Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 18: Luz Carmesim

Vast preparou o avanço. Com a mão esquerda, arremessou o nunchaku para o alto, distraindo Eduardo por um breve momento. O Atirador Rubro disparou na mesma hora, um projétil defendido pelo vampiro ao usar a palma das mãos como escudo.

O príncipe se adiantou. Distraído com o tiro, pouco foi o tempo para Eduardo reagir quando seu oponente surgiu ao lado, com o soco já encaixado em seu queixo. Só não saiu voando por ter enterrado as pernas no chão.

Vast não teve tempo de realizar uma sequência de golpes por causa dos soldados de luz. Ainda temia o efeito deles lhe tocarem. Se afastou e, quando o nunchaku voltou para sua mãos, realizou outra varredura daqueles seres com o arremessar do bastão.

Vinte eliminados no total, mas logo recuperados. Eduardo se tornou numa verdadeira fábrica daquelas coisas, criando-os ininterruptamente.

"Ele não se cansa, não? Por quanto tempo vai continuar com isso?"

O vampiro era capaz de manipular toda a luz que atingia diretamente sua pele exposta. Tal limite era óbvio, pois os clones de fato saíam apenas de seu tronco, nenhum da cintura para baixo — parte que continuava provida de roupas.

Assim como as Maldições, devia haver algum tipo de fraqueza na habilidade. Era a esperança do príncipe, pelo menos. Até descobrir qual era, tinha que continuar com os testes ao mesmo tempo que evitava os golpes mortais.

A manipulação de sangue não lhe permitia curar as feridas, obviamente, mas sim exercer um maior controle sobre o destino do próprio sangue. Serviu muito bem para "estancar" ferimentos, de certa forma. A hemorragia era algo que poderia ser ignorado no momento.

Cessando a criação de soldados, Eduardo usou a luz para fatiar blocos de terra grandes o bastante para soterrar uma cozinha. A força sobrenatural evidenciada ao erguer tais coisas facilmente e arremessá-las contra Vast.

Uma atrás da outra, o príncipe foi desviando, sempre a aproveitar qualquer oportunidade de enlaçar um dos blocos com o nunchaku e jogá-lo de volta para o vampiro.

Iniciou-se um breve troca-troca. Nenhum dos dois aparentava intenção de se aproximar para um combate corpo-a-corpo, e a razão ficou óbvia no instante seguinte.

Vast sentiu uma mão pousar em seu ombro, seguido de uma ardência que não se transformou em chamas graças à sua reação instantânea. Um dos soldados de luz lhe surpreendeu, derrotado com um único disparo do Atirador Rubro, mas que deixou sua marca.

"Entendo. Seres feitos de luz condensada em um nível tão alto… Bem, poderia ser pior."

Queimaduras. Se o contato permanecesse por mais de um segundo, a carne de seu ombro teria sido devorada e o osso ficaria exposto. Um calor intenso o bastante para que um vulcão se assemelhasse com uma piscina termal relaxante.

"É praticamente um sol… Cada um desse soldados, eles possuem o poder de um sol vivo!"

Tocá-los era, definitivamente, a pior coisa para deixar acontecer. Na verdade, uma rápida análise do príncipe o permitiu identificar outro problema relacionado à eles.

Ao que tudo indicava, não apenas o calor era uma propriedade, como luz também. Os soldados eram fontes de luz por si só. Eduardo, por sua vez, absorvia luz e a expelia em forma de mais soldados. Em outras palavras…

"Cada um vai apenas aumentar o poder dele. O sol é apenas a fonte principal, depois disso não adiantaria cortar esse contato, pois os soldados já atuariam como novas fontes de luz para ele absorver."

Eduardo não parecia ter noção disso, pois era evidente sua preocupação em manter-se exposto ao sol propriamente dito. Além disso, nenhum dos soldados o tocava diretamente após serem criados.

Uma ideia brotou na cabeça de Vast, que logo a colocou em prática. Laçou um dos soldados mais próximos com o nunchako e o arremessou de forma certeira na direção do vampiro, que evitou o projétil com um salto para o lado.

"Desviou!?" Os olhos arregalados. "Então ele também pode ser afetado pelo toque de calor?"

Foi apenas a primeira suposição que veio-lhe à mente, mas não parecia haver motivo para ele desviar senão este.

— Quanta ousadia a sua.

TUMPH! O soco direto no rosto abafado por seus braços.

Diferente de antes, Vast não saiu voando, muito pelo contrário, teve a chance de contra-atacar com uma joelhada e um jab, ambos evitados. Finalizou com disparos de sangue.

Eduardo desviou ou os recebeu com a palma da mão, esta protegida por um pequeno disco de luz que foi arremessado logo em seguida. Uma lâmina afiada que se tornou invisível na metade do caminho, raspando no rosto do príncipe.

