Volume 3
BARCAROLLE OF FROTH - QUARTO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 2)
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2
— QUE TIPO DE LUGAR É A CIDADE PRINCIPAL DESTE ANDAR?
Asuna caminhava para o sul pela colina branca, com as solas de suas botas de couro rangendo contra a areia. Ela estava de volta à sua roupa habitual de capa com capuz e saia de couro.
— Hum...
Tentei lembrar a aparência da cidade. Eu estava de volta ao meu casaco preto de costume.
— Sabe de uma coisa? Esqueça. Estaremos lá em um minuto, e eu prefiro ver com meus próprios olhos.
— É uma boa ideia. É uma das coisas divertidas sobre MMORPGs.
Concordei, mas a visão da cidade construída em pedra já estava voltando à minha mente.
Para ser sincero, não era uma cidade particularmente memorável. Comparada à cidade esculpida na montanha do segundo andar ou aos monstruosos baobás do terceiro, esta era estruturalmente bastante simples. Se havia alguma característica estranha a mencionar, era que a entrada de cada casa ficava no segundo andar, por algum motivo. Para entrar, era necessário usar um conjunto de escadas de pedra.
— Oh, ali está o portão!
Chamou Asuna, sua voz cerca de 20% mais animada do que o normal. Um arco de pedra coberto de musgo estava aparecendo no topo da colina. Olhei para minha janela, que ainda estava aberta desde que coloquei meu equipamento de volta. Era quase duas horas.
Alguns minutos depois de chegarmos ao quarto andar, alguns minutos à beira da água, alguns minutos com a árvore de donuts — tudo isso somava cerca de cinquenta minutos desde que derrotamos o boss do terceiro andar. Devem haver muitos jogadores lá embaixo neste exato momento, apenas esperando que o portão de teletransporte se abra para a nova cidade.
Eu me sentia mal por termos demorado tanto para ativar o portão, mas eles entenderiam quando vissem a falta de um caminho.
Segui atrás da espadachim enquanto ela subia a colina. Quando ela alcançou o arco um passo antes de mim, Asuna borbulhava de excitação.
— Uau... É tão bonito aqui!
Bonito? Tudo o que eu lembrava era de uma cidade cinza e monótona. Subi os últimos metros, agora curioso. No instante em que passei pelo arco de pedra, inúmeras luzes brilharam em meus olhos. A cidade simples e entediante no vale quadrado que eu lembrava do beta agora estava brilhando como uma joia.
A fonte da luz era o sol do meio-dia brilhando na água azul sólida.
Tudo o que antes era uma rua pavimentada de pedra agora era um canal profundo. A pedra dos edifícios havia passado de um cinza opaco para um branco brilhante, o que fazia o lugar inteiro parecer uma cidade de giz flutuando no meio de um lago quadrado. Em termos de beleza pura, superava facilmente as do segundo e terceiro andares. Não é de se admirar que Asuna ficasse surpresa.
— Hmmm. Entendi... Esta deveria ser a versão final o tempo todo. Isso explica as portas no segundo andar.
Murmurei. Minha parceira acenou impacientemente para que eu me apressasse.
— Vamos, rápido!
— Estou indo!
Continuamos pelo caminho de pedra, que agora estava descendo. Durante a descida, um pensamento ocorreu-me: O tema do quarto andar tinha que ser "canais".
Uma vez passado pelo enorme portão da frente da cidade, o rótulo REFÚGIO SEGURO apareceu em meu campo de visão. À frente havia um cais de cerca de trinta metros de comprimento, completo com vários pequenos barcos guiados por NPCs.
— Ooooh, olhe as gôndolas! É igual a Veneza!
Maravilhou-se Asuna. Comecei a me perguntar se ela só tinha visto Veneza em fotos, ou se ela realmente já havia estado lá, então me controlei. Não parecia certo perguntar sobre sua vida pessoal.
A rua terminava no cais, então precisávamos usar uma gôndola para ir a qualquer lugar na cidade. Suponho que tínhamos a opção de pegar aquelas boias de natação de volta do inventário, mas os olhos de Asuna estavam atualmente em forma de gôndola, então entendi que minha ideia seria rejeitada instantaneamente. Eu também não gostava muito da ideia de exibir minha cueca de vaca, mesmo que não houvesse outros jogadores reais na cidade ainda.
As gôndolas(barcos) no cais vinham em uma grande variedade de tamanhos, desde pequenos barcos para uma pessoa (além do gondoleiro NPC) até grandes cruzeiros que podiam acomodar dez ou mais. Várias placas de cobre listavam os preços, indicando que uma gôndola para duas pessoas custava cinquenta col para um único uso. Era bom saber que o preço seria o mesmo não importava onde estivéssemos na cidade, mas eu não gostava da ideia de pagar cinquenta col toda vez que quiséssemos visitar um novo lugar.
No momento, não tínhamos uma opção melhor.
— Esta serve?
Perguntei, apontando para uma gôndola branca de dois lugares próxima. Asuna a examinou seriamente e acenou. Descemos os degraus do cais e pulamos na gôndola, Asuna primeiro. O robusto gondoleiro, com seu tradicional chapéu de palha e camisa listrada, nos cumprimentou amigavelmente.
— Bem-vindos a «Rovia», viajantes! Cinquenta col, para onde quiserem ir!
— Leve-nos à praça do teletransporte, então.
Respondi, então me perguntei se um NPC entenderia essa terminologia. Felizmente, ele inclinou a aba do chapéu em reconhecimento.
— Lá vamos nós!
Ele gritou. Uma janela de pagamento roxa apareceu brevemente, depois desapareceu. O gondoleiro deu um empurrão com seu longo remo. O barco branco deslizou, e na proa, Asuna puxou o capuz para trás e comemorou novamente.
A gôndola deixou o cais no extremo norte da cidade para trás e seguiu pela rua principal em forma de cruz que dividia a cidade em quatro partes. Não, não era uma rua principal, era o—
— Ei, Asuna, qual é a palavra em inglês para hidrovia?
— Canals!
O canal principal da cidade.
Barcos de todas as cores enchiam o amplo canal, que tinha cerca de dezoito metros de largura, com lojas grandes e pequenas alinhadas nas laterais. As vitrines de armas, armaduras e itens eram muito tentadoras para mim, mas não seria fácil fazer desvios nesta situação. Sem dúvida, poderíamos mudar de destino no meio do caminho, mas eu tinha a sensação de que toda vez que saíssemos do barco, custaria mais cinquenta para subir novamente.
Além disso, eu nem sabia se a gôndola esperaria por nós lá.
Disse a mim mesmo que precisávamos priorizar a ativação do teletransporte da cidade e perguntei ao gondoleiro outra coisa.
— Este barco nos levará para fora da cidade também?
Felizmente, esta pergunta fazia parte de sua lista reconhecida, e ele deu uma resposta adequada enquanto remava com força.
