Sword Art Online Progressive Japonesa

Tradução: slag

Revisão: Shisuii


Volume 2

CONCERTO DE PRETO E BRANCO - TERCEIRO ANDAR DE AINCRAD, DEZEMBRO DE 2022 (PARTE 3)


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


3

MEUS OLHOS SE ABRIRAM TÃO REPENTINAMENTE QUANTO UMA BOLHA ESTOURANDO na superfície da água.

Ainda era noite; o único som era o dos insetos. O alaúde que tocava enquanto eu adormecia não estava mais lá, e nem as vozes e passos dos soldados, ou o martelar da bigorna do ferreiro.

Fechei os olhos, pensando em voltar a dormir, mas em poucos segundos, estava totalmente acordado.

Abandonando minha tentativa de descansar, sentei-me. Do outro lado da tenda, a esgrimista dormia profundamente, sua postura impecável. Mas eu não vi «Kizmel» no espaço entre nós, onde ela deveria estar.

Depois que minha parceira temporária terminou seu banho, eu entrei para o meu e estava fora da água após a contagem de cem. Felizmente, nenhum de nós havia desenvolvido orelhas pontudas depois de usá-la. Fomos até a tenda de jantar com os surpreendentemente amigáveis soldados elfos e jantamos pão levemente assado, frango assado, sopa de legumes e frutas. Quando voltamos à tenda de «Kizmel», senti-me altamente satisfeito.

Encontramos a dona da tenda já enrolada nos cobertores e dormindo pacificamente. No momento em que vi isso, toda a minha fadiga anterior voltou, e nós dois silenciosamente tomamos nossos cantos da tenda e deitamos nas peles. Lembro-me de puxar um cobertor próximo até o queixo, e nada depois disso.

Minha janela de menu dizia que eram duas da manhã. Não é de se admirar que eu me sentisse acordado — tive um sólido sono de sete horas. Tomando cuidado para não fazer barulho, fechei a janela e saí dos cobertores.

Quando passei pela aba pendurada da tenda, as lâmpadas noturnas do acampamento estavam quase todas apagadas, deixando a área iluminada pelo pálido luar. Uma rápida olhada ao redor não mostrou ninguém em movimento, exceto por dois sentinelas marcando as paredes.

Então, onde «Kizmel» poderia ter ido? Talvez adiante para a próxima missão sozinha? Sacudi a cabeça — um NPC não seria tão independente, e sua barra de HP listada ao lado da de Asuna e da minha ainda estava cheia.

Pensei sobre isso, então decidi ir a única parte da base dos elfos negros que eu ainda não havia visitado: atrás da tenda do comandante, no fundo da clareira.

O luar em Aincrad era brilhante o suficiente em qualquer lugar aberto ao céu para facilitar a caminhada. A própria lua estava fora de vista, a menos que você estivesse perto do perímetro externo, é claro, então sua luz refletia na parte inferior do andar acima, mas isso apenas dava ao brilho azul uma beleza ainda mais sobrenatural.

Dirigi-me ao leste, contornando a grande tenda do comando, e parei quando o espaço atrás dela apareceu à vista.

Era um pequeno trecho com gramado e uma única árvore. Lembro-me de ser um espaço completamente vazio e morto no beta. Mas agora havia três novos objetos sob os longos galhos da árvore. Três simples, mas belas, lápides esculpidas em madeira.

A mulher que eu estava procurando estava de pé diante da lápide mais à esquerda. Ela estava usando uma túnica e calças justas agora — não a roupa de baixo de antes, mas ainda sem sua armadura característica. Ela estava cabisbaixa, olhando para a base da lápide. À luz do luar, seu cabelo roxo-fumê brilhava lilás.

Depois de alguns segundos de hesitação, aproximei-me lentamente, parando a alguns metros de distância. A cavaleira elfa negra notou meus passos e olhou para mim.

— Kirito. O amanhã será difícil se você não descansar. 

Ela sussurrou.

— Dormi melhor do que normalmente durmo. Obrigado por nos deixar usar sua tenda.

— Não me importo. É grande demais para mim sozinha.

Ela respondeu, então olhou de volta para a lápide.

Dei mais dois passos e examinei a marca. Havia pequenas palavras esculpidas em sua superfície fresca e inacabada. Eu estreitei os olhos e distingui o nome «Tilnel».

— «Tilnel»…?

Eu disse em voz alta e percebi que soava muito semelhante em ritmo a «Kizmel». Ela fez uma pausa, então disse.

— Minha irmã. Ela perdeu a vida na primeira batalha depois que descemos para este andar no mês passado.

A frase "descemos para este andar" indicava que os elfos negros — e provavelmente os elfos da floresta também — entendiam que o castelo flutuante Aincrad era composto de numerosos andares empilhados. Além disso, eles podiam usar seus encantos mágicos para contornar o sistema de escadas de labirinto e portões de teletransporte da cidade. Talvez seu alcance de movimento fosse limitado deste andar até o nono.

Eu tinha esse conhecimento básico dos elfos desde o beta, quando completei a missão da campanha pela primeira vez. Mas eu estava tão preocupado em avançar no jogo mais do que qualquer outra pessoa na época que nunca me ocorreu que a batalha entre os elfos pudesse se relacionar com o próprio mundo do jogo.

Fui tomado por um súbito desejo de perguntar a «Kizmel» como Aincrad surgiu, mas contive-o com uma lufada de ar fresco da noite. Não era justo fazer uma pergunta tão importante enquanto Asuna estava ausente, e este não era o momento certo para perguntar, de qualquer forma.

Em vez disso, perguntei sobre a falecida irmã de «Kizmel».

— «Tilnel» era… uma cavaleira também?

— Não. Minha irmã era uma herbalista. Seu trabalho no campo de batalha era cuidar dos feridos. Ela nunca carregava nada maior que uma adaga. Ela estava na retaguarda quando os falcoeiros dos elfos da floresta nos emboscaram por trás…

……..

Fiz uma careta e prendi a respiração. Os Falcoeiros Elfos da Floresta eram os piores mobs no terceiro andar, depois dos bosses e inimigos de eventos. Os elfos negros tinham seus próprios Manipuladores de Lobos Elfos Negros, mas os falcoeiros eram o maior perigo, dado que podiam atacar de terra e ar simultaneamente.

Como ela escolheu interpretar meu silêncio, o perfil tenso de «Kizmel» relaxou um pouco.

— Não tenho cadeiras ou cobertores, mas você deveria se sentar. Não há necessidade de ficar em pé.

— Hum… claro.

Sentei-me ao lado dela. A grama espessa e macia deste pequeno cemitério sustentava meu peso com facilidade.

A cavaleira pegou uma bolsa de couro ao lado dela, puxou a rolha e tomou um gole, então me passou. Agradeci e aceitei a bebida, temporariamente esquecendo que estava interagindo com um NPC e não com outra pessoa.

Quando pus meus lábios na bolsa, um líquido espesso inundou entre eles. Era levemente doce e azedo, e quando terminei, havia uma queimação como álcool no fundo da garganta que parecia fresca e fria.

Devolvi a bolsa. «Kizmel» segurou-a sobre a lápide e despejou o resto do líquido sobre a lápide de «Tilnel».

— Este era o favorito dela: vinho de lágrima lunar feito de ervas lágrima lunar. Eu trouxe um pouco do castelo, esperando levar para ela. No final, ela nunca tomou um gole…

A bolsa vazia escorregou de sua mão e caiu levemente na grama. «Kizmel» se agachou, alinhando os joelhos juntos e os abraçando com força.

— Quando aceitei a missão de recuperar a Chave de Jade ontem, estava preparada para morrer. Parte de mim pode ter esperado por isso. No melhor dos casos, poderia ter derrubado aquele elfo da floresta comigo, caso contrário, simplesmente teria perdido… Mas o destino ajudou você a me guiar para longe da minha morte. E depois de eu ter jurado que nenhum deus existia neste lugar amaldiçoado…

«Kizmel» olhou para mim. Notei que seus olhos de ônix estavam úmidos e fiquei sem saber como reagir. «Kizmel» e sua irmã «Tilnel» eram residentes deste mundo, arriscando suas vidas pelo bem de seu povo, e eu não passava de um visitante temporário, um estranho…

Mas, na verdade, isso não era mais o caso. Asuna e eu estávamos presos neste jogo agora. Assim como «Kizmel», tínhamos apenas uma vida para dar. E ainda assim, quando nos inserimos na luta entre ela e o cavaleiro elfo da floresta, eu tolamente descansei nos meus louros, convencido de que, uma vez que estivéssemos meio mortos, o elfo negro se sacrificaria para nos deixar vencer.

Foi errado de minha parte sacar minha espada com essa mentalidade. Quer soubesse o que aconteceria ou não, deveria ter lutado com toda a minha habilidade. Para proteger minha própria vida, a de Asuna e «Kizmel».

Reprimindo uma súbita onda de arrependimento, disse.

— Não foram os deuses. Asuna e eu estávamos lá por vontade própria. Ficaremos com você até o fim. Até você voltar para casa.

A cavaleira elfa negra sorriu.

— Nesse caso, farei o meu melhor para proteger vocês. Até nossos caminhos se separarem.

 

🗡メ

 

Quinta-feira, 15 de dezembro de 2022.

«Kizmel», a cavaleira elfa negra de nível 15; Kirito, o espadachim de nível 14; e Asuna, a esgrimista de nível 12 e membro temporário do grupo, deixaram o acampamento base para uma nova aventura.

A noite ainda não havia terminado. Eram três da manhã, e as árvores da floresta dormiam tranquilamente ao pálido luar. Quando «Kizmel» e eu voltamos da vigília no cemitério, encontramos Asuna acordada, totalmente embalada e pronta para partir.

Quando a esgrimista me viu sem minha arma ou armadura, ela parecia irritada e se perguntava por que eu havia saído se não era para me preparar para a viagem. Quando fui seguido para dentro da tenda por «Kizmel» em suas roupas íntimas finas, o olhar de Asuna ficou completamente gelado. Minha única escolha foi alegar que estava pronto há horas.

Asuna continuamente me lançava olhares céticos enquanto caminhávamos pela clareira do acampamento, mas apenas até passarmos pelo estreito desfiladeiro de volta à «Forest of Wavering Mists». A vista era ainda mais fantástica agora que as árvores cobertas de musgo e as névoas baixas e espessas estavam iluminadas pelo pálido luar azul.

Eu havia visto exatamente a mesma coisa meses antes, mas não pude deixar de suspirar com sua beleza. Asuna ficou completamente maravilhada. Ela sussurrou: — É deslumbrante, — e não se moveu por mais trinta segundos.

«Kizmel» esperou silenciosamente junto comigo, embora não fosse a primeira vez que me surpreendia com o seu comportamento. Seria um comportamento perfeitamente normal para um NPC esperando a reação dos jogadores, mas parecia para mim que ela estava escolhendo levar seu tempo e respeitar o sentimento de admiração de Asuna.

Quando minha parceira voltou a si, a cavaleira falou suavemente.

— Ela também amava a floresta noturna… Vamos, vamos partir.

 

🗡メ

 

A missão dada a nós pelo comandante após completarmos a "Chave de Jade" foi intitulada "Derrotar as Aranhas".

A floresta estava infestada de aranhas venenosas que sabotavam as missões de patrulha, então nosso trabalho era encontrar o ninho.

Eu já havia feito essa missão antes, é claro, mas a localização do ninho era gerada aleatoriamente, então minha memória não seria útil aqui. Nós apenas tínhamos que percorrer a floresta, lutando contra aranhas até localizar a fonte delas.

O veneno seria uma ameaça constante nesta missão. O veneno causador de dano era o efeito de status mais comum entre os muitos efeitos negativos em SAO. O "veneno fraco" de nível 1 e o "veneno leve" de nível 2 não eram um grande problema — desde que você estivesse preparado para lidar com eles.

Certifiquei-me de perguntar a Asuna enquanto caminhávamos pela floresta:

— Quantas poções de antídoto você tem?

— Hmm… — Ela abriu sua janela com um som de campainha. — Três na minha bolsa, dezesseis no inventário.

— Mais ou menos o mesmo que eu. Isso será suficiente.

Algo me chamou a atenção. Ao contrário dos cristais de cura, as poções não podiam ser usadas em outras pessoas. Então, se «Kizmel» fosse envenenada, ela teria que usar sua própria poção para se recuperar…

Virei-me para a cavaleira elfa, que estava atrás de nós. 

— Hm, «Kizmel»? Você tem alguma poção de antídoto…?

— Eu tenho algumas, para o caso, mas não preciso delas. Eu tenho isto.

Ela comentou com o que parecia ser um toque de orgulho, mostrando sua mão direita com uma luva de couro apertada. Havia um anel colocado diretamente sobre a luva em seu dedo indicador. A pedra preciosa brilhava intensamente, apesar da luz fraca — verde, como uma poção de antídoto…

— Que tipo de anel é esse?

— Recebi junto com minha espada de Sua Majestade quando fui nomeada cavaleira. Ele me permite usar um encantamento purificador a cada dez minutos.

— U…

Uau!! Eu quase deixei a palavra escapar. Em todo o meu tempo no jogo, eu nunca tinha visto ou ouvido falar de um acessório que permitisse a cura ilimitada de veneno — mesmo com um tempo de recarga. Se funcionasse contra o "veneno letal" de nível 5, seria um item de elite da mais alta qualidade.

