Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 3: Vampiros e Maldições

Eu vou partir para a Torre do Conquistador! Foi o que disse, mas absolutamente ninguém entendeu como ele havia chegado em tal conclusão, o que era algo normal quando se considerava o raciocínio veloz do príncipe.

Basicamente, alguém transformou um de seus súditos em vampiros, e se o que Emilia havia dito era realmente verdade, então era certeza de que haviam traidores entre as famílias nobres. Dito isso, apenas se livrar dos traidores não bastaria, visto que outra família poderia apenas repetir a situação, então a melhor maneira de evitar isto seria cortando o mal pela raiz, e para isto usaria a Torre como peça chave.

Muitos reclamavam destas suas atitudes muito direto ao ponto, mas não havia muito ao que fazer visto que este era simplesmente o seu jeito de ser, então restava aceitar e ver o que acontecia.

Após a confusão no salão ser encerrada, ele partiu para seu quarto imediatamente. Agora, na manhã do dia seguinte ao ataque, terminava seus preparativos.

Enquanto imerso em outras atividades, Vast se perguntou brevemente se havia algum motivo especial para que os guardas tivessem falado consigo. Normalmente, tanto eles quanto seu pai, o Rei, ficavam em silêncio absoluto diante de sua pessoa, só respondendo quando eram questionados ou se havia um comunicado importante a ser transmitido. Para além disto, a situação era de um silêncio mórbido, como se todos fossem fantoches.

Mas, na mesma velocidade em que o príncipe tomou a decisão de partir, também esqueceu destes detalhes.

"A Torre do Conquistador… Ela não fica muito longe, mas mesmo eu tenho que chegar o mais rápido possível. Eu não vou morrer pra um Vampiro, muito menos por causa da maldição!! Não agora!"

Como se já não bastasse a habilidade desvantajosa que tinha, a maldição ainda atuava como gaiola para si. Caso se afastasse muito do local em que ganhou a maldição — neste caso, o castelo —, esta faria seu coração parar dentro de um período exato de vinte dias.

Só lembrou deste fato após horas tentando arrumar suas coisas. Tudo que fez foi estalar a língua e continuar juntando tudo.

Quanto à Emilia, procurou-a por todo o castelo, mas não encontrou um único vestígio sequer de sua amada, fosse gotas de sangue ou pedaços de seu uniforme. Em alguns momentos a ouvia chamar-lhe pelo nome, tudo alucinação, convertida em algumas lágrimas após a falha em sua busca.

Merda!!! Lamentou, desmanchando outra das malas que preparou com tanta dedicação.

Ele mesmo ignorou suas feridas após a luta para procurar por Emilia numa esperança sem igual. Mas o resultado foi o mesmo para ele e todos que tentaram, como se o corpo tivesse deixado de existir.

"Emilia…!! Eu faria qualquer coisa para trazê-la de volta!"

Sequer havia a certeza de que ela estava morta, mas tomou isso como a cruel verdade. Criar esperanças seria pior para seu coração já enfraquecido.

— Aquela Torre… — Foi até a única janela do quarto. — O que exatamente tem lá?

O reino Von Legurn era vasto, mas a chamada Torre do Conquistador ultrapassava esta palavra.

Não era atoa que também a apelidavam de Escadaria Infinita — isto baseado na teoria de que no interior haveria uma escada em direção ao topo. Era uma estrutura negra de parede completamente lisa, cujo limite ultrapassava o céu visível. Artesãos de todo o mundo elogiavam quem a construiu, mesmo que não fizessem a mínima ideia de quem fosse. Por isso, muitos apenas a aceitavam como criação divina.

Para Vast, no entanto, estava longe de ser algo do tipo. Isso se dava por rumores, atualmente quase confirmações, de que dentro da Torre havia um Rei. Não qualquer um, mas um homem que ganhou o título de Rei Eterno.

