Volume 2

Capítulo 93: Reunião (Pt 2)

— Você se mostra mais astuto do que eu imaginava. — Um sorriso confiante surgiu nos lábios de Endrick, enquanto estreitava o olhar. — Tem razão, o que eu quero além do Mitril? É simples: uma aliança... talvez até militar.

Essas palavras pegaram Aldebaram de surpresa; tudo o que ele conseguiu expressar foram os olhos arregalados.

— Aliança Militar!? — Era algo sem precedentes, muito maior do que apenas comércio. — Isso significaria nos tornarmos países irmãos! É loucura, considerando como Estudenfel é mal visto!

— Aldebaram, observe-me atentamente — pediu em um tom sereno, enquanto apoiava o rosto com as duas mãos. — E me diga, com franqueza, qual idade você me daria?

O guerreiro ainda estava atordoado pelas palavras anteriores, assim, incapaz de conectar os assuntos. No entanto, deixou os olhos estreitos percorrerem toda face do rei Endrick; era uma fisionomia jovem, sem muitas marcas de expressão, evidenciando cuidados, contendo aquela bela determinação no olhar.

— Eu diria que tem uns vinte e cinco anos... — arriscou, baseando-se nas próprias observações, enquanto lutava para organizar os pensamentos tumultuados. — Mas qual a relevância disso?

Endrick ouviu atentamente e esboçou um leve sorriso de satisfação, soltando um breve suspiro nasal. Ele pegou a xícara de chá, levando-a aos lábios antes de responder:

— Que maldade chutar tão alto... Para sua informação, tenho apenas vinte e dois anos…

— Foi mal... Quero dizer, perdão... — Aldebaram ainda lutava para manter a compostura, buscando permanecer no papel que lhe era exigido. — Ainda assim, a diferença não é tão significativa.

— Concordo plenamente. — Ele levou a xícara aos lábios e apreciou o sabor daquela bebida quente e reconfortante. — Deve estar confuso sobre o motivo da minha pergunta.

— Você está correto, estou tendo dificuldade em ligar os pontos.

Endrick segurando a xícara diante do rosto, o que tapava parcialmente o rosto do guerreiro. Deixou o cenário ao redor se desfocar, incluindo o guardião Edgar, que estava recostado na parede ao fundo, ao lado de Leif, e até mesmo Aldebaram. Todo o foco foi direcionado para a xícara de porcelana adornada com detalhes azuis.

— Permita-me responder com outra pergunta. Sabe como ascendi ao trono? Pela minha idade, é possível deduzir que não foi por meios naturais, não é mesmo?

Após a indagação, Endrick desfocou a xícara diante dele, abaixando-a um pouco, e fixou o olhar nos olhos de Aldebaram, observando sua negação com um sutil movimento de cabeça.

— Era de se esperar. Não é como se sua nação tivesse muitos contatos além de suas fronteiras… — Ele deixou as costas tocarem o encosto da cadeira, contemplando o belo céu azul acima. — Bem, acontece que meu pai adoeceu. A natureza de sua enfermidade permaneceu um mistério e, lamentavelmente, não conseguimos encontrar uma cura…

— Meus sinceros pêsames...

O guerreiro sentiu um aperto no peito ao ouvir aquela revelação. Não era de seu conhecimento que o rei havia enfrentado tal tragédia. Contudo, não podia se culpar; Estudenfel, isolada por tanto tempo, raramente recebia notícias do mundo exterior, e a espionagem entre os giganoides não era uma prática comum, dadas as dificuldades impostas por seus tamanhos imponentes.

— Ah, não se preocupe com isso, já se passaram quatro anos. — Os olhos esmeraldinos de Endrick capturavam a leve passagem das nuvens pelo céu, enquanto um sorriso delicado se formava em seus lábios. — Mas agora chegamos à parte em que os assuntos se entrelaçam. Muitos monarcas, talvez devido à minha idade ou a conflitos antigos, resistiram à ideia de me aceitar como novo rei de Felizia.