— Receio que não posso fazer isso. Eu só trabalho aqui, na cidade de «Rovia».
— Outro barco nos levaria para fora da cidade?
— Desculpe, não posso responder isso.
Ou a pergunta não se encaixava em seus parâmetros reconhecidos, ou havia um motivo pelo qual ele não podia responder. Havia muitas outras coisas que eu queria saber, mas com base na minha experiência no beta, a informação mais detalhada sobre uma cidade tinha que vir do NPC certo — como um ancião barbudo da vila, um informante suspeito, ou uma criança sabe-tudo.
Por um momento, lembrei-me da cavaleira Elfa Negra e seu vocabulário incrivelmente realista, mas havia coisas a fazer antes que eu pudesse me debruçar sobre minha solidão.
Abriremos o portão, faremos um breve descanso, e depois começaremos a coletar informações, disse a mim mesmo.
Um grande cais apareceu à frente. Era a praça do portão de teletransporte no centro da cidade. O gondoleiro alinhou nosso barco ao cais no extremo sul da praça com habilidade experiente, depois levou a mão ao chapéu novamente.
— Seguro e salvo! Espero vê-los novamente!
Agradecemos a ele e desembarcamos. Como temia, a gôndola imediatamente se afastou do cais e voltou para a entrada da cidade. Mas havia outras gôndolas no cais aqui, então poderíamos usá-las no caminho de volta. Abrir o teletransporte rapidamente era o mais importante agora.
Quando me virei, percebi que Asuna ainda tinha estrelas flutuando nos olhos.
— Foi tão, tão divertido!
— Hum... Fico feliz que tenha gostado.
— Vamos andar em outra na volta!
— Eu... não acho que temos outra opção.
Eu quase tive que me perguntar se ela realmente era a mesma espadachim fria e sarcástica com quem eu estava trabalhando todo esse tempo.
🗡メ
Uma hora após derrotarmos o boss do terceiro andar, Asuna e eu ativamos o portão de teletransporte para o quarto andar e nos retiramos para um canto da praça para observar a enxurrada de jogadores que atravessavam o portal azul ondulante.
A multidão de turistas, aqui para o costume de "abertura da cidade", se agrupava na praça e maravilhava-se com a beleza da cidade, mas mais do que alguns pareciam já ter um propósito claro em mente. Espadachins medianos que se dirigiam à área do mercado em busca de melhores armas, comerciantes atrás de itens mais valiosos para estocar, e até mesmo uma garota de cabelo curto com um martelo de ferreiro na cintura, examinando atentamente o mapa da cidade.
Feliz em ver que havia mais guerreiros tentando alcançar o grupo da linha de frente e artesãos oferecendo suporte aos jogadores, juntei-me a Asuna entrando em uma pequena pousada na periferia da praça.
Conseguimos dois quartos desta vez, para evitar o erro que aconteceu em «Zumfut» no terceiro andar, mas precisávamos ter uma reunião sobre nossos planos para o futuro antes de podermos descansar, e, portanto, acabamos nos sofás do meu quarto. Como de costume, eu tive que estar atento ao fato de que seu radar de perigo desnecessário estava na sensibilidade máxima, mas com o efeito da gôndola ainda ativo em sua expressão, suas feições estavam relaxadas.
Tomei um gole do chá que estava no conjunto deixado na sala e olhei para Asuna à minha frente.
— Você... gosta de barcos?
Ela piscou algumas vezes e sorriu timidamente.
— Não de barcos como um todo, na verdade... mas sempre quis andar de gôndola. Eu só nunca pensei que esse sonho se realizaria em Aincrad.
— Entendi. Então, não é tão ruim que o quarto andar tenha sido inundado.
Observei. Ela pareceu perceber algo.
— Oh... então não havia esses canais na versão beta?
— Correto. Era apenas uma cidade chata, empoeirada e cinzenta. Mal me lembro de algo sobre ela.
— Então eu gosto muito mais desta. Eu sei que as gôndolas não saem da cidade, então provavelmente teremos que nadar... mas posso lidar com isso.
Apesar de estar totalmente encantada com o passeio de barco, ela ainda assimilou cada palavra da conversa que tive com o gondoleiro. Não pude deixar de sorrir para sua natureza capaz.
— Isso mesmo. Quanto ao que vem a seguir, devemos fazer uma pausa, depois reabastecer, reparar e substituir nossas coisas aqui na cidade; aceitar todas as missões disponíveis; e descobrir o máximo de informações que pudermos sobre o quarto andar. Eventualmente, teremos que deixar a cidade para outros locais, o que significa usar aquelas boias de natação novamente...
O olhar sonhador desapareceu gradualmente dos olhos de Asuna, substituído por sua expressão fria típica.
— Eu posso lidar com a natação — o problema são os mobs. Aquele bicho lagarto-girino de antes foi um pouco decepcionante quando o corpo era menor que a nadadeira, mas ainda tinha um cursor vermelho brilhante, certo? Isso significa que era um nível bastante alto..
— Exatamente. E, obviamente, essa não será a única espécie de mob no andar... Melhor tentarmos nos equipar para o combate contra os mobs subaquáticos.
Eu tinha apenas um pouquinho de experiência com isso no beta. Não só um jogador tinha que lidar com tomar e segurar a respiração, mas a resistência da água também era feroz. Guerreiros com armas grandes precisavam ser capazes de manusear essas armas, enquanto aqueles com armas menores só podiam ser ágeis na água até certo ponto. As armas mais adequadas para a água eram as do tipo lança, com seu longo alcance e ataques de perfuração que encontravam mínima resistência da água. E nem Asuna nem eu tínhamos habilidades com lanças.
Era irrealista começar a treinar agora, mas Asuna poderia fazer o seu melhor com as estocadas de sua rapieira, e eu poderia me limitar às habilidades de perfuração...
De repente, Asuna colocou sua xícara de chá e gritou.
— Ah, certo! Eu esqueci, preciso fazer um maiô!
— V-Você estava falando sério sobre isso?
— Claro. Acho que vi alguns sendo vendidos nas lojas, mas seria um desperdício gastar esse dinheiro quando eu já tenho a habilidade de «Sewing».
— B-Bem, você tem um ponto... Posso te pedir para fazer um calção de banho para mim também? Simples, sem marca de touro.
— Devo desenhá-lo com aquele girino com nadadeiras em vez disso?
Eu ia implorar contra isso, mas algo mais ocorreu a mim primeiro.
— Ah, espera, espera.
— O-O que você quer dizer? Eu nem comecei.
— Não, estou pensando...
Eu estreitei os olhos, tentando puxar a informação relevante daquela conversa que tivemos sobre costura lá no acampamento dos Elfos Negros no terceiro andar.
No segundo andar, eu tinha visto a montanha de roupas íntimas que saiu do inventário de Asuna. Essas não eram feitas para serem usadas, mas eram um subproduto de seu treinamento para aumentar sua proficiência na habilidade.
