasgando o ar. Asuna, Argo e eu avançamos de três direções diferentes.

Levantei minha nova espada para desferir a habilidade de dois golpes, «Vertical Arc», garantindo que eu não atingisse nenhuma das minhas companheiras. Asuna fez outro «Parallel Sting», e Argo executou um ataque de três golpes com a garra em sua mão direita.

Envolvido por uma explosão tricolor de luz, o gigante braço negro se contraiu de dor. O rosto no teto rugiu de raiva, e percebi que a primeira barra de HP estava visivelmente mais baixa do que antes.

O braço ferido afundou no chão, e as linhas recomeçaram sua dança vertiginosa. Enquanto esperava para tentar a mesma estratégia novamente, verifiquei o ícone de "defesa reduzida" de antes, mas ele ainda não estava piscando. O efeito estava durando frustrantemente.

Percebi um movimento no teto e olhei para cima para ver a boca do boss se abrindo. O símbolo na sua testa estava brilhando em vermelho. Ele estava prestes a rugir novamente — e certamente causaria um debuff diferente desta vez. Fiquei tenso, percebendo que de qualquer forma era inútil.

Mas, pouco antes do boss poder rugir, uma pequena luz prateada atravessou a sala.

Era o chakram de Nezha, girando suavemente enquanto voava. Ele acertou a testa do boss com precisão, e o símbolo voltou do vermelho para o azul. O rosto gigante recuou, fechando os olhos e a boca e se retraindo um pouco no teto. Enquanto isso, o chakram giratório fez uma curva acentuada de volta para a direção de onde havia sido lançado.

Até agora, tudo sobre o boss havia mudado desde a versão beta — exceto pelo ponto fraco na sua testa. Apenas poder cancelar o ataque de debuff já era uma grande vantagem. Voltei a observar as linhas no chão e fiz um sinal de positivo na direção de Nezha.

As linhas pararam. Desta vez, o círculo-alvo apareceu no teto, mas a ideia era a mesma. Eu evitei a perna do golem que descia de cima, e nós três a atingimos com habilidades com espada ao mesmo tempo.

Quando o pé subiu novamente para o teto, ouvi a voz de Hafner do outro lado da câmara gritando

— Afirmativo! Vamos tentar atacar a seguir! — Agil e Okoton concordaram.

— Nós também vamos!

— E nós aqui!

Eu examinei a sala e tomei nota dos diferentes grupos: Hafner, Shivata e Liten estavam no lado norte das escadas; Agil e Wolfgang estavam no lado leste; e Okoton, Lowbacca e Naijan ao sul.

Encantado com as rápidas reações dos meus companheiros de elite, gritei o mais alto que pude.

— Deixo com vocês!! Arrebentem!!

Mas, mesmo assim, eu estava preparado para que alguém fosse agarrado ou pisoteado enquanto se acostumavam ao processo.

Pise na linha quando ela parar, evite o membro que avança, depois atinja-o com habilidades de espada. Quando o boss começava seu rugido de debuff, Nezha o cancelava com o chakram. Nossa equipe de ataque, montada às pressas, executou o padrão admiravelmente e já estava agindo com segurança na terceira tentativa. Com ambos os braços e pernas sendo atingidos por habilidades simultâneas de espada, o dano infligido era considerável, e levou menos de dez minutos para eliminarmos a primeira barra de HP, depois a segunda, e então a terceira.

Nosso plano antes da batalha era recuar quando o boss trocasse para uma nova barra de HP, caso os padrões de ataque mudassem, mas mesmo na quarta barra, mais da metade do caminho, não houve alteração. Era improvável que continuasse assim até o fim, mas provavelmente conseguiríamos passar por mais uma barra antes da mudança.

Assim que eu executava outro «Vertical Arc» (já havia perdido a conta de quantas vezes fiz isso), ouvi Nezha gritar em pânico.

— Kirito! A parede!!

Eu me virei. As linhas azuis do chão e do teto estavam se estendendo para as paredes anteriormente planas e simples. Os dois lados se moviam em direção um ao outro como algum tipo de criatura pré-histórica, preenchendo o espaço em branco.

Como as barras de uma cela.

— Recuem para as escadas! Time A primeiro, depois o Time B! — ordenei espontaneamente. Se saíssemos da câmara do boss e ele perdesse seu estado de aggro, todo o HP que trabalhamos para reduzir se recuperaria rapidamente, mas era perigoso avançar demais quando não se sabia o que estava por vir. Só precisávamos que uma pessoa visse os novos padrões de ataque por si mesma, e eu desempenharia esse papel.

— Mas! — Hafner protestou, e Shivata puxou silenciosamente sua capa. O pesado guerreiro cedeu relutantemente e correu para as escadas no centro da sala.

SAO era um jogo cruel e frio de morte, mas havia certas maneiras pelas quais ele mantinha um mínimo de justiça.

Uma delas era que sempre havia uma rota de fuga de uma câmara de boss. Na maioria dos MMOs que eu joguei antes disso, a arena era inescapável uma vez que a luta contra o boss começava, mas SAO era diferente. A batalha aquática contra o hipocampo no quarto andar tinha portas que se fechavam enquanto o ataque submergível estava ativo, mas ainda assim era facilmente aberta de fora.

Então, acreditei que o quinto andar naturalmente seguiria esse padrão.

— Kirito! — Asuna gritou, apontando para o teto.

Olhei para cima e vi que o rosto gigante, que estava preso ao teto desde que apareceu, agora havia sumido. As três barras de HP ainda estavam lá, então não o derrotamos ainda; as linhas no chão, no teto e agora nas paredes ainda se moviam inquietas.

Então, para onde foi o rosto?

Olhei para o vasto teto, sentindo um pressentimento sombrio tomar conta de mim. Então ouvi a voz metálica de Liten, filtrada pelo capacete, gritar.

— Não, Shiba!!

Meus olhos foram instantaneamente atraídos para a direção da escada.

No centro da sala, onde a escada estava segundos antes, o rosto do boss estava emergindo do chão, e afundado até a cintura dentro da boca gigante estava Shivata.

Mas por quê — por que estaria ali? Onde foi parar a escada?!

Fiquei paralisado, segurando a respiração, enquanto Hafner se virava para mim, tentando puxar Shivata da boca do boss.

— A escada… virou a boca dele!! — ele gritou. Demorei um breve momento para compreender.

O rosto do boss desapareceu do teto e apareceu no chão. Tudo bem. Mas se a escada que descia, nosso único meio de sair da sala, se transformou na boca dele, então ninguém poderia escapar.

