Volume 1

Capítulo 8: Viktor Portella

— Coé, Renan, cabou a comida.

— Toda a comida, Casé? Impossível.

— Não é toda, né, cabeção. Só tá faltando as coisas.

— Tipo o quê? 

— Ah, parça, carne, pão, feijão, macarrão, molhos, essas coisas. Meus neurosupressores também.

— Acabaram todos?

— Não me lembro de ter usado tantos.

— Pois é…

— Tá com alguma grana aí, cara?

— Casé… Pouca, na verdade.

— Urra… tamo na pior.

— Quer ver o que dá pra comprar com o que a gente têm?

— Vai ser o jeito, fiote.

Assim, ao passo de duas lesmas esfomeadas e secas, Renan e Casé saíram de casa em direção ao mercadinho mais próximo e barato a fim de fazerem o milagre da multiplicação com seus Reais e Drex.



Os grandes mercados da Nova Recife sempre apresentaram, curiosamente, os exatos mesmos produtos e preços. Vez ou outra um era mais barato aqui e acolá, ou tinha uma coisinha a mais e diferente que outra. No fundo, todos sabiam que não passavam de empresas fantasmas, um único CEO estava por trás de todas elas, apenas fazia assim a fim de manter os bons modos e evitar o fraco martelo da justiça. O dono da maior — e única — franquia de mercados fugia do processo de monopólio desse jeito a anos.

Por mais que parecesse ter provas contra o dono e todos soubessem o que ele fazia, nunca foi interessante para o próprio Estado entrar nessa briga, então deixavam passar com vista grossa. Nunca era, portanto interessante para pequenas empresas iniciar um processo contra esses donos, com toda certeza perderiam.

Haviam épocas e épocas, momentos em que os preços eram absurdamente abusivos e momentos que eram aceitáveis. Sempre se adequavam — de maneira assustadoramente coordenada — para redirecionar o povo para o pólo desejado. Aumenta em um lugar, diminui no mais novo, vende o triplo e fideliza o mercado inaugural. Nesse sentido, também haviam mercados exclusivos para cada classe social. Em Recife, sua classe social quase define tudo sobre você.

Os mercados para os mais ricos de Nova Recife ficam normalmente localizados pelos bairros da Pina e de Boa Viagem, as principais concentrações dos condes, corps, bets, investidores, CEOs ou simplesmente ricaços. Acredite, os preços são exorbitantemente caros — até mais que o justo, talvez —, mas todos os itens são de extrema qualidade e, especialmente, naturais.

Já para os pobres, resta o mais comum. Comida sintética, carne falsa, comida sem muita qualidade. Ainda alimentam as pessoas, mas pode custar sua saúde rapidamente. Entre os dois extremos existem a classe média — onde Renan se encontra — e os chamados “altos” — os que estão no meio do caminho entre média e riqueza.

Se não formos contar a extrema pobreza, essas são as classes existentes em Recife. Nem sempre foram tão segregadas e bem divididas assim, mas a constante universal delas sempre permaneceu: quanto mais baixo na sociedade, mais difícil de se mover. Não atoa, afinal, perder o que tem é sempre mais fácil que conseguir algo novo nessa cidade.

Por essas e outras, muitos sempre pensam em o quão sortudos são os que moram longe da carnificina canibal que são as cidades corporativas e betuais. E diretamente na contramão, os do campo sempre sonham nas infinitas possibilidades da cidade tecnológica. Renan, por exemplo, já perdeu as contas de quantas vezes pensou em ir embora para uma pequena cidade do interior, até mesmo para o próprio campo produzir com as próprias mãos e viver do natural mais dignamente. Não que realmente fosse conseguir, terras virgens e livres da agropecuária dominadora das grandes cabeças eram raras onde quer que fosse.

Por não poder realizar esse sonho, se conformava de arrumar o que comer nos mercados intermediários que ainda conseguia frequentar.

— Beleza, dois tá bom. — Casé devolveu um terceiro pacote de molho de tomate à prateleira. — Acha que já tá bom de compras?

— Não, ainda tenho grana para mais alguma coisa. — Renan checava sua conta bancária no momento, era pouco, mas dava para alguma marmita mais simples que comeria na janta.

— Beleza, comigo aqui fechou. — Casé passou o código de barras dos dois molhos na máquina da seção de produtos, os pagando imediatamente com débito automático de seus Drex direto da conta e sem a necessidade de ser atendido por um funcionário. — Cara, vem cá, cê tá bem?

Renan não entendeu a pergunta. Talvez fosse o calor, estava fervendo mesmo a noite, e isso o incomodava. Ele disse que sim com a cabeça, coisa que Casé apenas fez olhar desconfiado.

