Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


MUTTER

Capítulo 10: Aprimoramento

Numa linha reta praticamente perfeita, Vast montou naquele urso por alguns vários quilômetros, até que inevitavelmente chegou o ponto onde o animal colapsou e ele teve de continuar a pé.

Mais alguns vários quilômetros. A Torre do Conquistador sem dúvida estava mais perto, mas acreditava que ainda se fazia longe de recuperar o tempo perdido.

"Restam 12… 12 dias até a maldição…"

Balançou a cabeça e jogou o pensamento para longe. Pensar nisto era um desperdício de energia preciosa. Por hora, manteria o foco total no que acontecia ao redor. Ficou feliz por ter feito tal escolha.

Depois de tanto tempo sem ver nenhuma alma viva, um pequeno vilarejo surgiu à vista. Ao subir num pequeno morro que antecedia a entrada do lugar, pôde ter uma visão panorâmica de tudo que precisava.

"Caixa d'água, um pequeno comércio e… aquilo é uma ferraria?"

Analisou o Atirador Rubro. Nem um arranhão sequer, uma arma de capacidade e resistência de fato impressionantes. Nem mesmo aqueles mosquitos enormes — os bicos penetraram até as paredes — não conseguiram arranhar o item.

"Acho que não vou precisar repará-lo. É perfeito. Posso focar no essencial e sair daqui em poucos minutos."

Era sua intenção, mas um TUM o avisou de uma nuvem de poeira que se levantou perto do pequeno comércio. Seria incapaz de ver tudo mesmo depois que a cortina baixasse, então se apressou até o local de imediato.

As pessoas estavam reunidas, mas consideravelmente afastadas umas das outras. As atenções estavam por completo no centro da confusão, sendo que nenhum dos presentes chegou a notar Vast passar entre eles, mesmo a considerar a total discrepância entre um príncipe e eles.

O quê?! A nuvem baixou aos poucos, enfim revelando a cena que se desenrolava. Fazia sentido ninguém interferir agora que a aura finalmente se revelou.

 

Vampiro Vagante

Força 20/100

Agilidade 18/100

Inteligência 9/100

 

Parecia um civil comum à primeira vista, mas uma segunda análise permitiria notar as presas protuberantes uma evidente sede por sangue nos olhos.

— Que foi que falou, otário!? Eu venho aqui na paz, mó tranquilo, suavão só pra cobrar as taxas da semana e me fala que tá sem grana? — disse, chutando o inocente aos seus pés.

O homem pretendia falar, mas o sapato do Vampiro fechou sua boca antes que pudesse. Por sua vez, Vast avançou a passos largos na direção do inimigo.

Não fazia sentido aquela cena. Vampiros — ainda mais os Vagantes — não costumavam atuar sem a permissão de seus superiores, ou seja, Descendentes. Além disso, era estúpido se preocupar com dinheiro sendo que eles normalmente faziam o que bem entendessem.

Havia alguma linha solta naquela roupa.

— Ei! Deixe meus súditos em paz! — Apontou com o Atirador, pronto para o disparo.

No entanto, a reação do Vampiro ao se deparar com a figura nobre foi o total oposto de até então.

— O Prí-Príncipe Vast!? Porra!!

Num desvio instantâneo, ele saltou para longe do civil e desapareceu mais rápido do que Vast foi capaz de ajustar a mira. Atirar daquele jeito poderia acabar colocando um inocente no meio da luta.

De qualquer forma, aquele no centro de tudo foi salvo — na medida do possível.

— Cidadão, pode me contar o que estava acontecendo?

Poderia ser muito pedir para alguém com 90% da boca destruída conversar, mas o homem se esforçou e, no fim, conseguiu transmitir o necessário.

— Um vampiro cobrando taxas? Já vi Descendentes fazerem isso, mas nunca um Vagante…

Buscou mais informações, mas infelizmente era apenas isto que o homem em questão e todo o resto do vilarejo sabia. De um dia para o outro, aquele vampiro apareceu e começou a cobrar taxas absurdas de cada um dos moradores em troca de não matá-los.

Como se não bastasse, a reação dele ao perceber a presença de Vast também se tornou uma preocupação.

"Eles já sabem o que estou fazendo? Será que foi a Carmilla quem espalhou? Não, duvido muito."