Não — mais importante que isso, era resgatar Shivata. Sua armadura pesada estava sendo destruída pelos efeitos de dano vermelho dos dentes negros do boss, cada um tão grande quanto os enormes bolos de rolo da «Mananarena». Ele ainda não tinha perdido HP, mas era fácil imaginar que, se sua armadura quebrasse, ele sofreria um dano fatal na hora.

— Droga, de novo não! — Shivata resmungou enquanto tentava abrir a boca do boss — ele já tinha sofrido o ataque de agarrão antes. Liten estava ajudando, mas a enorme mandíbula não estava abrindo nem um pouco. Do outro lado do rosto, Agil estava repetidamente golpeando com seu machado de duas mãos o ponto fraco na testa, mas, ao contrário de quando um único golpe de chakram conseguia derrubá-lo no teto, agora estava facilmente repelindo a lâmina pesada.

Talvez, como com os braços e pernas, habilidades de espada fossem necessárias para afetá-lo, mas dado que Shivata estava preso em sua boca agora, ele hesitava em tentar.

Eu queria correr e ajudar, mas as linhas ainda estavam se movendo no chão. Hafner e Liten estavam ocupados demais com Shivata para evitar as linhas, então, se necessário, eu, Asuna e Argo teríamos que pisar nelas para desviar os ataques dos membros.

— Droga... qual é a desse boss com esses aparecimentos e desaparecimentos?! — rosnei entre dentes.

Perto, Asuna murmurou.

— Então é isso que eles queriam dizer com Colosso Vazio — Ela tinha descoberto algo sobre o nome do boss. Olhei para ela, e ela continuou — Vazio no sentido de vazio, e colosso como uma grande estátua... acho que está se referindo à sala inteira. Este quarto é o boss do quinto andar.

…!!

Fiquei sem palavras. Olhei para a sala inteira, o chão, o teto e as paredes se contorcendo com linhas brilhantes orgânicas. Se Asuna estava certa, os doze de nós estavam presos no interior vazio de «Fuscus, The Colossus». Se todo o espaço era parte do corpo do boss, então, claro, ele poderia produzir braços e pernas onde quisesse ou transformar as escadas em uma boca. — Não me importa se é um golem mágico, isso é loucura! — gritei. Enquanto isso, Shivata gritou.

— Não adianta! Eu não consigo me soltar!

Hafner e Liten tentaram encorajá-lo, mas havia medo em suas vozes também.

— Não desista, Shivata!!

— Vamos te salvar agora, Shiba!!

— Não adianta... minha armadura vai quebrar! Licchan, solte a boca dele! — Shivata gritou, em um ato notável de força de vontade. Mas Liten apenas balançou a cabeça.

— Não!! Eu... eu vou te salvar!!

Isso mesmo. Não podíamos desistir agora. Shivata ainda estava quase com o HP cheio, então, mesmo que ele sofresse algum dano de habilidade de espada, não seria fatal.

Minha mente estava decidida.

— Agil! Ataque o símbolo na testa com uma habilidade de espada! — ordenei. Mas o grandalhão balançou a cabeça.

— Não dá... não tem mais símbolo!!

— O quê...?

Minha mente ficou em branco novamente, até que o som metálico da armadura de Shivata sendo danificada rompeu o silêncio.

Se ele morresse aqui, os outros membros ficariam petrificados, e nós seríamos reduzidos a correr sem rumo dos ataques injustos de «Fuscus». E como as escadas haviam desaparecido, não havia mais escapatória. Todo o grupo de invasão poderia ser exterminado.

É isso?

Meus olhos instáveis se voltaram para o perfil do rosto pálido e assustado de Asuna.

O mesmo rosto que eu havia visto na escada em espiral até este andar, quando prometi que a protegeria até que ela não precisasse mais de mim.

Talvez eu nunca tivesse o direito de fazer tal promessa em primeiro lugar. Desde o momento em que abandonei meu único amigo neste jogo mortal, logo no início, meu caminho estava traçado. Eu estava destinado a vagar sozinho, sem um objetivo.

Isso era meu castigo, imposto por um Deus digital? Minha merecida punição por não só procurar alguém para proteger, mas também liderar um grupo em uma batalha contra um boss...?

Aos meus pés, as linhas azuis que serviam como os nervos de Fuscus diminuíram sua movimentação. À distância, a armadura de Shivata rachou, liberando efeitos de dano vermelho brilhante.

A «Sword of Eventide» de repente pesou em minha mão direita.

Bem no momento de desespero, quando todos os jogadores presentes poderiam ter pensado que tudo estava perdido—

— Não vou deixar você... matar o Shibaaaaaaa!! — Liten rugiu ferozmente e lançou um plano totalmente inesperado.

A guerreira pesada coberta de aço saltou sobre a mandíbula quadrada de «Fuscus» e se atirou sem hesitação na boca junto com Shivata. Sua Armadura de Ferro explodiu em uma nuvem de pequenos fragmentos azuis. As linhas dos dentes mergulharam cruelmente em direção ao torso do espadachim, mas quando atingiram a placa de aço de Liten, estalaram, soltando faíscas e parando novamente.

— O quê—! Licchan, por que você fez isso?! — Shivata perguntou, agarrando o ombro de sua parceira.

Enquanto ela empurrava contra a boca do golem com ambas as mãos, disse: — Porque eu sou uma tank! É meu trabalho proteger os outros!!

A 15 metros de distância, essas palavras atingiram minha mente entorpecida como um martelo.

Além de Argo e Nezha, Liten foi o último membro a se juntar ao grupo de invasão, e ela estava cumprindo seu papel de maneira mais corajosa e admirável do que qualquer um. Eu nem estava diretamente exposto ao perigo, e já estava pronto para desistir.

O trabalho de Liten era proteger. Meu trabalho agora era pensar.

Pense. Pense até que cada última célula cerebral se transforme em cinzas.

O ponto fraco de «Fuscus»... Para onde foi o símbolo na testa? Ele não poderia ter simplesmente desaparecido. Se ele era um golem, então deveria haver um símbolo ou letra esculpida em algum lugar do seu corpo, como sugeria a lenda hebraica.

O rosto de «Fuscus» desapareceu do teto e apareceu no chão. Isso significava que, provavelmente, o símbolo havia se movido da testa para algum outro local. Em algum lugar no chão, nas paredes ou no teto? Não, havia um lugar mais provável que esses.

Apertei o cabo da minha arma e gritei para o grupo no centro da câmara: — Façam o que puderem para evitar as linhas, pessoal! Se não conseguirem, subam no rosto do boss!

Eles olharam para mim surpresos, então assentiram. Hafner, Naijan e Okotan, todos fortemente armados, subiram nas bochechas e na testa do boss, enquanto Agil, Wolfgang e Lowbacca se espalharam para se concentrar no chão.

Em seguida, dei ordens aos meus companheiros próximos.

