72 SEASONS
Capítulo 8: Jardim
Transformado
Força 25/100
Agilidade 0/100
Inteligência 38/100
As estatísticas pairavam sobre todo o ambiente, raspando o céu falso. Rag procurou na copa das árvores, nos galhos altos, em sua linha de visão e até no chão, mas em lugar algum estava o corpo ao qual deveria pertencer a aura. Sua única certeza era de que o vampiro estava ali.
"Se é um vampiro, então eu não tenho motivos para esperar!!"
Usando seu novo equipamento — carinhosamente apelidado de Disco de Selos — invocou o Quinquagésimo (50°) Selo, usando da piromancia deste com a mais pura intenção de desmatar a floresta e eliminar tudo que nela se escondia.
O jato de chamas tão quentes que quase assumia o estado líquido vazou da palma de sua mão direita por mais de vinte segundos, Rag usando este tempo para cobrir a maior área possível. Ao fim do ato, o estrago se revelou.
— Puta merda, digo… O quê!? — Sua esperança de vidro ganhando rachaduras. — E-Está tudo… intacto?!
Inútil, para piorar, este uso do Selo foi em vão, o próximo já acarretaria nas consequências que iriam variar de ataque físico ou uma enxurrada de informações, ambos os casos lhe paralisando por alguns momentos, o que poderia ser fatal agora. Existia sim a chance da penalidade cair em um selo inofensivo, mas era algo extremamente raro.
"O que eu faço? Eu não posso usar outro Selo e correr o risco dele ser inútil…"
Use o nosso ataque secreto, gatinho…
— CALA A BOCA!!
Gritou no instinto, determinado a impedir o demônio de lhe atormentar outra vez. Por bem ou por mal, a exclamação serviu para mais do que isso.
Os arbustos um pouco distantes se mexeram, alto o bastante para atrair o olhar do Cardeal. Preparou o Disco, pronto para disparar seu ataque mais poderoso contra o inimigo. Um certo alívio por não ter atacado precocemente quando o indivíduo se revelou.
— Você, saia daí, rápido!!
Teve pouco tempo para pensar, a ideia de um ataque iminente fazendo as pernas trabalharem por conta. Quando menos percebeu, havia pulado dentro do arbusto que a voz vinha, só então parando para analisar a dona desta.
— O que está fazendo aqui, moço!? — Ela o analisou dos pés à cabeça. — Essas roupas… vo-você também é parte da Ghost?
A roupa mais que familiar lhe deu uma boa notícia, era uma Freira! A ausência de aura vampírica como uma bandeira verde ainda maior. A boca de lábios finos e rosados isenta de presas protuberantes, os olhos pretos e ainda assim reluzentes como um céu estrelado e o cabelo munido de um dourado tão admirável quanto o ouro.
De alguma forma ela seguia vários esteriótipos para um freira em um certo gênero de história por aí, mas Rag ignorou essa coincidência.
— Quem é você, moça?
Se afastou aos poucos, de maneira que ela nem notaria, mas a mulher agiu em oposto a sua intenção.
— PO-POR FAVOR! ME AJUDE A SAIR DAQUI!!
Ela se jogou sobre o Cardeal. Os braços, apesar de finos, conseguiram prender seu corpo quase tão bem quanto ao aperto da vampira do primeiro quarto. Rag considerou jogá-la para longe, mas o rosto frágil e a expressão de medo genuíno lhe impediram. Em lágrimas, outra súplica:
— Por favor, Yuusha-sama…!!
"Yuusha? Que língua é essa?"
Era incapaz de traduzir a parte estranha, mas o fato era de que ela precisava de ajuda. As roupas eram sem dúvidas das freiras da Ghost, nenhuma aura vampírica emanava dela, e tinha certeza de que nenhum vampiro seria capaz de fingir desespero tão bem assim. Logo, era definitivo, ela era humana!
— Como eu posso ajudar? Sabe de alguma forma de sairmos daqui?
— A-Acho que sim! Eu estou presa aqui há um bom tempo, então na correria acabei encontrando uma coisa um pouco suspeita… Ve-Venha comigo!!
