Volume 2

Capítulo 99: Informações (Pt 2)

Os olhares de incredulidade de Alaric e Xu Ying se encontraram, depois que Zhi Fēng revelou que uma das armas mais poderosas, guardada no clã em que estavam, continha o espírito de um dos seres mais poderosos de todo o plano terreno.

— Não se assustem tanto... — Zhi Fēng tentou amenizar a surpresa dos dois. — Depois posso levá-los para vê-la... Por agora, vamos mudar de assunto, tudo bem?

— Certo... — respondeu Alaric, recompondo-se. — Então, voltando ao tema dos clãs, como funciona especificamente este?

Xu Ying concordou com a pergunta, também curiosa, e Zhi Fēng suspirou, como se falar sobre seu próprio clã o incomodasse. No entanto, mesmo relutante, ele não tinha escolha.

— Ah, meu clã? Bem, é um dos mais antigos e, consequentemente, um dos mais importantes. Funciona como qualquer outro, com um líder, seguidores, fama, poder e influência… — Ele disse quase com desdém, como se não se importasse muito com tudo isso. — No fim, ficamos principalmente responsáveis pelos assuntos envolvendo comunicação, tanto militar quanto comum.

— E por que a comunicação especificamente? — indagou Alaric, erguendo uma sobrancelha com curiosidade evidente.

— Você já ouviu a expressão "as informações viajam com o vento"? É por essa linha de pensamento…

Alaric assentiu, interessado na explicação, e continuou a questionar:

— E quanto ao líder?

Zhi Fēng pareceu momentaneamente desconfortável diante da pergunta, como se evocasse lembranças não tão agradáveis. Ele então recostou-se no sofá, coçando a testa antes de responder com sinceridade:

— O líder é meu pai, Fēng Zhang... Um dos homens mais poderosos e respeitados do império, o único que dominou todas as técnicas do clã, se é isso que quer saber…

"Domínio de todas as técnicas do clã?" Essa parte chamou a atenção do jovem. Em termos de poder, o que isso poderia significar? Será que indicava que ele era muito mais poderoso do que qualquer inimigo que Alaric já enfrentara? Era difícil afirmar. Para entender verdadeiramente, o jovem teria que testemunhar alguma dessas técnicas em ação.

Alaric fez mais algumas perguntas, cuidadosamente registrando mentalmente as respostas. A conversa prosseguiu sem problemas, como de costume: o jovem formulava perguntas sucintas, enquanto Zhi Fēng respondia com uma profusão de palavras. Xu Ying observava atentamente cada sílaba, enquanto Eian Liu permanecia em silêncio. Após algum tempo, uma empregada trouxe um bule de chá acompanhado de algumas xícaras, colocando-os sobre a mesa central.

— Já estou ciente de muita coisa que queria saber — afirmou Alaric, fixando o olhar em Zhi Fēng. — Vamos ao assunto principal aqui, o torneio.

— Certo, o que gostariam de saber? — perguntou Zhi Fēng, estendendo a mão em direção ao bule de chá. — Querem chá?

Alaric e Xu Ying assentiram, e Zhi Fēng serviu três xícaras, enquanto Eian Liu recusava, assim pegou uma para si.

— Tudo — respondeu Alaric, pegando a xícara do pires. — Mas podemos começar pelo formato do torneio.

— Está bem... É um formato bastante comum, baseado em pontos e rankings. Primeiramente, os participantes serão testados em força e agilidade; quanto melhor se saírem, mais pontos acumularão e mais alto no ranking estarão. Em seguida, serão enviados para a Floresta da Dor, onde terão que sobreviver e caçar monstros; quanto maior o perigo e a classificação da criatura, mais pontos obterão. Por fim, aqueles com menos pontos enfrentarão os com mais pontos em duelos de um contra um, desde as quartas de final até a final.

— Então...

— E quais serão os prêmios? — Sem perceber, Xu Ying interrompeu o jovem. — Digo, haverá algum, não é?

Zhi Fēng levou a xícara aos lábios, saboreando o chá adocicado. Após um gole generoso, abaixou a xícara, ainda perdido em ponderando, e começou:

— Certamente, haverá uma variedade de prêmios para o vencedor, incluindo o Coração de Buda, como já mencionei a Alaric. Além disso, haverá uma substancial quantia em dinheiro, o reconhecimento como nobre e... — Ele hesitou antes de continuar, enquanto Alaric, atento, levava o chá à boca. — E... a mão da filha mais velha do imperador...

O jovem quase engasgou com o chá, seus olhos se arregalaram, refletindo a mesma reação de surpresa de Xu Ying. Zhi Fēng, observando a reação, sorriu sem jeito.