— Asuna, Argo, Nezha! Pisem nas linhas para fazer os braços e pernas aparecerem! O símbolo tem que estar em um deles! Se encontrarem, todos nós vamos atacar!

— Entendido!

— Pode deixar!

— Vou tentar!

Todos os três se agacharam em preparação. À medida que as linhas diminuíam a velocidade, elas pareciam reagir brevemente ao cruzarem sob cada pé. Não havia necessidade de evitá-las desta vez, mas a evasão seria mais fácil se o círculo de alvo aparecesse na frente. Reequilibrei meus pés e, no instante em que as linhas pararam, usei minha perna esquerda para pisar na que estava bem na minha frente.

Imediatamente, as linhas azuis giraram em um padrão concêntrico sob minha bota. Dei um salto para trás.

Foi o braço esquerdo de «Fuscus» que disparou em minha direção, o braço direito em direção a Argo, a perna esquerda em Asuna e a perna direita em Nezha, tudo mais ou menos ao mesmo tempo.

Eu rodeei o braço, procurando freneticamente, mas não havia símbolo. Não ouvi ninguém gritar que o havia encontrado. Se eu estivesse errado sobre isso, íamos perder tanto Shivata quanto Liten.

Ele tinha que estar lá. Tinha que estar... tinha que estar!

— Eu encontreeeei!

O grito de pânico veio de Nezha, a seis metros de distância, perto da parede. Girei para vê-lo apontando para a parte de trás do joelho esquerdo, de forma blocada. Mas ele estava tão focado em procurar o símbolo que não conseguiu evitar a onda de choque após o pisão — ele havia caído no chão e não conseguia se levantar.

O ataque terminou, a perna começou a tremer enquanto voltava para o teto. A parte de trás do joelho estava a quatro metros do chão — aproximadamente a altura que eu poderia alcançar, mas eu não tinha outra escolha.

— Você não vai escapar! — gritei, correndo em sua direção. Estendi minha espada enquanto corria, preparando o «Sonic Leap», a habilidade de espada de maior alcance à minha disposição...

— Se abaixa, Kii-boy!! — veio um grito logo atrás de mim, e eu me abaixei instintivamente.

No momento seguinte, algo bateu no meu ombro direito. Eu mal consegui me manter em pé, olhando para cima para ver a silhueta que acabara de me usar como plataforma de lançamento. Mesmo com todos os pontos colocados em agilidade, o salto dela era nada menos que impressionante.

Quando Argo, a Rata, atingiu o pico de seu salto, a garra em sua mão direita brilhou em púrpura. A aceleração do sistema a acelerou, o pequeno corpo girando enquanto avançava como uma bala de canhão. Se me lembro corretamente, essa era a habilidade de carga do tipo garra, «Acute Vault».

Em desacordo com o apelido de Argo, ela avançou com ferocidade carnívora, quase felina, cravando profundamente na parte de trás do joelho esquerdo. Quando três linhas diagonais de dano cobriram o símbolo azul, ouvi um rugido profundo como o feedback de um subwoofer vindo de trás.

Virei-me, deslizando as solas das botas, para ver o rosto de «Fuscus» se projetando do chão, a boca escancarada em um uivo. Shivata e Liten foram expelidos da boca, empurrados pela pura pressão do som, e caíram juntos no chão.

A armadura de placas de Liten tinha manchas de dano de aparência feia, mas não havia se quebrado completamente. Enquanto não se despedaçasse, poderia ser reparada.

O rosto de «Fuscus» afundou no chão, ainda com a boca aberta, e desapareceu. Como antes, as escadas descendentes ficaram para trás.

Após uma breve pausa, os jogadores presentes levantaram um brado em uníssono. Hafner saltou sobre Shivata com alegria e o puxou para ficar de pé, enquanto Okotan estendeu a mão para puxar Liten.

Fiquei aliviado por termos evitado pelo menos o pior cenário, mas a luta ainda estava longe de terminar. Olhei ao redor com cautela e avistei o rosto de «Fuscus» no centro do teto. Seus olhos circulares piscavam, enquanto sua boca se abria em um diamante e ressoava com uma risada assustadora de vwo, vwo, vwo. O símbolo estava de volta na testa, mas não havia como saber quando ele iria desaparecer novamente.

— Pessoal! É cedo demais para comemorar! — gritei, brandindo minha espada. — Vamos continuar lutando agora que sabemos a mudança em seu padrão! Shivata, quero que você desça as escadas e recupere seu HP!

Sem sua «Iron Mail», seria perigoso demais para Shivata continuar lutando, pensei — mas o veterano da linha de frente já tinha sua tela de equipamento aberta. Ele gritou.

— Desculpe, mas vou ignorar essa ordem! Não vou descer essas escadas até derrotarmos esse boss!!

— Mas sua armadura—!

— Tenho um conjunto de reposição! Ainda posso lutar!

Como ele disse, sua camisa foi prontamente coberta por um novo conjunto de armadura pesada. Parecia um pouco mais fraca do que a «Iron Mail» que ele acabara de perder, mas havia defesa suficiente para fazer o trabalho.

— Tudo bem! Só não exagere! — disse. Shivata me deu um joinha, com uma poção na boca. 

No teto, «Fuscus» zombou de nossa nova determinação novamente. As linhas brilhantes recomeçaram a se mover.

A partir daquele ponto, conseguimos evitar grandes ferimentos, embora não tenhamos conseguido quebrar o padrão em um ritmo perfeitamente estável. O grande problema ainda era quando o rosto do boss se movia para o chão; ninguém foi devorado novamente, mas, como a posição do símbolo mudava de um membro para outro, houve algumas vezes em que falhamos em impedir o ataque de voz de debuff a tempo. Além da defesa reduzida, os debuffs causaram uma variedade de efeitos aleatórios, como visão reduzida, audição reduzida, equilíbrio reduzido e dano por escorregamento, e aqueles que sofriam efeitos sensoriais nem sempre conseguiam evitar os ataques de agarrar e pisotear.

Mas com uma coordenação admirável, nosso grupo improvisado conseguiu libertar os membros presos ou levar os atingidos pelas pisadas para a parede para serem curados. Depois de quase trinta minutos, derrubamos a quarta e quinta barras de HP e, às 20:05, cerca de uma hora após o início da batalha, chegamos à sexta e última barra.

Vwohhhhh!!

O rosto no teto rugiu no volume máximo e os anéis dos olhos ficaram de um vermelho profundo.

— Vai mudar o padrão de novo! Se estiverem com poucas poções, digam! — gritei.

— Estou com problemas!

— Eu também! — gritaram Hafner e Wolfgang, então tirei dois pequenos sacos contendo seis poções cada do meu inventário e os entreguei. Enquanto isso, as linhas azuis que cruzavam a câmara inteira estavam se movendo em um padrão totalmente novo.

