Volume 2

Capítulo 134: Combate Aéreo

— Fala sério, precisava ser tão úmido assim? — resmungou Galean, em um canto remoto da floresta, enquanto passava a manga do hanfu pelo suor que escorria de sua testa.

O calor úmido da floresta era um verdadeiro tormento. Cada passo parecia arrastar um véu de vapor quente e pegajoso, que grudava na pele e fazia com que a vestimenta de Galean rapidamente se colasse ao corpo. A umidade pairava no ar como uma névoa persistente, tornando a respiração um esforço quase doloroso, como se estivesse inalando água em vez de ar. As folhas das árvores, pesadas com a umidade, pendiam baixo, criando um teto verdejante que mal permitia que um feixe de luz penetrasse. O chão, coberto por uma camada espessa de folhas e terra encharcada, cedia sob os pés a cada passo, emitindo um som abafado e preguiçoso.

— Até agora não encontrei nada… Que saco — murmurou ele, a frustração evidente em cada palavra. O tom de desânimo em sua voz ecoava o sentimento de derrota que carregava. Seus olhos se fixavam no vazio diante de si, procurando em vão por qualquer sinal de uma presa. Qualquer criatura que pudesse oferecer um mínimo de desafio e algum ponto.

O sol já pendia no céu, marcando a passagem das horas até por volta das duas da tarde. A luz brilhante e implacável parecia intensificar a sensação de tédio e impotência que o envolvia. O dia anterior havia sido de aclimatação, ele havia acabado de chegar, e o tempo foi dedicado apenas a se estabelecer, compreender exatamente como seria esse desafio. Naquela ocasião, ele tinha se convencido de que o dia seguinte traria sorte e que encontraria criaturas raras ou até mesmo lendárias. No entanto, o que restava dessa esperança era uma ilusão frustrante.

Agora, após horas de caminhada pela floresta densa, o desânimo se tornava tangível. A paisagem ao seu redor estava repleta de vegetação espessa e um silêncio pesado, quebrado apenas pelos pequenos ruídos de animais insignificantes que passavam rapidamente por entre as folhas. Esses pequenos seres não ofereciam nenhum desafio real ou pontos significativos, e nem justificavam o cansaço e o suor que começavam a se acumular em sua pele.

Em meio ao olhar perdido e desalentado, algo inesperado capturou sua atenção. Marcas na terra, notórias e discretas, surgiram como pistas no solo, atraindo seu olhar investigativo. Ele se aproximou com passos rápidos e decididos, a urgência de compreender o mistério evidente em sua postura, com leves traços de ânimo. 

— Três marcas dianteiras, e uma traseira... Pés de alguma ave — murmurou, sua voz carregada de concentração. Passou a mão pela superfície das marcas, sentindo a textura terrosa sob seus dedos, as impressões irregulares e profundas revelando a identidade da criatura. — Parece ser uma ave modificada...

A análise foi interrompida por um ruído súbito que surgiu por trás dele, um som estrondoso que reverberou pelo ambiente e fez com que seus sentidos ficassem alerta. O chão começou a tremer, vibrando sob seus pés como se a terra em si estivesse em agitação. Ele ergueu a cabeça, ainda agachado, o coração acelerado pela tensão crescente. 

De repente, um ataque violento se desferiu contra suas costas, uma investida imprevista que fez com que ele se lançasse para frente em um reflexo ágil. O movimento foi tão fluido e preciso que parecia quase coreografado. Virando-se rapidamente, ele encarou a ameaça com um sorriso largo e desafiador. 

— Haha! Finalmente! — exclamou, a voz cheia de triunfo. Ele observou a figura que o atacara com uma mistura de fascínio e alegria. — Isso explica as pegadas, maravilha!

À sua frente, erguia-se uma criatura colossal, imponente e enigmática. Embora à primeira vista lembrasse um avestruz, suas características eram muito mais extraordinárias. O bico da criatura, extraordinariamente grande e achatado, se destacava, coberto por uma fileira de dentes afiados como lâminas de serra, capazes de rasgar o ar com uma precisão letal. Suas penas e plumas, que se estendiam em um magnífico azul profundo, reluziam sob a luz, conferindo-lhe uma aura de majestade e mistério.

