Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 8: Vampiro Descendente

O olhar de Vast se mantinha fixo no salão, sem desviar por um único momento sequer. Os convidados seguiam felizes com o festejo, sem a menor ideia de que até um mísero segundo atrás havia um Vampiro Original entre eles.

"Carmilla… Então aquilo não era uma ilusão. Mas… qual a razão para tudo isso? Vampiros deveriam ser máquinas de matar, mas ela não parecia sedenta por sangue ou algo parecido..."

A mente entrou em estado de choque. Realmente existiriam vampiros capazes de pensar no próximo? Vampiros com senso moral? Com… empatia?

Heh Vast riu de seu próprio pensamento. Caso este tipo existisse — ainda mais entre os Originais —, o mundo não seria tão cruel.

A dúvida foi expulsa, mas ainda guardaria a vontade de conversar pacificamente com Carmilla caso a encontrasse novamente.

"Ela disse que esta não é a região dela. Posso supor que é verdade a ideia sobre cada Vampiro Original cuidar de uma das quatro regiões. Pelo menos não preciso me preocupar em encontrar dois Originais de uma só vez."

Numa situação dessas, ele morreria ao simplesmente respirar.

Com a mente mais organizada, voltou a prestar atenção no salão. De imediato, notou uma presença estranha vagando acima dos convidados.

BZZZZZZZZZZZ!!! Poderia muito bem ser uma XJ6, mas assim como várias outras tecnologias, motocicletas foram perdidas quando os vampiros tomaram conta do mundo, então o som só podia significar uma única coisa.

Ele olhou para perto do grande lustre, e lá estava ele.

"Começou! Ele finalmente deu as caras!"

Um mosquito do tamanho de um cachorro pequeno sobrevoava o salão, parecendo procurar alguém em específico. Vast logo considerou que ele mesmo era o alvo, e tratou de se esconder rapidamente.

Onde? Passou o olhar por todo o salão. Mesmo que não chegasse a perceber de fato, o simples passar de olho sobre qualquer parte do corpo do vampiro faria sua aura ser revelada, consequentemente, tanto sua posição e níveis de habilidade seriam expostas.

Porém, não funcionou tão bem quanto o príncipe esperava.

Stump!! O mosquito desceu como uma águia, acertando seu peito num acerto em cheio. Contudo, para sua própria surpresa, a agulha afiada se dobrou ao colidir com o corpo.

Vast o retirou com um único puxão, fazendo questão de dividir o corpo em dois antes de jogá-lo ao chão.

O baque seco da carne atraiu olhares de imediato. O pânico se instaurou num único grito, e em menos de dois minutos ninguém mais estava por perto sequer para ver direito o que havia caído ali.

— Todos, retirem-se desta mansão! Estamos sob ataque de um Vampiro! — alertou Vast, saltando do segundo andar até o salão. "Não posso deixá-lo ter a chance de fazer reféns.

As pessoas se retiraram em mutirão num piscar de olhos, agora sozinho, procurou mais uma vez. Os olhos afiados passaram por cada centímetro do lugar. Debaixo das mesas, atrás dos pilares, no teto… Mas, nada. Nenhum sinal do inimigo.

"O Atirador Rubro me protegeu daquele primeiro ataque, mas sorte não vai me ajudar aqui."

Removeu sua arma do peito — ainda estava intacta — e colocou em seu devido lugar. Agora exposta no antebraço, infelizmente acabaria servindo de aviso para o oponente.

— Ei, cadê você, maldito!

Vampiros costumavam ser orgulhoso, mas este sequer um único murmúrio deu.

"Ele deve saber quem eu sou. Quantos outros já devem saber do que estou fazendo?"

A possibilidade de reforço estar à caminho fez sua mente acelerar. Outra vez seu olhar analisou todos os cantos do salão, mas ainda incapaz de encontrar alguma coisa.

Então, por um breve segundo, analisou um canto até então inexplorado, o chão.

