Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 2

CONCERTO DE PRETO E BRANCO - TERCEIRO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 5)


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


5

— NÓS ESTAMOS BEM CIENTES DE QUE NOSSO PEDIDO É IRRACIONAL.

Entoou o homem empunhando uma cimitarra, seu longo cabelo azul preso em um rabo de cavalo — Lind, agora o primeiro líder da guilda oficial DKB «Brigada dos Cavaleiros Dragões».

— Mas preciso que você entenda isso. Agora que os jogadores da linha da frente do jogo foram divididos em dois grupos, é imperativo que nossas duas guildas mantenham-se eternamente em bons termos, trabalhando juntas na busca por derrotar o jogo. 

Comparado ao falecido cavaleiro Diavel, que lançou as bases da DKB, a expressão e o discurso de Lind eram rígidos e desajeitados, mas havia uma certa solenidade nele, condizente com um homem que liderou seu grande grupo por dez dias inteiros.

O homem de cabelos espetados, Kibaou, líder da ALS «Esquadrão de Libertação de Aincrad», a outra guilda oficial, também estava no palco. Mas, ao contrário de Lind, ele estava calado, sentado com os braços e pernas cruzados em uma cadeira. Mesmo após o discurso de Lind, ele permaneceu sentado, com a boca torcida, mas firmemente fechada.

As palavras de Lind não eram dirigidas a Kibaou. O olhar afiado do guerreiro da cimitarra não estava voltado para a DKB ou a ALS, mas para o verdadeiro pária dos párias restantes, o único que publicamente admitiu sua participação no teste beta.

Eu.

 

🗡メ

 

Cerca de cinco horas e meia antes, nossa energia e motivação recarregadas após a soneca em nosso quarto de alto luxo (em mais de um sentido), Asuna e eu descemos as longas escadas — sem corrermos desta vez —, reabastecemos de comida e poções, e começamos todas as missões individuais disponíveis em «Zumfut» antes de sair da cidade. Não para retornar ao acampamento dos elfos negros, mas para nos dedicar ao trabalho de ganhar experiência.

Ganhar experiência em um RPG era praticamente um trabalho, e cada jogador tinha seu próprio método. A maioria podia ser categorizada como prioridade em missões ou em caçadas. Os primeiros corriam pelo mapa, completando e entregando missões para ganhar experiência bônus. Os últimos encontravam pontos de acampamento com as melhores taxas de surgimento de monstros, matando-os repetidamente para ganhar pontos.

Se fosse para me categorizar, eu era do tipo que priorizava caçadas, mas comecei a mudar meu modo de pensar após a batalha do boss do segundo andar. No beta, a batalha terminava com o «Coronel Nato» e o «General Baran», mas o advento do «King Asterios» e seu terrível sopro de relâmpago quase arruinou nosso grupo de ataque. Se Argo, a Rato, não tivesse completado todas as missões locais e percebido a possibilidade de um novo boss ter sido adicionado, é provável que Lind, Kibaou, Asuna e eu tivéssemos morrido. 

Dinheiro, itens e experiência não eram as únicas coisas a serem ganhas em uma missão.

Mas, claro, caçar monstros repetidamente também proporcionava algo além de col e experiência. Isso fornecia ao jogador habilidade real — a experiência da prática em batalha. Neste VRMMO, onde o combate era travado movendo o avatar como se fosse o próprio corpo real, esse tipo de experiência era tão importante quanto a numérica, senão mais. Mesmo que o número de velocidade de ataque fosse o mesmo nos menus, a velocidade de iniciação de um especialista em uma habilidade de espada e de alguém ainda novo nela era, na verdade, sutilmente diferente. Também crucial era a habilidade do jogador de medir distância e sentir perigo.

Então, Asuna e eu planejamos avidamente nos dirigir à floresta, parando para lutar em pontos particularmente eficazes enquanto trabalhávamos para cumprir as várias missões de caça e coleta da cidade. Nas cinco horas até o pôr do sol, matamos inúmeros mobs, esmagando-os em pó poligonal. Após entregar sete missões completas cada um, eu subi um nível para 15, e Asuna ganhou dois, chegando a 14.

Cansados e satisfeitos, brindamos em uma taverna. Às cinco para as cinco, nos dirigimos à primeira reunião de estratégia do terceiro andar.

Já havia uma multidão de jogadores aglomerados no recinto de assembleia em forma de tigela entre as três gigantescas árvores baobá. Vi o rosto familiar e amigável de Agil, o guerreiro do machado, então o cumprimentei e recebi uma enxurrada de brincadeiras sobre como Asuna e eu ainda éramos uma equipe. 

Eu tinha acabado de prometer a ele o Tapete do Vendedor de Nezha, que ainda estava na estalagem no segundo andar, quando os sinos tocaram cinco horas. O suporte e a língua dos sinos de «Zumfut» foram esculpidos diretamente dos troncos dos baobás, e tinham um som suave e agradavelmente amadeirado. Sentei-me em um canto enquanto a melodia nostálgica da noite se aproximava, então aplaudi junto com o grupo quando Kibaou e Lind apareceram juntos na plataforma de discurso.

Incluindo os dois na plataforma, contei quarenta e dois participantes nesta reunião. Havia quarenta e sete (na verdade, quarenta e oito) na batalha do boss do segundo andar no dia anterior, então estávamos com um grupo a menos. Os seis que não apareceram eram os Legend Braves.

A razão pela qual eles se destacaram tanto na batalha, apesar de não alcançarem o nível médio do grupo de ataque, foi o efeito de seus equipamentos incrivelmente poderosos. Mas confessaram que arrecadaram o dinheiro para aquele equipamento por meio de um golpe e doaram seu equipamento para o restante do grupo. Levaria algum tempo para recuperarem a força para se juntar aos jogadores da linha de frente, mas com força de vontade suficiente, eles estariam de volta.

Enquanto isso, Lind e Kibaou terminaram sua breve introdução, e a reunião real começou.

A primeira ordem do dia foi um anúncio oficial de que as equipes azul e verde, os maiores agrupamentos de jogadores entre o ataque, agora eram guildas reais. Eu estava tão impressionado quanto todos os outros. Era necessário um bom número de tarefas, caçadas, coletas e eventos de batalha para obter o sigilo necessário para a guilda — embora ainda fosse muito menos trabalho do que completar a missão da campanha de guerra dos elfos. 

