Spirit Gate Brasileira

Autor(a): Lucas Henrique


Volume 1

Capítulo 1: O Último Dia Livre do Nosso Verão foi Mais Problemático do que Deveria II

— Ei, desculpe. Não percebi que mais alguém estava interessado nesse também.

Um rapaz de olhos arroxeados e cabelo colorido soltou o outro lado do caderno e olhou para Brendan, com um olhar um tanto constrangido.

— Certo, tudo bem. — Brendan não tinha interesse em iniciar uma conversa com o garoto.

Do ponto de vista de Brendan, o estilo do rapaz parecia uma sinalização para algum grupo, o que era problemático. Pessoas com esse tipo de pensamento costumavam trazer complicações, especialmente para alguém com o sobrenome Luster. Por isso, era melhor evitar problemas.

— Alex! Que coincidência nos encontrarmos aqui. Veio comprar o material escolar de última hora também?!

Uma garota surgiu entre Brendan e o outro rapaz, dirigindo sua pergunta ao garoto de cabelo colorido.

Menor em estatura, ela o olhava de um ângulo mais baixo, com os olhos brilhando por trás dos óculos e um sorriso animado no rosto. Seus cabelos curtos balançavam com a animação do seu corpo.

— Sam? É… Estamos nos encontrando muito ultimamente, né? — disse Alex, visualmente desconfortável.

Sam rapidamente se voltou para olhar Brendan. O garoto de pele parda desviou o olhar, e Sam retornou a atenção para Alex e perguntou:

— Seu amigo?

Brendan travou com a pergunta, surpreso por ser puxado para a conversa assim. Racionalmente, sabia que Alex poderia apenas negar e tudo ficaria bem.

No entanto, Alex não conseguiu negar imediatamente; o garoto de olhos arroxeados ainda parecia desconcertado com a presença da garota. Então, Sam se virou novamente para Brendan e disse:

— Prazer em conhecê-lo! Meu nome é Samantha Bellerose, mas pode me chamar de Sam! E você, qual é o seu nome?

— Não, não sou amigo dele — disse Brendan, com um olhar sério e voz firme.

— Desculpa! Acho que entendi mal a situação, hehehe. — A voz estridente de Sam fazia Brendan se encolher.

Brendan estava decidido a sair de perto deles, embora sentisse um pouco de pena por Alex. Pensou: “Meus pêsames, Alex. Posso entender sua dor.”

Quando o garoto estava para dar o primeiro passo para longe dali, May se aproximou dele e perguntou se já havia escolhido o que comprar. Antes que Brendan pudesse responder, Sam se intrometeu:

— Você é a May Hayami? Foi você quem obteve a maior nota no exame nacional de matemática?

— É ela mesmo? Eu me esforcei tanto e fiquei em vigésimo… — Alex falou, com os olhos desviando-se para o chão.

May congelou com o questionamento dos dois. A jovem de olhos safira tinha feitos acadêmicos impressionantes, e muitos estudantes que buscavam entrar em boas escolas no ensino médio se testavam em exames como aquele.

Suas notas quase sempre perfeitas foram o que fez seu nome ganhar uma certa fama entre os alunos mais estudiosos.

Aos olhos de estranhos, May parecia a típica rainha de gelo: perfeita em tudo, inteligente, bonita, eloquente, educada e inalcançável.

No entanto, para o garoto de olhos escuros ao seu lado, May era uma garota normal. Ela tinha muitos pontos fortes, é verdade, mas ele também conhecia seus defeitos, seus hobbies e cada momento embaraçoso que ela passou ao seu lado.

Brendan sabia que, à primeira vista, a persona de May era atrativa para os outros, mas ele também entendia que a personalidade dela não era algo que qualquer um conseguiria lidar.

Como costumava dizer, “A May é tão bonita quanto é problemática”, e por isso, a menina só tinha ele como amigo.

May olhou para Brendan por um instante, respirou fundo e voltou-se para as duas pessoas desconhecidas para ela.

Com um sorriso tímido, se apresentou:

— Olá, sou May Hayami. Prazer em conhecê-los. Peço desculpas pelo meu comportamento; nunca imaginei que seria reconhecida por um simples teste de matemática.

— O prazer é nosso. Sou Samantha Bellerose e este é Alex Bong. Nós também fizemos aquele exame e ficamos impressionados com a sua nota — disse Sam, alegremente.

— E ela chamou de simples… — murmurou Alex.

