Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 2

CONCERTO DE PRETO E BRANCO - TERCEIRO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 8)


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


8

O GRANDE ACAMPAMENTO DOS ELFOS DA FLORESTA NO TOPO DA COLINA não era uma instância gerada apenas para jogadores no meio de uma missão, então era perfeitamente plausível que vários grupos se encontrassem lá ao mesmo tempo. Além disso, também era possível que eles entrassem em uma briga sobre quem teria o direito de terminar a missão primeiro.

Mas, com apenas algumas dezenas de jogadores tão avançados no jogo, as chances de isso acontecer eram pequenas, e, até onde eu sabia, Asuna, eu e a DKB éramos as únicas pessoas seguindo a linha de missões da Guerra dos Elfos no momento. Isso era algum tipo de disputa interna na DKB?

Eu não queria me aproximar mais, mas mesmo nos poucos segundos que observei, os dois grupos estavam visivelmente exaltados. Se fizessem mais barulho, os guerreiros elfos no topo da colina perceberiam e ficariam em alerta. Relutantemente, subi a borda do penhasco, sentindo que era necessário ter uma ideia melhor do que estava acontecendo.

Eu estava na extremidade oeste da colina, um semicírculo projetado para o sul. A dúzia de jogadores estava reunida na extremidade sul. Havia apenas alguns arbustos no melhor dos casos para cobertura na linha reta entre nós, então eu não podia me aproximar diretamente. Minha melhor opção era seguir para a floresta ao redor da colina e contornar para o sudeste, evitando as raízes retorcidas e arbustos pelo caminho.

Graças à minha recente vida na floresta, consegui contornar até meu destino em menos de um minuto sem tropeçar em nenhuma raiz. As árvores enormes na borda da colina eram ideais para se esconder, então abracei o tronco particularmente grosso e ativei minha habilidade de «Stealth» antes de espiar ao redor.

Um pequeno caminho corria de leste a oeste ao pé da colina, e ramificava-se para o norte, subindo em direção ao acampamento. Naquela interseção em T — na verdade, um T de cabeça para baixo do meu ponto de vista — os dois grupos se encaravam. Havia seis no lado leste, enquanto no lado oeste havia mais de dez. Se isso fosse uma briga interna da DKB, isso representaria quase toda a guilda.

Pelo que pude ver, eles ainda não haviam desembainhado suas espadas. Mas alguns dos membros tinham as mãos nas empunhaduras de suas armas, e havia uma raiva palpável no ar. Os gritos e insultos furiosos de antes haviam cessado, mas o clima parecia ainda mais tenso por causa disso.

Um dos jogadores do lado leste da interseção deu um passo à frente. Seu cabelo comprido estava amarrado atrás da cabeça, e uma cimitarra esbelta estava presa à cintura — claramente, era Lind, líder da «Brigada dos Cavaleiros Dragão». Eu só conseguia ver sua silhueta da minha posição, mas parecia que o contorno angular de seu rosto estava ainda mais tenso do que o habitual.

Lind olhou para o grupo oposto e falou baixinho.

— Não adianta continuar discutindo sobre isso. Chegamos aqui primeiro. Como as regras dizem, temos o direito de prosseguir com esta missão antes de vocês.

Parecia uma declaração muito rígida e formal para uma discussão interna. E, como esperado, outro homem saltou do outro grupo, apontando um dedo acusador para Lind.

— Primeiro? Vocês só chegaram aqui uns segundos antes, no máximo!

....!!

Eu quase ofeguei de espanto, mas fechei a boca a tempo.

Aquele cabelo espetado, espada longa nas costas e dialeto agressivo de Kansai. Só poderia ser Kibaou, líder do «Esquadrão de Libertação de Aincrad».

O que significava que a dúzia de jogadores do outro lado de Lind eram da ALS. Mas por que eles estavam aqui?

O próximo berro indignado de Kibaou respondeu parcialmente essa pergunta.

— E o que você quer dizer com regras? Se você as inventou, não temos que seguir! Temos que completar esta missão de assalto, não importa o que seja necessário!

Completar esta missão de assalto.

As palavras eram claras e audíveis. Então a ALS estava na campanha da Guerra dos Elfos também — e do lado dos elfos negros, para variar. Mas durante a batalha do mini boss naquele dia — bem, no dia anterior — os membros da ALS pareciam desinteressados na campanha quando perguntei sobre isso.

Isso deixava duas possibilidades. Ou todos os membros da guilda foram ordenados a ficar quietos sobre isso, ou começaram a campanha na tarde anterior e chegaram ao sexto capítulo em apenas doze horas.

Eu não podia acreditar na última. A missão "Chave de Jade" terminava em uma única batalha, mas "Derrotando as Aranhas", "A Oferta de Flores", "Ordens de Emergência" e "O Soldado Desaparecido" não podiam ser completadas em meio dia sem a presença de alguém que realmente soubesse o que estava fazendo... talvez um ex-beta tester liderando...

E eles tinham.

Sim, a ALS também tinha um membro que se encaixava nesse perfil.

Morte, o homem de touca, que havia trocado golpes comigo minutos antes, um pouco mais abaixo do rio. Ele havia escondido seu rosto e trocado suas armas para se infiltrar em ambas as guildas. Se ele era o guia da DKB, nada dizia que ele não podia fazer o mesmo pela ALS.

Então, Kibaou pediu a ajuda de Morte para passar por todas as missões da campanha até este ponto? Mas ele era firme em sua posição de não se associar com os ex-beta testers. Por que ele ignoraria essa filosofia tão repentinamente?

Confuso, observei os dois líderes se enfrentarem. Agora era a vez de Lind perder a calma.

— Seja em missões ou áreas de caça, quem chega primeiro tem prioridade! Se você vai ser o líder de uma guilda, tem que seguir sua boa consciência, Kibaou!

Com esta declaração altiva e abrangente pelos padrões de Lind, Kibaou mostrou os caninos em um rosnado.

— Consciência? Você vai me falar sobre consciência, Lind? — Ele cruzou os braços grossos e inclinou-se para trás, encarando Lind com olhar ameaçador. — Bem, eu tenho uma questão sobre isso. Desde que chegamos aqui, você tem escondido o fato de que esta missão dos elfos é crucial para derrotar o boss de andar!

O quê—?!

Eu fechei a boca antes que a exclamação surpresa pudesse sair e se espalhar pelo ar virtual da noite.

