MUTTER
Capítulo 4: Um Jeito Melhor
Vampiro Vagante
Força 20/100
Agilidade 18/100
Inteligência 9/100
Um Vagante… Vast conseguiu apenas erguer uma das sobrancelhas. Este era mais fraco que o Transformado que atacou o castelo, no entanto, apenas uma pessoa normal ficaria aliviada por isso.
Para Vast, independente de quem fosse o inimigo, sua maldição seria benéfica para ele. Fosse a criança mais fraca do planeta, apenas uma ferida em Vast seria o bastante para curá-la completamente. Além disso, os atributos de um vampiro eram apenas um detalhe no todo que o transformava numa das criaturas mais perigosas do planeta.
"Decapitar deve ser o jeito mais fácil..." Empunhou sua espada.
— Essas roupas que você tem aí! — O Vampiro analisou. — Você com certeza é da nobreza!!
Na verdade, seus brasões deixavam claro que ele era o príncipe, além de sua própria aparência que era conhecida por todos. Tal coisa apenas confirmava o baixo intelecto da coisa.
Vagantes, ainda que humanos, costumavam ser meros fantoches, com a maior parte das ações mais inteligentes sendo realizadas por um terceiro através do controle mental. Vast não sabia se todos os Vagantes eram assim, mas mesmo que não, era algo a se ter cuidado.
— Bem que eu tava cansado do sangue de camponeses!! — Inclinou-se à frente, em posição de salto. — O seu deve ser bem melhor!!
Vast agiu de imediato, mas ao invés de avançar para o ataque como o Vampiro pensava, ele correu até alguns camponeses que estavam feridos.
Perto o suficiente, ele fez um corte superficial em sua mão. Em seguida, uma luz dourada imbuiu os feridos. O movimento se repetiu para cada ferido em seu campo de visão, quando certificado de que todos estavam bem, gritou:
— Saiam daqui imediatamente! Eu lidarei com esta ameaça!! — E mirou o Vampiro novamente.
Porém, o rosto deste havia se alterado drasticamente. Não era raiva por ver as presas correndo para longe, mas satisfação; imensa, por sinal.
— VO-VOCÊ É… UM AMALDIÇOADO!!?
Ele não aguardou uma segunda confirmação, apenas tomou como verdade imediata.
— Ahahahah!! Quanto tempo faz que eu ouço falar disso? — Lambeu os lábios com a língua de cobra. — Meus colegas falecidos viviam dizendo que sangue amaldiçoado era o melhor. Como será que o seu é?
Uma engrenagem se encaixou na cabeça de Vast. Seu sangue era algum tipo de iguaria, então? Agora ficava difícil entender o que de fato havia acontecido ao Transformado no castelo.
Não teve tempo nem para pensar nisso. O Vagante avançou num estouro que arrancou parte do telhado sobre o qual estava, algo que o príncipe defendeu por pouco com a espada. A lâmina curta entrava em conflito com as afiadas unhas do inimigo. O príncipe levemente pressionado para trás, mas capaz de revidar.
"Ele realmente não é tão forte. Eu posso vencer!!"
Um forte grito de guerra precedeu a estocada que realizou. Mirou direto no coração não pulsante do Vampiro, querendo ao menos desequilibrá-lo, que por sua vez saltou para trás e evitou a perfuração.
O pouco sangue que escorreu de seu peito foi o bastante para diminuir um pouco seu sorriso, mas incapaz extingui-lo.
— Nada mal. Vai valer a pena te matar!!
Ele diminuiu a distância com um único avanço. A mão desceu contra o pescoço de Vast, que desviou o golpe usando a lâmina e acertou um chute na barriga da criatura, mas a única coisa que ele expurgou foi saliva. Precisava bater mais forte.
"Não vai adiantar se não for morte instantânea!!"
Vast tirou a espada do caminho e cerrou o punho direito. O membro atropelou o espaço mais forte que um tanque de guerra, numa rota de colisão perfeita! Lerdo!! O Vampiro desviou, contra atacando ao usar a afiada unha do dedo indicador como lança.
O príncipe sentiu este tiro raspar sua bochecha, tal como um fio de sangue escorrendo pelo rosto. Foi inevitável, a onda de revitalização alcançou o vampiro, desaparecendo com o pouco cansaço acumulado até então.
— Você cura os outros quando é ferido!? Kahahaha! Mas que azar do caramba!