Depois, ela mencionou que já tinha retirado a habilidade de «Sewing» de seu slot.
— Hm. Não, não vai funcionar.
— O que não vai?
— Você não tem mais a habilidade de «Sewing» em um dos seus slots, tem? Isso pode ser um choque se você não sabia... mas uma vez que você remove uma habilidade do slot, a proficiência volta a zero.
Expliquei. Ela assentiu sem piscar.
— Eu posso ser uma iniciante, mas até eu sei disso. Além disso, aparece aquele aviso quando você remove a habilidade do slot.
— Oh... bom. Em resumo, você vai treinar de novo desde o início?
Ela balançou a cabeça, exasperada.
— Eu posso ser uma trabalhadora árdua, mas não sou tão paciente. De fato...
Asuna abriu sua janela do jogo, com uma expressão cética no rosto. Ela passou para o armazenamento do inventário e materializou um pequeno item.
A pequena garrafa de cristal em forma de noz caiu na mesa de café com um som surdo. Havia uma pequena quantidade de líquido azul brilhante dentro da garrafa transparente e espessa.
— O que é isso?
— Você não viu uma dessas no beta?
— Não... que eu me lembre.
Eu estendi a mão para pegar o frasco, mas ela rapidamente me interrompeu.
— Pare, se você não sabe o que é! Nem pense em abrir.
— E-Eu sei, eu só ia ler a descrição.
— Estou falando sério sobre isso!
A severa admoestação dela me fez querer abrir e engolir tudo de uma vez, mas eu não estava tentando ser um comediante, então me comportei. Pegando com cuidado para não perturbar a tampa de vidro, fiquei surpreso com o quão pesado era, apesar de ter apenas três polegadas de comprimento. Toquei o lado do vidro com a ponta do dedo e examinei a janela de propriedades que apareceu.
— É chamada de... Garrafa de Cristal de «Kales'Oh»? Nunca ouvi falar. Vamos ver aqui... Esta garrafa permite salvar a proficiência de qualquer habilidade atualmente equipada em um slot de habilidade... Aha...
Passaram-se cerca de três segundos.
— O qu... o qu... o queeeeee?!
A onda de choque do meu grito colocou rachaduras nas paredes, rasgões no cobertor de penas e quebrou todas as janelas da sala.
Ok, na realidade, só causou uma mera ondulação na superfície da xícara de chá, mas certamente parecia ter aquele tipo de impacto destrutivo. Minha boca ficou congelada aberta de choque. Asuna tirou a garrafa dos meus dedos e mexeu nas configurações na janela de propriedades, depois puxou a tampa imediatamente.
O líquido no fundo do frasco se transformou em uma luz azul que flutuou no ar. Ela respirou fundo e aspirou pelo nariz, depois soprou uma luz amarela de volta na garrafa antes de recolocar a tampa. O conteúdo agora parecia óleo de limão. Ela colocou a garrafa de volta na mesa e sorriu para mim.
— Agora minha habilidade de «Sewing» está de volta ao seu nível anterior, e o nível da minha habilidade de «Sprint» está salvo na garrafa.
— Eu... Entendo... Hum, se eu puder perguntar, onde você conseguiu esse item?
— Foi meio caótico, então eu não pude ver, mas acho que foi naquela vez. Lembra logo depois que chegamos ao terceiro andar e ajudamos «Kizmel» a lutar contra aquele cavaleiro Elfo da Floresta? Acho que deve ter dropado do cavaleiro elfo.
— Ohhh.
Assenti, ainda não superando o choque. Agora que ela mencionou, «Kales'Oh» era o nome da nação dos Elfos da Floresta que existiu uma vez na superfície, de acordo com o conto de «Kizmel».
De fato, aquele guerreiro elfo extremamente poderoso — forte o suficiente para que os jogadores normalmente não conseguissem vencer, pois era uma batalha de evento — também me dropou uma série de itens bastante raros. Mas eu estava tão surpreso com o diálogo nada parecido com um NPC de «Kizmel» que nunca voltei para verificar o loot.
Asuna não poderia ter descoberto as propriedades da garrafa de cristal até mais tarde naquela noite, no mínimo. Nós não descrevíamos ou perguntávamos pelas escolhas de habilidades ou conteúdos do inventário um do outro a menos que fosse absolutamente necessário, então uma semana se passou sem que eu soubesse que Asuna tinha um item tão valioso.
— Você vai ficar aí parado, chocado, o tempo todo? Se terminamos de conversar, posso ir para o meu quarto e começar a fazer os trajes de banho agora?
Ela perguntou. Isso me tirou do meu efeito de paralisia.
— Oh, uh, hum. — Murmurei, tentando organizar meus pensamentos. Levantei as mãos. — Só... só um momento. Tem mais algumas coisas que eu quero ter certeza.
— Hmm.. Tudo bem, mas por que você não se acalma primeiro?
— C-Certo.
Engoli meu chá frio e soltei um longo suspiro. A Garrafa de Cristal de «Kales'Oh» ainda estava bem ali na mesa. Eu olhei para o líquido amarelo cintilante feito de pura proficiência em habilidade.
O líquido preenchia cerca de um vigésimo da capacidade do frasco. Assumindo que a habilidade de «Sprint» de Asuna estivesse em torno de 50, e a quantidade de líquido fosse diretamente correlacionada à proficiência, então essa garrafa poderia até salvar uma habilidade completa no nível máximo de proficiência de 1.000.
Respirei fundo mais uma vez e olhei para ela.
— Você contou a algum outro jogador além de mim sobre essa garrafa?
A espadachim deu de ombros e balançou a cabeça.
— Você tem certeza? Nem mesmo Argo?
— Escuta, você esteve viajando comigo durante toda a semana desde que eu consegui esse item. Quando eu teria tido a chance de me encontrar com Argo pelas suas costas?
— Oh... bom ponto...
Senti um alívio tomando conta de mim, mas Asuna ainda estava me lançando um olhar cético.
— O que é essa reação exagerada? Tudo o que essa garrafa faz é permitir que você coloque seu nível de habilidade nela e retire — você ainda tem que trabalhar para aumentá-la. Você está agindo como se beber isso automaticamente te desse cem pontos de habilidade. É tão grande assim?
…...
Eu estava tanto chocado com o que minha parceira temporária estava dizendo quanto resignado — aparentemente, isso era apenas como os não-jogadores de RPG pensavam. Tentei ao máximo fazê-la entender meu choque e apreensão.
— A questão é... como eu disse, você perde seu progresso de habilidade em SAO quando você remove uma habilidade do seu slot. Então, no nível dezesseis, como estou agora, só posso melhorar quatro habilidades ao mesmo tempo.
— Eu sei disso. Você tem «One Handed Sword», «Martial Arts», «Searching» e... «Stealth», não é?
Ela sabe! Mas era tarde demais para me alarmar com isso neste ponto. Limpei a garganta e continuei.