Eu parecia me lembrar que, no beta, levava em média vinte horas de jogo para completar a série de missões da guilda. Só se passou um dia desde que abrimos este andar, então Kibaou e Lind devem ter renunciado à comida e ao sono para terminar. Até Lind deve ter ficado surpreso que o «Esquadrão de Libertação» acompanhou os «Cavaleiros Dragões», dado a sua aversão ao conhecimento do beta.

Em seguida, houve a revelação dos nomes e acrônimos oficiais das guildas, suas formações atuais de membros e uma chamada para novos rostos. No entanto, as únicas pessoas no grupo de quarenta e dois que ainda não estavam afiliadas a um dos dois grupos eram Agil, seus três amigos, Asuna e eu.

Eu não tinha intenção de me juntar a nenhuma das guildas, é claro, e Asuna disse que também não estava interessada, e eu suspeitava que o mesmo valia para Agil. Quando nenhum dos seis de nós levantou a mão, esperei que a fase um da reunião estivesse encerrada.

Mas, em vez disso, Lind, líder da DKB, fez um anúncio inesperado.

— Gostaria que as portas da minha guilda estivessem tão abertas quanto possível. Nosso único requisito neste momento é que o jogador esteja pelo menos no nível dez.

Kibaou levantou-se abruptamente ao lado dele e gritou.

— Nível nove para nós!

Uma veia azul pulsava brevemente na testa de Lind, mas ele recuperou a calma e continuou o discurso.

— Todos os participantes desta reunião que não se juntaram a nenhuma das guildas devem atender aos requisitos. Portanto, se simplesmente levantarem a mão, serão bem-vindos com prazer. No entanto, há uma condição que se aplica apenas a certas pessoas. Isso foi decidido após uma discussão entre mim e Kibaou.

Desta vez, foi a vez de Kibaou parecer irritado, mas resignado. Nesse momento, eu ainda estava olhando ao redor, curioso para saber quem precisaria de condições especiais. Então, quando Lind olhou diretamente para mim, quase tropecei nas escadas do local de reunião.

— Kirito.

Ele disse com a voz firme. Finalmente, entendi o que estava acontecendo. Ele queria deixar claro que eu não poderia entrar porque eu era um "beater". Isso não foi uma surpresa, e eu não estava planejando entrar de qualquer forma.

— Sim, eu entendi….

Comecei a dizer. Mas o olhar de Lind se desviou para a esquerda, e ele chamou outro nome.

— E Asuna. — Os ombros de Asuna se contraíram, seu rosto escondido sob o capuz. Mesmo eu não conseguia ver sua expressão do meu assento ao lado dela. Lind observou nós dois em silêncio, então limpou a garganta antes de continuar. — Antes de serem aprovados para entrar em nossa guilda, há mais uma condição além do requisito de nível. Um de vocês deve entrar na DKB e o outro deve entrar na ALS.

— Um em cada?

Eu repeti, sem entender seu ponto. Asuna não deu nenhuma reação.

Lind limpou a garganta novamente e explicou rapidamente.

— Como ficou claro durante a batalha do boss de ontem, Kirito e Asuna estão acima de qualquer outra pessoa em nosso grupo geral. Afinal, vocês dois receberam os bônus do Last Hit de um boss e dois mini bosses naquela luta. Não menciono isso para criticá-los, claro. Mas não beneficia nenhum de nós que ambos entrem em uma das guildas. Nossas forças combinadas são aproximadamente iguais por enquanto, e vocês causariam um desequilíbrio severo ao se juntar a qualquer um dos lados.

A testa de Kibaou adquiriu uma veia pulsante desta vez, provavelmente porque ele se sentiu ofendido com a ideia de que suas equipes eram iguais por enquanto. Eu ouvi a explicação do primeiro líder da guilda em SAO sem prestar muita atenção.

— Nós estamos bem cientes de que nosso pedido é irracional. Mas preciso que você entenda isso...

 

🗡メ

 

Meu primeiro pensamento foi: Quão sérios eles estão sendo?

As exigências de Lind e Kibaou se resumiam a uma coisa: eles queriam que eu e Asuna nos juntássemos a guildas separadas, se escolhêssemos nos juntar a alguma. Mas o "se" condicional era totalmente inútil. Eu não tinha nenhuma intenção de entrar em nenhuma das guildas. Lind devia saber disso desde o início, e para Kibaou me aceitar em sua guilda iria contra a causa de antagonismo a todos os ex-beta testers

Eles não precisavam fazer esse grande espetáculo público. Uma simples pergunta — Você quer se juntar a uma guilda, sim ou não? — Teria resolvido o assunto. Em vez disso, os membros da DKB e da ALS sussurravam entre si nervosamente, e Agil estava de braços abertos, balançando a cabeça com a tolice de tudo isso. Nada disso refletia bem sobre Lind. Como essa decisão poderia beneficiá-los?

Minha mente estava cheia de pontos de interrogação, mas Lind parecia estar esperando uma resposta, então me senti obrigado a me levantar e falar.

— Hmm... Odeio dizer isso depois de vocês dizerem que estávamos acima dos outros, mas não tenho planos futuros de entrar em nenhuma das guildas. Na verdade, imaginei que ambos esperavam essa resposta.

Kibaou bufou teatralmente, e Lind parecia vacilar, autoconsciente, mas sua expressão familiar e dura voltou em um momento.

— Entendo. A propósito, posso perguntar sua razão para explicitamente escolher não entrar em uma guilda, dadas as circunstâncias?

— Hã? Hmm...

Eu não tinha certeza do que ele queria dizer ou como responder. Por "dadas as circunstâncias", ele estava se referindo ao estado atual de SAO? Lind parecia assumir que criar uma guilda era a solução ideal para os objetivos contraditórios atuais de "vencer o jogo" e "sobreviver". Com base nessa premissa, seu ponto de vista não correspondia ao meu, mas eu não tinha tempo ou obrigação de explicar toda a minha filosofia para ele.

— Não é baseado em alguma grande escolha explícita. Simplesmente não é o meu estilo... só isso.

— Ahh. Então você está dizendo que não tem intenção de entrar ou liderar uma guilda por enquanto.

Agora era minha vez de fazer uma careta.

— Claro, você poderia dizer dessa forma. Se eu não vou ser um membro de uma guilda, certamente não quero a responsabilidade de ser um líder...

...Ah, então é disso que se trata.

Algo no que eu disse sugeriu as verdadeiras intenções de Lind. Ele estava tentando me fazer essa declaração para uma audiência pública. Ele queria impedir a criação de uma terceira guilda antes que pudesse começar.

