Sputnik Saga Brasileira

Autor(a): Safe_Project


72 SEASONS

Capítulo 5: Mecânicas do Corpo e da Mente

Rag abriu os olhos e saltou imediatamente, sem a certeza de que seria capaz disto, somente estar vivo já era motivo de alegria.

"Por quanto tempo eu apaguei?"

Não havia relógios ou coisa parecida na sala para descobrir, mas um outro fator lhe ajudou a imaginar. Os robôs estavam destruídos, alguns com as cabeças arrancadas, outros com semelhantes esmagados dentro de seus corpos, comprimidos a cubos do que agora era lixo metálico. Somente um, apesar de também destruído, estava em melhores condições, sendo provavelmente o último a ficar de pé antes de se juntar aos outros.

Fosse dois minutos ou dois dias, descobriria depois. Agora que os robôs estavam destruídos, deveria encontrar a saída deste cômodo suspeito.

"A lixeira parecia dar somente num buraco sem saída, então já não daria certo. Alguma outra ventilação, talvez?"

Procurou em cada um dos cantos da sala, com dificuldade encontrando uma tubulação tapada com grades, mas era pequena demais até um rato passar.

Tentou olhar dentro para descobrir onde dava, mas seus olhos foram recebidos com um spray a prova de bisbilhoteiros. Uma fumaça branca começou a sair, revelando que havia mais duas desta mesma tubulação na sala.

"Droga, é algum gás venenoso!?"

Tapou o nariz na mesma hora, mas óbvio que não durou muito. Felizmente, nenhum efeito imediato lhe atingiu ao respirar o produto desconhecido. Continuou buscando uma saída ou pistas que levasse a ela.

Vamos, Vamos, qualquer coisa serve!! Forçou-se a guardar o poder dos selos apenas para o momento mais extremo, virando a sala de cabeça para baixo com as próprias mãos. Arrancou o carpete, desmontou um dos robôs e tentou quebrar a parede, mas apenas quando rasgou o sofá que algo fora do padrão surgiu.

Escondida debaixo dos assentos acolchoados estava uma revista, o nome Manual destacado na capa.

Abriu na mesma hora, folheando em busca de uma informação convenientemente útil. Ironicamente a encontrou. Na página havia o desenho de uma moça usando um uniforme de mecânica, ela apontava para o retrato de um dos robôzinhos, apontando um ponto vital na anatomia destes.

"Eles possuem uma digital?" Um item no formato de um losango, localizado no que, em termos anatômicos, seria o ombro esquerdo do robô. "Deve ser com isso que eles abrem as portas. Bem, é a única opção que eu tenho, então é melhor tentar logo!"

Deixou a revista no sofá e se virou para o robô ganhador da luta. Quando se afastou, seu braço foi puxado para trás, como se preso em algo, resultando em sua queda.

De costas no chão, sua visão capturou o responsável pelo puxão. Da página ainda aberta do manual saiu uma mão humana, Rag tentou se soltar, mas o resto do corpo se libertou do mundo de papel antes que conseguisse, colocando-se como um peso que impediu seu reerguer.

— Ora, ora! Você que é o rapaz que falaram? Eu estava esperando um velho já na meia idade, mas você é muito mais fofo do que eu esperava ♡!

Vestia um macacão azul com várias marcas de sujeira, desde óleo à graxa de sabe-se lá quanto tempo, o aroma natural de borracha emanado de sua pele amorenada. Ainda que usasse grossas luvas, Rag sentiu pressão suficiente na barriga para precisar selar sua boca e evitar o escapar de tudo que subiu. Os olhos castanhos e o largo sorriso do rosto arredondado eram parcialmente escondidos por um longo cabelo negro.

Porém, entre tantas coisas para olhar, Rag fixou sua atenção na informação que pairava sobre a cabeça da bela moça.

 

Vampiro Indulgente

 Força 13/100

Agilidade 3/100

Inteligência 27/100

 

A mulher deve percebido sua análise, pois as presas sedentas se revelaram no instante seguinte, misturadas ao sorriso sapeca.

"Um Indulgente!? Com um corpo tão bem conservado… ela não parece nem de longe ser desta classe!"

Os desta classe eram mais semelhantes à cadáveres ambulantes, mesmo que somente no tom de pele que normalmente era acinzentado. Apesar de sua dúvida, a aura não mentia.

A agilidade era baixa, já a força o suficiente para dificultar os movimentos de Rag. A Inteligência também era considerável, sendo até possível que ela estivesse quase evoluindo para um Descendente.

