Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 7: Encontro

Vast lentamente abriu os olhos, se deparando com um teto desconhecido. A dor de cabeça o atacava, mas a sensação divina que tinha em sua pele neste instante agia como neutralizador. Parando para pensar, não se lembrava de ter tomado banho desde que saiu do castelo.

— O que aconteceu?

Se levantou, encontrando-se deitado numa enorme cama. Uma dupla de empregadas faziam presença de cada lado da cama.

— Finalmente acordou! — A voz de Vincent invadiu o quarto. — Você dormiu por dois dias inteiros.

Dois!? O salto quase o fez bater com a cabeça no teto. Se contasse hoje, se passaram cinco dias desde que saiu do castelo, e a Torre do Conquistador estava tão longe quanto podia imaginar. Teria que colocar o pé na estrada o mais rápido possível, mas…

"O festival é hoje… Eu não tinha o plano de esperar ele acontecer, mas não posso simplesmente ignorar o que está acontecendo aqui!"

O Atirador Rubro permanecia muito bem preso em seu braço. Pelo jeito era realmente impossível para outra pessoa, senão o próprio Vast, remover este apetrecho. Vendo que o tanque estava carregado e pronto para o combate, o príncipe declarou:

— Vincent, prepare roupas para o festival, mas não diga que eu estarei presente. Vou me livrar do vampiro hoje mesmo.

O homem se aproximou da cama, um tanto apressado.

— Por favor, príncipe Vast, descanse um pouco mais. Você desmaiou de cansaço! Não acha que merece um pouco mais de descanso? Se quiser, pode até passar a noite com uma das empregadas!

— Não, obrigado, meu coração já pertence a uma outra pessoa. — Pegou uma muda de roupas oferecida por uma das mulheres. — Aliás, a festa precisa ocorrer bem tarde da noite. Creio que não preciso explicar os motivos.

O homem ficou em silêncio, o engolir seco foi sua única resposta. No entanto, a saliva travou no meio do caminho, havia uma pergunta bloqueando a passagem. Sem escolhas, teve de deixá-la sair, ainda que significasse ferir seu príncipe.

— Sr. Vast, por favor, encare esta pergunta como vinda não de um servo leal a ti, mas como um amigo… — Seus lábios tremeram, mais do que o corpo quando o príncipe chegou em sua casa dois dias atrás. — Qual a razão para atitudes tão repentinas? Por acaso você descobriu sobre… aquela mulher?

Vincent com certeza tinha recebido informações sobre o ataque ao castelo, então definitivamente suas intenções não eram maliciosas. O olhar de preocupação deixava isso bem claro.

— Não tem segredos para esta pergunta, Vincent. Eu apenas… me cansei.

O homem ignorou a esquiva da última pergunta. Estático, continuou mirando o príncipe.

— Se… cansou?

— Sim. Eu cansei de esperar um milagre, então apenas decidi fazer alguma coisa a respeito. Creio que é assim que as grandes mudanças começam, não é?

— Prí-Príncipe Vast…

— Bem, mas não quero ver ninguém chorar ou coisa assim. — Terminou de se vestir, declarando: — Faça os preparativos, um monstro irá morrer esta noite.

 

***

 

A noite chegou mais rápido do que qualquer um poderia esperar, e mesmo o atraso não comunicado para o início da festa não foi suficiente para impedir uma enorme massa de pessoas de aparecer.

Nobres de todos os cantos de Von Legurn chegavam a todo momento, lotando rapidamente o interior do casarão.

Por um acaso conveniente do destino, a festa tinha o costume típico dos convidados usarem máscaras. A intenção era que a interação entre os nobres de alta e baixa classe não fizessem distinção de educação um para com o outro.

Vast aproveitou o fato muito bem. A nova roupa, comparada à dos outros, era bem pouco chamativa. Em aparência era semelhante às que usava cotidianamente no castelo, com a diferença da cor primária ser o preto, dotado de alguns meros detalhes dourados aqui e ali.

Em seu rosto, uma máscara cobrindo os olhos. Havia se tornado num guaxinim quase por completo.

"Preciso ser rápido e discreto ao mesmo tempo, então a melhor coisa é me manter afastado dos convidados."

Se mantinha no segundo andar, observando o encher do salão com os braços apoiados no corrimão. Quase um porteiro da escada.

O Atirador Rubro permanecia à disposição, apenas a bolsa que armazenava o sangue foi tirado do braço e colocado no torso, onde nenhum volume suspeito seria criado quando escondido pela roupa. Mas, entre olhares e análises, a mente inevitavelmente começou a se perder conforme o tempo passava.