Mas que maneira convoluta e tola de fazer isso. Quem iria se apresentar e entrar em uma guilda chamada Black Beaters? Ele poderia simplesmente ter perguntado: — Você vai criar uma guilda, sim ou não? — Droga, se ele simplesmente tivesse me ordenado a não começar uma guilda, eu teria concordado felizmente.

Por outro lado, eu poderia entender que ele estava preocupado com a possibilidade de que, se eu fosse excluído desde o início, eu pudesse criar minha própria guilda por despeito. Esse jeito cauteloso e indireto de fazer as coisas me lembrava fortemente de outra pessoa: o líder original dos predecessores azuis da DKB, Diavel.

Três vezes antes de lutarmos contra o boss do primeiro andar, recebi uma oferta para comprar minha «Anneal Blade» através de Argo, a Rata. As ofertas vinham de Kibaou, que era um lobo solitário na época, mas era Diavel quem estava dando as ordens. Diavel queria o bônus do Last Hit em «Illfang the Lord Kobold», para melhor assumir as rédeas da liderança. Então ele procurou remover seu maior obstáculo — eu — comprando minha arma. Novamente, era uma maneira muito convoluta de fazer isso. Se ele apenas tivesse me pedido para deixá-lo ter o Last Hit, eu provavelmente teria concordado — por um preço, claro.

Eu não achava que Lind estava ciente das maquinações de Diavel, nem na época, nem agora. Era metade coincidência e metade imitação dos modos de Diavel que levou Lind a seguir essa estratégia.

De repente, percebi que ele ainda estava me olhando severamente do pódio.

Embora já tivesse se passado dez dias desde que nos conhecemos, senti que esse era o primeiro momento em que realmente olhei para ele de frente. Lind sempre parecia mais sem graça, menos distinto quando colocado ao lado de Kibaou, mas seus olhos fortemente inclinados tinham uma força poderosa agora.

Pelo que eu sabia, ele nunca tinha realmente deixado suas emoções mais feias e básicas explodirem em público desde aquela ocasião: quando ele exigiu saber por que eu deixei Diavel morrer, logo após a batalha com «Illfang».

Da próxima vez que o vi, Lind tinha tingido o cabelo de azul e vestia uma armadura prateada, assim como o falecido cavaleiro, e assumiu o controle do grupo azul. Talvez ele tenha escolhido esse caminho por respeito a Diavel, ou por um sentimento de rivalidade, de desejo de superar seu mentor. Talvez ele realmente quisesse ser Diavel.

Essa terceira opção vai ser bem difícil, Lind, eu pensei.

Diavel era um homem de contradições, alguém que buscava liderar os melhores jogadores do jogo enquanto escondia o fato de ser um beta tester. Ele estava desempenhando um papel que facilmente poderia levá-lo a ser derrotado por suas próprias ações, mas isso também o tornava forte e fascinante.

Se SAO não tivesse se transformado na armadilha mortal que era agora, ele poderia ter sido um grande PVPer. O nome Diavel vinha da palavra italiana para "diabo", Argo me disse, mas se essa era a razão por trás da escolha do nome, o que o levou a se chamar de cavaleiro? Eu não sabia, é claro, e fingir que sabia era uma desonra para sua memória.

De qualquer forma, Diavel deixou Aincrad completamente sem revelar várias verdades para seus amigos, e ninguém poderia preencher sua ausência. Como se percebesse minha linha de pensamento, o olhar de Lind se tornou ainda mais afiado. Ele continuou.

— Então você não tem intenção de se envolver com qualquer guilda. Entendi isso certo, Kirito?

— Claro, isso funciona. Eu ainda vou participar das lutas contra os bosses, claro... assumindo que você me deixe.

O líder da guilda assentiu algumas vezes com a minha resposta.

— Entendido. Discutiremos a questão do boss na próxima reunião. Era só isso que eu queria saber.

Suspirei de alívio quando seu olhar me deixou e sentei de volta nos degraus de pedra.

Em seguida, ele se voltou para o grupo de Agil para perguntar se eles tinham alguma intenção de se juntar a qualquer guilda, mas todos os quatro recusaram. Parecia que eles iam formar sua própria guilda, mas Lind não perguntou sobre isso. No final, o DKB e o ALS terminaram com dezoito membros cada. Pode haver uma feroz competição por novos membros entre eles, mas enquanto isso aumentasse as fileiras dos jogadores na linha de frente, era um desenvolvimento bem-vindo.

Estou feliz que isso acabou, pensei comigo mesmo, então percebi algo.

Eu tinha respondido por mim mesmo durante aquele interrogatório público, mas nunca verifiquei com Asuna como ela se sentia. Ela estava com o capuz tão baixo e estava tão quieta, como se estivesse testando sua habilidade de «Stealth», que eu tinha esquecido completamente de sua presença. Lind perguntou a mim e a Agil; por que ele não perguntou a Asuna também?

Virei à esquerda para olhá-la. Suas mãos e pernas estavam perfeitamente imóveis e alinhadas, exatamente como ela se sentou durante a primeira reunião em «Tolbana». O perfil que vi espreitando de seu capuz estava calmo, e ela não parecia estar chateada.

— Hum…

Comecei, então engoli o que ia dizer. Havia um fogo pálido ardendo em seus olhos semicerrados. Ela estava mais do que um pouco chateada. A jogadora que poderia causar o maior dano por segundo entre todos os quarenta e dois presentes estava queimando com um fogo justo que ameaçava consumir todo o seu ser.

— Vamos passar para o próximo tópico. Gostaria de pedir a Kibaou que liderasse as cerimônias agora.

Kibaou se levantou, percebendo que finalmente era sua vez, mas eu não estava olhando para ele. Meus olhos estavam fixos em um ponto aleatório no espaço, nem no palco nem no rosto de Asuna.

Nós éramos membros de um grupo e companheiros de viagem nos últimos dias. Mesmo eu podia perceber que ela estava incrivelmente zangada.

Mas eu não conseguia discernir imediatamente por quê. Deve haver três razões potenciais: (1) eu, (2) Lind, (3) Kibaou. Mas eu não tinha ideia de qual dos três era.

A razão (3) provavelmente estava fora. Asuna não pensava muito em Kibaou — quando quase cruzamos seu caminho na caverna esta manhã, ela fez uma cara de nojo — mas tudo o que ele tinha feito até agora nesta reunião foi se apresentar e sentar em uma cadeira o tempo todo.