O arremesso do soldado fez Eduardo partir para o combate de curto alcance na mesa hora. Como resposta, Vast usou o sangue para criar as luvas, esperançoso de que elas o protegeriam caso precisasse socar um dos soldados.

Iniciou-se uma troca intensa de golpes que terceiros seriam incapazes de acompanhar. Na realidade, mais parecia algum tipo de artifício para ocupar tempo na luta e torná-la mais épica, pois não durou mais do que dez segundos.

O vampiro agarrou o braço de Vast e, num giro digno de uma bayblade, lançou-o para o alto. As lanças de luz saindo de seu corpo, arremessadas contra o príncipe ainda em pleno ar.

Vast girou o nunchaku à frente, um tipo de hélice que serviu para desviar os projéteis, mas não para bloquear o ataque lateral.

Eduardo tomava a dianteira na batalha, seu medo pelo sangue amaldiçoado aparentemente a desaparecer.

— Você consegue evitar bem os meus golpes — exclamou, extasiado. — Andou treinando?

— Lutar contra alguém capaz de prever o futuro muda sua perspectiva.

Mas ainda que dissesse isso, nunca poderia afirmar que estava em vantagem.

As luvas de sangue foram superadas pela força bruta do vampiro. O sangue coagulado ou nunchaku não era capaz de refletir golpes de luz como fazia com os chutes de Diego. Além disso, a pior coisa, Eduardo não mostrava interesse nenhum em chupar Vast.

Quanto mais o tempo passava, de mal à pior a situação ia. Trocação de golpes corpo-a-corpo, testes de Eduardo e do príncipe um no outro e em seguida um afastar entre os dois, onde o vampiro tomava vantagem.

No momento, estavam na última situação. Eduardo se afastou após testar o que queria, se cercando com os soldados de luz outra vez. Enquanto isso, o príncipe fazia o possível para que o sangue permanecesse em seu corpo.

— É estranho… Normalmente os meus oponentes morrem durante a troca de socos. — Eduardo coçou o queixo, satisfeito. — Você é bem mais equilibrado do que a maioria, uma pena para você que a aura de cura funciona apenas em terceiros.

Azar para o príncipe. Se a cura atingisse ele, então as coisas seriam muito diferentes. Apesar de ser apenas em sua cabeça, Eduardo admitia que, nesta situação hipotética, Vast teria uma grande chance de vencê-lo.

"Os soldados… eles realmente nunca param de sair."

Vast notou aquele pequeno detalhe, um que aparentemente nem mesmo Eduardo havia percebido.

“Ele não guarda nenhuma energia. Ainda que os soldados sirvam como nova fonte de luz, isso só faz ele gerar mais e mais réplicas ao mesmo tempo. Ele não está acumulando absolutamente nada.”

A razão para isto podia ser muitas, mas dentre as possibilidades, Vast considerou duas:

  1. Eduardo não tinha pretensão de armazenar energia contra ele.
  2. Eduardo não era capaz de armazenar energia.

O próprio vampiro admitiu que lhe faltava controle de sua própria habilidade, então a [Sonne], até o momento, se resumia em criar homens de luz, lanças e qualquer coisa capaz de ferir o oponente no contato direto.

Uma vantagem para Vast, mas que o deixou ainda mais apressado. Se Eduardo descobrisse uma maneira de armazenar a energia da [Sonne] para um ataque mais poderoso ou uma técnica diferente, seria fatal para o príncipe.

Era uma criança descobrindo seus poderes contra alguém que temia o notável avanço desta em suas descobertas.

— E então? Já está afim de desistir? — disse o vampiro, orgulhoso. — Terei o mínimo de piedade se fizer isso.

Os soldados começaram a surgir mais depressa, prontos para tornar o oponente num frango assado rapidamente.

O príncipe, os braços pendurados no próprio corpo, apenas os fitou por um longo tempo. A legião dobrando de tamanho a cada vez que piscava. A mente exaurida, mas não completamente. De tudo que já havia feito, os testes realizados de forma arriscada naquela luta, ainda havia uma coisa que podia fazer.

Encarou Eduardo uma última vez. Aqueles olhos âmbar ansiosos para prendê-lo lá para sempre, torná-lo num fóssil que serviria de exemplo para os próximos.

Nada disse ao inimigo que sequer conhecia direito, e ironicamente conhecia melhor do que ninguém.

De um instante para o outro, ele disparou. Seu destino não foi à frente, mas sim para a lateral, tirando um breve olhar confuso de Eduardo.

Vast corria pelo campo sem parar, um tipo de cavalo de corrida solitário que treinava para o teste de sua vida. O rastro de sangue ficava para trás, provavelmente das feridas abertas.