Os pés da criatura eram armados com garras afiadas como as de um avestruz, capazes de rasgar qualquer superfície com uma facilidade assustadora. Cada garra, escura e robusta, cravava-se com veemência no solo, deixando marcas profundas e ameaçadoras na terra.

— Com certeza você é uma criatura rara — disse Galean, a voz firme e confiante, enquanto se posicionava em guarda, sem recorrer a suas armas. Seus olhos fixaram-se na besta com uma mistura de respeito e desafio. — Vamos ver do que é capaz.

A criatura, como se compreendesse a provocação, emitiu um grunhido gutural, seu bico se abrindo em um display de ferocidade. As patas fortes raspavam contra o chão, criando uma nuvem de poeira e abrindo um buraco profundo na terra. Galean, com uma expressão de determinação inabalável, não se moveu, apenas observou a cena com um olhar atento e satisfeito.

O avestruz, incapaz de conter sua impaciência, lançou-se em direção ao jovem com uma velocidade impressionante. Suas garras, cortando o solo com precisão, ofereciam-lhe estabilidade e agilidade. O movimento era quase hipnótico na sua violência controlada, e a distância entre os dois foi rapidamente reduzida.

Sem hesitar, a besta abriu o bico, revelando fileiras de dentes mortíferos que reluziam ameaçadoramente. Galean percebeu a intenção de o abocanhar e, com uma agilidade surpreendente, estendeu a mão à frente em sua postura. Com destreza e precisão, desviou o bico da criatura para o lado, sentindo a textura áspera do membro do animal e o ar turbulento que a passagem rápida provocou.

O corpo passou a um espaço a poucos centímetros de seu corpo, e o calor da presença dela chegou à pele do jovem. O som agudo do grito da besta misturava-se ao som abafado dos pés rasgando o solo tentando frear.

Ao final do movimento, a criatura avançou com uma agilidade surpreendente, parando alguns metros atrás do rapaz. O chão vibrava levemente com cada passo pesado da besta, a poeira levantada se espalhando em torno de seus imensos pés. Galean, com um sorriso imperturbável que permanecia intacto, girou lentamente para encarar o animal, outra vez.

— Nada mal — comentou, a voz carregada de uma calma distante, como se estivesse observando uma peça de teatro em vez de participar dela. — Qualquer outro não teria reagido a tempo.

Ele observava a própria mão, que havia usado para desviar do ataque, ainda pulsando levemente em resposta ao impacto. Fechava e abria-a várias vezes, como se tentasse dissipar a sensação incômoda que a percorria. 

— Realmente, nada mal, mas, ainda assim… é insuficiente.

A frieza na análise dele era quase tangível, como uma lâmina de gelo cortante que deslizava entre as palavras. Cada sílaba que pronunciava carregava um peso de desaprovação, como se estivesse avaliando uma performance que falhava em atingir suas expectativas elevadas. 

Galean sempre procurava pelo máximo potencial nas pessoas e seres que encontrava, ansiando por alguém que pudesse desafiá-lo verdadeiramente. Ao contrário da maioria, que buscava a invencibilidade e um estado onde nenhum obstáculo mais se apresentava, Galean desejava encontrar alguém mais forte que ele, que lhe proporcionasse um desafio digno e contínuo.

O avestruz, aparentemente sentido o tom cortante, virou-se lentamente para encarar o jovem, como se absorvesse a crítica, não gostando nem um pouco. Seu bico se abriu de novo, emitindo outro grunhido gutural que ressoava com a mesma intensidade da reprovação do avaliador. O som era profundo e vibrante, um lembrete do poder bruto da ave.

Galean, com um olhar furtivo, desviou-o do avestruz para o ambiente ao redor. Suas íris capturaram o movimento ágil de outros animais que corriam pela área, muito pelas pelagens brilhando sob a luz do sol. Assim, chegou à conclusão de que aquela ave era o predador dominante da área.