As moças entravam todas acompanhadas, e um aperto no peito atingia o príncipe sempre que se deparava com um casal de mãos dadas.

"O que ele quis dizer quando disse aquela mulher? Estava falando da Emilia? Por que ele se referiria à ela desta maneira?"

Não sentia inveja ou desejo por qualquer uma das moças que via, apenas uma dolorosa nostalgia. Mesmo com esta dor, se recusava a tirar o olhar da cena. Serviria para não deixar apagar a chama primária que o fez iniciar a jornada.

— Tem certeza de que vai ficar apenas aqui, observando? — Vincent chegou com uma taça de vinho em mãos. — Sabe, sem querer ser intrometido, mas é esperado que o príncipe, pelo menos você na sua idade, já tenha uma noiva em mente.

Ele parecia meio bêbado, apesar da falta de sinais suficientes. Vast pouco se incomodou, fitando o amigo por breves segundos antes de voltar a analisar tudo de cima.

— Meu coração já pertence a alguém.

Aff! Um suspiro que o príncipe não ouviu. Vincent sabia bem de quem ele falava, tal qual sabia o que havia acontecido com esta pessoa. Acreditava que Vast havia visto o corpo de Emilia, a verdadeira. Quem sabe estivesse apenas traumatizado agora.

Era difícil imaginar tal coisa acontecer com Vast Los Filho, o rapaz que se adaptou com sua Maldição em apenas dois dias. Amaldiçoados em geral normalmente levavam pelo menos um ou dois meses. E como se tamanha capacidade não fosse suficiente, ele ainda usou do poder para ajudar os outros.

Algo chamado de maldição sendo usado para o bem alheio. Com certeza o amor que ele recebia do povo era muito bem justificável. Alguns até clamavam ao Rei para depor e colocar seu filho no lugar de uma vez.

Querendo ou não, Vast ainda era um humano. Aceitou esta realidade e bebeu o resto do vinho. Por fim, estufou o peito, soltando todo o ar de uma só vez numa longa bufada satisfeita.

— Bem, de qualquer forma, eu espero que se divirta nesta festa. Todos precisamos de um tempo para espairecer a mente.

Era de longe a última coisa que Vast faria nesta noite, mas ainda assim ele agradeceu ao colega.

Assim que o homem se distanciou — se misturou aos outros convidados no salão abaixo —, Vast apoiou os braços no corrimão, de forma que poderia observar ao mesmo tempo que, de certa forma, descansava.

Nada de anormal foi visto até o momento. Convidados chegavam e se enturmavam sem problema, rostos conhecidos e familiares preenchiam cada canto. Mesmo as máscaras eram incapazes de enganar o atento olhar do príncipe.

Mas, para a sua infelicidade, outras pessoas na festa tinham os olhos tão atentos quanto os seus.

— Que presença inesperada. — A voz trouxe sua atenção imediatamente. — O que faz aqui, príncipe Vast Los Filho?

A voz lhe enganou, pensou ser outra pessoa. Era uma mulher — mais alta que si, inclusive —, dona de cabelos negros que chegavam até sua nuca e um par de olhos esverdeados que viram através de sua máscara. Pele branca, jovial, exposta pelo vestido longo com cortes laterais, expondo o monumental par de coxas que agiam em conjunto ao pano para esconder as partes mais importantes.

Mas, não apenas isso, outra coisa lhe chamava a atenção na mulher. Foi incapaz de esconder. O disparar de seu coração era visível, tirando um sorriso curto da mulher que, despreocupada, logo disse:

— Fique calmo, querido, eu não vou fazer nada com você. Imagino que não quer ver nenhuma catástrofe acontecendo por aqui.

Vast permaneceu imóvel. A única coisa que realmente se movia era, além do suor frio no rosto, seu olhar. De canto, visualizava mais uma vez aquela aura.

 

Vampiro Original

Força 62/100

Agilidade 60/100

Inteligência 79/100

 

— Quem é você e o que quer neste lugar?

Soou o menos ameaçador possível. Nunca poderia arriscar causar raiva numa criatura como esta, ainda mais num lugar com tantas pessoas.

— Carmilla, pode me chamar assim. — Ela bebeu da taça de vinho que surgiu em sua mão do absoluto nada. — Está indo em direção à Torre, não é?

Vast fitou a figura com um olhar de canto. Em contraste com as coxas maravilhosas, os braços eram finos, uma total ausência de qualquer trabalho braçal realizado em sua vida. Apesar disto, era notável a aura de responsabilidade; alguém acostumado a tomar conta não apenas de si mesmo, como dos outros.