Bem, arruinar um plano que mataria milhares de humanos de uma só vez com certeza não era algo que passaria despercebido, certo?

O real problema se tratava das táticas. O Vagante fugiu em zigue-zague, ou seja, tinha noção de que Vast atacava através de disparos. Um grande problema. Os inimigos seguintes poderiam ter total noção de como suas armas funcionavam, mas o contrário estava longe de se aplicar.

"Tsc! Quantas complicações. Neste ritmo eu posso acabar…"

— Vast! É você mesmo?

Essa voz?! Se virou de súbito, se deparando com uma figura mais do que familiar.

— Ru-Russisch…!

Exibindo aquela mesma energia jovial de quando o deixou pela primeira vez, o ferreiro habilidoso se aproximou com uma risada mais do que energética. A esposa logo atrás com um sorriso simpático.

— O que está fazendo aqui? Pensei que continuaria em casa!

Hahaha!! Como eu poderia desperdiçar a chance que o príncipe me deu? Este corpo jovem precisa ser usado na potência máxima antes que envelheça novamente!

Os bíceps eram tão grandes que poderiam ter vida própria. Se viver daquela maneira era como Russisch encontrava sua felicidade, então não havia motivos para Vast questionar qualquer outra coisa.

— Bem, de qualquer maneira, eu tenho que pedir para que não vá muito além daqui. Os vampiros finalmente estão prestando alguma atenção no meu avanço, então é perigoso ir mais além. Recomendo que retorne para Ormstade. Eu derrotei aquele Vampiro que você falou, então o local recuperou a paz de antes.

Oho! É realmente uma ótima notícia, vou fazer o que disse. Mas antes… — Ele estendeu a mão, entregando um item que só agora Vast percebeu. — Eu estava rezando para que você passasse por aqui e eu tivesse a chance de entregar isto. Vai complementar o Baratão de Sangue.

Vast pegou sem uma primeira análise, mas mesmo que a fizesse ainda seria incapaz de entender o que era aquilo. Um par de bastões? Era o que se pensaria. Ambos feitos de um metal negro que o príncipe desconhecia.

Para tirar as dúvidas estampadas em seu rosto, Russisch explicou:

— Ambos tem um buraco na base. Encaixe qualquer um no Baratão e aplique um pouco de sangue. O resto acontece sozinho.

Com cuidado, Vast o fez. Uma penetração e esguichada lenta. Fofo, de certa maneira.

Feito o processo, tirou o bastão do Atirador. Na ponta oposta, a tal mágica começou a acontecer. O sangue aplicado moldou-se por conta própria, assumindo a aparência de uma corrente de toque gelatinoso até se conectar ao outro bastão. Uma arma familiar para o príncipe.

— Um nunchaku? Fazia tempo que não pegava em um desses!

Apenas breves memórias ainda residiam em sua mente, estas referentes aos treinos que se voluntariou a fazer algumas semanas depois de receber sua maldição. Entre as várias armas com as quais treinou estava o nunchaku — sabia usar, mas longe de ser algum tipo de mestre ninja.

 — Assim como o Baratão de Sangue, dá pra usar essa arma de muitas outras maneiras além da convencional. Bem, creio que eu nem precisava ter dito isso pra você, certo?

Vast fez algumas breves manobras com o item. Testes suficientes para definir que a arma não traria problemas em seu manuseio.

— Não poderia chegar em melhor hora. Muito obrigado, Russ…

Um breve fussh cortou seus ouvidos e sua fala, não… cortou muito mais do que isso.

Russisch caiu de joelhos enquanto clamava por Vast. No lado direito, um tipo de tentáculo vivo de cor rosada atravessou seu ombro completamente. Se contorcia como uma cobra esfolada que teve a cabeça cortada.

A esposa dele gritou, mas não antes de usar uma faca que tinha escondida em sua roupa para tentar um golpe contra aquele tentáculo suspeito. Uma ação sensata, tinha que evitar daquela cena brutal evoluir para algo possivelmente mais grotesco.

A cobra sem rosto se recolheu de imediato, sumindo em pleno ar antes que alguém pudesse notar.

— Russisch! Não se preocupe, eu cuido disso!

