Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 14: Original

JOGADOR VAST LOS FILHO PENALIZADO: CARTÃO VERMELHO

O aviso dominou os olhos e mente do príncipe enquanto o campo de futsal inteiro se desfazia.

A morte de Diego pôde ser confirmada pelo lento desvanecer de seu corpo em névoa. A estaca ainda estava lá, já isenta do coração perfurado, e a primeira coisa que Vast buscou foi a pessoa que realizou o disparo.

Porém, algo agarrou-lhe os pés ao girar sua cabeça. Correntes semelhantes às do Amaldiçoado da cidade o fixaram no lugar. Falhou em quebrá-las.

"É a penalidade?! Está contando como se alguém tivesse interferido no jogo ao meu mando?"

O sistema da habilidade era mais simples do que pensou. Vast ou Diego, aquele que fosse ferido seria a vítima e o outro, consequentemente, o culpado. Sem julgamentos extras.

O que surgiu em seguida foi não uma ou duas, mas centenas de bolas de futebol. O campo continuou a desaparecer, mas as esferas surgiam em legião tão rápido quanto.

Merda! O único pensamento que o príncipe conseguiu ter. No instante que se seguiu, cada uma das esferas voaram em sua direção, uma por uma, acertando pontos diferentes de seu corpo a cada ataque. Uma fila incessante, cada golpe carregado com a força equivalente aos chutes que realizou durante toda a partida.

Por um tempo, a única coisa que se ouviu na área foram as densas colisões das bolas infinitas contra a carne de Vast. Ondas de choque atravessavam seu corpo, marcando o chão ao seu redor com pequenas crateras.

Durante todo este tempo, príncipe Vast permaneceu de pé. Não se podia saber ao certo se era por pura força ou por estar preso. Mas era fato que, independente de qual, ninguém ousou se aproximar daquela figura até que, por fim, estivesse nocauteada no chão.

A última coisa que o príncipe viu foram três pares de pernas a se aproximar, ao passo que sua visão escurecia.

 

***

 

Príncipe…

Príncipe Vast…?

VAST!!

Seus olhos se abriram de repentino e ele se levantou, atacado imediatamente por curta mas potente onda de dor.

Estava no castelo, deitado em sua grande cama. Pela janela entrava os raios de sol da manhã e uma brisa fresca, esta que trazia consigo um calmo cantar dos pássaros que tinham ninho entre as rochas das paredes.

— Finalmente acordou. Eu já estava ficando preocupada…

A voz alegre atraiu seu olhar repleto de expectativa. Emilia, murmurou, mas se deparando com uma pessoa totalmente diferente.

— Você dormiu por três dias seguidos, meu príncipe. Subir aquela árvore gigante apenas para resgatar algumas crianças levadas foi algo perigoso demais! Pense em chamar alguém da próxima vez!

Uma mulher mais alta que si — ainda com as roupas de empregada —, de pele pálida, bem delicada. O curto cabelo negro às vezes se mesclava com a roupa, enquanto o destaque era exclusivo do par de olhos esmeralda, hipnóticos. A feição calma e curiosa, de destaque as duas pequenas presas que saltavam da boca, decorando os lábios finos e rosados. Uma joia que se destacava mesmo soterrada num mar de areia negra.

Vast a analisou por alguns segundos, se limitando a afagar a própria cabeça antes de responder:

— Não havia ninguém por perto. Um pouco mais e elas teriam caído de lá, provavelmente morreriam com a queda.

— Antes elas do que você! Só você pode herdar o trono, não se esqueça disso!!

Após o sermão, seguiu-se uma conversa onde Emilia relatou tudo que aconteceu durante os dias que o príncipe estava inconsciente.

O rei continuava a criar decretos um tanto duvidosos, sendo que até hoje Vast nunca tinha sequer sido capaz de ver o rosto de seu pai, visto a densa barba e cabelos que o próprio se recusou a cortar desde um certo dia, de forma totalmente repentina. Também foi naquele dia que o homem parou de falar.

De qualquer forma, ele não havia feito nenhuma mudança que afetasse de fato a população. O que realmente mudava afetava apenas os vampiros, facilitando para eles o ato de capturar ou se alimentar de humanos — não que eles respeitassem leis, para início de conversa.

Com a ajuda de Emilia, a única empregada do castelo inteiro, Vast foi capaz de se recuperar em poucos dias. O fato de ser um Amaldiçoado também ajudou, ironicamente. Logo que pôde, voltou a passear pelas ruas de Von Legurn, assim como sempre fez.