— Mesmo? Então beleza. — Mudou imediatamente sua atenção para a ótima sacola de compras que saiu custando-lhe DRX$4,50. — Só que, sei lá, tais meio estranho.

Renan deu um riso sarcástico, imaginou que fosse a melhor forma de esconder qualquer coisa suspeita que transparecesse por ele. 

— Estranho? Sério? Estranho como? — Levantou suas duas sobrancelhas num olhar debochado, no fundo sentia pavor de que sua relação com a terceira maior gangue de Recife fosse descoberta.

— Ah, esquisito, tipo isso aí agora. — Casé apontou para a cara do jovem, fazendo uma feição de nojo que ofendeu Renan profundamente. — Que cara é essa? E outra, só quem tá estranho fala desse teu jeito aí.

— Qualquer um acusado de ser estranho fala isso, nem começa, Casé. — O garoto se virou de costas e começou a andar para a seção de comidas prontas.

— Não, cara, tô falando sério. — Casé o seguiu, com passos meio apressados no começo, mas logo pegando o ritmo ao alcançar. — Desde aquele dia da festa, você tá distante, estranho.

— E o quê que tem? Não tô te entendendo, mano, pra mim tô normal — disse Renan, olhando a todo momento para frente.

Casé suspirou, mas não com impaciência ou raiva, muito pelo contrário. Seu suspiro foi ao perceber que não tinha mais saída. Tinha que ser direto, mesmo que não quisesse.

— Olha — Casé começou, estando alguns passos atrás de Renan. — Se você tá puto comigo é só me dizer. Foi por eu ter te arrastado pra festa? Eu sei que você voltou com uma ressaca das grandes.

Renan parou a sua caminhada, sem entender a situação. Ainda pensou um pouco antes de virar de costas e olhar nos olhos de seu amigo, então disse:

— Cara, o que você quer dizer? Fala de uma vez, vai. — Ele apoiou as mãos na cintura e esperou alguma resposta de seu colega. Temeu, naquele momento, ao pensar na possibilidade de que além da figura que viu fugindo da cena do crime no dia anterior, Casé também o tenha visto.

— É só isso mesmo. — Casé suspirou, coçando seu neurocell mal implantado que provocava leves irritações na pele de vez em quando.. — Só tô preocupado com esse teu jeito, irmão. Só quero ficar de boa, sem problemas entre a gente.

Renan ficou quieto, não era exatamente o tipo de coisa que esperava ouvir de seu colega, talvez até mesmo de qualquer um que não fosse sua família. Nos tempos pós Terceira Guerra Mundial, com a individualização máxima das pessoas, se importar com a integridade ou opinião de alguém não era para todos.

Renan, mesmo que por um instante, pôde sentir algo que não sentia desde o falecimento de sua mãe.

— Beleza… Obrigado por perguntar, cara, tá tudo… — Renan adoraria, de verdade mesmo, ter completado sua fala e continuado normalmente o seu dia.

Infelizmente, não teve essa chance.

Talvez, tão rápido como a queda de um raio ou mais alto que o rasgo celeste de um trovão: o tiro de uma das armas da atualidade 

— O que foi isso?! — exclamou Casé, logo após escutar uma rajada de tiros irrompendo o frio silêncio do mercado. 

Em um reflexo tão primitivo que antes mesmo de decidirem o que fazer, os dois amigos já se encontravam escondidos atrás de uma prateleira. Os gritos de terror já ecoavam pelo mercado. 

Casé e Renan esgueiraram-se até a esquina mais próxima, buscando o fim da prateleira e algum tipo de visão do que acontecia.

Antes que Renan pudesse pôr a cabeça para fora da cobertura, outra rajada de disparos trucidaram a carne e o metal de alguém bem à sua frente. Os gritos tornaram a ecoar por todo o recinto. Não demorou mais que dois segundos para as luzes se tornarem vermelhas e as sirenes de alerta ativarem. 

— Porra, tamo sobre ataque, Casé! — E não houve mais tempo. Em menos de dois segundos os dois puderam ver o exoesqueleto sombrio aterrissar perante eles. 

No segundo seguinte, o armamento de alto calibre do atacante disparou dezenas, talvez centenas, de projéteis em direção ao sistema de alarmes — uma clara tentativa de evitar o acionamento de policiais. Renan e Casé tiveram o mesmo tempo de reação e, consequentemente, a mesma conclusão: fugir.

Casé teve mais sorte, imediatamente pulou para trás de outra bancada de produtos. Renan precisou se virar de costas e correr, o exoesqueleto perante ele parecia uma enorme parede negra maciça. Não foi mais que um instante para o atacante perceber a presença dos dois e imediatamente os alvejar.