— I-Isso. Além disso, estou seriamente me perguntando se devo remover «Stealth» para que eu possa equipar «Swimming», em vez disso.
— Há uma habilidade de «Swimming»? O que acontece se você a usar?
— Você pode nadar mais rápido, não há tanta resistência na água, e você pode se mover por mais tempo debaixo d'água. Será uma grande ajuda neste andar, mas provavelmente não vou acabar usando-a. O terreno deve mudar no próximo andar, então eu estaria desistindo de todo o trabalho árduo que coloquei em «Stealth», apenas por causa desse único andar.
— Ahh... Então, com essa garrafa aí, você poderia salvar uma de suas outras habilidades onde já está e temporariamente definir a habilidade de «Swimming» no slot só para este andar.
— Exatamente. Todo jogador que vier para este andar vai ter que enfrentar essa escolha difícil. Se souberem que há um jogador com uma garrafa mágica que pode salvar seu progresso de habilidade, você vai ser assediada por pessoas querendo comprá-la, bisbilhotando e perguntando informações, e assim por diante.
Havia outra possibilidade muito mais sombria que eu podia ver surgindo, mas escolhi não mencioná-la. Asuna pegou a garrafa de cristal e a olhou, apreciando seu verdadeiro valor pela primeira vez.
— Entendo... Agora que penso nisso, Nezha dos Legend Braves poderia ter usado essa garrafa para ganhar «Martial Arts» sem ter que desistir de «One Handed Sword». Como efetivamente dá a você um slot de habilidade extra, acho que posso ver por que as pessoas fariam um grande alvoroço sobre isso...
Como de costume, ela entendeu os conceitos muito rapidamente para uma iniciante. Asuna olhou para cima e continuou, falando mais rápido do que o normal.
— E se simplesmente divulgarmos todas as informações que temos sobre isso? Se contarmos para Argo, ela colocará isso em seus guias de estratégia, certo? Então ninguém precisará vir nos perguntar.
— Sim... Não estou dizendo que deveríamos esconder sua existência... mas...
Inclinei-me e apoiei o queixo nas mãos dobradas, pensando profundamente.
— O problema é que o Cavaleiro Sagrado Elfo da Floresta de onde você conseguiu a garrafa só está disponível para lutar durante aquela batalha de evento na «Forest of Wavering Mists» no terceiro andar, neste ponto. Basicamente, você só tem uma oportunidade. Estou supondo que os principais jogadores na linha de frente, como o «Esquadrão de Libertação de Aincrad» de Kibaou e a «Brigada dos Cavaleiros do Dragão» de Lind, já tenham vencido aquele evento de maneira normal agora...
— Entendo... Então é meio tarde para divulgar essa informação agora.
— Exato. Além disso, não é como se fosse fácil derrotá-lo, mesmo que você ainda tenha a oportunidade...
— Conseguimos, não foi?
Ela disse. Eu tinha que admitir que ela estava certa, mas eu tinha minhas dúvidas. Cocei minha franja e admiti algo que estava em minha mente o tempo todo.
— Como você supõe que conseguimos derrotar aquele Elfo da Floresta, afinal...?
No curto silêncio que se seguiu, lembrei-me de uma conversa que tive com «Kizmel» na tenda de banho do posto avançado dos Elfos Negros.
Ela afirmou que estava tendo um sonho estranho ultimamente.
No sonho, «Kizmel» estava lutando contra um poderoso cavaleiro Elfo da Floresta. No meio do duelo, eu aparecia com vários companheiros, nenhum dos quais era Asuna. Nós a ajudávamos na luta, mas ninguém conseguia lidar com o Elfo da Floresta, e o grupo caía um após o outro — até que «Kizmel» era forçada a liberar a proteção da Árvore Sagrada para salvar nossas vidas, assim perecendo ela mesma.
Além das questões de por que um NPC sonharia ou se um NPC realmente "dormia" no sentido verdadeiro da palavra, uma coisa se destacava — o conteúdo daquele sonho era assustadoramente semelhante à minha experiência com a missão "Chave de Jade" durante o teste beta de SAO.
«Kizmel» era um NPC extremamente especial com uma IA altamente avançada. Isso era claro.
Foi por isso que ela manteve a memória desde o beta teste? Ou era a presença dessa memória que a tornava especial? Foi por causa de «Kizmel» que Asuna e eu conseguimos derrotar o cavaleiro Elfo da Floresta no jogo oficial?
— Acho que foi porque todos nós tentamos ao máximo. — Murmurou Asuna. Eu olhei para cima com um sobressalto. — Você, «Kizmel» e eu lutamos o mais duro que pudemos, acreditando que poderíamos vencer. Foi a maior concentração que já tive em qualquer batalha desde que vim para Aincrad — mais ainda do que os bosses dos andares.
……
Como jogador, eu estava acostumado à ideia de que um "evento de derrota automática" nunca poderia ser revertido, não importa o quanto alguém tentasse, mas eu não poderia dizer isso em palavras.
— Hmmm... exatamente. Você foi realmente incrível durante aquela luta. E depois de colocar tanto esforço nisso, você esperaria conseguir um ou dois itens realmente bons em troca.
— Só para você saber, eu não estava fazendo isso esperando ser recompensada com itens!
Ela retrucou, levantando um punho. Eu ri e pedi desculpas. Sword Art Online não era como todos os outros RPGs que eu já joguei. Era um jogo mortal sem botão de logout, e o primeiro VRMMORPG do mundo. Se eu me prendesse às minhas noções preconcebidas de como as coisas deveriam ser, eu perderia o que estava bem na minha frente.
Olhei seriamente para Asuna e perguntei.
— Podemos pelo menos tomar um tempo para pensar sobre o que fazer com a informação da garrafa de cristal? Como eu disse, eu não quero apenas manter isso em segredo para sempre. Mas enquanto eu souber que pode ser uma fonte de problemas, quero manter sua segurança em primeiro lugar.
Eu esperava que ela respondesse com uma reafirmação sarcástica de que não era mais uma novata e que podia cuidar de si mesma, e até cheguei a preparar uma declaração adicional para sustentar meu caso. Mas Asuna apenas olhou para mim em silêncio, depois se virou em um gesto irritado. Eu mal conseguia ver sua boca se mover atrás da franja longa.
— Hmmm. Bem, se é isso que você quer fazer, então tudo bem.
— Oh... v-você está bem com isso?
Fiquei tão surpreso com a resposta dela que me perguntei o que ela estava pensando e me inclinei para o meu lado direito para ver o lado do rosto dela. Em vez disso, Asuna se virou ainda mais para a esquerda, evitando meu olhar até estar sentada completamente de costas, virada para o sofá.
O que está acontecendo aqui?
Tive a sensação de que, se não pegasse leve, a espadachim iria explodir, então me sentei direito e disse.
