Volume 1
Capítulo 9: Espelho
Após os dois acólitos adentrarem a instalação. Todo o corpo de Ezkiel tremeu, se eles descobrissem que ele havia aberto o portão e roubado o sonho do prisioneiro, não seria o portão que seria destruído com uma moeda.
“Se esses filhos da puta fazem isso com uma moeda, imagina o que fazem com uma arma de verdade... Não, não! Eu não quero saber.”
Encarnado o portão por mais uma vez, observou a carruagem com os dois cavalos sozinhos. A ideia veio a sua mente, mas sumiu depressa. O medo de encontrar algo não desejado dentro daquele local.
“Eles podem sentir um portão sendo arranhado de mais de uma cidade de distância, imagina a carruagem que está próxima.”
Desistindo da ideia, enrolou as correntes nos braços e correu para as ruelas menores. Sua mente apenas pensava em se esconder dos Outros que estavam desaparecidos e em retirar logo essas malditas correntes. Entretanto, outra coisa veio a sua mente.
《 Retorno disponível em 5 minutos 》
“Isso! Finalmente! Apenas preciso me esconder por 5 minutos e isso tudo vai acabar! Inferno de sonho maldito, eu vou sobreviver a você!”
Uma alegria preencheu todo o seu corpo. Uma vontade abrupta de gargalhar alto e fazer o maior barulho a sua volta pairava sobre suas emoções, mas precisava conte-las por enquanto. Quando acordasse poderia fazer tudo isso e mais um pouco.
O maior foco de Ezkiel era procurar um local para se esconder até o sonho acabar. Por sorte, a cidade estava completamente vazia e repleta de esconderijos, bastava apenas procurar um abrigo seguro e isso era simples com o seu pouco conhecimento sobre os Outros. Utilizando o brilho da lua ele analisava os rastros gosmentos que pulsavam das criaturas e se desviada de pontos com maior cheiro de especiaria.
Ele encontrou uma casa em uma pequena rua sem saída. O cheio se assemelhava mais a sujeira e fungos do que a especiaria. Pela primeira vez, estava feliz com esse odor amargo.
A casa parecia ser pequena para os moldes de Ezkiel. Possuía dois andares com o superior sendo um sótão pequeno, pelo nivelamento da janela ao teto. As paredes eram germinadas com as casas ao lado. A parte de baixo era um estúdio aberto, onde alguns moveis destruídos podiam ser identificados.
Mesas de madeira quebradas, com pequenos adornos circulares nas pontas. Um fogão a lenha antigo que havia se tornado um ninho de algum bicho, em que o cano superior que levava ao teto parecia estar quebrado, tombado ao meio da sala. Havia uma pequena cama mais a esquerda, onde cortina antigas, desbotadas pelo tempo fechavam como um pequeno camarim.
Por sua vez havia outros objetos intactos na casa, uma penteadeira antiga, com o vidro completamente sujo e gavetas abertas e vasculhadas e um balde de metal ao lado de um buraco na outra extremidade do aposento, onde deveria ser feito suas necessidades.
Cansado Ezkiel apenas olhou o aposento destruído e se sentiu estranhamente familiar. Seu corpo levou a pequenos espasmos de prazer e tranquilidade. O sono, que vinha do sangramento em seu ombro e das diversas feridas em seu corpo, começou a repousar em sua mente. Quase o fazendo desmaiar ali mesmo, entre madeiras sujas e pedaços de lajes quebradas. Ajoelhou devagar no local, quase não contendo o corpo em pé mexeu nas madeiras e lajes suja. Devagar olhou para o teto, percebendo que deveria ter uma escada central no local, mas que foi levada. Em seus momentos de sonos atuais quase não conseguia assimilar muito bem as informações. Apenas que vasculharam aquele local antes.
Ezkiel se levantou novamente e chamou o contador de seu retorno.
《 Retorno disponível em 2 minutos 》
“Falta pouco! Logo vou poder descansar...”