Certamente, prosseguir na campanha traz suas próprias recompensas, como dinheiro, experiência e loot, mas certamente não era necessário para derrotar o boss. A porta da câmara na torre do labirinto abriria quer a missão estivesse ativa ou não, o boss estaria disponível para lutar, e se derrotado, o caminho para o quarto andar estaria aberto. Pelo menos, foi assim no beta... mas também foi assim nos dois primeiros andares do jogo final. E mesmo que tivesse sido alterado para o terceiro andar, ninguém aqui poderia saber disso com toda a certeza.

Mas Kibaou continuou seu discurso, cheio da raiva justa de alguém absolutamente convencido de seus fatos.

— Você se lembra do que aconteceu há cinco dias. O ataque quase foi dizimado porque não sabíamos que a vaca boss tinha se transformado em três. Essa mesma armadilha foi armada aqui no terceiro andar. Alguma armadilha que vai nos acabar se não tivermos completado a missão dos elfos e obtido os itens que ela fornece. Você sabia que era verdade, e não disse uma palavra sobre isso durante aquela reunião de estratégia! Então, onde está sua consciência agora, hem?

— N...

Não! Eu tinha que me impedir de gritar, junto com Lind.

Pelo menos, nenhuma das missões da campanha que completei no terceiro andar no beta tinha qualquer relação com o boss do andar. Era possível que as recompensas tivessem sido alteradas desde então, mas os únicos que poderiam confirmar isso eram aqueles que completaram todos os dez capítulos disponíveis neste andar, e era impensável que alguém pudesse ter feito tanto em apenas quatro dias. Uma coisa era correr pelas primeiras missões, mas a nona e a décima eram longas e exigiam um dia inteiro para serem completadas.

O que significava que esse item hipotético salva-vidas que Kibaou estava falando provavelmente era uma informação falsa que alguém havia lhe passado maliciosamente. E eu tinha um mau pressentimento sobre quem faria isso...

— Não! Eu não sei do que você está falando! — Lind gritou, me tirando de meus pensamentos. Concentrei-me na cena à minha frente, e mesmo à distância, consegui distinguir as dobras em sua testa enquanto encarava Kibaou. — A DKB tem feito a missão da campanha apenas pela experiência e recompensas! Eu não mencionei isso porque não havia motivo para trazer à tona!

— Hah! E as recompensas são itens que precisamos para derrotar o boss, sem dúvida! — Kibaou retrucou, inclinando-se para frente e encarando Lind furiosamente. — Você só quer dar as ordens para todos os jogadores da linha de frente, isso sim! Bem, eu não vou deixar você me dizer as regras. Nós vamos primeiro, então esperem aqui como bons garotos!

Kibaou virou-se bruscamente para a colina, mas a mão de Lind agarrou seu ombro. Instantaneamente, os membros das guildas atrás de ambos os homens ficaram tensos.

— Espere, não faça isso! Talvez você não esteja ciente disso, mas esses pontos-chave(acampamento) desaparecem quando alguém completa a missão, só para reaparecer em outro lugar aleatoriamente. Se esperarmos aqui, não poderemos completar a missão depois de vocês!

Ao ouvir isso, Kibaou agarrou a camisa de Lind pelo peito.

— Isso é o que quero dizer sobre você não compartilhar detalhes! O que você está dizendo é que, se você fizer a missão primeiro, nós não poderemos fazê-la!

— Como é nosso direito por sermos os primeiros a chegar ao acampamento!

— E eu estou dizendo que não vou seguir suas regras! Se quiser, podemos estabelecer algumas regras que tornem tudo isso bem simples!

— Hmmm, E o que você quer dizer com isso?

...Ah não.

Ambos estavam absolutamente furiosos. Shivata na DKB talvez pudesse intervir antes que as coisas ficassem realmente perigosas, mas não havia um oficial com uma cabeça tão fria no lado da ALS.

Certamente, eu não poderia melhorar a situação tentando interferir agora. Mas que opções estavam disponíveis para desarmar essa situação perigosa? Cerrei os dentes com força.

De repente, as palavras de Lind de momentos atrás se repetiram na minha cabeça.

Esses pontos-chave(acampamento) desaparecem quando alguém completa a missão.

 

🗡メ

 

Do que ouvi depois, Kibaou e Lind ficaram ali segurando um ao outro, nenhum dos dois recuando um centímetro, e todos os dezoito jogadores presentes quase acabaram em uma corrida até a colina para ver quem conseguiria lootear o acampamento dos elfos da floresta primeiro.

Como aliados dos elfos da floresta, a DKB deveria entregar suprimentos da base ao capitão responsável pelo acampamento. Mas a ALS, seguindo a linha de história dos elfos negros, precisava roubar o pergaminho de ordens do comandante, assim como eu.

Isso significava que, se ambas as guildas atacassem ao mesmo tempo, os mais de doze guerreiros elfos da floresta no acampamento seriam NPCs aliados da DKB, mas monstros poderosos (embora não tanto quanto tipos de elite como «Kizmel») para a ALS. Se isso acontecesse, o grupo de seis do Lind testemunharia uma batalha aberta entre a dúzia de membros do Kibaou e os elfos da floresta.

Como a DKB reagiria?

A reação mais sensata seria ignorar os NPCs aliados e entregar os suprimentos ao capitão, concluindo assim a missão. Não estava claro se o acampamento simplesmente desapareceria imediatamente após o término da missão, ou se o capitão sequer poderia aceitar os suprimentos se estivesse em combate, mas pelo menos isso causaria o mínimo de dano possível ao grupo da linha de frente como um todo.

Mas, dependendo do estado mental de Lind e da DKB, o pior também era possível: aliar-se aos elfos da floresta e virar suas espadas contra a ALS.

Se os seis membros da DKB se juntassem aos doze ou mais elfos da floresta, seu poder seria aproximadamente igual ao dos doze guerreiros da ALS. Como eles não iam se desafiar calmamente através do sistema de duelo, jogadores de ambos os lados se tornariam jogadores criminosos laranja. Nesse ponto, não haveria como parar a luta interna. Poderíamos estar à beira de ver o primeiro jogador da linha de frente ser morto desde a batalha contra o boss do primeiro andar... e nas mãos de outro jogador. Se isso acontecesse, os jogadores da linha de frente nunca mais seriam um grupo unificado.

Felizmente, esse resultado terrível para o estado de nosso avanço no jogo foi evitado no último momento.

Assim que Kibaou e Lind começaram a subir a colina, cada um tentando empurrar o outro para trás, o acampamento dos elfos simplesmente desapareceu, como por mágica — embora, de acordo com a história de SAO, provavelmente fosse magia élfica.

Os dois líderes de guilda e seus dezesseis seguidores, todos presos comicamente em poses de corrida, olharam perplexos para o topo da colina.