Vast se afastou com dois longos saltos, nesse meio tempo, a excitação — em vários sentidos — do Vampiro apenas cresceu. De guarda aberta, orgulhoso, posava exoticamente como um contorcionista tarado.
— Desista e apenas ceda esse sangue pra mim!!
TRUUM!! O avanço fora mais rápido que o anterior. Vast bloqueou mesmo assim, mas a criatura já estava numa velocidade muito além do início da luta.
— É o seu fim, inseto!!
O vampiro teve um forte mal pressentimento depois de tais fatídicas palavras, mas ignorou. Vast não era capaz de lhe acompanhar, e o próximo ataque perfuraria seu pescoço e o mataria.
Provavelmente ele pensou isso.
O Vampiro viu algo voando contra sua cabeça, sendo incapaz de desviar.
O som do metal colidindo com sua carne ecoou pelo vilarejo, e uma outra rajada de ataques idênticos caíram sobre si.
O que Vast usava para atacar era um carrinho de mão, usando-o para construir sua vitória na base do ódio e pão com salsicha. Segurando-o por uma das alças de metal, ele empunhava aquilo como se fosse uma espada. No entanto, apenas serviu para aumentar a raiva do inimigo.
— Maldito! Acha que pode me vencer com isso!!?
Parou a sequência ao agarrar a roda do carrinho a centímetros de sua cabeça. A força nele aplicada foi transferida para seu braço, dando-lhe uma melhor noção da força de Vast. Podia até ser acima do normal, mas se isso fosse tudo, ainda estava longe de ser o bastante para lhe vencer tão facilmente.
— Por que você ainda tenta, moleque?
Jogou o carrinho para longe e avançou num salto. Suas unhas enfim penetraram com precisão em seu oponente.
O coração de Vast parou por um instante quando as cinco lanças lhe atingiram. A perfuração de cinco unhas a gerar uma dor equivalente à uma amputação generalizada.
O vampiro riu de seus gritos doloridos, mas havia de reconhecer sua força por não ter caído no chão e começado a rolar como um tatu.
— Você é forte, pena que a vida não sorriu pra você!
Vast viu a cena do castelo se repetir diante de seus olhos. O Vampiro Vagante deu boas lambidas no sangue que escorria antes de descer com suas presas diretamente em seu peito.
O sangue de suas mais longínquas extremidades começou a seguir até a boca do vampiro, pouco a pouco tornando a pele mais e mais branca.
Vendo o sorriso no rosto do inimigo enquanto o chupava, Vast conseguiu apenas encarar o céu e murmurar para si mesmo.
— Aff! Preciso arranjar um jeito melhor de fazê-los engolir isso.
O Vampiro ficou confuso, mas logo entendeu a tranquilidade no rosto do príncipe.
— GAARH!! MAS O QUE É ISSO!!???
Sua boca queimava como se tivesse engolido uma fornalha industrial que ainda queimava com potência máxima. Língua, dentes, carne, derreteram um por um.
Cada órgão e membro lentamente se fez em uma gosma rubra, não cessando com os gritos enfadonhos tomados pela descrença até que o último pedaço ainda inteiro tivesse derretido.
Com o retorno do silêncio, Vast enfim se levantou.
— Uma luta pouco prática. Bem, foi uma aposta e tanto também. — Analisou enquanto tirava a poeira da roupa. — Então meu sangue realmente pode matá-los… É uma carta surpresa interessante, mas fácil de ser superada.
Tinha que arranjar um jeito de fazê-los beber à força, mas não era tão simples quanto meter seu membro na boca deles e forçar o líquido garganta abaixo.
— Vou precisar de outra arma também… — Continuou analisando, por fim notando a pior coisa possível. — Maldito! Ele rasgou minhas roupas!!
Hematomas, hemorragias, isto era o de menos, a aparência era a primeira coisa a ser priorizada! Roupa desarrumada e má gestão eram praticamente sinônimos um do outro. O que os seus súditos pensariam se vissem seu príncipe e futuro rei em tal estado?!
Quanto à arma, a que havia pego do reino estava desgastada após a luta. Agora entendia a razão de Von Legurn não ser tão poderoso quanto os Vampiros. As espadas eram a maior arma dos soldados, e se elas realmente se desgastavam tão rápido, adoraria saber como duraram tanto tempo nas batalhas travadas contra Vampiros no passado.