Com um perfuração em seu dedo equivalente à de uma agulha, Vast criou uma aura de cura forte o suficiente para reparar o companheiro num instante. Em contrapartida, a dor dobrada pelo efeito da [Mutter] fez com que a agulha se assemelhasse com um cano PVC atravessando sua mão.

"O que diabos é isso? De onde veio esse ataque!?"

Vasculhou os arredores, mas nem sinal da possível origem daquela coisa estranha. Continuaria assim se não fosse pela estridente e orgulhosa voz que dominou o campo.

Muahaha!! Que bom que ainda está aqui, príncipe Vast! Agora eu posso observar sua morte de… TSIUM!

O disparo certeiro do Atirador Rubro atravessou o peito do indivíduo. Antes que se desse conta, aquele mesmo Vampiro Vagante de antes caiu como um saco de lixo.

"Aquilo com certeza não foi uma habilidade dele. Foi buscar reforços? Mas… onde estão?"

Na terra, no ar, embaixo de seus pés… Não estava em lugar algum! De onde aquele tentáculo havia saí… VUSH!

A corda viva se prendeu ao redor do pescoço de Vast. Uma força que o imobilizou. Seu corpo foi tirado do chão facilmente, balançado pelo ar e arremessado brutalmente de volta à terra, quase já fazendo o trabalho de lhe enterrar.

A dor dobrada atuou outra vez, e seus olhos se esbranquiçaram por meros três segundos antes de recuperarem a cor na base do puro ódio.

"Eu desmaiei!? Essa coisa me fez desmaiar só com isso?"

A realidade bateu fortemente. Como exatamente tinha vencido o Vampiro Zika (o mosquitão)? Diversas das criaturas menores lhe acertaram, sem contar a perca de sangue estrondosa que ocorreu durante a luta. Concentração? Não, nem mesmo um monge seria capaz de ignorar a dor que a [Mutter] proporcionava.

A resposta, apesar de difícil de aceitar, era bem mais simples: aquele inimigo era fraco.

O primeiro Transformado, o Vagante da vila de Russisch e até o Descendente… Todos eles não passavam dos mais fracos de suas próprias categorias.

"Merda… Eles estão querendo zombar de mim?!" A corda rosada apertou mais, querendo enforcá-lo.

Eles eram fracos, mas a eliminação de cada um apenas reforçou mais o perigo que Vast apresentava para os Vampiros em geral. Logo agora, tão perto da Torre, ele se encontrava cada vez mais longe conforme a visão escurecia.

"Isso…" No ápice de sua revolta, a mão agarrou aquela coisa. "Isso não vai acabar assim!!"

TUM! Não um tiro, mas uma perfuração. O cano do Atirador Rubro serviu como um tipo de lança improvisada, rasgando aquela corda molenga e obrigando-a a libertar Vast.

O rastro de sangue percorreu o ar num rápido zigue-zague, até desaparecer no ar novamente. Porém, por conta da dor, uma nova figura se revelou a partir do nada. Foi como se o próprio ar se moldasse numa forma de carne e osso, uma que o príncipe reconhecia de longe.

 

Vampiro Transformado

Força 43/100

Agilidade 15/100

Inteligência 19/100

 

"Começou? Eles são realmente bem rápidos."

Analisando a criatura, conseguiu facilmente resumi-lo num camaleão que andava como uma pessoa. Na verdade, maior parte desta associação era devido às roupas chiques que ele curiosamente vestia.

"É outra pessoa do Reino?" O incidente do castelo voltou à memória. "Então eles devem estar por perto, certo?"

Naquele instante, o Transformado recuou. Da mesma forma que um Amaldiçoado hesita ao se deparar com um vampiro poderoso, ele deu passos para trás ao ser encarado pelos olhos sedentos do príncipe.

"Me desculpe, caro cidadão…" Percebendo a própria atitude, ajeitou a postura e respirou fundo. "Um Transformado, né? Eles realmente me subestimam. Bem, tenho que aproveitar essa tolice."

Seu breve preparo serviu de alerta para o Transformado, que no mesmo instante se tornou invisível novamente. Os passos leves não deixavam rastros nem naquele chão de terra.

Vast estava completamente parado. Seu olhar não vagava ao seu redor, muito menos apresentava qualquer preocupação. O ataque viria de qualquer direção, uma força capaz de atravessar sua carne como fazia uma lâmina afiada.