«Kizmel» tossiu de maneira constrangida, percebendo o desejo estampado no meu rosto.

— Eu não posso te dar, por mais que você queira. Além disso, este anel utiliza o pouco de magia que resta no sangue de «Lyusula», então suspeito que vocês, humanos, não conseguiriam usá-lo.

Você suspeita? Eu quase perguntei, mas me contive.

— Por que diz isso? Eu não quero seu anel. Estou apenas verificando se você está preparada para lidar com veneno.

Eu disse negando qualquer cobiça da minha parte. Asuna sorriu.

— É verdade. Você é um garoto, então nunca se rebaixaria a exigir um anel de uma garota.

— C-Claro... Espere, está dizendo que o contrário seria possível?

Resmunguei. O sorriso de Asuna desapareceu.

— Eu não disse isso! Quando foi que eu te pedi um anel?

— E-Eu não me referi especificamente a você!

Paramos de andar e nos encaramos furiosamente. A cavaleira elfa olhou preocupada.

— Kirito, Asuna. Odeio interromper a conversa, mas — Grrr. — Algo está se aproximando. Pelo som dos passos, não é elfo, nem humano, nem besta.

Grrrrr.

— São dois, vindo da frente e da direita. Deixo o da frente para vocês.

Grrr…rr?

Asuna e eu paramos de nos encarar e olhamos na direção em que estávamos indo. Uma sombra estava se movendo em alta velocidade entre as árvores. Ela só chegava até nossas cinturas, mas era muito larga. Muitas pernas finas se mexiam rapidamente, deslizando pelo chão.

Em um segundo, um cursor apareceu, entre rosa e vermelho. O nome abaixo da barra de HP dizia ARANHA DO MATO.

— Prepare-se para a batalha, Asuna!

Eu chamei, sacando minha espada e me preparando para a luta. Asuna já tinha seu «Wind Fleuret» em mãos. Esta missão era uma oportunidade para reunir mais materiais para forjar uma nova espada no acampamento, significando que era a última vez que a parceira de batalha que ela usava desde o primeiro andar brilharia.

— Seu único ataque direto é uma mordida, mas cuidado com o fio que ele lança da parte traseira — isso vai te retardar!

— Entendido!

Ela gritou de volta, então me lançou um olhar sujo. Eu me perguntei por que ela estava brava desta vez, então percebi minha escolha inadequada de palavras.

— D–Desculpe! Eu não deveria ter dito parte traseira! Não é uma traseira, mas mais uma, hm…

— Pare de dizer essa palavra!

Asuna desviou habilmente dos dentes venenosos da aranha que avançavam contra nós, então lançou um furioso «Linear» no olho gigante dela.

Os dentes venenosos e o fio pegajoso não eram para ser desprezados, mas a Aranha do Mato era um dos mobs do tipo inseto mais fáceis até aquele ponto. Ela não voava nem fugia, e sua pele não era protegida por uma carapaça dura. Todos os seus ataques eram simples e diretos, então era fácil cronometrar quando trocar os jogadores para os combos.

Asuna reduziu cerca de 40% do HP da aranha com habilidades de espada e ataques regulares, então recuou e olhou para mim. Eu notei seu contato visual e me preparei para entrar na luta. Se isso estivesse em um campo aberto, em vez de na floresta, Asuna poderia lidar com a aranha sozinha, mas os fios que a aranha disparava da parte traseira duravam cerca de um minuto, o que diminuía gradualmente o espaço disponível para lutar à medida que a batalha avançava. 

Era sempre possível mover-se para um local novo sem teias, mas havia o risco de encontrar mais mobs no caminho — sem mencionar os ents que pareciam árvores velhas e secas.

A Aranha do Mato avançou com um chiado muito típico de aranha — pelo menos, no que se refere a aranhas de videogame. Asuna lançou um «Oblique», uma habilidade de estocada baixa. Seu alcance era menor do que o «Linear», mas com o peso do usuário por trás, o poder era maior. Sua espada atingiu os grandes dentes da aranha, e ambos foram lançados para trás com um efeito visual chamativo.

— Switch!

Eu gritei, atingindo a grande aranha em sua parte traseira macia. Foi apenas um golpe normal, mas acertei bem no ponto fraco da extremidade produtora de fios, e ela se virou com um grito de dor. O conjunto de olhos na frente de sua cabeça me encarou, a mandíbula venenosa funcionando furiosamente.

A Aranha do Mato era uma das menores aranhas desse tipo, mas ainda era uma visão ameaçadora, com vários pés de comprimento de perna a perna. Qualquer pessoa com medo de aranhas sofreria um enorme debuff mental, se eu tivesse que adivinhar. 

Eu estava acostumado a aranhas de todos os tamanhos, dos terrenos do santuário perto da minha casa de infância — até mesmo já tinha ficado preso de cara na teia de uma aranha amarela uma vez —, então isso não era algo grande o suficiente para me afetar no combate, mas eu estava surpreso com o quão bem a urbana e meticulosa Asuna estava lidando com a aranha gigante.

Fiquei tão envolvido com a maravilha daquele último pedaço que olhei de relance e encontrei seu olhar esperando apenas por um segundo. Como se esperasse por esse momento, a aranha atacou. As oito pernas cinzentas e peludas se tensionaram, e ela saltou no ar. Se seu ataque de salto conseguisse causar o status de Tontura, eu acabaria sendo mordido várias vezes por suas presas venenosas, então evitar era a prioridade máxima.

— Fwah…

Devido à minha reação tardia, eu sabia que não conseguiria me desviar ou contra-atacar com uma habilidade de espada pesada a tempo, então caí de costas, esperei um milissegundo e então chutei com toda a minha força. A ponta da minha bota brilhou em amarelo e balançou em um semicírculo pelo ar: «Gengetsu», uma habilidade de chute das artes marciais. Era para ser usada em pé, em um salto mortal para trás, mas desde que o movimento estivesse correto, você poderia executá-la deitado.

Então a habilidade era conveniente para lançar enquanto eu estava deitado de costas, mas havia uma desvantagem séria: se eu errasse, seria atingido com status de Tontura e atraso de movimento. Felizmente, valeu a pena a aposta assustadora, pois meu pé atingiu a aranha voadora diretamente na base de uma de suas pernas. Com um baque satisfatório, a aranha foi arremessada, girando pelo ar.

O seguimento do chute me fez voltar de pé. Eu me virei para ver a aranha de cabeça para baixo na base de uma árvore próxima, suas pernas debatendo-se no ar vazio. Inimigos insetos sem asas geralmente eram lentos para se recuperar de uma queda, então eu calmamente e cuidadosamente segurei minha «Anneal Blade» na altura da cintura. A lâmina escura adquiriu um brilho azul brilhante, e meu corpo disparou para frente.

— Ryaa!

Eu saltei, espada cintilando. A lâmina balançou horizontalmente da esquerda para a direita, diretamente através da barriga saliente da Aranha do Mato. Assim que passou, meus pulsos se viraram e reverteram o caminho da direita para a esquerda para completar o «Horizontal Arc», uma habilidade plana de duas partes.

Seu ponto fraco foi atingido profundamente de duas direções, a aranha venenosa voou pelo ar, lançando líquido verde, e caiu de cabeça para baixo novamente, com as pernas enroladas desta vez. Seu grande corpo explodiu em incontáveis fragmentos.

O ataque me deixou inclinado para frente, espada estendida para a esquerda e à minha frente. Eu lentamente me levantei, balançando a lâmina para a esquerda e direita antes de devolvê-la à bainha nas minhas costas. Quando me virei, Asuna estava me olhando, então instintivamente levantei a mão para um high five.

Ela não esperava essa reação nem um pouco e parecia desconfortável por um momento, mas foi gentil o suficiente para não me deixar no vácuo. Depois do high five, ela não perdeu tempo em vir atrás de mim.

— Você estava se distraindo durante aquela batalha, não estava?

— S-Sim.

— O que você estava pensando?

Parei para considerar minha resposta sob seu olhar severo, então me lembrei que estava surpreso com o quão bem ela lidava com a aranha gigante. No entanto, se mencionar isso em voz alta ou não era outro dilema.

— Descuidos, mesmo contra inimigos fracos, levarão ao desastre, Kirito.

Veio uma voz da minha direita. «Kizmel» estava parada ao lado, braços cruzados, tendo derrotado a outra Aranha do Matagal bem antes de Asuna e eu terminarmos. Como Asuna, seu rosto estava sério. Parecia que eu estava sendo repreendido tanto por uma colega de classe quanto por uma professora ao mesmo tempo. Eu tinha que dar uma desculpa.

— Eu-eu não estava sendo descuidado, estava apenas pensando...

— E é sobre isso que estou perguntando.

— Uhh...Umm… — Nada conveniente me vinha à mente, então não tive escolha a não ser revelar a verdade. — Eu estava pensando que é surpreendente você não ter problemas com as aranhas e vespas e tal...

— Hã?! Você realmente estava perdendo tempo pensando nessa bobagem?!

— S-Sim.

Admiti. Suas sobrancelhas bem delineadas se arquearam com desagrado por um momento, então ela suspirou.

— Uma vez que são tão grandes, os insetos não são diferentes dos animais selvagens. Não posso perder tempo tendo medo de como os mobs se parecem.

— Ah, entendi.

Ela balançou a cabeça em exasperação, e «Kizmel» riu suavemente. Virei-me surpreso para a elfa negra e a vi olhando para a pequena espadachim com ternura nos olhos.

— Isso é muito reconfortante. Minha irmã «Tilnel» também não se esquivava de mobs corpóreos, fossem eles insetos ou lodos...

Ela terminou em nada mais que um sussurro. Asuna e eu desviamos o olhar educadamente. Asuna não tinha visto o túmulo de «Tilnel», mas eu secretamente contei a ela sobre a irmã de «Kizmel» enquanto caminhávamos pela floresta.

Quando notou nossas expressões, «Kizmel» se desculpou por ter mencionado isso, então levantou a mão para mudar o assunto.

— Qual é o significado daquele gesto que você acabou de fazer?

Ela perguntou, acenando a mão para frente. Pensei sobre isso — seria certo explicar para «Kizmel», uma NPC do mundo de SAO, o significado de um high five do mundo real? Antes que eu pudesse chegar a uma conclusão, Asuna falou.

— É um gesto humano para se parabenizar pelo esforço.

Ela levantou sua própria mão e bateu na de «Kizmel» com muito mais entusiasmo do que se incomodou em fazer comigo, produzindo um estalo satisfatório. «Kizmel» olhou para sua palma e apertou-a, como se saboreasse a sensação.

— Entendo. Nós, elfos, não costumamos tocar nos outros com frequência... mas isso não é desagradável.

Ela levantou a mão novamente e olhou para mim desta vez. Dei a ela um high five caloroso, percebendo que seria estranho recuar agora. Houve outro estalo nítido e um instante de calor na minha mão.

Uma memória inundou minha mente. O primeiro dia deste jogo da morte — parecia história antiga neste ponto. Mas, de fato, foi antes de tudo se tornar mortal. Eu estava pensando na tarde de domingo, 6 de novembro, trinta e nove dias antes, quando meu primeiro amigo em Aincrad, Klein, caçava javalis azuis preguiçosamente comigo fora da cidade inicial, no primeiro andar.

Klein estava lutando com a iniciação de uma habilidade de espada, então eu ensinei a ele os fundamentos do primeiro movimento e bati nas mãos dele quando ele conseguiu matar seu primeiro javali. Essa foi a última vez que tive contato com ele.

Assim que o cruel tutorial de Akihiko Kayaba sobre as novas regras do jogo terminou, eu me dirigi à próxima vila o mais rápido que pude. Deixei Klein, um novato indefeso, na «tower of beginners». Eu o abandonei.

— Kirito?

— O que foi, Kirito?

Voltei aos meus sentidos com um sobressalto. Minha mão ainda estava levantada no ar, então a abaixei e disse.

— Er, n-nada.

Meu sorriso desajeitado não removeu suas expressões preocupadas, mas «Kizmel» logo mudou de assunto.

— Entendo. Vamos continuar. Se seguirmos a direção de onde aquelas aranhas apareceram, devemos encontrar o ninho eventualmente.

— L-Legal. Então isso significa que estamos indo… uh...

— Por aqui.

Asuna disse exasperadamente, apontando para noroeste. Começamos a caminhar novamente, e depois de cerca de trinta passos, Asuna se aproximou de mim para sussurrar no meu ouvido.

— Ei, «Kizmel» acabou de dizer algo sobre mobs 'corpóreos'?

— Eh? Um, sim.

— O que significa que existem mobs neste jogo sem corpos?

— Huh? Sim, como fantasmas e tal?

Perguntei de volta. Ela empalideceu brevemente com a palavra fantasmas.

— Como… tipo isso.

— Hum, não sei… não vi nenhum no beta. Além disso, não sei como você derrotaria um mob sem corpo em um jogo onde você só pode usar espadas...

— Espero que sim.

Eu não tinha certeza do que ela estava esperando, mas Asuna não se deu ao trabalho de elaborar. Ela diminuiu o ritmo para acompanhar «Kizmel». Continuei minha marcha na direção do ninho da aranha.

 

🗡メ

 

Depois de mais quatro batalhas com as Aranhas do Mato e suas primas maiores, as Aranhas do Bosque, ajustando levemente nossa direção após cada encontro, eventualmente avistamos uma pequena colina se erguendo à frente. Destacada contra o lado da colina iluminada pela lua, havia a boca escancarada e negra de uma caverna natural. Eu me agachei na sombra das árvores e vi cerca de quatorze pequenas aranhas (ainda do tamanho de tarântulas reais) correndo ao redor da entrada. 