"Os robôs, o cômodo, esse gás… Todos esses efeitos são por causa dela? Não, ela não é tão desenvolvida para conseguir fazer tanta coisa ao mesmo tempo…"

Urgh! Apesar de falar isso, encontrou dificuldades em afastar as mãos pequenas de si ao tentar tirar a mulher de cima.

— Por que a pressa? Tem muito tempo desde a última vez que alguém como você apareceu, que tal ficar aqui e me fazer um pouco de companhia?

Ela trocou a posição, colocando Rag por cima e envolvendo sua cintura com as pernas, capaz assim de grudar seus corpos.

"Droga, ela nem é um vampiro tão forte, mesmo assim é tão difícil!"

Forçava o máximo que conseguia, paralisado de vez quando ela soltou suas mãos e envolveu seu tronco. Rag acabou imobilizado, as pernas da mulher impedindo seus movimentos da cintura para baixo, enquanto os braços finos prenderam seus próprios.

— Vamos, respire fundo! Só um pouco mais! Assim que você relaxar eu vou cuidar do resto, vão ser as melhores 47 horas da sua vida!

Queria fugir, ou melhor, devia ter feito isso há muito tempo. Começar esta jornada pensando que poderia vencer os vampiros pelo caminho foi a pior ideia de sua vida. Quem lhe esperava no final era milhões de vezes pior do que esta garota, e se já estava perdendo para ela, do que adiantaria continuar?

"Eu vou perder aqui? Essa é realmente… a maneira como eu morro?"

A respiração quente e pesada da vampira atingia seu pescoço, cada vez mais intensa. Nas profundezas de sua mente foi capaz de ouvir o demônio rir de sua cara, assistindo tudo de camarote.

Após cerca de cinco minutos com a vítima se debatendo com cada vez menos força, a víbora de aparência humana sentiu o corpo de Rag relaxar por completo.

Hehe~! O sorriso vitorioso tomou conta de seu rosto. Com cuidado, ela ficou por cima novamente, aproveitando a visão de seu prêmio.

— É uma maravilha mesmo, nunca pensei que alguém tão jovem estaria numa posição tão alta da Igreja! Que sorte a minha! — As mãos deslizando pelo torso do rapaz, em direção ao pescoço. — Me disseram que Amaldiçoados possuem um sangue venenoso, mas ninguém tem certeza disso ainda! Ah~! Eu não devia correr esse risco, mas você é bom demais para ser desperdiçado!

As mãos alcançaram o rosto do rapaz, forçando contra suas bochechas para mantê-lo imóvel.

— Vamos ver primeiro qual o sabor dessa sua língua! Deve ficar tudo bem se eu arrancá-la com cuidado.

Ela aproximou-se, mais para devorar do que beijar, a saliva de um predador que não comia há dias quase afogando a vítima. Quando os lábios estavam prestes a se tocar, ela fechou os olhos, querendo aproveitar ao máximo sua própria experiência. Porém, uma textura estranha fez os olhos se abrirem num susto.

Antes que pudesse analisar, uma mão negra envolveu seu pescoço e forçou, um truk acompanhou o tombar de sua cabeça para esquerda. Um dos ossos se destacando na pele ao quase abrir um buraco para escapar.

Poxa~! Apesar do susto, ela usou as mãos para voltar a cabeça para a posição original, demorou meio minuto, mas o pescoço se curou por completo.

Rag aproveitou a deixa e se levantou, tomando certa distância para recuperar o fôlego. A vampira a lhe analisar dos pés à cabeça, um tanto surpresa.

— Você ainda não cedeu… Normalmente o gás faz efeito em uns dois minutos, será que é outro efeito do sangue Amaldiçoado?

Apesar da empolgação, ela não parecia interessada em testar, visto que andou na tentativa de encurralar Rag, cujo caminhou no mesmo ritmo, circulando a sala de maneira a ficar o mais afastado possível do oponente.

— Isso foi a sua Maldição? Então ela tem relação com esse livro na sua mão, entendo. Mas você também não vai conseguir fazer nada enquanto não me tocar, certo?

Ela perguntava como se fosse ganhar uma resposta facilmente. Rag aproveitou, usaria isto como um blefe.

"Ela pode até ser um pouco mais forte que o comum, mas no fim é realmente um Indulgente." Em outras palavras, burro.

A única coisa que aconteceu foi a reação do livro à presença de um corpo estranho. Tal como o sistema imunológico de um corpo, o Livro de Selos atacaria qualquer um que não fosse seu dono original, neste caso, Rag. Como pôde ser visto, um ataque fatal em circunstâncias normais.