— D-De qualquer forma, vamos descansar um pouco agora. Que tal nos encontrarmos no... café do primeiro andar às seis horas?
(N/T: O primeiro andar aqui, se refere ao andar da pousada…)
Asuna assentiu em silêncio e deslizou para fora do sofá, ainda de costas para mim. Ela se levantou, colocou a Garrafa de Cristal de «Kales'Oh» em seu inventário e saiu da sala sem nunca me encarar.
Que botão dela eu havia pressionado?
(Slag: Ah, meu mano. Nem te conto…)
Afundei-me em uma posição sentada.
🗡メ
Cinco segundos depois de ter removido todo o meu equipamento, enviado uma única mensagem instantânea e me deitado na cama perto da janela, adormeci. Quando o despertador que eu havia programado me acordou de forma brusca, a luz do quarto era da cor do pôr do sol. Sentei-me lentamente e abri a cortina para olhar para a praça de teletransporte de «Rovia» a partir do meu ponto de vista no segundo andar.
Em apenas três horas, a praça estava repleta de jogadores. Os membros da linha de frente examinavam os produtos das lojas de NPCs, turistas comiam alimentos das barracas, e casais românticos sentavam-se nos bancos voltados para a água.
Era o quinquagésimo dia desde o início do jogo da morte. Parecia tanto longo quanto curto, mas considerei um bom sinal que as coisas tivessem se acalmado o suficiente para que as pessoas se considerassem um casal — essa era a minha opinião mais magnânima como um frustrado garoto de escola. Enquanto isso, percebi uma fila particularmente longa no cais do teleférico ao sul.
— Ugh... Droga, eu esqueci.
Gemi, ajoelhado na cama.
Eu deveria ter previsto isso. Havia um número limitado de teleféricos, então, se aparecessem muitos jogadores, era inevitável que uma fila se formasse. Eu precisava me acostumar com a ideia de que se deslocar por «Rovia» levaria muito mais tempo do que o habitual.
Pelo menos, fiquei aliviado ao ver que tantas pessoas podiam se amontoar em um espaço limitado e esperar educadamente sem problemas.
Mal tive esse pensamento, quando um grupo de cinco jogadores armados tentou se infiltrar na frente da fila para embarcar em um dos teleféricos maiores que estava acabando de chegar. Naturalmente, o grupo que estava sendo cortado protestou. Mas o líder do grupo, que empunhava uma grande espada, gritava de volta com a mesma raiva.
Não conseguia ouvir de meu distante quarto de hotel no segundo andar, mas podia imaginar o que estava sendo dito.
— Estamos lutando para libertar vocês jogadores normais! Nossas necessidades devem vir em primeiro lugar!
Os turistas, com seus trajes simples, não tiveram escolha a não ser deixá-los passar. O homem e seus parceiros brandiram seus equipamentos metálicos brilhantes em uma exibição de poder e saltaram para o teleférico.
Quando o barco se afastou do cais, murmurei para mim mesmo: — Foi um péssimo movimento, Haf.
O quinteto que havia cortado a fila estava todo vestido de azul. Eram membros da «Brigada dos Cavaleiros do Dragão», uma guilda de linha de frente que havia sido recém-estabelecida no terceiro andar. E o homem com a grande espada na liderança era Hafner, um dos oficiais da guilda.
Eles provavelmente tinham acabado de reabastecer e abrir novas quests na cidade e estavam prontos para começar a conquistar o andar com seriedade. Eu podia entender como os guerreiros em uma missão poderiam estar frustrados esperando na fila atrás de turistas sem um propósito maior.
Mas, se havia algo a se evitar, era a população da linha de frente se comportando como se fosse especial e conquistando o desdém de todos os outros. Nunca se sabia se aqueles que ainda não haviam empunhado espadas poderiam um dia sair da segurança da cidade e chegar à linha de frente por sua própria vontade e habilidade.
Na verdade, se isso nunca acontecesse, não poderíamos vencer o jogo. O grupo da linha de frente tinha pouco mais de cinquenta pessoas no momento e certamente acabaria se atolando eventualmente. Precisávamos do maior número possível de pessoas ajudando a avançar o progresso humano no jogo.
Sufocando um suspiro, olhei para o relógio. Faltavam apenas três minutos para nosso encontro às seis horas.
Saí da cama, coloquei todo o equipamento habitual e saí do quarto. Quando me deparei com Asuna pela primeira vez em três horas, ela estava de volta à sua atitude usual de frieza.
— Desculpe pelo atraso.
Eu disse, sentando-me à frente dela. Não havia outros jogadores no café além de nós — claro que a vista do café não era tão atraente quanto a que estava do lado de fora.
— Eu acabei de chegar.
Ela disse de forma neutra e então deslizou o cardápio em minha direção. Vi que, além de bebidas e doces, havia alguns itens que pareciam peixe.
— Devemos jantar cedo aqui?
— Quero comprar algo nas barracas de comida lá fora.
— Certo. Apenas bebidas, então… ou você prefere simplesmente ir embora?
— Isso está bom para mim.
Parecia haver algo diferente nela, mas não tínhamos trabalhado juntos por tempo suficiente para ter certeza, então deixei isso de lado enquanto me levantava. Era de má educação encontrar alguém em um café no mundo real e sair sem pedir nada, mas os garçons NPCs aqui apenas nos observavam sem reclamar.
Saímos da pousada sem fazer o check-out. A parte inferior do andar acima estava entre rosa e índigo. Dentro de mais trinta minutos, estaria completamente escuro.
Mas, se é que havia algo, a fila do teleférico no outro lado da praça estava ainda maior. Os edifícios de pedra estavam iluminados com lanternas cuja luz refletia na água em uma exibição hipnotizante. Talvez a noite fosse considerada o pico do movimento dos passeios de barco aqui.
— Bem, uh, você pode ver a fila… Ainda quer enfrentar isso? Ou devemos esquecer os teleféricos e nadar por conta própria--
Eu parei assim que senti o olhar frio debaixo do capuz dela.
— Ou não. Acho que deveríamos enfrentar a fila para ir até a área do mercado.
— Mas primeiro quero visitar as barracas de comida.
— Oh, certo.
Fomos até a extremidade leste da praça, onde cinco ou seis barracas elegantes estavam dispostas. Pelo que pude ver, apenas três delas vendiam comida que poderia ser considerada um jantar. Havia um prato de peixe frito e legumes cozidos, uma pizza de frutos do mar com lula e moluscos, e um panini com peixe grelhado e ervas.
— Entendi. Então o prato principal deste andar é peixe.
Eu observei.
— Não gosta de peixe?
Balancei a cabeça apressadamente.
— Não é isso. É mais que eu estava esperando… algumas opções tradicionais. Como peixe cozido ou sashimi.
— Você sabe que não vai encontrar opções assim em uma cidade como essa.
— Ponto válido. Vou ter que esperar pelo décimo andar... Acho que vou ficar com o panini. E você?
— Isso também parece bom para mim.