Eventualmente, um único jogador desceu trotando o caminho iluminado pelo luar. No momento em que viram o rosto do jogador que havia acabado de derrotar ambas as guildas e completado a missão no acampamento, sem dúvida todos presentes tiveram um pensamento em mente:

Não, ele de novo.

 

🗡メ

 

Com dezoito pares de olhos me olhando, eu estava muito mais desconfortável do que parecia. 

Assim que decidi vencê-los na missão, tomei as seguintes ações.

Corri de volta pela floresta do jeito que vim, só que várias vezes mais rápido, depois acelerei ao longo do rio até ficar diretamente abaixo do acampamento. De lá, escalei o penhasco de seis metros. Uma vez dentro do acampamento, contornei as rotinas de guarda predefinidas e me esgueirei até a tenda do capitão. Cuidado para não acordar o líder adormecido nos fundos, peguei o pergaminho de ordens da mesa no centro da tenda. Uma vez ao ar livre novamente, refiz meus passos ao redor dos guardas e desci o penhasco atrás do acampamento.

Parecia simples quando colocado dessa forma, mas se eu não tivesse aprendido os detalhes com alguém durante o teste beta, certamente teria sido avistado no processo. Quando pisei novamente no barro à beira do rio e o registro da missão foi atualizado, quase caí no chão de alívio.

Uma parte de mim queria simplesmente desaparecer e voltar para a base. Mas se eu fosse ajudar a evitar um desastre entre a DKB e a ALS, não poderia simplesmente fazer o acampamento desaparecer e ir embora. Tinha que ficar claro para todos que alguém havia completado a missão — ou quase completado, já que não era oficial até eu relatar ao comandante dos elfos negros.

Então escalei o penhasco novamente, onde todo o acampamento estava desaparecendo em um clarão de luz verde. Qualquer outra pessoa que quisesse terminar a missão "Infiltração" ou entregar suprimentos ao capitão dos elfos da floresta teria que encontrar o acampamento em sua nova localização aleatória, seguindo o novo marcador em seus mapas. Não importava onde aparecesse, haveria uma maneira de entrar pela retaguarda, mas essa localização de escalada no penhasco era a única que eu conhecia bem. Até mesmo Argo, a Rata, teria dificuldade em fornecer mapas detalhados para esta parte de sua série de guias estratégicos.

Cruzei o topo da colina, agora desprovido de sequer uma cerca, e desci o caminho até o pé da colina.

Parando a uma curta distância dos olhares atônitos das duas guildas, abri minha janela para verificar a hora. Levei menos de cinco minutos para roubar o pergaminho com as ordens do comandante, incluindo o tempo de travessia. Isso significava que Lind e Kibaou haviam passado pelo menos esse tempo extra tentando convencer o outro de sua lógica desde que saí da cena. Infelizmente para eles, esse esforço foi em vão.

Janela fechada e mãos nos bolsos, tentei adotar uma atitude casual.

— Desculpe, acabei de terminar esta missão. Vocês terão que procurar o acampamento em outro lugar.

O rosto de Lind ficou pálido, enquanto o de Kibaou apenas ficou mais sombrio. À luz da lua, era difícil dizer qual deles estava mais zangado.

Como eu poderia suspeitar, o primeiro a falar foi Kibaou, com sua raiva cegante contra todos os ex-beta testers.

— Mmm, não é de admirar que eu não tenha visto você por aí. O garotinho 'beater' estava ocupado com a campanha. E assim como esse idiota com o topete, você sabia que precisávamos de uma recompensa da missão para derrotar o boss e não se dignou a contar a ninguém. — Kibaou empurrou um de seus colegas da DKB e olhou furiosamente de mim para Lind. — No final das contas, vocês não dão a mínima para resgatar todas as oito mil pessoas presas neste jogo; isso é tudo secundário para vocês. Vocês estão entre os melhores jogadores apenas para conseguir suas armas e itens e se acharem superiores ao resto de nós, nada mais. Vocês são iguais a todos os outros 'beaters' que sumiram da cidade inicial no primeiro dia. Vocês não têm o direito de fingir que estão herdando a liderança de Diavel!

Ele estava mantendo o volume baixo antes, mas agora que o acampamento havia desaparecido, toda a contenção foi por água abaixo. À medida que a torrente de raiva de Kibaou se espalhava, os membros da ALS às suas costas gritavam encorajamento e chamavam Lind de "freak de cosplay".

Os insultos sobre a vontade de Diavel e o cosplay eram direcionados diretamente a Lind, que tingiu o cabelo de azul em homenagem ao falecido cavaleiro. Mesmo depois que eu me esgueirei e roubei a missão debaixo do nariz deles, a raiva ainda estava focada na DKB.

O rosto de Lind estava visivelmente pálido, mesmo sob o luar. Seus olhos estreitos ardiam de raiva, e seus dentes estavam cerrados com força.

Mas ele não explodiu em resposta. Estendeu a mão para sufocar qualquer grito de resposta do time DKB. Talvez ele se sentisse envergonhado por sua tentativa de forçar o caminho até o acampamento. Em qualquer caso, ele mostrou grande contenção ao se segurar, mas a tensão interna deve ter sido incrivelmente alta.

Ele respirou fundo, segurou o ar por alguns segundos e soltou, então falou, com a voz tensa, mas baixa.

— Kibaou. Vou repetir: nenhum dos membros da DKB, incluindo eu, sabia que as recompensas da missão da campanha seriam cruciais para derrotar o boss. Onde você conseguiu essa informação?

Mas Kibaou, ainda em meio ao seu surto de raiva, ignorou essa pergunta.

— Boa tentativa, mas eu não caio nessa! Você só está pensando que pode monopolizar todas essas informações para si mesmo!

— Acabei de dizer que não é o caso!

Eles começaram uma nova rodada de gritos raivosos. Observei o vaivém, frustrado com esse desdobramento.

Os "cleaners" poderiam ser um termo prático para os jogadores que estavam ativos no avanço do jogo, mas eles não eram uma força unificada.

Havia a DKB, um grupo de elites escolhidas a dedo; a ALS, que focava na expansão de seu grupo; a equipe neutra de Agil; e então eu, o beater excluído, e minha parceira, Asuna. Além disso, havia Morte, que por razões desconhecidas, estava atuando em ambas as guildas para fazê-las avançar na campanha, e a pessoa (ou pessoas) atuando como seu parceiro de duelos.

Ironicamente, lembrei-me da história de «Kizmel» sobre o pano de fundo deste mundo e como os humanos se dividiram em nove nações diferentes.

— Lind, Kibaou.