Eu queria acreditar que (1) não era verdade. Foi errado da minha parte declarar que não tinha intenção de me juntar a uma guilda sem ver como ela se sentia primeiro, mas ela provavelmente teria interrompido e deixado sua raiva clara se realmente se sentisse assim. Além disso, as chamas ardentes em seus olhos estavam voltadas diretamente para um ponto sobre o palco a vários metros de distância.

Com base no processo de eliminação, o alvo de seu olhar tinha que ser (2) Lind. Muito provavelmente, era algo no discurso do líder do DKB que a tinha deixado furiosa.

Mesmo enquanto considerava essas opções, Kibaou estava gesticulando teatralmente para a multidão.

— Ouçam, queremos terminar este andar em uma semana! Isso significa chegar ao labirinto em quatro dias e derrotar o boss em outros dois! Nossa melhor opção para que isso aconteça é números! Não podemos manter esse ritmo com apenas quarenta e poucas pessoas o tempo todo! Precisamos sair e recrutar pessoas que têm uma rixa com este maldito jogo!

Os membros da multidão vestidos de verde rugiram de aprovação com essa declaração. Aumentar a força do grupo da linha de frente era uma tarefa crucial, com certeza, mas recrutar novos membros e aumentar a velocidade de nossa conquista eram objetivos contraditórios. Quanto mais essas duas guildas tentavam empurrar o progresso para frente, mais deixavam aqueles na cidade inicial para trás. A Legend Braves de Orlando havia tentado aquele golpe de upgrade especificamente para fechar a enorme diferença de nível entre eles e os melhores jogadores.

Mas, deixando isso de lado, eu tinha um dever mais urgente no momento. Precisava impedir que Asuna destruísse Lind. Ela estava se controlando por enquanto, mas no momento em que a reunião terminasse, ela se levantaria e o confrontaria. Os outros membros do DKB ficariam furiosos, e isso também fecharia suas chances de se juntar às guildas, que a receberiam de braços abertos se ela apenas pedisse.

Ignorei o longo discurso de Kibaou, virei para a esquerda e me preparei para falar. Mas antes que eu pudesse dizer uma palavra, sua voz emergiu do capuz, tensa e rouca.

— Você não pode me impedir. Eu consegui resistir ao que ele disse antes, mas desta vez ele passou dos limites, e vou dizer o que penso.

— Você quer dizer sobre termos que nos juntar a guildas separadas?

Perguntei, só para ter certeza, mas Asuna não respondeu com um sim ou não — provavelmente porque achava que não precisava — e continuou, sua voz ainda mais firme.

— Se eu me junto a uma guilda ou não e com quem eu ando ou não são minhas escolhas. Eu poderia aguentar sua atitude autoritária e discursos, mas posso ver que, no fundo, ele acredita que é seu trabalho guiar os outros e dizer o que fazer. Ele acredita que dar ordens duras às pessoas será, em última análise, para o benefício delas. Ele até acredita que o que está fazendo é um tipo de auto-sacrifício.

……...

Senti um suor frio escorrer pelas minhas costas, mesmo sabendo que ela não estava falando sobre mim. Se eu soubesse que alguém dizia essas coisas sobre mim, a crítica devastadora me faria me trancar em um quarto de hospedaria por uma semana.

Mas se as observações de Asuna estavam corretas, então o esquema complicado de Lind para me impedir de criar minha própria guilda não era para fortalecer sua própria liderança sobre os jogadores, mas uma tentativa de me guiar para o meu lugar adequado como jogador. Ele achava que usar um uniforme azul e participar da comunidade da linha de frente me reformaria. Eu renasceria de um beater desprezado para um membro respeitado.

Isso realmente seria ultrapassar os limites de sua responsabilidade, mas, por outro lado, senti que Asuna poderia estar exagerando. Ela continuou como se estivesse ouvindo meus pensamentos em voz alta.

— Eu sei como é. Ouço essas palavras do outro lado desde que era criança.

….…!

Prendi a respiração. Asuna quase nunca falava sobre sua vida no mundo real — na verdade, esta pode ser a primeira vez.

Ela havia descrito seu motivo para pegar sua espada e deixar a «Tower of Beginners»: — Para ser eu mesma. — Eu provavelmente ainda não entendia completamente o que essa frase significava, mas sua resistência às ordens de Lind significava que elas impediriam Asuna de ser ela mesma. E isso tinha que ser mais importante para Asuna do que ficar em uma guilda ambiciosa.

No entanto.

No entanto…

Mesmo enquanto eu estava perdido em pensamentos, o discurso apaixonado de Kibaou estava chegando ao clímax no palco. Ele nos desafiou a definir a próxima cidade como nosso objetivo para amanhã e ler as informações mais importantes da última edição do guia de estratégia de Argo. Até mesmo o anti-tester Kibaou conseguiu aceitar os guias como — fontes secundárias confiáveis. — Parecia extremamente conveniente para mim, mas se isso ajudasse a justificar a posição de Argo em ser independente da multidão da linha de frente, isso era uma coisa boa.

Ainda assim, era importante evitar qualquer situação em que Asuna pudesse atrair a ira dos outros. O discurso de Kibaou estava prestes a terminar, e ela se preparava para confrontar Lind assim que acabasse.

Asuna tinha qualidades que eu não possuía. Ela tinha as qualidades de uma líder destinada a guiar um grande número de jogadores. Eu não queria que ela destruísse essa possibilidade ao antagonizar a maioria aqui no início do jogo.

Por outro lado, eu fiz isso logo após a primeira luta contra o boss...

De repente, percebi uma verdade muito importante e prendi a respiração novamente.

Não foi coincidência. Este confronto com Lind, o autoproclamado líder dos melhores jogadores do jogo, era inevitável. Enquanto Asuna trabalhasse comigo, isso aconteceria em algum momento. Eu era um beater, e usava meu conhecimento do beta para me ajudar, e Asuna, como minha parceira, a ganhar uma vantagem sobre os outros jogadores da linha de frente. O que era a «Rapier Chivalric» em sua cintura senão a prova desse fato?

Senti decepção e raiva por ter percebido essa verdade óbvia apenas agora, assim como uma poderosa dúvida e hesitação. Mordi o lábio.

No palco, Kibaou olhou teatralmente em círculo ao redor do local da reunião e se preparou para terminar.

— E é por isso que, a partir de agora, qualquer guilda que encontrar a câmara do boss primeiro terá o direito de comandar a batalha. Se não houver mais perguntas... o que suponho que não haja, então isso encerra nossa primeira reunião de estratégia do terceiro andar. Vamos terminar com uma comemoração!