— Quer esperar no banco enquanto eu os compro?
Asuna me lançou outro olhar para cima sob o capuz dela, então virou-se.
O que está acontecendo aqui? Parece a mesma sensação que quando ela comeu o pão com creme em «Tolbana» no primeiro andar.
Os paninis custavam doze col cada um na barraca. Comprei dois e voltei para o banco. Entreguei um à Asuna, e então a parei quando percebi que ela estava abrindo a janela de troca para me pagar pelo sanduíche.
— Não, é por minha conta.
— Hmmm. Por quê?
— Porque, bem… Ah, porque vou te dever por ter feito o short para banho.
……
Felizmente, ela assentiu e aceitou minha oferta. Ela ainda estava agindo de forma estranha, mas pelo menos não estava com raiva de mim.
Eu estava prestes a me sentar ao lado dela, balançando a cabeça em confusão, quando a mão de alguém surgiu da escuridão atrás de nós e uma voz provocadora soou em meu ouvido.
— Obrigada, Kii-boy. Eu estava com fome.
Não sabia se devia agir naturalmente ("Seu «Stealth» está tão bom quanto sempre"), ou ser honesto e rejeitá-la ("Não! Essa é minha janta!"), então a resposta teve um pouco de cada coluna.
— Seu «Stealth» está tão bom quanto sempre, mas essa é minha janta e não, você não pode pegar nada!
— Hmph. Então você compra um para ela, mas não para mim. Entendo como é.
— O quê…? Eu… Você ouviu o que eu disse, foi um agradecimento a ela por ter feito um item para mim! Não tem nada a ver com favoritismo!
Uma pequena jogadora feminina surgiu da escuridão vestindo um simples manto bege com capuz, muito parecido com o de Asuna. Seus olhos estavam escondidos atrás de seus cachos, mas as três marcas de bigode desenhadas com tinta facial em cada bochecha não deixavam dúvidas sobre quem era.
Argo, a Rato, negociadora de informações, saltou sobre o banco com um sorriso no rosto e se sentou ao lado de Asuna. Ela olhou para a esquerda e levantou o capuz um pouco.
— Boa noite, A-chan. Bom trabalho com o boss do terceiro andar e com o portão do quarto andar.
— B-Boa noite, Argo. Hum… Você gostaria de um pouco disso?
Asuna perguntou, oferecendo seu próprio panini. Argo riu e balançou a mão em negação.
— Não, não, agradeço a oferta. Coma bem.
— Ah, ok…
Asuna parecia não ter certeza se Argo estava com fome ou não. Suspirei e decidi tranquilizá-la.
— Não se preocupe com isso, Asuna. A habilidade dela em provocar é a melhor de Aincrad.
— Provocar…?
Asuna reconheceu algo sobre essa cena, olhando para mim, depois para o panini em suas mãos e, em seguida, para Argo ao seu lado direito.
— Não é nada disso, Argo! Nós não somos, de forma alguma, assim!
— Nyo-ho-ho, entendi, entendi.
Ela riu de maneira esquisita.
Sentei-me no banco à direita de Argo e fechei a mensagem silenciosamente.
— É verdade. Não vá vender rumores engraçados.
— Ah, isso machuca. Você sabe que não é meu estilo vender rumores e fofocas.
— É, claro. De qualquer forma, o fato de você estar aqui deve significar que conseguiu todas as informações que precisava.
— Você acertou. Na verdade, levou apenas três horas desde a sua mensagem para procurar o que você queria, então pensei que isso poderia me render uma refeição grátis além do meu pagamento, mas…
Ela me pegou de jeito. Afinal, eu havia solicitado o serviço com urgência, logo antes de tirar um rápido cochilo.
— C-Certo, certo. O que você quer?
— Ah, Eu adoraria uma boa pizza com bastante queijo...
Ela começou. Antes que a frase terminasse, eu corri até a barraca de pizza de frutos do mar, comprei uma com três vezes mais queijo e voltei correndo para o banco.
— Desculpe pelo transtorno. Isso é apenas um símbolo da minha gratidão.
Apresentei a pizza com um gesto teatral e Argo sorriu para mim.
— Muito bem, senhor.
— Então vamos conversar enquanto comemos... Devore isso antes que esfrie, Asuna.
Eu disse para a espadachim do outro lado de Argo. Nós três fizemos uma oração e começamos a devorar nosso jantar à moda italiana.
Eu nunca tinha comido um verdadeiro panini na vida real, mas entre o pão crocante e mastigável, o peixe branco grelhado aromático e o molho de tomate com ervas, parecia que esta era uma recriação bastante boa. Se ao menos os ingredientes principais fossem um bom pedaço de carne e um molho espesso de teriyaki com maionese…
Tanto Asuna quanto Argo estavam com fome, e cada um de nós devorou metade da refeição antes de finalmente parar para respirar.
Antes que eu pudesse incentivá-la, Argo puxou um pergaminho de um dos muitos bolsos em sua cintura e o estendeu entre os dedos.
— Normalmente eu cobraria uma taxa extra pelo serviço rápido… mas vou cobrar a tarifa normal desta vez como agradecimento pelo monte de queijo que você me comprou. São quinhentos col.
Puxei a moeda de ouro que tinha guardado no bolso do casaco para essa ocasião e a entreguei a Argo. Tocar no pergaminho que ela me deu fez com que ele se desenrolasse automaticamente.
— O que você pediu a ela?
Asuna perguntou, inclinando-se. Mostrei a ela a ilustração no pergaminho: um mapa detalhado de «Rovia». Argo não havia desenhado esse mapa, no entanto. Qualquer um poderia produzir o mesmo simplesmente caminhando pela cidade e copiando os dados do mapa para um item de pergaminho como esse.
A diferença era que o mapa de Argo tinha cerca de vinte marcadores de ponto de exclamação espalhados por toda a cidade. Isso era o que os quinhentos col pagavam.
— Aqueles são… todos os NPCs de quests?
Asuna se perguntou, tão perspicaz como sempre. Eu assenti em silêncio e recebi um olhar exasperado em troca.
— Bem, eu odeio ser dura com a Argo, já que ela fez todo o trabalho… mas você poderia encontrar todas essas coisas simplesmente caminhando pela cidade. E ainda precisaremos visitar esses pontos para começar as quests de qualquer forma.
— Essa também era a minha suposição. E você já não terminou todas essas quests no beta, Kii-boy?
— É isso. — murmurei, com a boca cheia de panini. — Sinto que, quanto mais ando pela cidade, mais minhas memórias antigas vão se apagando... Eu só queria poder ver todos os lugares de uma vez assim.
— Ohhh?
Havia um toque de diversão na voz de Argo. Eu optei por olhar para o mapa da cidade em vez de ceder à provocação.
Como eu suspeitava, o layout da cidade em si era exatamente o mesmo. Toquei em cada ícone por sua vez, lembrando da forma seca e empoeirada que o assentamento costumava ter. Com cada toque, aparecia um resumo rápido da quest escrito por Argo.
