72 SEASONS
Capítulo 7: A Floresta
Após um longo cochilo, Rag acordou com todas as energias renovadas. Sua resistência a penitência do uso dos Selos aumentando gradativamente, o que era uma ótima notícia, mas melhor ainda foi a que Russisch lhe deu assim se aproximou da barraca.
— Oh! Que bom que acordou, eu acabei de terminar o aparelho!
Aparelho? Seu questionamento foi respondido com o colocar de um item sobre a mesa, o design de algo para ser colocado no braço.
— O que é isso exatamente, Sr. Russisch?
— Tente adivinhar primeiro. Hehehe! Eu duvido você conseguir!
E estava certo em fazê-lo. Como dizer… Era um suporte de braço, acima do pulso ficaria um pequeno compartimento circular cujo possuía apenas uma fissura suficiente para expelir algo do tamanho de uma carta de baralho. Contornando o círculo havia um detalhe em azul que imitava a silhueta de uma chama, aparentemente era apenas decoração.
— Você realmente construiu isso neste pouco tempo que eu dormi?
Seu tom carregava dúvida e surpresa, principalmente depois de ver umas letras miúdas riscadas num canto do equipamento. Kaiba Russisch Corp., era o que estava escrito.
— Como você mesmo sabe e ouviu todo mundo falar, eu sou um inventor renomado em toda a terra de La Serva. Claro, eu tive uma ajuda da sua mãe, que me contou sobre a sua Maldição e facilitou no processo.
— Entendo, mas como isso funciona exatamente?
É bem simples, disse, entregando o equipamento para o rapaz. Rag colocou em seu braço, não chegou a incomodar em nada, visto que era bem compacto e mais leve do que aparentava. Junto do bracelete, recebeu também um cinto, munido unicamente de um compartimento para que Rag deixasse seu precioso livro guardado.
— Você precisa estar em contato com o livro para a Maldição funcionar, não é? Pois bem, você primeiro precisa deixar o livro guardado nesta pequena bolsa que eu juntei com um cinto que encontrei jogado ali nos fundos, com isso, o equipamento já vai ser capaz de fazer o seu trabalho.
Rag balançou o braço, mirou numa certa direção e outras coisas, mas ainda não havia entendido. Russisch finalmente completou:
— O equipamento está diretamente conectado com seu cérebro. É só você pensar na habilidade que deseja usar e a máquina vai produzir um papel com o selo em questão.
— O QUÊ? SÉRIO!? — A empolgação lhe fez testar de imediato. Não demorou nem mesmo um segundo para que um pedaço de papel com o símbolo do 4° Selo fosse expelido. — ISSO É IMPRESSIONANTE! Como você conseguiu fazer algo assim?
— Isso são apenas detalhes, o importante é que funciona.
"Ele realmente não é um inventor renomado por nada!"
A preocupação de como o item funcionava ainda estava ali, mas Rag não podia questionar muito já que ele mesmo estava longe de ser normal — a roupa repleta de símbolos estranhos.
Enfim, ignorando detalhes, a nova adição seria realmente de grande ajuda. Não precisaria contar com sorte e memória para abrir o livro na página certa, sem contar que apenas gerar o papel com o selo não necessariamente significava usá-lo, o que permitia usar estratégias mais elaboradas.
Bem, não era como se fosse capaz de prever uma luta chegando para se preparar, mas a ideia base havia ficado clara.
— Eu agradeço pela ajuda, Senhor… digo, Russisch. — O homem sorriu em resposta, um pouco envergonhado até. — Aproveitando, poderia me dizer que dia da semana é hoje?
— Hoje? Vejamos… — Conferiu o relógio de ponteiro. — Se tudo estiver normal, hoje é terça, e agora são 5 da tarde.
Ótimo! Rag faltou apenas saltar, mas se contentou com um forte cerrar de seus punhos. Este ainda era o segundo dia de viagem, uma notícia mais do que sublime. Se continuasse assim, tinha certeza de que chegaria no fim do Corredor com tempo de sobra.
— Certo, é melhor eu ir andando agora. Mãe… — Mirou a mulher, sentada numa cadeira atrás do balcão. — A comida estava uma delícia, mas eu vou continuar agora. Eu te amo!