Porém, essa não era a questão no momento. Além do mais, por mais que um dia fosse capaz de voltar para casa, não esperava que seu pai ainda teria a audácia de lhe entregar o reino. Por isso iria tomá-lo à força de quem quer que estivesse lá.
Repetiu seu objetivo, um tipo de dose de determinação:
— Apenas um desejo. Se eu conseguir a vacina do Vampirismo, então toda essa desgraça vai acabar…
Ele almejou um futuro brilhante, mas tudo que fitou foi um céu nublado. Em breve começaria a chover.
Suspirou cansado, já mirando o caminho que seguiria pelo resto da noite, mas impedido por uma voz ao lado que chamou-lhe a atenção.
— Meu jovem… Essas roupas… Por acaso você veio do castelo?
Ele se virou e lá estava um homem velho. Pele amorenada, barba longa que escondia o peito magro e uma careca bem enrugada. Mesmo assim, tinha uma aura jovial ao seu redor.
— Sou Vast Los Filho, herdeiro do trono de Von Legurn.
— Uoho! O príncipe em pessoa!? Quem diria! — Aproximou-se cuidadosamente, até ficar ao lado de Vast. — Eu presenciei toda a sua luta. Obrigado por salvar nossa pequena vila, príncipe Vast.
O velho estendeu a mão para um aperto, aceito de muito bom grado. O sorriso de Vast claramente deu uma grande carga de energia positiva no senhor, este que, aparentemente, não se importava nem um pouco com a situação atual de seu salvador — banhado em sangue.
— É um prazer conhecê-lo! Eu sou Russisch, trabalho como um tipo de inventor e líder aqui no vilarejo. Por favor, fique em minha casa até a chuva passar.
Vast pensou em recusar, mas os trovões que ressoaram lhe fizeram considerar o perigo de ser atingido por algum raio. Já ouviu falar de um vampiro que conseguia controlar esta força da natureza, então sair numa tempestade enquanto tem a cabeça caçada seria o mesmo que andar sobre um área de treino de arco e flecha com um alvo nas costas.
— Agradeço pela hospitalidade, Senhor Russisch. Estarei aos seus cuidados.
O velho deu um sorriso quase banguela, mas com certa graça.
Logo que entraram, Russisch entregou uma muda de roupas temporária ao príncipe até que sua esposa terminasse de lavar as roupas da realeza. Após tomarem juntos um banho frio de banheira, o velho fez questão de levar Vast até sua oficina.
Era um ambiente espaçoso, com considerável quantidade de bugigangas espalhadas, desde armas de fogo, instrumentos musicais e itens de caça aos vampiros, como alho e cruzes, uma pena que estes últimos foram comprovados inúteis logo quando os Vampiros surgiram.
— Eu estive observando a sua luta desde que ela começou. Lutou muito bravamente, príncipe Vast.
— Não precisa ser tão cortês, apenas “Vast” serve. — Analisou as máquinas espalhadas. — Vejo que realmente trabalha como inventor. Que tipo de itens produz?
— Ah! Isso não é muito importante. Na verdade, eu gostaria de lhe perguntar uma coisa, prín… Uhum! Vast.
Russisch se sentou numa cadeira alta, onde seus pés saíam do chão. Apoiando um dos braços sobre a mesa, usou o outro para aproximar de si uma caixa cheia de ferramentas e, enquanto fuçava nessa, perguntou:
— Você está indo para a Torre do Conquistador, não é? Eu ouvi você murmurando que precisa de “um jeito melhor de fazê-los engolir isso”. Ao que você estava se referindo?
Antes de qualquer coisa, Vast buscou um lugar para se sentar, explicando a situação para o velho inventor.
…
Russisch murmurou deveras impressionado. Seu fascínio provavelmente seria cegante de tão brilhante se ele não fosse tão velho.
— Usar seu sangue, não é? Acho que consigo ajudá-lo com isso, mas pode demorar alguns dias para fazer algo. Esse corpo não ajuda muito, entende. Será que há algum problema nisto?
Ele se moveu alguns centímetros na cadeira e ouviu-se um tek bem seco, impossível saber se saiu dele ou da madeira meio podre.
Na mesma hora, o príncipe refletiu muito brevemente e, sem qualquer hesitação seguinte, se aproximou de Russisch empunhando uma lâmina que encontrou ali mesmo.
— Vejamos… — Ajeitou o lado com corte sobre a palma de sua mão. — Acho que assim está bom.
Um corte veloz e levemente profundo. Merda, ele pensou, às vezes acabava se esquecendo que sua força era maior que o normal.
