Sonhar Brasileira

Autor(a): Caetano F.


Volume 1

Capítulo 11: Teia

— Eu estou melhor, mãe. Não se preocupe. Já posso ir para a aula.

Deitado no sofá, Ezkiel encarou o rosto da mãe, que teclava no celular. Seu pai estava à direita, sentado na cadeira, analisando-o com seus olhos pequenos.

— Vamos levá-lo no médico? — O homem corpulento mexia na barba lentamente enquanto refletia sobre a própria pergunta. Seu filho nunca adoecia; e era raro Ezkiel ter qualquer tipo de desconforto.

— Você está melhor mesmo, filho? Se ainda estiver sentido algo, vamos chamar a ambulância agora!

Sua mãe parecia calma, mas suas mãos tremiam enquanto digitava no telefone. Os olhos espreitavam por trás do aparelho, observando cada movimento do filho.

Ezkiel se levantou. A tontura havia saído de seu corpo, junto com a aba do filtro de sonhos.

— Sim. Minha pressão deve ter caído. Ou algo assim.

Ele se esforçou ao máximo para manter a fala calma e pausada, exibindo uma confiança que não tinha. Estava apavorado.

— Bom... Se é assim, vou apenas marcar uma consulta com o médico.

Margareth fitou Daniel por alguns segundos, confirmando sua ação como a matriarca da casa. Como um bom marido que era, ele apenas assentiu, mas sua expressão traía uma nítida apreensão. O homem se levantou, colocou a mão direita no ombro do filho e caminhou em direção ao carro.

Ezkiel encarou a mãe mais uma vez. Ela já estava marcando a consulta.

“Ela sempre foi assim.”

Retomando o raciocínio lógico, o garoto sentiu a ansiedade retornar ao se lembrar de um ponto importante e frágil de sua vida: Maeve.

Ao correr para o lado de fora, viu seu pai colocando a mão no ombro da garota chorosa. O rosto dela estava vermelho e inchado, os cabelos desgrenhados se misturando às lágrimas que escorriam por suas bochechas. Os olhos grandes e marejados fitavam o chão.

— Oi, Maeve. — Ezkiel tentou soar o mais tranquilo possível, pois sabia que a namorada estava desesperada.

A garota encarou o namorado. Seus olhos brilharam e ela correu em sua direção, agarrando-o como se sua vida dependesse disso. Tentava falar, mas as palavras saíam em soluços desesperados. Balbuciava enquanto chorava, agarrando-se ao namorado como se ele fosse um bote salva-vidas.

Ezkiel retribuiu o abraço, ainda abalado pelo sonho aterrorizante e pela visão da aba do filtro de sonhos. O pior de tudo era ter que guardar essa loucura para si. Seus pais não o entenderiam; provavelmente o internariam em algum hospício “para o seu próprio bem”. Sua namorada, por outro lado, não suportaria a verdade; muito menos a verdade de que foi ela quem lhe entregou o catalisador de seu atual sofrimento.

Ele respirou fundo, lentamente, apegando-se a esperança de que as coisas se acalmariam. Talvez a loucura do filtro de sonhos passasse se ele apenas ignorasse sua existência. Porém, era difícil não pensar quando todo o evento traumatizante o seguia, e a dor em seu corpo era um alerta constante de sua presença, espreitando entre os passos do seu dia como a sombra da noite que viria.

...

Assim se passou o início da aula. Ele havia chegado atrasado e não tinha cabeça para prestar atenção em nada. Maeve estava em outra turma; o pai dela havia escolhido suas aulas, mesmo a distância. Agora, naquela turma lotada em que conhecia algumas pessoas, Ezkiel estava finalmente sozinho, podendo refletir sobre os acontecimentos.

“Tudo que aconteceu... todo aquele sonho bizarro pode ser real. Se isso for verdade, eu vou voltar para aquele lugar.”

Um arrepio percorreu seu corpo, como uma confirmação gélida em sua mente.

“Não pode ser verdade. Como isso é possível? Um filtro de sonhos...”

Seu rosto congelou de pavor ao se lembrar da última coisa que fez para abrir a aba. Bastava pensar em um dos objetos sugeridos para que ela surgisse.

 

Nome: Ezkiel Arcs

Raça: Coletor de Sonhos

Corpo: Humano

Classe: –

Fios de sonho: 0/1000

Estágio: Sem alma

Grau: –

Talentos:『Torturado』『Falha do Importuno』

Habilidades:『Coletar Sonhos』『Analisar de Sonhador』

Sonhos Coletados: 『Anátema do Prisioneiro』

Algumas informações não estão visíveis ao usuário.

 

Seus olhos se fixaram na interface flutuando à sua frente. A ansiedade voltou como um turbilhão, mas Ezkiel se controlou o máximo que pode. Sabia que, no fundo, precisava aceitar essa nova realidade.

