MUTTER
Capítulo 12: Gol a Gol
Um campo de futsal perfeito, um gol para cada jogador. Erguido sobre o centro do campo, um telão com as fotos dos competidores — ambos em poses épicas — e com o placar de pontos de cada um logo abaixo. Num painel eletrônico acima, o nome "Manolinho Soccer 64" passava em loop.
Vast estava com o nunchaku preparado. Qualquer que fosse a bola, não a deixaria entrar.
"Pode ser arriscado atacá-lo diretamente, então é melhor entrar no jogo até entender melhor esta Maldição."
A bola de estampa xadrez era manejada com uma destreza sublime por aqueles pés. Hipnotizante, poderia dizer. Qualquer que fosse o momento em que ele fosse fotografado, seria uma cena digna de prêmio.
Após uma curta exibição de suas habilidades no manejo de bolas, ele disse:
— Certo, vamos colocar esse negócio aí dentro, agora!
De lugares desconhecidos, o rapaz tirou uma seringa contendo sangue. Vast ficou inicialmente confuso, mais ainda ao observar o destino que o rubro teve.
Direto em sua veia, ele injetou tudo de uma vez. Uma aplicação perigosa, mas que tirou-lhe um gemido muito satisfeito. E, seguido disto, os efeitos da coisa.
Aquilo é!? Uma energia mais do que familiar para Vast transbordou do corpo do garoto repentinamente, as transformações começaram de imediato.
Sua pele ficou mais pálida, as veias destacadas por todo o corpo. Veiudo ele ficou. Na boca, duas presas se projetaram para fora, ao mesmo tempo que os longos cabelos esvoaçaram com a ajuda de um vento de origem misteriosa.
Todos estes fatores unidos resultaram na cena de nascimento de uma criatura superior. E, para cravar sua chegada definitiva ao mundo, a aura do corpo se deu ao trabalho de apresentar o novo indivíduo.
Vampiro Descendente
Força 34/100
Agilidade 12/100
Inteligência 57/100
"Para um efeito desses… aquele sangue era…!!"
Vush… GOOOOOOLL!!
Vast ficou à beira da loucura por um momento — o ângulo da câmera aproximado ao seu rosto. Aos seus pés, lá estava ela, a bola exibindo seu magnífico padrão xadrez, quase rindo de sua cara ainda paralisada em puro choque.
Na tela em loop, o nome do jogo foi trocado de "Manolinho" para "Vampirinho Soccer 64".
— Ei! Não era você que estava com pressa? Precisa chutar de volta se quiser continuar o jogo. — A cara ansiosa.
Uma gota solitária de suor escorreu pelo rosto de Vast. Uma contagem regressiva. Segundos que usou para encarar fixamente aquele olhar que ansiava por um bom tapão na bunda. E, quando a gota salgada colidiu com o chão, seu pé também foi de encontro à bola.
TUM! A força dobrada fez um ótimo trabalho em disparar aquele item como uma verdadeira bola de canhão, tirando um olhar surpreso do Vampiro. Ao contrário do que ele provavelmente esperava, dois podiam jogar este jogo!
Ou era o que Vast pensava.
O Descendente bravejou: Mão Fantasma! E ao fundo uma segunda voz, mais profunda, repetiu o nome por algum motivo desconhecido. Vast procurou a origem de tal voz, mas de certa maneira sabia que era impossível.
Como o próprio nome já dizia, uma mão translúcida com quase o triplo do tamanho do Vampiro surgiu à sua frente, segurando o potente chute de Vast. Um curto rastro de fumaça marcou o cessar definitivo do avanço daquela locomotiva circular.
— É inútil! — avisou, jogando a bola aos seus pés. — Toda a família sabe como sua Maldição funciona, príncipe Vast. Normalmente eu não conseguiria revidar somente com a minha Maldição, então tive que usar o sangue do mestre logo de início por pura garantia…
Ele mirou o placar por um breve instante. A pontuação ainda sendo contabilizada.
— Em outras palavras… — A perna foi para trás. O olhar fixo no alvo. — Você está na pior situação possível!
GOOOOOOOOL!!
O placar mudou. 2x0 para… Diego! Vast pela primeira vez prestou atenção no nome do inimigo.
Entretanto, após tamanha revelação de cair o queixo, a reação do príncipe foi um curto suspiro satisfeito.
— Ótimo! — disse, tirando uma cara confusa do oponente. — É bom ver que mesmo traidores ainda se dão ao trabalho de tratar a realeza com o devido respeito, apesar de que para mim não faria diferença.
— Tsc! Você fala demais para um príncipe pobre!