— Isso significa… — Alaric ponderou por um breve momento, ainda incrédulo, e continuou: — Que o vencedor se tornará o herdeiro de Donfang…

— Eu não entendo, por que isso? — começou Xu Ying, num tom pensativo. — É algo extremamente sério para ser decidido em um simples torneio...

— Não me pergunte... porque não tenho resposta para isso... — respondeu Zhi Fēng, com a voz baixa. — Tudo o que nos foi informado era que esses seriam os prêmios...

Alaric recobrou a compostura e levou a xícara aos lábios novamente, saboreando o gosto adocicado enquanto refletia sobre o assunto.

— E como os outros reagiram a isso? — perguntou Xu Ying, notando o silêncio do jovem pensativo.

— Quer dizer, os outros nobres? — Ela assentiu. — Como devem imaginar, não foram receptivos à ideia. Mas, como é uma ordem direta do imperador, ninguém teve ou têm coragem de se opor veementemente…

— E o que ele ganha com isso? — Surpreendendo os outros, Alaric intrometeu-se na conversa, com um olhar misto de desconfiança e curiosidade. — Não importa o que digam, ele está almejando algo...

— Talvez você esteja correto... — concordou Zhi Fēng, tocando o queixo pensativamente. — No entanto, o que poderia ser tão importante a ponto de oferecer a própria filha e, consequentemente, o trono?

— Jovem mestre... — chamou a atenção aquele que não havia se pronunciado até então, Eian Liu. — Melhor não falar mais do que a boca pode suportar.

Ele concordou com as palavras e baixou a cabeça. Alaric observou perplexo até que um insight surgiu. Estavam na capital imperial, cercados por indivíduos com ligações diretas à corte do imperador. Qualquer insinuação mal interpretada poderia acarretar consequências graves, portanto, era sempre mais sensato evitar mencionar a casa imperial em público.

— De qualquer forma, há mais algum prêmio? — perguntou Alaric, mudando de assunto para evitar problemas.

— Hmmmm... Existem muitos outros… artefatos e objetos... — De repente, como uma lâmpada se acendendo em sua mente, uma ideia surgiu e ele abriu um radiante sorriso. — Em vez de falar, irei lhes mostrar.

— Como assim?

— Simples, daqui a alguns dias todos os campeões serão convocados à corte imperial — Essa declaração fez o coração de Alaric acelerar. — E lá todos poderão conferir os prêmios.

O jovem controlou a respiração para acalmar o coração acelerado e ponderou sobre as informações, dando outro gole em seu chá. Os prêmios eram atrativos, embora o matrimônio oferecido levantasse suspeitas, quase como um sinal de alerta. 

O imperador provavelmente estava tramando algo nos bastidores, mas descobrir isso exigiria contatos próximos a ele, algo quase impossível. Deixando esse pensamento de lado por enquanto, concentrou-se em outro ponto crucial, que decidiu expressar enquanto arqueava uma sobrancelha:

— E quanto a vocês, Zhi Fēng? — disse ele num tom desconfiado.

— Pode me chamar apenas de Zhi... — Após essa observação, franziu o cenho confuso. — O que quer dizer com "vocês"?

— Não se finja de desentendido. O que o clã Feng... Não. O que o clã vencedor ganhará com isso?

— Controle esse tom, rapaz... — repreendeu Eian Liu, estreitando os olhos na direção do jovem.

Alaric soltou um bufar de frustração e devolveu o olhar desafiador, aumentando abruptamente a tensão no ar. Xu Ying percebeu a mudança de clima e, discretamente, encolheu-se. Enquanto isso, Zhi Fēng tentava acalmar os ânimos, repreendendo o guardião que suspirou, cruzando os braços.

— Responderei parcialmente à sua pergunta, Alaric... — O jovem o encarava com seriedade no olhar, mas no fundo quase escondido era possível de se ver a falta de confiança. — ...Pois não tenho conhecimento dos desejos dos outros clãs…

— Alaric, por favor, acalme-se... — suplicou Xu Ying, tocando-lhe o ombro.

As mãos dela tremiam sob a tensão do momento. Percebendo isso, ele tentou relaxar, dando alguns suspiros.

— Está bem, prossiga — concedeu, em um tom mais calmo.

— Muito bem, talvez posso me contradizer, mas há algo que todos os clãs almejam: a sensação de superioridade sobre seus rivais. Como podem imaginar, os clãs mantêm uma relação fundamentada em interesses, e qualquer desentendimento pode facilmente se transformar em conflito. No entanto, devido às óbvias implicações, guerras ou disputas são estritamente proibidas na capital. Como alternativa, os torneios surgiram como uma maneira para os clãs se destacarem, reafirmarem sua superioridade e, é claro, resolverem suas divergências….

