Volume 1

Capítulo 22: Mary e Ethan (3) (versão antiga)

 

Enquanto isso, do outro lado, Mary e Ethan estavam correndo pelos corredores daquele prédio. Ambos sentiam ele tremendo devido aos destroços sendo arremessado pelos ghouls de fora. Junto disso, eles ouviam passos apressados e rugidos vindo de várias direções daqueles corredores destruídos. Ao mesmo tempo, Mike contactava os dois mentalmente.

— Mary, Ethan, está tudo bem com vocês? O David parece que está com problemas... – ele dizia enquanto mordia a unha de seu polegar por causa do nervosismo.

— Conseguimos nos virar, é melhor você se concentrar em Lucy e David, Mike. – Mary respondia enquanto virava à direita e subia as escadas, pois nas janelas os ghouls estavam se aproximando.

— Eu não estou conseguindo falar com eles mais, ainda estão vivos, mas não me respondem. – Mike dizia enquanto tentava distribuir sua atenção não somente aos quatro, mas também outro mapa holográfico, outra missão envolvendo outros membros dos Cicatrizes. – Alex, tá bem na sua frente.

— Assim que puder, entre em contato com Lucy e David. – Mary respondia enquanto ela e Ethan corriam pelos corredores do prédio que estavam ficando mais e mais escuros devido à falta de frestas para passar luz do sol. Em compensação, eles ouviam vários passos e grunhidos selvagens vindo principalmente por trás e dos lados. 

No caminho, os dois tiveram que várias vezes saltar e desviar de destroços caindo e buracos se abrindo, por conta de o prédio estar sendo bombardeado pelo lado de fora.

Eles chegavam ao terraço e já imaginavam que o caminho estaria cheio de ghouls, mas não esperavam que os canibais fariam uma estratégia como aquela: haviam várias fêmeas no terraço do outro prédio, preparando seus gritos, enquanto que os machos estavam nas construções próximas, jogando destroços na base do prédio em que os dois singulares estavam para ele cair, e também se preparando para jogar mais na dupla.

Os dois grupos realizavam seu plano, gritos ensurdecedores e pedaços enormes de concreto eram arremessados contra os dois. Junto disso, Mary e Ethan sentiam o prédio prestes a desmoronar.

Mike então comunicava a albina, que neste momento estava cobrindo seus ouvidos e gemendo de dor:

— Mary, sua direita tá vazia!

Ela olhava para a direção dita, agarrava Ethan pelo braço e, antes de um destroço os atingir, corre na direção da beirada do terraço.

O garoto notava que estavam para saltar e também utilizava o poder em seus coturnos e, assim que os dois saltavam, notavam que era uma queda considerável, porém o destino deles estava mais a frente, o terraço de um estabelecimento.

Enquanto destroços eram arremessados contra a dupla, Mary aterrissava no local desejado arrastava pelo chão até parar.

Ela então escutou gritos vindo de trás, e quando olhou, conseguiu ver Ethan descontrolado no ar, pronto para se espatifar no terraço, ainda não tinha treinado aquele tipo de queda.

Mary então corria e abria os braços, segurando o menino, porém o impacto fez com que ambos caíssem para trás. A albina sentia uma dor em seu peito, mas ignorava para levantar-se e deixar Ethan de pé.

Ambos após isso, viam o prédio de onde saltaram sucumbindo e levantando uma nuvem de poeira enorme. Eles observavam por alguns instantes a construção caindo e já se preparam para prosseguir sua correria.

— Mary, sua esquerda! – Ethan gritava e os dois olhavam para tal direção.

Mary sacava sua katana e cortava rapidamente um ghoul que estava para investir contra a albina. O problema foi que, Ethan também estava prestando atenção naquele canibal, e não notou o objetivo daquele ataque.

Quando menos percebeu, o menino sentiu suas costas serem perfuradas e rasgadas em diagonal, por quatro garras afiadas. A única coisa que ele conseguia fazer naquela hora era gritar de dor e sentir seu sangue sendo espirrado no rosto de Rebecca, que tinha um sorriso enorme estampado em seu rosto.