— Pode até ser um tipo mais poderoso de Vampiro, no entanto…

Pela primeira vez ele pegou o nunchaku. O sangue que usou para fazer o teste ainda se fazia lá, na forma de corrente, mas era pouco. Sem pensar duas vezes, conectou ao Atirador Rubro e aplicou mais.

Tudo continuava em total silêncio. Sentia o olhar das pessoas ao redor. Haviam entrado num consenso de ficarem em silêncio para observar a luta com os próprios olhos.

Nenhum ataque veio por um total de 19 segundos — tempo especificado pois a intenção seria gerar tensão. De repente, o camaleão se revelou. A língua veio por trás, um ataque mais que certeiro nos pontos mais sensíveis do príncipe.

Não chegou a atravessar a carne de seu braço esquerdo, na verdade infiltrava-se como um verme pelas veias, fazendo seu caminho pelos vasos sanguíneos para encontrar um órgão mais importante.

"Meu coração? Talvez meu cérebro? Ele quer tentar me transformar em um Vampiro também? Que idiota."

A língua queimava rapidamente devido ao sangue amaldiçoado quanto mais adentrava no corpo de Vast. Típico de um Transformado, seus instintos animalescos simplesmente tomaram conta do corpo, o inibindo de qualquer dor que pudesse atrapalhar o cumprir das ordens mais absurdas.

"Essa arma… Vamos ver o quanto de estrago ela faz."

Ele se virou para o camaleão. Ainda estava invisível, mas a língua denunciava a posição.

Na mesma hora ele tentou recuar com o ataque, mas Vast flexionou os músculos ao ponto de impedir tal ação.

— No fim das contas… — Um rápido flash de memória do inimigo do castelo. — Um Transformado ainda é um Transformado. Em outras palavras, uma criatura burra.

Com o nunchaku em mãos, segurou a corrente de sangue e começou a girar até que o bastão se tornasse numa hélice capaz de fazê-lo decolar. O vampiro continuou tentando se soltar, e a possibilidade de cortar a língua nem passou por sua cabeça, pois era burro. Restou apenas aceitar seu destino.

Após o bom impulso, ele jogou o nunchaku num movimento horizontal, como a morte passando a foice num batalhão à sua frente. A corrente de sangue se enrolou no corpo do Transformado, que finalmente desfez sua camuflagem.

Tal como feito contra si, ele usou sua força para rodar o inimigo como se faz com um pião, ao fim usando da imensa velocidade para arremessá-lo contra o chão.

Uma pequena cratera se formou na área de colisão, mas felizmente nenhuma nuvem de poeira subiu.

"Uma força tão grande num corpo desses. Quanto desperdício." Vast recolheu o nunchaku, satisfeito.

Não perdeu tempo antes de se aproximar do corpo imóvel. E, assim como para o do castelo, o corpo daquele também começou a se desfazer após a derrota. No entanto, diferente daquela vez, este ainda estava vivo!

— Prí-Príncipe… Vast!!

Incapaz de controlar o arregalar de seus olhos ante a face familiar, se ajoelhou logo ao lado do homem e se pôs a ouvir.

— O que fizeram com você, Heleno?

Um breve sorriso se formou naquela face pálida, provavelmente pelo fato do príncipe lembrar o nome de um nobre qualquer como ele. Infelizmente, não havia tempo para agradecer.

— Fuja daqui… meu Príncipe! Eles… chegaram!!

Quem? Queria perguntar, mas sequer foi necessário. Um curto som da ventania sendo cortada veio de suas costas. Com um olhar de canto, Vast encontrou um total de quatro figuras. A ausência de aura constatou serem todos humanos.

— Quem são vocês?

O membro mais à frente respondeu: — Você já está morto.

Quê? Sentia como se fosse alguma referência, mas não pegou. Nesta curta distração, correntes saltaram de dentro do chão como um cobra no bote decisivo, prendendo o príncipe. Seguido disto, um dos três homens mais afastados sofreu cortes de origem desconhecida, caindo morto no chão.

Vast finalmente se encontrava no que já deveria ser a metade da jornada, mas as complicações apenas aumentavam. As novas figuras em seu caminho eram as que mais procurava.

 

 


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