— Ah, perdão. Não queria desdenhar do esforço de vocês — disse May, com um tom de voz ansioso.

May tinha conhecimento sobre sua dificuldade em socializar. Ela não sabia o porquê disso. Acreditava que não estava fazendo nada de errado; dizia a verdade e ia direto ao ponto.

No entanto, as conversas sempre terminavam da mesma forma: as pessoas sempre se afastavam dela.

A garota se lembrava de Brendan dizendo que ela não possuía tato para conversar com os outros. Isso não fazia sentido para ela. Afinal, quem era ele para questionar suas habilidades sociais, quando ele mesmo não tinha tato nenhum.

Ao ouvirem as desculpas de May, Sam e Alex caíram na gargalhada.

Brendan e May acharam aquilo estranho. Brendan, em particular, se irritou um pouco pelo fato de os dois estarem rindo de May.

— Não ligue pra isso; minha pontuação não era importante para mim. O Alex se incomodaria até se tivesse ficado em primeiro. Fique tranquila — disse Sam, após se acalmar.

— Ela está certa. Não esquenta — reforçou Alex.

— Entendo — disse May, visivelmente surpresa pela resposta dos dois.

Vendo que tudo havia se resolvido, Brendan tentava se esgueirar para longe dali. Ele sabia que May o perdoaria — após uma longa bronca — mas valeria a pena.

Seu plano, no entanto, não contava com uma coisa.

— May, ele é seu namorado? Vocês formam um belo casal! — perguntou Sam, segurando a manga da camisa de Brendan e impedindo-o de fugir.

— Não, ele é meu amigo de infância.

A resposta de May foi tranquila e sem traços de nervosismo. Ela claramente sentia algo pelo garoto e acreditava que era recíproco.

Porém, essa pergunta não era novidade para eles; na verdade, provavelmente era a pergunta que os dois mais ouviram na vida.

— Mas vocês formariam um belo casal — reforçou Sam.

— E por falar nisso, você ainda não se apresentou — disse Alex.

Brendan se surpreendeu; ele não esperava que essa pergunta viria daquele cara.

Sentiu o pouco apreço que tinha por Alex desaparecer.

Aquela era uma pergunta complicada; o garoto sabia o que aconteceria quando revelasse seu sobrenome. Mas não tinha para onde correr e, quanto mais ele demorasse, pior seria.

— Sou Brendan… Brendan Luster. Sim, você ouviu bem, Luster — hesitante e áspero, falou Brendan.

— Muito prazer em conhecê-lo, Brendan Luster — disse Alex, tranquilamente.

Brendan não sabia como deveria reagir. Será que Alex estava zombando dele? Era uma armadilha?

Também se perguntava se Alex poderia ser um mago tentando evitar problemas com a família Luster.

— O nome da sua família é Bong, correto? — perguntou o rapaz mais alto.

— Sim, meus pais são coreanos, mas eu nasci aqui em Elysium.

“Isso é sério? Não há nenhuma família de magos com esse nome em Elysium. Será que eu… Não, não crie falsas esperanças de novo”, pensava Brendan.

Brendan estava surpreso com a ausência de uma reação hostil dos dois.

May, por outro lado, estava feliz por terem se encontrado com pessoas que não julgaram Brendan apenas por ser um Luster. Por isso, felizmente aceitou a sugestão de Sam para comerem algo juntos na praça de alimentação ao ar livre do shopping.

  • ••

O grupo de adolescentes conversava já há algum tempo. Durante aquele bate-papo, Brendan e May aprenderam mais sobre Alex e Sam.

O garoto, aparentemente, tinha uma tendência a evitar a garota, e sem outros amigos, ela se sentia frequentemente sozinha.

A solidão de Sam mexeu com May. A moça de óculos havia convidado a de olhos azuis para visitar uma confeitaria. Inicialmente, May recusou, pois não conhecia a menina o suficiente para aceitar sair com ela.

Mas, após ouvir como a Bellerose se sentia só, um sentimento de empatia cresceu nela, o que fez a Hayami aceitar o convite e trocar contatos.

Brendan e May também descobriram que Alex e Sam estavam começando o ensino médio neste ano e, além disso, iriam para a mesma escola que eles: a Academia Celeste Ptolomeia, na cidade de Minos.

Os quatro continuaram a conversa por mais algum tempo.

Com o céu começando a escurecer e tingindo-se de azul escuro ao crepúsculo, os jovens decidiram encerrar o encontro.