Vendo que Kibaou levantou um punho desafiador no ar, Lind relutantemente se levantou. Ao mesmo tempo, Asuna se inclinou para frente. Suas pernas magras estavam tensas, prontas para saltar.

— Vamos esmagar esse boss dentro de uma semana!!

— Sim!!

A multidão rugiu em resposta. Estendi minha mão esquerda e agarrei seu pulso. Seu capuz se virou para mim e ela rosnou.

— Não tente me impedir.

— Desculpe, eu tenho que fazer isso.

— Eu não me importo se ele... eu não me importo se todas essas pessoas da guilda me odiarem. Não tenho intenção de me juntar a elas. Prefiro voltar para a «Tower of Beginners» do que ficar aqui e aceitar essas bobagens.

Ela afirmou audaciosamente. Uma brisa agitou seu capuz e a luz vermelha do pôr do sol iluminou seus olhos cor de avelã, brilhando como duas estrelas cadentes.

Como duas estrelas cadentes.

Olhei diretamente para aqueles olhos ardentes e balancei a cabeça. 

— Não faça isso, Asuna. Você não pode antagonizá-los.

Respirei fundo, preparando-me para dizer que deveríamos nos separar. Eu sabia muito bem que isso era o tipo de coisa que Asuna mais odiava: um ato insistente e autoritário supostamente feito para o bem da outra pessoa. Mas, neste ponto, eu não tinha outras palavras para usar. Eu não podia deixar Asuna se tornar inimiga da força principal de jogadores do jogo, mesmo que isso significasse que ela me odiasse, evitaria e insultaria, nunca mais aventurando-se ao meu lado.

Esse era o limite absoluto de um jogador solo. 

O fato de que ninguém poderia te salvar. 

SAO foi programado com um número deprimente de efeitos de status negativos. Atordoamento, paralisia, veneno, sangramento, cegueira, tontura, etc. Esses efeitos poderiam ser superados com a ajuda de amigos em um grupo, mas todos ameaçavam a vida de qualquer aventureiro solo. Em um jogo normal, onde um jogador poderia ser revivido a qualquer momento, poderia valer a pena correr o risco de jogar solo. Mas neste jogo extremamente mortal, onde um único erro poderia significar o fim de tudo, a única razão pela qual eu consegui jogar sozinho nos dois primeiros andares foi meu estoque de conhecimento do beta teste. 

Essa tábua de salvação me sustentaria apenas até o décimo andar. Eventualmente, eu seria forçado a sobreviver em mapas desconhecidos contra monstros desconhecidos. Já, as coisas que eu sabia sobre os bosses se mostraram insuficientes. À medida que os perigos aumentavam exponencialmente, trabalhar com um grupo completo ou uma guilda seria crucial. Mas quanto mais tempo ela passasse comigo, mais Asuna arriscava cair na minha posição — ou em uma ainda mais perigosa. 

Eu tinha que dizer a ela. Era hora de terminar a parceria temporária que surgiu com uma competição de caça das vespas de vento. Ela precisava engolir sua raiva por Lind e Kibaou e, se não fosse em breve, eventualmente se juntar a uma guilda, seja a DKB, ALS ou outra qualquer.

Mas era como se minha garganta resistisse à ordem de transformar o ar em meus pulmões em palavras.

Asuna encontrou meu olhar em silêncio. Segundos atrás, seus olhos estavam ardendo de raiva, mas agora estavam cheios de algo que desafiava minha compreensão.

Os outros jogadores na praça rugiram com entusiasmo, depois se dividiram em grupos menores e conversaram animadamente. O grupo de Agil estava sentado em um muro à nossa frente, então ninguém notou ou interrompeu nossa tensão silenciosa, mas isso também não poderia durar para sempre.

Cerrei os dentes e finalmente consegui fazer minha garganta rígida produzir algo... mas o que surgiu não era o que eu esperava.

— Se... se eu morresse hoje... o que você faria?

Embora ela não pudesse ter esperado essa pergunta, sua expressão não mudou nem um pouco, como se soubesse que isso estava por vir.

— Nada mudaria. Eu ainda correria o mais longe que pudesse. — Ela fez uma pausa, então perguntou: — E você? O que você faria se eu morresse?

Apesar de ter feito essa pergunta a ela segundos atrás, eu não tinha uma resposta imediata.

O que eu faria depois que Asuna morresse e todos os traços de sua existência desaparecessem de Aincrad? Eu certamente voltaria a ser um jogador solo, mas não conseguia imaginar o que eu sentiria e pensaria depois que isso acontecesse.

De repente, percebi uma verdade simples.

Eu estava afastando Asuna do grupo principal e colocando-a em um ambiente de alto risco. Disso não havia dúvida. Mas havia apenas uma razão para eu estar fazendo isso: eu não queria que ela morresse.

A primeira vez que a encontrei no labirinto do andar inferior, quebrei minhas regras pessoais e falei com ela porque esse sentimento era meu primeiro instinto. Eu queria ver mais daquele «Linear» brilhante e para onde ela iria a partir daí. Esse mesmo sentimento estava no cerne da minha tentativa atual de impedi-la de atacar Lind.

Talvez, em vez de discutir sobre separar a equipe ou entrar em guildas, eu devesse apenas dizer essa declaração simples. Mas, mais uma vez, minha garganta se fechou.

Meu mau hábito de travar quando mais importava não era uma novidade. Desde que deixei meu primeiro amigo, Klein, nos becos da «Tower of Beginners», trinta e nove dias antes... Na verdade, desde que comecei a morar em minha casa na cidade de Kawagoe, na prefeitura de Saitama, perdi minha chance de dizer o que realmente importava, várias vezes.

Mas agora, agora que percebi isso...

Rezei e lutei, mas minha garganta se recusava a transformar o ar que aceitava em palavras. Tudo físico neste mundo era só dado digital, então não era minha garganta real que tinha se fechado. Era meu cérebro, minha mente, conectada diretamente ao NerveGear. Ao longo dos anos de experiência, eu mesmo bloqueei meus próprios caminhos mentais.

Quando as palavras que eu precisava dizer estavam prestes a evaporar em um suspiro de resignação, ouvi uma voz suave falar em meu ouvido.

 

Kirito. 

Se há algo que você quer dizer, agora é a hora de fazê-lo, enquanto você pode. Sua capacidade de fazer isso o torna muito afortunado.