Este era o ninho de aranhas que estávamos procurando.

— Temos que nos livrar dessas pequenas também?

Perguntou Asuna, olhando para o ninho com irritação.

Eu dei de ombros.

— Não, essas são apenas critters.

— O quê? Eles fazem barulho?

.....?

Eu olhei para cima, confuso. Ela falou com o tom autoritário de uma professora explicando para seus alunos.

— Você não acabou de dizer que era um 'clitter'? Como clitter-clatter? Eles fazem muito barulho?

— Ummm... não. 'Critters' em um MMO são como animais de fundo que não são mobs. Você não pode interagir com eles; eles são apenas para exibição. Como borboletas ou gatos de rua na cidade.

— Sabe de uma coisa? Estou cansada de perguntar sobre cada termo do jogo, então por que você não cria um glossário de gírias para mim?

— Ugh...

Se ela não se importasse em ser enganada, poderia pedir algo assim para a Argo. «Kizmel» riu atrás de nós e murmurou.

— Suas palavras ainda não foram unificadas, parece. Suponho que não seja uma surpresa, pois havia nove nações da humanidade quando a Grande Separação aconteceu.

......

Asuna e eu compartilhamos um olhar.

A "Separação" era um termo que muitos usavam para se referir a um incidente que ocorreu um mês antes. Muitos jogadores sofreram desconexões repentinas e ficaram em um limbo por cerca de uma hora antes de voltarem ao jogo. Quando ficou claro que todos os jogadores seriam desconectados dessa maneira, parei meu ritmo frenético de evolução por um tempo e esperei em um quarto de hospedaria para não ser pego de surpresa. O fenômeno misterioso causou alarme e caos a princípio, mas a suposição comum que surgiu foi que nossos corpos estavam sendo temporariamente desconectados para serem transferidos para um hospital adequado.

Mas essa Grande Separação de que «Kizmel» falava devia ser outra coisa. Ela era uma residente deste mundo, não uma jogadora em imersão no NerveGear como eu e Asuna. Deve ter algo a ver com a criação de Aincrad, o castelo flutuante...

Instantaneamente, tive várias perguntas diferentes para fazer a «Kizmel» sobre o assunto, mas ela me interrompeu antes que eu pudesse abrir a boca.

— Venham, vamos investigar a caverna. Precisamos de mais informações concretas para levar ao comandante sobre as aranhas.

De acordo com meu conhecimento cada vez mais inútil do beta, a missão de exterminar aranhas tinha duas etapas. A primeira envolvia encontrar um artigo de um dos batedores elfos negros dentro do ninho e trazê-lo de volta à base. Na segunda parte, tínhamos que voltar à caverna e lutar contra a aranha rainha no segundo nível do ninho.

Então, embora eu soubesse que essa abertura levava diretamente ao ninho da aranha, isso sozinho não atendia aos requisitos da missão. Teríamos que explorar a caverna úmida duas vezes.

— Eu não gosto dessas dungeons naturais.

Asuna resmungou, pisando em uma poça rasa com suas botas de couro. Eu assenti em concordância.

— Se ao menos fosse um pouco mais claro lá dentro...

As dungeons feitas pelo homem, como as grandes torres de labirinto, pelo menos tinham lâmpadas a óleo ou pedras luminescentes nas paredes para manter o interior iluminado. Mas essa caverna estava quase totalmente escura; a única fonte de luz era um musgo muito tênue que emitia um brilho fraco no escuro. 

Para combater a escuridão, Asuna e eu carregávamos tochas em nossas mãos livres, mas elas não iluminavam muito e se apagariam se caíssem na água. Ainda pior, eu normalmente lutava com uma mão livre, então a diferença fazia tudo parecer errado na batalha. Ainda assim, era melhor do que ser um usuário de escudo que tinha que ficar sem essa defesa valiosa. E guerreiros com armas de duas mãos nos esbofeteariam por sermos mimados — eles tinham que encontrar um ponto seco no chão para largar a tocha antes de poderem lutar.

Felizmente, nesta situação, tínhamos «Kizmel» com sua habilidade especial élfica de ver no escuro. Ao contrário das aranhas saltadoras na floresta, as do ninho eram aranhas pescadoras rápidas, e a habilidade de «Kizmel» de nos alertar sobre sua presença antes que alcançassem o raio de luz da tocha nos dava tempo suficiente para preparar nossas lâminas.

Procuramos cada sala no primeiro nível da caverna lenta mas constantemente, ocasionalmente encontrando baús com tesouros, ou minérios valiosos que poderiam ser usados para fabricar a próxima arma de Asuna. Quando quase terminamos de mapear todo o andar, Asuna fez uma pergunta tardia.

— Ei, essa dungeon é uma daquelas... coisas de instância? Ou é...?

— Acho que o antônimo de uma dungeon instanciada seria uma dungeon pública. Esta é do tipo pública. — Sussurrei baixinho no ouvido de Asuna, com medo de que, se «Kizmel» ouvisse, ela nos daria outra palestra sobre a linguagem fragmentada da humanidade. — A razão pela qual sei que é pública é porque há outras missões que usam esta dungeon além da nossa.

— Oh? Como o quê?

— Bem, há uma missão de encontrar um animal de estimação na próxima vila após a floresta, e outra na cidade principal do...

Minha boca se fechou com um estalo. O rosto iluminado pela luz laranja de Asuna me olhou curiosamente, e eu desviei o olhar para olhar para trás.

O caminho que percorremos estava quase completamente escuro, sem uma alma à vista... mas eu acabei de ouvir algo? Um leve, breve arranhar de metal?

— Ei, o que há de errado?

— Quantas horas estamos no terceiro andar, Asuna?

— Depois de todo o sono que tivemos, acho que são cerca de quatorze horas.

— Ugh... droga, é exatamente o horário.

— Horário exato de quê?

Eu me virei para olhar novamente e sussurrei rapidamente.

— Este é o local de uma grande missão que você pode começar na cidade principal. Existem alguns padrões diferentes para a missão, então não é garantido, mas uma porcentagem sólida de jogadores fazendo essa missão virá aqui para um item. Dependendo do tamanho do grupo, pode levar entre dez a quinze horas para eles chegarem até aqui...

Nesse momento, ouvi outro leve clangor de metal. «Kizmel» parou completamente, um sinal de que não era apenas um truque dos meus ouvidos. Ela observou e esperou por um momento tenso, rosto afiado, então se virou para nós.

— Kirito, Asuna — parece que há outros visitantes neste ninho.

— Sim. Deve ser outros pla... guerreiros humanos. Temos razões para evitar encontrá-los, «Kizmel».

— Eu também. — A cavaleira Élfica sorriu e apontou para uma cavidade na parede. — Vamos nos esconder lá por um momento.

— Huh? Como podemos nos esconder com a luz das tochas ao redor?

Asuna perguntou, de olhos arregalados.

«Kizmel» sorriu novamente.

— As pessoas da floresta têm suas próprias maneiras de enganar.

Ela empurrou nossas costas, guiando-nos para a depressão de um metro de profundidade na parede e contra a superfície, depois se pressionando contra nós para nos esconder da vista. Seu peito amplo, estômago apertado e coxas lisas estavam pressionados diretamente contra mim, e eu temia que o código de assédio do jogo disparasse, mas aparentemente isso não se aplicava quando era um NPC iniciando o contato. «Kizmel», é claro, não fazia ideia do que estava passando pela minha mente.

— Apaguem as tochas.

Ela comandou. Eu fiz o que ela disse e joguei minha luz em uma poça no chão. Uma vez que estávamos envoltos na escuridão, «Kizmel» estendeu sua capa para cobrir todos os três.

Curiosamente, enquanto a capa parecia ser tecida solidamente por fora, era translúcida e transparente por dentro. Tudo o que eu podia ver era escuridão, é claro, mas havia luz verde suficiente do musgo do outro lado para saber que a capa não bloquearia minha visão.

Essa não foi a única surpresa para mim. Apesar de não usar a habilidade de «Stealth», sua taxa de ocultação familiar apareceu no lado esquerdo da minha visão. Ainda mais chocante, o número estava em 95 por cento. A capa de «Kizmel» tinha um efeito mágico — ou, encanto — que ativava a habilidade de «Stealth». Entre isso e o anel de antídoto, eu estava ficando muito invejoso.

— O que você estava dizendo antes, Kirito?

Asuna perguntou no menor volume possível, interrompendo minha crise de inveja. Demorei um momento para lembrar do que estávamos falando.

— Ah, certo. As pessoas que vêm por trás de nós estão nessa missão. É a missão de criação de guilda, aquela que os outros jogadores da linha de frente estavam desesperados para começar.

…..!

Seus olhos se arregalaram na escuridão — ela se lembrou. Eu ia continuar, mas «Kizmel» nos deu um aviso primeiro.

— Silêncio. Eles vão passar em breve.

Asuna e eu calamos a boca e engolimos em seco.

Dez segundos depois, ouvimos o barulho de armaduras em movimento. Eu contei pelo menos dois guerreiros fortemente armados, senão três. Havia mais passos, no entanto; o grupo tinha que ser de cinco ou seis no total.

Finalmente, houve um grito áspero, chocantemente alto e descuidado no meio de uma masmorra.

— O que diabos?! Todos os baús já foram saqueados!

Era uma voz muito familiar, uma que parecia que eu havia ouvido apenas minutos atrás. Eu o vi pela última vez há quinze horas, mas algo sobre as circunstâncias — o fato de que eu ainda não havia estado na cidade ou que sua voz retumbante era tão memorável — me fez pensar, — Não você de novo! — O rosto pálido de Asuna fez uma careta na escuridão.

Prendemos a respiração por vários segundos. O primeiro jogador passou por nós, tão perto que podíamos estender a mão para tocá-lo.

Ele usava uma armadura de escamas grossas com um coifa de corrente que cobria toda a cabeça. Estava escuro demais para distinguir a cor de sua túnica e calças, mas seriam verde musgo, sem dúvida. Em suas mãos estavam um escudo redondo e um raro machado de uma mão. Era uma arma rude para a linha de frente, mas ele a girava habilmente em seus dedos.

O próximo homem a passar também tinha um escudo com sua espada, e o terceiro estava sem capacete. Em vez disso, seu cabelo estava modelado em grandes espinhos que faziam sua cabeça parecer uma mace pontiaguda. Seus olhos eram afiados e sua boca estava torcida de desagrado. Ele usava uma couraça de aço e segurava uma espada em uma das mãos.

O nome desse homem era Kibaou, e eu vinha tendo desentendimentos com ele desde a luta contra o boss do primeiro andar. Como um opositor declarado aos ex-beta testers, ele tinha muitos motivos para me odiar, e se me visse aqui na dungeon, sem dúvida teria uma palavra — ou duas, ou três, ou quatro — farpada para mim.

No instante em que passou, os olhos pequenos de Kibaou olharam para a cavidade onde estávamos escondidos, e a porcentagem de ocultação caiu para 90%. Felizmente, não caiu o suficiente para nos revelar. 

Três jogadores mais passaram por ele, seu barulho metálico ficando mais fraco e mais fraco até finalmente desaparecer.

Alguns segundos depois, «Kizmel» se endireitou e retornou sua capa à posição normal. Suspirámos de alívio ao nos levantarmos. Minha parceira parecia preocupada.

— Me senti mais nervosa do que quando enfrentamos mobs.

— Sim. Provavelmente não teria se transformado em uma batalha se eles tivessem nos visto, no entanto. 

Respondi. A cabeça de Asuna balançou, não exatamente um aceno ou uma negação.

— Bem, eles poderiam ter exigido que compartilhássemos o que encontramos nos baús.

— Eu não sei. Não acho que nem ele iria tão longe... Espero...

«Kizmel» se virou para a direção que o grupo havia ido e perguntou.

— Você conhecia algumas dessas pessoas?

— Um, meio que... Não estamos exatamente em termos amigáveis, pode-se dizer...

— Oh? Ouvi dizer que os humanos neste castelo mantiveram uma paz saudável por anos.

— Não chegamos a lutar, claro. E nos ajudamos quando enfrentamos grandes mobs... mas não somos amigos.

Não havia maneira de explicar a diferença entre os antigos betas testers e os jogadores regulares para «Kizmel», então minha explicação teve que ser simples, mas ela pareceu aceitar a história. Ela sorriu fracamente e disse.

— Entendo. Deve ser como a relação entre minha Brigada dos Cavaleiros Pagoda e os Cavaleiros Reais de Sandalwood.

O que ela quis dizer com Pagoda? Perguntei-me. Asuna tagarelava animadamente.

— Oh, que lindo! Suas brigadas de cavaleiros são nomeadas após árvores? Existem outras?

— Há a Brigada dos Cavaleiros Trifoliados, as unidades pesadas. Também não nos damos bem com eles.

— Ahh... Nesse caso, se eu puder escolher, vou com os Cavaleiros Pagoda.

«Kizmel» fez uma careta constrangida.

— Receio que não haja precedente histórico para humanos serem agraciados com a espada de cavaleiro da rainha de «Lyusula». Mas com base em suas conquistas, você pode conseguir uma audiência com ela...

— Sério? Então vamos continuar assim!