Depois de examinar todos eles, apontei para um único marcador no canto noroeste do mapa.
— Esse aqui.
— O que tem ele?
Asuna perguntou, suspeita. Eu sorri para ela.
— Essa quest não estava no beta. Este é o ponto chave desta cidade… não, para conquistar todo o andar.
🗡メ
— Se você conseguir todas as informações sobre essa missão, eu compro de você.
Argo havia oferecido, e com um cheiro persistente de queijo, ela desapareceu de volta na escuridão.
Asuna e eu terminamos as últimas migalhas dos nossos sanduíches e nos levantamos do banco para observar o cais ao sul. A fila parecia um pouco mais curta do que antes, mas ainda era uma espera de pelo menos trinta minutos.
Graças ao poder de um estômago cheio e à conversa com Argo, Asuna havia recuperado seu humor normal. Ela observou.
— Eu não me importo em esperar na fila… mas aquele cais tem um sistema terrível.
— Oh? O que tem de errado?
— Os pequenos barcos de duas pessoas e os grandes barcos de dez pessoas param no mesmo lugar. Está demorando mais porque uma pessoa acaba pegando a grande gôndola, e então os grupos maiores têm que se dividir e pegar várias menores. Eles deveriam pelo menos dividir as pessoas em três filas diferentes.
— Boa observação. Então… deveríamos propor essa ideia?
— Não é bem o meu estilo.
— Não sei. Você tem essa atitude de representante de turma, então aposto que as pessoas vão…
Eu deixei a frase no ar quando senti o olhar gélido de Asuna em meu rosto.
As paisagens noturnas de «Rovia» estavam realmente encantadoras agora, com as lanternas coloridas e as luzes das janelas da cidade brilhando na superfície da água escura. Até as gôndolas cheias de jogadores sorridentes tinham suas próprias lanternas, colocadas na proa e na popa das pequenas e nos telhados salientes das maiores. A visão das gôndolas cruzando os canais era tão bonita que...
— Ah!
Eu estalei os dedos, uma ideia repentina iluminando meu cérebro.
— Q-Que foi?
— Por aqui! Eu explico depois.
Empurrei as costas de Asuna e corri em direção ao cais no extremo norte, na direção oposta ao do cais. Não havia uma área de embarque aqui, então a queda da cerca de pedras empilhadas até a água era bastante grande. Mas isso também significava que as gôndolas estavam flutuando bem baixo.
— Tenho um pressentimento ruim sobre isso.
Asuna murmurou, tentando se afastar. Eu segurei a bainha de sua capa firmemente.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
— Não está bem! Eu não gosto disso!
— Você vai ficar perfeitamente bem.
— Faça isso sozinho se estiver tão ansioso!
Olhei para a esquerda e para a direita. Em poucos segundos, uma das grandes gôndolas para doze pessoas estava se aproximando pela direita. Felizmente, outra gôndola do mesmo tamanho estava se aproximando pela esquerda. Calculei onde as duas passariam, dado que o tráfego parecia se mover pelo lado direito aqui, então movi-nos três metros para a esquerda e cinco metros para trás.
— Vou te dar uma contagem regressiva de cinco segundos.
— Eu-Eu te disse, não quero fazer isso!
— É engraçado, Asuna, eu poderia jurar que você tinha uma agilidade maior que a minha.
— Rgh… você sabe que não é justo trazer isso à tona…
— Isso deve ser fácil para você, Asuna. Já que você tem a habilidade «Sprint» e tudo mais.
— Mas eu acabei de trocar isso… Argh, tá bom!
— E cinco, quatro, três, dois, um…
No zero, começamos a correr. Eu atingi a cerca baixa em movimento e pulei dela com o pé direito. Todo o tráfego nos canais de «Rovia» se movia pelo lado direito, então eu pulei e me estendi para a gôndola que se aproximava pela esquerda. Assim que pousei apenas na ponta dos pés, a gôndola balançou violentamente e os passageiros abaixo gritaram em alarme. Eu gritei um rápido pedido de desculpas e atravessei o telhado para pular novamente.
No ar, eu olhei para trás e vi que Asuna estava me acompanhando. Ela tinha um poder de salto melhor que o meu, então ela deveria ser capaz de fazer qualquer salto que eu fizesse, mas fiquei secretamente aliviado quando pousei na segunda gôndola que vinha da direita.
As pessoas na gôndola devem ter notado o espetáculo de acrobacias de ninja que estava acontecendo acima, pois aplaudiram e assobiaram ao ver Asuna saltando graciosamente pelo céu noturno. Aliviado por não estarmos sendo xingados, eu corri pelo telhado e pulei uma terceira vez.
Mas…
— Ugh!
A margem distante estava mais longe do que eu pensava. Eu remexi os membros no ar, estendendo os braços o máximo que podia, até que finalmente consegui agarrar a borda da parede com as pontas dos dedos.
Enquanto meu corpo batia contra a parede, ouvi um leve passo acima de mim. Quando olhei para cima, vi Asuna de pé, segura e saudável acima de mim, com as mãos na cintura e um olhar desapontado no rosto.
— Se você não tinha certeza de que conseguiria, não deveria ter tentado.
Ela repreendeu. Eu não consegui me incomodar em responder. Eu tinha uma compreensão muito repentina e clara de exatamente por que os passageiros na gôndola estavam aplaudindo.
— Um, Asuna?
— Mmmm? O que foi?
— Você está, hum, um pouco em perigo… angularmente falando.
— O que você quer dizer…?
Asuna parou, olhando para baixo suspeita para mim enquanto eu estava pendurado ao lado dos seus pés, e então ficou tão vermelha que eu consegui ver, mesmo na escuridão. Ela rapidamente colocou as mãos sobre a bainha de sua saia e, então, sorriu por algum motivo e levantou uma de suas botas.
— Melhor subir rápido antes que eu pise em você.
— O-Ok, estou indo!
Escalei a parede rapidamente.
🗡メ
«Rovia» tinha um layout quadrado com canais principais que se cruzavam — tecnicamente, a praça de teletransporte estava no centro da cidade, então não havia um cruzamento real — dividindo a cidade em quatro partes.
Se o norte era o "topo" da cidade, então o canto superior direito era a área de turismo, com um parque, uma praça e um teatro ao ar livre. O canto inferior direito era a área do mercado, cheia de uma variedade de comércios. O canto inferior esquerdo era a área de hospedagem, com pousadas grandes e pequenas. E o quadrante superior esquerdo, onde estávamos agora, era o centro da cidade, onde todos os NPCs moravam.
Naturalmente, cada quarto tinha canais menores que o dividiam, exigindo o uso de um barco para se locomover mais longe. Mas as gôndolas circulares passavam por cada trecho de água, então decidimos chamar um barco de dois lugares.
