Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 13: As Regras do Jogo

Diego analisou Vast por certo tempo. O príncipe agora tinha o nunchaku em mãos, balançando-o com grande habilidade até cessar o movimento com um dos bastões debaixo do braço.

"O que ele fez?" Os olhos espiralando freneticamente. "Não devia ser possível rebater meu chute, e eu não estava distraído ao ponto de não notar a bola, então como!?"

Encarou o placar rapidamente. A diferença gritante de 11 gols para o seu lado lhe acalmou. Um surto momentâneo apenas. Ainda que o príncipe tivesse encontrado uma maneira de revidar, era praticamente impossível alcançá-lo agora.

Dito isto, fazer um chute para descobrir a estratégia do inimigo era algo sensato caso quisesse manter a grande diferença entre os dois.

TUM! Sem aviso prévio, Diego deu uma bicuda na bola, idêntica à anterior. A esfera desapareceu em pleno ar, e o príncipe permaneceu imóvel até meio segundo após o chute. Quando tal tempo passou, ele sacou o nunchaku.

Esticando as correntes de sangue, Vast amparou o tiro de canhão que era a bola, enrolando-a na corrente de sangue e aproveitando o embalo para dispará-la de volta.

Diego ouviu o assobio no ouvido esquerdo, seguido do aviso do narrador da partida.

GOOOOOOOOOOL!! Placar: 13x2.

Entendo! Diego deu uma curta risada, uma surpresa até mesmo para Vast, que acreditava que o inimigo já era incapaz até de pensar.

Basicamente, Vast usava o impulso do chute de Diego e o aproveitava, capturando a bola em pleno ar e redirecionando ela para seu gol. A força não era suficiente para parar a bola antes que um ponto fosse contabilizado para Diego, mas ainda assim era uma forma de contra-ataque.

A velocidade de ambas as forças de ataque somadas — Diego + Vast — era tão rápida que nenhum dos dois sabia para onde a bola tinha ido até que ela parasse ou o narrador contabilizasse os pontos ao fim da rodada.

"Ele consegue contra-atacar e fazer um gol, mas é incapaz de impedir o meu gol de acontecer. No geral, ele pode até fazer pontos, mas a situação em si continua a mesma!" Deu um forte pisão, estremecendo o chão.

TUM! Um magnífico tiro de meta. O chute perfeitamente oblíquo poderia acabar desorientando Vast. Pegar uma bola que vinha em linha reta era fácil, mas como ele lidaria desta vez?

A bola raspou contra a corrente de sangue, um impacto poderoso demais para ele conter antes dela passar da linha do gol. No entanto, longe de ser o bastante para deixá-la fugir. A corrente se enrolou na esfera, e o movimento de giro do príncipe jogou-a de volta para o oponente.

GOOOOOOOOOOL!!

Diego sequer se deu ao trabalho de olhar o placar. Era óbvio, afinal. Neste ritmo, o jogo terminaria dentro de dez minutos. Porém, sua ordem era para atrasar Vast o máximo possível, independente se estivesse totalmente certo de sua vitória. Mas… quem ligava para isto à esta altura?

"O que exatamente eles veem de tão especial nele?" A pergunta foi arremessada para longe junto da bola no chute seguinte.

A mesma sequência de eventos e um GOOOOOOOL retumbante. O placar se atualizando outra vez.

De novo! Chute, defesa e contra-ataque! GOOOOOOOL outra vez. E assim um atrás do outro. Uma, duas, três, quem sabe cinco ou sete. Ambos perderam a conta de quantas rodadas fizeram sem encarar o placar, concentrados demais um no outro para tal coisa.

"Tanta concentração… Acho que entendo o chefe. O olhar desse cara não é normal." Diego franziu o cenho. "Uma pena. Ele até que não joga tão mal, se eu convencesse ele a virar um vampiro, quem sabe poderíamos jogar mais."

Por mero instinto, fez uma passada de olho sobre o placar. Frívolo, sem nem chegar a reconhecer as fotos. Isto é, até o instante seguinte em que encarou melhor os números.

PLACAR
Diego Baskerville 20 x 11 Vast Los Filho

O que? Uma reação leve. O cérebro de Diego, ainda terminando de lidar com o impacto da transformação em Vampiro Descendente, levou momentos extras para ter melhor noção dos números.

