MUTTER
Capítulo 17: [Mutter] Vs [Sonne]
Quando o sol nasceu na manhã seguinte, a grande mansão da família Baskerville havia sido completamente destruída pelas chamas que lhe acometeram de repente durante a noite.
Nenhum sobrevivente foi encontrado, fosse humano ou vampiro. A única pessoa que via tal cena estava afastada dos destroços. No topo da colina, Vast arfava com certa intensidade, mas em total silêncio. Os olhos fixos no fogo por um longo tempo.
"Não posso parar…" Inspirou e expirou três vezes, bem devagar.
A roupa estava bem destruída, mas não abriria mão dela — não por enquanto. Tinha até o fim da tarde de hoje para chegar na Torre, isto se o calendário que encontrou enquanto fugia estivesse certo.
O lado bom era que o objetivo estava logo à frente, praticamente. Cerca de quinhentos metros de distância estava ela, a entrada da Torre do Conquistador.
De longe era grande, mas de perto nem se dizia. Uma estrutura equiparável ao castelo em área de ocupação, e cuja altura limite sequer era visível, pois há muito já havia saido da própria atmosfera. Quem sabe ligasse à outro planeta; dimensão ou realidade. Só saberia se escalasse, o que era uma atitude impensável por si só.
"Só mais um pouco." Passou a andar, com passos curtos e velozes. "Apenas mais uma coisa. Apenas isto para resolver e estarei lá. Finalmente, estarei lá…"
A manga que faltava em sua roupa revelava o braço meio carbonizado, a roupa em mesmo estado parcialmente. A ferida causada pelo punhal ainda sangrava um pouco, e seu rosto era o de alguém que já não dormia bem há alguns dias. Ainda assim, tinha a postura ereta; respeitável para os que olhassem. A situação era apenas na aparência, pois aquele ainda era Vast Los Filho.
— O Príncipe de Von Legurn — disse a voz do galã, impressionado. — Ou prefere que eu lhe chame como "Príncipe Pobre"?
300 metros era a distância que separava Vast da entrada da Torre. Agora, surgiu o já esperado último obstáculo. Exibindo o abdômen que refletia a luz do sol como um espelho, Eduardo se colocou no caminho.
Nada surpreso, Vast se limitou a analisar aquela aura inicialmente.
Vampiro Original
Força 84/100
Agilidade 50/100
Inteligência 65/100
Em seu nível atual, talvez fosse capaz de equiparar-se em força bruta por um certo tempo, mas o prolongamento da luta seria ruim. O mesmo valia para a questão de agilidade.
Quanto à inteligência, tinha certeza de que a de Carmilla era maior, enquanto a de Diego não estava tão longe daquele nível. No entanto, sendo Eduardo um Original, pensar que seu domínio da própria habilidade seria equivalente ao de um Descendente apenas por avaliar os números era o mesmo que pedir para morrer.
— Parabéns por estar vivo — disse o vampiro, sorrindo. — Mas você sabe que não vai passar daqui, não é?
— Já perdi as contas de quantos disseram isso, e ainda estou aqui.
— Tsc! Você é um cara bem sem graça. Nunca fez teatro, não? Suas ações não possuem o drama necessário para atuar ao meu lado!
Num tempo necessário para cozinhar um miojo, Eduardo retirou sua camisa e se expôs completamente ao sol. Como o próprio já havia explicado, a habilidade [Sonne] imediatamente entrou em ação. Seu corpo tornou-se num ponto brilhante, quase como se fosse um NPC com quest especial — para Vast, ele era.
A luz refletida foi lentamente convertida em formas semelhante à pessoas. Figuras de luz emergiam do corpo do vampiro sem sinal de que iriam parar, e caso nada fosse feito, em breve haveria uma legião e, logo em seguida, um exército de homens de luz.
— A Torre será minha! Assim que dominar completamente esta habilidade e me tornar imune ao sol, não haverá Amaldiçoado capaz de…
Seu diálogo inútil foi interrompido por um baque. Dez dos soldados de luz na dianteira foram arremessados para longe pelo balançar de uma das armas do príncipe.
O nunchaku se recolheu, a corrente na grossura de seu antebraço. Um golpe fatal para pessoas comuns, e pelo jeito efetivo também contra aquelas coisas.
"São literalmente feitos de luz, são leves, praticamente sem peso. Mas não acho que esse cara sairia criando criaturas fracas por nada. É melhor não ser tocado por elas."
Vast girou o nunchaku novamente e arremessou uma das pontas. O bastão voando sem limite de distância como uma lança, tão mortal quanto. Três, cinco, sete, doze! Vários soldados brilhantes atravessados um atrás do outro enquanto o caminho até o comandante era feito.