Asuna irradiava otimismo. Eu, por outro lado, tinha conhecimento extra que me fazia evitar o olhar dela. No beta, eu tinha seguido esta missão até a cidade dos elfos negros no nono andar, mas foi só até ali. Quando a missão terminou, o portão do castelo permaneceu firmemente fechado...

— Bem, vamos lá!

Asuna borbulhava, já se considerando uma aprendiz de cavaleira. Ela deu tapinhas nas minhas costas. Eu concordei sombriamente e peguei as duas tochas do chão, entregando uma a ela. Deixar tochas caírem na água não afetava sua capacidade de acender novamente, contanto que tivessem pontos de durabilidade restantes. 

Esfregamos elas nas paredes de pedra para reacender a chama, olhamos para dentro do vazio e direcionamos nossos ouvidos na direção que o grupo de seis tinha seguido.

Se a equipe de Kibaou estava tentando a missão para estabelecer sua guilda, eles estavam indo para o segundo nível da caverna. Já tínhamos limpado todas as aranhas do primeiro nível, então eles poderiam estar nas escadas agora. Os mobs lá embaixo seriam mais difíceis, mas não o suficiente para ameaçar um grupo de seis.

Abri minha janela e chequei o mapa. Tínhamos mapeado quatro quintos do primeiro nível, com apenas dois locais restantes. Um provavelmente era a sala com as escadas para baixo, e o outro era a sala com o item que procurávamos. Precisávamos ir para a sala longe da direção que Kibaou estava seguindo.

— Vamos por aqui…

Comecei a dizer, mas então notei «Kizmel» me encarando. Perguntei-me o motivo. Estaria ela confusa com a tela do menu? Ou apenas fingindo não ver?

— Faz muito tempo desde que vi esse charme humano.

— Huh? C-Charme?

— De fato. É a arte do Escriba Místico, um dos poucos encantos deixados para a humanidade depois que sua magia se perdeu, não é? Aquele que permite que você registre conhecimento, até mesmo itens físicos, dentro de seu tomo místico...

Agora que ela mencionava, uma tela roxa brilhante que flutuava no ar com um simples movimento de mão era praticamente mágica, não havia como negar. Assenti em concordância.

— S-Sim, é isso. De acordo com o mapa em meu livro Escriba Místico... esfarrapado, ainda não verificamos esta área...

Atrás de «Kizmel», Asuna tentou conter uma gargalhada diante da minha resposta patética.

Facilmente limpamos as aranhas em uma das duas salas restantes, descobrindo uma luz fraca piscando na parede de trás. Guardei minha espada e me aproximei para encontrar uma decoração de prata esculpida em forma de folha. Na base, havia uma gema branca cintilante como um opala.

Olhei para cima e verifiquei o prendedor da capa de «Kizmel» em seu ombro esquerdo. O design e a coloração eram exatamente os mesmos.

— É a insígnia dos Cavaleiros Pagoda. Deve ter pertencido a um batedor que estava investigando a caverna. O dono não pode estar mais vivo. 

Comentou «Kizmel» sombriamente. Ofereci-lhe o broche, mas ela balançou a cabeça.

— Você deve levar isso ao comandante, Kirito. Devemos retornar para nosso relatório.

— Tudo bem. Vou guardar isso, então.

Coloquei a insígnia em minha bolsa, e uma mensagem passou pela lateral da minha visão, anunciando o progresso da missão.

Quando encontrei essa lembrança do batedor durante o beta após uma longa jornada, o grupo inteiro comemorou triunfalmente. Mas desta vez eu não estava com esse humor. Percebi que desde o momento em que resgatamos «Kizmel» na floresta meio dia antes, meus conceitos mentais de missões e NPCs estavam sutis e constantemente mudando.

Os mobs reapareciam com uma taxa muito maior em dungeons, então as aranhas perto da entrada provavelmente já haviam voltado. Fiquei atento ao som de muitas pernas, tocha em uma mão e espada na outra.

Mas em poucos segundos, o que ouvi não foi o arrastar de mobs, mas os gritos de homens.

— Maldição... Está subindo as escadas!

— Corram, corram! De volta a entrada!

Houve o estrondo de armadura de metal e passos de pânico. Então o grito de um mob muito grande, como madeira morta rangendo e estalando.

— Ninguém disse nada sobre uma aranha tão gigante! O que diabos está acontecendo?!

Berrou Kibaou. A irritação em sua voz anterior havia sido amplificada para o pânico. Voltei-me para minhas duas companheiras para discutir.

— O que dever—

— O que devemos fazer, Kirito?!

— Deixo essa decisão em suas mãos!

— Devem—

Eu nunca me voluntariei para ser líder do grupo! lamentava internamente, mas já era tarde demais para isso. Agora eu tinha que decidir como responder a essa reviravolta inesperada.

Idealmente, nos esconderíamos, o grupo de Kibaou conseguiria escapar com sucesso, e a aranha gigante voltaria para o segundo nível da caverna assim que perdesse seu alvo. Mas a probabilidade de todas essas coisas acontecerem era baixa. 

As ágeis aranhas pescadoras já deviam ter reaparecido na entrada, então o grupo de Kibaou não teria muita chance de sair da floresta em segurança. No pior cenário, eles poderiam acabar presos dos dois lados. A aranha tão gigante devia ser a rainha das aranhas, boss da dungeon, então essa seria uma situação terrível.

A próxima melhor escolha seria o grupo de Kibaou parar de correr e enfrentar a rainha. Pelo que lembrava, não seria tão difícil para um grupo de seis por volta do nível 10 derrotar a aranha sem baixas. Mas isso pressupunha que todos estivessem calmos e lidando adequadamente com seus ataques especiais. «O Esquadrão de Libertação de Aincrad» de Kibaou era firme em sua negação de todos os betas testers, então nenhum deles teria qualquer conhecimento prévio deste mob desconhecido.

Esse processo de pensamento levou dois segundos. Passei mais meio segundo olhando para o rosto tenso de «Kizmel».

Independentemente de nos darmos bem com Kibaou ou não, seu grupo era uma força inestimável para alcançar nosso objetivo comum. Não podíamos ignorar sua situação, mas também hesitava em me intrometer diretamente. Não havia como saber como eles — especialmente Kibaou — reagiriam quando a batalha terminasse e eles notassem «Kizmel».

Eles poderiam não atacar diretamente, mas senti uma forte aversão em deixá-los vê-la. Ultimamente, eu vinha tentando não deixar termos como NPC ou jogo serem mencionados na presença dela.

— Deixaremos eles passarem e pararemos a aranha enquanto ela os persegue. Se conseguirmos levá-la para aquela sala grande ali, teremos espaço suficiente para lutar.

Eu disse rapidamente. Asuna e «Kizmel» me encararam. Havia pensamentos diferentes por trás dos pares de olhos castanho-avelã e preto-ônix, mas ambas as mulheres concordaram antes que eu precisasse gastar segundos valiosos tentando entender o que pensavam.

— Tudo bem. Você pode liderar o caminho.

— Se decidiu lutar, eu seguirei.

«Kizmel» era uma coisa, mas a concordância de Asuna me pegou um pouco de surpresa. Não havia tempo para perguntar o porquê, no entanto; tinha que consultar meu mapa mental da caverna e estimar a rota de Kibaou.

— Por aqui!

Balancei minha tocha e comecei a correr atrás do som dos passos.

Em apenas dez passos, o corredor se intersectou com um largo caminho transversal. O grupo de Kibaou deveria descer por aquele caminho da esquerda para a direita, com a aranha rainha em seus calcanhares. Assim que os jogadores passassem, chamaríamos a atenção dela e a puxaríamos de volta para a sala onde estava a lembrança do batedor. O grupo continuaria correndo até a entrada, talvez encontrando algumas aranhas menores perto da entrada, mas convencidos de que tinham escapado da rainha.

Nos recostamos em outra concavidade na parede, a tocha de Asuna ainda acesa mas a minha apagada. Esperei na escuridão mais densa, cronometrando quando avançar. O método ideal para enfrentar mobs de pesca era através de uma habilidade de provocação ou jogando facas, mas eu não tinha nada disso à minha disposição ainda — minha única opção era balançar minha espada na interseção e pegar a rainha conforme ela passasse. E porque precisaria recuar imediatamente, não poderia usar uma habilidade de espada com um atraso de movimento depois dela.

Segurei minha «Anneal Blade» e ouvi novamente os gritos do grupo.

— É uma interseção! Qual caminho é a saída?!

— Nós acabamos de passar por aqui! Segue em frente, em frente!

Seis pares de passos metálicos se aproximaram. Encostei minhas costas na parede, observando a interseção com foco total a cinco metros de distância.

Dois segundos depois, um grupo de homens correu pela minha visão. O homem à frente ainda girava casualmente seu machado, mas os outros pareciam desesperados. Quando se está fugindo de um inimigo perigoso, os tipos levemente armados sempre se afastam dos mais lentos e pesados, mas a liderança de Kibaou mantinha sua equipe bem unida.

Assim que o grupo passou correndo, ouvi novamente o rugido de madeira rachando. Não ouvia o som daqueles finos cascos, mas a vibração única de muitas pernas de aranha batendo no chão chegou até minhas botas. Três segundos restantes, dois...

Agora!

Saltei à frente silenciosamente, com a «Anneal Blade» erguida para um golpe compacto. Não buscava causar um grande dano, mas precisava gerar ódio suficiente para fazer a aranha mudar de alvo. No momento em que iniciei meu golpe, uma forma gigantesca cruzou o lado esquerdo da minha visão. Primeiro, havia olhos vermelhos brilhantes e redondos, depois pernas do tamanho de troncos de árvores, e por último um corpo protuberante.

..…!!

Com um grito silencioso, atingi o flanco da aranha gigante. Era apenas um golpe normal levemente carregado, mas foi o suficiente para a ponta perfurar o exoesqueleto roxo opaco e fazer o líquido verde jorrar.

Kishashaa!!

A aranha rugiu de raiva e parou imóvel enquanto eu retirava a espada. Saltei para trás e corri em direção a Asuna e «Kizmel», sem verificar se a aranha estava nos seguindo.

Quando olhei por cima do ombro, a rainha aranha acabara de completar uma curva de noventa graus. Meu olhar encontrou seus muitos olhos brilhantes, e notei que a primeira de suas duas barras de HP estava ligeiramente reduzida. O nome listado era «NEPHILA REGINA». Sabia que regina em latim significava "rainha", o que fazia dela a «Nephila Regina». Nessa luz, os padrões prateados em seu corpo roxo brilhante realmente lhe conferiam um ar majestoso.

— Parece que você atraiu a atenção dela.

Sussurrou Asuna, se afastando da parede. A rainha de oito patas se agachou, os olhos faiscando perigosamente, como se não estivesse satisfeita com a luz da tocha de Asuna. Então—

Kshaa!

Ela gritou e avançou rapidamente — mas não estávamos apenas parados observando. Assim que a primeira perna se moveu, nós três partimos correndo. Esses corredores estreitos não eram lugar para lutar contra um inimigo com ataques de stun.

Depois de dez segundos correndo, a entrada para uma grande sala vazia apareceu à direita. Entramos rapidamente e as duas mulheres se espalharam ao meu redor no centro. Raspando a tocha em minha mão esquerda no chão para acendê-la novamente, a rainha aranha investiu na sala diretamente na minha direção sem hesitação.

Permaneci observando as duas pernas dianteiras enquanto se erguiam no ar. Se nada tivesse mudado desde a beta, a rainha aranha usava os seguintes ataques: estocadas das pernas dianteiras, mordidas das presas envenenadas, um spray pegajoso da parte traseira e um salto vertical que caía com uma onda de choque. O ataque de teia prenderia um jogador no lugar se pegasse nos pés, e se tocasse na cabeça, não haveria como balançar uma arma. A onda de choque era semelhante à usada pelos mini bosses minotauros no segundo andar — se você perdesse o equilíbrio, tropeçaria ou cairia.

Sem tempo para explicar para Asuna e «Kizmel» esses ataques antecipadamente, eu teria que instruí-las em tempo real. Observando atentamente as pernas da aranha, gritei.

— Quando ela atacar com as pernas, a que se mexer primeiro será a que atacará! Se não sair do alcance dela, ambas vão te atingir!

Assim que as palavras saíram da minha boca, a perna dianteira direita se moveu, e eu saltei para a esquerda. Uma garra gigante atingiu o local onde eu estava segundos antes, e a perna esquerda se moveu logo depois, mas não pôde me alcançar porque a primeira perna estava no caminho.

No momento em que também ficou presa no chão, dei o comando.

— Um golpe de espada!

Sem se intimidar pelo desconhecido boss diante delas, as duas mulheres imediatamente empunharam suas armas, as lâminas brilhando. Eu notei o brilho pelo canto dos olhos e golpeei as pernas da aranha com um «Horizontal». A besta foi atingida pela luz e som em triplicidade, gritando horrivelmente enquanto um terço de sua barra de HP superior desaparecia. Devia ser o poder de «Kizmel» que tornava esse tipo de dano possível.

Nesse ritmo, contanto que jogássemos com segurança e nos limitássemos a habilidades individuais, poderíamos derrotar «Nephila» em mais seis ou sete rodadas. Eu não ia relaxar e presumir que ela não tivesse sido alterada desde a beta, assim como os bosses de andar.

A rainha deu alguns passos rápidos e se agachou com todas as oito pernas.

— Ela vai pular! Temos que saltar para fora do caminho antes que ela caia. Vou avisar quando!