Eu disse. Eles pararam de bater de frente tempo suficiente para me fuzilarem com os olhos.

Não havia palavras mágicas que curassem as feridas entre esses dois grupos — eles estavam muito distantes para isso. E toda a magia havia sido perdida deste castelo desde a Grande Separação de outrora. Tudo o que os tolos remanescentes da humanidade podiam fazer era usar o que podiam.

— Vocês dois sabem que sou um beater. Então eu sei quais são as recompensas da missão da Guerra dos Elfos e quais são seus efeitos. Mas eu não estou correndo pela campanha pelas recompensas. Estou fazendo isso para subir de nível e fortalecer meu equipamento para poder derrotar o boss do andar. Tenho certeza de que vocês não passaram pelo trabalho da missão da guilda apenas para brigar assim.

Assim que parei de falar, Kibaou apontou um dedo indicador para mim.

— Não fale assim comigo, logo depois de você se infiltrar e roubar esta missão como um ladrão sorrateiro! Como você vai provar que não está atrás das recompensas dos itens?! Mesmo enquanto estamos aqui, sei que no fundo você está morrendo de vontade de continuar com a próxima missão!

— Estou parando a campanha neste ponto.

Eu disse firmemente. Kibaou rosnou uma pergunta sem palavras, e Lind apertou os olhos para mim, franzindo a testa. Tirei a mão do bolso do casaco e apontei com o polegar para trás — subindo a colina suave e bem ao longe, onde a silhueta escura da torre do labirinto se erguia.

— Estou prestes a começar a explorar o labirinto. E enquanto vocês estão presos no atoleiro da campanha, discutindo a cada passo do caminho, eu estarei looteando todos os baús e minérios da torre. Lembre-se, sou um beater — não espere que eu deixe nenhuma das coisas boas. E se vocês não me alcançarem até a câmara do boss, eu reunirei meu próprio grupo de jogadores para derrotá-lo. Sou um beater e um pioneiro, e farei as coisas do meu jeito.

Parei de falar e abaixei a mão, mas ninguém falou. O silêncio que cobria a colina devia ser 20% surpresa, 30% raiva e 50% exasperação. Até eu sentia que estava exagerando com esse discurso, mas era necessário para controlar essa tensão.

Novamente, foi Kibaou quem reagiu primeiro.

— Hmmm, você chegou ao sexto capítulo da missão, e agora vai abandoná-la?

— Isso mesmo.

Confirmei, sentindo uma pontada de culpa profunda no peito.

Era de partir o coração deixar a meio de uma sequência de missões tão longa — havia dez neste andar, e dezenas se contarmos tudo até o final no nono andar. O sistema permitiria que eu voltasse e retomasse após terminar o labirinto, mas esperava que Kibaou exigisse que eu destruísse as ordens do comandante que acabei de roubar para provar que não estava secretamente atrás das recompensas. Uma vez que aquele item da história desaparecesse, eu nunca poderia completar a missão "Infiltração".

Isso não era a única coisa. Desistir da missão da campanha aqui significava deixar «Kizmel» para trás. Sua ajuda em nossas atividades nos últimos dias estava condicionada à nossa assistência à força avançada dos elfos negros em sua luta contra os elfos da floresta. Se abandonássemos essa missão, ela não teria motivo para nos ajudar mais.

Mas era assim que as grandes linhas de missões de campanha funcionavam.

Se uma única missão era um livro, então uma campanha era uma série que abrangia vários volumes. Enquanto estivéssemos no processo de leitura dessa série, estávamos dentro da história. Mas fechar o livro, e o cenário e os personagens ficavam fora de alcance. Os itens e a experiência eram apenas enfeites. O verdadeiro valor da missão de campanha era como ela dava carne e osso ao cenário virtual e transformava-o em uma história...

Enquanto eu abaixava a cabeça, sentindo-me sombrio, um grito agudo perfurou meus ouvidos.

— Isso é impossível!

Olhei para cima e vi um homem no meio da multidão da ALS, agitando o punho enquanto gritava.

Seu torso magro estava vestido com a túnica verde-musgo da guilda e couro cravejado escuro, e ele usava uma máscara de couro da mesma cor, que cobria seu rosto, exceto pelos olhos e boca. Ele estava obscurecido pelos outros membros, então não pude ver sua arma.

O grito do homem era estranhamente familiar.

— Ele está mentindo! Você não pode chegar à câmara do boss sozinho! Ele está fingindo ir ao labirinto para poder terminar a campanha pelas nossas costas!

Os outros membros da ALS, e alguns da DKB, começaram a se agitar inquietos. Pelo que pude perceber de suas vozes, a maioria estava cética em relação à minha declaração.

O homem magro gritou novamente.

— Não deixem esse beater mentir para vocês! Ele é o motivo pelo qual Diavel morreu! Ignorem ele e foquem na campanha...

— Cale a boca, Joe.

Resmungou Kibaou, e o homem mascarado chamado Joe abaixou o braço com relutância.

Essa abertura deu a Lind uma chance de falar.

— Estou bem ciente de suas habilidades, Kirito, mas mesmo você não pode conquistar o labirinto sozinho. Não estou totalmente de acordo com a ALS, mas acho difícil acreditar que você desistiu da campanha. Como ex-beta tester, você certamente entende o benefício de completar uma série de missões extensas. Além disso — seus olhos afiados vasculharam a área — onde está sua parceira? E se ela pegou o item da história e fugiu para completar a missão enquanto você nos ocupa aqui?

Isso estava completamente fora de questão, mas era difícil de negar. Minha parceira — tecnicamente membro temporário do grupo — estava de volta à base dos elfos negros, dormindo na tenda ao lado de «Kizmel». Não havia como trazê-la aqui para provar minha inocência.

Não tive escolha a não ser ficar em silêncio enquanto ambas as guildas lançavam acusações em minha direção. À medida que o volume aumentava cada vez mais, fui atingido por um leve déjà vu. Era o mesmo tipo de condenação pública em massa que cercou Nezha dos Legend Braves após admitir sua fraude de upgrade logo após a batalha do boss do segundo andar.

Naquela época, os gritos acabaram exigindo sua vida como pagamento. Se os outros Braves não tivessem se ajoelhado para se desculpar com ele, alguém poderia realmente ter sacado sua espada contra Nezha.

Agora que penso nisso, um dos motivos pelos quais aquela cena terrível e tensa aconteceu foi o homem misterioso com o poncho preto que ensinou os Braves sobre o truque para enganar os outros pelo sistema de upgrade. Sua presença parecia estranhamente similar à de Morte neste caso.

Era possível que fossem a mesma pessoa?