— Que mer- digo, que lástima…

Por um instante, o guerreiro quase deixou escapar uma expressão vulgar. No entanto, conseguiu se corrigir a tempo. Mas não era como se Endrick não tivesse notado; contudo, optou por ignorar, mantendo o olhar no céu, ainda com um leve sorriso nos lábios.

— Não era como se eu me importasse, na verdade. Hoje em dia, até compreendo os protestos deles. Tenho vergonha de admitir, mas eu era um péssimo rei... — Soltou um leve suspiro e continuou: — O que se poderia esperar de um jovem de dezoito anos, obrigado a usar uma coroa, ocupar um trono e emitir ordens que poderiam afetar a vida de milhares de pessoas?

O guerreiro observou Endrick com pesar, sentindo um aperto ainda maior no peito. No fundo, ele se identificava com o jovem rei, o que aumentava sua admiração por ele. Percebendo que Aldebaram permanecia em silêncio, apenas o fitando atentamente, Endrick prosseguiu:

— Ainda assim, havia questões com as quais eu não poderia deixar de me importar... — Seus olhos continuavam fixos no céu, enquanto franzia o semblante. — Acredita que me acusaram de tramar contra meu próprio pai, visando usurpar o trono? 

— E o que fez a respeito disso? — Indagou o guerreiro, mantendo o olhar compassivo.

— O que eu fiz? Quase entrei em guerra... Mais uma decisão tola de um jovem que carecia do controle emocional necessário para ser um monarca…

Aldebaram sentia o sangue ferver ao ouvir os "lamentos" de Endrick, percebendo que isso apenas destacava sua própria falta de controle emocional, uma qualidade que acabara de ser dita como essencial para um monarca. O guerreiro sabia que tinha muito a aprender e a aprimorar. 

Contudo, apesar de sentir compaixão por Endrick, ansiava pelo momento em que os assuntos se entrelaçariam, pois a conversa estava se prolongando demais, o que o levou a franzir as sobrancelhas.

— Com o tempo, é claro, acabaram me "aceitando", e aqui chegamos ao ponto crucial — Endrick percebeu a inquietação do guerreiro e, sentindo-se igualmente cansado da conversa, desviou o olhar do céu e dirigiu a atenção ao rosto dele. — Apesar de terem me aceitado, ainda nutrem uma grande desconfiança em relação à minha posição e liderança, mesmo que eu prove dia após dia estar pronto para o cargo.

— E por que isso? Se você demonstra estar apto para o cargo? — indagou, meio desconcertado. 

Afinal, se Endrick não fosse considerado um bom rei, tampouco ele seria, diminuindo ainda mais suas oportunidades.

— Por que? Deve ser porque não aceitam a nova geração, ou algo do tipo. Eu propus leis internacionais que consideraram ultrajantes e implementei regulamentos e ideias em meu país que acharam imprudentes. — Sorriu ironicamente. — No final, aqueles que ocupam os tronos agora são apenas um bando de tradicionalistas ultrapassados...

Aldebaram ficou surpreso com a franqueza de Endrick, que parecia demonstrar uma sinceridade incomum, que até aquele exato momento da conversa não havia revelado. Depois de desabafar um pouco, o rei levou a xícara à boca e tomou mais um gole do chá para relaxar os nervos. Falar daquele bando de velhos reis o irritava profundamente.

— Me chamaram de rebelde? Pode acreditar nisso? — Notou o olhar duvidoso do guerreiro, percebendo que havia se deixado levar pela emoção, falando mais do que deveria, então se recompôs. — De qualquer forma, com essa desconfiança em relação a mim, o risco de uma invasão sob o pretexto já utilizado diversas vezes de "salvar o povo" e instalar um rei fantoche no trono é muito real... É aí que entra minha proposta de aliança.