As linhas no chão se encolheram em torno da escadaria no centro, depois retornaram para as paredes externas. Quando alcançaram as paredes, subiram verticalmente, concentrando-se no rosto no meio do teto. As linhas que nos atormentaram durante toda a batalha desapareceram, deixando apenas um piso preto vazio.

Todos os doze de nós ficamos tensos. 

A luz azul se contorceu violentamente ao redor do rosto de «Fuscus» como uma juba, e ele mergulhou para baixo. As linhas se juntaram em quatro feixes grossos, com círculos de alvo se formando na extremidade de cada um. Os jogadores que estavam embaixo deles se afastaram rapidamente, mas os braços e pernas que apareceram estavam mais lentos do que antes. Desta vez, eles continuaram crescendo, formando cotovelos e joelhos, e eventualmente ombros e quadris, depois um torso maciço...

Vwooooaaaa!!

«Fuscus, The Vacant Colossus», boss do quinto andar, se separou do teto como um golem humanoide propriamente dito, rugindo ainda mais alto do que antes.

— Retirada!!

Eu nem precisei dar a ordem. Todos estavam correndo para o lado sul da câmara. Um momento depois, «Fuscus» pousou no chão com um estrondo ensurdecedor.

As linhas azuis cobriram a superfície do gigante de mais de 9 metros de altura. Começando pelo rosto, elas rapidamente passaram do azul para um vermelho sangue raivoso. Em segundos, ele estava vermelho até a ponta dos pés. «Fuscus» rugiu pela terceira vez e levantou os braços bem alto, as extremidades inchadas como martelos.

Vendo que meus companheiros tinham recuado com a visão, dei ordens instintivamente.

— Agora que o boss tem forma humana, podemos usar nossa estratégia original! Equipe A bloqueia, Equipe B ataca! Priorizar o gerenciamento do aggro!

— Entendido! — disse Hafner, líder da Equipe A, e chamou seus membros. Asuna, o grupo de Agil, e eu nos espalhamos para os lados de modo que os combatentes pesados ficassem na frente do boss, e os mais leves, nas laterais, prontos para atacar.

— Vamos esgotar essa última barra!! — eu gritei.

— Yeah!! — vieram as respostas em uma onda feroz. O boss respondeu dando um passo à frente com um pé maciço e pesado.

Shivata e Liten, tanques principais da Equipe A, avançaram, segurando seus escudos levantados no lado esquerdo. Com movimentos perfeitamente sincronizados, eles levantaram suas mãos direitas e empurraram as esquerdas para frente. Os escudos brilharam em prata e soaram como sinos de templo. Era o «Threatening Roar», uma habilidade de provocação que exigia alta proficiência em escudo.

Dependendo do tipo de boss, às vezes não tinha efeito, mas felizmente «Fuscus» era suscetível; ele rugiu e se moveu mais rápido. Shivata e Liten enfrentaram bravamente o enorme golem, que era ainda maior que «Asterios, The Taurus King» do segundo andar.

Vwoagh!! 

Nosso oponente gritou, levantando seu punho direito quase raspando o teto e o golpeou contra a dupla. Eles resistiram ao golpe com seus escudos.

Mesmo tanques precisavam fazer manutenção em seus escudos, então a defesa ideal era um movimento de desvio, mas eles queriam ver se bloquear era uma estratégia viável enquanto ainda tinham margem para tentar. Enquanto eu assistia com igual admiração e terror, o escudo aquecedor de Shivata e o escudo redondo de Liten colidiram com o punho de pedra gigante, gerando uma enorme explosão e um flash de luz.

Como esperado, eles foram empurrados cerca de 1 metro e meio para trás, mas ficaram de pé sem sofrer danos. Como esse era apenas um ataque normal, certamente eles não seriam capazes de bloquear um ataque especial com efeitos únicos. Mas só saber que algo podia ser bloqueado era um impulso mental. 

O braço direito de «Fuscus» ficou brevemente imobilizado após o ataque, e Hafner o dilacerou com «Cataract», uma habilidade de espada de dois golpes que derrubou cerca de 3% da última barra de HP.

— Tudo bem... vamos atacar! — Ordenei a Asuna, saltando em ação. Ataquei a panturrilha do golem do tamanho de um tronco de árvore com um «Vertical Arc». Quando a pausa terminou, gritei "Switch!" e recuei. Asuna pulou no meu lugar, dançando em um «Diagonal Sting» de cima para baixo.

Na perna direita, Agil e Wolfgang estavam balançando suas armas de duas mãos com abandono, causando danos sólidos. «Fuscus» vacilou com os danos nas pernas, rugindo. Por um momento, temi que tivéssemos exagerado, mas felizmente, o golem manteve o foco nos nossos tanques.

Ao longe, ao longo da parede, Nezha se preparava para lançar seu chakram no ponto fraco, enquanto Argo corria agilmente pela câmara, deixando poções de cura no chão ao redor da Equipe A.

— Finalmente está parecendo mais uma luta de boss! — murmurou Asuna enquanto passava por mim. 

— Sim... mas não vai acabar sem uma luta. Fique focada!

— Claro! — ela respondeu, um sorriso surgindo nos cantos da boca. Não havia mais nada da antiga Asuna novata dos primeiros dois andares. Havia muitos conhecimentos a ensinar, mas talvez o momento em que ela "não precisasse mais de mim" chegasse mais cedo do que eu esperava. A súbita realização fez meu coração parar por um segundo.

Mas era isso que eu queria, claro. Só quando ela saísse do meu lado e se juntasse a uma guilda maior sua habilidade realmente floresceria. Era tudo para vencer esse jogo mortal... Asuna estava lutando para voltar à realidade também.

Eu apertei o punho da minha espada e devolvi o sorriso à minha parceira por enquanto.

— Ok... da próxima vez, vamos atacar um ponto diferente e encontrar o ponto fraco dele.

— Parece bom. Talvez seja o tendão de Aquiles ou um dedo mindinho — ela sugeriu confiante, balançando sua rapiera prateada para frente e para trás.

Como eu suspeitava, os ataques de «Fuscus» se expandiram para incluir ataques simples de soco, um combo de pisoteio, aquela voz irritante que dava debuff, lasers de calor dos olhos e um modo frenesi para sua fase final.

Considerei uma breve retirada toda vez que o padrão mudava, mas os seis membros da Equipe A, particularmente Shivata e Liten, estavam se mantendo firmes através da ocasional rotação de poções.

Quando a última barra de HP ficou vermelha, todos os seis resistiram ao furioso ataque de turbilhão com os dois punhos do golem. Shivata se virou para mim e gritou: — Kirito! Pode pegar o LH, só faça bonito!!