A aranha gigante saltou para cima, sacudindo o ar da câmara. Quando alcançou o teto e começou a cair, gritei.

— Dois, um, pulem!

Nós saltamos alto enquanto a rainha aranha caía, o efeito de onda de choque passando inofensivamente sob nossos pés. Pouco antes de pousar, preparei outra habilidade de espada. No meio de todo julgamento preciso e observação cuidadosa, eu havia completamente esquecido que a poderosa e confiável cavaleira élfica não era humana, mas um NPC programado.

Não deveria ser possível. Um NPC não respondia a comandos abreviados de um jogador como este sobre seus algoritmos pré definidos. Mas nada sobre suas ações parecia fora do comum.

Avaliar a duração da batalha era extremamente difícil em um VRMMO, onde todos os sentidos estavam intensamente ocupados. Era típico terminar uma luta e dizer: — Isso durou apenas um minuto? — ou — Levou uma hora inteira?

Então, quando «Nephila Regina», a rainha aranha gigante, explodiu com um efeito visual impressionante e recebemos nossas recompensas, a primeira coisa que fiz foi abrir meu menu para verificar o tempo.

Quatro e vinte da manhã, o que significava que tínhamos passado apenas três minutos na batalha — mas tempo mais do que suficiente para o grupo de Kibaou começar a se perguntar sobre a ausência do boss e voltar vagando. Se isso acontecesse, poderíamos nos esconder novamente com a capa de camuflagem de «Kizmel», mas seria difícil permanecer ocultos depois do som monstruoso da explosão da aranha.

Fechei minha janela e virei para minhas parceiras para dar um toque nos lábios. Felizmente, os elfos negros estavam familiarizados com o sinal de silêncio, então Kizmel e Asuna abaixaram as mãos. Em seguida, fiz um gesto para esperar e fui sorrateiramente até a entrada da sala. Com as costas pressionadas contra a parede, concentrei meus ouvidos no corredor, mas por enquanto não ouvi vozes ou passos se aproximando.

Se já passava das quatro da manhã, quando diabos eles saíram da cidade? Talvez tivessem passado a noite toda trabalhando na missão da guilda. Passei três segundos meio irritado e meio impressionado com o Esquadrão Libertação, mas eles não pareciam estar vindo. Provavelmente chamaram a atenção de algumas aranhas normais perto da entrada da caverna e ficaram presos na batalha. Suspirei aliviado e voltei para Asuna e «Kizmel».

— Parece que o grupo do Kibaou não nos percebeu. Provavelmente vão voltar para o segundo nível para concluir a missão da guilda deles, então podemos sair quando passarem por nós.

Sugeri. Asuna concordou, mas parecia confusa.

— Quantos minutos leva para aquela aranha boss voltar?

— Umm...

Comecei a procurar em minhas memórias essa informação da beta, mas «Kizmel» respondeu primeiro.

— Com esse tamanho, levará pelo menos três horas para a caverna gerar energia espiritual suficiente para dar vida a um novo governante.

Então «Kizmel» tinha sua própria interpretação para o fenômeno do respawn dos mobs. Eu estava tentado a perguntar como essa energia espiritual era diferente da magia que tinha sido perdida de Aincrad, mas desta vez foi a vez de Asuna me interromper.

— Com essa folga, a equipe do Kibaou terá bastante tempo para explorar o segundo nível com segurança. Acabamos ajudando-os sem que percebam. Isso meio que me irrita.

— Ha-ha-ha. Como dizem, — A floresta vê todas as boas ações, e os insetos todas as más. — A Árvore Sagrada garantirá que você seja abençoada.

— Ah... entendi. Nas terras humanas, dizemos — Uma mão lava a outra.

— Vou lembrar disso.

Enquanto conversavam, meu cérebro se ocupava com questões práticas — seria um incômodo ter que sair e entregar o emblema ao comandante, apenas para ser mandado de volta para lutar contra a aranha chefe novamente. Mas logo percebi algo escuro reluzindo no chão próximo. Era uma presa gigantesca que tinha vindo da boca da «Nephila Regina». Toquei-a para ter certeza, e uma etiqueta apareceu, lendo "PRESA VENENOSA DA RAINHA ARANHA".

Se tudo corresse bem, poderíamos entregar ao comandante o emblema perdido do escoteiro, receber a missão de matar a rainha e então mostrar a ele a presa para concluí-la imediatamente. Guardei ansiosamente a presa em meu inventário e verifiquei o relógio para ver que já passava das quatro e meia. A equipe de Kibaou já estaria de volta ao segundo nível da caverna agora.

—Bem, vamos voltar ao acampamento base.

Sugeri. «Kizmel» e Asuna se viraram e assentiram para mim ao mesmo tempo.

Elas pareciam totalmente diferentes, especialmente com a pele escura de «Kizmel» e as orelhas pontudas — mas apesar de uma ser humana e a outra um NPC, eu não conseguia evitar a sensação de que eram como irmãs.

 

🗡メ

 

Nossas esperanças foram recompensadas quando conseguimos retornar à superfície sem encontrar Kibaou. Atravessamos apressadamente a floresta em direção ao acampamento ao sul, evitando batalhas sempre que possível.

Quando as muitas bandeiras ondulantes apareceram através da densa névoa, havia um leve brilho roxo na luz que vinha da borda externa de Aincrad, indicando a iminência da manhã. O frio pré-alvorecer de meados de dezembro no mundo real exigia um suéter e um casaco grosso, mas depois do calor das nossas batalhas intensas, a sensação na pele era reconfortante. Claro, qualquer calor ou frio que sentíssemos através do NerveGear era apenas um sinal mental.

Passamos pela densa névoa mágica criada pelo encanto de Afundamento da Floresta e entramos no estreito túnel de rocha em direção ao acampamento. Foi só então que pudemos suspirar aliviados e aliviar um pouco o peso dos equipamentos.

«Kizmel», que não tinha armazenamento de itens no jogo, comentou com inveja sobre nossos Encantamentos de Escrita Mística, como ela os chamava, e olhou para o fundo do acampamento.

— Kirito, Asuna, vocês vão entregar a insígnia que encontraram na caverna?

— S-Sim. Claro...

— Obrigada. O batedor que morreu era sangue do sangue do comandante... Não desejo interferir em seu relatório. Perdoem meu egoísmo.

Não precisei perguntar se ela estava sendo lembrada da morte de sua irmã «Tilne». Asuna estendeu a mão e acariciou o braço da elfa negra para confortá-la.

— Nós entendemos. Não se preocupe, faremos o relatório. O que você vai fazer agora, «Kizmel»?

— Vou descansar na tenda. Chame-me se precisarem dos meus serviços.

E com um sorriso fraco, «Kizmel» se afastou. Com um som melancólico, uma das barras de HP no canto superior esquerdo desapareceu. Uma pequena mensagem do sistema acompanhou a mudança, nos alertando sobre a saída de um membro do grupo.

Com uma saudação metálica, «Kizmel» partiu e seguiu de volta para o canto direito do acampamento. Lancei um olhar para minha parceira e, como esperado, vi uma mistura de solidão e inquietação no rosto de Asuna.

— Não se preocupe. Ela vai se juntar a nós de novo, sempre que pedirmos... Eu acho.

Eu a consolei.

Mas em vez de se virar para mim com raiva, Asuna simplesmente disse.

— Sim…. — E puxou o capuz pendurado sobre a cabeça, como se mudasse de foco, e comentou, — Vamos lá, vamos fazer o relatório da nossa missão.

 

🗡メ

 

O comandante das forças avançadas dos elfos negros pegou a insígnia com o desenho de uma folha, sem demonstrar nenhuma emoção. Parecia que, de todos os NPCs aqui, apenas «Kizmel» demonstrava tal comportamento. No entanto, depois de passar tanto tempo com ela, não pude deixar de imaginar que havia uma profunda tristeza por trás do rosto estoico do comandante.

Um novo registro de missão apareceu assim que entreguei o item, informando-me de uma nova tarefa: derrotar a aranha que comandava o ninho. Relutantemente, peguei a presa da rainha aranha e a coloquei sob a mesa. Felizmente, isso cumpriu os requisitos, então conseguimos completar o segundo capítulo da missão da campanha sem precisar partir em outra jornada. Ainda assim, com dez capítulos apenas no terceiro andar, havia muito o que fazer.

Recebemos gratos nosso col, experiência e item — tanto Asuna quanto eu escolhemos a bolsa mágica que tinha uma capacidade muito maior do que sua aparência sugeria — iniciamos o terceiro capítulo da missão e saímos da tenda do comandante.

A noite já havia caído completamente, e havia mais elfos negros circulando pelo acampamento, mas «Kizmel» não estava entre eles. Parei logo na entrada da grande tenda do comandante e me virei para meu membro restante do grupo.

— E agora? Podemos chamar «Kizmel» para se juntar a nós a qualquer momento…

— Hmm… — Asuna olhou para baixo pensativa, então balançou a cabeça. — Vamos fazer isso um pouco mais tarde. Sei que parece estranho, mas... Acho que deveríamos dar um tempo para ela.

— Entendo. E não, isso não é estranho. Quero dizer, sim, ela é um NPC... mas mais do que isso, ela é nossa parceira.

— Eu não me lembro de ter me tornado sua parceira.

— Sim, senhora.

Um cheiro tentador veio da tenda de refeições. Comecei a me afastar naquela direção, mas Asuna puxou minha manga de volta.

— Temos algo a fazer antes de comer.

— Hã? O que?

— Vamos lá, você não esqueceu de um dia para o outro. Íamos pedir ao ferreiro para forjar uma nova espada para mim assim que coletássemos os materiais!

 

🗡メ

 

Os equipamentos em Sword Art Online podiam ser obtido de três maneiras diferentes. A primeira era através do loot de mobs, seja de mobs simples ou bosses, também conhecido como "drops de mobs". Quando combinado com os baús encontrados em dungeons, essa categoria era chamada de "loot dropado". A próxima eram as "recompensas de missões" obtidas ao completar uma missão. A última categoria era "feito em loja", fabricado por um jogador ou ferreiro NPC ou artesão de couro com ingredientes especiais ou materiais.

Nas cinco semanas desde o início do jogo, nenhuma das três categorias se mostrou inerentemente melhor ou pior que as outras. Minha «Anneal Blade» +6 era uma recompensa de missão do primeiro andar, e o «Wind Fleuret» +5 da Asuna era originalmente um drop de mob. Provavelmente, à medida que o nível da população de jogadores aumentasse, o valor das recompensas de missões e das armas fabricadas por NPC cairia, significando que as melhores armas seriam drops raros ou fabricadas por jogadores. Mas isso poderia levar meses... ou anos, embora eu esperasse que não fosse o caso.

Eu andava vagarosamente, perdido em pensamentos, atrás de Asuna, com sua capa com capuz esvoaçando na brisa. Apesar das sete horas de sono da noite anterior, após a intensa missão no escuro, o advento do sol da manhã trouxe uma nova onda de fadiga sobre mim. Em contraste, os passos da esgrimista era firme e ágil, então ela era ou um daqueles raros tipos entre os jogadores de MMO — uma pessoa matutina — ou estava tentando afastar sua inquietação com o salto de sua bota.

— Não se preocupe, vai dar tudo certo.

Sussurrei enquanto esfregava os olhos, mal consciente de que tinha falado. Alguns passos à frente, as botas pararam de repente. Eu quase colidi com suas costas. Uma voz composta de 70% raiva e 30% algo mais chegou aos meus ouvidos.

— Não estou preocupada com nada.

Mesmo no meu estado mental de baixa funcionalidade, sabia que não deveria contrariá-la naquele momento, então respondi com um simples — Ok.

— De qualquer forma, é melhor você ter guardado materiais suficientes na batalha. Não quero ter que ir farmar mais porque estamos com um pouco de falta.

Eu disse a ela, enquanto se virava para mim. Quando falou novamente, sua voz estava mais suave do que antes.

— Não pode ser sempre... assim...

— Hã? Como o quê?

— Estou falando que... não posso continuar te perguntando que tipo de materiais usar para fazer uma arma ou como derrotar um certo tipo de mob. Tenho que aprender a descobrir essas coisas sozinha.

— Ahh... M-Mas quando nos encontramos na cidade do segundo andar, você sabia exatamente quais mobs dropavam os materiais de upgrade. 

Respondi. Nosso reencontro uma semana atrás parecia história antiga agora. Asuna sorriu ironicamente sob seu capuz profundo.

— Somente porque memorizei os detalhes que eram importantes para mim do guia de estratégia da Argo. Não sei nada que não esteja escrito em um livro. É o mesmo que eu era antes de vir aqui.

........

Isso me pegou de surpresa. Procurei a resposta certa, mas só consegui balançar a cabeça.

— É o mesmo para mim também. Ainda tenho meu conhecimento do beta, mas quando isso acabar, estarei tão perdido quanto...

— Você está errado. O conhecimento adquirido de um livro e o conhecimento adquirido da experiência são coisas totalmente diferentes. A razão pela qual estou tão nervosa sobre criar uma única arma é porque nunca experimentei isso antes.

Percebi que meu sono tinha passado. Optando por não apontar que ela admitiu estar preocupada, mantive a expressão séria.

— Então você pode começar a experimentar coisas agora. O mais importante é sobreviver e continuar avançando... isso é tudo. Use qualquer coisa que puder, desde que seja para esse propósito — seja dos livros da Argo ou do meu cérebro. Cada dia trará mais experiência... e não do tipo que vem em pontos.