Agora fazia todo o sentido, percebendo como alimentavam desconfianças em relação a ele, era difícil conceber qualquer aliança com os grandes países. Essa realidade o deixava em posição vulnerável. Ainda assim, a ideia de que ele queria formar uma aliança com Estudenfel, deixava Aldebaram hesitante quanto às verdadeiras intenções por trás dessa proposta.

— E por que escolher meu reino? Você sabe muito bem que meu exército está em frangalhos. Além disso, minha posição não é favorável a Felizia. Estamos no extremo norte, enquanto vocês dominam as costas de Mythárea, compartilhando fronteiras com Aldemere e Ciantefel…

Era uma pergunta válida, considerando a distância entre os dois reinos. Caso uma guerra estourasse, levaria dias para que reforços chegassem de qualquer um dos lados. Diante da indagação, Endrick sorriu e colocou a xícara no pires.

— Sabe, Aldebaram, nem todos os monarcas estão conscientes do estado lamentável que se encontra seu exército... — Ele falava com uma expressão quase contemplativa. — Como mencionei antes, as nações alimentam um temor quase infundado por Estudenfel. Agora, conecte os pontos: o que aconteceria se eu anunciasse que vocês se tornaram meus mais novos aliados militares...

— Eles pensariam duas vezes antes de te atacar... — respondeu, recostando-se no encosto da cadeira, perdido em pensamentos. — Mas como isso me ajudará a ingressar na liga das nações?

— Em primeiro lugar, só o fato de eu retornar vivo e são já lhe renderá alguns pontos. — Essa observação fez Aldebaram refletir sobre a terrível reputação de Estudenfel. Endrick prosseguiu: — Em segundo lugar, eu farei os mais variados elogios e espalharei boas novas sobre seu país. Vou incitar a cobiça deles pelo mitril. E, é claro, como todos os países estarão interessados no minério, eles serão mais inclinados a permitir sua participação.

— Você está tão certo disso? — indagou um tanto desconfiado, achando bom demais para ser verdade. — Qual é o truque?

— Truque? Não há truque, Aldebaram. Pense comigo, entre tentar estabelecer boas relações com um possível parceiro de negócios vantajosos ou menosprezá-lo a ponto de buscar acordos com possíveis rivais, o que você acha que escolheriam?

O guerreiro balançou a cabeça em concordância, achando sentido naquele comentário. Contudo, outra coisa o incomodava, assim levou a mão aos cabelos castanhos, começando a coçá-los, enquanto indagava:

— E sobre a aliança? Como irão reagir? Não poderá atrapalhar minha relação com os outros países?

— É prudente da sua parte se preocupar... — Pegou a xícara, dando o último gole no chá antes de recolocá-la na mesa. — No entanto, não há necessidade; a aliança será discutida em outro momento, de forma mais séria. Por enquanto, mantenhamos isso entre nós.

— Certo, guardarei isso em mente...

— Perfeito. Antes de prosseguirmos, precisaria da sua confirmação final. Após tudo o que foi discutido, você concorda com os termos propostos?

Aldebaram fixou seu olhar com firmeza, demonstrando sua convicção, e respondeu sem hesitação:

— Estou de acordo.

— Excelente. — Endrick sorriu largamente antes de continuar: — Conforme mencionado, os detalhes específicos da aliança e nossas cláusulas serão discutidos em outro momento. A partir de agora, mesmo que não seja de conhecimento público, consideremos nossas nações como irmãs.

Com essas palavras do guerreiro, Endrick ofereceu um último sorriso e levantou-se com elegância. Não havia mais assunto a ser discutido naquele momento. Aldebaram seguiu o exemplo, tentando ser tão elegante quanto possível, embora suspeitasse que não havia alcançado esse objetivo.

— Suponho que nossos assuntos estejam encerrados por agora — Ele estendeu a mão em direção ao prato de biscoitos ainda intocados e pegou um. — Ficaria com peso na consciência de ir embora sem ter saboreado algo feito com tanto carinho...