“Talvez eu esteja mesmo louco. Mas, se eu não estiver, preciso entender isso. Sinto que não vai acabar aqui... não posso mais negar.”

O arrepio veio novamente, subindo pela espinha de dentro para fora. Uma confirmação confusa que começava a se tornar um padrão.

“Esses arrepios... o filtro do sonho surgindo só de pensar neles. Estou interligado a esse sistema de uma forma que não sei explicar.”

Ezkiel finalmente entendeu as mensagens de integração que ouviu ao adormecer na noite passada.

“Isso é ser um Coletor de Sonhos?”

Dessa vez, não houve resposta. Nenhum arrepio. Apenas o vazio que acompanhava o silencio dessa nova existência.

— Fala ae, Kiel! Chegou atrasado hoje? Tá pros caralhos mesmo!

A voz o arrancou de seus pensamentos. Um garoto alto, negro, de cabelos escuros e curtos no estilo militar, sorriu para ele. A jaqueta da atlética da escola era a definição de Jason.

Desnorteado, Ezkiel piscou, vendo o garoto através da transparência da aba.

— Ah... Jason. Passei meio mal essa manhã.

Sem saber o que fazer, Ezkiel gesticulou com a mão na frente do rosto, como se espantasse um mosquito. Obedecendo à sua ordem, a aba se fechou.

— Que cara é essa? As aulas só estão começando! Sabe né? As quadras vão se abrir. As novas alunas vão se interessar pelos jogos. Nos vamos estar em campo... Ah você entendeu! — Jason fazia os cálculos com os dedos, demonstrando seu raciocínio elevado quando o assunto era atenção feminina.

— Cara, você sabe que eu namoro, né?

“As quadras seriam legais, se meu corpo não doesse tanto. Tenho coisa demais para pensar.”

Ele tocou de leve o ombro direito e uma pontada de dor, como um choque, espalhou-se pelos ossos, queimando-o por dentro. Ele segurou a dor com uma leve careta, enquanto ouvia a risada sacana de Jason, com sua cara de pateta costumeira.

— Vai que terminou! — ele deu de ombros, o sorriso brilhante escancarando malícia. Bateu de leve na mesa, gesticulando para Ezkiel segui-lo.

Mesmo que não gostasse de algumas atitudes de Jason, ele era um bom amigo. Ezkiel o acompanhou para o outro lado da sala. Pelo menos a companhia do rapaz o distrairia do filtro e seus sonhos.

— Jason, essas aulas estão insuportáveis! Você anotou né? — uma menina de cabelos loiros se aproximou. Rebecca, amiga de ambos desde o início da escola e tutora júnior das aulas de dança. Ela era mais amiga de Jason do que de Ezkiel, mas os dois se conheciam a tanto tempo que aprendeu a aceitar seu jeito.

— Te mando a foto a assim que chegar em casa. Os cálculos estão meio bagunçados, mas a resposta está toda correta. O professor corrigiu. — Jason se inclinou sobre o caderno vazio dela. Mesmo que não parecesse, era um ótimo aluno, melhor do que Ezkiel, na verdade.

— Toma jeito, garota! Você vai ficar até quando pegando cola dos outros? — Ezkiel a provocou.

Ela estava mexendo nos cabelos longos e levemente cacheados, revirando os olhos com um sorriso torto.

— Claro Kiel, como se você estudasse! Que cara de morto é essa? Noite de sono ruim com sua namorada? — ela bateu com o cotovelo no braço de Jason, que gargalhava alto. Os dois adoravam perturbar Ezkiel sobre sua vida amorosa.

— Eu ainda não entendo como você namora aquela garota. Nada contra, Kiel, mas ela não tem nada a ver com você. — Rebecca opinava como se o assunto fosse dela, um direito que se dava por ser uma amiga de longa data.

— Nem tenta, Rebecca! Já falei com ele. Kiel gamou na garota e não larga mais!

— De novo esse assunto? Já falei com vocês. Apenas precisam conhecer ela melhor! Vão ver quão incrível ela é!

— Você fala como se não tivéssemos tentado antes. — Jason o encarou, agora sério. — Kiel, você tá dois anos com essa garota e ela nunca falou com a gente.

— No máximo um “oi” e “tchau”. E olhe lá! Ela nem tenta ser amiga dos seus amigos. — Rebecca parecia indignada, e Ezkiel entendia o motivo. Ela tentara muito se tornar amiga de Maeve no início, mas a namorada sempre foi fechada.

Ezkiel deu um sorriso sem graça, passando a mão pelo cabelo.

— Ela é muito tímida! Não conversa com ninguém direito! Não é culpa de vocês, é só o jeito dela.