Vast já esperava que, hora ou outra, passariam a usar sua Maldição contra ele, especificamente a parte do fator de cura. Apenas estava surpreso de ter sido tão rápido. Vampiros acabaram sendo mais espertos do que ele jamais esperaria. Mas nada disto era suficiente para parar o seu avanço.
Com o placar agora em 2x0 para Diego, teria problemas para sair dali rápido como queria.
"Ele se transformou de uma vez em um Descendente, o que significa que aquele sangue era de um Original."
Carmilla passou por sua cabeça, mas o tanto que conversou com ela durante a festa foi o bastante para entender que a mulher não era o tipo de pessoa que daria algo como seu sangue para um qualquer como ele.
"A força que ele ganhou com isto é um problema, mas a Maldição deve ter alguma brecha…"
Vush… GOOOOOOOL!!
"Deve ter… não é?" O placar se alterou. 3x0 para Diego.
Para tudo tinha um jeito, ou era o que Vast pensava. Tinha que encontrar um contorno para esta situação antes que o placar ficasse muito humilhante.
Com a bola agora consigo, ele preparou e chutou do mesmo jeito. Uma potência que quebrou a barreira do som logo na partida. Apenas o rastro; um vulto ficou visível no campo. Humano ou Vampiro, qualquer um atingido por este chute teria o corpo atravessado, mas mesmo assim…
Tumph! A batida abafada novamente pela tal Mão Fantasma. E, assim como antes, o tiro por parte de Diego era mais forte.
GOOOOOOOOL! Placar: 4x0.
"O que exatamente está acontecendo!? É rápido demais! Mesmo que eu acerte a bola, seria incapaz de pará-la com força bruta! Além disso…"
Enfurecido, ele chutou novamente. Defendido, e antes que pudesse sequer pensar, ouviu a voz mais uma vez.
GOOOOOOOOOL! Placar: 5x0.
O masoquista riu cinicamente. Enquanto isso, Vast tirava leite de pedra.
"Ele realmente não está nem tentando me acertar diretamente."
Com tanta potência nos chutes, matá-lo seria a opção mais óbvia. Se isto não estava acontecendo, então esta devia ser nada menos do que uma das brechas da Maldição.
"Certo, se ele não pode usar os chutes para me matar, posso me preocupar em como revidar. Minha força dobrada não é o suficiente, mas tenho certeza que apenas uma coisa extra será o bastante para forçar minhas bolas lá dentro."
Ele chutou, de novo e de novo, colocando tudo que tinha de força em suas pernas. A bola atravessava o campo rápido o bastante para sequer ser visível e, mesmo assim, a voz e a mudança no placar eram sempre os mesmos.
G G G G G
O O O O O
O O O O O Placar: 10x0 para Diego.
O O O O O
O O O O O
L L L L L
!! !! !! !! !!
Vast já suava como um cavalo, o cabelo grudado ao pescoço e a respiração pesada. Ao menos nenhum dano foi desferido contra sua vestimenta, que continuava intacta — exceto pelo fato de estar encharcada.
"Como ele consegue?" Era a pergunta que não queria calar.
Para um resultado como este, a força de Diego provavelmente já era bem alta como um Amaldiçoado, e agora potencializada pela transformação em Descendente.
"Talvez seja um efeito do campo. Algum tipo de bônus pela invocação de todo este lugar, ou talvez…!!"
PLAM! O som que não era a voz do narrador lhe fez dar um curto salto de surpresa. A bola bateu na trave, amassando o metal. Ela então rolou e parou no meio do campo, aparecendo magicamente aos pés de Vast segundos depois.
— AH~! Na trave! Mas que chatice. Bem, tanto faz. Este jogo tá bem chato, então não deve ter problema de fazer alguns truques novos com você, não é mesmo?
O príncipe analisou. A feição de Diego se alterou visivelmente, ainda com a presença do olhar de quem ansiava por um tapão na bunda, mas com algo a mais. Seus olhos estavam diferentes, uma leve espiral agora substituía suas pupilas.
Entendi! Vast foi incapaz de evitar o surgir de um sorriso. Em seguida, sendo a sua vez, ele dominou a bola e a ergueu até a altura de seu peito, chutando-a para o gol quando na altura certa.
Outra vez, um disparou parado pela mesma habilidade de antes. Sem pestanejar, Diego contra-atacou, mas diferente de antes — um chute direto —, acertou a bola com o peito do pé, gerando um movimento curvo em pleno ar que confundiu o príncipe.
GOOOOOOOL!! Ele ouviu o aviso após a bola colidir com a borda da trave e, por pura sorte, entrar no gol.
"Ele realmente mudou desde o início da partida. No fim das contas, não era por habilidade pura, efeito do sangue de Vampiro e muito menos arrogância, muito mais simples que isto…"
O placar se alterava novamente: 11x0. E além dele, a mentalidade do príncipe mudou junto.