A conversa foi tão intensa que apenas o chá foi consumido para acalmar os nervos. Mesmo assim, Endrick foi quem mais bebeu, já que Aldebaram mal tocou na sua xícara.

— Espero que aproveite. — O guerreiro virou-se, fazendo um gesto convidativo. — Vou acompanhá-los até a saída.

Endrick concordou com um aceno de cabeça e levou o biscoito à boca, provocando um estalo que ecoou pelo silêncio do pátio. Os dois seguiram em frente, passando por Edgar e Leif, que os seguiram em silêncio.

— Rei Endrick, há alguma notícia de Aldemere? — perguntou Aldebaram enquanto se encaminhavam pelos corredores em direção à saída. — Sobre a guerra, digo.

— Hmmmm... Bartolomeu não costuma compartilhar muitas informações sobre seu país. — Ele olhou para frente, fixando o olhar no fim do corredor. — No entanto, as poucas informações que temos indicam que Re'loyal não avançou um centímetro sequer... Mas há rumores de que eles possam atacar Citra. No entanto, são apenas rumores.

— Você tem alguma ideia do motivo pelo qual Bartolomeu não contra-atacou para tentar retomar Reven?

— Como mencionei, ele não costuma compartilhar muitas informações — Sorriu sutilmente. — Mas saiba que essa é uma dúvida que persiste entre todos nós... Afinal, Aldemere teria plena capacidade de atacar e, digo mais, vencer. Isso é reforçado pelos aliados que possuem, como Lulunica e Danterion, entre outros...

Aldemere, como mencionado, teria plena capacidade de contra-atacar, mas optou por não fazê-lo. Isso não só deixava os inimigos de Re'loyal preocupados, mas também todos os outros países, que não sabiam quais seriam os próximos passos de Bartolomeu.

— Vejo que, mesmo isolado, mantém-se bem informado, rei Aldebaram... — comentou Endrick, num tom impregnado de suspeita e sarcasmo.

— Bem, antes de assumir o trono, eu era um "aventureiro" que percorreu quase todo o continente. E digamos que aqueles que estavam comigo testemunharam a invasão em primeira mão…

Endrick desviou o olhar de soslaio para o guerreiro, percebendo a expressão cabisbaixa ao mencionar tais antigos companheiros de jornada. No entanto, decidiu não indagar mais sobre o assunto, evitando parecer indiscreto. Com um suspiro leve, voltou sua atenção para a frente.

Leif, logo atrás, observava seu rei com pesar, ciente do impacto emocional que as lembranças daqueles jovens do passado causavam nele.

Depois de dissipar os pensamentos nostálgicos e tristes, Aldebaram sentiu uma dúvida que surgiu durante a conversa com Endrick, mesmo que parte dela tivesse sido esclarecida pelo outro. Com o olhar firme à frente e num tom moderado, indagou:

— Rei Endrick, sei que já respondeu sobre o motivo de ter aceitado meu convite para esta reunião. Mas, sinto que há algo ainda não revelado, algo oculto…

— Insinua que estou escondendo algo? — Aldebaram sentiu um momento de tensão, temendo ter arruinado tudo. Para seu alívio, Endrick soltou uma risada contida, mais audível. — Devo dizer que sua afirmação não está totalmente errada... Sabe, Aldebaram, quando soubemos da mudança de rei, ficamos curiosos para saber quem seria o novo governante... Então, veio a notícia de que era um poderoso, porém jovem, guerreiro conhecido nas terras nórdicas e em alguns países do centro.

— Percebi que você enfatizou "porém jovem". Há algo mais nisso?

— De fato, há. Acontece que, como mencionei antes, os tronos são ocupados por tradicionalistas ultrapassados... — Ele lançou um olhar de canto para o guerreiro, que assentiu com a cabeça. — Então, quando soube que era um jovem como eu, senti talvez uma ponta de esperança? Podemos chamar assim. Uma esperança de que a mudança no modo de governar estava surgindo, florescendo com a juventude…

— Parece que colocou expectativas demais em alguém que mal conhecia... — pontuou, deixando transparecer um pequeno sorriso, algo raro que não se manifestara durante toda a conversa.

