Spirit Gate Brasileira

Autor(a): Lucas Henrique


Volume 1

Capítulo 1: O Último Dia Livre do Nosso Verão foi Mais Problemático do que Deveria III

Brendan empurrou a lança para longe e avançou contra a criatura.

Enquanto lutava, explicou o que aquele monstro era e, por consequência, revelou ser um mago cuja função era lutar contra aquelas criaturas.

— Se é seu trabalho habitual, acaba logo com essa coisa! — gritou Alex.

— Não é tão fácil assim! E esse Oniros, em específico, é um Fântaso — respondeu Brendan, mas só depois se deu conta de que Alex não fazia ideia do que era um Fântaso.

— O que é um Fântaso? — perguntou Alex.

“Droga, Fântasos são um saco. Mesmo se for de rank baixo, ele te obriga a usar magias de níveis mais elevados. Será impossível vencer simplesmente com encantamentos de fortificação corporal”, pensou Brendan ao atravessar a criatura com um chute.

O Luster já havia enfrentado Fântasos no passado. Não muitos, já que tais missões eram comumente entregues aos Heaven, mas ele sabia como lidar com um ser que conseguia mudar o estado físico de seu corpo quando bem entendesse.

Os ataques eram desferidos em sequência: do seu corpo enevoado, fios escuros endureciam e se debatiam violentamente.

Brendan desviava de cada ataque; a agilidade era um dos pontos fortes dos Luster.

O mago revidava com golpes flamejantes sempre que conseguia uma abertura; porém, magias de nível intermediário também não estavam sendo muito eficazes.

— Mesmo minhas chamas não causam muito dano — constatou Brendan, desviando de um martelo escuro criado pelo monstro.

“Ok, ele é no mínimo de rank B. Eu sou mais forte, mas, nesse beco estreito, estou em desvantagem. Preciso me afastar”, pensava o jovem, enquanto se distanciava.

— Oh, grandiosa Bastet, que o brilho do sol ilumine o meu caminho para a vitória. — O círculo mágico de brilho incandescente surgiu abaixo de Brendan; as brasas dançavam junto às chamas em volta do garoto.

O Fântaso solidificou seu braço direito em uma lança novamente, fez o movimento de gatilho, pegou impulso e atacou o mago.

Brendan manteve-se calmo, aguardando até o último instante. No momento certo, desviou em diagonal, cobrindo a distância entre eles e evocando sua magia:

— Perseguição de Presas Felinas! — Cuspindo em suas mãos esferas flamejantes, Brendan as arremessou contra o corpo do Oniros.

A criatura gasificou seu corpo na tentativa de escapar da técnica.

Entretanto, as esferas tomaram forma de ratos de fogo e infestaram o corpo do monstro, que, mesmo em estado gasoso, não estava imune.

— Minhas presas podem se esconder em qualquer lugar, tangível ou não. Agora, queime! — Os ratos explodiram em chamas, que rapidamente consumiram o Fântaso, que gritava de dor.

Brendan se virou para verificar o estado de Alex, acabou priorizando o Oniros e não pôde constatar se o Bong estava bem. Apesar de — no mínimo — saber que ele estava vivo, o garoto mais baixo havia gritado a luta inteira.

— Você está bem?

— Estou ótimo! Isso foi incrível! — gritou Alex, aproximando-se a passos largos.

Brendan já imaginava a dor de cabeça que seria convencer Alex a não espalhar o que viu.

O Luster deu uma breve verificada no celular. Ao constatar que não havia mensagens de May, Brendan guardou o aparelho e decidiu começar a explicar a situação para Alex.

— Você pode estar animado, mas entenda que… Argh… O quê?

Alex olhava horrorizado para a lança escura que havia perfurado o peito de Brendan.

“Droga… fui descuidado”, pensou o Luster enquanto perdia a consciência.

— Brendan! Brendan…

A voz de Alex ficava cada vez mais distante para Brendan. Sua visão escureceu e seu corpo caiu ao chão.

O sangue do herdeiro dos Luster se espalhava pela superfície fria, enquanto ele sentia a vida deixar seu corpo.

No mundo da magia, a morte sempre foi algo natural. Contudo, morrer de forma heroica, enfrentando ameaças, tornou-se muito mais frequente no mundo moderno.

Originalmente, no mundo antigo, magos morriam o tempo todo, mas suas mortes eram, em sua grande maioria, por motivos mesquinhos e egoístas: seja por um experimento que deu errado, um plano mirabolante ou por quebrar algum tabu.

Morrer em prol de um bem maior e viver em prol de ajudar os outros; tudo isso é muito bonito no papel, mas a verdade é que é só um trabalho.