Senti-me um pouco autoconsciente após aquele discurso sério, mas pouco característico, e desviei o olhar acima da grande tenda. Os primeiros raios de sol, entrando diretamente pela abertura externa, tingiram de vermelho a parte inferior do andar acima.

— Bom ponto... É o início de mais um dia…

Sussurrou ela. Parte da tensão havia deixado sua voz, para meu alívio. Olhei para ela e acrescentei.

— Além disso, há uma outra coisa que esqueci de dizer...

— Hã?

— Diferente do upgrade de armas, basicamente não há falha ao criar algo. Então realmente não há motivo para se preocupar com—

Ela me interrompeu com um soco no estômago, suave o suficiente para não causar dano, e rosnou ameaçadoramente.

— Você poderia ter mencionado isso antes!

 

🗡メ

 

Asuna saiu pisando forte o suficiente para quebrar o chão duro, e eu a segui a uma distância segura até chegarmos à área de artesanato do acampamento dos elfos negros.

Havia quatro tendas dispostas ao longo do caminho, cada uma com sua própria bandeira identificadora: loja de itens, costureira, curtidor e ferreiro. As tendas exibiam suas mercadorias mais raras na frente, e meu coração disparou ao ver alguns dos itens indisponíveis no território humano, mas os preços eram altos, especialmente porque eu havia acabado de chegar ao terceiro andar. 

Passei pelas lojas com considerável contenção e parei em frente ao ferreiro.

Os ferreiros NPCs geralmente eram homens barbados e musculosos, mas, mantendo o tema élfico, este era um homem alto e esguio com cabelo longo amarrado para trás. Os únicos identificadores visuais que o marcavam como ferreiro eram o avental grosso de couro preto e as luvas até os cotovelos. Mas, como sugeria o excelente martelo de ferreiro em sua mão, a habilidade de artesanato deste elfo era muito superior à encontrada na cidade principal do terceiro andar. Agora que Nezha dos Legend Braves havia se convertido em um guerreiro chakram, este elfo era o melhor artesão que qualquer um poderia visitar neste ponto do jogo.

Se houvesse um problema aqui…

Asuna e eu paramos diante da tenda. O ferreiro elfo negro virou seu rosto afiado e bronzeado para nós, resmungou e voltou ao seu trabalho. Senti uma súbita onda de energia negativa ao meu lado, então afastei a manga da capa. Todo este acampamento estava fora da zona de segurança, então, se fizéssemos algo criminoso, os guardas nos atacariam, nos espancariam e nos expulsariam do acampamento — se o ferreiro durão não cuidasse de nós primeiro.

Felizmente, Asuna escolheu não comentar sobre a falta de hospitalidade do proprietário, lançando um olhar de reprovação para mim.

— Você tem certeza de que isso vai funcionar?

Ela sussurrou. Eu assenti vigorosamente. Não havia garantias quando se tratava de upgrades, mas, como eu disse um minuto antes, falha absoluta era impossível ao forjar uma arma nova. Assumindo que o artesão tivesse a proficiência necessária para criar o item, é claro.

Soltei a capa, e Asuna deu um passo à frente. Ela pediu educadamente ao ferreiro elfo.

— Com licença, posso pedir que você forje uma nova arma para mim?

Ele respondeu com outro resmungo, mas o menu especial da loja apareceu para Asuna. Ao lidar com jogadores, a negociação geralmente era cara a cara, mas às vezes os NPCs podiam não entender o idioma dos jogadores, então um menu era fornecido para facilitar a transação.

Eu me perguntei se o ferreiro elfo também considerava essa janela um tipo de amuleto mágico. Asuna pressionou o botão de visibilidade no canto da janela para que eu pudesse ver. Ela estava prestes a pressionar o botão CRIAR ARMA com um dedo delicado, mas parou.

— Ah, tem algo que preciso fazer primeiro.

Ela sussurrou. Um momento depois, eu entendi o que ela queria dizer.

— Não é um passo necessário, no entanto. Você pode fazer como achar melhor, Asuna.

— Eu sei... Mas tomei uma decisão.

Ela anunciou e se afastou da janela da loja para remover o «Wind Fleuret» +5, em sua bainha verde familiar, de sua cintura.

Desde a batalha contra o primeiro boss até os desafios do segundo andar e agora aqui no terceiro andar, a arma simples, mas lindamente desenhada, serviu bem a Asuna. Ela sussurrou algo para a espada que eu não pude ouvir, então a ofereceu ao ferreiro elfo. Ela escolheu ignorar o sistema de menu e fazer o pedido pessoalmente.

— Por favor, converta esta espada em lingotes.

Eu esperava que o ferreiro elfo respondesse com outro resmungo retumbante, mas, em vez disso, ele simplesmente estendeu a mão.

Ele não podia entender o apego de Asuna à arma, mas ele pegou silenciosamente o «Wind Fleuret» e o retirou da bainha. O polimento brilhante, semelhante a um espelho, quando era novo, havia desbotado, mas a lâmina havia adquirido um brilho profundo desde então. O ferreiro inspecionou o florete, acenou com a cabeça e o colocou delicadamente na forja atrás dele.

Esta era uma forja quadrada e honesta, não do tipo portátil que Nezha carregava. Não tinha foles para aumentar o fogo, mas as chamas que subiam da superfície eram de um misterioso azul esverdeado, provavelmente obra de mais magia élfica. O fogo logo tornou a lâmina prateada brilhantemente vermelha, e ela começou a brilhar da ponta ao punho. Asuna segurou as mãos sobre o peito enquanto observava.

Eventualmente, a espada brilhou ainda mais, depois apagou, transformando-se em um bloco retangular de cerca de vinte centímetros de comprimento.

Quando a luz se dissipou completamente, o elfo alcançou a forja com uma mão enluvada e pegou o bloco, entregando-o a Asuna. Era um único lingote, brilhando prateado à luz do sol da manhã. Havia inúmeros tipos de lingotes de metal em Aincrad, desde materiais reais como ferro e cobre até fantásticos como mithril, e eu não conseguia identificar todos eles apenas pela aparência. No entanto, era claro que a amada arma de Asuna havia se transformado em um material particularmente raro e valioso.

— Muito obrigada. 

Ela disse ao elfo, pegando o bloco prateado com ambas as mãos. Asuna o segurou por alguns momentos, como se estivesse avaliando seu peso, então abriu seu menu e o colocou em seu inventário. Ela fechou a janela e, em seguida, deslizou o menu da loja ainda aberto para retomar seu pedido.

Ela pressionou o botão CRIAR ARMA, depois ARMA DE UMA MÃO, em seguida, FLORETE, e finalmente SELECIONAR MATERIAL. Uma janela menor apareceu mostrando todos os materiais elegíveis que ela possuía, divididos em categorias.

Ao dar upgrade em armas, os únicos requisitos eram materiais básicos e aditivos opcionais, mas criar uma nova exigia um material central: o lingote. Podíamos forjar um lingote com os minérios que coletamos na caverna das aranhas, mas esses seriam os materiais básicos nesse caso. Asuna não precisava da minha ajuda para isso; ela selecionou vários materiais, deixando por último o núcleo do seu «Wind Fleuret» — que era oficialmente chamado de Lingote de Argentium. Uma vez que todos os itens necessários foram preenchidos, uma caixa de diálogo final SIM/NÃO apareceu, junto com o custo de criação.

Asuna lançou outro olhar ao ferreiro, agradeceu pelo trabalho que ele estava prestes a fazer e pressionou o botão SIM.

Com um som de assobio, dois sacos de couro e o novo lingote apareceram na plataforma de trabalho ao lado do ferreiro. Ele silenciosamente pegou os dois sacos, que estavam cheios com os materiais básicos e adicionais, e os jogou na forja. Os sacos queimaram, deixando apenas os materiais dentro, brilhando em vermelho.

— Eu... não sei sobre isso... Ele foi bem direto ao fazer isso.

Sussurrei para Asuna, que suspirou de aborrecimento.

— Você foi quem disse que não era possível falhar ao forjar uma arma. Agora só temos que confiar no processo.

Ela aprendeu muito sobre resistência mental desde a vez em que pedimos a Nezha para aprimorar aquele «Wind Fleuret» no segundo andar, pensei. A verdade é que eu não tinha contado a Asuna uma coisa.

Era impossível falhar completamente na criação de armas — ou seja, todos os materiais desaparecerem e nenhuma espada surgir em troca. Mas isso não significava que os resultados fossem sempre fixos.

O jogador escolhia um tipo de arma, mas o visual e o nome eram um mistério até que o processo fosse concluído. Essencialmente, havia uma ampla gama de possíveis estatísticas para a arma concluída.

Mas era impossível que a espada final fosse mais fraca do que o «Wind Fleuret» no qual ela se baseava — eu esperava. O ferreiro elfo podia ser antipático, mas sua habilidade era boa, nós lhe demos o máximo de materiais básicos e adicionais, e todo o sentimento de Asuna foi derramado naquele lingote.

Superstição ou não, eu acreditava que, mesmo neste mundo de dados digitais, essas coisas faziam diferença.

Enquanto ponderava sobre esses pensamentos momentâneos, os materiais no fogo derreteram juntos, transformando as chamas em uma cor branca brilhante. O ferreiro jogou o lingote, e o bloco de metal frio começou a brilhar.

— Buff, por favor. 

Surgiu a voz de Asuna. Senti os dedos indicador, médio e anelar da minha mão direita serem segurados por uma palma suave até a segunda falange.

Claro, não tínhamos efeitos de buff ativos, e mesmo se tivéssemos, os benefícios não seriam transferidos através do contato de mão. Mas, em vez de mencionar essas coisas em voz alta, simplesmente escovei meu polegar contra a parte de trás de sua mão, rezando para que uma boa espada surgisse.

O elfo não prestou atenção à nossa atenção ávida. Quando o lingote estava suficientemente aquecido, ele o pegou com sua mão esquerda enluvada e o moveu para a bigorna. O martelo do ferreiro girava em sua mão, o elfo golpeou o metal ritmicamente, uma vez a cada dois segundos. O som claro ecoou pelo ar matinal do acampamento.

O número de golpes para terminar a arma estava diretamente relacionado à força do produto final. Uma arma inicial como um Fleuret Simples ou uma Espada Pequena levaria apenas cinco golpes, menos do que uma tentativa de upgrade. O «Wind Fleuret» e outros de seu nível exigiam cerca de vinte golpes.

Portanto, contar o número de golpes conforme o processo continuava era tão emocionante quanto angustiante.

Dez, quinze. Os golpes continuaram.

Quando o número passou de vinte, soltei lentamente a respiração que estava segurando. Isso essencialmente garantiu que a espada seria melhor do que o «Wind Fleuret».

Mas quando o martelo passou dos vinte e cinco, senti a tensão voltar. Olhei atentamente para o lingote cheio de faíscas, sem perceber que estava apertando a mão de Asuna de volta.

Minha «Anneal Blade» era uma recompensa de missão, mas uma arma de qualidade semelhante valia cerca de trinta golpes. O martelo do ferreiro passou por esse número, então trinta e cinco, parando apenas após o quadragésimo golpe.

O lingote branco brilhante lentamente se transformou em uma nova forma: fino, longo, afiado, belo. Com um último lampejo, havia um reluzente florete prateado deitado sobre a bigorna.

Enquanto observávamos em silêncio, o ferreiro pegou-o pelo cabo ornado e o levantou. Ele passou um dedo ao longo da lâmina esguia e, para nossa surpresa, comentou sobre seu trabalho.

— Boa espada.

Ele se virou para uma prateleira cheia de inúmeras bainhas, pegou uma cinza brilhante, deslizou o florete nela e entregou-o a Asuna.

Nesse momento, percebi que ainda estava segurando a mão dela com força. Rapidamente a soltei e enfiei as mãos nos bolsos. Ela olhou para mim com uma expressão muito estranha no rosto, depois aceitou o florete do elfo e fez uma reverência.

— Muito obrigada.

Desta vez, ele soltou um resmungo em resposta.

Asuna sorriu e começou a prender sua nova espada ao cinto, mas eu a segurei pelo braço. Ela me olhou com desconfiança, mas me seguiu enquanto eu a puxava para uma área aberta dentro do quarteirão de artesanato.

Quando parei, ela puxou o braço de volta e franziu a testa.

— Qual é a grande ideia? Eu consegui a nova espada, sã e salva.

— Eu... eu não quero reclamar disso. Posso só... vê-la rapidamente?

Perguntei, estendendo a mão. Ela fez uma careta, mas entregou sua arma novinha em folha.

No instante em que o peso denso atingiu minha palma, entendi que não era uma arma comum. Toquei a espada para abrir suas propriedades, e examinamos os resultados juntos.

No topo estava o nome da espada: «CHIVALRIC RAPIER». Isso significava... que era um florete de cavaleiro, suponho. Seu nível atual de aprimoramento era, claro, +0. Ao lado estava o número de tentativas de aprimoramento restantes — quinze.

— Q-Qué...?

Um grunhido inexplicável escapou dos meus lábios, o único sinal externo de emoção, mas por dentro, eu estava gritando, — Como?! — Meu choque era tão grande que parecia que eu poderia disparar para cima e bater a cabeça no chão do próximo andar, para depois cair de volta no chão.