— Talvez você esteja certo. No entanto, ao saber de sua luta por uma causa, reforçou as minhas esperanças já existentes. Poucos reis se dedicam a causas e pessoas que, geralmente em menor número, não representarão qualquer ganho... — Ele fez uma pausa, o que fez todos ao redor pararem para observá-lo. — Contudo, mesmo com o país à beira do colapso, você continuava lutando por algo que não traria qualquer benefício pessoal... Isso me deu a confiança necessária para vir até aqui e, talvez, confirmar minhas suspeitas…

Eles já estavam diante das imponentes portas de saída. Aldebaram estava momentaneamente paralisado, surpreso por ouvir tais palavras de alguém que se mostrara quase inacessível durante toda a reunião. No fim, seria Endrick semelhante a Aldebaram? Um rei preocupado com o bem-estar individual de cada súdito, e não apenas com o bem da massa como um todo?

Sem ter certeza, o guerreiro respondeu com um sorriso e ordenou que os guardas abrissem as portas. Assim o fizeram, e logo os quatro estavam fora do castelo.

— Bem, teremos a oportunidade de conversar mais detalhadamente em outro momento — disse o rei, estendendo a mão ao guerreiro. — Quando chegar a Felizia, providenciarei todos os documentos necessários; sugiro que faça o mesmo.

Aldebaram estendeu a mão e apertou a do Endrick, em um gesto firme que demonstrava a confiança que, mesmo que mínima, haviam desenvolvido um no outro após tanto conversar.

— Certo, seguirei suas orientações... — respondeu Aldebaram.

O rei sorriu satisfeito e retirou-se do aperto de mãos, dirigindo-se à carruagem acompanhado de seu guardião, que reverenciou Aldebaram antes de segui-lo.

— Ah, antes que eu me esqueça... — Endrick já estava com um pé no degrau da carruagem quando se virou para o guerreiro. — Daqui a duas ou três semanas, haverá a reunião da Liga. Certifique-se de comparecer, pois será o momento de sua provável adesão.

Aldebaram travou por um instante, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. Endrick prosseguiu:

— Assim que enviar os documentos, informarei a data. — Ele subiu os degraus e adentrou a carruagem. — Isso é tudo. Agradeço pela hospitalidade e pela agradável conversa.

"Agradável" não era exatamente o termo que Aldebaram usaria para descrever aquela conversa, pelo menos não em sua perspectiva. No entanto, sabia que, pelo menos, fora proveitosa para ambos. Com isso em mente, o guerreiro acenou em despedida.

— Eu que agradeço por sua ilustre presença em minhas terras.

Endrick já estava sentado no banco, observando pela janela lateral enquanto a carruagem começava a se mover. Ele dirigiu suas últimas palavras:

— Nos vemos na reunião da Liga. Esteja preparado.

Aldebaram assentiu com a cabeça, acompanhando a carruagem enquanto esta se distanciava cada vez mais. À medida que o veículo desaparecia no horizonte, os ombros antes tensos do rei relaxaram, e ele soltou um longo suspiro de alívio.

— Finalmente... — Ele olhou para Leif ao seu lado, buscando aprovação: — Como me saí?

— Vamos para um local mais reservado, onde possa me informar sobre o teor da conversa, majestade.

O guerreiro assentiu, e juntos retornaram ao interior do castelo. Navegaram pelos corredores iluminados até chegarem aos aposentos reais. Ao entrarem no cômodo, Aldebaram se acomodou na beira da imensa cama, enquanto Leif se posicionava à sua frente, observando-o atentamente.

— Aqui estaremos mais seguros. Agora, por favor, responda-me, meu rei. Sobre o que conversaram? — indagou Leif.

