Volume 1

Capítulo 12: Preso na jaula do predador (versão antiga)

 

— Mary, David, Lucy! – Mike tentava falar com eles mentalmente por meio da ligação espiritual, mas nenhum dos três respondia. Bruno não estava mais junto de Mike, pois havia coisas a fazer no vilarejo. – Droga... Mais uma se foi, isso tá ficando pior. Bruno, precisamos de uma ajuda aqui. – chamou pelo líder mentalmente.

— O que houve? – ele estava ajudando na reconstrução de uma casa no vilarejo.

— Claire também agora. – respondeu Mike, o que deixava o singular demoníaco em choque por alguns segundos, até suspirar e colocar a mão na testa.

— Droga... Eu já estou indo. – respondeu e logo após avisou aos habitantes que tinha que resolver outra questão e que já voltava. Bruno então foi na direção da casa de Mike, colocando a mão no rosto e respirando fundo, tentando se aliviar. Apesar de parecer cansado, ele não parava e continuava em frente.

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Enquanto isso, nas ruínas em que estavam o grupo de Cicatrizes, no local em que o corpo de Claire estava estirado no chão, algumas figuras aterrissavam ao lado dela e olhavam em volta. Duas silhuetas masculinas, esses dessa vez nem pareciam se importar com estilo, pois utilizavam roupas rasgadas, não utilizavam calçados e aparentemente eram atléticos no pouco que se podia reparar, além do corte de cabelo parecido, liso e castanho escuro.

— Onde eles estão? – o rapaz da esquerda dizia, enquanto tentava farejar algo ou escutar.

— Eu podia jurar que eles tinham sido esmagados. – respondeu o da direita.

— Já retiramos e não tinha nada embaixo daqueles destroços, como que você conseguiu errar algo daquele tamanho, Leon?

— Pra terem escapado, eles não são pouca coisa, devem estar do lado dos Heróis, mas o que vamos fazer? A Rebeca e o Victor, já atacaram a vila adiante porque estavam com fome. Eles já devem saber de nós. – respondeu Leon, pegando o corpo de Claire pelo braço e o arrastando para dentro do prédio.

— Esses merdinhas dos Heróis, só três deles foram capazes de acabar com vários de nós, vão ver só quando o Carniçal transformar toda aquela vila em ghouls. – Henri, o rapaz da esquerda, dizia enquanto seguia Leon.

Porém, quando estavam prestes a entrar, os dois escutaram um barulho de pedras e terra arrastando, vindo das laterais do prédio. Eles paravam, olhavam em volta e suas unhas e dentes se armavam lentamente, mas após um tempo analisando, eles não sentiam cheiro e nem escutavam mais nada, então acabavam deixando isso para lá e suas unhas e dentes retraíam, como se seus modos de caça tivessem sido desativados. Enfim os dois retomavam seu rumo e adentravam no prédio.

Sentindo que a barra estava limpa agora, Mary e Ethan eram vistos na lateral esquerda do prédio. A albina estava tampando a boca do menino, que ainda lacrimejava e tinha um olhar muito assustado. Estava tentando controlar sua própria respiração para não suar muito. Quanto a Mary, não demonstrava tanto nervosismo, pois já sabia como controlar suas emoções e respiração para não chamar a atenção de singulares mais atentos.

David e Lucy estavam na lateral oposta à dupla, o rapaz cobria a ruiva com seu corpo, pois sabia que ela, por ser uma singular de sangue, tinha emoções que eram muito mais sensíveis e suscetíveis a mudanças rápidas, então, dessa forma, David pôde mantê-la fria o suficiente para não se agitar tanto.

Mary tentava sentir a energia dos ghouls dentro do prédio. Eles já estavam em andares superiores, então a albina levantava a mão e fazia um gesto para David ver. Os quatro saíam da cobertura e corriam na direção oposta ao prédio, escondendo-se atrás dos escombros em que deixaram seus veículos, enfim parando para descansar enquanto Mary olhava de canto para garantir que ninguém havia os seguido.

— Já está claro, vamos embora daqui, não temos chance. – Lucy dizia enquanto acalmava seus nervos.

— Na verdade... Parando para pensar melhor, se formos embora, eles irão nos seguir, você viu o quão rápidos eles são, vão chegar na vila antes de nós. – respondia Mary, se escondendo novamente nos escombros.

— E você quer virar janta? Eu não. – rebatia Lucy.

— Pessoal, respondam. – Mike tentava de novo os contactar mentalmente.

— Mike, estamos aqui. – David respondia da mesma forma.

— Me digam a situação, o Bruno tá aqui do lado.

— Claire e Daniel abatidos, e são muitos ghouls, não sei se vamos dar conta de tudo isso. – explicava o singular gélido.