"Deve estar sem ideias. Neste caso…"

Eduardo sorriu, vitorioso. O tempo proporcionado pelo príncipe lhe permitiu criar mais soldados.

"Eu entendo! Tem alguma coisa me permitindo criar muito mais soldados do que o normal. Mas de onde exatamente está vindo essa energia?"

Com apenas o sol, criava-se cinco soldados por vez, mas ele agora era capaz de dar à luz dez de uma só vez. Queria entender como isso funcionava, e buscaria a compreensão através da derrota daquele inimigo persistente.

Vast completou uma volta ao redor de Eduardo, uma área considerável — equivalente à um quarteirão. Em seguida, saltou em linha reta, usando as luvas de sangue para tirar alguns dos soldados de seu caminho.

O vampiro reagiu de outra forma. Já havia um exército com mais de duzentos soldados ao seu redor, então era hora de atacar.

As lanças de luz escapuliram de seu corpo sem parar, uma rajada sem igual — tornou-se numa metralhadora viva. Porém, ao contrário do que imagina, Vast não desviava das lanças.

As pernas, os braços, o tronco e até mesmo o rosto, se deixava atingir independente de onde fosse, totalmente focado em esquivar dos soldados.

"O que ele…!?" Eduardo potencializou a quantidade de lanças, mas era tarde.

Vast já estava bem na sua frente. Os projéteis que lhe atingiram nem passaram da camada mais superficial de pele, ainda que os primeiros tivessem literalmente atravessado seu corpo de um lado ao outro.

No rápido segundo em que se encararam, Eduardo entendeu. As veias saltadas por todo o corpo do jovem príncipe evidenciavam sua estratégia. Durante o avanço, ele manipulou cada gota de sangue em seu corpo, cessando a circulação e endurecendo o líquido nos momentos cruciais para que seus disparos fossem amenizados.

Era como se um monte de agulhas tivesse lhe acertado enquanto corria, nada além de uma pequena dor passageira comparado ao que o sacrifício lhe proporcionou.

O Atirador Rubro mirou o torso de Eduardo, mas o tiro não foi retilíneo. Um chuveiro de sangue se fez na frente do vampiro, que antes de perceber estava completamente banhado no sangue amaldiçoado.

"Ele quer me fazer engolir à força?"

Talvez sua intenção fosse testar se o contato com o sangue em sua pele causaria o mesmo efeito de queimação, mas há muito ficou óbvio que não era o caso. Além disso, depois de tanto lutar, parecia impossível que Vast arriscaria tudo num golpe tão tolo como tentar forçá-lo a beber seu sangue.

Havia algo por trás daquilo, mas sua mente era incapaz de pensar o quê.

Tsc! A mão veio num ataque descendente, querendo esmagar o rosto ensanguentado contra o chão. Falhou.

Vast esquivou dos soldados com um pouco de dificuldade, acertado por um toque aqui e ali, mas nada que piorasse muito sua situação. Em breves instantes, já estava fora do alcance do exército.

Eduardo balançou o corpo como um cachorro se secando, mas o sangue endureceu de tal forma que tornou-o num boneco vermelho, coberto da cabeça aos pés.

— Você é cheio de truques, não é? Acha que poderia ser um pouco menos nojento? Olha só para mim! Um ator não pode ficar de tal forma!

Sua maior reclamação parecia ser com o torso. O sangue havia tornado-o numa tábua, escondendo aquele físico impecável. Por mais que raspasse, nem sua força ridícula era capaz de retirar o sangue seco.

"Tsc! Isso é um problema!"

Mirou Vast, o olhar brilhante de alguém que atingiu seu objetivo.

Havia entendido as intenções do inimigo, infelizmente quando já era tarde. O sangue bloqueou o sol completamente. Com absolutamente nenhum pedaço de pele exposta, ambos notaram o imediato cessar da produção de soldados de luz.

"Ele deve estar querendo se livrar dessas criaturas para me enfrentar diretamente. É uma estratégia interessante, mas ele não pode me vencer apenas com isso."

Além da regeneração própria de vampiro, seu corpo e a fadiga que acumulou ao longo do combate foi totalmente recuperada pelos efeitos da Maldição do príncipe. Cada ferimento nele inundava Eduardo com uma aura quente e acolhedora, como os braços de um amor inigualável no mundo.

Queria gritar para Vast que sua derrota era óbvia e inevitável, mas se tornou incapaz disso. Não pela garganta também estar coberta de sangue ou qualquer outra coisa, mas sim devido àquele olhar. A determinação ainda estampada no rosto destruído de alguém que tanto valorizava a própria aparência.