Eu nem precisava olhar os detalhes finos dos números de ataque e velocidade listados abaixo. Quinze tentativas de upgrade eram quase o dobro da minha «Anneal Blade», que tinha oito. Em termos mais simples, este «Chivalric Rapier» era duas vezes mais forte que minha arma. Esta era equivalente a uma arma do quinto ou sexto andar.

Era motivo para comemoração, sem dúvida. As estatísticas de uma arma tinham uma correlação direta com as chances de vitória — e, de fato, "taxa de vitória" não significava nada aqui. Em um mundo onde qualquer derrota significava morte certa, cada batalha precisava ser vencida. Não havia tal coisa como poder demais.

Infelizmente, não era tão simples. Não estávamos presos em um RPG solo, mas em um VRMMORPG.

Olhando para sua bela arma, com o cabo, pomo e até a guarda reluzindo prata, tive a premonição — senão o temor — de que este florete mudaria o destino da minha parceira.

 

🗡メ

 

— O que foi?

Voltei aos meus sentidos. Asuna estava me olhando, então balancei a cabeça apressadamente.

— N-Nada... Hmmm, não é nada. Esta espada... é ultra-boa.

— Hmm. Ultra?

— Ultra.

De repente, Asuna soltou uma risadinha. Eu não gostava de ser zombado, mas pelo menos isso me fez voltar ao normal. Eu tossi e devolvi seu florete.

Assim que ela prendeu a bainha cinza ao cinto, eu disse.

— Hum... parabéns por conseguir uma nova arma principal. Se me perguntar, seu «Wind Fleuret» ainda está vivo dentro dela... mas acho que cada um tem sua própria maneira de ver isso...

O sorriso dela se transformou em um olhar irritado com o final desajeitado e hesitante, mas felizmente ela não me cortou com um de seus comentários habituais.

— Obrigada. Eu concordo... Sinto que ainda vou me sair bem com esta nova.

— Ah, l-legal.

— Como você provavelmente se lembra… — Ela parou, depois esboçou uma expressão dolorida nos lábios ao continuar. — Quando eu saí da cidade inicial e me dirigi ao labirinto, achei que as armas eram apenas ferramentas descartáveis. Comprei toneladas daqueles «Iron Rapiers» baratos, não me preocupei com upgrades ou manutenção, e simplesmente os joguei no chão da dungeon quando estavam desgastados. Mas... isso era eu, em resumo. Achei que só iria avançar o máximo que pudesse... até não conseguir mais e morrer… — Ela passou o dedo pela guarda da nova arma. Quando falou novamente, foi em gotas e pingos, como se estivesse colocando a textura da prata em palavras. — Para ser honesta, ainda não acho que posso ter muita esperança. Cem andares é muito... longo demais. Mas... uma vez que você estendeu a mão para mim, e eu consegui meu «Wind Fleuret» e aprendi a melhorá-lo, sinto que comecei a mudar, pouco a pouco. Não no sentido de vencer o jogo e voltar à realidade, mas... aproveitando cada dia conforme ele vem. Tendo a esperança de sobreviver a cada dia. E para fazer isso, preciso cuidar da minha espada e armadura, e estudar muito, e assim por diante... Aprendi a fazer a manutenção necessária em mim mesma.

— Sua própria manutenção...

Asuna era uma iniciante, não apenas no SAO, mas em qualquer MMORPG, e naquele momento, eu entendia muito mais sobre o jogo do que ela. Mas senti que ela acabara de me ensinar algo extremamente importante. Olhei para minha mão.

Provavelmente havia uma parte de mim que estava evitando pensar na dificuldade de vencer o jogo, desesperando-se que isso nunca aconteceria. Por isso, assumi o papel de "beater", distanciando-me do grupo principal de jogadores. «O Esquadrão de Libertação de Aincrad» de Kibaou e os «Cavaleiros Dragões» de Lind tinham muito mais coragem e ambição para olhar para o centésimo andar do que eu. Havia apenas uma razão para eu continuar lutando: me tornar mais forte.

Trinta e nove dias antes, logo após o próprio Akihiko Kayaba descer sobre a praça central da «Tower of Beginners» para anunciar a chegada do jogo da morte, eu saí correndo para a próxima cidade. Mas não para ganhar vantagem na derrota do jogo. Eu queria ganhar vantagem na sobrevivência.

Mas mesmo eu acabei encontrando algumas outras pessoas, me envolvendo, formando relacionamentos.

Argo a Rata, a mercadora de informações. Agil, o guerreiro de machado. Nezha, o ex-ferreiro. Até mesmo Diavel, que pereceu contra o boss do primeiro andar, e «Kizmel», a NPC. E o mais importante de todos, a espadachim diante dos meus olhos, Asuna...

Eu tinha uma responsabilidade. Uma responsabilidade de continuar lutando, pelo bem daqueles que encontrei. Eu não podia desistir e abandonar a batalha porque estava cansado disso. O fato de que eles sobreviveram junto comigo era uma fonte de força e alívio.

— Isso mesmo.

Eu disse, ainda olhando para minha mão. Asuna respondeu, sua voz livre dos espinhos habituais, talvez até... gentilmente.

— Você tem que aprender a cuidar de si mesmo. Quando as coisas são difíceis ou tristes, é importante contar a alguém, em vez de segurar tudo.

— Uh... s-sim...

Olhei para cima e vi um sorriso gentil em seu rosto.

— E... o que acontecerá se eu contar a você?

Sem hesitar, ela respondeu.

— Eu sempre estarei pronta para te tratar com um pão quente de «Taran».

— Ah... você não disse isso.

Quase deixei meus ombros caírem com essa resposta, então me lembrei de não esperar nada melhor. Além disso, aqueles pães cozidos no vapor eram muito bons —  desde que você os deixasse esfriar primeiro.

— Bem, se eu falhar em minha tentativa de upgrade, vou te chamar para uma sessão de bate-papo. Então, de qualquer forma, voltando ao assunto.

Eu disse, esperando mudar o tópico. O sorriso ultrarraro de Asuna derreteu como uma flor de gelo ao sol quente.

— Hã? O assunto não era como meu «Wind Fleuret» ainda vive?

— Isso mesmo. — Eu observei, apontando para o novo parceiro de Asuna. — Sem me repetir, mas esse «Chivalric Rapier» é incrivelmente poderoso para o terceiro andar. Com um pouco de upgrade, um único golpe dele superará facilmente a força da minha «Anneal Blade» +6. Isso é ótimo, sem dúvida, mas a questão será, como você conseguiu uma arma tão poderosa?

— Hum...

Ela parou para pensar, então se virou para olhar a tenda do ferreiro, a alguns metros de distância do outro lado da cerca apressada que cercava esse espaço apertado. Eu segui seu olhar — o próprio ferreiro estava invisível daqui, mas seu som preguiçoso de marteladas chegava aos meus ouvidos.

— Se você ignorar a grosseria dele, aquele ferreiro era bom no que fazia, não era? Todas as armas que ele faz seriam assim boas? Se você ignorar a grosseria dele.

— B-Bem... Duvido que seja o caso. Já tivemos várias lutas agora no terceiro andar, e os mobs não são realmente diferentes do que lutei no beta. Se de repente você está conseguindo uma arma que é duas vezes mais poderosa do que deveria ser, o equilíbrio do jogo está totalmente quebrado.

— Então você está dizendo que talvez os ferreiros na cidade principal sejam iguais, mas apenas este elfo negro foi atualizado para fazer armas melhores? Se você ignorar a grosseria dele.

— Hmmm...

Tirei os olhos da tenda e examinei todo o acampamento.

A noite tinha acabado completamente agora; o vale profundo estava cheio de luz matinal. Além dos últimos resquícios de névoa da manhã, os guardas, cavaleiros e oficiais trocavam saudações fáceis, e o cheiro de pão assando vinha da tenda de refeições. Era exatamente como eu me lembrava do beta.

— Qualquer um pode chegar a este acampamento desde que aceite a missão 'Chave de Jade'. Nesse sentido, não acho que haja muita diferença entre este lugar e a cidade principal.

— Bem, você não está pintando um quadro muito convincente. E além disso, quem se importa se o equilíbrio do jogo está destruído porque eu consegui uma arma muito mais poderosa do que deveria ter? Melhor isso do que o caso inverso.

— Hum, sim, isso é verdade…

A opinião dela estava absolutamente correta. Não estávamos aqui para sermos cavalheiros, para jogar de acordo com as regras do jogo. Usaríamos qualquer bug ou trapaça possível para sair.

Mas aí estava o problema.

Se este «Chivalric Rapier» era realmente uma irregularidade no sistema, um item que não deveria existir, sempre havia o perigo de a administração — se houvesse algum GM além de Kayaba — tomar medidas para lidar com isso, como substituí-lo por uma arma adequada ou deletá-lo completamente.

Mas talvez esse não fosse o único problema. Quando eventualmente nos encontrarmos com os outros jogadores da linha de frente para enfrentar o labirinto e o boss do terceiro andar, os outros sem dúvida ficariam surpresos com a nova arma de Asuna. E não havia garantia de que seria tudo em admiração...

— Vamos fazer um teste, então.

— Eh?

Eu parecia perplexo, sem seguir sua linha de raciocínio.

— Vamos pedir para ele criar outra espada e ver se ele repete o fenômeno.

— Ahh, entendi... espera. — Eu assenti algumas vezes, depois apontei para mim mesmo. — Quando você diz 'criar outra espada'... você quer dizer eu?

— Por que eu precisaria forjar duas espadas? Não posso lutar com uma em cada mão.

— B-Bem, claro... mas...

Sem pensar, levei minha mão sobre o ombro para pegar o cabo da minha espada, então percebi que a tinha colocado de volta no meu inventário. Coloquei a mão na cabeça e comecei a esfregar meu cabelo.

 

🗡メ

 

Ela estava propondo que testássemos o ferreiro elfo negro, se ignorássemos sua grosseria, para ver se ele criaria uma espada igualmente poderosa, mas isso exigiria recriar as mesmas condições da compra de Asuna. Eu precisaria fornecer materiais de base e adicionais de alta qualidade e também um lingote central feito a partir de uma arma bem usada e aprimorada. Ou seja, a «Anneal Blade»+6 com a qual eu vinha lutando há mais de um mês.

Na verdade, ela estava chegando ao fim de sua utilidade como minha arma principal. Se eu conseguisse usar as duas tentativas de upgrade restantes com sucesso e levá-la para +8, ela poderia durar até o quarto andar. Mas mesmo aqui no terceiro andar, já havia armas melhores que esta no +0, algumas das quais eram vendidas diretamente pelos vendedores NPC — embora não fossem baratas.

No final das contas, a «Anneal Blade» era uma arma de recompensa de missão que qualquer um poderia conseguir. Não estava no nível de uma arma rara com poucas cópias existentes.

E ainda assim, havia uma parte de mim que amava aquela espada e queria usá-la até o fim de sua vida útil. Não era pelas especificações, aparência ou manuseio da arma. Era a sensação de realização que vinha com ela, quando fui direto da «Town of Beginnings» para começar a missão por esta lâmina, usando nada além da minha «Small Sword» inicial. Era a sensação que eu tive quando senti o peso daquela nova lâmina, que não se parecia em nada com a minha primeira espada. Parte da razão pela qual eu continuei com a habilidade «One-Handed Sword» desde o beta foi saber que eu poderia conseguir uma «Anneal Blade» logo no começo.

Mas, por outro lado, tudo ao nosso redor havia mudado desde o beta. Precisávamos completar cada andar o mais rápido possível sob a pressão de saber que só tínhamos uma vida para perder. As maiores prioridades eram eficiência e bom senso. Apegos pessoais a itens que precisavam ser substituídos eram uma total perda de tempo. Eu até disse isso para Asuna na pousada do segundo andar: se quiséssemos sobreviver, precisávamos constantemente obter novos equipamentos. É assim que os MMORPGs são…

Parece que este é o momento de nos separarmos, parceiro, eu disse à espada no meu armazenamento de itens.

Era verdade que deveríamos testar o nível de habilidade do ferreiro elfo negro, e era verdade que minha «Anneal Blade» logo seria inútil. O timing era revelador. Eu cerrei os dentes e me preparei para ceder.

Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Asuna suspirou e admitiu.

— Claro, se você não estiver a fim, devemos desistir da ideia.

— Uh… o quê?

— Não parece que isso influenciaria o resultado? Tipo, se você não quisesse fazer uma arma, o produto final poderia ser ruim.

— O quê… ei?

— Quero dizer, eu também não tinha certeza no começo, mas quando chegou a hora de fechar o negócio, eu estava pronta. Mas é claro pelo olhar no seu rosto que você quer ir o mais longe possível com o que tem agora.

— Hoh…

— Vamos pensar em uma maneira melhor de testar isso. Além disso, acho que fazer apenas mais um experimento não prova nada. Se você levar o processo a sério, precisaria de todos os melhores materiais, o suficiente para fazer cem espadas, e então observar a melhor taxa para fazer uma espada extremamente poderosa… tenho certeza de que os resultados seriam inconsistentes.

Asuna parou por um momento, perdida em pensamentos, então se virou para olhar novamente para a tenda do ferreiro.

— Por outro lado… talvez não devêssemos fazer isso com o ferreiro… com o acampamento como um todo. Quer dizer, ele está fazendo o melhor que pode pelo bem dos outros soldados. Se invadíssemos e o forçássemos a fazer cem espadas que nem vamos usar, provavelmente seria um insulto à sua profissão. Não sei, talvez eu esteja sendo estranha…

Ela abaixou a cabeça, envergonhada, e olhou para mim com seus olhos castanho-avelã. Eu procurei as palavras certas e acabei dizendo — Ok, eu não vou fazer isso — como um irmão mais novo bobo seguindo o exemplo da irmã mais velha inteligente.

