MUTTER
Capítulo 5: Conexões
Agora com um novo equipamento para lutar contra os Vampiros, Vast seguiu seu caminho em direção à Torre do Conquistador. Ia pela melhor rota que conhecia até então, no entanto, algumas palavras de Russisch ocasionaram numa mudança de percurso.
Na próxima grande cidade, há o rumor de que um poderoso vampiro está causando desordem. Até o momento, ninguém foi capaz de detê-lo. Por favor, ajude aquelas pessoas!
Se tratando dos futuros súditos, Vast não poderia de forma alguma simplesmente ignorar esta situação.
A cidade em questão era Ormstade, um local com foco em comércio de carne. Vast conhecia um pouco devido às suas viagens ao lugar, onde costumava desfrutar de algumas iguarias. Apesar disso, nunca teve a chance de explorar de fato.
“Ainda deve haver aquelas grandes celebrações. Creio que o dia do Festival da Carne esteja próximo.” Também conhecida como terror vegano.
Não demoraria para chegar até a cidade, no entanto, Vast deveria se lembrar que já estava em seu segundo dia de viagem.
Vinte, apenas vinte dias seria o suficiente para que a maldição o eliminasse. Até o momento não sentia dor alguma que realmente lhe incomodasse, e também não esperava sentir caso a “Hora H” acabasse chegando de fato.
Tudo que pensava era em chegar o mais rápido possível em Ormstade e resolver a situação por lá. Por mais que estivesse apressado, nenhum súdito, independente de quem fosse, era indigno o suficiente para que se recusasse a ajudá-lo. Enquanto estivesse no território de seu futuro reino, ele protegeria esta pessoa.
E assim, ele apertou o passo, passando a correr até seu próximo objetivo.
***
Arfa! Arfa! Cada respiração era equivalente à um gigante lhe pisoteando, mas não ao ponto de lhe matar. Enquanto isso, algumas formigas ao redor deveriam estar agora com a força de um elefante, mas ignorando isto, havia uma coisa boa a se observar nos resultados de tamanho esforço.
— Independente de quanto tempo passe, este lugar nunca muda.
Havia apenas um pequeno muro para determinar a área da grande cidade, as ruas principais eram largas, e aquela conectada à entrada tinha em seu final uma grande mansão. Mesmo de longe, Vast se sentia pequeno em relação à casa, por mais que tenha morado em um castelo por toda a sua vida.
Estradas e casas eram feitas com blocos de pedras dos mais variados tamanhos, e cores vibrantes já decoravam as vias principais. Em conjunto com tal boa atmosfera, haviam os sorrisos no rosto das pessoas.
Vast, entretanto, tinha apenas um objetivo: “Tenho que encontrar o Vampiro o mais rápido possível!”
Fazer isso não era exatamente difícil. Por serem orgulhosos demais, era extremamente raro, quase impossível encontrar um Vampiro que conseguisse ser discreto com suas façanhas, independente do quão evoluído ele fosse. Na verdade, os Vampiros Originais gostavam de deixar marcas aparentes de que passaram por ali, como se marcassem território.
Dito isso, a primeira coisa que fez foi começar a procurar por rastros de destruição. No entanto…
— Ei, por acaso você é — o soldado na esquina disse ao se aproximar — P-Príncipe Vast Los Filho!? O que faz aqui sem devida proteção??
“Argh! Seu energúmeno!”
O próprio príncipe repudiou tamanha ofensa, por mais que tivesse lhe faltado coragem para colocar em palavras reais. Esperava que alguém iria lhe reconhecer, mas não achou que seria literalmente no primeiro passo que desse dentro da cidade.
A multidão se formou antes que conseguisse fugir ou se esconder, não lhe restando escolha senão agir de forma natural.
— Estou apenas de passagem. Fui enviado até aqui pra ter uma conversa com o Senhor Vincent.
Inicialmente não seria muito inteligente visitá-lo devido a alta chance dele estar envolvido com vampiros, mas quis acreditar que isto era impossível de acontecer. Cerrou os punhos na mesma hora. Lembrou-se do Transformado que enfrentou no castelo, revelado como um de seus súditos.
“A marca de espada não era da família de Vincent, mas ambos possuem conexões. Se ele estiver envolvido, talvez eu possa usá-lo para chegar nos culpados por aquele Transformado.”
— Está aqui sem proteção? — continuou o guarda. — Por favor, permita-me lhe acompanhar até a casa de Vincent!
— Eu gentilmente recuso. Foi me dada a ordem de comparecer sozinho. Os motivos são secretos.
— Urgh…! Ce-Certo! Então deixe-me pelo menos abrir o caminho para o senhor!
O guarda reuniu companheiros, assim afastando a multidão que havia se formado ao redor do príncipe.
