Volume 1

Capítulo 7: Não falhe! (Parte 2)

— Gaveta número 15-A, a senha é 27890, vai agora!

Renan não perdeu tempo, viu apenas dois complexos de gavetas na sala, os dois diametralmente opostos, colados na parede e à sua direita. Entre eles estava uma mesa de lanches — com algumas coisas ainda jogadas por ali — e na parede entre as estantes uma janela. Oposta a porta onde o garoto se encontrava — bem à frente de Renan —, três mesas de trabalho com seus respectivos computadores instituxionais, porém apenas duas mesas se encontravam coladas na parede do lado esquerdo de Renan, a última mesa de trabalho estava logo abaixo de uma outra janela.

O jovem logo viu que a estante mais perto de si era o alvo, não perdeu tempo em identificar a gaveta correta e digitar sua senha. Destravou em um clique e saiu suavemente de seu encaixe. Sem muita paciência, puxou logo de uma vez, quase a soltando do complexo. 

— Pronto? — perguntou Gab. — Sendo assim, eu…

— Espera, como é? Espera, tem algo errado! — exclamou Renan, sua voz estava visivelmente histérica.

— Que foi agora, moleque?

— Tem muitos pendrives! 

— Como?! — A voz normalmente apática e andrógina de Gab deu espaço a um grito fino e surpreso. Imediatamente começou a mexer rapidamente em alguma coisa que Renan não sabia, mas podia escutar. — Isso tá errado, como pode? Tem algo errado.

— Eu sei! O que eu faço?!

A sirene parecia aumentar a cada instante, a ponto do garoto mal conseguir se concentrar na situação. Subitamente, a fim de piorar ainda mais a situação que havia se metido, batidas na porta de metal do escritório. Gritos vieram logo em seguida, ordenando-o a sair imediatamente da sala de forma pacifica. Os guardas já estavam na sua cola.

— O que eu faço, Gab?! — exclamou, pegando alguns pendrives e os olhando sem rumo.

— Merda, vai ter que testar agora, moleque.

— Testar?! 

— Pluga na entrada universal do neuro, cê vai acessar as informações até encontrar o que precisa ser decodificado, entendeu?

— E se tiver mais de um certo?! — As batidas na porta eram incessantes.

— Não tem, vai logo! Preciso sair agora!

— O quê?! — Apenas um bip, a ligação foi encerrada na cara do jovem.

— Vamos dar dez segundos para sair imediatamente, ou iremos invadir! — ameaçou a voz do corredor e iniciou a contagem.

Sem mais opções, era agora ou levar porrada dos guardas da faculdade. Numa velocidade e precisão impressionantes para alguém desesperado, Renan começou a plugar todos os pendrives da gaveta em seu neuro. No mesmo instante que um era conectado, pastas se desdobravam perante sua vista. Nenhum parecia ser o pendrive codificado que ele procurava.

— Seis! — anunciou o guarda. — Saia imediatamente!

A sirene não parava, Renan conectava e desconectava. Oito! O barulho repetitivo de terror sendo emanado por alto falantes era imparável.

— Porra, não vai dar…! 

Ainda havia muitos pendrives na gaveta, era impossível testar todos naquele momento.

— Vamos invadir! — Era o fim.

Batidas mais poderosas na porta de ferro foram desferidas. Mediante a isso, o guarda começou seu anúncio obrigatório de voz de prisão: — Portanto, será classificado como infrator criminal, renda-se!

Não foram mais que três pancadas para que a porta fosse ao chão em um imenso estrondo. Dois guardas invadiram a sala com suas armas de pulso eletrônico e apontaram para todos os lados. — Parado! — anunciaram.

Porém, não havia mais ninguém no recinto.

 

 

Já no térreo, escorado num pilar de sustentação da estrutura estudantil, Renan respirava ofegante. Seu coração estava acelerado, tentava parar de tremer, mas não conseguia ter esse controle.

— Vamos lá, vamos ver… — Em sua mão, apenas um pendrive, um preto metálico. Levemente o levou até a entrada do neuro e o plugou. Rezou infinitas orações no microssegundo que levou para ser feita a leitura do conteúdo.

Estava criptografado.

— Graças a Deus… — suspirou aliviado. — Ainda bem que eu estava certo, era o único preto, só podia ser ele…

Ainda em meio às sirenes, olhou em volta, se preparou para sair de fininho do lugar e concluir sua missão.

— Ah, não… 

Alguém.

Alguém?

Renan teve a impressão de ter avistado alguém.

— Sério?

De fato, não era apenas uma ilusão.

Por entre alguns pilares da construção se escondeu uma pessoa, mas não sem antes deixar óbvio que o estava vigiando. Renan não reconheceu a figura, figura esguia, alta, parda. Pensou em ser Roberto, mas estava longe de ter os seus músculos.

