Volume 1

Capítulo 24: Desejo (versão antiga)

 

Voltando para Lucy, ela largava a cabeça do ghoul que decapitou e ficava ofegante, cansada quase ao ponto de desmaiar, mas ela se equilibrava e, com um pouco de dificuldade, ia até David.

Chegando até a cúpula de gelo, ela nem teve muita dificuldade em abri-la, a própria barreira se desfaz pois David não estava aguentando mantê-la. A ruiva se aproximava dele o via deitado, ainda se movendo um pouco, e quando o levantava nos braços, o rapaz parecia bêbado de tão molenga. Inclusive, ele chegava a passar a mão na face de Lucy, que estava toda grudenta de sangue, com um sorrisinho no rosto.

— Meu beeem... Porra, você tá muito linda. Vem cá... – ele tentava aproximar o rosto de Lucy, mas não conseguia. A ruiva apenas ria da situação enquanto seus sentidos voltavam ao normal.

— Ok, ok, entendi, você tá bem. – Lucy dizia enquanto tentava procurar seu laço de cabelo.

— É a mesma pergunta que eu faço. – Mike enfim conseguia contactar a ruiva.

— Hum? Ah, caramba, verdade, oi Mike. – ela respondia, mas parecia que David não consegue fazer a mesma coisa.

— Tá, primeiramente, porque vocês dois não respondiam? – Mike perguntava, um pouco indignado.

— Eu honestamente não sei quanto a mim, mas o David talvez porque ele... Tá com sono, é. – Lucy tentava justificar, enquanto seu namorado continuava molenga.

— Sono? Mas... Vocês dormiram, eu vi. – Mike ficava com uma expressão confusa.

— É, bem, então... – antes de Lucy falar algo novamente, ela foi interrompida pelo comunicador em seu ouvido chamando, e era a voz de Mary.

— E como foi o resultado desse lado, Lucy? – Mary perguntava, esta que ficava ajoelhada ao lado de Ethan, com a mão no ombro dele. O garoto por sua vez continuava sentado, abraçando as próprias pernas e limpando o choro de vez em quando.

— Ah, claro, hum... Eu acho que acabei com todos aqui. – a ruiva respondia enquanto olhava em volta, e via alguns pedaços de carne caindo de uma construção próxima.

— Também conseguimos aqui desse lado. – Mary respondeu.

— Uh... Eu não diria exatamente isso. – Mike dava uma resposta que deixava todos em choque, menos David por estar sonolento.

— Você tá brincando, me diz que tá, Mike. – Lucy dizia com um olhar de indignada no rosto.

— Olha, eu queria, mas não estou. Dois escaparam e parece que estão indo para o prédio que vocês derrubaram, e também pra deixá-los cientes, tem cerca de uns cinco a sete ghouls naquele lugar. – Mike observava o mapa holográfico apreensivo. – Eu acho que vocês podem presumir o porquê, né?

— Eles vão avisar, agora não tem mais volta. – Mary dizia, levantando-se junto de Ethan.

— Que merda... Parece que não acaba. – Lucy dizia, furiosa.

— Eu acho que é melhor vocês correrem. – Mike dizia enquanto esvazia mais uma lata de energético.

— Lucy, nos encontramos lá. – a albina dava o comando.

— Entendido. – ela respondia, puxava sangue dos ghouls mortos no chão e saía correndo dali com David nos braços.

Mary e Ethan comiam algumas barras de cereal das mochilas e bebiam água rápido. Após isso, ambos acenavam positivamente e, antes de sair, Ethan olhava mais uma vez para Rebecca, morta no chão, não querendo pensar muito sobre o assunto, ele colocava seu capuz e junto de sua mestra, partiam para o confronto final.

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No prédio derrubado, lá estavam os cinco ghouls restantes, e todos eram machos, não havia uma fêmea sequer. Eles todos pareciam estar de guarda para proteger algo escondido naqueles escombros. Henri foi o primeiro quem chegou, ele parecia aflito e bem nervoso para responder quando dois deles foram o questionar.

— Mataram todos... Não sobrou ninguém. Aquela ruiva é uma máquina de matar, ela sempre voltava, não importava o que a gente fizesse. – Henri coçava a cabeça, quase em frenesi por conta do que viu.

