Volume 1
Capítulo 13: Não respire (versão antiga)
A noite chegava, o quarteto de Cicatrizes estava discutindo alguns detalhes ainda escondidos atrás dos veículos e destroços. Tendo uma boa visão do prédio em que estavam os ghouls, Ethan era quem estava observando e tentando sentir qualquer energia de singular se movendo ali.
— Se o que está dizendo é verdade, quer dizer que, além de ter envolvimento de algum singular muito poderoso, o ponto fraco dos ghouls pode ser na nuca? – perguntou David
— Na verdade, qualquer pessoa comum morre na hora se for na nuca o golpe. – Mary dizia enquanto fazia um diagrama na terra com um galho.
— Não banca a espertinha. – respondeu indignado com uma resposta tão óbvia.
— Minha teoria é de que os ghouls estão fugindo de um grupo poderoso dos Heróis, e esses cadáveres deles poderiam servir de isca para curiosos, ou então despistar esse tal grupo que os está ameaçando, deixar os corpos à vista para ilustrar que já foram mortos. – a albina teorizava.
— O que não parece ter funcionado. Se esses que enfrentamos já estavam mortos, então quer dizer que esse tal grupo já tem noção de tudo e talvez só esteja nos provocando, ou então não sabemos a verdadeira extensão do poder de um ghoul e eles são capazes de controlar os corpos mortos de sua espécie. – Lucy respondia, forçando bastante sua mente.
— De qualquer forma, o que iremos fazer? Eles não parecem com muita pressa em sair do prédio. – David dizia enquanto olhava de relance para o local dito.
— Daniel e Claire deve alimentá-los por um tempinho, eles comem carne humana, mas não parecem comer mais do que um humano normal. – Esse pensamento visivelmente causava desconforto em todos ali, parecia descaso com a morte deles, mas não era um pensamento errôneo. – David, o quanto você consegue congelar estruturas de concreto? Lucy, o quão forte você consegue disparar as balas de sangue?
— Você não tá sugerindo para colocarmos esse prédio abaixo, né? – perguntou a ruiva, já esperando que essa realmente fosse a resposta.
— Se forem realmente como estamos pensando, eles são estratégicos, mas no final a arma principal são seus instintos predatórios, então eles vão ficar enraivecidos se colocarmos o esconderijo deles abaixo. E depois, é só uma questão de dispersar. – Mary dizia. Com essas palavras, todos ali pareciam meio que compreender a ideia e iniciavam os primeiros passos.
A ruiva então puxava o sangue que estava nas roupas e rosto de todos ali, após isso ela mirava a bolha formada para o lado direito, onde havia uma rua em linha reta.
Lucy disparava a bolha pela rua, abria e fechava a mão, para a bolha de sangue ir gastando seu líquido, deixando respingos de sangue por onde passa, ela então apontava o dedo para a esquerda após o líquido ter percorrido metros o suficiente, e, por fim, a bolha entrava em uma casa abandonada e explodia, espalhando o restante do sangue no local.
— Pronto, dispersei nosso cheiro. – Lucy dizia enquanto ajeitava seu cabelo. – Vamos pôr esse prédio abaixo num momento mais oportuno, os ghouls estão com vista grossa em nós por agora.
— Não tem ninguém na janela... – Ethan dizia, tentando não aparecer por detrás do concreto.
— Ainda é melhor irmos escondidos, venham, esta fábrica abandonada aqui é perfeita para usarmos como esconderijo. – David apontava com o polegar para o local dito, que estava na direção oposta a que Lucy disparou a bolha, não muito longe de onde estavam. Os quatro então confirmavam que não estavam sendo observados e seguiam se escondendo por escombros até chegar na fábrica. – Se eles por algum motivo forem ali, vamos conseguir escutar.
Chegando ao local, parecia ser um conjunto de construções que formavam uma fábrica de materiais pesados, porém naquele ponto havia somente duas delas de pé ainda. Agora, fora da vista dos ghouls, os quatro ficavam mais relaxados, mas ainda evitando falarem muito alto.
— Vocês não têm problema com dormir em chão duro, não é? – Mary perguntava para David e Lucy. O singular gélido respondia que não e olhava para a ruiva, que cruzava os braços com uma expressão indignada.
— Jura? Eu dormi numa jaula, meu bem, com quase nenhum oxigênio a noite intei- — Antes de Lucy terminar de falar, David envolvia um de seus braços ao redor dela e fazia um cafuné em sua cabeça.
— Claro, claro, oh pobrezinha. Quem que queria uma massagem nos pés enquanto ficava na banheira mesmo? – David debochava da situação. A ruiva ficava sem jeito e só aproveitava a caricia.
— Depois de um dia cansativo de trabalho, protegendo a vila, eu precisava relaxar, tô errada? – Lucy tentava se defender, entrando na brincadeira.
— Só citando. – David acalmava os ânimos de Lucy enquanto Ethan se aproximava, curioso.