As balas quase rasgam a perna de Renan completamente por questão de centímetros, mas conseguiu se esconder a tempo. O maior medo do jovem era ter que gastar uma bolada de dinheiro com implante ou reconstrução de perna.

Não que algum dos dois tivesse tido tempo para descanso. Se esconder atrás de paredes parecia lógico, porém não eram nada que as balas dos enormes fuzis do monstro não pudessem ultrapassar. Renan teve que se jogar no chão ao ter sua cobertura pipocada de bala. Conseguiu ver Casé, estavam na mesma situação.

Eles tiveram tempo para fugir novamente, o homem no exoesqueleto havia parado para recarregar todas as suas armas de uma vez — apesar de ser num ritmo inacreditável. 

A armadura metálica e titânica do homem era complexa, uma estrutura de alto nível militar, tecnológico e técnico. Como todos de sua linha de produção, tinha dois braços que revestiam — claro, caso contrário não seria um exoesqueleto — os braços naturalmente fortes de seu controlador. Porém, o grande diferencial dessa versão era o braço extra localizado no meio das costas e longo o suficiente para alcançar a frente do condutor. 

Todas as mãos do maquinário eram duplas, ou seja, um mesmo antebraço continha duas estruturas independentes que simulavam dedos, contendo o equivalente a duas mãos funcionais de uma só vez.

Tendo, no total, seis mãos, apenas duas delas continham carne por baixo. Seus antebraços pareciam de gorilas, bem como o revestimento do peito e das costas. As pernas eram propositalmente maiores e mais grossas que um exoesqueleto comum, dando um boost de altura para seu controlador — belíssimos 2 metros e meio no total. Pernas e pés perfeitos para deslocamento em qualquer tipo de terreno, a velocidade daquele ser de metal era inacreditável para sua estrutura e peso.

Antes que o controlador do exoesqueleto pudesse alvejar os dois garotos novamente, tiros foram disparados em suas costas metálicas e elevação — simulando um capuz — que protegia a cabeça. A atenção do atirador logo se tornou para o ser que ousou atacá-lo, um policial um tanto quanto bem paramentado com coletes, capacete e armaduras a prova de balas e pulsos eletrônicos.

— Que saco… — a máquina assassina bufou, então pulou. Antes que Renan pudesse ver o estrago feito por sua aterrissagem, já havia se escondido por entre as prateleiras com seu amigo e, não muito tempo depois, fugido o mais rápido possível do local que agora era palco de guerra.



Atentados de remanescentes extremistas da Terceira Guerra não eram nada incomum, independente do lugar do mundo. Com o tempo, as mortes causadas pelos ex-atiradores de elite transtornados, soldados aposentados e traumatizados e os que perderam tudo com a guerra — inclusive a sanidade — se tornaram apenas mais uma notícia nos feeds do povo. O verdadeiro diferencial de cada um deles é o que fez seu ataque bombar na net. O número de vítimas deixou de ser importante, o show de verdade era o desempenho e a extravagância durante o ataque.

O que Renan e Casé presenciaram com certeza seria uma notícia grande, exoesqueletos do modelo utilizado eram extremamente difíceis de serem acessados, sem dúvidas aquele atirador em questão era um ex-militar de alta patente ou, talvez, um ótimo ladrão.

Já não demorou muito para o feed de Renan começar a atualizar em tempo real com novidades sobre o atentado ao mercado popular. Fotos e vídeos já circulavam na rede, bem como teorias infundadas dos canais de notícias mais sensacionalistas que sempre buscavam aumentar ou distorcer o que acontecia, coisa que irritava Renan.

— Que saco, cara! Que merda! — resmungava Casé, coçando seus olhos e limpando o suor interminável da testa. — Como que isso é possível, mermão?!

— É, é um saco… — disse o garoto, olhando para seu feed como quem olha para o nada. — Acho isso um saco mesmo.

Talvez, o que mais irritasse Renan em toda sua vida era o sentimento de injustiça quando uma mentira era proferida. Não que o jovem, por si só, fosse puro e odiasse a mentira, na verdade, o que o tirava do sério eram os exageros que considerava “ridículos”. 

— Não tem a menor necessidade de mentirem desse jeito — ele disse, fechando seu feed de notícias e olhando para Casé com a cara emburrada. — Pra quê aumentar isso? É tão ridículo.

Casé parou sua caminhada raivosa, aos poucos foi se virando para trás com uma feição tão única que transbordava dúvida e raiva. Renan não compreendeu a primeiro momento, achou que tinha sido claro com o que disse e decidiu prosseguir.

— Quer dizer, a fim de aumentar uma história, parece que esses caras por trás desses canais distorcem as coisas, sabe? Isso me irrita, não entendo isso, às vezes sequer é algo que possa ser distorcido direito, eles só…

— É sério?! — exclamou Casé, interrompendo e assustando seu amigo, que o encarou em silêncio. — É nisso que tu tá pensando, moleque?!