Muitos magos têm a escolha de seguir esse caminho ou não — claro, nenhuma família renomada de magos permitiria que sua linhagem acabasse —, mas independentemente disso, ainda havia uma escolha.

Isso não se aplica aos Guardiões Espirituais. A mais antiga organização de magos em Elysium não permite uma escolha. Os magos das três famílias — Luster, Heaven e Gordon — são obrigados a exterminar os Oniros, recolher seus cristais espirituais e entregá-los para a Anemesis.

Morrer em batalha poderia ser considerado uma forma de libertação para eles.

Entretanto, isso não cabe à família Luster. A Benção de Bastet os acorrenta à vida e não permite que isso ocorra.

Brendan sentia sua consciência retornando ao seu corpo. Ele podia ouvir os gritos histéricos de Alex.

Abrindo seus olhos, viu Alex tentando — sem sucesso — fugir dos limites da zona espiritual.

O garoto se levantou, e o  buraco em seu peito estava quase completamente curado por chamas douradas — o que Brendan conhecia como o fator de cura e regeneração da Benção de Bastet.

Alex viu Brendan de pé e perguntou:

— Brendan? Você não morreu?

— Não se preocupe com bobagens. Vou terminar isso logo — respondeu Brendan, virando-se para encarar o Oniros.

O Fântaso tinha dificuldades para se locomover; parte do seu corpo e um de seus braços haviam sido transformados em cinzas.

Brendan se pôs à frente da criatura, esticou seu braço direito em direção ao monstro e recitou seu cântico mais uma vez.

Quando o brilho das chamas do círculo mágico se intensificou ao limite e seu braço brilhou com o calor, o Luster gritou:

— Incêndio Infernal de Felis! — Uma rajada de fogo envolveu o corpo do Fântaso em um turbilhão de chamas. O fogo consumia rapidamente a criatura.

— Que demais! Só não entendi a fixação com gatos, mas tá valendo! — gritou Alex, enquanto se aproximava imprudentemente.

— Ainda não! Cuidado! — Brendan tentou alertar Alex.

Mas não houve tempo para uma resposta. Mesmo em chamas e quase morrendo, o Fântaso tentou um último ataque, transformando seu único braço em uma lança novamente.

Com toda a força que lhe restava, o monstro desferiu seu golpe final.

Buscava ao menos levar Alex consigo.

No entanto…

A lança escura se chocou contra uma grossa parede de gelo. O susto fez o Bong cair no chão.

Brendan olhou aliviado para o muro frígido enquanto Oniros se desfazia em cinzas, deixando para trás seu cristal espiritual.

A zona espiritual desapareceu junto à criatura.

— Francamente, o que seria de você sem mim? — May Hayami caminhava até eles.

Brendan deixou escapar um sorriso ao ver a figura da garota se aproximando, enquanto flocos de neve caíam sobre eles.

— O importante é que acabou.

Ao verificar o cristal, May disse:

— Aparentemente era um rank B… Pode-se dizer que você se saiu relativamente bem.

May tentava manter a postura, mas não conseguia evitar olhar para o buraco na camisa de Brendan.

“Não seja tão descuidado, Bren-chan”, pensava a garota.

— Vocês são demais! Eu preciso saber de tudo. Vamos me contem! — Alex correu até a dupla de magos.

— May, é com você — Brendan disse, enquanto se sentava no chão.

A Hayami desferiu um olhar fulminante para o Luster, mas ele apenas fingiu não ver.

Sabendo que as condições para a barreira Anti-Caos funcionar não foram atingidas, May não viu outra opção além de explicar a situação a Alex.

A garota explicou sobre os Oniros, o mundo da magia e sobre a função que Brendan e ela desempenhavam.

— Uau, então quer dizer que existem outros tipos dessa coisa? — Alex perguntou, com os olhos brilhando de empolgação.

— Ela acabou de falar. Temos conhecimento de dois tipos de Oniros: os Fântasos, como você viu, são seres elementais que se alimentam dos sentimentos negativos dos seres humanos. E os Fobetors, que são seres animalescos e se alimentam tanto dos sentimentos quanto da carne das vítimas — respondeu Brendan, com evidente falta de entusiasmo.

— Entendi. Hahaha… E agora? O que fazemos? — perguntou Alex.

— Esperamos as autoridades — respondeu May.

— Não é um segredo? — Alex parecia confuso.

— Em resumo, o governo sabe de tudo, não se preocupe — respondeu Brendan, incomodado pelas dores dos ferimentos já curados.

— Então, aquele cara está bem? — Alex apontou para o homem caído.

— Não podemos mexer com ele, mas provavelmente ele não está bem — respondeu Brendan.