— Ei, ei, calma, já esqueceram que eles são extremamente rápidos? Se tentarmos fugir eles vão nos alcançar e pior, vão chegar à vila. – repetia Mary para David e Mike escutarem.

— E daí? Lá a gente vai ter mais ajuda. – respondia Lucy.

— E daí? Você viu que eles se regeneram, não podemos lutar para sempre. – a albina se virava para a ruiva e a confrontava.

— Eu explodi um e ele parou de se mover, o David congelou aquele atrás de você e também parou, qual sua justificativa agora? – Lucy estava ficando brava nesse ponto.

— Esses já estavam mortos. – Ethan quem disse desta vez, olhando para a ruiva um pouco tímido, com a franja escondendo um de seus olhos.

— O quê? – Lucy, David e Mike questionavam ao mesmo tempo.

— Os ghouls que estão no chão aqui, já estavam mortos, pois eles estavam... Agindo diferente daqueles que eu vi na vila. – respondia o menino, arrumando seu cabelo.

— E mais, os ghouls no prédio são cerca de uns trinta, não é? Por que eles não vieram atrás de nós quando ouviram toda a gritaria e barulho do combate? Porque algum deles viu o companheiro já morto se movendo, e ficou apreensivo. Tem algo muito mais suspeito acontecendo.

— Mais motivos ainda para sairmos daqui! – Lucy já se preparava para levantar e se mandar.

— Eu tive uma ideia, Mike, pode repassar para o Bruno? – perguntou Mary enquanto olhava aos arredores.

— Ele disse que quer ouvir sua proposta. – respondeu Mike.

— Ethan, lembra o quão alto os ghouls conseguiam saltar? – ela perguntava para o garoto.

— Cinco metros, eu acho. – Ethan coçava a cabeça, confuso pela pergunta estranha.

— David, até que altura você consegue criar uma parede de gelo? – o rapaz também ficava confuso com a pergunta.

— Uns dez, talvez quinze se eu me esforçar. Você não tá querendo que eu— — antes de dar seu palpite, a albina respondeu para Mike e todos ali.

— Essa cidade que estão concentrados esses ghouls é cercada por muralhas com mais de dez metros, David pode fazer uma parede de gelo na entrada dela, de onde viemos e impedir a fuga deles. O prédio que tem o maior número está no meio da cidade quase, não tem como eles saltarem por cima das muralhas. – Mary dizia com calmaria, porém a proposta assusta a todos, tanto que Lucy quase gritava:

— Como é que é?! – ela forçava Mary a olhá-la, a ruiva estava com um olhar indignado, enquanto a albina mantinha a expressão neutra. – Você pirou, Mary? Ficar preso com o inimigo?

— Não confia nas próprias habilidades? – perguntou a albina.

— Não é isso. Tá querendo fazer mais sacrifícios? – Lucy realmente se esforçava para não aumentar o tom de voz e piorar a situação.

— Sacrifício mesmo seria se deixássemos eles fugirem por aquela entrada – Mary apontava para a entrada da cidade em ruínas de onde vieram. – E deixasse que eles invadissem a cidade para daí matá-los. O saldo de mortes é bem maior daí.

— Então vamos só fechar a entrada, daí eles vão ficar presos aqui. – Lucy tentava contornar a discussão.

— Estou falando de gelo, não veneno pra ficar no ar, se o David se afastar demais ela vai se desfazer ou derreter, e aí a vila está condenada. Vai querer arriscar e achar que os ghouls são burros? Você sabe que o Bruno só consegue enfrentar uma pessoa com aquele poder, né? – Mary questionava Lucy ao ponto dela sequer saber o que responder.

— Querem que eu repasse essa última parte? – perguntou Mike.

— Não, perdão. – respondeu a albina.

— Mas então — antes de falar algo, Lucy foi interrompida por David se levantando e indo na direção da entrada da cidade, que não estava longe de onde eles estavam. – D—david?

— Mike, repassa pra ele que eu vou fazer a muralha.

— Ele perguntou: “você tem certeza?”

— Ah, mas você tá de brincadeira. – Lucy respondia indignada, acenando negativamente e jogando as mãos para o ar, dizendo, num tom de decepção e aceitação, que havia perdido. – Tá bom então, vamos com a ideia da Mary.

— Obrigado pelo incentivo, querida. – David devolvia também num tom debochado pelo comunicador. – Meu irmão faria a mesma coisa, eu não vou sacrificar centenas por causa do meu egoísmo.

— Ele estaria orgulhoso de você, David. – Mike respondia para ele..