O avestruz, com suas imensas garras raspando o solo com um som áspero e intimidador, avançou novamente em direção ao jovem assassino. Galean se posicionou com a mesma confiança de antes, com a respiração profunda e ritmada, e o sorriso em seu rosto se ampliando como um reflexo de sua empolgação. Para ele, a luta era mais do que um mero confronto; havia algo indescritível e quase mágico na dinâmica do combate que o atraía irresistivelmente. Cada movimento, cada esquiva e cada interação pareciam tecer uma trama única e viciante.

A criatura, em sua frustração crescente, tentou morder Galean mais uma vez, o bico largo cortou o ar com um estalo penetrante. Mas, como nas vezes anteriores, o jovem o desviou com uma agilidade impressionante, deslocando a ave com uma precisão quase instintiva. 

O avestruz repetiu o ataque várias vezes, sua determinação manifestada pela intensidade do bico e a fúria das garras. No entanto, Galean manteve-se sereno, executando o mesmo movimento com uma graça fluida, como um toureiro que se esquiva com maestria em uma tourada.

— É só isso que você tem? — O sorriso que por tanto tempo se manteve no rosto do jovem começava a desvanecer, enquanto observava a criatura diante dele. Ofegante, com o bico entreaberto e a plumagem desgrenhada pelo esforço, o animal parecia exausto. — Acho que coloquei muita expectativa nisso...

A frustração do jovem se intensificava, como uma chama alimentada pela decepção. Havia depositado grandes esperanças na criatura, acreditando que sua natureza rara prometia um desafio digno. Esperava uma batalha que exigisse uma grande habilidade e estratégia, mas até aquele momento, o que presenciava era mais uma dança irritante do que um verdadeiro combate. Os movimentos da criatura eram previsíveis, seus ataques fáceis de se antecipar.

O suor que escorria por suas têmporas não era resultado de um esforço árduo, pois o confronto, em sua facilidade, não havia sequer desencadeado um verdadeiro cansaço.A umidade densa e pegajosa no ar era a única responsável pelo desconforto. Seu coração, por outro lado, mantinha-se calmo, batendo no ritmo constante e sereno de antes. O combate não afetara em nada seu corpo, como se ele não tivesse sequer lutado.

A ave parecia capturar cada crítica no ar, como se fosse capaz de entender os olhares desapontados e as palavras cortantes que lhe eram dirigidas. Com um último esforço para demonstrar seu valor, movimentou às patas novamente.

— De novo isso? Não há outro movimento… — O jovem não teve tempo de completar a frase. Ao contrário das vezes anteriores, quando a criatura tentava mordê-lo, desta vez ela se inclinou rapidamente para o lado e abriu uma das asas. A envergadura majestosa da ave passou sobre o corpo do jovem, que não teve tempo de se desviar. Ele foi arrastado com força. — Merda… haha… 

As palavras escaparam de seus lábios em um misto de surpresa e alegria.

Sem conseguir se soltar, ele se viu sendo carregado em uma direção desconhecida. Virando o pescoço para trás, notou com horror que se aproximavam de um precipício. 

— Merda! Até que usou um pouco do cérebro… Droga, sem elogios Galean! Escape logo!

Na tentativa desesperada de escapar, agarrou com força as penas da ave, arrancando-as brutalmente. O animal emitia gemidos de dor, mas não interrompia seu avanço implacável. Enquanto o jovem tentava manter algum controle, sentiu o solo abaixo de si desaparecer. Em um instante, ele percebeu que estava caindo no abismo do precipício.

Os ventos violentos golpeavam seu corpo em queda livre, arrastando seus cabelos cinzentos para todos os lados, como se fossem fios de prata em uma tempestade. O céu acima parecia se esticar infinitamente, e ele observava a ave alçar vôo, sua silhueta se distanciando lentamente. Abaixo, a copa de uma floresta distante aparecia como um tapete verde, tão abaixo que seria necessário uma eternidade para atingir o solo. Era o fim.