— O que?! – os dois questionaram, um deles o segurava pelos ombros e começa a chacoalha—lo.

— Você tá brincando, né?! Mas e a outra equipe?!

— E eu sei lá, porra! – Henri o empurrava e colocava as mãos na cabeça, pensando em como eles estavam numa situação mais que horrível para o lado deles.

— É verdade. – uma voz era escutada e, quando os ghouls olharam, era Victor, com o olhar baixo. Assim que escutaram tais palavras, os três ali ficaram completamente pasmos. Eles começavam a analisar a situação e entendem um fator crucial.

— Victor, n-não sobrou nenhuma fêmea? – Henri o questionava.

— Não, por isso, tragam o pai. Não iremos transformar aquelas duas em parte da família, elas têm que morrer. —  Victor dizia, com um certo tom de raiva na voz.

— O que? Não não não, se é assim, então precisamos de mais fêmeas, elas são cruciais para podermos invadir a vila. Não inventa moda, Victor. – Henri dizia, eufórico, tentando impor-se para o garoto, que diferentemente do rapaz, não parecia desesperado, seu olhar nem sequer emanava esperança mais. Victor então agarrava a gola de Henri e seus braços ficavam com as veias destacadas.

— Escuta aqui. A Rebecca se jogou naquela albina desgraçada só para eu ter uma chance de vir aqui e reunir forças pra matar ela, então antes que eles cheguem, sai da minha frente, Henri, e me deixa libertar o Carniçal. – Victor dizia, com algumas lágrimas no rosto por lembrar do ato de Rebecca, mas ainda com a expressão enraivecida. Henri o empurrava e, ofegante do jeito que estava, ele abria caminho.

— Vá em frente então, se quer jogar sua vida fora, seu imbecil. – dito isso, Victor prosseguia para o meio do prédio derrubado, pois no meio dele havia um buraco enorme e alguns ghouls vigiando-o.

Henri esperava que os que estavam de vigia, fossem impedir o garoto, então por isso nem se preocupou tanto, porém, quando reparou nos olhares de vários ali, viram que estavam com a mesma expressão de raiva de Victor. Ele via o garoto conversando com os vigias e acenando positivamente, em seguida, eles olhavam para Henri, e ficou claro a partir dali a decisão de todos.

— Que foi? Não olhem pra mim não, eu não tenho nada a ver com isso. – ele dizia, virando o olhar e ficando praticamente perdido, pois ele viu o que aqueles quatro eram capazes. Se libertassem o Pai, de duas uma, ou venceriam ou seria o fim dos ghouls. – Puta que pariu... Vocês tão de brincadeira comigo.

Victor olhava para dentro do buraco e ali estava alguém, um rapaz bem baixo e franzino, envolto de uma capa esfarrapada, da mesma forma eram suas roupas, calças rasgadas, camiseta em trapos, e nem calçado utilizava.

Ele tinha olheiras profundas, uma expressão de cansado, aparentava ter por volta dos 30 anos, seu olho esquerdo sempre brilhava na cor avermelhada, enquanto a direita na cor preta. O Pai estava deitado e encolhido, como se fizesse dias que não comia ou que não dormia, tanto que ele nem reagiu quando o garoto chegou ao seu lado.

— Pai, precisamos de sua ajuda. – Victor dizia enquanto o levanta gentilmente do chão. O Pai grunhia de dor e se colocava de pé, ele nem respondia Victor, apenas olhava para frente e saía do buraco se apoiando com o pouco de força que ele tinha.

— Sim... Claro... Ela quer mais um... Claro... É meu dever... Sempre... – ele dizia enquanto estendia seus braços para frente e tentava andar em linha reta, porém ele é segurado pelos dois ghouls de vigia ali.

— Seus idiotas! Vão matar todos nós! – Henri tentava contra-argumentar.

— E o que você fez até agora?! Nada de útil! – Victor gritava com o canibal e ficava na frente do pai caso Henri tentasse fazer algo.