— Jaula, afogada? – ele perguntava para a ruiva, que ficava um pouco incerta se contava para o garoto ou não. Lucy chegava a olhar para Mary, para ver se podia contar seu passado para um menino pequeno, mas a albina só encolhia os ombros, nem ela sabia responder.
— Outra hora, Ethan, outra hora. – Lucy tentava contornar a situação.
— Ah... Okay. – Ethan praticamente pedia desculpas por ser curioso. Lucy tentava contornar o desconforto dele, mas era evidente que não sabia fazer isso. Ela tentava olhar para Mary e ver se ela sabia o que fazer nessa situação, mas a albina também estava um pouco em choque sobre o que fazer.
— Bom, então como faremos a vigilância? Se quiserem eu fico primeiro. – David sugeria.
— Ficarei com a parte da madrugada, talvez seja o horário em que eles fiquem mais ativos. – Mary dizia.
— Eu vou rapidinho averiguar o local. – respondeu Lucy, adentrando mais na fábrica, para escapar da situação em que estava.
— Melhor aproveitarem para descansar. – David dizia para Mary e Ethan e logo em seguida ia para a entrada do local. O singular gélido então ativava seu poder, estendendo suas mãos para os lados, o vapor frio que saía deles começa a rodear a fábrica e não se dispersava, permanecendo por ali. David então ficava de sentinela primeiro.
Enquanto os dois faziam a vistoria da fábrica, Ethan e Mary ficavam mais a sós. A moça recomendava que o menino durma, mas ele na verdade começava a conversar baixinho com sua mestra.
— Mary, por que não ensina pra Lucy e pro David como sentir a energia de singulares? O Daniel morreu porque não conseguia fazer isso. — perguntou inocentemente. A albina pensava se deveria responde-lo e, após suspirar, ela sussurrava de volta.
— Ethan, veja bem, isso aparentemente é algo que só eu percebi que dava para fazer, eu não posso revelar todos as minhas cartas na manga. Por isso só você sabe dessa técnica. – Mary se sentava encostada na parede, e Ethan fazia o mesmo logo ao lado dela. – Eu nunca confio cem por cento em alguém. Estamos ajudando Lucy e David, eventualmente eles irão nos ajudar a deter os Heróis, eu aprecio isso, mas... É uma questão de segurança, Ethan, não dá para confiar em todo mundo.
O menino escutava isso e ficava um pouco cabisbaixo, pois Mary não conseguia confiar plenamente nem nele mesmo, alguém que tem 2 anos que não saía de perto dela, mas, ele até que entendia, então só pergunta para ela:
— Um dia você vai confiar cem por cento em mim? – questionou, encolhendo suas pernas e as abraçando. Mary olhava isso e ficava muito pensativa, não sabendo o que responder para o menino. De certa forma, ele era a pessoa em quem Mary mais confiava, mesmo que não totalmente.
— É melhor você descansar, Ethan. – Mary dizia, levantando-se, e estava para se afastar dele, porém o menino segurava sua saia, como se estivesse pedindo para que ela pelo menos ficasse ali com ele.
A albina tentava resistir, sua mente dizia para se afastar e deixar ele ser mais independente, mas seu coração dizia outra coisa. Por fim, Mary teve que escolher um dos lados e voltava a ficar sentada ao lado do menino, que começava a adormecer aos poucos.
Quando fechou os olhos totalmente, sua cabeça pendeu para o lado e acabou encostada no ombro da albina, que na hora estava totalmente desconcentrada, olhado para o horizonte com o queixo apoiado na mão.
Logo que ela sentiu Ethan encostando a cabeça em seu ombro, ela tentou dar um empurrãozinho com o ombro para acordá-lo, mas isso na verdade fez o menino deitar a cabeça no colo de Mary, que agora sim olhava, surpresa, e sem saber o que fazer. Ela então só acenava negativamente e suspira, pois agora, se tentasse tirá-lo, ele poderia ou acordar ou bater a cabeça no chão, portanto ela permaneceu como estava, servindo de travesseiro.
Mary notava que David e Lucy se aproximavam e estavam olhando sorrindo. A ruiva agachou só para admirar o quão estranhamente fofa era aquela cena, e não resistiu em sussurrar algo para a albina:
— Essa cena vai entrar para a história. – disse a ruiva.
— Não o acorde, ele precisa descansar. – Mary respondia da mesma forma.
Lucy então fez um sinal de “ok” e se levantou, ainda sorrindo por ver algo tão fofo. David por último disse:
— Babá – em seguida dando uma risada silenciosa. Mary o respondia somente com uma cara de indignada e um dedo do meio.
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23:30
Agora era Lucy quem estava de guarda. Já tinham decidido a ordem de revezamento, depois dela seria Ethan, que nesse momento se aproximava da ruiva e fazia o sinal para ela ir descansar. A ruiva olhava para o menino e seu olhar era de realmente cansada. Ela virava para trás e percebia que David estava encostado em um contêiner, mas ainda acordado, esperando sua amada para poder descansarem juntos. Ela sorria com um ato tão brega mas tão adorável.