A hesitação, apesar de escondida em sua vez, ainda era perceptível, ainda mais para ela. Rag esperou que ela se levantasse preocupada e viesse consolá-lo com algumas palavras. No fundo, queria que ela lhe pedisse para ficar ali. No entanto, a mulher deu um sorriso singelo, abrasador de certa forma, e respondeu:
— Eu também te amo, meu bem. Tome cuidado e tenha certeza de estar em casa o mais breve possível!
Por mais que fosse diferente do que pensou, um sorriso tomou seu rosto por motivos que não soube explicar, só não ficando por ali ao ser forçado pela seriedade necessária para o momento.
— Russisch, pode me mostrar a saída daqui?
Ele assim o fez, guiando para uma porta similar à qual Rag usou para entrar nesta área movimentada e cheia de vida, que desta vez o levava de volta para o ambiente cuja única centelha de vida inteligente era a sua própria pessoa.
Após a despedida com o inventor, a porta de madeira se fechou, marcando a nova fase da caminhada. Diante de si o longo Corredor Sagrado, um caminho cujo fim permanecia fora de vista, mas ao alcance de sua determinação.
"Eu vou seguir… Mesmo que eu não chegue no final, eu ainda tenho que tentar ir o mais longe que eu conseguir!"
Descansado e com equipamento novo, a caminhada continua!
***
Enquanto o Cardeal fazia seu caminho pelo Corredor Sagrado, fora deste, uma outra pessoa se via envolvida em problemas maiores do que conseguia lidar.
— Você tem certeza do que está dizendo?
A pergunta do indivíduo ajoelhado diante de um trono vazio rasgou os ouvidos dos dois subordinados logo atrás. Um tom calmo, até mesmo benevolente, mas que ainda os fez ir além de apenas ficarem de joelhos. Os dois Vampiros Indulgentes bateram suas cabeças contra o chão, um pouco de sangue escorreu.
— Sentimos muito, Mestre! Nós pensamos que ela daria conta sozinha!
— Sim, sentimos muito! Quando chegamos lá, ela havia sido transformada numa estátua de ouro puro!
A figura terminou suas preces ao trono e levantou. A longa batina preta com detalhes em vermelho cobria tudo exceto os pés descalços, a pele quase tão pálida quanto o mármore que constituía todo o ambiente em que estavam. O mitra em sua cabeça guardava o símbolo de um grande olho arregalado, enquanto os de seu próprio rosto eram escondidos por um óculos de lente escura.
— Se ela já está morta, então tanto faz. — Num snap de seus dedos, a grande porta do local se abriu.
O céu cinzento do lado de fora equivalia nos olhares de quem entrava. Um total de 77 mulheres, variando entre 1 mês a 7 anos de vida. No caso, as mais velhas faziam o trabalho de carregar as que eram praticamente recém-nascidas. Todas, sem exceção, vestiam somente um manto branco imaculado.
Se alinharam ao redor da figura Papal, os olhos sem quaisquer intenções senão obedecer. Caso alguém de fora se esforçasse, talvez fosse capaz de ver os fios que controlavam marionetes pairando sobre cada uma delas.
— Você dois, entrem na cidade e organizem a próxima leva composta por homens da mesma faixa etária…
Sim, Mestre!! Num uníssono perfeito, se retiraram tão rápido que sobrou apenas uma silhueta de fumaça. O olhar do Papa então vagou para a direita, especificamente até um indivíduo escorado num pilar.
— Vick, deixo o rapaz do Corredor com você. Tente trazê-lo vivo, alguém como ele seria uma boa adição na cerimônia final, mas não hesite em matá-lo caso as coisas piorem.
O referido apenas concordou com a cabeça, se retirando imediatamente. Enquanto isso, a mente do Papa envolta em pensamentos.
"Ele derrotou aquela jovem vampira? Ela nem era tão fraca para um Indulgente… Uma pena, eu pretendia fazer dela um Descendente, mas se esta for a vontade do Rei Eterno, então não há o que fazer."
Caso problemas surgissem por sua negligência no momento, então lidaria quando estes chegassem até si, tinha objetivos mais importantes agora do que se livrar de algum rato aleatório no Corredor Sagrado. Além disso, mesmo que este rato viesse a se tornar em algo maior e problemático, a sua própria evolução era, sem dúvida, mais constante e veloz que a dele.
Ao se virar para as moças e vê-las alinhadas ao seu redor, estendeu os braços como se chamasse para um abraço espinhoso.