— O QUÊ!? — O grito não fez Vast sequer piscar. — CO-COMO??

20x11 era algo que apenas não fazia sentido, nem devia existir. Uma diferença pouca de pontos.

Sua única certeza no momento era a diferença inicial de onze pontos. No entanto, num estalar de seus dedos ela apenas desapareceu diante de seus olhos.

"Quando aconteceu?" Quase entrando em estado de insanidade. O ângulo da câmera novamente. "Desde quando ele conseguiu isso?"

Ao pensar melhor, aos poucos fez sentido. A velocidade na qual ele, Diego, chutava a bola era bem alta, mas Vast ainda assim era capaz de interceptá-la. Porém, o oposto nunca ocorria.

O príncipe se acostumou com a potência de seus chutes e agora tentava se igualar em pontos. Diego chutava, Vast parava a bola antes dele marcar um gol e a devolvia com a soma de ambas as forças.

Era definitivamente algo, Diego era incapaz de negar isto. Na verdade, agora começou a entender a razão de não terem matado aquele homem mais cedo. Sua capacidade de evolução estrondosa. Se alguém com tanto talento para dominar uma Maldição se tornasse um aliado, os benefícios seriam imensos, mas este estava longe de ser um cenário palpável agora.

"Eles não vão ligar se eu matá-lo aqui, não é?" Suas ordens eram outras. Porém ele já era incapaz de se conter. "Eles não se importariam se eu aproveitasse esta chance, NÃO É!?"

Outra bola voou com toda a potência para o gol. Vast rapidamente sacou o nunchaku, e num atrito de ensurdecer qualquer um, ocorreu a colisão entre aquele tiro de canhão e as correntes rubras.

Um rebote! Claro, não antes do ponto de Diego ser contabilizado. O contra-ataque do príncipe foi tão veloz que o narrador já havia desistido de falar qualquer coisa tinha um tempo. Ao fim da rodada, o placar em 21x12, seguido da voz de Diego:

— VAMOS! ME ENTRETENHA MAIS UM POUCO, PRÍNCIPE VAST!!!

Era impossível dizer se ele havia atingido a insanidade ou o clímax. Ainda assim, Vast sorriu pela primeira vez em certo tempo e respondeu com um simples pode deixar.

Os valores se alteravam drasticamente. Primeiro Diego marcava um gol e sofria outro no efeito de rebote. Em outras rodadas apenas Diego fazia o gol. E, em certo momento, Vast foi capaz de defender o gol e ainda fazer o seu. Devido ao êxtase extremo, Diego não chegou a perceber esta última ocasião logo de cara.

Rodada atrás de rodada, chute atrás de chute. O fim da partida cada vez mais próximo e ambos já esgotados de tantos clímax que se sucederam a cada lance. Suados, ambos com as roupas tão coladas quanto modelos legging, destacando os corpos definidos.

Depois de tanta coisa, o placar — de alguma forma — estagnou em 28 para 27, a vantagem ainda do vampiro.

Vast foi capaz de parar várias bolas antes que elas entrassem em seu gol, mas a força necessária para jogá-las de volta se esgotou fazia um tempo. Quando na metade do campo, ela alcançava uma velocidade que permitia Diego pará-la com certa dificuldade.

Ambos praticamente empatados em pontuação e equiparáveis em habilidade. A vitória cairia sobre aquele que cedesse por último ao cansaço que os atormentava desde metade da partida.

— Você tem muita habilidade com as bolas — disse Diego, como quem ainda queria mais.

Vast não admitiria em voz alta, não para esta pessoa, mas a velocidade em que ele se acostumou ao seu contra-ataque também foi impressionante.

— Eu realmente queria — continuou Diego —, mas não posso estender isso nem mais um pouco.

A história era uma quando estavam com 11 pontos de diferença, mas vendo que a chance de derrota era uma possibilidade, as brincadeiras perderam seu espaço no jogo.

Após um sinal de mão que Vast não reconheceu, três sombras surgiram no campo de Diego. De dentro da coisa que mais parecia um portal do inferno, figuras humanoides emergiram já em posição defensiva. Trajavam o exato mesmo uniforme que seu colega de time, a letra T destacada na camisa. Seus rostos resumidos em bonecos de madeira com olhos, boca, nariz e um cabelo desenhado num nível de criança de dez anos.