"Qual é o plano desse cara? Vai destruir os soldados?" Cerrou o olhar, analista quanto à qualquer movimento que o inimigo fizesse. "Vai avançar? Fugir? Atirar? Não…"

Ele sorriu, impressionado. Independente do quanto tentasse prever, era impossível saber o que aquele homem faria em seguida. Sim, pois ele era, sem dúvida, seu oponente mais poderoso até então.

Vast se apoiou em apenas uma das pernas, erguendo a outra até os limites do céu como faziam lutadores de sumô para intimidar seu oponente antes da luta começar. E, tal como era de se esperar, aquela perna desceu como um meteoro, colidindo contra o chão tão fortemente que causou um terremoto raso na área.

Eduardo viu tudo tremer intensamente, e ficou feliz por um momento, pois graças à isso Vast não perceberia o tremor de seu próprio corpo quando deparou-se com aqueles olhos negros a encará-lo de longe, unido ainda àquela voz calma e decidida.

— Isto acaba aqui.

Ele ergueu o Atirador Rubro na altura do peito, revelando uma fita de sangue coagulado ligado na ponta do longo cano de metal.

Cercado por seus próprios soldados de todas as direções, Eduardo não conseguiu seguir a fita além da área onde estava o príncipe. No entanto, entendeu tudo no instante seguinte.

Com a outra ponta desta mesma fita rubra na outra mão, Vast fez um nó no início dela. Era um laço, o qual ele puxou com toda a sua força, revelando o que estava preso nele.

Os soldados começaram a colidir uns com os outros, rapidamente esmagados ao ponto de ocuparem o mesmo espaço em alguns momentos. Na curta passagem de dois segundos, tudo que Eduardo viu foi uma onda inescapável de seres feitos de pura luz convergindo em sua direção.

Slap! O som ecoou quando a corda de sangue tensionou por completo. Com aquela volta que deu ao redor do vampiro, Vast foi capaz de deixar um rastro de sangue por onde passava, criando um círculo ao redor do oponente. Quando coagulado, criou-se um lanço, que agora esmagava Eduardo contra suas próprias criações.

— FUDEUU FOI TUDOOOOOOOOOO!!! — Eduardo gritava no epicentro do sol, já fora de si.

De onde estava, Vast apenas ouvia o som da carne queimando. Segurava firme a corda para que fosse impossível Eduardo escapar daquele forno que ele mesmo criou.

O vampiro gemia e gritava de dor enquanto era assado de dentro para fora. A camada de sangue era como areia, e o calor gerado pelo contato dos soldados com esta camada fazia o calor ser redirecionado para dentro.

O cheiro de assado aumentando tão rápido que seu nariz já não processava. Os olhos incapazes de enxergar sua própria desgraça, pois era por eles que a fumaça encontrou um caminho para sair. A regeneração de que tanto se orgulhava não acompanhava o rimo em que o corpo queimava.

— EU NÃO POSSO MORRER!!! NÃO ASSIM!! EU… EU SOU…

A Torre estava tão perto, literalmente na sua frente. Bastava superar aquele rapaz e ganharia a coragem para enfrentar aquela aura aterradora que o impedia de entrar desde sempre.

Não podia acabar ali! Não daquela forma! Os olhos queimando e o nariz destruído com o cheiro de sua própria carne assada.

Vast forçou ainda mais o aperto, cessando aqueles gritos de uma vez por todas.

— EU SOU TÃO GOSTO…

Engolido num vash repentino, o mundo de repente tornou-se silencioso para Eduardo, enquanto Vast teve o prazer de escutar uma curta, mas intensa explosão no centro daquele pequeno sol artificial, com direito à um último feixe de luz, este banhado no carmesim gerado pela união de ambos os sangues.

Conforme a fumaça subia e o cheiro de carne e sangue dominava o ar, os soldados de luz desapareceram. Ainda assim, Vast permanecia alerta.

Recolhendo todo o sangue da fita para dentro do Atirador Rubro, ele se aproximou devagar, com sua arma constantemente apontada para uma casca de sangue ainda presente no local.

Quando perto o suficiente, deu um disparo. O casulo em forma de silhueta humana se desfez na mesma hora, revelando o interior completamente vazio, permitindo então que Vast também notasse uma névoa densa se misturando à fumaça escura.

Queimado em várias partes do corpo, com sua tão preciosa roupa destruída e sangue cobrindo-lhe dos pés à cabeça, Vast ergueu a cabeça aos céus e deu um longo suspiro.

— Que perda de tempo.

Naquele dia, houve um impacto que muito em breve abalaria o resto de La Serva de forma nunca antes vista. Um dos Vampiros Originais, o cavaleiro brilhante; Eduardo, foi eliminado.



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