— Crianças... Então querem mais irmãos... Ela quer mais... né? – o Pai enfim levantava a cabeça e mostra seus olhos um de cada cor. Sua voz estava bem fraca e mal conseguia responder a um comando. Se fosse possível ver por seus olhos, ele estaria vendo a figura de uma mulher, de vestido branco e cabelos negros e compridos, estendendo a mão para ele com um sorriso.

Ao longe já era possível ver uma mulher ruiva se aproximando com alguém nas costas, e logo ao lado dela, uma moça albina de cabelo preso junto de um menino loiro e de capuz. Henri olhava isso e percebia que, a partir dali, não tinha mais jeito, ia ser um massacre ainda pior.

— AHHHH, que merda! Ativem logo ele! – Henri se rendia e jogava as mãos para o ar, já ativando suas garras.

Os ghouls nos terraços começavam a arremessar pedaços de concreto no grupo de Cicatrizes, forçando-os a recuar um pouco. Isso deu brecha para Victor falar o que queria.

— Olhem bem, seus vermes! – ele apontava para o Pai. – Não existe espaço para vocês aqui, tudo o que fizeram vai ser pago com o sangue de vocês!

— Cala boca! Acha que tem direito, moleque?! – Lucy gritava para ele de volta.

— Ansiaram tanto por isso?! Então que assim seja! Sintam o que é dor de verdade! – Victor gritava essa frase, e logo após isso, os ghouls que estavam segurando o Pai, simplesmente enfiavam suas garras com tudo nas costelas dele.

Ele começava a vomitar sangue e quase cair, além de ficar tremendo por alguns instantes. Enquanto isso, o arremesso de concreto continuava, para impedir o grupo de se aproximar.

— Não... Parem... Eu não posso... Ela quer mais... – o Pai dizia com a voz afogada em sangue. Algo começava a acontecer conforme ele ia falando. Sua pele vaia ficando mais avermelhada e pulsante, dando a impressão também de estar ficando maior. – É só o desejo dela... Eu tenho que cumprir... Ela... Ela... – a visão do rapaz, que até então era só de uma bela moça estendendo a mão, agora dava espaço para essa mesma mulher, porém estirada no chão, com a roupa branca como a neve, manchada de sangue, com o ombro arrancado no que parecia uma mordida, e o sorriso, não estava mais lá. Junto disso, o Pai olhava para as próprias mãos e via elas encharcadas com o líquido vermelho. – Não foi culpa minha... Né? Não foi culpa minha... Não foi culpa minha... NÃO FOI CULPA MINHA!!

Conforme ele gritava e ficava mais nervoso, seu tamanho começava a aumentar com os pulsares em sua pele, junto de seu tamanho, seus músculos iam aumentando também, chegando a ficar com três metros, todos os dentes dele começavam a ficar afiados, sua voz se tornava mais grossa e alta, seu cabelo bagunçado ficava cada vez mais branco por causa do tanto de estresse que estava passando.

Aquela aparência decaída e frágil ia dando espaço para uma criatura enorme e incontrolável, e ele resumia isso em um grito aterrador e feroz, para dizer que aquele era o Carniçal.

Todos ouviam esse rugido. O grupo de Cicatrizes ficava totalmente desnorteado, era igual os gritos das fêmeas, porém com um tom extremamente grave.

Já os canibais que escutaram, pareciam estar sob uma espécie de transe, todos os ghouls machos ficavam com expressões enfurecidas, as veias em todo o corpo se destacavam como nunca antes conseguiram, e nisso eles todos também soltavam rugidos bestiais, mesmo que não fossem gritos sônicos como as fêmeas.

Assim que se recuperaram do grito do Carniçal, o grupo reparou na situação e viam a imensidão do poder dos ghouls. Lucy então deixava David encostado no chão.

— Ethan, cuida dele! – ela dizia enquanto arranhava seu braço para fazer uma bala de sangue.

— Sim, senhora! – ele ficava fica na frente do rapaz com as pistolas em mãos. Mary só se posiciona com a katana e até começava a suar.

E após isso, o Pai, o Carniçal, descontroladamente se soltava das garras de seus filhos, e partia furiosamente, junto de todos os ghouls para cima dos singulares.

 

 



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