— Está aqui para me impedir? Pretende me transformar em um de seus escravos vampiros também?

Huff! Não se preocupe. Você até que é bonitinho, mas o meu negócio é outro. Além do mais, esta nem é minha região, ou seja, não sou eu com quem você terá de lidar depois.

Carmilla, refletiu. O nome não lhe era estranho. Provavelmente foi citado em alguma das reuniões que seu pai fazia com outros reis. Entretanto, os detalhes que tinha certeza de existirem foram expurgados sem deixar vestígios.

— Se não está aqui para me impedir, então…?

Ora! Uma dama precisa de motivos para rever um rosto amigo? — Ignorada parcialmente, deu outro gole no vinho antes de continuar. — É como eu disse, não vou te incomodar. Faça suas coisas como quiser, pois hoje sou apenas uma espectadora.

— E por que eu confiaria em você?

— Por acaso conseguiria revidar se eu estivesse mentindo?

O silêncio de Vast foi resposta suficiente. Carmilla sorriu.

— A gente se vê por aí, garotinho. Estarei te observando.

Ela ajeitou a postura, abandonando a taça vazia sobre o corrimão. Uma figura destacada na multidão.

As mãos de Vast tremiam sem controle, e mesmo neste estado ele fez o possível para que pelo menos a voz não saísse tremida nestas últimas palavras.

— É você…? — Tomou coragem e se virou para encará-la. — Essa voz… Você é…!!

Ela parou de andar, mas o rosto continuava oculto.

Para Vast, esta era a única explicação. Um Amaldiçoado surge por pura sorte. A ferida fatal causada por um vampiro, seja ele qual for, pode resultar em uma de duas coisas: maldição ou morte. Ainda por cima, o Amaldiçoado não poderia se afastar muito do lugar onde recebeu seu novo peso, caso contrário morreria dentro de um período exato de 20 dias.

Dito isto, Vast tinha poucas lembranças de quando foi atacado. Era pequeno, apenas uma criança, mas tinha certeza de que havia sido atacado por algo — no mínimo — no nível de um Descendente. Aparência vaga, quase uma sombra, meio inexistente, mas era um perto ou acima deste nível.

Aguardando ansioso sua resposta, o príncipe viu o rosto da vampira se virar um pouco, apenas o suficiente para ver o canto de sua boca — os lábios vermelhos num sorriso em êxtase.

— Espertinho.

As luzes piscaram no instante seguinte, uma escuridão que levou embora a silhueta de Carmilla tão rápido quanto foi dissipada pelo retorno da luz.

Um buraco repentino surgiu no peito de Vast. Apertou a área, desacreditado, pensou ter encoberto este vazio com seu desejo por alcançar a Torre do Conquistador. Tinha também a certeza que queria negar. A presença de Carmilla, além de aterradora, também era…

"É um pouco difícil aceitar, mas não tem erro! Eu nunca me enganaria neste quesito!"

Cerrou os punhos, sentindo parte do sangue ser forçado pelo tubo que se conectava ao Atirador Rubro. Voltou às veias após o aperto se afrouxar.

"Eu quero muito conversar mais com ela, mas não é pra isso que vim aqui hoje!"

Dormir por dois dias inteiros foi a pior coisa possível. Tinha que finalizar o serviço esta noite e o mais rápido que seu corpo lhe permitisse. Fosse um Vampiro Descendente ou Original, contanto que seu punho pudesse tocá-lo, então também era capaz de derrotá-lo.

Logo, com a concentração rapidamente recobrada, mirou o salão uma outra vez, determinado a encontrar o inimigo com um único olhar.

Infelizmente, este ainda estava fora de seu alcance. Escondido não somente atrás de várias pessoas, como de mesas, cadeiras, pilares e grandes barris de vinho e cerveja. Uma figura corcunda, meio miúda, confundível com uma criança de dez anos. O rosto escondido pelas trevas, ao contrário dos olhos que cintilavam no rubro que o paladar tanto desejava. Este estava espalhado; esbanjado diante de si, e aqueles que lhe trariam tanta fartura seria ninguém menos que seus filhos.

— O Amaldiçoado, Vast Los Filho! Então ele realmente está aqui… Bem, os animais mais agressivos são os primeiros a morrer quando eu sou o caçador!

Em ambas as mãos enrugadas surgiram bolas de carne que se pensaria serem verrugas. Cresceram e cresceram até tomarem metade do tamanho de sua cabeça, rachando como ovos em seguida. As crias saíram, grandes mosquitos do tamanho de um pincher, mas contendo tanto ódio quanto estes.

— Comecem o banquete, meus filhos!!

 

 

 


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