Enquanto Ethan caía no chão agonizando, Mary rapidamente se vira, enfurecida e realizando um corte horizontal, tentando decapita-la, porém, dessa vez não teve sucesso, pois a garota inclinou seu corpo para trás de maneira brusca, desviando pela primeira vez de um golpe da albina.

Junto disso, do outro lado, Victor aparecia pronto para socar Mary no rosto.

A albina fazia um movimento rápido de trocar a katana de posição e coloca a lâmina na frente, fazendo-o golpear diretamente a parte afiada.

O braço dele ia sendo partido ao meio na horizontal, enquanto isso, ele já preparava outro com a mão livre, mais um golpe, que dessa vez, Mary teve de segurar com tudo para conter.

Estava complicado até para ela, pois não conseguia quebrar a mão do canibal, e aquele sorriso estampado nele não estava ajudando em sua concentração.

Rebecca desinclinava seu corpo enquanto seus ossos voltavam ao lugar e ela lambia não só o sangue em seus dedos, mas como também o que estava perto de sua boca.

Ela sentia aquele liquido vermelho percorrendo sua garganta e parecia não apenas ter um sabor bom, como também renovava suas energias, como se fosse uma espécie de estimulante.

Ela se aproximava de Ethan, que estava tropeçando e cambaleando para andar, além de ser possível notar que ele não parava de chorar e de gemer de dor.

— Vem cá, rapazinho. – dizia ela, com um tom sádico em sua voz. Mary notava isso e, antes de Rebecca agir, ela chutava Victor para trás e se impulsionava para o lado, tentando dar um soco na ghoul.

Porém, ela se mostrou já mais perspicaz que antes, desviando o rosto para o lado e já emendando uma investida com sua garra também no rosto de Mary.

A albina conseguiu desviar no último momento, e a garra passava de raspão em sua bochecha, saindo um pouco de sangue.

Rebecca saltava e tentava um chute no rosto dela, Mary bloqueava com seu braço direito e, após isso, a garota usava o próprio membro da albina como base para saltar, girar rapidamente e dar um chute de cima para baixo na moça, e mesmo com Mary defendendo novamente, dessa vez ela sente um pouco de dor no braço.

Aquela canibal estava ficando mais forte e aprendendo como lutar, ela podia sentir.

A situação só não piorou pois Ethan, aproveitou para disparar em Rebecca com suas pistolas, acertando os braços e desorientando-a tempo suficiente para Mary dar um golpe com seu braço e afasta-la.

Ela parava ao lado de Victor, que estava regenerando suas costelas. Vendo essa brecha, Mary pegava Ethan nos braços e jogava uma bomba de fumaça no chão, ofuscando a vista dos dois canibais.

Victor e Rebecca não perdiam tempo e iam para cima, tentando alcança-los antes de fugirem, porém ao adentrarem na fumaça, os dois já tinham sumido.

Mary corria com Ethan nas costas e descia de um sobrado arrastando seus pés na parede, até que ela adentrava pela janela, em uma espécie de depósito abandonado, e se escondia atrás das várias estantes e caixas reviradas no chão. Finalmente fora da vista deles, ela deixava Ethan sentado, que ainda lacrimejava pela dor nas costas.

— Ethan, me mostra suas costas. – Mary dizia enquanto pegava de seu bolso, ataduras.

O menino gemia de dor, mas conseguia tirar sua jaqueta, que se manchava mais ainda de sangue, o mesmo acontecia com sua camiseta, somente a sensação do tecido passando por suas costas estava o fazendo pressionar os dentes e lacrimejar para não gritar de dor.

Após retirado, Mary começava a limpar em volta do ferimento, que apesar de não ser profundo, parecia precisar de alguns pontos. Ela agradece por aquele local ter paredes corta-fogo, então o cheiro de sangue ficaria mais complicado de se espalhar.

A albina então, para não deixar o ferimento infeccionar, fez algo um pouco doloroso. De começo ela dava a própria camiseta de Ethan e falava para ele morder, o menino ficava um pouco assustado, pois já tinha passado por uma situação parecida antes, e lembra de ter sido horrível.