Huh? Uma incógnita imediata. A sombra não estava normal. Sua própria estava ali, firme e forte, mas maior do que deveria. Uma mancha negra se formava perto de sua cabeça. A sombra de… algo atrás?!

Se virou já com a arma pronta para disparar, mas nada estava lá. Nem à frente, acima ou abaixo.

"Algum tipo de truque? Ele é invisível? Não, eu não conseguiria ver sua sombra caso fosse."

Se moveu através de saltos rápidos pelo salão, temendo um ataque surpresa. Em meio a estes, acabou de frente para um espelho.

Parou e se olhou. Apenas ele estava lá, com a face suada e o olhar cansado. No chão, a sombra densa de algo em seu encalço… Sombra atrás… Espelho vazio…

O sobressalto foi entendido pelo dono de um breve gemido preocupado, mas a reação de Vast foi a mais rápida.

O braço com o Atirador Rubro mirou logo atrás de sua cabeça, e um tiro foi disparado.

TUMP!! O som de carne — que não era a sua — sendo atravessada trouxe alívio e um novo baque de adrenalina. Nenhum corpo caiu no chão, mas o zumbido mais alto que qualquer outro invadiu seus ouvidos.

Um mosquito, ou melhor, um vampiro mosquito cambaleou pelo ar até ser capaz de alcançar o teto, onde se grudou de cabeça para baixo como um morcego.

— VAAAAST!!! — Bolhas de sangue saíam enquanto falava. — Você não sairá daqui vivo!!

— Desista, você já perdeu.

— O quê? Como pode afirmar isso sendo que a luta nem começou?

Vast fez um sinal simples. Levou o punho à frente de seu corpo, revelou o dedo indicador e do meio, unidos como se para indicar algo, apontando para sua lateral.

O olhar do vampiro foi para a referida direção, e no instante seguinte.

PLUSH!!

WRYYYYY!! HUMANO INSOLENTE!!

Outro tiro de sangue atingiu-o em cheio graças ao truque barato. Em resposta aos seus gritos de dor, Vast deu um curto riso.

"É bem fácil distraí-lo. Não acho que ele perceberia qualquer coisa que eu planejasse, mas…"

 

Vampiro Descendente

Força 28/100

Agilidade 50/100

Inteligência 30/100

 

"Com certeza não é alguém com quem posso me descuidar."

A Força estava longe de ser problema, e a Inteligência baixa também era um curto alívio. A Agilidade, por outro lado, provavelmente o permitia se mover numa velocidade maior do que os olhos eram capazes de acompanhar, principalmente enquanto voava.

— Ei, maldito, desça até aqui para que eu possa te finalizar de uma vez!

Vast mirou com o Atirador Rubro e fez um disparo. A flecha de sangue rasgou o ar sem desacelerar, mas atingiu outra coisa.

Ao invés do principal, um dos mosquitos menores serviu de escudo, logo substituído por outro, e mais outro e mais outro… No fim, uma nuvem deles se formou ao redor do Descendente antes que pudesse reagir.

— Perdendo tanto sangue assim, não há sequer motivo para eu me envolver! — Sua face surgiu entre as várias crias. — Você verá! Estará morto em alguns minutos e eu sequer sairei do lugar!

Uma parte da nuvem se separou, não o suficiente para deixar uma parte do corpo exposto. A nova nuvem de ataque voava unida pelo salão, mas se dissipou em direções aleatórias quando se pôs perto do príncipe.

"Entendo, ele pretende me chupar até a morte!"

Como um príncipe, Vast não poderia deixar isto acontecer facilmente. A partir de agora, a verdadeira luta pôde finalmente começar.

Já desfeita, a nuvem começou os ataques das mais variadas direções. Os mosquitos do tamanho de pinchers — novamente, sem tanto ódio quanto —, miravam cada centímetro do corpo de Vast. Ser acertado era o equivalente a ser atropelado por uma moto.

O Atirador Rubro era uma péssima arma para curto alcance, e a proteção que o Descendente deixou ao seu lado impediria os tiros de atingi-lo fatalmente. A cada arranhão que ganhava, o príncipe perdia mais e mais possibilidades de contra-ataque.