"O que exatamente é isso? Parceiros de time? Não deveria ser considerado trapaça?"

Talvez, mas a regra falava sobre interferências externas e que não fossem da própria capacidade do usuário. Pela falta de uma penalidade ao usar seu nunchaku, acabou por esquecer da possibilidade do inimigo usar algo parecido. No caso, habilidades de Vampiro.

Os jogadores novos se distribuíram em triângulo. Um na frente e dois atrás. Acima de suas cabeças havia o nome e algo nomeado como "HP" de cada um.

O na dianteira era o NeyNey. Os dois atrás chamados de Ristiano Cromado e Levandoaóbito.

"Ele pretende criar barreiras para diminuir a velocidade das minhas bolas?"

Perguntou-se se não afetaria os disparos de Diego, mas ele estava longe de ser burro o suficiente para cometer um erro assim.

A bola estava ao seu lado. Claro, este era um péssimo momento para perder a concentração ou perder a bola para o outro lado, então um golpe previsível não era seguro.

Imitando uma das jogadas de Diego, Vast lançou uma bola curva que passava pela lateral direita, alto o suficiente para que Cromado fosse incapaz de alcançar a bola. De fato funcionou, pois os peões apenas observaram a bola voar por cima deles, diferente do goleiro.

O tiro curvo foi defendido pela Mão Fantasma outra vez. Como avisou, Diego nada disse antes de chutar de volta.

Foi um golpe fraco, mas o gol do príncipe sequer era o alvo. Primeiro a esfera caiu nos pés de Levandoaóbito, que passou para Cromado num chute mais forte, este que nem dominou a bola, tocou direto para NeyNey, na frente, que num movimento equivalente à uma dança, lançou a bola de volta para Diego com uma bicicleta.

Quando ela veio belamente na direção exata do pé de Diego, o príncipe, pela primeira vez, sentiu medo.

Um contato inicial que ocorreu tão lento quanto o andar de um caracol, seguido de uma explosão tão poderosa que sequer havia algo com o que comparar. Ao fundo, Vast ouviu o narrador gritar: TAFAREEEEEEEL!!

Uma mera ilusão no ar, à qual o príncipe reagiu por puro instinto. O nunchaku se firmou onde o tiro possivelmente passaria, e a sorte — talvez azar — foi ao seu favor desta vez.

O choque da colisão fez a rede do gol de Vast se partir, restando apenas a trave e o travessão para demarcar a área.

A corrente rubra prestes a se partir, tal como os próprios braços do príncipe. Todo seu corpo foi arrastado para trás, os pés já passando da linha do gol e nem sinal da esfera xadrez perder o mínimo de potência.

"Não posso perder aqui… NÃO AGORA QUE ESTOU TÃO PERTO!!"

Afundou os pés no chão, o cenho franzido ao ponto de torná-lo num demônio. Por um momento os olhos ficaram brancos, e o retorno da consciência trouxe um salto de força que durou menos de um segundo; o suficiente para arremessar de volta aquela bala de chumbo.

Diferente das outras vezes, Diego já era capaz de ver o golpe se aproximar. Contê-lo, no entanto, era algo completamente diferente.

— VÃO! MEUS FAMILIARES!!

Trocando a formação, os três jogadores em campo se ajeitaram numa fila. NeyNey tomou o primeiro impacto, perdendo uma das pernas e rolando dramaticamente para fora de campo.

A velocidade do disparo pouco diminuiu, e após ser atingido por tamanha pedrada, Levandoaóbito teve seu nome alterado para Obito.

Emfim, Ristiano Cromado falhou em parar a bola com sua bicicleta, pois esta foi — de alguma forma — realizada em câmera lenta. Seria realmente épico se seu pé alcançasse a bola.

Apesar da pouca ajuda de seus familiares, foi o bastante para que os olhos de Diego identificassem a bola. Um golpe arriscado quando decidiu dominá-la no peito.

O som das costelas se quebrando e a imagem da bola afundando dentro de seu corpo perturbou o príncipe. O Vampiro seria atravessado se não fosse por uma técnica superior. Uma evolução da Mão Fantasma, a técnica chamada Mão De***íaca (omitido por questões éticas)!

O narrador rapidamente alertou para um gol, a mudança do placar complementou: 28x28.