— Deixe-me ver se compreendi — disse Alaric, tomando mais um gole do chá. — Vencer é basicamente afirmar que se é superior ao outro... É, faz sentido. No fim, é uma disputa de egos, não é?

— Precisamente... — Suspirou Zhi Fēng, dando a entender uma insatisfação. — Algo bastante trivial... mas não tenho muita voz nisso... Além disso, o clã vencedor também obtém reconhecimento, influência, prestígio e riqueza… Tudo que vocês já imaginam…

Alaric não conseguia expressar exatamente o que sentia, mas havia uma sensação estranha de que Zhi Fēng escondia algo por trás daquele sorriso gentil. Ele então desviou o olhar para Xu Ying, que, talvez por sua inocência, não parecia ter percebido o mesmo que ele. Por fim, soltou um suspiro silencioso, levantando-se.

— Parece que não há mais assunto para discutirmos — declarou Alaric, mantendo as feições sérias como de costume. 

Xu Ying encarou o rapaz com uma expressão insatisfeita, aparentava estar ávida por mais informações. No entanto, o jovem pareceu não perceber o olhar, e o anfitrião também parecia alheio à situação. Então, Zhi Fēng ergueu-se do sofá e estendeu a mão em direção a Alaric.

— Se isso é tudo o que deseja saber por agora, então consideremos o assunto encerrado.

Alaric apenas assentiu, enquanto estendia a mão para Zhi Fēng, selando a conversa num aperto firme.

— E quanto a você, Xu...

— Como faço para participar? — Xu Ying interrompeu, já de pé, cortando a fala do anfitrião. — Certamente há um meio, não há?

Todos na sala voltaram a atenção para ela, alguns visivelmente surpresos com sua interjeição, especialmente Alaric, que nunca havia percebido tal interesse dela. Zhi Fēng, por sua vez, tentou responder:

— B-bem, há... quer dizer, não tenho certeza...

— Como assim? — A energia de Xu Ying era tão palpável que nem percebeu os olhares fixos direcionados a ela, muito menos o tom elevado que estava utilizando. — Por favor, explique!

Eian Liu, por sua vez, já de pé, lançou um olhar penetrante na direção dela, que fez com que ela percebesse como estava agindo. Consequentemente, ela juntou as mãos nervosa e abaixou a cabeça.

— É... desculpe...

— Hã? Oh, não, não precisa se desculpar! Está tudo bem, é apenas uma questão de mera curiosidade... — Zhi Fēng cruzou os braços sobre o peito, apoiando o queixo com uma mão, pensativo. — Bom, vou explicar como os campeões são selecionados, e então você entenderá o que eu quis dizer.

Mesmo Alaric, que inicialmente estava ansioso para sair dali e processar tudo o que ouvira, encontrou-se atento às palavras de Zhi Fēng, muito pela curiosidade de qual seria a reação de Xu Ying diante das informações que estavam por vir.

— Cada um dos oito clãs tem o direito de selecionar um lutador. Não importa sua nacionalidade ou questões pessoais; o único critério é a força. — Xu Ying sorriu, seus olhos brilhando com entusiasmo. — No entanto, vem a parte que pode ser desanimadora: todos os oito clãs já escolheram seus campeões...

Foi como um balde de água fria que fez o sorriso radiante da jovem desvanecer lentamente e o brilho em seus olhos diminuir.

— Não há como indicar outra pessoa? — perguntou Alaric.

Ele já havia deduzido o desejo da jovem e, embora talvez não concordasse totalmente, estava disposto a ajudar no que fosse possível. Xu Ying ergueu um olhar pesaroso na direção dele e então voltou-se para Zhi Fēng, que parecia portador de más notícias.

— Lamento dizer, mas infelizmente não... Tínhamos um prazo para encontrar nossos lutadores, que expirou ontem. Neste momento, todos os clãs já têm seus respectivos campeões, realizando atividades semelhantes às nossas aqui…

 

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Depois da reunião, Xu Ying saiu decepcionada e foi direto para o quarto sem proferir uma palavra. Zhi Fēng quis consolá-la, mas Eian Liu o impediu, achando melhor que ela lidasse com isso sozinha. Alaric seguiu o mesmo raciocínio, optando por não dizer nada.