Os amigos se entreolharam e reviraram os olhos em sincronia. Rebecca abriu a boca para falar, mas Jason a cortou.

— Isso só confirma o nosso ponto. Você é o cara mais sociável que já conhecemos. Você quem fez a gente virar amigos. Todo mundo da escola te conhece e quem não conhece já ouviu falar do seu nome. O que vocês têm em comum, cara?

Ezkiel abriu a boca, mas a fechou. Sabia que não ia convencê-los. Além de que, esse foi um assunto importante para ele por um tempo. Sempre gostou de Maeve, adorava ficar ao lado dela e ouvir todas as milhares de histórias que conhecia sobre os jogos e desenhos. Mas sentia que, a cada dia, se afastava mais dos outros. Não por mal, mas porque Maeve não tinha mais ninguém, e estar com ela demandava muito tempo. E ele amava isso.

— Esquece... Vou procurar a minha namorada.

Ele passou entre os dois e seguiu para o corredor da escola. Grupos de alunos dos times de esportes acenaram ou o cumprimentaram; desde basquete a futebol americana. Afinal, ele jogava pelo menos uma vez por mês.

As garotas, por sua vez, encaravam Ezkiel de outra forma. A maioria teve interesse nele em algum momento e outras foram um caso em algumas festas aos 15 anos. Entretanto isso tudo era passado.

Ao entrar na sala de programação, uma das aulas que Maeve fazia, percebeu que estava vazia. O que lhe assustou. Ela deveria estar ali, com fone de ouvido, vendo algum vídeo estranho. Seu coração disparou.

“Será que o ocorrido de mais cedo deixou ela tão preocupada que passou mal? Ela pode estar na enfermaria. Ou desistiu da aula e foi para casa? Não... Não tem ninguém na casa dela essa hora. Talvez ela tenha ido procurar o Jonathan.”

Ezkiel acelerou o passo, mas seu corpo protestou. A dor se transformou em pequenos espasmos elétrico que pioravam com o esforço. Mesmo assim, pensar que Maeve sozinha, chorando por causa dele, lhe dava forças para continuar. Força, mas não resistência. Logo começou a mancar, rangendo os dentes de dor.

Ele estava a caminho dos banheiros das quadras, os mais distantes do centro de aulas, o esconderijo de Jonathan e seu grupo para fumar cigarros escondido, quando ouviu uma risada familiar vindo da cantina.

Confuso, ele se virou e viu a cena mais peculiar desde que conhecera Maeve. Ela estava perto da máquina de vendas, rindo alto com um garoto alto, de cabelos castanho-claros, quase loiros, e uniforme impecável. Mostrava um vídeo aleatório no celular, e o menino parecia interessado, inclinando-se para ver melhor

— Maeve?

A voz de Ezkiel fez os dois se virarem, surpresos.

— Kiel! — Maeve gritou e correu para abraçá-lo com toda a força que tinha.

O coração do rapaz se acalmou, mas o abraço dela fez todo seu corpo dolorido gritar. Um gosto amargo subiu por sua garganta, um sentimento estranho que ele não conseguiu identificar.

— Ah! Esse é o Carter, ele é novo na cidade. Começou as aulas junto comigo. — ela apontou para o menino, que parecia um pouco deslocado. Sua aparência esguia e firme tinha um ar de classe que causava uma leve estranheza. Mas o que mais chamava atenção era jeito único de como seus olhos se moviam, julgando Ezkiel por completo. — Eu finalmente fiz um amigo. — ela falou sussurrou, com uma alegria genuína na voz.

— Prazer em conhecê-lo, Kiel! A Maeve falou muito de você. — A voz de Carter era estranhamente formal, cordial, estranha, mas carregava um ar de competitividade. Ele estendeu a mão.

Ainda atordoado, e agora levemente irritado, Ezkiel apertou a mão do rapaz.

— O prazer é meu, Carter! Que bom que conheceu a minha namorada. — ele forçou um sorriso, que vacilou ao sentir a força no aperto de mão do outro. Carter era mais forte do que aparentava, provavelmente praticava algum esporte.

— Kiel! Eu estava mostrando para o Carter aquele vídeo que vimos anteontem, sobre os manequins que ficam no 10° andar. Lembra? Daquele jogo que eu te mostrei... — Maeve parecia radiante com sua conquista, enquanto Ezkiel apenas encarava o rapaz, que sorria para ele com seus dentes brancos.

O garoto arrumou novamente o uniforme, dobrando as mangas com cautela.

— Lembro. — Ezkiel respondeu, a mente perdida na situação.

— Você está melhor? Eu esqueci de te perguntar. Foi tudo bem na aula? Deve estar com fome! Vamos comer! Vamos! — Maeve correu em direção a mesa sem esperar a resposta.