"É efeito da própria Maldição! Um poder do tipo que drena a sanidade do usuário!"
Pouco se sabia sobre as Maldições além do fato de que carregavam pontos "positivos" e negativos. Não aparentavam possuir classes, efeitos semelhantes ou coisa do tipo, apenas existiam em suas mais variadas formas. Exceto por uma.
Alguns Amaldiçoados eram capazes de alterar a realidade ao seu redor, assim como Diego, que invocou o campo de futsal. Uma habilidade com restrições pesadas, mas que proporcionava força extra ao usuário com o simples passar do tempo enquanto o poder estivesse ativo. Como dito antes, ao custo de sua própria sanidade.
— BORAAAAAAAAAA! — O grito carregou mais força que o próprio chute.
"Se ele está perdendo sanidade conforme o tempo avança, eu poderia apenas aguardar ele entrar em colapso. Mas… quanto tempo isto levaria? Será que realmente ia funcionar? Não tem como saber, mas talvez seja uma boa ideia estender este jogo nem que seja por apenas alguns minutos…"
Vast dominou a bola, se preparando para o seu turno de ataque. Em resposta, Diego deu uma boa molhada nos lábios.
— Bora, bora! Não tem como eu te dar uma morte rápida se você ficar se demorando assim, porra!
O vampiro já ameaçava sair de seu gol e ir até Vast, só não o fazendo por um provável impedimento da própria habilidade.
Eles se encararam por alguns segundos. O príncipe, pensativo, analisava o oponente dos pés a cabeça. Diego mostrava uma espiral cada vez maior em seus olhos, e a baba começava a escorrer de sua boca. Ao fim, Vast declarou:
— Vejamos até que ponto você aguenta.
Usando a ponta afiada do Atirador Rubro, ele penetrou a bola e a estourou. O padrão xadrez agora espalhado pelo chão e carregado pelo vento.
Nenhuma reação veio de Diego, e o motivo para tamanha calma ficou óbvio em seguida. Outra bola apareceu sem que Vast se desse conta. No painel, um ícone de cartão amarelo surgiu ao lado de sua imagem.
— Ah! Esqueci deste detalhe, né? — Diego riu, aproveitando o momento para se alongar. — Tentar encerrar a partida forçadamente te dá um cartão amarelo, junte três e você perde. Atacar diretamente o oponente usando a bola resulta em cartão vermelho, que também te leva à derrota.
"Entendo, então este era o motivo dele não ter me atacado até agora." Fitou o painel, o cartão amarelo lhe colocando pressão. "Melhor não cometer mais faltas. Porém, tudo isso que ele falou ainda não me ajuda. Preciso de uma ideia pra contra-atacar os chutes…!!"
Uma faísca eletrizante atravessou sua mente. Poderia ser…? Sem perder qualquer tempo, chutou a bola sem muito jeito. A mão fantasma foi desnecessária desta vez, Diego dominou a bola com as próprias mãos.
— O que é isso? Desistiu? Assim não tem graça, pô…
Com as mãos, ele jogou a bola para o alto, o suficiente para ficar na altura do painel. Em seguida, ele saltou atrás dela.
— Minha Maldição era considerada uma das melhores dentre os mercenários da Família Baskerville. Agora, com toda a melhoria gerada pelo sangue de um Vampiro Original, eu sou melhor até que os meus irmãos mais velhos!!
Alcançou a bola quando a seis metros de altura. Seu pé foi de encontro certeiro, uma bicuda que fez a esfera voar numa linha reta tão perfeita que até os maiores matemáticos não iriam acreditar.
Com um ataque destes, não deu outra, o aviso de GOOOOL veio de imediato, e o placar se alterou para 12x0 assim que os pés de Diego voltaram ao chão.
Relaxado, ele disse: — Honestamente, pensei que seria mais difícil considerando que mandaram a mim para te eliminar. No fim, acho que o medo deles não passava de uma grande bestei…
Vush… GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLL!!!!
Diego paralisou. Com dificuldade, seu olhar deslizou para baixo ao passo que uma gota salgada escorria do topo de sua testa e, após alcançar o limite de seu queixo, desabar e colidir com a bola aos seus pés.
Todo seu corpo tremulou por um breve instante; mais que notável para Vast.
— Qual o problema? Estou apenas começando a jogar. — Ele girou o nunchaku e o parou debaixo do braço. — Continue. Eu não tenho o dia todo.
O placar se alterou: 12x1. As mudanças finalmente começaram!
Gostou da obra? Confira meus outros projetos:
https://linktr.ee/safe_project