— Mas é estranho. Por que um monstro desses ia querer um celular? — Ao ouvir a pergunta de Alex, Brendan e May perceberam o absurdo naquela situação.

Mesmo sabendo que não deveria fazer isso, May cuidadosamente pegou o celular do corpo do homem. Magos menores de idade não têm permissão para tocar em vítimas inconscientes.

Examinando o aparelho, encontrou uma pétala de flor dentro da capinha de proteção.

— Uma pétala de Lira? — Brendan perguntou, ao ver a pétala de flor que May segurava.

Um mau pressentimento tomou conta do Luster, mas rapidamente suprimiu aquela sensação, não queria cogitar tal possibilidade.

— Essa flor serve para atrair Oniros — afirmou May. Aproximando-se dos garotos, perguntou: — O que Bellerose-san fazia com algo tão perigoso?

— Não sei, e não podemos perguntar para ela; seria muito suspeito — respondeu Alex. Falando como se fosse parte do grupo.

— Esse é um item perigoso. Vou ficar com essa pétala por enquanto — May disse.

Os policiais chegaram pouco tempo depois. Como prioridade, averiguaram a situação do homem inconsciente e constataram a morte da vítima.

Após ouvir o relatório dos três adolescentes — que omitiram a existência da flor de Lira —, instruíram Alex a manter segredo, deixando à disposição do garoto assistência psicológica especializada, caso ele precisasse.

Com tudo resolvido, Brendan recuperou o cristal espiral — dessa vez, do tamanho de uma maçã — e, junto a May e Alex, seguiu em direção ao shopping. Deveriam devolver o telefone de Sam.

  • ••

A poucas quadras do Shopping de Serenity, Alex se despediu dos dois. Brendan e May se perguntavam o porquê do garoto evitar tanto a Sam, mas não se intrometeram no que não dizia respeito a eles.

Apenas desejaram uma boa noite a Alex e continuaram o caminho até seu destino.

Uma rua antes da que levava ao shopping, May se colocou à frente de Brendan e disse:

— Você fica aqui.

— Oe, por quê?

May olhava Brendan, com a testa franzida e a boca ligeiramente aberta, como se tentasse aceitar a existência à sua frente.

— O que eu fiz? — perguntou o rapaz, sentindo-se ofendido pela expressão no rosto da garota.

— Como vamos explicar isso? — Ela apontou para o buraco na camisa ensanguentada de Brendan.

Com uma expressão de realização, o garoto finalmente sentiu que um quebra-cabeça havia se completado.

“Por isso minha camisa estava molhada e meu peito estava frio”, refletiu Brendan.

— Devo voltar sozinho — falou o Luster.

A conclusão que o garoto chegou fez May sentir seu sangue ferver. Ela se perguntava se deveria bater nele ou não.

Fazia um ano que estavam separados e a jovem Hayami não permitiria que seu precioso tempo juntos terminasse assim.

“Onde fui amarrar meu burro”, pensava May.

— Você e seu cérebro de ervilha não vão a lugar nenhum. Vou devolver o celular de Bellerose-san e depois comprar uma camisa para você, então você espera aqui. — Os olhos azuis da garota brilhavam como uma chama pálida.

— Glup… Certo… — Brendan não sabia se a dificuldade de uma resposta era por medo da fúria da jovem ou pelo encanto da visão daquela linda garota sob a luz da lua.

— Vou indo. Espere por mim — disse May, enquanto se dirigia ao shopping.

— Claro, sempre esperarei — Brendan respondeu. Ao proferir as palavras, ele entendeu o que significavam.

May estava de costas quando ouviu aquelas palavras e sentiu seu coração acelerar e seu nervosismo aumentar. Ela parou no mesmo instante, mas só após alguns segundos se virou para Brendan.

O rosto da garota estava vermelho como um tomate, mas decidiu que não perderia e, reunindo coragem, disse:

— Baka! Sou eu que estou esperando por você, Bren-chan!

O coração de Brendan disparou a ponto de ele achar que fosse ter um ataque cardíaco. Atordoado, ele viu a sua linda amiga de infância se afastar.

Brendan refletia sobre tudo que aconteceu no dia. Conheceu pessoas novas e, por algum milagre, elas se deram bem com ele. Também teve que lidar com os problemas habituais de um mago, e isso era doloroso.

Porém, com toda a certeza, o mais importante para ele foi rever a May.

“Ela consegue ser fria, implacável, inteligente e responsável; ainda assim, ela também é atenciosa, infantil, facilmente perturbável e de coração puro”, pensava Brendan, enquanto sorria.

— Ei, ainda preciso comprar meu material escolar para amanhã!

E com essa última constatação, ele percebeu que seu dia ainda não tinha terminado.

 

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