No entanto, em vez do desespero esperado, seu rosto exibia um sorriso largo e autoconfiante, como se finalmente algo emocionante estivesse prestes a acontecer. Era como se a adrenalina da queda fosse um convite para o desafio que se aproximava, era uma sensação maravilhosa.

— Acho que está na hora de contar com a ajuda de vocês, venham... minhas adagas.

Em suas mãos, brilhos dourados começaram a surgir, tão efêmeros quanto uma faísca. Esses brilhos rapidamente se consolidaram em duas lâminas curtas, cada uma com um cabo fino que parecia feito sob medida para seus dedos. As lâminas tinham uma largura que começava estreita no cabo, mas se alargava gradualmente até a ponta, onde a lâmina parecia desvanecer em um brilho prateado que refletia a luz do sol. Inscrições em dourado serpenteavam ao longo do metal, como se contassem uma história antiga de poder e bravura.

Os cabos estavam ligados a correntes curtas, que mal ultrapassavam dez centímetros, e essas correntes se conectavam a pulseiras de aço em seus pulsos. O aço das pulseiras brilhava em um tom frio e implacável, a marca de uma preparação meticulosa para o confronto iminente.

Com um movimento ágil e decidido, balançou a mão e girou o corpo com um impulso calculado e elegante. Com precisão impecável, lançou uma das lâminas em direção ao penhasco. A lâmina cortou o ar com uma velocidade estonteante, enquanto a corrente curta a seguia, ondulando como um fio de prata. Magicamente, elos interligados surgiram em sequência, traçando um caminho cintilante através do espaço. A arma, com um voo preciso e quase hipnótico, cravou-se firmemente na parede de terra ao lado, onde a corrente se estendeu e se agarrou com uma força implacável. O som metálico do impacto reverberou pelo penhasco, preenchendo o ar com um eco profundo e duradouro. A lâmina permanecia imperturbável, ancorada com segurança na superfície áspera.

Os olhos se estreitaram, fixando-se com intensa concentração, enquanto a corrente começava a diminuir, puxando seu corpo na direção da encosta. Com um movimento ágil, já próximo da montanha, esticou as pernas para suavizar o impacto iminente. O contato das solas dos sapatos com a superfície áspera da montanha foi brusco, e imediatamente dobrou os joelhos, acomodando-se na inclinação íngreme.

Sentia a pressão das solas contra a rocha áspera, manter-se exigia um atrito considerável das solas raspando na superfície irregular da pedra. A sensação de instabilidade era avassaladora para os menos vigorosos, como se o chão se movesse sob os pés, tornando a busca por equilíbrio uma tarefa árdua, mas não impossível.

Seus dedos se agarraram com força no cabo lâmina, que estava firmemente cravada na encosta. A lâmina parecia uma extensão de sua própria vontade, resistente e quase inamovível. Agora, a única tarefa restante era descobrir um caminho para subir.

O piar agudo da ave, com um timbre semelhante ao grito cortante de uma harpia, rompeu o silêncio com uma intensidade abrupta. A ave pairava majestosa e ameaçadora, descrevendo amplos círculos no céu, como se a espreitasse, aguardando o momento exato para atacar. Galean, olhou para baixo, e sentiu um frio na espinha ao perceber a gravidade de sua situação. A longa queda, era repleta de perigos iminentes, e se estendia sob seus pés. A poucos metros de distância, uma série de avestruzes modificados sobrevoavam em movimentos coordenados. Seus corpos imensos e musculosos se moviam com tenacidade, realizando rasantes perigosos entre as árvores. Em cada mergulho, retornavam com caças presas em suas garras enormes e afiadas.

"Preciso subir logo... ou melhor, descer." Pensou Galean, com a mente agitada pela necessidade de agir com rapidez e precisão. Escalar a encosta rochosa diante dele era uma tarefa extenuante, que demandava uma força e energia que ele não podia se dar ao luxo de desperdiçar. A alternativa mais sensata era utilizar o poder de sua arma, cuja corrente parecia não ter fim e poderia ser estendida pelo tempo que fosse necessário.