A razão para o nome era bastante simples, ele era — supostamente — imortal. Por certo tempo, tal informação era de sabedoria apenas da alta nobreza e de alguns membros meticulosamente selecionados da Igreja, enquanto nas castas mais baixas existiam apenas rumores espalhados sobre a existência desta figura. Infelizmente era impossível manter total sigilo de uma informação por muito tempo, principalmente com Vampiros soltos.

"Ninguém sabe de que época ele é. E, sendo imortal, ele deve conhecer uma maneira de trazer os mortos de volta à vida."

Não apenas isso, muitos — incluindo os próprios vampiros — acreditavam que lá residia a fórmula para tudo no mundo, incluindo a cura de doenças e soluções para qualquer problema existente.

O Vampirismo era comprovadamente uma doença, portanto, todos os humanos que ainda tinham esperança no futuro guardavam consigo a crença de que lá estava a coisa que poderia dar um fim à praga dos vampiros. Em outras palavras, a vacina capaz de combater a doença.

Estava longe — e muito — de ser uma certeza, mas a esperança era a última a morrer. Vast também acreditava que essa vacina poderia dar um basta em sua maldição, mas era uma especulação totalmente pessoal.

"Enfim, acho que é melhor eu ir." Determinou ao perceber que abandonou todas as bagagens planejadas.

No fim das contas, acabou apenas com uma espada curta que roubou da sala de armas e algumas rações emergenciais que conseguiu do estoque dos guardas, daria um jeito para qualquer outra necessidade pelo percurso.

"Agora só preciso dar um jeito de sair do castelo."

Procurou ao redor. No canto de seu grande quarto estava seu imenso guarda roupa. Ao abri-lo, pilhas e mais pilhas de lençóis feitos do mais resistente tecido do Oeste. Por algum motivo também havia um leão, mas o ignorou. Localizado no quarto mais alto da torre mais alta, esta tinha que ser a fuga perfeita, e com um monte de lençóis à disposição, sua intenção era bem óbvia.

"Perfeito!" Pois a colocou em prática.

Do lado de fora, alguns guardas na base da torre perceberam o abrir da janela do quarto do príncipe. Não podiam fazer nada além de observar e questionar com um breve que bosta é essa?

Vuush! A resposta veio na forma de um guarda roupa enorme. O móvel voou pela janela numa velocidade absurda, alçando voo como se fosse um pássaro. Preso em uma das pernas havia uma corda extensa feita de vários lençóis amarrados um no outro.

Quando esta chegou ao fim, revelou o que havia na outra ponta.

— MAS QUE!!? — exclamou o guarda.

Vast se segurava na ponta da corda de lençóis, escalando-a rapidamente até alcançar o guarda-roupa em si em pleno ar.

"Certo, acho que vai funcionar."

Aos poucos o guarda-roupa perdeu sua altitude. E, estando próximo o suficiente da muralha depois de aproximadamente um quilômetro e meio percorrido, Vast saltou.

Conseguiu passar pela muralha com espaço de sobra entre ele e os grandes pedregulhos que a formavam. Já no outro lado, o pouso forçado causou um leve impacto, mas mesmo a dor dobrada não foi tão intensa quanto esperava. O guarda-roupa, por outro lado, se partiu em vários pedaços.

— Foi um plano simples, mas até que funcionou bem — comemorou com um sorriso no rosto. — Agora sim, eu devo começar a andar.

Estava de frente ao portão do Reino, de onde alguns guardas o encararam, totalmente perplexos. Dado o semblante, não estavam em condições de contestar sua presença, por mais que quisessem.

"Obrigado por cuidar de mim, Emilia. Eu prometo que voltarei em breve."

Colocou uma das mãos sobre o lado esquerdo do peito, almejando a permanência daquele forte palpitar por mais um longo período.

Seu olhar então caiu sobre aquilo muito além do portão, o castelo. Ainda visível em sua figura imponente, tomava para si mais da metade de todo o reino. Um tanto exagerado, mas não tinha como questionar a decisão da arquitetura.

Sequer havia iniciado sua caminhada e já sentia saudades de sua casa, tanto que começou a ter o que deveriam ser alucinações.