Depois de tudo isso, ele percorria os corredores da residência do clã, observando ao redor. Não pôde deixar de notar que quase todos o olhavam de maneira estranha, como se não fosse bem-vindo ali. No entanto, seguindo a velha máxima de não se importar com o que os outros pensavam, ele continuava avançando, sereno.

Deslizou o olhar pelo anel em seu dedo anelar, onde repousava a fada transformada, agora imóvel, sem sinal de despertar. Preocupações começavam a se insinuar em seus pensamentos, uma inquietação crescente. E se ela estivesse em perigo? Ou talvez enferma? As possibilidades se multiplicavam na mente dele, gerando uma neblina de incertezas. Subitamente, um tilintar suave rompeu o silêncio, desviando a atenção do jovem para a fonte do som.

Interrompendo os tumultuados pensamentos, ele se concentrou no tilintar, seguindo-o até sua origem. Percebeu que vinha da frente e, sem hesitação, começou a avançar pelo assoalho de madeira escura. Em pouco tempo, encontrou-se diante de uma porta corrediça fechada. Sem esperar convite, abriu-a, revelando uma vasta sala de treinamento interna.

Na sala, alguns bonecos de treinamento de madeira estavam dispostos, alguns já despedaçados como se tivessem sido atacados por um monstro voraz. No centro da sala, em um espetáculo de movimentos precisos e fluidos como o vento, um robusto homem se destacava, seus músculos proeminentes contrastando com as roupas singulares; nada dos tradicionais hanfus que os outros usavam, apenas uma regata branca e uma calça preta, sem qualquer calçado, provavelmente devido ao treinamento.

— Vai ficar aí só me observando como um maníaco? — indagou ele, sem sequer virar para trás, como se sentisse a presença de Alaric. — Não sou do tipo que gosta de homem me olhando por trás, sabia? Ou de intrometidos…

— Só vim investigar o barulho de espadas — respondeu o jovem, observando atentamente enquanto o homem continuava seus movimentos fluidos. — Mas agora que já sei o que é, estou de saída... Até mais...

Alaric virou-se para partir, mas antes que pudesse fechar a porta, o homem exclamou:

— Não tão rápido, moleque.

Quando o jovem recuou para verificar o que o homem queria, acabou dando de cara com o peito dele, a sensação era de como se tivesse batido em uma parede firme.

— Argh... droga... — Ele levou a mão ao nariz e inclinou a cabeça para conseguir olhar nos olhos do rapaz. — O que diabos você pensa que está fazendo!?

— Oh... Tem coragem... — O homem deslizou a mão pelo peito, parecendo ter sido afetado pelo golpe acidental, e com isso, contrariando todas as expectativas, abriu um enorme sorriso. — E muita força... Gostei! Como você se chama, moleque?

— Tsc... Alaric... — O jovem já estava desconfortável com a conversa e a dor no nariz. — Posso ir agora?

— Ir? Quem disse que você poderia ir? Você aparece aqui sem ser convidado, interrompe meu treinamento e agora acha que pode simplesmente sair? Sem problemas? Em que mundo você vive, moleque?

O jovem ergueu uma sobrancelha, encarando-o com firmeza. O clima começava a ficar tenso, os olhares de ambos não se desviavam, nem por um segundo. O homem, em respostas, começou a franzir as sobrancelhas, e os transeuntes que passavam por trás deles aceleravam o passo, sentindo o peso do ambiente. Era como se o rapaz diante de Alaric irradiasse uma aura sombria que permeava todo o espaço, deixando o local denso.

Alaric sentiu o suor escorrer pelas têmporas, o corpo clamando por recuar, mas as pernas pareciam travadas, impedindo qualquer movimento de fuga. Mesmo assim, não desviava o olhar, como se estivesse sondando a alma do homem diante dele.

— Hmm... Realmente corajoso... — Ele virou-se para trás, caminhando de volta ao centro da sala. — Vai ficar aí plantado com essa cara de idiota? Venha, vamos treinar um pouco.

— Cara, só me deixa ir embora de uma vez...

— O que foi? Me encarou com aquela carinha de cachorrinho bravo, mas tem medo de lutar? Venha logo.

Alaric não ia cair na provocação barata, mas também sabia que não conseguiria sair dali sem lutar. No fim, suspirou, deu um passo à frente, fechou a porta atrás dele, tirou as partes mais vistosas do hanfu e avançou até o centro da sala.

O homem jogou uma espada de madeira para o jovem e pegou outra para si. Os dois se posicionaram frente a frente, começando a se encarar.

— Então, qual é o seu nome? — perguntou Alaric.

— Meu nome? Kensuke Shin. — Ele abriu um amplo sorriso. — Mas pode me chamar apenas de Shin.



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