Eles se esgueiraram pelos arbustos cuidadosamente, Rag com o Disco de Selos preparado para soltar seu ataque mais poderoso ao menor sinal do inimigo. Isto acabou não acontecendo, o que lhe deu brechas para raciocinar um pouco.
"É um tipo de habilidade que expande o território? Não é qualquer vampiro que consegue fazer isto. A aura era de um Transformado, mas eles deveriam ser animalescos, não? Um vampiro dessa classe conseguiria usar uma habilidade tão complexa?"
Depois de ver uma Vampira Indulgente tão humana quanto um Original era capaz de ser, as classificações dos vampiros na cabeça de Rag começaram a virar bagunça. A espécie estava evoluindo? Eram vampiros mais especiais? Talvez uma fase de transformação que os humanos nunca haviam visto até então? Muitas teorias e poucas respostas.
Perdido em pensamentos, colidiu com a freira quando esta parou a caminhada de repente. Escondidos nos arbustos, ela apontou adiante.
— Ali! Eu acho que aquilo pode ser algo importante!
Rag seguiu o fino dedo indicador da mulher. Estavam diante de uma árvore bem maior em comparação às outras ao redor, digna de ser chamada de "Árvore Lendária" ou algo do tipo. Num dos galho mais altos estava o alvo da atenção, um único e pequeno fruto do tamanho da palma da mão. Avermelhado como uma maçã bem madura, com o formato semelhante ao de um pêssego.
— Uma fruta? Eu realmente não vi nada deste tipo nas outras árvores, mas o que te faz pensar que é isto?
— Be-Bem… eu estou apenas supondo, na verdade. Eu não sou uma Amaldiçoada para saber se tem um vampiro por perto, então não cheguei a investigar a fundo porque tive medo de acabar mo-morta…
O Cardeal fez o trabalho, não avistando aura alguma além da que ainda residia raspando os céus. A ideia da aura maior estar escondendo outros vampiros fez sua garganta arder e um olhar suspeito cair sobre a mulher, esta que acrescentou:
— Eu não sei se ouvi certo, ma-mas acho que tudo isso vai acabar se destruirmos a fruta!
— De quem exatamente você ouviu isso?
— Alguém passou por aqui! Eu não sei quem porque fiquei escondida, mas estava discutindo com alguém sobre eliminar alguém, e essa parte acabou escapando!
Rag e o mundo inteiro pensava em conjunto: "Conveniente demais."
Claro, sendo ele próprio um ritual maligno ambulante, era o último que podia pedir para as coisas fazerem sentido.
— Eles disseram alguma coisa sobre quem eles queriam eliminar?
— Não falaram nomes, nã-não que eu lembre, mas tenho certeza que falaram sobre "eliminar aquele rapaz imundo"!
O rapaz em questão foi incapaz de controlar a expressão, deixando óbvio que falavam de si. Esta já era uma base de verdade para sustentar as falas da garota. Depois de tudo que fez até agora, com certeza outros membros da Igreja que estavam com os Vampiros tentavam pará-lo a todo custo.
O Transformado com o qual lidava neste momento devia ser um dos enviados, tendo entrado no Corredor Sagrado pelo outro lado e o aguardado até então.
"Eu queria outro jeito, mas acho que só me resta confiar nela."
Usar outro selo para fazer perguntas seria arriscado. Desmaiar enquanto no território de um vampiro seria a pior hipótese, então quanto mais poupasse o uso do próximo selo, melhor.
— Certo, eu vou confiar em você! — Viu um sorriso genuíno surgir no rosto meigo. — Mas antes, posso fazer uma última pergunta?
Claro! O que seria? O medo desapareceu tão rápido quanto ela própria havia surgido, convertido na determinação amplificada pela esperança que era Rag neste momento.
— Não posso arriscar muita coisa sendo que esta fruta possa na verdade ser uma armadilha. Você tem alguma ideia de como podemos pegá-la sem precisar escalar a árvore?
Ela analisou a situação. O tronco era bem liso, então escalar já seria praticamente impossível por si só. Nenhuma pedra, galho ou item arremessável estava por perto. Fogo, como testado anteriormente, também estava fora de cogitação. Com tão poucas possibilidades, Rag aguardou ansioso pela resposta.