Quando o alcançou, os olhos âmbar miraram o bastão por um breve momento, e num tumph abafado, a arma foi parado pelas mãos nuas do vampiro.
Droga! Vast puxou, mas a corrente rubra tensionou ao ponto de que se tornou perigoso acabar se partindo.
— Você me interrompeu no meio do meu discurso… — reclamou num murmúrio. — Aff! De fato, você é o pior ator que eu já vi.
Ele mirou além de seu pequeno exército, diretamente ao único inimigo contra o qual lutava. A reação deste, por sua vez, foi proteger o rosto com os braços.
De um instante pro outro, o príncipe desapareceu do lugar onde estava, sendo possível descobrir seu paradeiro ao seguir o rastro deixado por seu corpo. Foi arremessado para trás, ou melhor, empurrado pelo ataque quase invisível de Eduardo.
Colidiu contra o chão algumas vezes, parando depois de quase cem metros percorridos. Seu corpo estava preso por seu nunchaku, cuja outra ponta foi arremessada contra si, o prendendo ao passo que rolava pelo chão.
Sem muitos problemas, mudou o sangue para a forma líquida, endurecendo-o para a forma de corrente outra vez no instante seguinte, e bem há tempo!
Logo que se levantou, o inclinar do corpo em 90° evitou o par de dedos com unhas afiadas que miravam seus olhos.
— Não se esqueça! A [Sonne] é apenas a minha habilidadezinha especial. — Eduardo agarrou Vast pelo pescoço. — EU AINDA SOU UM VAMPIRO ORIGINAL!!
T U S H !!!
U U M S
Vast foi violentamente enterrado no chão, mantendo a consciência na base do ódio para ser capaz de desviar aqueles dedos que seguidas vezes tentaram furar seus olhos.
Numa leve afrouxada do aperto em seu pescoço, se livrou da mão gelada do vampiro e entrou em posição de ataque. O primeiro impulso teve como alvo o estômago, subindo com uma joelhada que encaixou perfeitamente.
Eduardo franziu o cenho, mas sorriu em seguida. A luz refletida por seu corpo parou de gerar soldados para criar pequenas lanças do tamanho de um braço. Um total de três atravessou a perna usada para acertá-lo.
Vast se recolheu, se afastando com um longo salto para trás. As lanças — mais para palitos de dente gigantes — se desfizeram em pequenas partículas de luz. De praxe, os rios de sangue começaram a escorrer.
Envolvido na aura de cura, Eduardo teve a fadiga mínima curada. Satisfeito, ele suspirou e mirou o príncipe. Os soldados de luz a sair de seu corpo sem parar.
— Você é realmente uma pessoa que puxa o interesse. Pensei que sua Maldição era baseada apenas em multiplicação de força, mas me parece que você também é capaz de manipular o próprio sangue.
Vast não desviou a atenção de Eduardo, por sorte nem precisava.
Descobriu aquela façanha durante duas lutas que teve contra Descendentes, sendo uma delas contra Diego. Densidade e direção do sangue era algo que conseguia controlar com um pouco de concentração, e o mesmo se aplicava para moldar o formato do sangue, como quando criou a chave para escapar da mansão. No fim, o treino de meditação realizado enquanto estava preso foi muito mais útil que o esperado.
Eduardo continuou:
— Seu sangue Amaldiçoado parece ser venenoso para os Vampiros. Agora, isto se aplica para todos os Amaldiçoados? Todos eles são capazes de manipular o próprio sangue? Todos são venenosos? É algo que eu realmente gostaria de estudar mais profundamente…
Vast não poderia negar o interesse em tais questões, mas longe dele ser a cobaia para descobrir todas as respostas.
Sabendo das capacidades de seu sangue, Eduardo em momento algum deixaria Vast forçá-lo a beber seu sangue, mas também nunca usaria tal tática. Considerando então as capacidades de cada um deles, o príncipe chegou numa conclusão mais simples do que esperava.
— Não tem jeito mesmo. Você pode até estar curioso… — Puxou o nunchaku com a mão esquerda, com a outra apontou o Atirador Rubro para a cara do vampiro. — Mas a cobaia aqui vai ser você.
— Oho! Gostei de ver! Parece que você tá pegando o jeito como ator!
O êxtase no rosto do vampiro era claro — lembrava Diego. Ambos se tornaram em pesquisadores no meio da luta.
Pela primeira vez na história, um Amaldiçoado desafiava um Vampiro Original, a forma de vida suprema, para uma batalha até a morte. O prêmio era, além da vitória absoluta, o passe livre para a tão famigerada Torre do Conquistador!