Uma alegria que durou um segundo preencheu Vast. Empatou o jogo pela primeira vez, mas a bola ainda estava rodando com mais da metade de força. Diego, por sua vez, aparentava uma intenção muito distante de apenas dominar a bola.

Um som diferente! Com atenção total em seu oponente, Vast percebeu o tórax voltando ao normal enquanto a bola ainda o pressionava.

"Ele tá usando a regeneração de vampiro pra conter a bola?!"

A primeira atitude do príncipe foi aplicar mais sangue no nunchaku. As correntes engrossaram, tornando-se tão grossa quanto seu antebraço. Porém, um vush cortou seus ouvidos antes sequer de preparar a defesa.

GOOOOOOOOOLL!!!

Diego Baskerville 29 x 28 Vast Los Filho

Perplexo por alguns segundos, logo se pôs a procurar a bola, mas nem sinal da esfera xadrez. A falta de uma rede fez com que ela se perdesse naquele campo. E, no fim das contas, nem teria achado-a se não fosse pela voz que o chamava.

— Foi realmente — disse Diego, entre arfadas densas — uma ótima partida, mas temo que vamos finalizar aqui.

Seu peito terminava de se regenerar, mas além dele, um outro lugar exalava um denso vapor. Aos seus pés, a bola se revelou após esfriar completamente.

Um peso equivalente à todo o castelo recaiu sobre os ombros de Vast. Suas pernas tremeram. Nem deu tempo de Diego falar algo a mais. O príncipe se adiantou como nunca fez em sua vida.

Com o Atirador Rubro, ele criou um tipo de teia de aranha em seu gol, uma camada sobreposta com outra, e outra e mais outra. No fim, dentro de cinco míseros segundos, Vast cobriu toda a área de seu gol com sangue gelatinoso, tornando-o semelhante à um portal para um mundo de carne ou algo do tipo. Somado à ele, o nunchaku com as correntes reforçadas.

O oponente, por sua vez, deu um largo sorriso. Seu estalar de dedos fez os três familiares abatidos se reunirem aos seus pés e, num som de liquidificador, se unirem para assumir a forma de uma esfera negra que Diego engoliu.

As veias saltaram por todo seu corpo, e ele por inteiro aumentou de tamanho, principalmente a perna direita — agora totalmente desproporcional ao resto.

— Eu realmente não queria admitir isso, mas esta foi a primeira partida em que me senti vivo de verdade desde que ganhei esta Maldição.

Vast não simpatizou, nem tinha tempo para isso. Sua respiração falhava, as pernas só não tremiam por estarem afundadas no chão. O peito quase explodindo, e os olhos arregalados pelos números que enxergava na aura do oponente.

 

Vampiro Descendente

Força 99/100

Agilidade 1/100

Inteligência 20/100

 

Sacrifício de atributos, algo que Vast nunca viu em vida. Talvez um tipo de capacidade que apenas um Amaldiçoado transformado em Vampiro pudesse exercer. Mas, ignorando isto, o que realmente importava era o fator crucial.

"Essa força… Será que eu consigo defender?"

Seu corpo, a aura de Diego, o próprio mundo. Todos diziam que não. Em mente, ele mesmo já havia aceitado este fato.

— Foi um prazer jogar contra você, Vast Los Filho.

TUMPH! O pisão ergueu a bola no ar, e no segundo seguinte, apenas um som foi capaz de chegar aos ouvidos do príncipe.

Bang!

A bola continuava em pleno ar, mas caiu lentamente até colidir com o chão, ainda ao lado de Diego. O próprio também caiu logo em seguida, de repente de joelhos, com os olhos ainda vidrados na bola.

Em seu peito criou-se um rombo, logo acima do coração. Atrás dele um objeto inusitado, uma enorme estaca de madeira, onde em sua ponta afiada estava o órgão perdido do Vampiro, ainda pulsando.

Um poderoso apito percorreu cada centímetro do campo. O telão começou a falhar drasticamente, mas nem ele foi necessário.

Num painel semelhante aos que Vast enxergava quando observava a aura de um vampiro, a mensagem que tanto buscou evitar naquele maldito jogo apareceu.

INTERFERÊNCIA EXTERNA IDENTIFICADA!!

JOGADOR VAST LOS FILHO PENALIZADO: CARTÃO VERMELHO

 

 


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