Eu não queria que essa fosse a totalidade da minha resposta, então coloquei meu cérebro em alta velocidade e acrescentei: — Mas ainda temos negócios com o ferreiro. Vamos querer levar seu novo florete até mais cinco, e eu preciso melhorar o meu um pouco se vou continuar usando-o.

Mas, como sempre, a irmã mais velha tinha uma resposta mais inteligente.

— Estou de acordo com o upgrade, mas não vamos ficar sem materiais? Ignorando meu florete por um segundo, sua «Anneal Blade» já está no mais seis e tem só mais duas tentativas, certo? Vamos querer usar o máximo de materiais para levar nossas chances de sucesso ao valor máximo… Por que você está fazendo essa cara estranha?

— Erm… Só pensando, você realmente cresceu como jogadora. Talvez não seja verdade que você só tenha conhecimento teórico sem experiência…

Eu pensei que estava apenas colocando meus sentimentos honestos em palavras, mas ela me deu um olhar igualmente estranho em resposta, e depois soltou um suspiro que o ferreiro elfo teria orgulho.

— Oh, esqueça de mim por um momento. Qual é o plano? Sair para buscar mais materiais?

— Na verdade, isso não será necessário.

Eu sorri e abri minha janela, rolando pela lista de itens até encontrar o que queria. O que materializou-se foi uma bolsa de couro preta perfeitamente comum com uma única marca na lateral. Asuna fez uma careta quando a viu.

— Essa não é a marca dos homens-vaca do segundo andar? Espero que não esteja cheia de algo estranho.

— Infelizmente, não está.

Eu fechei minha janela e peguei algo de dentro do saco. Era uma placa de metal preta brilhante, com cerca de quatro por dez centímetros. A mesma marca de gado estava estampada na superfície.

— Oh, é apenas uma placa de metal. Eu não reconheço a cor, no entanto… Não é ferro nem aço. 

Asuna falou, e ela estava correta. As placas de metal eram materiais fundidos a partir de minérios coletados principalmente em dungeons naturais. Elas podiam ser usadas para dar upgrade e criar ou combinadas em um lingote maior, de tamanho normal. 

Mas, embora esta fosse uma placa, não era qualquer placa. Eu sorri maliciosamente e expliquei a marca do gado.

— Esta foi a recompensa de Last Hit do «Coronel Nato» na batalha do boss do segundo andar. Esta placa aumentará a taxa de sucesso de upgrade de qualquer arma abaixo de mais dez para o máximo, além de permitir que você escolha qual estatística deseja aumentar…

Eu podia prever a resposta de Asuna de longe.

— Você deveria ter dito isso antes!

 

🗡メ

 

O talentoso (se você ignorasse sua grosseria) ferreiro nos cumprimentou com seu habitual resmungo quando retornamos. Fizemos sete tentativas, todas com sucesso máximo de 95%. A «Chivalric Rapier» de Asuna agora estava +5, e a minha «Anneal Blade» foi de +6 para +8.

Ainda havia mais dez tábuas marcadas com a marca da vaca na sacola de couro, mas decidi guardá-las para outro dia. Com a sacola de volta ao meu inventário, empunhei minha arma recém-atualizada, agora com quatro pontos a mais em afiação e durabilidade cada. A lâmina espessa brilhava intensamente, com um brilho profundo que lhe dava uma intensidade marcante. Neste ponto, ela poderia durar até as fases finais do quarto andar, não apenas o terceiro.

Satisfeito, devolvi a espada à bainha e ouvi o mesmo som ao meu lado. Trocamos olhares e sorrimos confiantes. Nenhum verdadeiro espadachim poderia resistir à empolgação de um bom upgrade.

Com sua florete de volta ao quadril esquerdo, Asuna limpou a garganta e disse.

— Vou te pagar pelas cinco tábuas, só para você saber.

— Bem, só venci o «Coronel Nato» por causa da sua ajuda, então você não precisa se preocupar. Qualquer um de nós poderia ter conseguido o LH.

— É mesmo...? Então vou te dar o próximo drop raro que eu conseguir. — Ela baixou o volume da voz para sussurrar apenas para mim. — Mas ainda não sabemos o que pensar sobre a habilidade do ferreiro. Se ao menos houvesse uma maneira de determinar se é um bug no sistema ou não...

— Sim, eu sei... Hmm.

Recoloquei minha espada nas costas e cruzei os braços. O plano de tentar um pedido em massa foi descartado, e certamente não poderíamos perguntar a ele...

Não.

— Ei... é isso. — Eu disse, estalando os dedos. — Podemos simplesmente perguntar a alguém que conheça bastante sobre esse acampamento.

 

🗡メ

 

O vale que abrigava a base dos elfos negros era em sua maioria circular, com comodidades como refeitório e negócios no lado leste, e os alojamentos e armazenamentos no lado oeste, com um caminho principal atravessando o centro. Tinha o tamanho e os detalhes de uma pequena vila por si só; parecia estranho que fosse instanciado para cada grupo individual na missão, dada a sua escala.

Asuna e eu deixamos a área comercial, atravessando a rua principal em direção à seção dos alojamentos, parando na frente de uma tenda no extremo sul. Levantei a porta familiar de pele preta e chamei lá dentro.

— Olá, é o Kirito. Podemos entrar?

Uma voz respondeu imediatamente.

— Certamente. Eu estava prestes a terminar de preparar o café da manhã.

Entramos na tenda, pedindo desculpas primeiro. Meu coração inicialmente se acalmou com o suave aroma de leite, mas deu um salto quando vi a cavaleira elfa se levantando das almofadas.

Os cinco segundos que vi o macacão preto de «Kizmel» na noite anterior já foram impressionantes o suficiente, e naquela manhã, ela estava vestindo apenas um vestido transparente que deixava significativamente aberto na frente sobre sua pele morena.

A classificação etária de SAO era de apenas doze anos para cima, certo? Ou talvez depois de se tornar um jogo de morte, os padrões habituais tenham deixado de se aplicar.

Senti uma pressão vinda do meu lado direito e desviei o olhar da pele da elfa o mais naturalmente possível.

— Desculpe incomodá-la durante sua refeição, mas queríamos conversar sobre algo...

— Se vocês têm uma nova missão, ficarei feliz em acompanhá-los.

— Ótimo, mas ainda não estamos partindo. Só queremos algumas informações primeiro.

— Ahh. Nesse caso, podemos conversar enquanto comemos. Sente-se e eu vou servir suas porções.

Ela apontou para as peles macias e fofas no chão e voltou para o fogão no centro da tenda. Parecia que se eu fosse educado e dissesse para ela não se incomodar conosco, ela levaria isso ao pé da letra, então agradeci em vez disso. Asuna abaixou o capuz e disse. — Vamos comer com prazer, — mostrando tanto interesse quanto eu no cheiro que vinha da panela.

Sentamo-nos nas peles e observei «Kizmel» tirar a tampa da panela e mexer em seu conteúdo. Asuna sussurrou no meu ouvido.

— Se ficar olhando por muito tempo, vai ativar o código de assédio.

— Hã? Eu pensei que isso só acontecia com contato físico.

Respondi, então xinguei quando percebi que deveria ter negado que estava olhando para ela.

O código de assédio fazia parte do sistema do jogo que ativava quando certas atividades "impróprias" continuavam contra um NPC ou jogador por um determinado período de tempo, semelhante ao código anticrime. A primeira infração era acompanhada de um aviso e pressão física para longe do alvo, mas os reincidentes acabariam teleportados para a prisão sob o «Black Iron Palace» na «Tower of Beginners».

Por um tempo, alguns dos jogadores de linha de frente tentaram ver se poderiam usá-lo como um mecanismo de fuga confiável no meio do perigo. Afinal, a única maneira de teleportar instantaneamente enquanto nos campos ou dungeons era com um cristal extremamente raro e valioso — e nem mesmo estavam disponíveis nos andares mais baixos.

Mas a pesquisa terminou em fracasso absoluto, nya-ha-ha, Argo, a Rata, notou quando me vendeu as informações.

Não apenas a teletransportação automática para a prisão envolvia uma força desagradável como um choque elétrico me empurrando para trás — o que eu nunca senti pessoalmente —, mas tinha que ser iniciada várias vezes, e o outro jogador tinha que ser do sexo oposto. 

Era mais fácil simplesmente fugir da batalha do que passar um tempo apalpando um ao outro, e claro, a proporção de homens para mulheres em SAO era assustadoramente distorcida. O fenômeno funcionaria contra um NPC também, mas poucas vendedoras de itens se preocupavam em ficar nas profundezas de cavernas perigosas.

Além disso, não era fácil sair da prisão uma vez teleportado para lá, e alguns diziam que você deixaria cair itens durante a teletransportação. Assim, o sonho de usar convenientemente o código anti-assédio para escapar do perigo foi esmagado. Foi simples curiosidade que me levou a comprar essa informação de Argo, não qualquer intenção de me tornar um artista talentoso de assédio — mas de qualquer forma, um simples olhar não ativaria o código.

Mas o sussurro de Asuna não parou.

— Oh-oh, lá vai. Cinco segundos, quatro, três...

— H-Hã? O que...?

Entrei em pânico, olhando de um lado para o outro entre as pernas de «Kizmel» que apareciam na barra do seu vestido e o vapor subindo da panela de ensopado. A contagem regressiva continuou.

— Dois, um, ativado.

Pum.

Asuna me acertou com um soco sólido no meu lado direito. Rolei de dor, perguntando-me por que isso não ativou o código real. «Kizmel» virou-se para nós e sorriu.

— Vocês dois se dão tão bem.

 

🗡メ

 

A cavaleira elfa negra nos serviu um prato de algum tipo de cereal entre arroz e trigo, cozido no leite e temperado com nozes e frutas secas. Era firmemente ocidental em estilo — ou pelo menos Aincradiano — e no entanto, algo sobre seu sabor delicioso era estranhamente familiar. O único problema era que a porção era pequena demais. Valorizamos os pequenos pratos daquele alimento com as colheres de madeira que ela ofereceu.

— Isto está realmente bom, — disse Asuna com nostalgia. — Nunca pensei que iria comer mingau neste jogo.

— E-Espera... isso é mingau?

Perguntei. Eu só tinha ouvido o nome antes. Asuna assentiu. 

— Sim. A textura é um pouco diferente, mas o sabor é exatamente isso.

— Ohh.

Eu disse, impressionado. «Kizmel» acrescentou:

— Ah, então vocês também comem mingau de leite em suas cidades humanas? Eu não sabia disso. Talvez um dia…

Ela se interrompeu. Ambos a olhamos, mas a expressão era difícil de ler.

«Kizmel» terminou o restante de seu mingau, ou aveia, ou o que quer que fosse, e voltou seu olhar para nós.

— Kirito, Asuna, vocês disseram que queriam me perguntar algo?

— Oh... uh, é verdade. Umm, bem...

Eu não tinha certeza de como abordar o assunto, então decidi ser direto e perguntar sua opinião sobre a habilidade do ferreiro.

A reação de «Kizmel» foi algo entre elogio e desconforto. Em resumo, ele era talentoso, mas volúvel, às vezes criando obras-primas, mas muitas vezes recusando pedidos insistentes ou mal orientados.

Com essa descrição, Asuna e eu nos olhamos, entendendo.

O «Chivalric Rapier» em sua cintura agora tinha que ser uma dessas obras-primas. Não era produto de um bug ou erro, mas um resultado adequado que ocorria apenas com uma frequência muito rara.

Essa parte era uma boa notícia, mas a questão dos pedidos "mal orientados" me preocupava. Afinal, o que poderia ser mais mal orientado do que pedir a ele para criar centenas de armas com base no mínimo possível de materiais baratos? Se ele só produzisse armas ruins em resposta a tal pedido, não haveria como testar as probabilidades.

Ele já havia feito uma arma superpoderosa para Asuna e tinha tido sucesso em aprimorar minha espada. Não precisávamos, e não podíamos pedir, por melhores resultados — mas não era tão simples assim. Como membro da força de linha de frente de SAO, eu tinha a obrigação de divulgar as informações que aprendi para outros jogadores da linha de frente.

Eles precisavam saber que o acampamento dos elfos podia produzir armas dignas do sexto andar - assim como a possibilidade de manter os cavaleiros elfos vivos na missão "Chave de Jade"...

De repente, percebi que estava tão perdido em pensamentos que minha colher estava raspando o ar vazio no meu prato, então me xinguei por não saborear mais o gosto.

— Obrigado pela refeição, «Kizmel». — Eu disse. — O mingau estava bom, e você nos disse o que precisávamos saber.

Asuna também inclinou a cabeça.

— Achei delicioso. Obrigada pela comida.

— Fico feliz em ouvir que gostaram. Farei muito mais amanhã de manhã. — Respondeu «Kizmel» com um sorriso, recolhendo nossos pratos. — Agora, qual é o próximo passo? Podemos passar mais tempo no acampamento nos preparando, ou podemos partir para a próxima missão.

— Na verdade. — Eu disse, balançando a cabeça, — Asuna e eu precisamos voltar para a cidade humana por enquanto.

 

CONTINUA NA PARTE 4 DIA 18/07


Este capítulo foi traduzido pela Mahou Scan. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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