Desta vez, fornecemos coordenadas ao NPC gondoleiro em vez de um nome, pagamos a taxa por um calculador automático e, cansados, nos sentamos nos dois assentos.
A espadachim de minissaia estava em um humor muito melhor assim que se sentou na proa, e começou a apreciar as vistas da cidade com um brilho nos olhos. Esta era a área mais simples de «Rovia», mas até o setor residencial prático e caseiro tinha seu próprio charme.
Crianças brincavam com barcos de brinquedo à beira da água de seus pátios, enquanto uma mãe e um bebê, parecendo uma mistura entre um pato e uma gaivota, nadavam por ali. Sons e cheiros da noite se espalhavam pelas janelas das cozinhas, e uma luz laranja quente refletia na água.
— Olha, aquela casa está à venda!
Olhei para onde Asuna estava apontando e vi uma pequena casa de dois andares com uma placa de VENDIDO.
— Ei, você está certa. Então, há casas para jogadores aqui.
— Eu me pergunto quanto custa.
Ela ponderou, com os olhos brilhando ainda mais.
Eu ri secamente.
— Eu não olharia o preço se fosse você. Só vai acabar se decepcionando.
— Eu sei que vai ser caro. Mas eu posso ficar com isso em mente como algo que eu posso conseguir se trabalhar duro o suficiente!
— C-Certo, isso é verdade… mas eu não recomendaria comprar nesta cidade. É um lugar divertido e bonito para passeios turísticos, mas realmente viver aqui seria difícil em termos de locomoção.
Eu observei. Asuna parecia aceitar esse conselho surpreendentemente rápido.
— Bom ponto. Eu me pergunto como as pessoas aqui fazem suas compras diárias e coisas assim.
— Talvez eles simplesmente nadem por aí quando não estamos observando.
— Vamos lá, não destrua a ilusão. Mas… se eu decidir comprar uma casa, vou economizar para uma normal com vista para um lago.
Ela anunciou, e então voltou a olhar para a frente.
Eu achava que o dinheiro que você poderia usar para comprar uma casa de jogador seria melhor gasto em acomodações baratas e equipamentos melhores, mas, dada a natureza proativa de Asuna, eu podia certamente vê-la conseguindo uma residência à beira do lago algum dia. Talvez ela até me deixasse ficar no sofá dela…
Não, definitivamente não.
Enquanto isso, a gôndola serpenteava pelos canais estreitos à direita e à esquerda e nos deixou no nosso destino em menos de dez minutos.
Além do pequeno cais, havia um edifício muito grande, mas muito antigo. Além das grandes portas duplas voltadas para a água, parecia apenas uma casa antiga sem características notáveis.
Aproximando-me do edifício com cautela, olhei através de uma janela suja. Dentro, havia um quarto igualmente bagunçado, e no fundo, parecia que um homem idoso estava sentado no chão, virado para o outro lado. Achei que podia ver um ! dourado desbotado acima de sua cabeça.
Esse era o nosso NPC da quest.
— Mmm. Estou surpresa que Argo conseguiu encontrá-lo.
Asuna comentou. Eu concordei.
— Isto é mais do que apenas um bom instinto… Enfim, vamos entrar.
Fui até a porta da frente e bati duas vezes. Depois de uns cinco segundos, uma voz brusca respondeu:
— Não está trancado. Entre se quiser algo.
Esse parece ser um verdadeiro problema, pensei comigo mesmo ao abrir a antiga porta.
🗡メ
Dentro, fomos recebidos por um homem idoso em uma cadeira de balanço que parecia prestes a desmoronar a qualquer momento, com uma garrafa de bebida em uma mão e um cachimbo na outra.
Tecnicamente, tudo o que ele fez foi nos encarar com um olho, então nem foi uma saudação.
Seu cabelo fino e careca e sua barba desgrenhada eram brancos como ossos, mas sua pele estava bem queimada pelo sol, e os músculos dos braços e do peito estavam tensos. Ele parecia um velho marinheiro que havia se gabado de sua força e agora estava aposentado e afundado em álcool.
Asuna e eu trocamos um olhar, no qual eu vi a mensagem "Isso é com você" nos olhos dela. Eu hesitei em tentar dizer as palavras mágicas da quest.
— Um… senhor, posso ajudar com algo?
O velho tomou um gole de sua garrafa e resmungou:
— Não.
Não houve mudança na marca acima de sua cabeça ou no meu log de quests. Se ele não respondeu ao prompt usual, isso significava que este era o tipo de quest que você deveria chegar após ouvir histórias por toda a cidade. Seguir o caminho adequado nos daria a palavra-chave certa para abordá-lo, mas como usamos o senso sobrenatural de Argo para encontrar a quest, pulamos o processo natural e eu não sabia o que deveria dizer para avançar na história.
Talvez devêssemos recuar e coletar informações. Mas, como gastamos nosso tempo e cinquenta col para chegar aqui, seria um desperdício sair de mãos vazias.
Olhei ao redor da grande sala, na esperança de encontrar algum tipo de pista.
Em um lugar devidamente limpo, qualquer coisa fora do normal seria aparente rapidamente, mas esta sala estava longe de ser limpa. Havia tantos itens estranhos que era impossível saber qual poderia ser uma pista para a história. Pendentes de parede com grandes peixes, pilhas de peles de animais, arpões enferrujados, madeiras de todos os tamanhos, potes com conteúdos desconhecidos, remos quebrados no meio… eu não conseguia fazer nenhuma suposição, além de que ele era um ex-marinheiro.
Justo quando eu estava prestes a desistir e fazer isso da maneira certa, Asuna falou.
— Você realmente não deveria deixar coisas assim no chão, senhor.
Ela pegou algo do chão ao lado da perna da cadeira de balanço — um prego meio enferrujado de cerca de dez centímetros. Provavelmente tinha caído da cadeira velha e decrepita.
O homem deu uma olhada no prego na mão dela e resmungou irritado por algum motivo, então inclinou-se para trás para beber mais. Asuna olhou de volta para mim em busca de ajuda, mas eu só pude fazer uma careta.
— Coloque isso na mesa ou algo assim.
— Certo…
Ela acenou com a cabeça e moveu o braço para deixá-lo cair.
Mas eu peguei o prego sem pensar.
— Ah! Q-Que foi?!
— Espere… Isso não é apenas um prego. Não é um prego de arremesso também. É um prego quadrado… Onde eu já vi algo assim antes?
Eu murmurei para mim mesmo, peças de informação se conectando dentro do meu cérebro.
Grandes portas duplas voltadas para a água. Couro e madeira dentro da sala. Uma coleção de itens que eu tinha visto em um museu da vida real anos atrás. Uma quest que não existia na beta.
Esse velho não é um ex-marinheiro.
Encarei-o de frente e respirei fundo.
— Senhor, você pode construir um barco para nós?
CONTINUA NA PARTE 3 DIA 03/08
Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!