— Você quer realmente ir além daqui, né? Mas por quê? — Ela parou de andar, ajeitando a postura. — O Mestre é muito benevolente, mas se você chegar até ele com estas intenções, quem sabe que tipo de punição horrível teria! Não acha que é melhor morrer pelas minhas mãos? Eu disse que vou ser gentil!

Se arrancar a língua com os dentes era uma gentileza, odiaria descobrir o que ela considerava como tortura.

Ela aguardou uma resposta que nunca chegou, os lábios trêmulos do Cardeal sendo o suficiente para que decidisse sua próxima ação.

Aff! Quer saber, que se foda! Eu queria você inteiro, mas apenas metade do corpo já vai servir. Fique paradinho!

Com uma chave inglesa retirada de um bolso lateral, ela perfurou a própria cabeça e puxou o item para baixo, como uma alavanca. O torso se abriu, tal como os robôs menores eram capazes de fazer, mas ao invés de um compartimento vazio feito para esmagar carne, se revelou um cilindro peculiar, que se estendeu como uma luneta faria, a ponta do cano a emitir um brilho breve, acumulando energia.

Um canhão!? Rag não teve tempo de questionar a falta de sentido da ação, focando em folhear seu livro de forma quase aleatória, sem tempo para ativar qualquer selo.

ZIIIUUM!! Um disparo contínuo rasgou o pouquíssimo espaço entre os dois, perfurando a parede atrás. Rag esquivou por pouco, o lado esquerdo do rosto sangrando.

"Porra, eu não posso usar o selo de piromancia, eu acabaria queimado junto neste espaço apertado!"

Tinha que pensar em outra maneira de vencê-la, mas antes agiu da primeira forma que pensou para evitar ser partido em dois.

De alguma forma conseguiu se aproximar o suficiente. Jogou-se sobre a mulher, imediatamente tapando o canhão com pedaços dos robôs destruídos. O disparo de energia cessou. No mínimo lhe garantia dois segundos para pensar.

Tentou torcer o canhão, falhou. Os braços da vampira vieram em direção ao seu pescoço, os seus próprios sendo necessários para pará-la, cientes de que perderiam numa disputa prolongada de força.

Acabaram num impasse. O canhão inutilizado, mas Rag tendo de forçar o próprio peso sobre a mulher para impedir que ela se levantasse.

— Qual o problema? Por que não me mata de uma vez? Está com medo?

Seu semblante forçado em raiva facilmente desvendado, o verdadeiro sentimento aos poucos tomando o controle. A testa franzindo, os olhos lacrimejando e a respiração pesando.

"Não… Não! Não! Não! AGORA NÃO!!"

O prazer nos olhos da vampira foi repentinamente convertido em terror, o brilho da vida e do êxtase desaparecendo de seus olhos num simples piscar.

O que é isto!? O rosto tímido estava sendo substituído por uma sombra, talvez mais que isso, a personificação das trevas, uma entidade que nem pertencia à este mundo. Uma força repentina subjugou a sua, a prendendo de vez contra o chão.

Rag viu, diante de seus olhos, tudo se repetindo enquanto a voz ecoava em sua cabeça, zelosa, agradecida, e, acima de tudo isto, culposa.

No fim, foi você quem fez tudo isto…

O manto branco foi maculado pelo líquido da vida de vários misturados numa só solução, a penetrar sua carne como vermes fazem num cadáver.

Rag viu sua mão imbuída nesta fonte rubra ser levada em direção à sua boca. Apesar de ver, era incapaz de reagir, os olhos da vítima a lhe encarar, querendo saber que tipo de monstro ele era, mas ele só era capaz de reagir de uma única forma:

AAAAAAAAAAAAAHHHH!!

Saltou para trás, colidindo contra a parede antes que o cambalear lhe levasse ao chão. As mãos pressionadas contra a cabeça numa intenção quase genuína de esmagá-la, a esperança de que as dores parariam caso o fizesse.

— PARE! PARE! NÃO É HORA PARA ISSO! AGORA NÃO!!

A vampira quem deveria estar passando por um exorcismo, não o contrário! Era o que qualquer expectador da situação pensaria de início. Infelizmente, a coisa que possuía Rag não poderia ser retirada de seu corpo, era necessária outra solução.

— O que é isso? — questionou a vampira, seu intelecto de marionete a impedindo de elaborar a questão. — KEHAHAHA!! Isso tudo é medo? Eu imaginei que você era fracote, mas isso aí já é comédia!

Ela aproveitou o surto e começou a retirar o lixo robótico que tampava seu canhão.

Rag faltava apenas começar a levitar do tanto que se contorcia. Seus gritos mesclados aos que corroíam sua cabeça. Homens e mulheres, jovens, crianças, adultos, idosos e até bebês, apesar da variedade, todos clamavam em sua direção, silenciados um após o outro ao passo que suas mãos ficavam cada vez mais vermelhas.