— Já sei! O Senhor é um Amaldiçoado, não é? Eu o vi usando uma grande rajada de fogo! Que tal usar algum dos seus Selos para tirar a fruta de lá?
Ela o encarou fixamente, animada, os olhos chegando a brilhar. Em resposta, Rag sorriu e disse:
— É, vale a pena tentar.
Sem falar mais nada, saiu do arbusto, esperando inclusive um alerta da garota que nunca chegou. Deu alguns passos adiante até ficar completamente exposto. Olhou ao redor, respirou fundo e nada aconteceu. Em seguida, puxou sua arma de fogo da cintura.
Olhou de canto para a freira, esta ainda no arbusto, o incentivando com joinha e um grande sorriso no rosto. Rag retribuiu com o mesmo gesto, apesar do seu ter um pouco mais de nervosismo.
"Certo, agora… como eu posso resolver isso? Os tiros não vão ser destrutivos o bastante para esmagar aquilo… Tenho até essa fruta cair para pensar."
Apontou para o fruto, ainda com um pouco da atenção nos arredores. Com a mira colada no alvo, iniciou. Após três erros, o quarto disparo acertou o caule do fruto, fazendo-o despencar. Não se deu ao trabalho de pegar o item no ar, esperando este parar no chão e ainda aguardando alguns segundos para ter certeza de que nada estranho iria acontecer. Toda a ação durou cerca de um minuto e meio.
Feito isso, se aproximou ainda com a arma pronta, cuidadosamente pegando o fruto e o analisando, centímetro por centímetro.
De longe parecia até maior, mas tinha o tamanho de seu punho. O formato semelhante de um pêssego, a cor de um morango bem maduro.
Seu olhar voltou para a freira, que incentivou:
— Dê uma mordida! Parece resistente demais para destruir com tiros, mas acho que vai dar certo se comer!
Alterou a atenção entre ela e a fruta, até seu suor hesitava a escorrer pelo rosto, o que foi bom desta vez, pois escondeu sua intenção.
Respirou bem fundo, travando sua expressão numa seriedade que escondia o medo. Ao invés de levar o fruto a boca, balançou seu braço como um moinho de vento em velocidade máxima, arremessando o fruto o mais alto que conseguiu.
A freira se levantou desesperada, a atenção no item em pleno ar.
— O QUE ESTÁ FAZENDO…!!
BANG! O disparo de Rag acertou em cheio a testa da mulher, cuja caiu de costas, imóvel. O corpo ficando parcialmente escondido nos arbustos.
O corpo realizando ações rápidas em sequência, cheias de aberturas para um ataque inimigo, mas sendo o que conseguiu improvisar dentro do um minuto e meio que criou.
"Não dá para saber se ela é o vampiro ou não, se não for, a bala de Vitamina D vai pelo menos livrá-la de qualquer controle mental. Agora é melhor lidar com aquilo!!"
Foi estranho desde que algumas perguntas foram respondidas. Não se lembrava de ver a mulher dentro da Ghost, e tem certeza de que o faria caso ela fosse uma freira de lá. Além disso, até podia ser fato que ele era um Amaldiçoado e ela o tenha visto usando um poder, Rag nunca havia comentado como funcionava, e mesmo assim ela disse "Selos" especificamente. Além disso, ela não expressou qualquer confusão quando sacou a arma ao invés do livro quando disse que usaria suas habilidades, mesmo que todos os membros da Igreja sejam cientes de que seu poder está no livro de selos.
"Se ela estava realmente sendo controlada, então significa que o vampiro não sabe ao certo como minha Maldição funciona!"
Como lhe faltava certeza de como exatamente poderia derrotar o inimigo, tomou o caminho mais fácil, consequentemente, mais perigoso: atirar em tudo que parecia suspeito!
Por mais que pudesse ser mentira, a fruta era um item suspeito e digno de ser alvo, logo mirou o item que deveria estar em pleno ar, mas não o encontrou.