Por mais que os vampiros vivessem à solta e a qualquer momento um ataque pudesse acontecer, as pessoas viviam como se nada disso existisse. As crianças brincavam nas ruas, sempre reunidas em grupos de cinco ou mais. Os pais preparavam a comida disponível todos os dias, divididas em três refeições: café da manhã, almoço e jantar. Qualquer refeição extra acabaria por esgotar o estoque para um outro horário.

Uma vida simples. A total conformidade das pessoas com uma calamidade que, por mais que quisessem, nada podiam fazer contra, então apenas aceitaram como parte da realidade — como se faz com uma nova doença.

Enquanto andava pelos distritos residenciais acompanhado de Emilia, Vast perguntou:

— Quantos desapareceram na última semana?

— Cinquenta. A maioria homens adultos. São apenas rumores, mas parece que dois deles eram Amaldiçoados.

Entendo, murmurou. Uma possível tentativa de diminuírem ainda mais o poder de fogo de Von Legurn — mesmo que atualmente o poder fosse suficiente apenas para destruir um quintal.

Perdido em seus devaneios de sempre, Vast foi surpreendido por algo corriqueiro. Uma pequena multidão de pessoas se amontoavam, bloqueando sua passagem. Todos adultos, cada um carregando em mãos uma humilde sacola que, apenas olhando, deveria ter duas ou três moedas cada uma. O suficiente para se ter uma refeição decente.

— Príncipe Vast, por favor, pegue estas moedas — disse a mulher mais à frente.

O príncipe recuou um pouco, notoriamente desconfortável. Independente de quantas vezes repetisse, nunca se acostumaria com aquela atitude.

— Não posso. Sequer meu pai realiza tal ação, então como eu poderia aceitar o pouco dinheiro que meus súditos possuem? Além do mais, nossa gestão é magnífica. — Ele mirou o castelo, imponente, com o olhar. — Apenas assim somos capazes de manter, no mínimo, uma boa aparência, mesmo que os vampiros tornem cada dia mais difícil do que o outro.

A multidão se entreolhava com preocupação, isentos de qualquer sinal de desistência. Vast, por sua vez, manteve-se firme na decisão. Porém, a voz da razão estava logo ao seu lado.

— O Reino de Von Legurn agradece a ajuda de todos. Aqueles que desejam fazer uma doação podem comparecer na praça principal ao meio-dia.

Ele fitou Emilia brevemente. Sabia que ela faria isso, da mesma forma que entendia ser incapaz de impedi-la. Fosse o que fosse, haviam situações em que seu coração apenas esquecia o que era confrontar aquela mulher, como um tipo de magia.

E de tal forma se fez. Vast seguiu o caminho e voltou para o castelo. Emilia recolheu as doações ao meio-dia em ponto, para só então retornar para o lado do príncipe.

A noite chegou e ambos se sentavam na mesa de jantar para duas pessoas. Toda a comida preparada pela empregada, um cardápio curiosamente vasto, resultando numa mesa considerável. Não era a grande fartura que se esperava de um castelo, mas o suficiente para os dois presentes se darem por satisfeitos.

— Não precisava aceitar aquele dinheiro. Nós estamos muito bem — disse Vast, observando tudo ao seu redor.

— É falta de educação não aceitar a ajuda dos outros. Por acaso você me ignoraria se eu lhe oferecesse ajuda?

— Claro que não.

— Pois bem.

Emilia voltou a comer com calma. O caminho do garfo até a boca era repetido uma vez a cada dois minutos, sem falha. Mesmo com certa demora, ela nunca deixava um grão de comida para trás. Um exemplo que Vast tentava imitar ao seu máximo.

— Eu não entendo. — Largou sua talher e baixou o rosto. — Por que as pessoas insistem em me dar dinheiro? Recentemente ouvi algumas crianças me chamando de "Príncipe Pobre".

Não era um incômodo, muito longe disso, mas despertava curiosidade. Ele, um príncipe que morava num enorme castelo, parte da mais alta nobreza, sempre recebia dinheiro de quem estava à beira do colapso financeiro devido aos vampiros.

Com a pergunta, lentamente ergueu a cabeça, esperando que Emilia logo desse uma resposta. Era típico dela. Mas acabou por paralisar.

Ela o encarava com um sorriso atípico. Era largo, quase alcançando as orelhas da mulher, mas ainda escondia os dentes. E além disso, aquele ambiente ao seu redor…

— Meu querido príncipe, não ligue para o que crianças dizem. Sabe como elas são, não é? Vivem falando da boca para fora. — Deu outra garfada e, por fim, um gole na bebida rubra que sempre preparava para si. — Vamos revisar as aulas de etiqueta depois do jantar, tudo bem?