Carter continuou parado, esperando Ezkiel tomar a frente.

— Eu não estou com fome. Quer que eu pegue alguma coisa para você? — Ezkiel puxou a cadeira e se sentou de frente para a namorada, observando cada movimento do novo amigo dela. Carter pegou uma bandeja e começou a escolher sua comida, analisando cada item com cuidado metódico. A mão se movia, observando cada um deles enquanto sorria para a merendeira com educação.

— Ele é legal, não é? — Maeve sorriu, colocando a mão sobre a dele e apertando com força. Seus os olhos grandes brilharam, como os de um gato pidão.

— Parece simpático. — Ezkiel encarou novamente o garoto alto. — Como você conheceu ele?

“A pergunta correta seria: como ele chegou em você?”

— Eu estava meio chorosa pelo que aconteceu de manhã e ele veio falar comigo. Aí eu contei você acordou assustado por causa do filtro de sonhos e depois desmaiou do nada. — ela cravou as unhas de leve na palma da mão dele, beliscando com carinho. — Aí nós tivemos a ideia de procurar no site. Ele me ajudou a achar no meu e-mail. Você sabe como meu e-mail é uma bagunça por causa dos spams de jogos.

“Merda! O site! Porra... Como eu não pensei nisso? Era tanta coisa na minha cabeça que não pensei no obvio. Aonde Maeve comprou esse maldito filtro?”

A questão com Carter foi completamente esquecida. Agora, o foco era outro. Com certeza era mais importante do que sua namorada estar com um novo amigo.

— E o que você achou? Qual é o site? — ele segurou a mão dela com urgência, quase a derrubando sobre a mesa.

Maeve deu um pequeno pulo, assustada, e mostrou o telefone.

— Desculpa, Kiel, mas quando fomos ver, a loja já estava fora do ar.

A garota virou a tela do telefone. A tela mostrava o e-mail de mensagem com o comprovante de compra. Era uma mensagem simples, confirmando o pagamento e link de rastreio. Nenhuma informação de contato e o próprio remetente era uma série de número e caracteres sem sentido, provavelmente um bot pago.

A única imagem no e-mail era um triangulo vermelho-rubi sobre um fundo preto. Um símbolo tão comum que poderia ser visto em qualquer lugar. Era simplório demais para chamar a atenção. Maeve clicou no link. A página carregou por um instante e depois ficou escura, mostrando apenas o triangulo vermelho no centro e a mensagem: “Não é possível acessar esse site.”

— Merda! — Ezkiel bateu na mesa. A mão ardeu, e a dor reverberou pelo ombro até a coluna. Maeve se encolheu, e pequenas lagrimas brotaram em seus olhos grandes.

Todos no refeitório olharam, mas logo voltaram às suas conversas. Carter, que acabara de se sentar ao lado de Ezkiel, foi o único que continuou prestando atenção. Com uma calma que contrastava com a tensão, ele apontou para o celular.

— Olhe a URL. Tem um nome escrito nele. Podemos procurar outros sites e notícias com esse nome. — ele deu uma risadinha, espetando a batata cozida. — Mesmo que eu não saiba o por que se importar tanto com um filtro de sonhos. Você acha mesmo que sonhou por causa disso?

Ezkiel ignorou o garoto por completo. Seu foco estava no nome na URL.

— Tributos da Teia

A palavra repercutiu em sua mente enquanto observava o triangulo avermelhado na frente de seus olhos. Aos poucos começou a notar outros desenhos dentro da escuridão do site. Uma série de símbolos, similares ao que viu na porta em seu sonho, rodeavam o triangulo. Eles começarem a se mover, formando milhares de caminhos menores que pulsavam como seres vivos, tecendo uma teia gigante. Sua cabeça começou a latejar. Os sigilos eram tão complexos que poderiam se mover até o infinito. O triangulo girou, desencadeando uma onda de movimentos pelos outros símbolos, como o destrancar de uma fechadura.

Ezkiel manteve o foco, tentando entender. O triângulo vermelho girou tão rápido que se tornou um círculo, e os milhares de símbolos começarem a vazar da tela do celular, devorando o ambiente como vidro se quebrado.

Quando a teia de aranha vermelho-rubi estava a menos de um metro de seu rosto, Maeve gritou e o agarrou com toda a força.

Carter estava ao lado dele, com uma expressão de preocupada, mas segurava seu próprio celular com uma naturalidade assustadora. Ezkiel não ouvia mais nada. Não conseguia pensar. Apenas via os milhões de sigilos se gravando em suas pupilas, sentindo-se à beira de uma morte cerebral.

Antes de apagar por completo, teve uma última visão: Maeve, com as duas mãos banhadas em sangue. 

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