Na varanda de seu quarto havia uma figura que acenava em sua direção. Mesmo com a distância, era impossível para Vast não reconhecer o sorriso da mulher que amava. Trajada em seus impecável uniforme de empregada, Emilia acenava animadamente em sua direção.

Com lágrimas escapando, ele acenou de volta para a imagem divina. Não tinha como saber se era real ou uma cruel ilusão, e àquela altura não voltaria para descobrir; nem podia.

Se virou, os pés firmes, o olhar mirando a linha reta criada em sua cabeça que lhe levaria diretamente para a Torre do Conquistador. A jornada que tanto sonhou, enfim, começou!!

 

***

 

Após cerca de duas horas de caminhada, o Reino quase sumiu de vista, enquanto a Torre do Conquistador só parecia perto por ser visível de literalmente qualquer ponto de La Serva — quiçá do mundo.

"Aquele Vampiro Transformado… Aquilo que ele me disse!"

Antes que seu corpo se tornasse névoa por completo, o pobre homem proferiu suas últimas, dramáticas e convenientes palavras, as quais não saíram da cabeça de Vast desde que iniciou a caminhada. O único medo era de que algum dos guardas próximos naquele instante também tivesse escutado os murmúrios do cadáver, mas podia dizer que não graças à solidão até o momento.

O Guardião da Torre

Uma frase simples, até demais. No entanto, o significado que carregava era inestimável para Vast.

"Será que ele se referia ao Rei Eterno? Só consigo pensar nisso. Ou será que existe outro Ser que vive lá?"

Se fosse este Rei da Torre que estava pensando, então por qual motivo ele usaria um nome tão incomum ao invés de outro mais fácil de associar? Um calafrio subiu-lhe a espinha. Qualquer coisa capaz de viver no que deveria ser o lugar mais perigoso do mundo havia de ter um poder além do que o Homem seria capaz de compreender.

Não havia, contudo, razão para pensar nisto agora, mesmo que fazê-lo não lhe fizesse desistir da viagem.

"Eu posso coletar informações sobre isso durante a viagem, tem outro lugar pelo qual preciso passar antes de ir até a Torre de fato. Vejamos, nesta direção encontrarei a Vila Bonfire, talvez eu consiga alguma informação útil por lá."

Ninguém deu-o tal obrigação, na verdade, sempre tentavam impedi-lo de continuar com a mania considerada deselegante/desnecessária para a nobreza. Mas, sendo o único príncipe herdeiro, Vast acreditava que deveria decorar em sua cabeça o nome e localização de cada uma das comunidades presentes em seu futuro território, e foi o que fez, um conhecimento que agora se mostrou mais do que útil.

Além de saber com alta precisão onde cada vila estava, também estudou os tipos de vampiros descobertos pelos pesquisadores. Sendo esta atitude por um motivo mais de sua Maldição — [Mutter] — que outra coisa. Nunca em sua vida pensou que partiria para a Torre do Conquistador com o objetivo de adquirir a vacina do vampirismo, mas a precaução valeu a pena.

"Transformado… Este é um tipo bem raro por causa da maneira como é criado, se me lembro bem…"

Recordou do momento em que identificou o vampiro quando no salão. O curioso painel, dito como “aura” entre os Amaldiçoados, aparecia sempre que se desejava descobrir a força ou identidade de seu inimigo. Aparentemente não havia restrições para ver, mas as informações eram extremamente básicas. Outra limitação era que funcionava apenas nos Vampiros e em nada mais.

 

Vampiro Transformado

Força 35/100

Agilidade 20/100

Inteligência 2/100

 

Força e agilidade eram autoexplicativas, o que importava mesmo em um combate era a Inteligência. Esta, para os Vampiros, era referente ao quão bem o indivíduo em questão conseguia manipular sua técnica inata, ou seja, aquela com a qual nasceu com ou adquiriu ao se transformar. Não necessariamente implica no quão mortal a habilidade pode ser.