Teias de aranha por toda a parte, ratos andando livremente. Janelas eram desnecessárias ante a falta de várias paredes. Sem proteção contra chuva, o sol ou o inverno. Apenas a mesa se fazia verdadeira, com a exata mesma comida. Um castelo destruído.

"Minha imaginação…?"

 

***

 

Vast abriu os olhos bem devagar. Uma luz fraca e alaranjada se esforçava para sobrepor a escuridão, mas logo foi derrotada. Houve o ranger de portão de grades se abrindo, seguido pelo surgir de um par de pernas à frente do príncipe.

"Essa aura…" Nem precisava olhar, na verdade, nem queria.

 

Vampiro Original

Força 84/100

Agilidade 50/100

Inteligência 65/100

 

Vestia-se de maneira elegante. As pernas longas, um abdômen definido na medida certa — por alguma razão estava exposto — e o rosto galã. Na verdade, a face era o que realmente merecia destaque. Os olhos cor de âmbar, quase sendo possível ver um mosquito pré-histórico preso ali dentro. A pele era pálida, o suficiente para que atuasse como um espelho, permitindo que Vast visse o próprio reflexo. Um cabelo meio lambido, mas cujo gosto e cheiro do shampoo fez a vaca desistir na metade do caminho. A cara de paisagem de um gostoso que exagerava na exibição.

— Quem é você? — perguntou o príncipe.

— Eu é quem pergunto… — O Vampiro se ajoelhou, dando uma fungada no pescoço do rapaz.

Uma curto choque fez Vast tremer antes de responder de imediato: — Vast Los Filho, príncipe e único herdeiro do trono de Von Legurn.

Hã!? A boca se mexeu sozinha, fazendo suor frio escorrer pelo rosto de Vast pela primeira vez em um bom tempo.

O vampiro se levantou, risonho e comemorativo.

— Então é realmente você. Impressionante ter chegado até aqui vivo. — Ele posou dramaticamente, como quem tenta impressionar uma mulher. — Uma pena que falhou.

— Foi você quem fez aquilo durante o jogo?

Uma pergunta tão direta que fez o corpo da criatura curvar em decepção.

— Sim, fui eu, Eduardo!! Eu estava observando desde o início do jogo. O plano era deixar que Diego finalizasse, mas eu preferi garantir que você sofreria uma punição do cartão vermelho do que arriscar em deixá-lo realizar aquele último lance.

Vast buscou se soltar, mas a força que deveria ser abundante em seu corpo apenas não existia. O Atirador Rubro e o Nunchaku estavam fora de vista.

— É inútil. estas correntes foram criadas por um Amaldiçoado capaz de cancelar quaisquer outras habilidades. Deu muito trabalho criar ele, então é claro que é uma habilidade bem poderosa.

Eduardo se afastou, recostando-se nas grades de ferro de forma que o abdômen ficasse muito bem observável.

Novamente movido pela força que desconhecia, a boca do príncipe se moveu sozinha.

— E o que você pretende fazer agora? — Deu um estalo de língua. "Que tipo de habilidade é essa? Ele tá me obrigando a falar!"

— Que bom que perguntou! Meu objetivo é simples… — Ajeitou o cabelo e apontou para cima. — Dominar o sol!

Que novidade Foi o pensamento, pois da boca de Vast saiu outra coisa: — E como pretende fazer isso?

Dominar o sol era o objetivo de literalmente todos os vampiros. Por mais que eles não exatamente morressem se ficassem expostos, ainda causava incômodo por serem muito anêmicos.

Em outras palavras, por ser um cadáver vivo, se um vampiro ficasse muito tempo exposto ao sol, ele acabaria ficando saudável, consequentemente voltaria a vida e deixaria de ser um vampiro, que é considerado um tipo de morto-vivo. Resumindo o resumo, eles morriam por ficarem saudáveis demais.

— Como bem sabe, meu caro príncipe, todos os vampiros possuem uma habilidade especial…

Num estalar de seus dedos, o teto que deveria ser de uma caverna se abriu. Uma escotilha de metal abriu passagem para que luz adentrasse no local sem problemas, iluminando principalmente o corpo de Eduardo — ele fez questão de tirar a camisa.

— A minha habilidade, [Sonne]… me permite manipular a luz do sol que atinge o meu corpo!

Atingindo o corpo de Eduardo, a luz foi refletida tal como acontece num espelho. Vast foi cegado em alguns momentos, e quando era capaz de observar, viu feixes de luz se prenderem nas paredes como estacas, tal como figuras humanoides brotarem de dentro do corpo do próprio vampiro.

— Com este poder… o poder do próprio sol… — Ergueu os braços, triunfante. — Eu conquistarei a Torre!!

 

 


Gostou da obra? Confira meus outros projetos:
https://linktr.ee/safe_project



Comentários