No meio da sinfonia caótica, a criatura esquelética surgiu em seu ombro. A ausência de uma segunda figura mais angelical no ombro oposto permitiu sua voz ansiosa sobrepujar qualquer outro de seus pensamentos.

Vamos, Rag, use o ataque! USE, USE O ATAQUE AGORA RAG!!!

"NÃO! CALE A BOCA! CALE A BOCA!!"

Você vai morrer se não usar. Olha só que patético, ser derrotado por um Indulgente. Acha mesmo que isso vai te livrar dos gritos? Claro que não, mas se você usar o ataque, então eu posso te libertar dessa dor um pouco! ENTÃO VAMOS, USE O ATAQUE!!

A vampira se apressou, finalmente limpando o canhão. A energia acumulando de imediato, a cabeça do rapaz como alvo.

ATAQUE! ATAQUE! ATAQUE! ATAQUE!! ATAQUE AGORA, RAAAG!!

AAAAARGH! — Abriu o livro violentamente, a página certeira. — VIGÉSIMO OITAVO (28°) SELO!!

A vampira usou o braço como uma lança, as unhas capazes de atravessar a cabeça de Rag facilmente, mas não alcançaram. No meio do trajeto, o braço, o pescoço, torso, todo o corpo da vampira foi transmutado num instante, a pele agora isenta do tom amorenado e disposta somente do dourado de ouro em sua máxima pureza.

Rag caiu de joelhos, arfando. No que poderia ser até a primeira vez desde que se tornou um Amaldiçoado, ele largou seu livro, apesar de ainda preso àquela maldita voz.

Seu covarde

Cala a boca! Demorou até que se recuperasse. Quando as pernas pararam de tremer, o esforço foi somente para que saísse do chão e sentasse no sofá, de onde encarou o corpo do vampiro. A aura já inexistente, confirmando sua morte. A pele dourada a refletir seu rosto suado, os olhos arregalados que por sua vez escondiam um sorriso maquiavélico.

Após seu corpo, mais um tempo foi necessário para que as vozes agoniadas cessassem em sua cabeça, mais ainda para o cheiro e gosto de sangue ser esquecido. Seria uma ótima hora para algum dos bolinhos aparecer em sua frente e servir como tira-gosto, infelizmente esta conveniência não aconteceu.

"Logo agora… Por quê? Por que eu tinha que lembrar disso logo agora!?"

Se perguntava apesar de ter a resposta na ponta da língua. Não apenas em suas memórias ou em seu próprio corpo, o cenário que protagonizou as cenas daquele dia ainda existia fisicamente, mas os fantasmas lá criados tinham suas correntes amarradas à sua alma.

Era um tolo em pensar que poderia passar por tudo isto sem ter de ser se lembrar daquele dia. Pelo resto da sua vida, talvez até depois de sua morte, todos que um dia interagiram consigo só o reconheceriam como o único que sobreviveu ao Incidente da Catedral Secreta.

"É isso, eu realmente devia voltar… Se eu continuar eu vou acabar morto!"

Encarou a porta pela qual entrou. Era só pegar a chave que ficava no ombro dos robôs e abri-la. Porém, uma muralha de corpos o impedia de seguir o caminho.

 Sua covardia não será o suficiente para se livrar de nós!

A massa de carne formada de vários rostos distorcidos gritava isso em silêncio, tornando somente uma única trilha visível para Rag; em que seu corpo jazia debruçado no chão, sem vida.

"Eu sei… Eu não tenho o direito de fugir depois do que eu fiz. Eu tenho que continuar, eu sei que não vou conseguir, mas eu não tenho o direito de morrer em paz. É a única maneira de compensar pelo o que eu fiz."

Se levantou, forçado pelos fantasmas. Enquanto sua indecisão fosse a vontade guia, eles quem decidiriam o local de seu túmulo.

Com o 54° Selo, a alma da vampira recém-derrotada foi invocada diante de seus olhos. Isenta de personalidade, mas detida de todas as lembranças, se limitava numa forma semitransparente a flutuar diante de Rag. De acordo com a habilidade, a alma deveria responder duas perguntas, mas neste momento apenas uma era necessária.

Com o punho cerrado para esconder o medo emergente, Rag fitou o fantasma e, sem mais intenções de retorno, perguntou:

— Me responda! Quem é o seu Mestre?

 

 

 

                                                                                                    

28° Selo: Tem o poder de tornar todos os metais em ouro

54° Selo: Pega uma alma falecida e faz com que ela responda duas perguntas do magista


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