— Bobo. – Lucy apoiava a mão no ombro de Ethan e sussurrava para ele. – Se algo atacar é só fazer barulho, vamos acordar na hora. – e assim ela ia até David, onde a ruiva o convencia a entrar no contêiner para ficar mais difícil de serem encontrados caso ocorresse algo, e assim os dois fizeram.
Ethan sorria ao ver essa cena e olhava para Mary, que estava mais ao lado, encostada na parede, e, pelo visto, ela também estava dormindo, segurando sua katana, como fazia todas as noites. O menino sempre queria saber mais a respeito dela, mas nunca conseguiu entender por exemplo: porque ela sempre dormia abraçada a aquela katana, teorizava que tinha haver com o pai dela, mas nada confirmado.
Ele voltava sua atenção para a entrada e sacava as pistolas, ficando de guarda. Não haviam se passado nem cinco minutos que ele estava ali, e Ethan sentia uma energia de singular se aproximando do local, porém, para a surpresa dele, vindo dos fundos da fábrica, e não da entrada.
O garoto virava para trás e observava aquela escuridão enorme, já que a fábrica não tinha mais energia elétrica. O garoto começava a tremer, talvez um misto de frio e medo. Ele suava e quase lacrimejava.
Se na luz do dia ele já tinha um trauma de singulares, na noite ele jamais aguentaria, principalmente por agora não saber de onde viria o ataque. Por mais que dissesse que estava pronto várias vezes para Mary, era evidente que isso não era verdade.
Sem pensar muito, ele guardava as armas nos coldres e iria logo acordar alguém do grupo, porém, assim que deu um passo à frente, seu olhar se tornou vazio e inexpressivo, como se estivesse sob uma espécie de hipnose.
Em sua cabeça, Ethan escutava uma melodia calma e aconchegante, chamando por ele, dizendo que traria conforto para seu sofrimento, que tiraria os traumas e medos de sua mente, enquanto os outros de fora, por estarem dormindo, não escutaram nada.
O menino foi caminhando sem acordar os outros, adentrando mais na fábrica, aquele corredor retilíneo, escuro. Só seria possível ver se alguém fosse de fato um predador selvagem. Por fora, era possível escutar sons de passos bem calmos se aproximando, algo como se fossem gotas caindo no chão, suspiros lentos, como se alguém estivesse com fome. Ethan só ia adentrando mais e mais nessa escuridão rodeada de ghouls.
Quando percorreu uma distância considerável, uma mão rapidamente surgia na frente do rosto do menino e o agarrava pela boca. Foi um susto tão grande que Ethan praticamente saiu da hipnose, e, em questão de um segundo, outra mão envolvia seu braço e tronco, impedindo seu movimento praticamente.
Ele então foi puxado para o lado, dentro de um cômodo da fábrica que havia no corredor e, dentro desse cômodo, ele foi carregado até ficar atrás de um mecanismo enorme e desgastado. O garoto tentava gritar, mas era totalmente abafado, ele nem abrir a boca conseguia, já estava para lacrimejar de desespero enquanto tentava mexer suas pernas para se libertar, até que sentiu uma boca chegando perto de seu ouvido e sussurrando.
— Ethan, sou eu, para de espernear. – disse Mary, e assim que ela falou, o menino pareceu se acalmar. Ele olhava para cima e via o rosto e olhos cinzas inconfundíveis de sua mestra.
— Mary... – ele tentava falar uma frase com um tom de alivio, mas foi interrompido por um sinal de silêncio de Mary. Os dois então escutavam os passos dos ghouls se aproximando, e algumas falas meio sussurradas.
— Se nenhum foi atraído então devem estar dormindo, mas que maravilha. – um rapaz jovem aparentemente disse, dando uma risada sutil logo em seguida.
— Que idiotas, acharam mesmo que nossa única maneira de entrar era por terra. – uma moça falava dessa vez.
— Ugh... Minhas unhas ainda estão cheias de terra. – uma voz feminina novamente, e essa voz em específica chamou a atenção de Ethan, era a mesma de quem havia tentado devorá-lo na vila dos Cicatrizes há poucos dias, e que por alguma razão, parecia familiar.
A dupla conseguia escutar os passos desse pequeno grupo de ghouls passando perto da porta do cômodo em que estavam e torcendo para que não sentissem o cheiro deles. Mary estava calma, mas Ethan estava quase suando, apenas conseguia manter sua calma por causa da albina. Eles enfim passaram, e os dois puderam respirar mais tranquilamente.
O garoto foi retomado à atenção por Mary, chegando perto de seu ouvido e dizendo:
— Ethan, presta atenção no que vou dizer, tá? Eu não vou te dar sermão por não me acordar antes, agora não temos tempo, eu vou atrair a atenção deles, e você corre para acordar Lucy e David, diga para eles derrubarem o prédio, entendeu? – disse Mary, calma e serena.
— Mas e você? – Ethan questionava, preocupado.
— Eu vou alcançar vocês, não confio tanto assim nos dois para tomarem conta de você. Mas faça o que eu disse, e fique perto deles, tá? – respondeu, forçando o garoto, que legitimamente estava nervoso, a aceitar a proposta.