Lucy cruzava os braços e virava a cara, Mary voltava a observar o prédio para garantir a segurança, e Ethan ficava curioso sobre como David faria aquilo. O singular gélido chegava na entrada da cidade e se concentrava, suas pupilas começavam a brilhar na cor azulada e seus braços ficavam pálidos, chegando a ficar azuis e até a sair vapor gelado de tão frios que estavam, e então David, num rápido movimento, ajoelhava-se e colocava as mãos no chão.

O gelo que ele liberava percorria toda a área da entrada, e assim que feito o necessário, David respirava fundo e levantava as mãos rapidamente, criando uma grossa parede de gelo, que cobre toda a entrada daquela muralha. Ethan ficava impressionado e até com um brilho no olhar pela ação do singular.

Como também já era esperado, Mary conseguiu notar que, em uma das janelas do prédio em que os Ghouls estavam, havia um observando tudo, mas não parecia estar dando comandos para atacar.

— E agora? – Ethan perguntava. Mary observava por mais um tempo o prédio, pensando no que deveria fazer.

— Ei gente, mensagem do Bruno: “Lembrem-se vocês quatro. Esta é uma missão e vocês são uma equipe, é hora de confiar em seus companheiros na hora de lutar, e saibam decidir como um time. Não vai ser toda hora que eu ou o Mike vamos estar disponíveis, então tomem cuidado. Façam de tudo para matar os ghouls e saírem vivos, são eles ou nossa vila. E não esqueçam que se nos traírem, a punição é mais pesada que uma mordida de canibal.”. – Mike recitava para o grupo.

— Entendido. – confirmou Mary. Lucy a olhava e, mesmo não querendo admitir, seria melhor aceitar a liderança da albina. A espadachim aproximava Ethan dela, o que claramente deixa o garoto mais calmo. – Fique sempre perto, entendido?

— Sim, senhora. – o menino respondia enquanto respirava fundo e tentava ter a mesma determinação que sua mestra.

David retornava após criar a barreira de gelo e percebia que Lucy estava de cara amarrada e braços cruzados. Ele se aproximava de sua companheira e arrumava os cabelos dela.

— Eu também não gosto da situação, mas a gente vai dar conta. Quer deixar a Mary como líder? – perguntou, um pouco receoso.

— É o melhor, né? – Lucy respondia, como se já tivesse aceitado, virando o olhar e cruzando os braços. – Só não acaba com um buraco no peito, por favor? Agradeço desde já. Qual o plano, Mary? Eu cuido da regeneração de vocês, mas não se atirem no meio de fogo cruzado.

— Hmmm... Então já irei falar isso para vocês que parece que iremos ficar alguns dias por aqui.  – dizia Mary, como se não fosse nada demais.

— Então vamos ter que aguentar essa cidade isolada junto de canibais. Ok, ótimo, já estamos no meio do caminho, então vamos, né? – David dizia enquanto encolhia os ombros e olhava para Lucy, como se ela tivesse a solução para seus problemas.

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Enquanto isso, no prédio onde os canibais se encontravam, além de Leon e Henri, ainda tinham algumas mulheres ghouls, todos em volta de Victor e Rebecca, os que haviam atacado a vila dos Cicatrizes e depois fugiram. A garota estava com o rosto virado, como se estivesse farta de ouvir reclamações por parte dos que estavam em volta dela enquanto Victor tentava se explicar.

— Beleza, Victor, você foi proteger ela. Primeiro que ela não precisa de proteção, segundo que, indo vocês dois, aí sim comprometeu nossa posição. – dizia uma das canibais, de roupas rasgadas e um porte físico mais musculoso, com um cabelo curto e raspado num dos lados, de cor vinho.

— Mas me explica, Kelly, o que eu devia fazer? Ela quase foi morta por causa de uma singular. Somos ghouls, é instinto procurar por carne humana. E além do mais, somos da mesma espécie, precisamos nos ajudar. – Victor tentava defender Rebecca.

— É, mas se não sabe nem controlar o melhor horário pra atacar, então pode pelo menos não foder nossos planos? Sabe a singular que quase matou a Rebecca? Exatamente, ela tá aqui nas redondezas agora, e não dá para sair, eles bloquearam a entrada. Meus parabéns por querer ajudar. – dizia Henri, com uma expressão de raiva, dando as costas e saindo andando, deixando Victor cabisbaixo.

— Se controla, você acha que é uma humana pra fugir da casa dos pais porque está bravinha? Pois não é. – Kelly dizia de maneira seca para Rebecca, que se virava de costas e, além de cabisbaixa, ficava entristecida.

— Rebecca, eu... – Victor tentava colocar a mão no ombro da garota, mas ela saiu andando enquanto secava suas lágrimas, deixando o garoto decepcionado consigo mesmo. Ele então, enfurecido, batia sua mão na parede logo ao seu lado e fazia um pequeno rachado nela, porém não afetando nada sua mão.



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