— Abram-se de corpo e alma, hoje vocês se tornarão outra flor que irá compor meu belo jardim!
Horas e horas se passaram sem que um único som fosse emitido de dentro do local e sem o avistamento de alguém entrando ou saindo. Ainda assim, quando outros vieram a adentrar, encontraram somente o Papa rezando para o trono vazio e o ambiente tão limpo quanto antes.
A cada 2 dias dentro de um período de 15, 77 moças e rapazes seriam, alternadamente, levados para o local, sendo que ninguém iria sair.
***
Seguindo seu caminho com certa alegria devido a barriga cheia, Rag por alguns momentos havia se esquecido do tipo de ambiente em que estava. Passou o tempo deixando o novo aparelho confortável em seu pulso, assim como a conferir a quantidade disponível de disparos em sua pistola de Vitamina D. Contando com o cartucho que tinha carregado e os outros três escondidos em sua batina, havia um total de 64 balas. Apesar do local, quis aproveitar esta calmaria antes que o caos voltasse a reinar, e infelizmente ele atendeu a sua premonição.
Outra barreira separava o pedaço do túnel em que estava, as paredes de metal de um ambiente desconhecido, muito provavelmente intencionado para matá-lo na primeira oportunidade. Analisou a superfície, mas em nada elas se diferenciavam das que estavam ao redor. O metal em perfeito estado, como se reformado recentemente.
Como ainda tinha tempo de sobra, tomou seu próprio tempo para analisar tudo, mas no fim foi em vão. Em nada as características da porta ajudavam a decifrar o que poderia haver do outro lado. Nem frestas ela tinha, para início de conversa.
"É diferente da que me levou ao quarto com a Indulgente, e também não parece ser algum outro ponto de descanso do Russisch."
Dado todo o seu trabalho em vão, não teve escolha além de arregaçar as mangas da batina e seguir de peito aberto, ou melhor, firme, ser atacado por algo capaz de abrir seu peito soava pouco interessante.
Com cuidado, quase na velocidade de uma lesma, abriu a porta e entrou no cômodo. Um pé de cada vez. O Ambiente estava um completo breu, isento de profundidade, um espaço aberto que juraria ser o vácuo caso lhe faltasse gravidade e ar para respirar.
"Que tipo de lugar é esse…?" Um arrepio subiu-lhe a espinha. "Me-Melhor voltar e pensar em…"
BAM! A porta se fechou atrás de si. O instinto foi socar tudo ao redor como uma maluco, pronto para sentir os punhos atingirem algo, o que não aconteceu. A ação seguinte foi retirar o 50° Selo e usar o fogo deste para gerar luz, mas nem precisou.
Incapaz de enxergar, sentiu apenas uma forte brisa atingir seu rosto vindo de onde seria sua frente, apesar dela, nem sinal de uma entrada para explicar a origem do vento. Em seguida, o repentino desvanecer da escuridão quase lhe cegou. Ao se acostumar com a claridade, quase deu um soco em si mesmo, pensando estar sonhando.
O metal, único material que constituía o mundo até então, substituído pela vida em sua mais sublime forma.
Em seus pés, incontáveis filetes de grama que alcançava suas canelas agiam como um imenso tapete verde, munido dos nutrientes necessários para que todas as grandes e densas árvores ao seu redor sobrevivessem. A fonte que gerava a luz ainda era desconhecida, e apesar da beleza da terra firme, era notável o céu sendo um desenho mal feito, principalmente pelas nuvens desenhadas infantilmente.
O tamanho também não batia, era largo demais para ser o Corredor Sagrado.
"Isso é ruim… Isso é uma habilidade de área? Eu já ouvi falar, mas nunca vi uma pessoalmente… HUH!?"
Faltava saber se o dono da habilidade era um vampiro ou amaldiçoado, mas nem foi preciso procurar muito para descobrir. Amigo ou inimigo, ele havia se revelado por conta própria, apesar de não ser uma maneira muito convencional.
Nada, apenas grama, arbustos e árvores por todo o canto. Por mais que Rag tivesse certeza de ser o único ser vivo inteligente em seu campo de visão, a aura não enganava. Sobre tudo e todos, pairando perto do céu mal pintado como um tipo de outdoor, as estatísticas alertavam-no da presença de seu inimigo.
Transformado
Força 25/100
Agilidade 0/100
Inteligência 38/100
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