Se fosse o caso, as motivações de Morte eram definitivamente malignas. Ele convenceu ambas as guildas a participarem da missão dos elfos em lados opostos e as fez colidir naquela colina. E isso significava que ele estava escondido à beira do rio esperando para impedir que alguém — no caso, eu — completasse a missão e fizesse o acampamento desaparecer.

Mas...

O que ele possivelmente ganharia ao colocar DKB e ALS um contra o outro?

Embora não fôssemos um grupo unificado, os jogadores da linha de frente haviam derrotado com sucesso os primeiros e segundos andares e estavam prestes a alcançar o terceiro labirinto. Enfraquecer o grupo com lutas internas apenas atrasaria nossa capacidade de vencer este jogo e escapar. Isso teria um efeito muito mais amplo do que apenas me matar.

Será que Morte… não queria escapar desta prisão digital?

Alguém realmente poderia pensar assim?

— Diga alguma coisa! — Veio o grito agudo novamente. Levantei a cabeça. O homem que Kibaou chamou de Joe estava gritando, seus olhos brilhando através dos buracos na máscara. — Onde ela está? Aposto que ela está avançando, terminando todas as missões antes de qualquer um! E se não, traga-a aqui para provar!

Não fui eu quem respondeu a esse desafio, nem Kibaou, nem Lind.

Uma voz, quieta mas determinada, ecoou no ar noturno da floresta do fundo do grupo.

 

— Se é de mim que você está atrás, estou bem aqui.

 

Mais tarde — muito, muito mais tarde — Asuna me disse: — Se alguém tivesse sacado a espada, eu poderia ter ficado laranja. — Com um sorriso no rosto.

Felizmente, não choveu sangue, mas houve uma tensão fresca e diferente que dominou a cena. Ambas as guildas ficaram bastante chocadas, é claro. Mas isso não era nada comparado a mim. Por um instante, pensei que tinha que estar imaginando aquela voz.

Fiquei pasmo no caminho, no meio da colina, olhando para a parede de jogadores à frente.

Eventualmente, os membros da ALS moveram-se para a direita, e os membros da DKB moveram-se para a esquerda, como se empurrados por alguma força invisível. O caminho aberto dividia-se leste e oeste ao pé da colina, e havia uma floresta densa além disso.

Bem em frente à encruzilhada, havia uma árvore particularmente larga e antiga que superava as outras.

De trás dessa árvore, cujo tronco eu tinha acabado de me esconder enquanto espionava o grupo apenas alguns minutos atrás, uma única figura emergiu.

Uma capa vermelha com um toque de cinza. Uma túnica e saia de couro carmesim escuro. E em sua cintura, um florete prateado que brilhava e cintilava, mesmo na luz tênue da lua.

Se ela estava se escondendo atrás da mesma árvore, então ela não poderia ter estado lá o tempo todo, mas apenas durante os dez minutos que eu me esgueirei para o acampamento, eu especulei, sem muito benefício ou propósito.

Lind e Kibaou se juntaram aos outros ao recuar. Com o caminho completamente livre, a intrusa avançou calmamente. Sob seu capuz ondulante, os olhos castanhos claros estavam firmes e resolutos. Não havia como ler as emoções dentro deles.

Asuna a esgrimista, única mulher da linha de frente e minha parceira atual, parou ao meu lado direito e girou teatralmente, então falou à multidão, com a voz nítida e clara.

— Como parceira dele, eu também estarei indo para o labirinto. Uma vez lá, estaremos procurando a câmara do boss. Pelo que me lembro, quem encontrar primeiro será o líder do raid.

A isso, tanto Lind quanto Kibaou ficaram pálidos, e os outros dezesseis se agitaram e murmuraram. De certa forma, sua declaração foi ainda mais grandiosa que a minha, mas ninguém se levantou com acusações desta vez, em parte por causa da surpresa de sua entrada repentina, e em parte por causa da presença absoluta daquele reluzente «Chivalric Rapier» em seu cinto. A espada do cavaleiro, muito melhor do que minha «Anneal Blade» +8, liberava uma pressão fantasmagórica na luz azulada da lua.

Isso me lembrou que eu estava planejando informar ao grupo que as bases dos elfos eram capazes de forjar armas tão boas durante a reunião quatro dias atrás, mas não tive chance após a exigência de Lind de que nos uníssemos às guildas separadamente. Claro, se eu tivesse feito isso, todas as forças das guildas teriam se lançado imediatamente na missão da campanha, e essa cena exata poderia ter ocorrido da mesma maneira, só que com o dobro de pessoas envolvidas.

Assim que comecei a me distrair planejando estudar mais o ferreiro estranho e antipático antes de revelar minhas descobertas ao grupo, isso aconteceu.

— Eu... eu sei a verdade! Nos primeiros e segundos andares, eles não se preocuparam em ajudar a mapear a torre; simplesmente abriram todos os baús que encontraram! Não há como alguém sozinho, muito menos dois, fazer diferença para levá-los à sala do chefe!

Novamente, o grito pertencia a Joe da ALS. Agora que o grupo havia se movido para a direita, eu podia ver toda a sua forma. Pendurado em sua cintura magra estava um punhal acentuadamente curvado. Eu o reconheci como um «Numb Dagger», uma queda rara dos minotauros do labirinto do segundo andar que tinha uma chance ocasional de atordoar ao atingir um inimigo.

Agora que eu o conhecia como usuário de punhal, a memória voltou para mim. Joe foi quem afirmou que a fraude de upgrade de Nezha causou a morte de alguém... assim como quem me acusou de ser um ex-beta tester no primeiro andar. Infelizmente, não pude guardar seu rosto na memória por causa da máscara, mas com base em sua hostilidade aberta, esse era um nome que eu precisava saber. Senti-me um pouco envergonhado por ter demorado tanto.

Meu pior hábito e fraqueza era minha tendência de não olhar para os rostos das pessoas ou me preocupar em lembrar seus nomes. Um dia isso iria me colocar em perigo. Eu me concentrei no magro e baixo Joe, gravando sua imagem na minha mente.

Quando tive certeza de que o lembraria da próxima vez que o visse, finalmente abri a boca para falar pela primeira vez em dois minutos.

— Se você acha que não podemos chegar à câmara do boss sozinhos, Joe, então por que não nos deixa ir? Estamos indo para o labirinto, como anunciamos.

— Eu vou deixar vocês irem! Vamos, Kiba, vamos parar de perder tempo e seguir para o próximo—

O grito irritante foi interrompido por um olhar severo de seu líder de guilda.