“Sempre funciona. Pelo menos para isso ainda consigo usar meus títulos.”
Com um dos problemas resolvidos, ele aproveitou a distração das pessoas e saltou. O trum da força que usou atraiu olhares assustados, mas ninguém foi rápido o suficiente para dizer para qual direção ele havia ido. Basicamente, foi como se tivesse apenas desaparecido.
Logo pousou em um dos altos telhados. A visão superior o permitiu ter uma melhor análise da larga rua principal, esta que se entupia das preparações para o Festival de Carne.
As barracas cheias de grandes peças vermelhas, frescas o bastante para nenhuma mosca — ou vegano — ser avistada em lugar algum. Vast temeu ver uma vaca ou porco ser morto diante de seus olhos e a carne exposta ali mesmo.
"Ao invés de ir direto para Vincent, talvez eu encontre algo suspeito se visitar os lugares que a família dele toma conta."
A família em questão era Kasbrarc. Eram responsáveis pela administração de Ormstade, e como se tal nível de responsabilidade não bastasse, também possuíam algumas ligações ilícitas, como de praxe. Até onde Vast sabia, não passava de algumas ligações para comprar mercadorias por preços menores. Algo fora do alcance de seu poder político — mas não de seu punho.
"Pelo que eu me lembre, o estabelecimento mais valioso deles era…"
Com alguns vários saltos pelos telhados, chegou num beco nada suspeito, onde nem mesmo a luz do sol alcançava, independente da hora do dia.
Por um golpe de sorte, alguns homens — cuja aparência Vast não se lembraria —, estavam na porta, aparentemente esperando por alguém.
Escondido logo acima deles, cerca de quatro metros de distância, pôde escutá-los ainda que se deitasse sobre o telhado, de forma que ficasse fora do alcance de seus olhos.
— Quantos vão chegar desta vez? — perguntou uma voz grossa. — Espero que mandem o suficiente para acabar com toda a competição. Na última vez eu perdi o prêmio de vendas por causa de três malditas peças de carne!
— Fica tranquilo, cara — respondeu outro. — O chefia ficou feliz com o banquete da semana passada, então tenho certeza de que vai mandar mais que o suficiente pra nós… Oh! Olha lá, parece que chegou!
Dos fundos mais escuros do beco, uma criatura corcunda encapuzada surgiu carregando uma caixa muito maior que si. O surgir da aura foi instantâneo para Vast, que logo pôde ler do que se tratava a figura.
Vampiro Indulgente
Força 20/100
Agilidade 7/100
Inteligência 13/100
— AqUi EsTá Os ProdUtOs dO me-MeStrE!!
A voz retorcida da criatura fez os ouvidos de todos ao redor zunirem por alguns segundos. O grande caixote foi colocado no chão e aberto, revelando o que seria um mar de seres vivos.
— Uoho! O que eu falei? Eu disse que ele ia mandar um monte dessa vez! HAHAHA! A gente tá feito, maluco!!
"Que merda é aquela?" Vast estreitou o olhar na tentativa de ver melhor.
Era inicialmente impossível de entender o que se passava. Algo como um amontoado infinito de insetos que, por estarem se contorcendo uns contra e dentro dos outros, se tornava em algo como uma tela chiada de televisão.
No entanto, uma das criaturas escapuliu da bagunça, voando aleatoriamente ao redor. Nenhum daqueles ao lado da caixa se importou, diferente de quem estava logo acima deles.
"É um… mosquito?!"
E dos grandes. Tinha o tamanho de um pincher, e a tremedeira indicava que o ódio contido em seu ser era equivalente, senão maior. Em outras palavras, era uma criatura a se temer. De qualquer forma, continuou ouvindo.
— O me-MeeeeesTre! ELE diSSeee que… É Bom ter… ResulTAdos dessa… VEz!
— Certo, certo, mesma história de sempre, né? Qual é, você sabe muito bem que nós aqui somos os mais confiáveis desta cidade inteira. Nós nunca falharíamos com o chefia.
"Mestre? Se ele está sob ordens, então não é algo isolado, tem alguma coisa maior acontecendo por trás…"
Ziiiiiiii!! O som de fundo interrompeu o pensamento. O instinto fez-lhe estapear o ar ao lado da orelha, para que só em seguida se afastasse. O mosquito que escapou da bagunça estava logo ao seu lado.
"Merda, eu não vi ele se aproximando. O quão rápida é essa coisa!?"
Preparou o Atirador Rubro o mais rápido que pôde, mas ainda foi insuficiente.
A criatura avançou como um relâmpago, penetrando o peito de Vast com força, capaz de levar sua agulha da grossura de um grande graveto até o final. Antes que reagisse ao ataque, seus músculos contrariam ao passo que densas bolhas de sangue foram sugadas de seu corpo, armazenadas no bolsão de sangue na bunda do mosquito.