Diante disso, não tive escolha a não ser dar um show.

— Tudo bem! Eu vou pegar, então!!

Eu descansei a «Sword of Eventide» do elfo negro contra o meu ombro direito e corri com toda a minha força.

Ainda não estava fortalecida, mas a espada tinha um aumento mágico de +7 em AGI, um efeito notável para apenas o quinto andar. Fiz pleno uso do meu aumento de velocidade, correndo a toda velocidade enquanto me dirigia para a parede. Quando cheguei lá, saltei na superfície curva e continuei correndo, praticamente paralelo ao chão, passando pela Equipe A na defesa, e quando não consegui subir mais, pulei o mais alto que pude.

O enorme rosto de «Fuscus» estava diretamente na minha frente. Os olhos em anéis vermelhos se contraíram, tentando focar no pequeno humano que se aproximava saltando.

Vwoaaaaaaah!!

Fiz o meu melhor para cortar o rugido do golem com um grito próprio.

— Este é... o fiiiiiiim!!

Segurei a lâmina ao lado esquerdo do meu corpo e ativei o «Horizontal Square», uma habilidade em quatro partes que nenhum outro jogador havia aprendido ainda.

A espada longa girou como o rotor coaxial de um helicóptero, atingindo o símbolo vermelho na testa de «Fuscus» com uma, duas, três, quatro linhas brilhantes.

O sigilo se desprendeu da superfície e desapareceu em um pequeno brilho de luz. Os olhos anelados começaram a piscar irregularmente.

As linhas vermelhas cobrindo seu corpo brilharam ainda mais. Algo parecido com uma chama irrompeu das linhas — e «Fuscus, The Vacant Colossus», boss do quinto andar, explodiu.

A mensagem de bônus do LH apareceu enquanto eu pousava no chão novamente e caía de joelhos.

O efeito de morte do boss foi mais impressionante do que qualquer um dos anteriores, mas mesmo depois que ele desapareceu por completo, ninguém falou.

Em meio ao silêncio, notei uma mudança na textura do chão. O reflexo suave e cristalino havia sumido, substituído pela mesma pedra áspera e azul-escura com a qual a torre foi construída. Estendi a mão, ainda de joelhos, e toquei a superfície rugosa. De repente, todo o chão começou a tremer.

No início, fiquei com medo de que, assim como no segundo andar, houvesse outro boss para enfrentar. Desta vez, um novo objeto desceu do teto, e para meu grande alívio, não era um braço, perna ou rosto, mas uma escada de pedra em espiral.

— Acabou...

Eu não estava prestando atenção, mas imaginei que a voz pertencia a Shivata ou Hafner. Como se uma represa tivesse se rompido, aquele comentário desencadeou uma tempestade de aplausos de nosso pequeno grupo de ataque.

Eu queria me juntar a eles mais do que qualquer coisa, mas uma onda de cansaço ameaçava me derrubar; eu mal conseguia me equilibrar cravando a espada no chão. Enquanto eu lutava para usar esse apoio para me levantar, uma mão pálida apareceu na minha frente.

— Bom trabalho, Kirito.

Agarrei a mão e me levantei, ficando de pé de forma trêmula. Minha parceira estava sorrindo ao meu lado, com sua espada já guardada. Nós comemoramos com um leve toque de punhos.

Atrás de nós, um grito ainda mais alto surgiu, e eu me virei para ver Shivata levantando Liten no ar. Ele a girava, segurando-a por debaixo dos braços, como se aquela armadura completa não pesasse nada.

— Parece que eles vão ser o assunto de Aincrad até amanhã — murmurei, mas Asuna balançou a cabeça.

— Ninguém aqui vai espalhar boatos irresponsáveis. Nem mesmo Argo venderia informações sobre eles.

A própria Argo estava parada não muito longe e conseguiu soltar um valente — N-Não, nunca! — Nezha se juntou às risadas, e nós quatro apertamos as mãos.

— Você foi um excelente líder, Kirito. Por que não tenta recrutar membros para começar sua própria guilda? — sugeriu inocentemente Nezha. Balancei a cabeça vigorosamente, aterrorizado.

— Não brinque com isso. Além disso, não adianta se eu te convidar, lembra?

— Isso não é verdade. Tenho certeza de que todo o time dos Braves adoraria se juntar à sua guilda, Kirito.

— Não, de jeito nenhum! Hafner me destruiria e ainda me acusaria de ter tramado tudo desde o começo — murmurei, lançando um olhar cauteloso para ele e Okotan, que ainda se banhavam no brilho da vitória. Eu só aceitei, a contragosto, o papel de líder dessa incursão para evitar uma divisão catastrófica entre a DKB e a ALS, não para alimentar as chamas de um novo conflito.

De qualquer forma, derrotamos o boss sem perder uma única pessoa, então o desastre foi evitado por enquanto. O único problema era o item em questão, pensei com o coração cansado...

Naquele exato momento, meu corpo foi atravessado por um arrepio desagradável, como se uma agulha de gelo tivesse perfurado minha coluna.

Eu estava tão envolvido na estratégia para derrotar o boss que esqueci a parte mais importante até aquele momento.

A regra mais básica de SAO.

Quando qualquer mob — incluindo bosses — dropava algum item, ele aparecia diretamente no inventário do jogador... e nem mesmo os outros membros do grupo saberiam disso.

Isso significava que, quando a comemoração do grupo terminasse e chegássemos à fase pós-batalha, eu perguntaria quem conseguiu a bandeira da guilda, o objetivo final de todo o nosso plano. E se ninguém levantasse a mão, isso significaria que ou o boss do quinto andar não dropava a bandeira na versão oficial de SAO ou quem conseguiu a bandeira estava mentindo — e eu teria que descobrir qual dos dois era o caso.

Tecnicamente, era possível que todos configurassem seus menus para visíveis, de modo que os ganhos de cada um pudessem ser examinados. Mas o conteúdo do inventário de alguém era a informação mais pessoal em SAO, e até mesmo líderes de guilda mandões como Lind e Kibaou não ousariam inspecionar à força os itens de seus membros.

Pensei brevemente em ordenar a lista de itens para deixar os mais novos no topo, mas descartei essa ideia também. A função de ordenação funcionava apenas na janela principal do inventário, como uma pasta raiz em um sistema operacional baseado em arquivos. Ela não funcionava nas subpastas — se a bandeira tivesse sido movida para um contêiner ou saco dentro do inventário, ela não apareceria. Eu teria que inspecionar todos esses contêineres, e se estivesse dentro de um armazenamento em camadas, como um saco dentro de uma caixa dentro de um saco dentro de uma caixa, o processo demoraria uma eternidade, além de ser fácil de passar despercebido.