 

O sussurro quieto, mas bonito, parecia pertencer a elfa negra que deixamos para trás nas profundezas da floresta. Talvez eu estivesse me lembrando de algo que ela disse naquele pequeno cemitério nos fundos do acampamento, tarde da noite. Talvez minha mente estivesse colocando seus pensamentos na voz de «Kizmel» por conta própria.

Mas aquela voz fantasma me empurrou adiante. As palavras que eu tinha dado por perdidas saíram da minha boca, pouco a pouco, no ar virtual.

— Eu não... quero que você... morra. — Por um instante, os olhos de Asuna se arregalaram. — Então... por favor, apenas esqueça isso. É bem possível que Lind e sua guilda possam salvar sua vida e a minha algum dia. Por favor, não pense que preferiria morrer a ser salva por ele.

No final, minha voz tremeu pateticamente, como uma criança emburrada à beira das lágrimas. Olhei para baixo e finalmente soltei o braço de Asuna. Apontando desajeitadamente para a frente, vi que a maioria dos jogadores havia descido ao palco, exibindo suas armas e trocando materiais coletados. O grupo de quatro de Agil estava reunido, conduzindo sua própria reunião.

Completamente exausto pelas meras quatro frases que acabei de falar, esperei pela resposta da minha ex-parceira. Depois de cerca de cinco segundos, ela simplesmente disse: — Eu vou esquecer, então.

Com isso, soltei o ar que havia se acumulado no meu peito com uma longa e lenta expiração. Não poderia ter sido fácil para Asuna conter a raiva de ter suas crenças mais fortes insultadas. Eu queria responder a isso, mas não havia mais palavras. Eu simplesmente acenei com a cabeça.

Depois de um tempo, ouvi o sussurro no meu ouvido novamente.

Você fez bem, Kirito.

Tive que sorrir com isso. Eu realmente tinha que estar perdendo a cabeça, se estava imaginando a voz de «Kizmel» para me encorajar...

.......

Não. 

Espere. Espera. A menos.

Várias outras frases circularam pela minha mente. Lentamente, levantei minha mão direita, sentindo o espaço (supostamente) vazio perto da minha orelha.

Meus dedos encontraram uma superfície macia e fofa.

 

🗡メ

 

Dizemos breves despedidas à equipe de Agil, saímos pela parte de trás da área de reunião e rapidamente caminhamos pela rua principal e pelo portão da cidade. A cerca de cem metros da estrada abaixo, fora do alcance auditivo do agito de «Zumfut», desci um pouco do caminho e entrei na floresta que escurecia. Asuna me seguiu sem comentar, embora a expressão cética em seu rosto exigisse uma explicação para o movimento repentino. Em vez de elaborar, me virei para um ponto aparentemente vazio e perguntei.

— Você está aí, «Kizmel»?

Os olhos de Asuna se arregalaram de surpresa, e ela olhou ao redor. Por um tempo, não houve resposta além do canto dos pássaros e do farfalhar das folhas, mas isso foi quebrado pelo som de tecido ondulando. Uma risada surgiu da direção oposta de onde eu estava olhando. 

— Então você percebeu.

Virei-me a tempo de ver a elfa negra jogando sua longa capa para trás. Mesmo com seu status de Ocultação removido, a alta figura da cavaleira parecia estar se fundindo nas sombras escuras das árvores. Seus olhos de ônix brilhavam com malícia. 

— Como eu não poderia perceber?

Perguntei, escolhendo não notar que foi ela quem falou comigo. Até ouvir aquele sussurro em meu ouvido, eu nunca teria imaginado que «Kizmel» não tinha ficado no acampamento dos elfos negros, mas usou o charme de ocultação de sua capa para se tornar invisível e nos seguir o tempo todo.

Apenas encarei a sorridente «Kizmel»; eu nem sabia por onde começar a perguntar. Asuna preencheu a lacuna. 

— Uh... «Kizmel»...? Há quanto tempo você está aí...?

Isso era realmente um grande problema. Se «Kizmel» nos seguiu desde que saímos do acampamento base, ela teria testemunhado a cena onde a equipe de Lind começou a missão "Chave de Jade" — e ficou do lado do cavaleiro elfo da floresta contra o elfo negro. 

Ao contrário dos meus medos, o elfo negro morto não era uma réplica idêntica de «Kizmel», mas ainda assim deve ter sido uma visão difícil para ela processar. Se ela estivesse presente enquanto assistíamos, como ela interpretou aquela cena? 

Mas Asuna não compartilhava da minha apreensão. Como «Kizmel», ela jogou o capuz para trás e pressionou a elfa ainda mais, com o rosto avermelhando. 

— Você também estava... no quarto conosco?

Esse era outro grande problema. Mesmo deixando de lado o simples fato de termos cochilado no mesmo quarto juntos, havia também a questão de se dissemos algo embaraçoso que não gostaríamos que fosse ouvido. Tentei lembrar o que havia acontecido oito horas antes, mas felizmente, «Kizmel» balançou a cabeça. 

— Não, eu os avistei no local da reunião no centro da cidade. Só no final da tarde usei o charme de teletransporte para me aproximar...

Isso mesmo – ela havia mencionado tal poder. Fiquei parcialmente aliviado, mas minhas suspeitas não haviam sido totalmente desfeitas. 

Esse desenvolvimento deveria ser possível? NPCs não registrados em uma equipe podiam deixar suas áreas designadas de atividade e perseguir jogadores humanos? 

E quando «Kizmel» sussurrou em meu ouvido no centro de «Zumfut», foi dentro do refúgio seguro da cidade. Mesmo que fosse possível um jogador sendo perseguido por monstros correr para a cidade e realmente tê-los seguindo, os guardas assustadoramente poderosos no portão despachariam a criatura imediatamente. 

Além disso, «Kizmel» era uma NPC de cursor amarelo para nós, pois estávamos participando ativamente da campanha do lado dos elfos negros, mas ela seria um monstro de cursor vermelho para qualquer outro jogador. Isso também deveria ser verdade para os guardas de «Zumfut», então se o efeito de Ocultação dela tivesse se desgastado por qualquer motivo, os resultados seriam desastrosos. Claro, «Kizmel» era tremendamente forte por si só, então ela poderia ter conseguido segurar os guardas tempo suficiente para fugir para a floresta.

Tentei o máximo possível reunir todas essas perguntas em uma simples o suficiente para perguntar.