"Ele realmente pretende ficar ali até que eu caia morto?"

Era o que aparentava. A pouca força bruta era o mais provável motivo para tamanha covardia. Estava apostando tudo em seu atributo mais poderoso, a agilidade.

A quantidade de mosquitos era de no mínimo 200 e aumentando. Derrotá-los estava fora de cogitação. Tudo levava a crer que a única saída era atacar o Descendente, mas a questão permanecia: como fazer isso?

Tumph! A distração de um segundo permitiu um ataque do oponente. Um, dois, três mosquitos perfuraram seus braços. Alguns miraram o Atirador Rubro, mas falharam como o anterior.

"O quão resistente esta coisa é?" Agradeceria Russisch caso o encontrasse novamente.

Tirou cada uma das criaturas com as mãos. Fontes de sangue criadas em seu membros. No teto, apenas uma risada cínica veio de dentro da nuvem viva.

"Certo, chega de perder tempo com insetos."

Vast disparou em direção às mesas do salão. A nuvem aos poucos se formava novamente, pretendendo um ataque em massa que lhe chuparia de uma só vez.

O Vampiro Descendente ainda observava tudo de cima, curioso, mas temeroso.

O príncipe saltou sobre as mesa, pegando taças de vidro no ato. Com o desinteresse total dos mosquitos nos objetos, nenhuma delas foi quebrada, mesmo durante o processo de levá-las ao centro do salão e empilhá-las pouco a pouco.

— O que este maluco está fazendo? — O Vampiro se questionou em prol de comprovar estar acordado. Aquilo diante de seus olhos era…

"Prontinho, isto deve resolver!"

Vast usou uma torre feita de cadeiras para se colocar acima da grande pirâmide de taças. Com pedaços do pano de mesa que rasgou entre as correrias, estancou duas das três perfurações em seus braços. Aquela que permaneceu aberta serviu como nascente para o líquido que preencheria toda aquela estrutura.

Quando a primeira taça se encheu com sangue, as quatro inferiores foram as próximas. E seguiu-se de tal forma, por um total de 15 andares de taças, com seu sangue a entupir cada mínimo espaço vazio, até enfim transbordar no chão.

Com isto, Vast finalmente estancou aquele último ferimento.

— O que está fazendo? Por acaso desistiu da luta?!

A defesa do Vampiro se desfez. O ferimento feito pelo primeiro tiro havia desaparecido completamente.

O príncipe ficou em silêncio, se afastando da torre rubra num único salto. Em resposta, o Vampiro ordenou:

— Tanto faz, você morre aqui! Ataquem, minhas crianças!!

Mas nada aconteceu. Um o quê!? engasgado foi tudo que saiu por sua garganta seca.

Os mosquitos paralisaram no ar. A atenção de todos vagava entre a torre de taças e o próprio Vast, e a considerar o fator que eles estavam comparando, era fácil dizer qual seria a escolha a ser feita.

ZIIIUUUUUMM!!

A massa que não protegia o Descendente atacou vorazmente a pirâmide. Havia taças de sobra, um banquete sem igual para as feras famintas.

— Seus imbecis!! — O Vampiro saiu de sua defesa, mas permaneceu grudado no teto. — APENAS DESISTA, HUMANO INSOLENTE!!

Aos poucos aquela última nuvem se desfazia. As criaturas que não se distraiam com a pirâmide acabavam colidindo contra os punhos de Vast e terminavam esmagadas por estes. Porém, bastava um simples arranhão no príncipe para o pior acontecer.

De um sequência de cinco, Vast pegou o terceiro e quarto mosquito com uma mão, mas o quinto veio tão veloz que por pouco conseguiu desviar. Um arranhão foi feito em seu rosto.

Droga!! Chegou a se esquecer de tal coisa, a presença do Atirador Rubro o fez se esquecer de sua própria habilidade. De imediato, os dois mosquitos capturados foram recuperados ao ponto de conseguirem se soltar sozinhos.