— Não me faça repetir, Joe. Cala a boca. — Rosnou Kibaou, então se virou para mim e Asuna. Ele coçou seu cabelo espetado e resmungou. — Eu simplesmente não sei mais o que está acontecendo. Vocês realmente acham que podem lidar com o boss sem as recompensas da missão da campanha? Se houver alguma chance de que precisemos delas para enfrentar o boss, ainda não é tarde demais para esperar e descobrir.

— Você tem um ponto. Concordei e olhei avaliadoramente para cada líder. — Mas se testar as recompensas for realmente o seu objetivo, então ou a DKB ou a ALS devem abandonar a missão. Se tentarem completar as facções dos elfos negros e dos elfos da floresta ao mesmo tempo, vocês irão se chocar novamente, como esta noite. Se puderem discutir a questão e determinar qual dos dois irá desistir, estou disposto a esperar até termos feito nossa lição de casa.

Mais uma vez, os dois líderes de guilda e seus companheiros ficaram pálidos. Joe estava pronto para soltar outra acusação, mas o usuário de espadão ao seu lado puxou seu braço para calá-lo.

Na verdade, eu queria anunciar que um homem havia convencido ambas as guildas a começarem a campanha, mas, infelizmente, não tinha provas de que o espadachim Morte que acabara de se juntar a DKB era a mesma pessoa que o guerreiro com machado que vi entre o grupo de Kibaou na caverna. Se eu fizesse acusações com base em evidências incertas, apenas complicaria a situação.

Observei os dois líderes de perto, escondendo minha oração desesperada por trás de uma expressão cuidadosamente azeda. Se o objetivo de Morte era colocar as guildas uma contra a outra, então eu precisava impedir que o grupo de cleaners se separasse. Não era por algum grande desejo de justiça — eu apenas sabia que Morte era meu inimigo jurado. Isso era uma continuação de nosso duelo, se desenrolando em um campo de batalha muito diferente.

Kibaou e Lind compartilharam um olhar por cerca de dois segundos, depois bufaram simultaneamente. O líder da ALS olhou para o lado irritado, e o chefe da DKB se virou para mim e balançou a cabeça.

— Receio que isso seja impossível, Kirito. Talvez se estivéssemos apenas começando, mas ambos chegamos ao sexto capítulo da linha de missões. Perderíamos muito se parássemos agora.

Resisti ao impulso de baixar os ombros em decepção e assenti com o mesmo olhar estoico no rosto. 

— Entendo. Então, enquanto vocês estão se enfrentando, estaremos correndo pelo labirinto.

— É uma pena, mas tenho que assumir que você está blefando. Os labirintos do jogo não são tão fáceis que uma dupla consiga chegar ao boss — mesmo que sejam vocês dois. Percebo que este não é o melhor momento para perguntar, mas vocês já consideraram desistir de sua teimosa recusa? Talvez seja a hora de parar de insistir em jogar solo e se juntar a uma guilda. Como afirmei outro dia, porém, vocês não podem se juntar à mesma guilda, no interesse do equilíbrio.

Você vai falar sobre isso agora? Sério?

Fiquei pálido — a ideia de guildas separadas era exatamente a frase mágica que irritaria Asuna. Como temia, no momento em que ele disse isso, a espadachim silenciosa deu um passo ameaçador à frente. Mas o que ela disse me surpreendeu.

— Não somos apenas nós dois.

Antes que eu pudesse me perguntar, o espaço à minha esquerda, tingido pela luz pálida da lua, se abriu silenciosamente.

Eu já tinha visto esse fenômeno, de o espaço se revirar, quatro noites antes na floresta fora de «Zumfut». Bem, tecnicamente, só ouvi o farfalhar da capa atrás de mim, mas era claramente a mesma habilidade em ação.

Apenas uma pessoa poderia se esconder com sucesso à luz da lua cheia, no meio de um campo vazio, com os olhos atentos de quase vinte jogadores, por vários minutos, sem ser detectada.

A capa com o encantamento de invisibilidade se abriu para os lados, e uma cabeça elegante de cabelo roxo pálido como seda fina captou a luz da lua. Em seguida, veio uma couraça elegante de metal preto com incrustações roxas. Em sua mão esquerda e em seu quadril esquerdo estavam um escudo em forma de pipa e uma espada longa, ambos com o brilho rico do mithril. A pele nua de seus braços e pernas parecia de um azul marinho profundo na escuridão.

Quando ela ergueu a cabeça triunfantemente, sua franja lateral farfalhou levemente, revelando uma beleza impressionante e orelhas longas e estreitas. Seus olhos ônix encararam o grupo sem palavras, e o terceiro membro de nosso grupo falou com uma voz afiada.

— Eu sou «Kizmel», uma cavaleira real da Brigada dos Cavaleiros da Pagoda a serviço do reino de Lyusula!

Ela estendeu o braço direito da capa na direção de mim e Asuna.

— Eu prometi meu apoio aos guerreiros humanos Kirito e Asuna enquanto eles avançam para o Pilar dos Céus! Mesmo os guardiões mais robustos dentro da torre serão tão impotentes quanto o orvalho da manhã diante da minha lâmina!

Se eles estavam na sexta missão da campanha, tanto a DKB quanto a ALS devem ter reconhecido o nome que Kizmel mencionou como a nação sob o domínio da rainha dos elfos negros. O "Pilar dos Céus" era um termo descritivo o suficiente para ser óbvio para a torre do labirinto.

O que eu não conseguia entender era exatamente por que cada membro da guilda presente ficou atônito — se era a beleza de «Kizmel», o fato de um NPC saber nossos nomes, ou o poder avassalador do monstro de elite de nível 16.

Provavelmente todos os itens acima, decidi. Lind cambaleou para trás um ou dois passos, com o rosto pálido como gelo.

— Você... tem certeza de que quer ficar aí, Kirito?

— Hã? Por que não ficaria?

— O cursor dessa elfa negra está preto como breu... Ela deve ser de um nível mais alto do que até o mob de elite da primeira missão...

Agora eu entendi. Para mim e Asuna e os membros da ALS do lado da campanha dos elfos negros, o cursor de «Kizmel» tinha o tom amarelo que significava um NPC. Mas para Lind e a DKB, seria o vermelho de um monstro inimigo. Dependendo da diferença de nível entre o jogador e o alvo, um cursor vermelho mudaria de tonalidades desde o rosa claro até o carmesim escuro. Agora que a cavaleira de elite havia subido de nível durante nosso tempo juntos, ela deveria parecer quase preta para o nível 15 de Lind.

Kibaou olhou de um lado para o outro entre o recuado Lind e «Kizmel», com a capa ondulando na brisa noturna. Ele deu alguns passos para trás e sussurrou para seu rival.