— Então, hum, por que você veio até a cidade humana...?

Talvez fosse minha mente pregando peças em mim, mas achei que vi seu rosto corar um pouco de timidez, mas sua expressão era séria ao responder.

— Era meu dever.

— D-Dever?

— Sim. O comandante me deu uma missão: servir e proteger vocês. Vocês não retornaram muitas horas depois de saírem esta manhã, então simplesmente saí para ver como estavam.

— Simplesmente, é? É realmente seguro ir até o meio da cidade assim? E se seu charme de ocultação... er, se desgastasse?

Agora seu rosto parecia assumir um tom de orgulho. Ela acariciou a capa que brilhava estranhamente. 

— Esta Capa da Lua Nebulosa é mais eficaz nas horas da noite e da manhã, quando a luz do sol e da lua se alternam. Seu charme não se romperá, mesmo com um pouco de contato físico.

— Aha... entendo.

Respondi, olhando para meus dedos e lembrando da sensação macia, enquanto a testa de Asuna franzia levemente em consternação. 

— Ele te tocou?

— Sim. Você ficaria surpresa; Kirito é bastante—

— Bastante a capa, devo dizer!

Interrompi apressadamente, tentando desviar a conversa das nuvens de tempestade que se formavam. Soei nervosamente só de pensar em que parte de «Kizmel» eu poderia ter tocado e quão perto estive de ser automaticamente jogado na prisão do jogo por assédio. Mas, por enquanto, as perguntas tinham acabado. 

Olhei para cima. 

O céu — tecnicamente, o fundo do andar acima — espiando através dos galhos estava quase totalmente roxo, com apenas alguns traços de vermelho restantes. Eu planejava jantar em «Zumfut» após a reunião, mas não queria voltar à cidade com «Kizmel» nos seguindo fora de vista, e também não podia forçá-la a simplesmente esperar aqui na floresta, abandonada. 

— Asuna, estou pensando que deveríamos voltar ao acampamento. Está bem para você?

Perguntei. Ela me lançou um olhar que dizia que eu ainda teria que responder sobre o tópico anterior, mas manteve o rosto neutro ao responder. 

— Tudo bem. Especialmente porque «Kizmel» veio até aqui para nos ver.

Ela fechou a boca, mas parecia querer dizer mais. Eu a olhei pacientemente, incentivando-a a continuar. Mas Asuna olhou para o chão e cutucou um cogumelo azul-púrpura com a ponta da bota.

— Hum... eu estava pensando, talvez devêssemos ficar por perto do acampamento dos elfos até a batalha contra o boss.

— Hã? B-Bem... Acho que podemos obter todas as informações que precisamos sobre o progresso com Agil e Argo, e há muitos suprimentos no acampamento... mas pensei que você realmente gostava daquele quarto de hotel em «Zumfut».

— Eu vi a vista uma vez, e isso foi suficiente. Além disso, não quero estar perto daqueles membros de guilda agora.

— Entendo.

Uma vez que você pegava um caso de Síndrome de Fique-Longe em um MMORPG, podia ser extremamente difícil de quebrar (como eu sabia por experiência própria), mas eu entendia como ela se sentia, e não tinha espaço para argumentar o contrário, então aceitei seu comentário e me virei para a elfa.

— «Kizmel», você se importaria se ficássemos na tenda com você, começando esta noite... e durando uma semana ou mais?” 

— Eu não me importo. — Ela disse. Seu sorriso era mais bonito do que qualquer expressão de NPC — mais bonito do que o de qualquer jogador, na verdade. — Ficaria encantada se chamassem de lar. Vamos viver juntos até que nossos objetivos sejam alcançados.

— Ótimo, obrigado.

A frase — viver juntos — parecia ganhar um novo significado vindo dela. Asuna assentiu em concordância, mas virou-se rapidamente. Nos raios moribundos do sol, os contornos de sua espada, peitoral e linhas finas de suas bochechas estavam em um vermelho flamejante.

 

🗡メ

 

Infelizmente, o charme de teletransporte do acampamento dos elfos negros para a floresta perto da cidade principal era um bilhete de mão única, então tivemos que retrazer nossos passos da manhã, mas agora através das névoas sombrias da noite. Não havia como evitar os monstros, é claro, mas Asuna e eu havíamos recentemente conquistado atualizações significativas, e tínhamos a poderosa cavaleira elfa como nossa companheira de viagem. 

Tanto «Kizmel» quanto eu estávamos no nível 15, mas como uma unidade de elite dentro do jogo, seu poder não era ditado apenas pelo nível. Viajaríamos com Asuna e «Kizmel» na frente e eu na retaguarda. Qualquer monstro que se aproximasse pela direita era eliminado com um único ataque e habilidade de espada da «Chivalric Rapier» +5 de Asuna, e os da esquerda eram enfrentados da mesma forma pela longa espada de «Kizmel».

Eu mal tinha que levantar um dedo. Ainda ganhava a experiência compartilhada e o col por estar no grupo, mas sentia um pouco decepcionado por não participar, e minha mente começava a divagar devido à inatividade.

Por um lado, eu pensava no DKB e no ALS, que haviam dividido efetivamente a população de jogadores de linha de frente entre eles, e no papel da nossa dupla em tudo isso. Eu disse a Asuna que não queria que ela morresse, como uma forma de impedi-la de se atirar contra Lind. Não era apenas uma desculpa que eu inventei na hora — era como eu realmente me sentia. 

Mas, como resultado, estendi os termos da nossa parceria temporária. A parte lógica do meu cérebro deduziu que as chances de sobrevivência dela aumentavam se ela estivesse em uma grande guilda, mas eu simplesmente não consegui dizer a ela que precisávamos separar a equipe. Eu ainda não sabia por que as palavras ficaram presas na minha garganta.

De qualquer forma, eu tinha que assumir a responsabilidade pela minha declaração. Eu tinha que torná-la mais poderosa, dedicar-me ainda mais a essa tarefa. Eu tinha que ensiná-la mais, não apenas sobre seu movimento em batalha, mas também sobre suas estatísticas, os tipos de equipamentos e outros conhecimentos do jogo. 

Aquele dia marcava uma semana desde que formamos equipe no segundo andar, e durante esse tempo, mantive uma postura simples: Se ela perguntasse, eu respondia. Repetidamente, ela exigia saber por que eu não havia dito algo antes. Talvez fosse minha resignação ao papel de instrutor. Mas agora era o momento de sair dessa atitude passiva...