Eu deveria ter percebido o problema antes de começarmos a luta e discutido isso. Se tivéssemos estabelecido um protocolo em que ninguém abrisse suas janelas após a derrota do boss, e então verificássemos apenas as telas principais dos inventários um por um, ninguém tentaria esconder o item.

Então, o que deveria ser feito? Eu levantava o problema agora e pedia permissão para verificar as coisas de todos? Ou apostava na probabilidade de que alguém materializasse a bandeira e a colocasse à vista de todos, evitando que meus medos se concretizassem desde o início?

— O que foi, Kirito? Está com dor de barriga? — perguntou Asuna, notando meu estado estranho.

"O que sou eu, uma criança?" quis retrucar, mas não estava no clima para piadas. Olhei para Asuna, Argo e Nezha, e perguntei: — Hum... algum de vocês conseguiu a bandeira da guilda?

Os três balançaram a cabeça. Asuna me lançou um olhar interrogativo, então balancei a minha em resposta.

— Não, nada para mim...

— Ahh. Então deve estar com alguém ali.

Foi então que Asuna e Argo perceberam minha preocupação. As duas fizeram caretas e murmuraram: — Ah, é verdade — e — Puxa, como fui descuidada — Isso chamou a atenção de Nezha.

Mas o lançador de chakram apenas sorriu e disse baixinho: — Vai ficar tudo bem. Trabalhamos como um só para vencer essa luta. Tenho certeza de que alguém vai se apresentar.

— Sim, tenho certeza — respondi, então me virei e me preparei.

A escada em espiral tocava o chão a cerca de três metros de distância dos degraus descendentes. Ela se encaixava perfeitamente na pedra, como se sempre estivesse naquele exato local.

Enquanto eu me aproximava, Shivata finalmente abaixou Liten e se virou para mim, sorrindo.

— Ei, conseguimos! — ele comemorou, levantando a mão. Tentei colocar o sorriso mais natural que consegui ao bater em sua palma.

O som trouxe os outros membros, e eu me dirigi a todo o grupo.

— Primeiro, parabéns a todos... e obrigado. Conseguimos derrotar o boss, e foi graças ao incrível esforço de vocês. Muitas coisas não saíram conforme o plano — quero dizer, nossa tentativa de reconhecimento acabou sendo a investida final — mas todos vocês se saíram admiravelmente contra, sem dúvida, o boss mais difícil até agora.

Parei, e Hafner, com as mãos nos quadris, preencheu o silêncio — mas não com o que eu esperava.

— Dada a minha posição, provavelmente eu não deveria estar dizendo isso, mas... talvez conseguimos derrotar um boss cheio de truques como este sem baixas porque só tínhamos uma dúzia de membros. Se fosse uma incursão completa de quarenta e oito, acho que seria impossível para todos evitar aquelas linhas no chão.

Como se percebesse o que estava dizendo, ele então olhou para o alabardeiro da ALS.

— Hum... Oko, você acha que a ALS planejava enfrentar o boss apenas com seus membros principais porque sabiam como enfrentá-lo corretamente?

Okotan levantou as mãos em um gesto de indiferença e disse: — Não, acho que foi uma coincidência total. Além disso — e isso é totalmente confidencial — não acho que as três principais equipes da ALS conseguiriam fazer isso sem perder ninguém. Não damos ordens aos membros com base na construção de personagem, então não temos nenhum tanque puro nesse grupo. É um papel muito difícil para pouco ganho de experiência. Recrutar Liten foi um grande passo para resolver nossa situação de tanque... Eu sabia que ela seria uma portadora — quer dizer, uma urso para nós.

— Eu não sou um urso, Oko! — protestou a donzela apaixonada de dentro de sua armadura danificada. Okotan sorriu, um pouco em pânico com o insulto não intencional, mas Shivata, Hafner e a equipe de Agil caíram na gargalhada.

Com a conversa diminuindo, Shivata abriu sua janela e olhou para ela, depois para mim.

— Já são oito e meia. A ALS pode aparecer a qualquer momento. Você já pensou em como vamos voltar, Kirito?

Fiquei surpreso; estava ocupado com outra questão.

— Ah... sim, claro. Podemos encontrar a ALS se voltarmos pela torre, então acho que devemos subir até a cidade do sexto andar e teleportar de volta para «Karluin» pelo portal. Passamos pelo trabalho de derrotar o boss; vocês querem ver o próximo andar, certo?

— Com certeza! Estou muito animado! —  exclamou Hafner. O grupo riu novamente, mas eu os interrompi, levantando a mão.

— Como Shivata acabou de dizer, não temos muito tempo. Eu gostaria de correr até o próximo andar, mas antes disso, há algo muito importante a ser resolvido.

O grupo voltou a ficar sério ao notar minha expressão e tom de voz. Fiz sinal para Asuna se aproximar, depois olhei para cada um dos membros do grupo de ataque: Hafner, Shivata, Liten, Okotan, Agil, Wolfgang, Lowbacca, Naijan, Asuna, Argo e Nezha.

— O objetivo desta luta era conseguir a bandeira da guilda de «Fuscus». Quero que quem pegou a bandeira fale agora.

— Ah, é verdade, esse era o objetivo. Eu tinha esquecido completamente — disse Agil. Ele coçou a cabeça e estendeu as mãos vazias, indicando que não foi ele. Seus companheiros deram de ombros ou balançaram a cabeça, e os pares de membros da ALS e da DKB tiveram reações semelhantes. Claro, nem Asuna, Argo, nem Nezha falaram também.

Depois de cinco segundos de silêncio, Wolfgang perguntou hesitante.

— Não foi... você, Kirito?

— Não... não dropou para mim.

— Então isso significa que o boss do quinto andar na versão oficial do jogo não tinha essa bandeira, afinal? — perguntou o homem-lobo, surpreso, acariciando a barba. Enquanto isso, o ainda mais peludo Lowbacca levantou os braços acima da cabeça, incrédulo.

— Para que serviu todo aquele esforço...?

Suas palavras diminuíram e desapareceram conforme ele chegou a uma realização. Ao mesmo tempo, a expressão de todos os outros se desfez.

A possibilidade de que alguém tivesse a bandeira da guilda e não estivesse anunciando isso ao grupo destruiu implacavelmente o brilho pós-vitória que pairava no ar.

Os companheiros que haviam lutado contra o boss com um só coração e uma só mente agora olhavam uns para os outros com desconfiança. Isso estava alimentando todos os meus piores temores.

Seria tão fácil simplesmente declarar: "O boss do quinto andar não dropou nenhuma bandeira" e seguir em frente.

Mas isso apenas adiaria o problema. Na verdade, eu estaria abandonando meu dever.