— Ei! É verdade que o cursor dela está preto?

— Sim... Duvido que pudéssemos derrotá-la como um grupo inteiro.

— Isso é loucura... Como eles conseguiram que uma fera dessas trabalhasse com eles?

Ele gemeu. «Kizmel» deve ter ouvido, porque ela se virou para mim e sussurrou. 

— Sua língua humana é ainda mais complexa do que eu imaginava.

Provavelmente era um comentário sobre o dialeto Kansai de Kibaou. Seja qual for o motor de linguagem que a IA de «Kizmel» usava, deve funcionar apenas com o japonês padrão, então metade das palavras de Kibaou tinham que ser indecifráveis para ela.

Dei uma risadinha, então percebi algo.

O grupo estava jogando termos técnicos sobre o jogo: missões, campanhas, itens de história, e assim por diante. Todos esses termos apontavam para a verdade da questão — que este era um mundo virtual existente apenas dentro de um servidor no mundo real. Sugeriam que o castelo flutuante Aincrad não era um pedaço do mundo à deriva no céu pela Grande Separação, mas apenas o cenário deste jogo VRMMO chamado Sword Art Online.

Claro, «Kizmel» não sabia nada disso. Ela nasceu e foi criada neste mundo como uma elfa negra e lutou para se tornar uma cavaleira. Quem sabia como ela interpretava as palavras dos jogadores do jogo? Poderíamos ter certeza de que sua interpretação não causava nenhum dano à IA que a controlava?

Lind e Kibaou desceram a colina para se reunir com seus parceiros, se juntando para uma discussão profunda.

Agora era a hora de dizer a «Kizmel» o que eu não tinha conseguido dizer — supondo que eu realmente a considerasse não apenas uma assistente NPC, mas uma parceira... uma amiga.

— «Kizmel». — Sussurrei. Deve ter havido algo revelador na minha voz, pois a cavaleira negra e a espadachim se viraram para me olhar. — Ouça... Nem Asuna nem eu nascemos neste castelo. Fomos trazidos aqui de um lugar distante e estamos lutando para voltar para casa, para nosso mundo.

Asuna engasgou. Estendi a mão para tocar levemente a mão de «Kizmel», encarando-a diretamente. A cavaleira elfa me encarou de volta, ligeiramente intrigada. Não havia como saber que tipo de processamento de informações estava acontecendo por trás daqueles olhos negros como ônix. Talvez eu não devesse ter dito isso. Talvez o GM apareça do nada, a leve embora e a reinicialize.

Após uma eternidade de segundos silenciosos, os lábios lustrosos de «Kizmel» se abriram.

— Claro que sei disso.

— Hã...?

— Escolhi não perguntar sobre isso até agora. É o último grande charme que a humanidade tem, não é? Invocar guerreiros de uma terra estrangeira e fazê-los lutar para unificar todos os Pilares dos Céus como um só... Nós, elfos negros, somos muito parecidos — lutamos para proteger todas as chaves secretas dos elfos da floresta e preservar o selo do Santuário...

— Hum... Eu... acho que sim...?

A descrição de «Kizmel» era uma interpretação simples do incidente de SAO em termos que faziam sentido para o cenário do jogo, mas não via razão para derrubar sua compreensão para torná-la mais clara para ela. Em vez disso, concordei com sua explicação, e ela sorriu.

— Temos encantamentos de teletransporte que nos permitem viajar entre os andares, então não temos uso para os Pilares dos Céus que vocês humanos estão tão fixados. No entanto, se desejarem, eu os ajudarei em sua busca. Mas apenas por um preço. — Seu sorriso cresceu mais, e ela olhou de um lado para o outro para nós dois. — Contem-me sobre a terra onde vocês nasceram um dia. Como eram suas famílias e como foram criados.

— Sim, claro. Eu prometo.

Eu disse, atingido por um pensamento repentino.

Qual era o ponto de enfatizar que Aincrad era apenas um mundo virtual e um jogo? Para «Kizmel», e para Asuna e eu, este mundo era a única realidade. A gíria do jogo "missão" era apenas um termo da língua humana para dever. O que havia de errado com isso?

— E também vamos te ensinar tudo sobre nossa língua humana. Se formos lutar no labirinto — é assim que chamamos o Pilar dos Céus — você vai precisar conhecer nossos termos.

— Eu gostaria muito disso.

Respondeu «Kizmel», e pude sentir Asuna sorrindo.

— Desculpem a demora. Tomamos uma decisão. 

Anunciou Lind, e nós três olhamos de volta para a colina. O usuário de cimitarra claramente não queria se aproximar mais de «Kizmel», mas superou sua hesitação para subir alguns degraus na encosta.

— Para ir direto ao ponto... A «Brigada dos Cavaleiros Dragão» e o «Esquadrão de Libertação de Aincrad» decidiram abandonar a missão da campanha.

O quê?

Eu estava levemente — não, significativamente — surpreso, mas me certifiquei de não demonstrar isso no meu rosto.

— No entanto, ainda é necessário investigar se os benefícios da campanha podem ser cruciais para derrotar o boss do andar. Gostaríamos que seu grupo assumisse essa responsabilidade.

O quê?

Novamente, mantive meu rosto inexpressivo. Em resposta, perguntei.

— Por mim, tudo bem. Mas o que vocês vão fazer agora?

Lind parecia desconfortável, e Kibaou preencheu o silêncio constrangedor com um brado irritado e resignado.

— Isso é óbvio! Vamos mapear o labirinto! Se deixássemos isso para vocês e alguém morresse em um acidente, eu não dormiria bem à noite!

— Entendo.

Eu disse, finalmente quebrando minha expressão estoica com um sorriso irônico. Asuna suspirou e murmurou.

— Essa é uma maneira de dizer isso.

Mas provavelmente era a melhor escolha. O misterioso Morte não apareceu, mas ele provavelmente ainda estava registrado na DKB enquanto mantinha conexões com a ALS. Se ambas as guildas continuassem com a campanha, apenas dariam mais oportunidades para Morte fomentar a rivalidade entre elas. Eu tinha que conseguir provas do plano de Morte para expô-lo publicamente e forçá-lo a dizer a verdade.

Falando de personagens antagonistas, procurei Joe, imaginando como ele estava lidando com essa decisão. Eu o vi na borda do grupo da ALS, de costas e mãos cruzadas atrás da cabeça, em uma pose óbvia de amuo. Mais uma vez, não pude deixar de me impressionar com a liderança de Kibaou por conseguir lidar com alguém como ele na guilda.

Em vez de dizer isso em voz alta, respirei fundo e me virei para Lind.