Amaldiçoados não conseguiam avaliar seus próprios atributos, mas Vast sabia que pelo menos sua força e inteligência eram maiores que a do Transformado. Por outro lado, pessoas comuns não chegavam nem na metade. O máximo que o soldado comum mais bem treinado do mundo alcançaria de força e agilidade seria uma média de 10, considerando esta escala específica de poder — e um treinamento humanamente possível. Vast já ouviu rumores de que o treinamento dos soldados de elite no Sul de La Serva era algo ridículo de tão intenso, mas nunca buscou confirmar nada.

“Eu preciso de mais força!” Isto era um fato. “Parece que meu sangue causa dor nesses monstros. Será que o mesmo vale para outros amaldiçoados, ou apenas eu tenho essa característica?”

Adoraria perguntar, o problema era que nunca tinha ouvido notícias sobre outro como ele no reino, muito menos no Oeste inteiro. Sendo um príncipe que passou a maior parte de sua vida sendo educado por Emilia no castelo ou apenas circulando nas proximidades deste, nunca teve a oportunidade de interagir muito com outras pessoas, quem diria Amaldiçoados.

Tal limitação era culpa dos vampiros.

Original — Descendente — Transformado — Vagante e Indulgente. Esse era o ranking que os humanos conheciam sobre esta espécie, do mais ao menos perigoso.

De todos estes, o único que não nascia através de ataques eram os Originais, a razão é óbvia. Sobre estes, a humanidade tinha o conhecimento de um total de 4 Vampiros Originais desde o surgimento desta raça, nem mais nem menos.

Entre todos os tipos, eles eram disparados os mais inteligentes, capazes de se organizar estrategicamente em várias situações. Atualmente, cada um dos quatro Originais agia como se fosse o Rei dos Reis em suas respectivas regiões. O que acontecia entre eles — amizades e inimizades — era um mistério para meros humanos.

Vast com certeza estava indo de encontro com esses originais, cujas estatísticas ouviu dizer que ultrapassavam 70 pontos. Apenas um deles com este nível de poder já era o suficiente para destruir seu Reino.

“Não posso ficar pensando nisso, vai apenas me atrapalhar!” Decidiu, encarando o que estava à sua frente.

A vila Bonfire estava logo adiante. As casas com fundações de pedra e paredes de madeira se espaçavam umas das outras, guardando espaço livre para alguma utilidade futura. Porém, algo não estava certo neste momento.

BUM!!! A nuvem de poeira que se ergueu confirmava.

“Merda! Essa aura outra vez!” Correu o mais rápido que sua maldição o permitia.

Com suas largas passadas, não demorou mais do que um minuto para cobrir os dois quilômetros que lhe separavam da vila. Claro, custou boa parte de sua energia, mas não era hora de racioná-la.

Assim que chegou nas casas, além de pessoas gritando, viu logo o culpado por tamanho desespero.

— Maldito! O que está fazendo com os meus súditos!! — bravejou, ganhando a atenção da figura.

Huh!? O dito cujo torceu o rosto ao encarar Vast. De pele cinzenta, era claramente um Vampiro com mais cabeça do que o do castelo. O corpo humano estava em perfeito estado, vestindo uma roupa preta e pouco decorada que protegia tudo, menos o rosto, do sol. Nesta face, destacavam-se os púrpuros olhos brilhantes.

— Quem é você, moleque? Não vê que eu estou almoçando aqui?

O Vampiro analisou melhor, as roupas brilhantes cegaram-no por um instante, e seu semblante revelou que havia entendido quem era realmente o garoto diante de seus olhos. Nisso, murmurou: — Interessante.

Vast, por sua vez, fez aquilo que qualquer amaldiçoado faria antes de iniciar a batalha. A aura cobriu seus olhos, revelando os status do inimigo.

 

Vampiro Vagante

Força 20/100

Agilidade 18/100

Inteligência 9/100

 

Então, o príncipe sorriu, sacando a curta espada em sua cintura antes de qualquer outra coisa. Por fim, a frase épica desnecessária.

— Vou te mostrar uma dor pior que mil sóis!

 

 

 


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