Porque eu já tinha uma suspeita sobre quem havia conseguido a bandeira da guilda e estava escondendo isso do grupo.

Claro, eu não podia apresentar provas irrefutáveis, mas se eu conduzisse a conversa da maneira certa, talvez pudesse pressionar a pessoa culpada. Ainda assim, se ela insistisse na inocência, eu não poderia forçar uma inspeção de seu inventário ou ameaçá-la com minha espada nua. Eu precisava obter uma confissão voluntária, não criar um impasse.

Mas como eu poderia alcançar esse resultado?

Eu nunca havia tentado entender a mente dos outros antes disso; apenas os afastava de mim. Mesmo com minha família no mundo real, as pessoas cujos rostos eu via todos os dias, muitas vezes me perguntava o que estavam pensando, que tipo de pessoas realmente eram. A sensação de não saber quem outra pessoa realmente era esvaziava o significado da minha vida real e, às vezes, me preenchia com um vazio inexplicável.

Encontrei minha fuga da vida real em jogos online desde a escola primária porque a ideia de comunicação através de um avatar parecia muito natural para mim. O avatar 3D e o humano real que o manipulava estavam em reinos separados, completamente isolados um do outro. Dessa forma, eu não precisava me preocupar com quem eram as outras pessoas.

Foi por isso que Sword Art Online, o primeiro VRMMORPG do mundo, me atraiu tanto. Minha inscrição para o teste beta e o eventual aprisionamento neste mundo virtual foram essencialmente inevitáveis.

Mas desde o dia em que o botão de logout desapareceu e meu avatar se tornou meu próprio corpo, eu tentei me distanciar das pessoas novamente. Abandonei Klein, meu primeiro amigo, e quase fui morto por Kopel, meu primeiro parceiro — mas a raiz do problema estava em mim, por ter medo de me aproximar dos outros.

Quando este mundo se tornou minha segunda realidade, tentei não ter nenhuma conexão com mais ninguém, como antes. O jogador era sempre um jogador; mesmo com minha vida em risco, eu continuaria interpretando sob um nome fictício. Manter essa mentalidade me permitiu engajar em um mínimo de comunicação com outras pessoas.

Eu poderia pressionar quem estava escondendo a bandeira da guilda com lógica, mas não conseguiria convencê-los no verdadeiro sentido da palavra...

Soltei minha respiração e comecei a baixar a cabeça.

Mas minha atenção foi atraída por uma pequena, mas brilhante luz no canto direito da minha visão.

A fonte da luz era um par de olhos castanho-avelã, olhando diretamente para mim. Não suplicavam, não insistiam — apenas observavam, em silêncio.

Asuna.

Desde o início deste jogo, eu sem dúvida passei mais tempo com ela do que com qualquer outra pessoa, ainda assim ela permanecia um enigma para mim. Eu não sabia honestamente por que ela continuava trabalhando comigo. Foram poucas as vezes em que realmente senti que entendia exatamente o que ela estava pensando, e eu poderia contar essas ocasiões nos dedos.

Mas, por qualquer razão, nunca senti aquela sensação — aquela suspeita de "Quem você realmente é?" — em relação a ela, nem uma única vez. Ela sempre existia em um estado neutro ao meu lado, seja zangada, ou emburrada, até mesmo rindo.

Ela não estava representando uma versão temporária de si mesma aqui. Quer seu corpo fosse um avatar digital ou não, ela era ela mesma. Asuna conseguia ser mais autêntica consigo mesma do que qualquer outra pessoa, não porque fosse novata em MMOs, mas porque possuía um firme senso de identidade.

Quando a encontrei pela primeira vez na torre do labirinto, ela estava com os olhos vazios e quase suicida em seu abandono. Agora, ela havia encontrado uma razão para lutar, adquirido conhecimento e habilidade, e trabalhado para se tornar uma das melhores jogadoras do jogo.

Será que eu poderia mudar assim também?

Eu retribuí o olhar dela e voltei a encarar o grupo.

Minha postura ereta se curvou na cintura, e minha cabeça abaixou em uma reverência profunda. A imensa câmara ecoou com murmúrios surpresos. Procurei as palavras certas — não como um discurso, mas meus próprios pensamentos verdadeiros.

— Primeiro, preciso pedir desculpas a todos vocês. Eu deveria ter começado a discutir como lidar com a bandeira da guilda antes de começarmos a luta. Precisávamos saber o que fazer se a bandeira caísse e como confirmar se não caísse. Foi meu erro não termos feito isso até agora. E isso causou desconfiança entre o grupo...

Finalmente, endireitei-me, olhando diretamente para os rostos dos outros onze.

— Mas eu não quero que a ALS e a DKB briguem pela bandeira... Quero que ambas as guildas trabalhem juntas para nos ajudar a expandir nossa fronteira no jogo. Foi por isso que convoquei todos vocês para participar dessa batalha contra o boss. Isso era o que eu acreditava antes da luta, e ainda é o que acredito agora, depois de termos vencido.

Fiz uma pausa e silenciosamente chamei o cavaleiro falecido. 

Diavel, o que você faria aqui? Eu não posso ser seu sucessor. Não tenho a nobreza, a liderança que você representava. Mas a forma desesperada como você foi atrás do LH, a honestidade com que pediu ao seu antigo rival para continuar — eu admiro essas qualidades.

Sim, eu precisava fazer tudo o que podia antes de desistir, assim como Diavel fez contra o primeiro boss. Assim como os Legend Braves fizeram contra o segundo boss.

Dei um passo para trás com o pé direito, alinhando-o ao esquerdo. Endireitei minha coluna, todos os dedos, e mantive as mãos ao lado do corpo.

Da minha posição de atenção, olhei diretamente para um único jogador, depois me curvei na cintura, abaixando minha cabeça o máximo que pude, até não ver mais nada além do chão de pedra quadriculada.

— Não há mais nenhuma maneira de determinar quem pegou a bandeira da guilda usando as ferramentas do sistema. Então estou implorando a você. Eu não quero que você me dê... Quero que você deixe o grupo decidir como usá-la. Pelo bem da equipe da linha de frente... Pelo bem de todos os jogadores que estão esperando nos andares inferiores... E pelo dia em que alguém finalmente vencer este jogo.

O silêncio preencheu a câmara. Os murmúrios desapareceram, assim como as tosses, o barulho de equipamentos e até a respiração. O silêncio era tão completo que quase parecia que a entrada de som tinha sido cortada de alguma forma.

Um passo metálico ecoante quebrou essa ilusão.

Os passos, algo entre o baque surdo de uma armadura pesada e o leve pisar de uma armadura de couro, se aproximaram com propósito e pararam bem na minha frente. Acima da minha cabeça curvada veio uma voz calma.