Brendan, May e Alex já haviam pago pelo que consumiram e, esperavam por Sam, que ainda estava no caixa. Enquanto aguardavam, May e Brendan avistaram um homem se aproximando.

Essa ação não seria estranha em condições normais. Entretanto, aquela não era uma situação normal, e o que chamava a atenção dos dois era a sombra escura que emanava do corpo do homem.

— Bren-chan, está vendo isso? — sussurrou May.

— Sim. Droga, justo agora que eu esperava um pouco de paz. — Reclamou Brendan.

— Sobre o que vocês estão falando? — perguntou Alex, com uma expressão confusa.

May deu um pulinho ao se assustar. A garota havia se esquecido da presença de Alex.

Não estava nervosa por ter falado sobre o problema em questão; sabia que ainda não tinha mencionado nada relacionado ao mundo da magia.

O real problema foi ter chamado Brendan de Bren-chan na frente de estranhos. May queria evitar que as pessoas comentassem mais sobre o relacionamento deles, então decidiu se referir ao Luster de forma mais formal.

Enquanto Brendan e May tentavam contornar a situação com Alex, o homem correu até Sam, tomou o telefone que ela segurava — o que causou a queda da garota — e saiu correndo das dependências do shopping.

May correu em direção a Sam, preocupada, enquanto Brendan e Alex corriam atrás do homem.

May queria seguir Brendan e o ajudar a lidar com aquele problema, mas ao ver os olhos lacrimejantes de Sam, a garota optou por ajudá-la a se acalmar antes de seguir o amigo.

  • ••

Os dois rapazes perseguiram o homem pelas ruas de Serenity. Brendan corria a uma velocidade impressionante, embora estivesse se segurando para não revelar sua verdadeira capacidade sobre-humana, já que Alex estava tão próximo.

Mesmo irritado, Brendan admirou a capacidade atlética de Alex, que, para uma pessoa comum, era notável.

O garoto mais alto ajustava sua velocidade de forma calculada, guiando o possuído para a região que desejava. Após alguns minutos de perseguição, ele finalmente conseguiu encurralar o homem em um beco.

Era uma região mais afastada do centro, onde a maior parte das construções eram fábricas.

O homem não tinha para onde correr, e Brendan já se preparava para o combate.

Pouco depois dele ter encurralado o possuído, Alex chegou.

Tomando a frente de Brendan, o rapaz de cabelo colorido gritou:

— Você está cercado!

— Saia daqui, Alex. Entre em contato com as autoridades. Está tudo sob controle — Brendan disse, tentando não parecer desesperado.

— Chama você. Eu vou imobilizar ele — Alex respondeu, apontando o polegar para si. — Meus pais são policiais!

Brendan não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele não tinha vontade de lidar com um maluco com síndrome de super-heroi. Só queria terminar aquilo logo.

O jovem Luster estava prestes a gritar com o garoto de olhos arroxeados quando um som extremamente alto foi ouvido. O possuído urrou; um estrondoso e melancólico urro.

Ao mesmo tempo, os rapazes sentiram o ar pesar e um cheiro podre infestar aquele beco, evidenciando o surgimento da zona espiritual. À medida que a sombra se elevava do corpo do homem, ela se transformava na imagem do Oniros.

O corpo do homem desabou e a criatura se manifestou totalmente. Composta por uma fumaça escura em formato humanoide, o Oniros tinha por volta de três metros de altura. Sua presença intimidava os meninos.

— O que é isso?! — Alex tropeçou e caiu com o susto.

— Ei… Essa coisa é maior do que eu imaginava. Quantos sentimentos negativos essa cara tinha? — Involuntariamente, Brendan recuou alguns passos.

O monstro, que não continha sua sede por sangue, não desperdiçou a oportunidade e atacou o garoto caído.

Transformando seu longo braço em uma lança, tentou empalar Alex.

O golpe foi violento; quebrou o chão e formou uma grande nuvem de poeira. No entanto, errou seu alvo.

Brendan conseguiu salvar Alex no último instante, carregando-o para um lugar um pouco mais distante. Ele o instruiu para ficar longe. O Bong protestou, querendo respostas, mas a criatura não esperou e atacou mais uma vez.

— Merda… — resmungou Brendan, enquanto segurava o ataque da lança; seus braços exibiam linhas brancas brilhantes. — Já que você é filho de policiais, eu vou dizer… Preste atenção!



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