Mesmo assim ele fazia como dito e se preparava, Mary sacava da mochila uma garrafa de álcool e pouco a pouco passava o líquido em volta das feridas de Ethan. A ardência que aquilo causava fazia o menino gritar um pouco de dor, não estava conseguindo conter toda aquela situação, a sorte era de seu grito estar sendo abafado pela camiseta. Ainda assim, mesmo gritando, ele lacrimejava, tremia durante aqueles meros segundos que pareciam horas.

Quando terminado, Ethan largava a camiseta no chão, ofegante e tremendo ainda, e não melhorava quando Mary dizia para o garoto ficar com a coluna reta, pois iria colocar as ataduras. O menino levanta os braços e sua mestra começava a enrolar as faixas em torno do tronco dele, até cobrir o suficiente os ferimentos dele. Após isso, enquanto Mary guardava os itens, Ethan se encolhia e começava a dizer:

— Mary. E-eu acho que... Eu não tô pronto pra isso. V-você tava certa... – ele dizia com a cabeça baixa. A albina olhava para ele enquanto colocava álcool e pedaços de ataduras dentro de uma garrafa de vidro que achou no chão. Ela pensava por alguns instantes na resposta e se colocava agachada na frente do menino.

— Ethan, olha pra mim. – Mary levantava o queixo do menino gentilmente. – Eu sei disso. Mas como eu disse, essa foi uma escolha sua, eu vou te guiar se quiser percorrer este caminho também, mas nem todas as decisões sou eu quem toma. – ela olhava em volta e já preparava mais um tiro de sua pistola.

— M-mas, então qual a decisão correta? – o menino tentava perguntar no desespero.

— A decisão que você acredita estar correta. – Mary acariciava o rosto de Ethan e dizia no tom calmo de sempre: – Posso te dar opções, mas a decisão será sua. Você pode ficar aqui, mais seguro, mais difícil dos ghouls te acharem, enquanto eu os derroto, e depois disso, vamos voltar pra vila, onde você vai ser um morador comum de lá, onde dores como esta que sofreu serão extremamente raras. Mas eu não posso te levar comigo daí. Agora, se sair daqui e me ajudar, vai ser um assassino, assim como eu.

A albina dava estas duas únicas opções para o menino, que ficava espantado com aquilo, eram dois caminhos extremamente distintos. Ele nem conseguia responder de imediato, ficava olhando para Mary, confuso. Ela pegava a garrafa de vidro que preparou e com um isqueiro, acendia um molotov, e antes de deixar Ethan naquele local seguro, ele tentou fazê-la ficar.

— M-Mary. E-espera... – ele tentou começar.

— Eu sei como é difícil, mas eu vou ter que pedir que faça uma decisão. A escolha é sua, Ethan. – e após isso, a assassina partia daquele depósito para enfrentar os ghouls, se colocando no perigo novamente. Enquanto isso, Ethan ficava ali, parado, olhando para os lados como se estivesse sem direção.

Mary abria a porta do depósito sem dó e saltava de parede em parede para chegar no terraço dos estabelecimentos novamente.

Chegando lá, como ela já esperava, era um grupo de doze ghouls vindo para cima dela, na liderança estava Rebecca, a que mais queria vingança contra a albina, duas vezes humilhada na frente de Victor, agora era hora da revanche.

Ela partia para cima da assassina com suas garras em prontidão, mas tentando prever qual seria o próximo ataque de Mary. O que Rebecca não esperava era que a albina estava segurando algo atrás de si, Mary se jogava para trás e arremessava a garrafa de molotov, quebrando-a na face da canibal, fazendo-a cair no chão e agonizar enquanto seu rosto ardia em chamas.

Victor era o próximo a atacar, e por ver sua amada com o rosto em carne viva por estar pegando fogo, ele, na pura ferocidade, saltava com tudo para cima de Mary na intenção de soca-la.

A albina, no entanto, no momento certo, antes do punho de Victor chegar até ela, pegava impulso e dava um chute de baixo para cima no queixo dele, quebrando sua mandíbula e fazendo-o rodar e cair no chão quase inconsciente.