— Por favor, endireite-se, Kirito.

...

Olhei lentamente para cima e vi o membro mais velho do ataque... o chefe dos batedores da ALS, Okotan.

Aceitei sua mão estendida e endireitei minhas costas. Desta vez, foi a vez dele se enrijecer formalmente e se curvar.

— Kirito, meus companheiros, sinto muito. Fui eu que falhei em anunciar que tinha conseguido a bandeira da guilda.

Assim que sua confissão e pedido de desculpas terminaram, uma voz abafada veio do fundo.

— Oko...! Mas por quê?!

A figura deu um passo à frente, levantando a viseira do elmo e continuando com uma voz doce e clara: — Lembra o que você disse? Que todo o grupo da linha de frente precisava ficar junto, que nossas duas guildas não deveriam brigar... Por que você fez isso?!

Quando o apelo banhado em lágrimas terminou, Okotan se virou e fez uma reverência novamente para seu colega de guilda.

— Desculpe, Liten. Receio ter traído sua confiança.

Ele voltou-se para mim e abriu sua janela. Depois de alguns toques em seu inventário — parecia que havia sido escondido em uma subpasta, como eu suspeitava — ele materializou um item.

Com um spray de pequenos pontos de luz, apareceu uma lança de três metros de comprimento, ainda maior que a alabarda pendurada nas costas do homem. Na verdade, embora a ponta fosse afiada, não era uma lança. 

Um estandarte triangular branco puro estava preso à extremidade superior, enrolado suavemente em torno do cabo prateado espelhado.

— Ohhh — alguém murmurou com admiração.

Eu nunca tinha visto isso antes também, mas era evidente à primeira vista que se tratava de um item muito especial. Detalhes finos adornavam a ponta e a base do eixo esguio. A borda do estandarte e o material lustroso eram elegantes e trabalhados. A mera presença do item o destacava de todos os outros itens dos andares mais baixos de Aincrad.

Okotan ergueu a bandeira da guilda, finalmente testemunhada pessoalmente, e perguntou gentilmente.

— Kirito, você olhou diretamente para mim. Como sabia que era eu?

— Ah... sim — Tirei os olhos da bandeira e olhei o alabardeiro nos olhos. — Okotan... você jogava muitos FPS antes de entrar neste jogo?

Ele ficou surpreso com a maneira como eu virei o jogo contra ele, depois assentiu.

— Sim... por um tempo, joguei mais shooters do que MMOs.

Minhas suspeitas foram confirmadas, então comecei a explicar o detalhe nas palavras dele que ficou na minha mente.

— Bem, eu só experimentei um pouco... mas você conhece aquele tipo de batalha em equipe nos shooters chamada CTF: Capture The Flag. Aquela em que duas equipes lutam por uma única bandeira.

— Certo — disse Shivata, claramente sem ideia de onde eu queria chegar com isso. Continuei.

— Nesse modo, o jogador que possui a bandeira é chamado de portador da bandeira ou flag bearer — bearer em resumo. E mais cedo, você disse, 'Liten seria uma portadora — não, um urso para nós.' Você mudou a palavra rapidamente, mas imaginei que você não teria pensado em usar essa palavra a menos que a bandeira tivesse no seu inventário e já estivesse na sua mente.

Quando eu disse isso em voz alta, parecia menos uma suposição lógica e mais uma acusação sem sentido, mas Okotan apenas assentiu lentamente com a cabeça.

— Ah, entendo... Acho que isso é o que eu ganho por tentar algo com o que não estou acostumado — Ele olhou para a bela bandeira em suas mãos e sorriu amargamente. — Talvez eu não esteja em posição de dizer isso, mas... Kirito, Liten, todos... quero que acreditem em mim. Eu não participei deste ataque com o objetivo de roubar a bandeira da guilda para mim. Não tenho conexão com o círculo interno da ALS. A princípio, eu só queria proteger a relação das duas guildas... Esse era o meu único desejo. Mas...

A boca finamente recortada de Okotan se contorceu, e seus olhos se fecharam com força. Sua voz rouca ecoou pela câmara de pedra.

— Quando esta bandeira... a «Flag of Valor», dropou no meu inventário, e percebi que ninguém tinha notado e que eu poderia escondê-la se quisesse — esse pensamento entrou na minha mente. O pensamento de que eu poderia usar isso como uma moeda de troca para unir as duas guildas em uma só...

A armadura de Hafner fez um leve ruído, mas ele mordeu o lábio e permaneceu em silêncio. Shivata e Liten se entreolharam, mas também não disseram nada.

Quando Okotan abriu os olhos novamente, o sorriso autodepreciativo voltou, e ele balançou a cabeça.

— Mas isso nunca aconteceria. Se a bandeira da guilda aparecesse nas mãos de um membro da ALS, vocês logo saberiam que eu a tinha escondido. Como poderíamos ter uma negociação de boa fé desse jeito? Foi um sonho estúpido. Mais uma vez, peço desculpas a todos vocês pelas minhas ações tolas.

Ainda segurando a bandeira, Okotan se curvou profundamente novamente. Hafner deu um passo à frente com um som metálico, seus punhos cerrados.

— Sim, isso foi uma coisa estúpida de se fazer! Tão estúpida, na verdade, que poderia ter levado a uma guerra aberta entre nossas guildas! Mas... seu sonho não foi nada estúpido!!

Os ombros de Okotan tremeram. O sublíder da DKB deu outro passo pesado à frente e, em um tom um pouco mais baixo, continuou: — Eu tive um pequeno sonho durante aquela batalha. Se eu, Shivata, você e Liten pudéssemos lutar tão bem juntos, mesmo sendo a primeira vez que estávamos em um grupo, então talvez não tivesse sentido toda essa nossa briga... Talvez não devêssemos nos dividir em duas guildas rivais, mas formar nossos grupos ideais. E eu não vou desistir desse sonho. Talvez isso não leve à fusão das nossas guildas... mas não vou parar de pensar nas possibilidades. Então... eu te perdoo!!

O discurso repentino de Hafner fez uma pausa, e ele observou o resto do grupo.

— Se algum de vocês ainda não puder perdoar o Oko e quer que ele seja punido de alguma forma, levante a mão agora!

Agil abriu os braços e sorriu.

— Vamos, Haf, você sabe que, quando coloca dessa forma, ninguém vai levantar a mão.

A equipe Bro Squad concordou com a cabeça, enquanto Asuna, Argo e Nezha sorriram. As costas de Okotan tremiam, sua cabeça ainda inclinada em direção ao chão.

— Obrigado.

Sua voz era hesitante e rouca, mas, com o eco no chão e nas paredes da câmara de pedra, todos ouviram claramente.

 

 

CONTINUA NA PARTE 11 DIA 30/08


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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