Ele andou mais um pouco pela casa. Ouviu barulhos pequenos sobre o teto em sua cabeça. Deveria ser os malditos animais que fizeram toca naquele local. Olhou novamente contra o teto, vendo apenas pequenos tremores, pequenos demais para ser uma criatura grande. De relance passou os olhos pelo buraco em que deveria ter a escada roubada, mas nada viu ali, os animais deveriam ter notado a sua presença e se esconderam.
Ele se aproximou um pouco mais do fogão e percebeu vários pedaços de madeira velha e seca ao redor do local, próximos ao ninho. O ninho do animal se aproximava como de um passarinho, porém feito de lixo antigo e o outros materiais secos.
“Isso é um ótimo isca de fogo, como meu pai gosta de chamar!”
Lembrou do seu velho pai e as vezes o forçava a fazer acampamento perto da pequena cabana que seu falecido avô. Não se fazia isso desde pequeno. Não gostava muito de ir para o meio do mato, preferia ficar praticando algum esporte com os amigos da escola. Agora, isso seria útil.
Deu um leve toque na parte metálica do cano do fogão. Um barulho oco soou pelo ambiente, parecia que o cano estava vazio.
“Achei que ratos gostariam de fazer ninhos em canos como esses.”
Pensou, mas logo ignorou o assunto. Não era problema seu. Logo estaria fora desse sonho. Apenas precisava matar um pouco mais de tempo.
《 Retorno disponível em 1 minuto》
Ezkiel andou devagar até o último ponto da casa. O pequeno camarim de cortinas sujas. Ao adentrar viu a cama suja, totalmente quebra, com a penas colchão de palha sujo ao solo. Ao lado estava a penteadeira, um dos melhores moveis da casa. As gavetas escancaradas e arranhadas por animais menores. Na frente havia um vidro sujo na qual não fazia reflexo. Com as mãos pretas de sujeiras, ele passou a mãos sobre o colchão para limpá-las depois as esfregou sobre o vidro, fazendo o reflexo retornar a aparecer.
Em um espasmo, quase deu um grito de horror ao seu reflexo no espelho. O que viu parecia mais um monstro do que uma pessoa. Um ser cadavérico, pálido, magro o suficiente para mostrar apenas os ossos e sua pele. Era baixo, com um 1,68 de altura, com quase nem um pelo no corpo, apenas as sobrancelhas levemente escuras.
Os olhos eram escuros, como carvão recém minerado. A corrente que amarrava em seu pescoço deixava um grande hematoma roxo, avermelhado, a única coisa que dava cor a sua pele.
Porém o que mais impressionava Ezkiel, era a falta de cabelo. Ele não era completamente careca, mas os fios eram tão pequenos e ralos que caiam como areia ao simples toque. Seu corpo estava suportando estar vivo gastando o menor nível de energia possível. Ele não havia nem mesmo força para que as unhas crescessem ou os cabelos se fortalecerem.
Após tudo que ele havia passado com esse corpo. A queda sobre a escada, a ferida no ombro direito. A dor mental e física. Não conseguia entender como aquilo ainda poderia se mover, mas estava lá em pé. Persistindo, com a maior dedicação que podia.
"Eu não quero morrer!"
Parecia que nem era Ezkiel que pensava nisso, mas o próprio corpo implorando para ele continuar tentando.
Um orgulho passou sobre a mente do garoto, com uma vontade imensa de chorar sem saber o motivo. Compaixão. Pena. Dedicação. Os sentimentos vinham juntos e pareciam se unir com sua mentalidade. Ezkiel também não queria morrer e estava feliz por ter conseguido chegar até ali.
《 Retorno está disponível 》
Nesse momento, um sentimento estranho veio a sua mente. Uma vontade pequena de não abandonar aquele sofredor. Aquele outro corpo que estava tentando até agora sobreviver.
Antes que pudesse pensar melhor sobre o sentimento. Um barulho de queda percorreu pela casa. O chão se tremeu e um vulto se aproximou correndo na direção de Ezkiel.
— Quem você pensa que é para tocar nas minhas coisas! Você irá...
“Foda-se! Retornar!”
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