— Merda…

Ele foi visto, toda sua fuga pela janela da secretaria foi muito bem assistida por alguém. Pensou ser seu fim, ia ser entregue e perderia tudo, morreria preso e agonizando. Achou melhor ir embora de uma vez antes que mais alguém visse, antes que criasse mais provas contra si próprio. Descartou as luvas usadas no crime numa lixeira no bloco de medicina e conseguiu desaparecer entre a multidão de alunos inquietos.

 

 

— Muito bem, meus parabéns, Renan. — Tinha alguma coisa na voz dela que o deixava feliz quando era chamado pelo nome.

— Ótimo, vou receber minha parte quando, Hacker?

— Quê? Que parte? 

O olhar cínico da mulher o enchia de ódio.

Renan e a Hacker estavam na mesma ponte onde dividiram a droga. O jovem havia acabado de entregar o pendrive reluzente sob as luzes noturnas e multicoloridas do espaço.

— Você tá falando sério? Eu não vou ganhar a minha parte? — Renan a olhava de baixo para cima, de braços cruzados.

— Quem disse que ganharia dinheiro? — A Hacker estava sentada no parapeito da ponte, balançando suas pernas no ar, admirando o objeto em suas mãos. — Lembro bem de dizer que você iria me pagar, na verdade.

Renan suspirou, já desistiu de tentar debater qualquer coisa com ela. Tendo sua droga e não sendo derretido pelo vírus, bom, já estava ótimo.

— Então, como foi que me saí hoje? — ele perguntou, tentando puxar algum assunto.

— Oh, quer realmente saber? — A Hacker fez uma brincadeira de jogar o pendrive para o alto e o pegar no ar, então o guardou no bolso e olhou para Renan. Essa brincadeira causou dor física no jovem e um rápido reflexo de tentar pegá-lo para não cair.

— Pera aí, falando desse jeito até parece que fui ruim.

— Faça uma autoavaliação antes, então. Como você acha que foi? — Continuava a balançar suas pernas. Apoiou suas duas mãos no parapeito, relaxando a coluna e fazendo uma cara de alívio.

— Autoavaliação? É assim que trabalham? — O jovem escorou na pedra muito bem talhada e antiga que a Hacker usava de assento.

Ela deu uma risadinha quase inaudível, talvez forçada. 

— Só quero saber como você se enxerga, só isso.

— Como me enxergo? Isso tem importância pra minha avaliação de ingresso? — disse ele, num tom debochado.

— Deveria importar para você mesmo, garoto. — A feição da moça era calma, serena. Renan viu que a Hacker estava levando a conversa a sério.

Permaneceram em silêncio enquanto Renan a olhava. Logo entendeu o recado e o jovem abaixou a cabeça, olhando alguns carros passando por eles. Realmente refletiu sobre seu desempenho, achou que se saiu bem, mas lembrou-se que alguém viu a sua fuga. Sentiu medo, pensou se ele já não estava sendo procurado ou se mesmo a mulher ao seu lado já não sabia dessa gafe fora de seu controle.

Ele suspirou outra vez, balançou a cabeça em afirmativa e abriu a boca para falar: — É… podia ter sido melhor… Acho que é isso.

— Melhor, hein? — A moça repetiu o gesto de afirmativa. — Tudo bem, boa análise pra começar. — Pulou de volta ao chão, parando ao lado de Renan, que a olhou. — Eu achei que você foi bem, sabia?

— Mesmo? — A resposta o surpreendeu, esperava menos piedade, ainda mais com um novato que parecia ser tão odiado.

— Mesmo, você se desenrolou bem, meus parabéns. — A Hacker deu um soquinho no peito do jovem e sorriu, ele sorriu de volta e a moça começou a se afastar pela calçada de forma um tanto vagarosa. — Até a próxima então.

— Próxima? Então passei no teste?

— Claro. Eu já disse. Querendo você ou não, vai ser útil para mim.

Por algum motivo o garoto se contentou com a palavra “útil”, que o fez soltar um sorriso. Viu a moça se distanciar aos poucos, indo em direção a Velha Recife, onde morava.

— Espera aí! — gritou Renan. 

Imediatamente a Hacker parou, pôs as mãos no bolso de sua calça moletom e se virou para o jovem. — Diga.

Ele se aproximou em um passo apressado. Também pôs suas mãos no bolso de sua calça, imitando a pose da mulher e a olhou nos olhos.

— Você já tinha me dito o seu nome, não é?

A Hacker o olhou com um misto de surpresa e graça, quase rindo. 

— É, eu tinha dito sim, por quê? — disse, com uma voz descontraída, até mesmo à vontade com o garoto.

— Pode repetir? Por favor, prometo não me esquecer dessa vez. — Renan fez um gesto de juramento com sua mão direita que tirou uma risada da moça em sua frente.

— Tá bom, é melhor não se esquecer mesmo, viu? — Renan repetiu sua promessa. A moça concordou com a cabeça, pigarrou e abriu a boca para dizer: — Meu nome é Elisa, um prazer.

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