Lembrando de um fator, e vendo que mais ghouls se aproximavam, Mary utilizava seu poder e sua katana saía voando de onde estava, no lugar onde cortou Victor, e começa a girar no ar rapidamente enquanto voltava até sua dona.

Quando uma das canibais se preparou para soltar seu grito, a espada de Mary passou e decapitou ela corretamente na nuca. A albina aproveitava disso para tentar controlar minimamente a trajetória da espada, porém o máximo que ela conseguiu é cortar de raspão o pescoço de um e o braço de outro.

Mary saltava novamente e agarrava sua katana em pleno ar, em seguida dava um mortal para trás enquanto guardava-a na bainha, tudo para quando aterrissasse, ela apertasse o gatilho nela e sacasse ainda mais rapidamente a espada, cortando na diagonal e dividindo em dois um dos ghouls machos que se aproximou.

Após isso ela desviava do golpe de outro que veio logo atrás inclinando seu corpo para trás, e na sequência, aproveitando que sua espada já estava posicionada, emendava não apenas um, mas vários cortes simultâneos, rápidos e limpos, dignos de uma verdadeira samurai.

Por alguma razão, cada corte que ela dava, o ghoul parecia com mais dificuldade de acompanhar e se regenerar, e ela ainda por cima mirava em regiões importantes como os tendões para não permitir que ele se movesse, ou regiões frágeis como entre as costelas, fazendo-o ter dificuldade de acompanhar o ritmo.

Mary desviava de um soco potente do canibal, e nessa jogada de lado, ela realizava um corte preciso, bem no cotovelo dele, decepando seu braço, em seguida disso, ela pressionava seu pé no chão para não perder base e tentava emendar um corte na direção do pescoço daquele.

Porém, para o azar dela, Rebecca surgiu rapidamente ali, ainda regenerando sua pele chamuscada, e se jogava na direção da albina, derrubando-a para trás e fazendo Mary largar a katana.

As duas rebatem no chão e então, para parar, a albina segurava com sua mão direita no chão, fincando os dedos no concreto, permitindo-a girar um pouco para jogar e afastar Rebecca de si.

Aproveitando disso, a canibal corria para o lado e junto das quatro fêmeas restantes, se posicionavam em construções ao redor do terraço que Mary estava.

Vários pontos seguros e que proporcionariam uma redoma de gritos, e no local que a albina estava, seis machos, com força bruta o suficiente para destruir um prédio em minutos.

Todos os canibais presentes sorriam, os braços e pernas dos rapazes começavam a ficar com as veias saltadas e os pescoços das moças ficavam do mesmo jeito. Mary estava encurralada.

A albina fazia sua espada voltar para si, e analisava a situação em uma pose que parecia demonstrar decepção.

Como ela, a tal Assassina de Heróis, aquela temida por singulares muito mais poderosos que ela, alguém que deixava um rastro de cadáveres por onde passava, não apenas matou vários singulares, como massacrou um grupo inteiro de assassinos, agora estava ali, cercada por canibais esfomeados, que se parasse para analisar, não eram grande coisa perto do que ela já enfrentou, mas mesmo assim parecia estar sem escapatória.

O que aconteceu para ela chegar nesse ponto? Era só o que ela se perguntava.

— Mary... Droga eu não sei como te tirar dessa. – Mike contactava Mary, mas infelizmente acabou não sendo uma ajuda muito útil.

— Mike. Se algo acontecer comigo, então guie o Ethan pra um local seguro, é meu único pedido. – ela respondia em um tom de conformação.

— Quê? Não fala assim, Mary. Hum? O que é isso? – Mike se indagava de uma coisa que estava vendo no mapa.

Mary então fechava seus olhos e se preparava para ficar surda para poder enfrentar aqueles ghouls. Porém, antes dela aceitar esse fator, de que ela não estava mais tão forte quanto a alguns anos, o que todos ouviram foi um som de tiro, sangue sendo espalhado pelo ar e um corpo de uma fêmea caindo em direção ao chão.

Assim que todos se viraram para ver o que tinha acontecido, viram um garoto de cabelos loiros com uma pistola em mãos, um olhar pouco nervoso, mas também sério, Ethan havia tomado sua decisão.



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