Com uma destreza treinada, Galean manipulou a corrente com habilidade, estendendo-a com um movimento firme. Em seguida, começou a descer o penhasco de maneira controlada. 

Galean repetia o processo com precisão: estendia a corrente alguns centímetros e se soltava gradualmente, até alcançar uma altura segura. 

"Com aquela criatura, eu apenas brinquei... Se eu me esforçar mais, será que consigo eliminar todos?" Ele se lembrava da luta, onde havia se limitado a se esquivar e a desviar sem atacar. A decisão estava tomada: era hora de encarar a situação com seriedade.

Ainda pendurado na encosta da montanha, se preparou para a ação. Flexionou os joelhos e acumulou tensão nos músculos das pernas, até que, em um impulso súbito, saltou no ar. A lâmina se desprendeu da rocha, arrancando pedaços de terra e pedras ao seu redor. No ar, agarrou firmemente os cabos das lâminas, preparadas para o próximo movimento decisivo.

De barriga para cima, com o céu se estendendo vasto e infinito acima dele. Dobrou as costas com elegância, iniciando um mortal para trás que parecia desafiar a gravidade. No auge do movimento, congelou repentinamente, ficando de ponta-cabeça, com a trajetória ajustada para um mergulho certeiro em direção ao solo.

No breve instante em que seu corpo se alinhou com o círculo das aves, o tempo pareceu desacelerar. Seus olhos, aguçados e observadores, rastreavam incessantemente cada alvo, analisando a situação com uma precisão quase clínica. Com o plano meticulosamente calculado, esperou até que estivesse um pouco abaixo das aves, então lançou uma lâmina em direção ao ventre de uma das criaturas. A lâmina cortou o ar com um zumbido sutil antes de encontrar seu alvo.

O animal, pego de surpresa, apenas percebeu a dor aguda de uma laceração antes de seu corpo pender para baixo. Apesar da ferida, conseguiu resistir à queda por um tempo agonizante, ainda pairando no ar com um sofrimento insuportável.

"Ótimo," refletiu ele, um sorriso satisfeito se formando em seus lábios. A visão da ave pairando firmemente no ar era exatamente o que ele esperava; seu posicionamento estratégico lhe permitia manter o ataque com plena eficácia. Com um movimento ágil e preciso, agarrou a outra lâmina com firmeza, sentindo o peso da arma como uma extensão natural de seu braço, e a lançou com uma força voraz.

Sem obstáculos, decapitou a primeira ave que surgiu pela frente e continuou a arremessar a arma com determinação. O céu acima se transformou em um palco de caos, onde cada lançamento da lâmina cortava o ar com uma precisão implacável. As aves, ainda imersas em sua jornada aérea, tornaram-se alvos indefesos, vulneráveis à intensidade dos ataques. O brilho frio da arma refletia a luz do sol, enquanto a força dos arremessos desenhava arcos mortais no espaço.

Cada golpe ressoava com um som agudo e letal, e o ar, antes tranquilo, foi rapidamente preenchido com a sinfonia brutal do combate. A carne das aves, outrora vibrante e cheia de vida, agora era dividida com uma violência sistemática. O sangue jorrava em chuvas vermelhas, criando um borrão vívido contra o fundo azul do céu, transformando a cena em uma pintura grotesca e dramática de carnificina. As cabeças das aves rolavam pelo ar antes de cair em um mar de penas e sangue. Era como testemunhar um massacre, onde os massacrados não tinham qualquer chance. 

"Como imaginei, era fácil eliminar todos eles..." Com um último movimento ágil e preciso, Galean eliminou as últimas criaturas voadoras que ainda restavam, suas formas sombrias desintegrando-se no ar. Ele então voltou sua atenção para a ave ferida, que lutava para sustentar seu corpo em queda. Galean estendeu a corrente da lâmina, ainda presa no estômago da ave, e, em um gesto brusco, arrancou a arma do corpo num spray de vísceras e sangue.