— Discutimos sobre diversos assuntos, revelações que desconhecia por completo, que me deixaram de queixo caído, haha... — Aldebaram passou a mão pelos cabelos, coçando-os levemente. — Somos um país bem desinformado, hein? 

— De fato, majestade. Poucas informações chegam até nós, e infelizmente não dispomos de espiões para nos manter informados.

— Teremos que lidar com isso em um futuro próximo. — A reunião havia chegado ao fim, mas a tensão persistia, deixando o guerreiro com os músculos ainda rígidos e o humor quase desaparecido. — Seja como for, sobre o que concordamos... Ele exigiu trinta por cento de toda a nossa produção de Mitril, além de uma possível aliança militar...

Aldebaram revelou isso com um leve sorriso no rosto, contrastando com a expressão de choque de Leif, cujos olhos se arregalaram e a boca se entreabriu.

— Majestade... isso... Você tem noção do que significa trinta por cento? — Exasperado diante das notícias, Leif levou a mão ao rosto, ainda marcado pela incredulidade. — Eu mal posso acreditar nisso... Como…

— Será que cometi um erro? — indagou Aldebaram, claramente receoso de ouvir a resposta.

— ...O que o levou a isso? — Leif, experiente o suficiente para não perder a compostura por qualquer coisa, respirou fundo e firmou o olhar. — Me conte cada mínimo detalhe, cada palavra dita.

O guerreiro começou a relatar tudo que conseguia recordar, cada palavra proferida, cada tema abordado. As expressões de Leif oscilavam entre surpresa, nervosismo e frustração.

— Majestade... Ele o manipulou habilmente, fazendo-o aceitar tudo o que ele dizia ou pedia...

— Como assim? — Aldebaram ergueu uma sobrancelha, perplexo.

O conselheiro suspirou e começou a explicar. Primeiro, Endrick tentou se aproximar mencionando o chá e as folhas de Yggdrasill. Em seguida, falou sobre o Mitril, destacando sua importância para deixar Aldebaram impressionado e valorizando-o. 

Passou para o ponto em que mencionou que nenhum rei aceitaria visitar Estudenfel, deixando o guerreiro se sentindo isolado, com Endrick sendo a única pessoa a quem recorrer, e reforçou isso, adicionando medo ao mencionar que as nações estavam quase decidindo pela invasão. Junto ao fato de já ter mencionado o valor do Mitril, aumentou seu receio quanto a futuras invasões em busca desses minérios.

Com tudo isso estabelecido, lançou a carta da aliança militar, iniciando a segunda fase da manipulação. Fez Aldebaram descobrir sua idade para gerar admiração, mostrando como era jovem e já havia enfrentado tanto. Abordou questões sobre seu pai para criar empatia. 

E chegou ao ponto de insinuar que também estava sozinho, buscando identificação. Com tudo isso feito, conduziu a conversa com suavidade, introduzindo pontos de identificação que faziam sentido, e argumentos impossíveis de refutar. E assim, conseguiu manipular facilmente um rei inexperiente como Aldebaram, de forma astuta.

— Esses foram os principais pontos, mas, obviamente, há muito mais nessa conversa... Meu rei, você foi manipulado com maestria...

— Merda! Ele mentiu sobre tudo!?

— Não acredito que tenha mentido. A maneira como conduziu tudo isso sugere que tenha vivido realmente tais eventos... — Suspirando mais uma vez, continuou: — Ele apenas foi astuto ao usar a verdade de maneira que bem entendesse, para beneficiar o próprio reino...

— Como fui idiota...

O guerreiro estava frustrado por ter caído nessas artimanhas, mas, no fundo, estava admirado com a perspicácia de Endrick, um verdadeiro rei em todos os aspectos. Naquele dia, Aldebaram compreendeu que precisaria evoluir muito como monarca para estar à altura de reis como Endrick. Caso contrário, seria manipulado por outros na Liga das Nações…



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