Maldição!! A pior parte era a dor dobrada. A perfuração em si era grande, mas Vast tinha sensação de ter o peito expandido por um barra de ferro do tamanho de um braço, este que gradualmente tentava se equiparar ao tronco de uma grande árvore. E, claro, cada vez que uma bolha de sangue ia embora, as feridas causadas pelos socos do príncipe eram curadas.
Bombardeou a criatura o mais rápido que conseguiu, mas apenas após dez lentas sugadas que a criatura lhe deu que ele finalmente entendeu uma coisa.
— Acabou? — Um suspiro aliviado. Perdeu menos sangue do que imaginava, no máximo dois litros.
Após finalizar seu banquete, o mosquito imitou uma abelha, abandonando seu longo ferrão e, por fim, caindo aos pés de Vast, totalmente sem vida.
"Entendi. Apenas um não é suficiente para matar uma pessoa, então deve ser por isso que aquela caixa tem tantos. Mas com essa quantidade…"
Definido o nível de problema da situação, o cerrar dos punhos enviou uma parte de seu sangue para a bolsa do Atirador Rubro. Logo abaixo, o Vampiro Indulgente continuava.
— Re-REalizem o traba-BAlho que o mestre vAi~i re-recompensá-los… O que me DI-DIIIzem…?
Os dois homens trocaram olhares gananciosos entre si e a caixa cheia de mosquitos raivosos. Para eles, a resposta só poderia ser uma.
— Ora, mas é claro que eu só poderia dizer que si…
SPLUUUSH!!
O Vampiro foi esmagado diante de seus olhos. Abaixo da capa, apenas uma massa de carne podre restou, sobre ela, havia agora uma figura trajando roupas nobres. As vestimentas, o curto cabelo verde num rabo de cavalo, tudo estava agora manchado com o sangue escuro. Nos olhos, a mesma raiva emanada pelas mais poderosas criaturas de todo o mundo.
— Eu diria que não.
Ambos os homens deram um salto. — Que-QUEM É VO… Glurh!!
Como um príncipe, Vast nunca pensou que se encontraria em tal situação, mas lá estava ele, colocando seu membro à força na boca de um grande homem.
— Escute, rapaz, eu não vou perguntar duas vezes. — Flexionou o braço, preparando o Atirador Rubro. — Qual de vocês vai pagar para consertar minha roupa?
***
Depois que interrogou os dois homens, Vast pegou um isqueiro e ateou fogo na caixa, eliminando todos os mosquitos de uma só vez.
"Vampiro Indulgente poderia muito bem significar algo grande, mas, no fim das contas, não é um Vampiro Original que está aqui, mas sim um Vampiro Descendente."
Vast se lembrou das aulas que recebeu de Emilia sobre o mundo dos vampiros. O sistema hierárquico das criaturas era bastante simples, seguindo dos mais relevantes aos menos, tal como funcionaria o exército normalmente.
— Vampiro Original —
Descendente
Transformado
Vagante
— Indulgente —
Os Originais são humanos que se transformaram em vampiros de maneira desconhecida, sendo que nenhum outro surgiu desde os primeiros de todos — um total de quatro —, sempre se mantendo os mesmos. Descendentes para baixo eram crias dos originais, nascidos por compartilhamento extremo de sangue ou reprodução sexuada.
O Transformado seria um tipo de bestial obediente, sem qualquer inteligência notável. Pode ser criado por qualquer uma das classes acima dele.
O Vagante seria um Vampiro criado a partir de um Descendente. Já possui certa vontade própria, mas a maioria de suas ações ainda é controlada por seu criador. Por fim, o Indulgente pode ser resumido como uma versão menos livre do Vagante. Geralmente acaba por ser usado como capacho, às vezes comparado com escravos.
Porém, Vast devia se lembrar que isto era apenas os ensinamentos de Emilia, e apesar de querer negar isto, ela poderia estar errada em alguns detalhes. Vampiros eram uma raça exótica com uma capacidade de adaptação mais do que surpreendente, então esperar evoluções repentinas era a melhor tática de sobrevivência.
"Um Vampiro Descendente, então. Bem, não posso desconsiderar a possibilidade de um Original estar por perto. Mas, se estes mosquitos são criações de um Descendente, então não tenho tempo a perder!"
Se aqueles dois homens não mentiram, o plano deste Vampiro em questão era usar o festival da carne como um atrativo para ter várias pessoas no mesmo local, consequentemente, uma enorme quantidade de sangue no mesmo lugar.
"Não sei que tipo de conexão o Descendente pode ter com Vincent, mas seja o que for…" Ergueu o punho à frente. Poderoso. "Eu vou esmagar!"
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