Mas, por outro lado, as partes subconscientes da minha mente lutavam com algo completamente diferente: as ações misteriosas de «Kizmel», a cavaleira NPC. O que ela era, afinal? Era além de óbvio que ela não era uma NPC comum. Seu estilo de conversa natural e ampla gama emocional estavam claramente em um nível mais alto do que os vendedores, guardas e recepcionistas de «Zumfut», e até mesmo os outros elfos negros no acampamento com ela. 

Era como se «Kizmel» pensasse, sentisse e se expressasse, sem os normais constrangimentos dos algoritmos de NPC. Caso contrário, ela nunca teria seguido ousadamente Asuna e eu até a cidade humana, tão longe de sua base.

Se ela não era uma NPC normal, havia duas possibilidades. Uma: Por algum motivo desconhecido, «Kizmel» recebeu uma IA altamente funcional, em vez dos simples bots de chat que apenas respondiam a um conjunto de palavras-chave. Duas: Também por algum motivo desconhecido, «Kizmel» era na verdade uma jogadora. Ou, para ser mais preciso, uma role-player humana que estava atuando como o personagem de um elfo negro.

Ambas eram difíceis de acreditar. Eu queria acreditar que a última não era o caso. Se isso fosse verdade, a pessoa por trás de «Kizmel» não era uma prisioneira de SAO, mas alguém alinhado com aqueles que haviam conspirado para transformar isso na armadilha atual... um dos administradores. Não havia como «Kizmel» ser Akihiko Kayaba, mas mesmo que fosse um cúmplice dele, eu não conseguia ver como eles poderiam nos ajudar sinceramente a avançar no jogo. Talvez eu devesse considerar a possibilidade de que ela estava planejando nos levar para algum tipo de armadilha à frente...

…...!

Balancei a cabeça vigorosamente para dissipar essa ideia sombria. Eu não queria desconfiar de «Kizmel». A última coisa que eu queria era imaginar que a tristeza sincera enquanto ela lamentava no túmulo de sua irmã «Tilnel» era apenas um ato cínico.

Olhei para cima e fixei o olhar nas costas da espadachim à minha frente e à direita. Eu tinha que proteger a Asuna, torná-la mais forte. Forte o suficiente para que, se eu morresse, ela pudesse sobreviver a este mundo perigoso sozinha. Essa era minha responsabilidade agora que eu escolhi não separar nossa equipe.

Mas e se «Kizmel» realmente estivesse nos levando para uma armadilha? Se houvesse até mesmo uma pequena chance de que isso fosse verdade...

— Kirito.

Veio uma voz à minha esquerda. Olhei para cima surpreso e cruzei os olhos com a elfa negra. A consternação e a preocupação em seu rosto eram tão naturais que senti vergonha pela minha desconfiança, e meu desejo de descobrir a verdade sobre ela cresceu ainda mais. 

— Você tem estado em silêncio por um bom tempo. Há algo de errado?

— Ah, não é nada. Só pensando….

— Ahh. Às vezes é melhor falar suas preocupações em voz alta e se livrar do peso delas.

Asuna virou-se e acrescentou.

— Isso mesmo. Percebi recentemente que você é o tipo de pessoa que fica deprimido sozinho porque pensa demais em tudo. Apenas fale antes que tenha ideias idiotas.

— Bem, isso é... verdade, eu suponho...

Olhei ao redor sob seus olhares penetrantes, mas não havia escapatória. Ainda assim, não consegui dizer as coisas que estava pensando. Em vez disso, coloquei um sorriso constrangido e pensei em uma desculpa ruim. 

— Só estava pensando, vocês duas são tão fortes e úteis de se ter por perto...

— O que, exatamente, fez você pensar tanto sobre isso?

— Ah, só, hum, pensando, eh... qual de vocês eu gostaria de ter como esposa...

Espera. Apaga isso. volte no check-point. 

Meus olhos procuraram desesperadamente pelo botão de LOAD. Asuna me olhou com total descrença, depois respirou fundo e gritou.

— Você é realmente tão estúpido?!

Enquanto isso, «Kizmel» resmungou em compreensão sem piscar um olho. 

— Desculpe, Kirito. Isso exigirá permissão de Sua Majestade.

Ela disse, com um rosto totalmente sério. 

— N-Não, está perfeitamente bem.

Eu a tranquilizei, balançando a cabeça e as mãos. Minha mente imediatamente desceu por um túnel escapista — em vez de MMOs, talvez eu devesse ter jogado aqueles jogos com todas as escolhas românticas. Um adolescente que amava visual novel de namoro não teria se metido nessa situação. Talvez houvesse realmente um mercado para jogos de romance com imersão total e riscos mortais. Mas o que seria necessário para morrer em um jogo assim?

Asuna me tirou desse espiral feio com um frio — Estamos aqui.

Eu quase perguntei onde era isso, até lembrar que nossa pequena jornada tinha um destino final.

À frente, a espessa floresta se abria, e bandeiras triangulares podiam ser vistas ondulando na névoa que se dissipava. Era a visão familiar da base dos elfos negros. 

Segurando um suspiro de alívio próprio, decidi esquecer a exibição vergonhosa que eu havia feito há um minuto e acelerei o passo para alcançar as garotas. 

No final das contas, deixei tanto a luta quanto a navegação para as outras duas. Era difícil não sentir que meu valor havia caído durante a viagem de «Zumfut» ao acampamento, mas se havia algo que eu aprendi, era que nada de bom vinha de ficar se lamentando sozinho. 

Seja «Kizmel» uma IA ou humana, isso não muda o fato de que a ajudamos e ela nos ajudou. Eu queria estar perto de «Kizmel» o máximo de tempo possível — e eu estava certo de que Asuna concordava com isso. Isso era tudo que eu precisava por agora. 

Se o progresso continuasse de acordo com o desafio de Kibaou à multidão, a batalha contra o boss do terceiro andar aconteceria em seis dias: 21 de dezembro. Até lá, conseguiríamos realizar o máximo possível usando este acampamento como nossa base. Continuaríamos com a missão da campanha, adquiriríamos novas armaduras e as atualizaríamos, aumentaremos nossa proficiência em habilidades e obteremos informações. Havia uma montanha de tarefas a serem cumpridas. 

Quando passamos pelo estreito cânion de névoas mágicas e entramos no acampamento, respirei um longo gole de ar com um cheiro estranho e disse a mim mesmo que era hora de começar a trabalhar.

 

CONTINUA NA PARTE 6 DIA 20/07


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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