— Tudo bem. Hoje é dia dezenove, e estávamos planejando enfrentar o boss no dia vinte e um. Vamos tentar terminar a campanha até a noite do dia vinte e reportar os resultados. Vocês terão que confiar nas nossas informações, é claro.

Agora era a vez de Lind dar um sorriso desconfortável e rígido.

— Não vou discutir sobre isso agora. Kirito, mais cedo você disse que faria o necessário como um pioneiro. Dói-me admitir, mas... você me lembrou de Diavel. — Ele mordeu os lábios várias vezes antes de finalmente continuar. — Na primeira reunião de estratégia em «Tolbana», no primeiro andar, Diavel disse que precisávamos derrotar o boss e chegar ao segundo andar para mostrar a todos que o jogo poderia ser vencido. Que era nosso dever como os melhores jogadores. Eu... pensei que estava cumprindo a vontade dele. Criar a guilda que ele teria começado e elevá-la ao melhor... Esse era meu dever...

Os outros membros da DKB, como Hafner e Shivata, e até mesmo a ALS, ouviram em silêncio a rara confissão de Lind sobre seus sentimentos mais profundos. Quando ele levantou a cabeça novamente, havia uma nova luz de determinação em seus olhos enquanto ele me encarava. A pergunta que veio a seguir me pegou de surpresa.

— Acho que este é um bom momento para perguntar. Você foi quem ouviu as últimas palavras de Diavel. O que ele disse... no final?

Eu não consegui responder imediatamente.

Não era porque eu tinha esquecido, é claro. Mas era uma mensagem tão curta e óbvia que eu não sabia se continha o que Lind esperava ouvir.

Obviamente, eu não podia inventar algo ou recusar a contar para ele. Fechei os olhos por um momento e invoquei uma imagem mental do rosto do autodenominado cavaleiro antes de responder.

— Você tem que continuar daqui. Mate o boss... Foi isso que Diavel disse.

O rosto de Lind imediatamente se contraiu, e ele abaixou a cabeça novamente.

Eventualmente, sua voz trêmula viajou pela brisa noturna até meus ouvidos.

— Nós vamos. Neste andar... e no próximo, e no seguinte. Foi por isso que os Cavaleiros Dragão foram formados.

Ele se virou para seus cinco camaradas, ainda com a cabeça baixa, e estendeu o punho cerrado. Hafner, o sub líder do grupo, juntou-se a ele, depois Shivata, o espadachim, Naga com seu mangual, e mais dois cujos nomes eu ainda não conhecia, todos estendendo os punhos em uma saudação.

Quando Lind se virou novamente, com a postura devidamente ereta, seu rosto exibia aquela expressão familiar de elite e altiva. Ele olhou para mim, depois para Kibaou, e anunciou rigidamente: 

— A DKB começará a explorar o labirinto pela manhã. Nos encontraremos no local de reunião em «Zumfut» no dia vinte, às dezessete horas. Boa noite.

Até Kibaou assistiu sem seus comentários sarcásticos habituais enquanto os seis Cavaleiros Dragão marchavam sobre a grama para o leste. Finalmente, ele convocou todo o seu desprezo e cuspiu.

— Keh! Garoto estúpido, sempre nos olhando de cima como se fosse tão superior! Como se eu não tivesse uma boa dose da vontade de Diavel também! Vamos, vamos! Não vamos ficar parados e deixá-los nos ultrapassar. Vamos encontrar aquela maldita câmara do boss!

Os outros membros da ALS rugiram em aprovação, e a dúzia seguiu para o oeste. Aparentemente, eles já tinham estabelecido uma base na próxima cidade.

Kibaou, andando na retaguarda de seu grupo, avançou cerca de cinco metros pela encosta da colina antes de parar e se virar na nossa direção.

— Ei, garoto… — Ele parou brevemente e fez uma cara como se estivesse bebendo uma poção de antídoto. — Kirito…..san…

Meus olhos se arregalaram, e Asuna fez um som que parecia algo como — Frb! — Felizmente, Kibaou não parecia estar prestando atenção às nossas reações. Ele coçou seu cabelo de cacto.

— Não vou te agradecer, porque você roubou a missão debaixo do meu nariz. Mas... estou começando a sentir que não é a pior coisa do mundo ter um cara como você — só um! — no grupo. É só isso.

Ele se virou para alcançar seu grupo, e eu consegui dizer uma frase final.

— Não precisa me chamar de senhor na próxima vez.

Com um aceno de mão em resposta, o líder do «Esquadrão de Libertação de Aincrad» desceu pela encosta da colina e desapareceu. Uma vez que o som de seus passos morreu e não havia mais cursores coloridos à vista, Asuna soltou um suspiro profundo e longo.

Olhei para ela e ela olhou para mim. Percebi que ainda não tinha dito nada a ela sobre o fato de que eu saí para completar a missão sozinho enquanto ela dormia. Ela não parecia estar brava, mas também poderia ser sua raiva normal em modo de próximo nível, então eu sabia que tinha que abordar o tópico com cuidado.

— Umm... Tenho certeza de que você tem muitas coisas para dizer...

— Claro.

— C-Certo.

— Mas estou disposta a esperar até voltarmos para a base.

— C-Certo.

Com um suspiro secreto de alívio, me virei para «Kizmel» desta vez. A cavaleira elfa negra estava olhando na direção da ALS em silêncio, então notou meu olhar e sorriu.

— Suas brigadas de cavaleiros humanos não são tão ruins, afinal, mas estão longe dos meus Cavaleiros da Árvore de Pagode.

— N-Naturalmente. Nós apenas os chamamos de guildas.

— Vou me lembrar disso. Mas, Kirito... Eu não aprovo essa imprudência. Se eu não tivesse acordado e percebido que você estava desaparecido, não teríamos conseguido chegar aqui a tempo.

— D-Desculpe. E... obrigado.

Então foi «Kizmel» quem percebeu primeiro, não Asuna. Minha parceira deve ter sentido o que eu estava pensando, porque ela fez um beicinho e disse.

— Foi minha ideia perseguir você, só para você saber. Eu imaginei que você estava planejando outro de seus esquemas insanos. E eu estava certa... Logo depois de você me dizer para não antagonizar as guildas também.

— D-Desculpe. E obrigado.

Eu me curvei profundamente para elas e tirei uma folha de pergaminho do bolso do meu casaco — as ordens do comandante que eu havia roubado do acampamento dos elfos da floresta.

— Bem, vamos deixar o labirinto para eles e entregar este aqui para o nosso querido comandante.

 

CONTINUA NA PARTE 9 DIA 24/07


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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