O quê!? Onde que…! Um curto assovio cortou seu ouvido, literalmente. Bateu a mão contra o órgão e sentiu o sangue escorrendo. Quando olhou para o alto, foi então capaz de avistar o causador do dano.
O fruto que devia estar caindo pairava no ar, dotado agora não somente de um pequeno par de asas, como também uma boca com presas afiadas que ocupava praticamente todo o espaço disponível, mordiscava um pequeno pedaço que arrancou da orelha do rapaz.
Rag deu três tiros, todos erraram, o alvo era pequeno e ágil demais, tanto que o contra-ataque foi imediato. Como um mosquito gigante, voou num zigue-zague tão veloz que tornou impossível o acompanhar com os olhos.
Droga! Ficar em campo aberto era uma óbvia péssima ideia. As pernas se moveram mais rápido que o comando do cérebro as alcançou, levando o corpo para os arbustos novamente. O fruto voador realizou rasantes, mas o máximo que conseguiu foram pedaços da batina de Rag, grande demais para ser ultrapassada numa única mordida.
A criatura continuou voando ao redor, esforçando-se para não perder o alvo de vista. Em alguns segundos, foi capaz de o encontrar. A batina grande demais o denunciou detrás de uma das árvores menores.
O fruto desceu como um míssil, a trajetória lhe permitindo pegar velocidade o suficiente para atravessar o tronco de um lado ao outro, surpreendendo o alvo com um ataque por cima! Pelo menos esta era a intenção, pois não era Rag.
A capa que compunha uma parte da roupa do Cardeal foi colocada na casca da árvore para simular uma pessoa em pé, sendo que o corpo verdadeiro sumiu de vista. O fruto grunhiu em raiva, se retirando do local antes que recebesse um ataque surpresa.
Escondido atrás da grande árvore na qual estava o fruto, Rag recuperava o máximo de fôlego possível, atento ao inimigo que por pouco não arrancou sua orelha inteira.
"Será que o próprio fruto é o Transformado?"
A aura não estava sobre ele especificamente, permanecia flutuando sobre todo o território que agia como sua prisão. Sendo a manipulação da aura algo impossível mesmo para o mais poderoso dos vampiros, uma pulga alugou um triplex atrás da orelha do Cardeal — ou o que restava dela.
"Eu uso os Selos? Não, ele desviou das balas de Vitamina D, então quer dizer que elas devem ser efetivas! Mas, será que ele não está só tentando me enganar?" De canto, conseguiu ver a fruta com asas parada no ar como um beija-flor, buscando a flor de sangue que escapou. "Não custa nada tentar!!"
Mirou o alvo sem se revelar por completo, o objeto na mira perfeitamente, o dedo no gatilho e…
Bang! O tiro apenas raspou na criatura, mas não devido ao fato de Rag ser um pouquinho vesgo.
O mundo de repente virou de cabeça para baixo, seus pés agarrados por um cipó vivo que se movia tal como uma serpente. Outros semelhantes apareceram, segurando no fim ambas as pernas e os braços separadamente, outros dois fizeram o serviço de travar seu tronco.
"Merda! Eu me distraí! Esse lugar inteiro é um território de vampiro, então claro que tudo aqui é controlável!"
Amaldiçoou-se pelo erro, mas já era literalmente o usuário de uma Maldição, então talvez as coisas não pudessem ficar pior, foi o que pensou. Um erro de principiante.
Erguido a mais de vinte metros do chão, viu o fruto voar ao seu redor enquanto ria cinicamente. Porém, sua atenção caiu sobre a grande árvore.
Isto é!? O largo e até então inóspito tronco ganhou vida, literalmente. Onde deveria haver apenas casca, musgo e talvez insetos, estava um grande rosto envelhecido. Dotado de grossas sobrancelhas e bigode feito de folhas podres, com olhos semicerrados que, ao invés de fechados como de costume, se abriram para fitar diretamente o homem que causava o ranger de seus dentes e a respiração pesada.
Com a revelação, a aura finalmente se concentrou, saindo das alturas da floresta e tomando lugar acima do rosto duro e ao mesmo tempo tão expressivo.
Transformado
Força 25/100
Agilidade 0/100
Inteligência 38/100
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