— Como… Como assim, cara? — Ele recuou um passo, em alerta.

— O seu problema é com esses cabeças aumentando a história? Porra, te liga! — Casé se virou, fazendo um gesto de dispensa com o braço direito.

— O quê…? Quê que você quer dizer com isso, cara?

Casé parecia tremer, talvez ainda devido à adrenalina em seu corpo ou a própria ira excessiva do momento. Ele ainda buscou respirar fundo, coçou seus olhos e cruzou os braços antes de se virar novamente para seu colega.

— Tu tá entendendo o que tais falando, Renan? 

— Eu não tô entendendo o que você tá falando, amigo. — O jovem também cruzou os braços e o olhou no fundo dos olhos. — Qual foi agora?

— Qual foi? — Chegou mais perto. — A gente quase foi fuzilado num atentado que você sabe muito bem o quão comum é, e seu maior problema são os feeds que tem por aí? 

— Qual o problema? Não acha isso irritante?

— Esse é o menor dos problemas, porra! — Renan se assustou com o grito, mas não deixou transparecer. — Você por acaso sabe quem é esse cara que atacou nois agora?

— Quê? Claro que não, como eu saberia?

— Cê não sabe? Devia, não? Não é tu que fica vendo as notícias?! — Casé pressionou o indicador no peito de Renan, que sentiu o calor dos olhos que o encaravam em fúria. — Esse é Viktor Portella, ex-militar e veterano de guerra.

— Beleza — disse Renan, tirando o dedo de seu amigo do seu peito, que se afastou logo em seguida. — E daí?

— E daí? O problema é ter loucos fudidos da cabeça por causa de uma guerra como esse espalhados por aí, tentando sempre se superar e fazer pior! Não tem medo de morrer não? Não se importa com tudo de ruim que podem fazer?

De fato, Renan nunca realmente se aprofundou nessa questão. Para ele, casos de desastre como esses eram um problema estrutural anterior até mesmo ao seu próprio entendimento como gente. Não era nada que realmente valesse o desgaste de pensar sobre, afinal, sua resolução ainda estava longe de ser uma realidade mundial, quem dirá algo nacional.

— Esse tipo de violência e ameaça não é uma parada que possa simplesmente ser normal! — exclamou Case, tentando trazer uma luz aos olhos de seu amigo. 

— Mas o quê que você pretende fazer sobre? Cara, nem a OTAN encontrou um jeito efetivo de acabar com esse tipo de coisa, que eu, simples pessoa, posso fazer sobre?

— Não tratar isso como algo normal, simples assim.

O assunto acabou ali, mas a cabeça de Renan o perpetuou por bastante tempo após aquilo. A volta para casa foi silenciosa, a tarde escurecida pelas nuvens cinzas e sombras dos prédios foi decisivo para que ambos ficassem quietos enquanto se metiam nas multidões da grande cidade. Mesmo de dia, o LED não parava de brilhar nem por um instante, continuava brilhando como se nada estivesse acontecendo.



— Olha, eu não sei se tu me entendeu direito, quer dizer, não sei se eu falei direito na real.

— Não precisa, tá beleza, eu entendi.

Casé abaixou a cabeça enquanto acenava em sim, então se recostou no sofá e descansou as costas, estendendo as pernas de uma maneira confortável.

— O que eu queria dizer era que… — deu uma pausa, engoliu em seco, então prosseguiu. — Bom, tu é importante pra mim, sabe?

Renan imaginava saber o que ele queria dizer, mas deixou que seguisse falando. Também se recostou no sofá, suspirou e cruzou os braços. Na televisão da sala passava algum canal de notícias aleatório, muito pouco visto pelos amigos.

— Eu realmente te considero, te conheço a anos — disse Casé, desviando seus olhos da tela. — Eu não quero te perder pra esse mundo maldito. Você é o único que realmente confio nesse lugar.

Atitudes de compaixão não eram comuns na vida de Renan, talvez nem mesmo na de qualquer um dessa cidade, país, mundo. Ainda poderiam ter alguns lugares limpos, ou seja, livres do hightech e mais cheios de humanidade, mas quase ninguém nunca sequer tem qualquer expectativa de um dia viver assim.

O jovem, apesar de entender, custou para assimilar a informação. Tinha bastante tempo que alguém havia dito algo bom desse jeito para ele, talvez a última pessoa havia sido sua falecida mãe. Não esperava, também, que um dia voltaria a ouvir coisa assim, muito menos em um dia cotidiano qualquer.

Renan, finalmente, após muitos anos sentiu que algo estava errado com a realidade que eles viviam.

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