O corpo da criatura, agora com o ventre aberto e ensanguentado, não tinha mais forças para se manter no ar. Em um mergulho descontrolado, ela despencou, colidindo violentamente contra uma árvore próxima. O impacto fez com que o tronco ressoasse com um estalo seco, e a ave caiu, sua vida se esvaindo em um final dramático e silencioso.

Galean observou o cenário ao redor, e um sorriso sem graça apareceu em seus lábios, com seus olhos carregados de um leve arrependimento. O chão, que antes era um campo verdejante e sereno, agora se apresentava como uma tela grotesca salpicada de vermelho carmesim. O solo estava manchado com desenhos distorcidos e macabros… Às cabeças e corpos de aves dispostos de forma desordenada, como peças de um horrível quebra-cabeça de destruição.

— Acho que fiz uma bagunça... — murmurou ele, sua voz revelando um tom de desconforto e arrependimento. O odor penetrante de sangue e vísceras se espalhava pelo ambiente, criando um fedor avassalador que parecia impregnar o ar e se entranhar em suas narinas. — Esse cheiro…

Galean apreciava a emoção da luta, achava as batalhas empolgantes, mas o cheiro repugnante que resultava de suas ações era algo que ele detestava profundamente. A visão do caos após o combate nunca lhe agradava; era sempre uma lembrança nojenta do custo de sua vitória.

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Na outra extremidade da floresta, longe de qualquer outro competidor, a terra tremia como se um colosso estivesse desferindo golpes contra ela, implacável. Os animais, aterrorizados, se debatiam na tentativa de escapar da ameaça iminente. Alguns se escondiam em cavernas nas árvores antigas, cujas cascas escurecidas e ásperas pareciam engolir a luz. Outros encontravam abrigo entre os troncos caídos cobertos por um manto de musgo espesso, que absorvia o som dos seus passos apressados. As aves, em um frenesi de pânico, alçavam vôos desordenados, riscados pelo céu.

Uma mão descomunal, muito maior do que a de um ser humano comum, tocou um tronco com um peso que parecia desafiar a gravidade, usando-o como suporte. O braço, musculoso e coberto por uma pele grossa, revelava o proprietário: Graug, o giganoide imenso, o único capaz de fazer a terra estremecer com cada passo. Seu olhar era fixo e penetrante, como se estivesse avaliando o ambiente com uma precisão infalível, apesar de sua expressão inalterada, quase indiferente.

Sobre seus ombros, repousava a carcaça de um antílope colossal, cuja presença imponente indicava um peso superior a seiscentos quilos. Mesmo com essa carga massiva, Graug carregava o fardo com uma facilidade desconcertante, como se a própria gravidade não tivesse efeito sobre ele.

— Graug acha que está perdido. — O beiço inferior pendeu em uma expressão de frustração enquanto ele passava um dedo pela cabeça, o olhar confuso fixado à frente. — Graug já viu essa árvore três vezes…

Ele lançava a atenção em uma árvore caída à sua frente, seu tronco retorcido e coberto de musgo, com galhos quebrados estendidos em todas as direções. Havia a sensação de déjà-vu, uma certeza inquietante de que já havia passado por ali antes. Desanimado e irritado por perder tanto tempo circulando sem rumo pela floresta, largou a carcaça do animal que carregava consigo. O impacto foi tão forte que o chão vibrou, e ele se sentou de pernas cruzadas ao lado da carcaça, exausto.

— Graug não sabe o que fazer a partir de agora… — murmurou, com um tom de desânimo crescente, enquanto pegava uma das pernas da criatura morta e a puxava com uma força brutal. A perna se desprendeu com um estalo seco, como se fosse apenas um pedaço de madeira. — A floresta é grande e confusa demais para Graug…

Graug não era conhecido por suas habilidades de planejamento. Ele agia mais com o coração do que com a mente, o que frequentemente o levava a situações como essa: perdido e sem direção. Ao menos tinha a carne da criatura ao seu lado. Ele agarrou o pernil, ainda com pele e cru, e deu uma mordida vigorosa. O estalo dos ossos quebrando e a pele rasgando entre seus dentes se misturavam ao som do sangue e dos sucos vermelhos que se transformavam em uma massa sanguinolenta e grotesca em sua boca.