Por fim, o quinto mosquito atacou novamente, uma nova perfuração que teve a aura de cura direcionada para o Descendente.

KAHAHA!! Então os boatos eram reais! Sua maldição é capaz de curar aqueles ao redor quando você se machuca!!

Uma ótima notícia para ele, o príncipe pôde até perceber o total relaxar daquele corpo contorcido ao ganhar tal informação.

— Você realmente acha que vai ganhar? Mesmo com uma habilidade inútil dessas?

Vast não respondeu, pelo menos com palavras.

Começou a correr em círculos pelo salão, um ato que o Descendente só encarava como aleatório, típico de um animal desesperado.

— Não tem para onde fugir!!

Ao mando de um simples apontar, alguns dos mosquitos balísticos perseguiram o príncipe. Atropelaram a torre rubra, mas ainda incapazes de chamar a atenção de seus companheiros.

Vast desviou de um após o outro, capturando alguns no processo e arremessando-os contra o Vampiro. Um tipo de lança improvisada.

Em certo ponto, sangue começou a escorrer pelo Atirador Rubro, uma linha contínua que não parecia ter fim, nunca se desconectando do aparelho.

Sem que ambos se dessem conta, o grande salão — antes branco e dourado — agora se manchava de vermelho do chão ao teto, um ambiente onde era quase possível perder a noção de profundidade. Uma sala de espelhos vermelhos.

Em um dos ataques dos mosquitos, Vast agarrou-o como os outros, mas ao invés de arremessá-lo de volta, saltou e o usou como um gancho para se fixar à parede.

O Vampiro resmungou ao entender a intenção do príncipe. Tarde demais para reagir.

Vast saltou da parede em direção ao inimigo, o Atirador Rubro mirando qualquer ponto vital exposto.

Grrh! Humano maldito… — o Vampiro ergueu uma das mãos. — Eu mandei você desistir!!

SLAP! Usou sua velocidade para desviar do tiro de sangue. Quando atrás de Vast, desceu com um tapa em seu rosto, forte o bastante para que a colisão contra o chão criasse fissuras no mármore.

O príncipe se levantou na mesma hora. Não vomitou sangue. Sequer tinha o suficiente para permanecer de pé, quem diria para cuspir.

Já visivelmente impaciente, o Vampiro questionou uma última vez:

— Até quando pretende levar esta luta adiante? Não vê que eu estou sendo gentil em tentar finalizá-lo rapidamente?

Vast, coberto de sangue da cabeça aos pés, revelou a mão direita, especificamente o que estava segurando.

Hã? Isto é… uma corda?

O Descendente forçou o olhar. Era de fato isto, mas diferente. Não era firme, mas gelatinosa. Além disso, quase se fundia ao ambiente por ser da mesma cor que o…!!

— O-O que você pretende…!?

Numa rara ocasião desde o início da batalha, Vast sorriu para o Vampiro.

— Finalmente entendeu? Surpreendente, eu sequer esperava que você fosse perceber isso.

A "corda" se estendia por todo o salão, em pontos mais do que específicos. A maioria dos mosquitos que o príncipe arremessou em sua direção durante a luta acabaram nas paredes, mas alguns se fixaram nos pilares de sustentação. Quanto àquela corda de sangue coagulado, ela se amarrava em cada um destes mosquitos.

— MALDITO!! VOCÊ TAMBÉM IRÁ MORRER!!

Mesmo com as asas abertas, ele não saiu voando, estava assustado demais para conseguir.

Para a afirmação daquele monstro, Vast apenas apostou.

— Talvez, é um pequeno risco para garantir que você morra.

Ele puxou a corda quase ao ponto de arrebentá-la. O estender trouxe consigo o colapsar dos pilares, cujos se encheram de fissuras que alcançaram o teto num piscar de olhos.

— SEU… HUMANO MALDITOOOOO!!!

TRRUUUUMMMM!!

Naquela noite, de maneira repentina, a mansão de Vincent caiu. O colapsar da estrutura abafada por gritos animalescos.

 

 

 


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