— Va-Vast! O que está fazendo, meu jovem… Huh!? UOHH!
A boca do senhor calou instantaneamente e o coração acelerou ao ponto dos batimentos seres audíveis quando uma luz dourada lhe cercou.
— Isso… Isso é!! — Sua voz alterou rapidamente, cada vez mais forte. — Uoho!! Eu não sinto tanta energia desde os meus vinte anos!!
O velho magricela desapareceu por completo. No seu lugar, um grande homem musculoso e sem barba, exibindo um queixo quadrado e músculos de dar inveja. A empolgação no semblante então, seria possível energizar uma cidade inteira apenas com a alegria presente em seus olhos.
— Querido!! — Uma voz feminina veio dos fundos, e a dona se revelou em seguida. — Querido! Uma luz, uma luz estranha apareceu e…!
Era uma jovem moça, muito bela por sinal, mas não tanto quanto Emilia (opinião pessoal do Vast). Ambos se entreolharam de uma maneira que o príncipe não conseguiu entender, parecia que iriam devorar um ao outro ali mesmo. Provavelmente iriam mais tarde, mas Vast acreditava que não era no sentido que estava imaginando — abraços e um jantar alegre.
Independente disso, a ação seguinte de Russisch fez o príncipe focar em outra questão, uma mais importante do que a vida pessoal de seus futuros súditos.
— Vast! Com este corpo eu tenho certeza que consigo criar uma arma que você possa usar contra os Vampiros num piscar de olhos! É só falar que eu faço essa noite mesmo, nunca pensei que sentiria essa motivação novamente! Vamos, diga, vou mostrar do que este inventor é capaz!!
— Oh! Sério? Isso será de grande ajuda, Russisch. Pois bem, então, se não se importar, vou começar a dar os detalhes…
Já havia pensado em um tipo de arma que seria bastante útil considerando todos os pontos de sua maldição, agora deveria deixar a criatividade de inventor de Russisch se unir às suas próprias ideias e aguardar pelo resultado, este que veio logo na manhã do dia seguinte.
***
— E então, o que achou, Vast?
O príncipe deu um sorriso enquanto analisava mais de perto seu novo apetrecho.
— É muito melhor do que eu havia imaginado. Você tem a minha mais profunda gratidão, Russisch.
Em seu braço direito estava a nova arma. A parte superior tinha um formato oval, havendo duas extremidades semelhantes à agulhas miradas para a mesma direção que sua mão. Do que seria a “cauda”, um fino tubo se conectava ao interior do braço de Vast, de onde coletava o material que serviria como munição para o grande "Baratão de Sangue", como Russisch apelidou.
“Vou chamar de… Atirador Rubro. Não que eu vá ficar repetindo isso nas lutas.”
E claro, ele não comentaria esta mudança na frente de quem lhe providenciou tamanha ajuda.
— Novamente, eu agradeço pela ajuda, Russisch. Farei questão de indicá-lo como inventor do reino quando eu assumir o trono.
— Hahaha! Não precisa, já fez mais do que eu poderia pedir quando me deu a oportunidade de trabalhar com potência máxima outra vez!
Ele flexionou os bíceps, destacando a montanha ambulante que era. Logo ao lado, era possível ver a esposa com olhos brilhantes enquanto o encarava.
— Creio que será melhor eu partir. Deixarei ambos aproveitarem a juventude recuperada.
Eles aproveitariam, mas, novamente, não no sentido que ele imaginava.
Enfim, o príncipe se distanciou da comunidade. Aos poucos outras pessoas foram surgindo, e um alívio tomou conta de seu coração ao ver que todos estavam bem.
— Obrigado por tudo, Vast! Espero que consiga chegar em segurança ao seu destino!
— Eu quem agradeço! — Ele acenou em despedida, cerrando os punhos enquanto encarava sua nova arma. — Agora, é hora de seguir em frente!
Assim, a jornada de Vast Los Filho continuava. O caminho para a Torre do Conquistador era curto, porém tão longo quanto a maior das jornadas. Mas, independente da dificuldade que aparecesse, ele tinha certeza de que enfrentaria sem qualquer temor.
“Não se preocupem, povo de Von Legurn. Eu vou colocar um fim neste pesadelo!!”
Ele avançou contra a escuridão, almejando nada além da luz ofuscante além dela. Se necessário, enfrentaria até o próprio sol.
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