— Também não tem inimigos que Graug possa matar aqui… — falou com a boca cheia, sua voz arrastada pela carne crua, enquanto mastigava. Então, deu mais uma mordida na carne, a determinação surgindo em seu olhar. — Galean ajudaria Graug… Não! Graug deve se provar forte sozinho!

De repente, enquanto tentava reunir alguma ideia sobre como prosseguir, com os olhos cerrados, Graug notou uma luminosidade intensa à sua frente. Seus olhos se abriram lentamente, revelando um brilho esverdeado que parecia irradiar de algum ponto distante. 

Ele se levantou com esforço, abandonando a carcaça no chão e segurando o pernil como se fosse uma relíquia preciosa. Seus passos pesados ecoavam na floresta, o som abafado pelas folhas e gramíneas do chão, enquanto mordia mais alguns pedaços de carne, mastigando com um misto de impaciência e fome.

Quando se aproximou da fonte da luz, encontrou-se diante da entrada de uma caverna profunda. O brilho que emanava parecia vir de algo místico no fundo do abismo escuro, iluminando as paredes de pedra com um tom esverdeado. O cheiro no ar era estranho e inconfundível, uma mistura de algo assado e especiarias, como se alguém estivesse preparando um banquete em um fogo imenso. Mas também havia um odor estranho, parecia místico, não que Graug soubesse o que era isso. 

Uma sensação incomum começou a pairar sobre Graug, um desconforto persistente que parecia desviar seus pensamentos e criar um turbilhão de emoções que ele não conseguia compreender totalmente. Era um incômodo constante e inquietante, algo que parecia se misturar com sua curiosidade e fome.

No meio desse turbilhão de sentimentos desconexos, Graug ouviu um som profundo e reverberante. O chão começou a vibrar sob seus pés, como ele mesmo fazia ao andar. Virou-se abruptamente, e diante dele estava uma criatura colossal, talvez vários centímetros maior do que ele. Era um ser de corpo humanoide, a estatura roliça, continha sua imponência, com pele de um tom verde-oliva. Em um dos ombros, carregava um bastão colossal, adornado com runas antigas. No centro de seu rosto, havia apenas um único olho, que parecia brilhar com uma intensidade enigmática, refletindo a luz esverdeada da caverna.

— Invasor, o que faz aqui? — A voz da criatura ecoou, carregada de hostilidade. — Diga, antes que eu tenha que te matar!

Graug estreitou o olhar. Não sentia a necessidade de justificar sua presença para aquela entidade. Contudo, o pensamento de um novo inimigo despertava uma animação visceral em seu interior.

— Graug estava perdido… — resmungou ele, sem se intimidar. — Finalmente, mais um adversário para Graug.

No final, todos na floresta, além dos competidores, deveriam ser caçados. Todos eram monstros ou criaturas que renderiam pontos. Aquele ali estava falando, mas Graug era demasiado ignorante para questionar o motivo disso. Para ele, o que importava era que um novo inimigo havia surgido, e agora ele teria que lutar, o que o animava.

— Não sei quem você é… não parece humano — disse a criatura, retirando o bastão do ombro e apontando-o para o giganoide. — Mas está em uma área que não deveria estar, e por isso morrerá.

Graug puxou a lâmina que pendia em sua cintura, preparando-se para o confronto com um sorriso selvagem. Mesmo sem compreender plenamente certos sentimentos, as reações corporais eram automáticas; o êxtase da iminente batalha era incontrolável. Uma batalha titânica estava prestes a começar, prometendo sacudir a terra e fazê-la vibrar com a fúria de seus combatentes.

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